segunda-feira, 11 de setembro de 2023

QUE É ISSO, JORNALISTA!

Por Genaldo de Melo

A turma que não gosta de Lula já vem há muito tempo passando de todos os limites com suas mentiras. Alexandre Garcia espalhar uma mentira sem sentido de que o PT é o culpado pela tragédia humanitária do Rio Grande do Sul já é coisa de mau-caratismo.

Já não se trata de fazer oposição política, e precisa realmente que a AGU faça uma investigação rigorosa e dentro das regras do que determina a justiça tome uma posição à altura para que se acabe com essa propagação de fake news no Brasil.

Nesse momento de tragédia com tantas mortes e tanta gente desabrigada seria mais prudente que o jornalista tivesse uma posição de mais humanismo. Mas não, espalha uma mentira que mais parece coisa de terrorismo psicológico.

Na qualidade de jornalista ele deveria respeitar o povo do Rio Grande do Sul e ser coerente com a sua profissão. Aonde já se viu alguém fazer uma coisa dessa natureza para tentar convencer sua audiência de que o Partido que coordena o governo é o culpado por isso? É a treva!


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A incompetência nossa de cada dia

Por Genaldo de Melo

Muita gente boa que forma opinião em nossa sociedade acha exatamente o que nós outros achamos em relação aos nossos representantes parlamentares na atualidade. É de fazer tremer como se estivéssemos diante de um túmulo o que a atual safra de políticos brasileiros apresenta como proposituras legislativas nos parlamentos. Mal assessorados, já que preferem profissionais em seus gabinetes donos de verdadeiros currais eleitorais e não técnicos e pensadores, na sua grande maioria apresenta projetos de leis absurdos, que em suma nunca serão levados a sério pela própria sociedade, bem como não servem para nada mesmo.

Se fosse necessário fazer um levantamento dos absurdos e propostas ridículas dos “nobres”, chegaríamos a conclusão do porque boa parte da população olha desconfiada para os políticos, principalmente quando não estamos em períodos eleitorais, momento exato de sedução e mentiras prometidas. Como o fato da manutenção de cargos através de votos é colocado como mais importante do que o ato próprio de legislar, as proposituras ridículas enchem os anais das casas legislativas.

No Congresso Nacional o chamado “Baixo Clero”, sem ter o que fazer, ou mesmo o que pensar, apresenta propostas tão absurdas, que faria até mesmo Bafhomet jogar água fria para apagar o fogo dos infernos, de tanta vergonha de tantos pecadores falsários representarem seus interesses de forma tão mal. Nas assembleias legislativas o cúmulo do ridículo tomou conta dos bons de votos, mas péssimos de juízo. Exemplo clássico está na Bahia, defender criação de centro de referência para cornos, pelo amor de Deus, amigos leitores, pelo amor de deus...!

Tenho que vim para outro parágrafo, pois sou humano e não animal! Nas câmaras de vereadores não é diferente, pois partidos políticos e grupos do esoterismo político de nossa sociedade descobriram que é melhor fazer péssimos parlamentares, mas obedientes aos critérios e regras impostas pelos chamados financiadores de campanhas, do que fazer vereadores que cumpram de fato a sua missão de legislar. Os maiores absurdos em relação a projetos de leis estão em duas cidades que conheço muito bem, Feira de Santana e Aracaju.

Pedimos a Deus todos os dias para que o povo e as vozes das ruas comecem a mudar esse quadro em 2012, pois precisamos de gente séria, comprometida e que consiga de fato pensar nossos parlamentos e nossa realidade de fato. Precisamos é de propostas que viabilizem Políticas Públicas que possam solucionar os problemas do mundo em vivemos, e não de esquisitices de gente doida.

O ano que deixou a desejar

Por Genaldo de Melo

Analisando politicamente o ano de 2011 concluímos que foi um período diferente de outros anteriores no Brasil. Considerando a inoperância de alguns atores políticos, inferimos que foi um ano ímpar do ponto de vista do atraso e da incapacidade, e até mesmo da falta de respeito para com os cidadãos brasileiros que cumprem seus papéis dentro da sociedade. Refiro-me especificamente do nosso Congresso Nacional, que não soube e parece que não sabe pautar o Governo, para que o mesmo trabalhe melhor pelo povo. Enquanto o Palácio do Planalto deu um verdadeiro show de competência, ficaram os nobres parlamentares a desejar.

Com poucas e raras exceções, o que vimos foi mais uma vez, e de modo mais intenso, deputados e senadores fracos, incapazes de apresentar proposituras legislativas que de fato melhore a vida do povo e construa o nosso desenvolvimento. Nesse cenário, principalmente fracos foram os parlamentares que se dizem de oposição, pois não conseguiram honrar os votos do povo. O máximo que conseguiram foi projetar imagens falsas de alguns deles em espelhos, talvez comprados a Narciso.

Foi uma verdadeira falta de respeito de parlamentares, que na sua grande maioria vendem ilusões nos períodos que precedem os outubros eleitorais, e depois de eleitos somente conseguem manter seus gabinetes luxuosos, suas mordomias romanas e suas equipes de cabos eleitorais, que vivem para receber altos salários e não conhecem nada da realidade do chão das ruas.

Enquanto isso, o Governo conseguiu pautá-los sem ser pautado, apresentando mais de 80% das proposições debatidas e aprovadas no Congresso. Foram eleitos para o que mesmo? Parece que se elegeram para um laboratório de três anos e meio para aprenderem novas formas e novos métodos de iludir o povo! Somente quem conseguiu pautar o Governo para derrubar ministros, sérios e não sérios, foi o jornalismo da obediência, coordenado pelo Partido da Imprensa Golpista, dirigido por poucas famílias que todo o Brasil conhece.

Esperamos todos que deputados e senadores voltem de suas polpudas férias pensando de fato o Brasil, pois o povo brasileiro já compreendeu porque nos tornamos a sexta economia do mundo (por enquanto para poucos), e precisa de gente no Parlamento para pensar no povo e no Estado Brasileiro. Pois isso aqui é nosso!

O que move o partido impresso

Por Gilson Caroni Filho:

A leitura diária dos jornais pode ser um interessante exercício de sociologia política se tomarmos os conteúdos dos editoriais e das principais colunas pelo que de fato são: a tradução ideológica dos interesses do capital financeiro, a partitura das prioridades do mercado. O que lemos é a propagação, através dos principais órgãos de imprensa, das políticas neoliberais recomendadas pelas grandes organizações econômicas internacionais que usam e abusam do crédito, das estatísticas e da autoridade que ainda lhes resta: o Banco Mundial (BIrd), o Fundo Monetário Internacional (FMI), a Organização Mundial do Comércio (OMC). É a eles, além das simplificações elaboradas pelas agências de classificação de risco, que prestam vassalagem as editorias de política e economia da grande mídia corporativa.



Claramente partidarizado, o jornalismo brasileiro pratica a legitimação adulatória de uma nova ditadura, onde a política não deve ser nada além do palco de um pseudo-debate entre partidos que exageram a dimensão das pequenas diferenças que os distinguem para melhor dissimular a enormidade das proibições e submissões que os une. É neste contexto, que visa à produção do desencanto político-eleitoral, que deve ser visto o exercício da desqualificação dos atores políticos e do Estado. Até 2002, era fina a sintonia entre essa prática editorial e o consórcio encastelado nas estruturas de poder.

O discurso “modernizante” pretendia — e ainda pretende — substituir o ”arcaísmo” do fazer político pela “eficiência” do economicamente correto. Mas qual o perigo do Estado para o partido-imprensa? Em que ele ameaça suas formulações programáticas e seus interesses econômicos?

O Estado não é uma realidade externa ao homem, alheia à sua vida, apartada do seu destino. E não o pode ser porque ele é uma criação humana, um produto da sociedade em que os homens se congregam. Mesmo quando ele agencia os interesses de uma só classe, como nas sociedades capitalistas, ainda aí o Estado não se aliena dos interesses das demais categorias sociais.

O reconhecimento dos direitos humanos, embora seja um reconhecimento formal pelo Estado burguês, prova que ele não pode ser uma instituição inteiramente ligada aos membros da classe dominante. O grau maior ou menor da sensibilidade social do Estado depende da consciência humana de quem o encarna. É vista nesta perspectiva que se trava a luta pela hegemonia.

De um lado os que querem um Estado ampliado no curso de uma democracia progressiva. De outro os que só o concebem na sua dimensão meramente repressiva; braço armado da segurança e da propriedade.

O partido-imprensa abomina os movimentos sociais os sindicatos (que não devem ter senão uma representatividade corporativa), a nação, antevista como ante-câmara do nacionalismo, e o povo sempre embriagado de populismo. Repele tudo que represente um obstáculo à livre-iniciativa, à desregulamentação e às privatizações.

Aprendeu que a expansão capitalista só é possível baseada em ”ganhos de eficiência”, com desemprego em grande escala e com redução dos custos indiretos de segurança social, através de reduções fiscais.

Quando lemos os vitupérios dos seus principais articulistas contra políticas públicas como Bolsa Família, ProUni e Plano de Erradicação da Pobreza, dentre outros, temos que levar em conta que trabalham como quadros orgânicos de uma política fundamentalista que, de 1994 a 2002, implementou radical mecanismo de decadência auto-sustentada, caracterizada por crescentes dívidas, desemprego e anemia da atividade econômica.

Como arautos de uma ordem excludente e ventríloquos da injustiça, em nome de um suposto discurso da competência, endossaram a alienação de quase todo patrimônio público, propagando a mais desmoralizante e sistemática ofensiva contra a cultura cívica do país. Não fizeram — e fazem — apenas o serviço sujo para os que assinam os cheques, reestruturam e demitem.

São intelectuais orgânicos do totalitarismo financeiro, têm com ele uma relação simbiótica. E é assim que devem ser compreendidos: como agentes de uma lógica transversa.

Merval Pereira, Miriam Leitão, Sardenberg, Eliane Catanhede, Dora Kramer e outros mais necessitam ser analisados sob essa perspectiva. É ela que molda a ética e o profissionalismo de todos eles. Sem mais nem menos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

MENSAGEM

Precisamente mais consagrados/as pelas grandes vitórias conseguidas e pelas grandes amizades pessoais e políticas conquistadas, resultado de longas batalhas travadas no dia a dia, chegamos a mais um final de ano em nossas vidas aqui em nossa Feira de Santana e nossa região querida.

Ficamos mais felizes em saber que os trabalhadores/as rurais e urbanos, e suas lideranças, que confiaram na gente podem se orgulhar dos resultados concretos, que fazem com que possamos agora pautar nossas ações do mesmo modo que foi feito em 2011 no ano vindouro. Podemos sim dizer que nosso Natal será repleto de alegrias e plena felicidade, porque temos exatamente coisas que nos faz orgulhar e comemorar.

Coisas extraordinárias não acontecem somente porque temos a capacidade de fazê-las acontecer. O extraordinário acontece porque existem os amigos e parceiros do dia do dia, capazes de imprimir a marca da cooperação e da solidariedade. As coisas acontecem porque o mais extraordinário e mágico em nossas vidas pertence à luz espiritual de Jesus Cristo, a luz espiritual que determina nossos passos e nosso caminho de sempre.

"Nossa esperança é saber que um dia todo esse povo se libertará, pois Jesus Cristo é Senhor do mundo, e a nossa esperança realizará". E a verdade que nos reserva 2012 trará junto um mundo mais justo e para todos. Posto que as vitórias de 2011 no próximo ano se repetirão, porque DEUS é justo, e ele é para todos, e somente A verdade dele liberta.


FELIZ NATAL E PRÓSPERO ANO NOVO


GENALDO, ROZETE, CAROL, ARTHUR E ANINHA

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

História da intervenção da Cablevisión está mal contada

Na Argentina, a mídia ligada à oposição da presidenta Cristina Kirchner fez muito barulho, ontem, com a ocupação pela polícia da TV Cablevisión, pertencente ao Grupo Clarín. Não foram poucas as ilações de que o dedo do governo estaria por trás da medida, uma vez que o Clarín é uma das pontas de lança da oposição ao governo Kirchner. O próprio Clarín distribuiu nota em que relaciona a medida ao conflito aberto que seu grupo trava com o governo. A afirmação foi rechaçada pelo ministro do Interior, Florencio Randazzo. Para ele, a versão do Clarín não passa de “um disparate”.


A verdade é que lá, como aqui, a grande imprensa esqueceu-se de informar um dado crucial. A invasão se deu diante de uma ordem judicial, assinada pelo juiz Walter Bento, em resposta às denúncias feita pelo concorrente Supercanal, empresa de TV a cabo do grupo Vila-Manzano.


O imbróglio teve início em 2007, quando da fusão entre TV Cablevisión e a Multicanal. De lá para cá, a emissora resultante tem sido denunciada por práticas de concorrência desleal. Segundo o jornal independente Página 12, o juiz que assinou a intervenção designou Enrique Anzoise para separar as duas empresas de TV a cabo, medida que deve ser cumprida em 60 dias. Para ele, os pleitos do grupo Vila-Manzano “têm base verossímil”.


Agressões ao interventor judicial


No entanto, informa o Página 12, o interventor não pode cumprir seu trabalho devido a agressões que sofreu dos empregados do Grupo Clarín. A sentença argumenta que “A concentração empresarial que se materializa na Cablevisión determina um modus operandi que (...) não se parece apegado ao ordenamento jurídico em vigor em matéria de competência”.


Entre as práticas denunciadas estão preços abusivos cobrados pela empresa de TV a cabo nos territórios em que tem permissão para atuar e a imposição de cotas, bem como a prática de preços abaixo dos custos de mercado nas regiões em que busca ganhar mercado. Também constam a manipulação da grade de programação a favor do seu próprio sinal e a exclusão dos sinais de notícias a que seria obrigada retransmitir. Em vários pontos, a sentença se baseia na nova lei de Serviços e Comunicação Audiovisual. Leia a íntegra da matéria aqui.


*Artigo originalmentre publicado no Blog do Zé Dirceu

Fatos em foco

Pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo indica que o setor industrial fechou 46,5 mil postos de trabalho no mês de novembro

Hamilton Octavio de Souza - BF

Comissão paulista
Por iniciativa do deputado Adriano Diogo (PT), a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a constituição de uma Comissão da Verdade para apurar os casos de tortura, morte e desaparecimento no Estado e contribuir com a Comissão Nacional da Verdade. A comissão paulista será composta por cinco deputados, vai funcionar a partir de março de 2012 e terá dois anos para apresentar suas conclusões. Uma importante conquista!

Cadeia lotada
O ex-presidente da França, Jacques Chirac, de 79 anos, foi condenado a dois anos de prisão pela Justiça francesa. Crime: quando era prefeito de Paris, nos anos 1990, criou 21 empregos fictícios, pagos com o dinheiro público, para remunerar funcionários do seu partido político. Imagine se a Justiça daqui fosse mandar para a cadeia todos os vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores que fazem a mesma coisa no Brasil!

Concentração
A fusão de dois gigantes do suco de laranja, Citrovita e Citrosuco, aumenta ainda mais a força do oligopólio nesse setor industrial sobre os produtores de laranja e o mercado consumidor. A nova empresa passa a controlar 45% da produção de suco. É cada vez mais acintosa a omissão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e a ausência de políticas públicas para promover a desconcentração empresarial. Quem paga é o trabalhador!

Invasão bárbara
No dia 15 de dezembro os Estados Unidos declararam formalmente o fi m da guerra contra o Iraque e a retirada de seus últimos soldados. Após oito anos e oito meses desde a invasão, eles deixaram um saldo de quase 119 mil mortos, a grande maioria de civis iraquianos (104 mil), além de 4,4 mil soldados estadunidenses. Uma agressão com justificativa falsa e brutal destruição. Uma tragédia para milhares de pessoas que perderam familiares e amigos.

Lucro fácil
As fábricas de diplomas universitários do Brasil estão em acelerado processo de concentração empresarial, especialmente porque a liberação do ensino à distância potencializou as margens de lucro muito acima dos ganhos obtidos no ensino presencial. A fusão dos grupos Kroton e Unopar dará um faturamento acima de R$ 1 bilhão em 2011, a maior parte proveniente dos 228 mil alunos do ensino à distância. O MEC assiste de camarote!

Direitos humanos
Importante documento para quem se interessa em acompanhar as violações e as lutas em defesa dos direitos humanos, no Brasil, o relatório anual produzido pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos já está disponível no site
www.social.org.br – com análises sobre a situação nas mais diferentes áreas de atividades, desde as mortes no campo até a exploração do trabalho infantil. Um documento necessário!

Comunistas
No dia 16 de dezembro completaram-se 35 anos do episódio conhecido como a Chacina da Lapa, quando agentes da repressão, no governo Geisel, assassinaram três dirigentes do PCdoB – Pedro Pomar, Angelo Arroyo e João Batista Drummond – durante reunião do comitê central do partido, na Lapa, em São Paulo. Por iniciativa do vereador Jamil Murad, a Câmara Municipal de São Paulo rendeu homenagem aos mártires comunistas.

Privatização
O governo Dilma, além de continuar firme no processo de privatização dos aeroportos, contra a vontade dos trabalhadores, agora introduziu uma cláusula bastante questionável no edital de licitação: a exigência de participação do capital estrangeiro, sob a alegação de experiência na gestão de grandes aeroportos. A estatal brasileira Infraero, que tem essa capacidade operacional, ficará com apenas 49% de participação.

Desemprego
Pesquisa divulgada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo indica que o setor industrial fechou 46,5 mil postos de trabalho no mês de novembro e que deverá ter no mês de dezembro uma variação negativa de 2% em relação ao ano passado. Agora em dezembro foram registradas demissões em massa também no setor bancário e de professores de escolas privadas. A crise do emprego avança para 2012!

A Privataria Tucana

É hora do Parlamento brasileiro tentar, ao menos, diminuir a nódoa que criou ao sepultar – com ajuda do PT, de acordo com o livro – a CPMI do Banestado

Editorial da edição 460 do Brasil de Fato

Dia 15 de dezembro, o ex-presidente francês Jacques Chirac foi condenado a dois anos de prisão, culpado por “desvio de fundos públicos, abuso de confiança e aquisição ilícita de interesses”. Aos 79 anos, é o primeiro presidente francês condenado por um tribunal correcional.


Nessa mesma semana, em menos de 48 horas após o lançamento, esgotaram- se as 15 mil cópias do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. O livro está sendo considerado a mais completa investigação jornalística sobre as privatizações ocorridas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995- 2002) e, especialmente, a roubalheira promovida por um grupo de familiares e de pessoas que circulam em torno do então ministro José Serra (PSDB).


Após doze anos de pesquisas, o autor conseguiu provas documentais, e abundantes, sobre as roubalheiras ocorridas com as privatizações. Um saque do patrimônio público que, no cenário internacional, deve ter perdido apenas para a máfia russa, após o desmonte da URSS.


De forma clara e com incomum habilidade o jornalista expõe os complexos e tortuosos caminhos que a riqueza surrupiada do povo brasileiro percorreu até os chamados paraísos fiscais e, depois, retornou ao país legalizada. Ou melhor, lavada e cheirosa, como quis aparecer a elite tucana nas ultimas eleições presidenciais. As conexões de um governo que dilapidou o patrimônio público com os grupos privados que foram beneficiados, juntamente com a complacência da mídia e do conluio com os que operam a lavagem de dinheiro, ficam completamente expostas no livro.


Mas, além da roubalheira, A Privataria Tucana escancara o jeito de fazer política de José Serra. A elaboração de dossiês para chantagear seus inimigos, tanto os do seu partido quanto os adversários de outros partidos, se constitui num dos alicerces de fazer política desse tucano. Enquanto, com apoio da mídia, cultivava a imagem de austero e competente nos cargos públicos que ocupava, seus arapongas se encarregavam da fazer com que os interesses e objetivos do Capo fossem alcançados. O caso Lanus que fez a Roseana Sarney (PFL) desistir da campanha presidencial de 2002, exemplifica a prática desse conluio.


Além de documentar a roubalheira ocorrida nas privatizações, o livro arrasta para o olho de furacão o parlamento, a mídia e o Ministério Público. Onde estão aqueles parlamentares que, desde 2003 quando apearam do governo federal, ficaram apenas brandindo a espada da moralidade pública e contra a corrupção? Os parlamentares, como o senador Álvaro Dias (PSDB) e o deputado federal Roberto Freire (PPS), que a cada mentira publicada pela revista Veja pediam a instauração de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) contra os movimentos populares, sindicais e ONGs, irão agora apoiar a CPI das privatizações? O jargão que mais usavam, “quem não deve não teme”, não vale mais? E os tucanos, continuarão reféns da ala que chafurda na lama e idealizou a campanha presidencial do ano passado, e que confabula com a extrema direita e com os setores mais reacionários da sociedade brasileira?


É hora do Parlamento brasileiro tentar, ao menos, diminuir a nódoa que criou ao sepultar – com ajuda do PT, de acordo com o livro – a CPMI do Banestado. Ela foi instalada no governo Lula, em 2003, e concluída sem punir os responsáveis pela evasão de mais de 84 bilhões de dólares do país para os paraísos fiscais, entre 1996 e 2002.


É instigante ver, frente ao sucesso de vendas do livro, como a imprensa burguesa toma partido e não hesita em enlodar-se. Primeiro, com um ruidoso silêncio sobre o livro e seu sucesso. Depois, ensaiando uma defesa dos acusados e acusando o autor do livro. Agora retirando o livro das listas dos mais vendidos na semana. O PIG (Partido da Imprensa Golpista), capitaneado pelos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e pela revista Veja, acreditam que ao esconder a realidade ela deixa de existir. A Rede Globo tentou o mesmo no início da Campanha das Diretas Já, em 1984. Deu no que deu.


O livro escondido pelo PIG continua sendo um sucesso de vendagem e atesta a necessidade de democratizar a comunicação em nosso país. É hora do governo Dilma atender aos anseios da população e fazer a lei que democratize a comunicação brasileira.


Preocupante é o silencio do Procurador- Geral da República, e chefe do Ministério Público Federal, Roberto Gurgel, sobre as denúncias do livro. O livro apresenta provas documentais de crimes cometidos e que exigem do representante da sociedade civil, o Ministério Público, um posicionamento sobre os fatos ali apresentados.


No governo de FHC, Geraldo Brindeiro, que ocupava o cargo que hoje é de Roberto Gurgel, ficou conhecido com o apropriado apelido de “Engavetador Geral da República”. Esperamos que o governo Dilma, que dá mostras de não pactuar com qualquer forma de corrupção, não deixe essa figura ressuscitar.


A França acaba de dar uma amostra de que o acerto de contas com as praticas condenáveis, exercidas por quem quer que seja, fazem bem à democracia e ao país. O livro escondido pelo PIG certamente nos ajudará a trilhar um caminho que abale a impunidade, já histórica, dos crimes cometidos contra o país e o povo brasileiro.

Maia vai instalar CPI da Privataria?

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:
Dia desses, debatia com alguns tuiteiros a possibilidade de a CPI da Privataria Tucana ser enterrada num grande acordo entre tucanos e petistas. Internautas que defendem o governo de forma incondicional ficaram ofendidos. Aí, lembrei o episódio (narrado no livro de Amaury Ribeiro Jr.) do acordo entre parlamentares do PT e do PSDB pra encerrar a CPI do Banestado sem alardes e sem escândalos, em 2003.

Não acho impossível que um outro acordo desses seja costurado ou desejado por alguns “pragmáticos” do PT. Mas tenho certeza que, se fizer isso, o partido pagará um preço muito alto. Talvez, mais alto do que na Reforma da Previdêcia no início do governo Lula ou mesmo na “Crise do Mensalão” em 2005. Naqueles dois episódios, o PT e o governo sofreram desgaste, houve defecções de parlamentares que seguiram para o PSOL. Mas boa parte da ”base organizada” petista e lulista (falo de sindicatos, movimentos sociais e partidos) seguiu a apoiar o governo. Viu nos episódios fatos graves, mas deu o desconto: era o preço a se pagar (será?) para obter “governabilidade”. As concessões (e os erros) de Lula foram compensados por resultados concretos que melhoraram a vida de milhões de brasileiros.
Agora, é diferente. O livro de Amaury traz à tona denúncias graves contra os maiores adversários do lulismo. Não são críticas no vazio. Mas fatos e documentos, a mostrar o percurso suspeito de dinheiro rumo a contas em paraísos fiscais. A filha de Serra e amigos muito próximos do tucano estão citados no livro. Serra recusa-se a falar sobre os fatos. Tenta desqualificar o livro (“lixo, lixo, lixo”, balbuciou para as câmeras de TV).
A imprensa serrista também se recusa a falar sobre o livro. De forma didática, nas duas últimas semanas, ficou desmonstrada a hipocrisia da mídia que cobra “moralidade pública” desde que isso não inclua o Serra… O PT também não fez muito alarde. Até porque parte do partido não sai bem da história (Amaury narra a guerra interna no comitê petista em 2010, que teria incluído parceria de petistas com a “Veja”, para atingir outros petistas).
Coube ao deputado Protógenes Queiroz (PCdoB/SP), um franco atirador com fama de “doido”, botar o livro debaixo do braço e sair pedindo assinaturas para uma CPI da Privataria. Mais de duzentos deputados assinaram. A ‘Veja”, a “Folha”, os mervais e outros bossais tentaram desqualificar Amaury. Ainda assim, mais de 200 deputados assinaram. É a força da internet: dos blogs “sujos” e das redes sociais… Por isso, falei que a CPI é uma vitória dos “sujos” e “doidos”.
Nessa quarta-feira, Protógenes entregou o pedido de CPI ao presidente da Câmara. Marco Maia (PT-RS) diz que é preciso conferir as assinaturas e, lá por fevereiro de 2012, quem sabe, pode ser instalada a CPI.
Hum…
Natal, Reveillon e férias de janeiro. Os tucanos ganharam 45 dias para negociar o enterro da CPI. Emissários de banqueiros, políticos e empresários vão conversar muito nos próximos dias… Dilma já disse que CPI só se faz “em casos extremos”. Governo não quer marola nem confusão. Quer administrar a economia e gerar emprego. Isso até se compreende.


Mas será que o PT vai entrar nessa? Como eu disse acima, dessa vez não haverá boa vontade na base lulista. Como acalmar as bases organizadas, se o PT por acaso aliviar pro Serra e deixar de investigar denúncias (concretas, graves e documentadas) contra o maior (e mais ardiloso) adversário? Dessa vez, um acordo com o PSDB seria visto como traição.


Por isso tudo, acho difícil que um ”acordão” prospere. Seria visto como traição pela base. Falando português claro: seria como se o time do Flamengo entregasse o jogo pro Vasco. No dia seguinte, a Gávea viraria uma praça de guerra. Jogador pode não ter amor à camisa. Mas tem medo da reação da torcida. Nesse caso da CPI, também, o resultado depende da “torcida”. Da pressão social. Do “bafo” das ruas e da internet… Claro que existe gente séria no Parlamento, e muito deputado combativo no PT e nos partidos aliados. Mas a maioria atua na base da pressão.


Não se espera que o governo e o PT trabalhem ardorosamente pela CPI. Mas se perceberem que a base quer a CPI será difícil aos parlamentares do PT e dos partidos aliados dizerem “não”. É essa a chance de ver instalada a CPI. Uma chance histórica para o país. Seria a primeira CPI – em muitos anos – que não surgiria das pautas impostas pela velha mídia. Seria uma CPI feita contra a vontade da velha mídia. Por isso, essa briga é tão importante: estratégica!

Milícias no campo miram nas lideranças

Por Jorge Américo, no jornal Brasil de Fato:

O campo de atuação das empresas de segurança privada não está restrito às cidades. É cada vez mais comum, no meio rural, a presença de grupos armados contratados por fazendeiros. Em 27 de julho de 2011, foi realizado em Curitiba (PR) o Tribunal de Júri que puniu pela primeira vez um caso de milícia privada no campo.

Os jurados consideraram Jair Firmino Borracha culpado pelo assassinato do agricultor Eduardo Anghinoni, irmão de uma das principais lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná. O réu foi condenado a 15 anos de prisão. O crime ocorreu em 1999, no município de Querência do Norte (PR). As provas e os depoimentos apresentados no julgamento reforçaram a hipótese da existência de uma organização criminosa que atuava contra militantes de movimentos sociais na região.

Um caso semelhante permanece sem solução. Após uma ação articulada pela empresa NF Segurança, o trabalhador rural Valmir Mota de Oliveira, mais conhecido como Keno, foi morto por um funcionário que prestava serviços para a transnacional Syngenta. Outros cinco trabalhadores ficaram gravemente feridos. Ambos participavam do acampamento Terra Livre, em Santa Tereza do Oeste (PR), área na qual a empresa promovia experimentos ilegais de sementes de milho transgênico. Embora o crime tenha ocorrido no final de 2007, o processo se encontra na fase inicial de consulta das testemunhas.

O advogado da ONG Terra de Direitos, Fernando Priospe, demonstra preocupação com a atuação de milícias privadas na região. “Basicamente não houve alteração na situação no que diz respeito às milícias privadas. Por exemplo, a NF Segurança continua atuando na região de Cascavel clandestinamente”. A Syngenta acusa os trabalhadores rurais de serem responsáveis pelo assassinato de Keno e de um pistoleiro. O Ministério Público do Paraná, que acatou a denúncia, alega que o fato de ocupar uma propriedade rural significa assumir o risco de provocar o assassinato das próprias pessoas que ocuparam a área.

Indígenas, ditadura e escravidão

A privatização do setor de segurança tem mais implicações negativas do que se supõe, segundo o presidente do Conselho Estadual da Defesa da Pessoa Humana de São Paulo (Condepe), Ivan Seixas. “Elas [empresas de segurança], além dos serviços tradicionais, fazem arapongagem particular, espionagem eletrônica, industrial, militar, política. Isso tudo faz com que o Estado brasileiro esteja refém dessa gente”.

Nem mesmo os povos indígenas escaparam desse aparelho repressivo descrito por Ivan, que é ex-preso político da ditadura civil-militar (1964-1985). Em outubro, um grupo de homens armados – contratados por donos de construtoras – avançaram contra as comunidades instaladas no local conhecido como Santuário dos Pajés, no Setor Noroeste, em Brasília (DF). Estavam em disputa 50 hectares de terras tradicionais, onde vivem cerca de 30 pessoas das etnias tuxá, fulniô, kariri xocó e tupinambá. Na ação, foram registrados espancamentos, uso de spray de pimenta e arma de choque elétrico.

A consolidação do setor da segurança privada nos últimos anos e a exacerbação de seu poder deve-se muito à presença de militares ainda em atividade ou aposentados. A conduta repressiva contra cidadãos, de acordo com Ivan, é sintoma do autoritarismo herdado do período ditatorial. Para ele, “há uma ligação direta entre ditadura e empresas de segurança porque vários torturadores, civis e militares, são donos dessas empresas”.

Racismo

O professor de história e integrante da UNEafro-Brasil Douglas Belchior vê na escravidão as raízes dos excessos que são cometidos hoje. Para ele, as empresas de segurança não substituem as forças militares do Estado, mas atuam de forma complementar. “Os capitães do mato foram a primeira polícia da história. Eles tinham a função de correr atrás dos negros rebelados. Essa lógica se repetiu ao longo dos anos e, quando os policiais migraram para a segurança privada, levaram consigo essas práticas abomináveis. Daí a razão de os negros serem as principais vítimas da truculência, ao lado dos camponeses e indígenas.”

Para Marcelo Braga Edmundo, coordenador da Central de Movimentos Populares e do Comitê Social da Copa 2014 e dos Jogos Olímpicos, a segurança privada está tão estruturada que consegue obter vantagens de todos os lados. Isso se dá ou por meio da repressão ou por meio da extorsão. “Recentemente, isso aconteceu no Jardim Botânico [no Rio de Janeiro]. Algumas pessoas se recusaram a pagar os seguranças e de repente começou a ter assaltos na rua, o que claramente se configurou como uma forma de pressão”. Braga afirma que o processo de coação é parecido. “Estigmatizam a população mais pobre da zona oeste, dominada pela milícia, enquanto a classe média que vive nas áreas mais abastadas há muito tempo aceita a ação delas passivamente, as paga e fica por isso mesmo”.

Os gastos públicos são uma ameaça? Para quem?

Editorial do Vermelho


A definição dos gastos do governo, fixados pelo Orçamento da União, sempre envolve uma disputa que, sob o disfarce da técnica econômica, é fundamentalmente política. Este é um braço de ferro que se recoloca neste final de ano, na véspera da votação da proposta orçamentária para 2012 pelo Congresso Nacional. Ela não contempla, segundo o parecer do relator Arlindo Chinaglia (PT-SP), reajustes para o conjunto dos servidores públicos (das três esferas do poder – Executivo, Legislativo e Judiciário) nem correções acima da inflação para os aposentados do INSS, que não terão reposição acima da inflação.

O pretexto, implícito numa proposta tão draconiana, é a necessidade do enfrentamento da crise econômica, embora o próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, já tenha minimizado seus reflexos no Brasil, garantindo que o crescimento do PIB de 2012 ficará dentro dos parâmetros definidos pelo governo.

Um outro lado deste debate – que vai se traduzindo em medidas duras contra trabalhadores e aposentados – pode ser visto nas páginas dos jornais, onde é frequente a pregação do caos econômico na esteira do crescimento dos gastos do governo. O gasto público de Dilma vai superar o de Lula, anuncia-se com certo frenesi. Artigo recente, em O Estado de S. Paulo, esforça-se em alardear esse “perigo” prevendo o crescimento das despesas financeiras do governo até 2014 (no final do mandato de Dilma Rousseff) com maior velocidade. Calcula que os gastos com investimentos, benefícios previdenciários atrelados ao salário mínimo e saúde chegarão a R$ 104 bilhões, representando um aumento de 1,4 ponto percentual em relação ao PIB. Nos dois mandatos de Lula, diz o jornalão paulistano, as despesas não financeiras do governo pularam de 15,7% do PIB para 18% – um aumento de 2,3 pontos em oito anos. Com Dilma, temem, podem crescer ainda mais, seja pelo desenvolvimentismo da mandatária, seja pelos investimentos que serão feitos envolvendo eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

Os economistas e analistas econômicos especializados em destrinchar as contas do governo, que geralmente são profissionais ligados a grandes consultorias financeiras, costumam alardear, ao comparar despesas e receitas do governo, o temor de que as contas não fechem, e isto tem um significado claro: pode faltar dinheiro para o pagamento dos juros e rendimentos aos especuladores da dívida pública. E defendem a manutenção da meta de superávit primário (o dinheiro economizado pelo governo para pagar estes juros) no patamar predefinido, que é de 3,1% do PIB.

Isto é, empregar 3,1% do PIB para pagar juros pode, mas aumentar os gastos sociais em 1,4% do PIB até 2014 é arriscado e não pode. E arriscado para quem? Usar mais dinheiro do governo para investimentos, saúde e melhoria em salários e aposentadorias tem um enorme significado para melhorar a vida de milhões de brasileiros e fortalecer o mercado interno, baseando a retomada do crescimento e solidificando o fortalecimento da economia nacional, como vem ocorrendo nos últimos anos. Garantir o pagamento de juros extorsivos atende apenas aos interesses de uma pequena e privilegiada parcela da população, aqueles que vivem da especulação financeira. Este é o centro da questão, ele está fundamentalmente ligado à política, à distribuição relativa do poder na sociedade, e não à técnica econômica, que é um disfarce para a manutenção de privilégios parasitários.

Naturalmente, num sistema capitalista como o vigente no mundo atual, o dinheiro tem um custo que qualquer política econômica precisa levar em conta. E este custo se traduz nos juros pagos ao capital e no compromisso dos governos nesse sentido. Mas o grande problema (que é político, não é demais insistir) é definir os limites para estes juros. No Brasil – como em todo lugar – esta definição decorre da correlação de forças existente e da capacidade de cada protagonista fazer valer seus interesses.

As notícias recentes, que sacrificam servidores públicos e aposentados, apontam para um ainda excessivo poder da especulação financeira, que impõe seus interesses e legitima seus privilégios com oráculos de aparência técnica difundidos pelos jornais. E indicam a necessidade de alterar a correlação de forças a favor do desenvolvimento com uma plataforma que uma o povo brasileiro contra os juros e o superávit primário e a favor do progresso econômico e social da nação.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

ADPREV finalmente em Feira de Santana

Um dos maiores escritórios de advocacia previdenciária e trabalhista da Bahia, a ADPREV (Advocacia Previdenciária e Outras Assessorias em Geral) inaugurou sua mais nova sede no município de Feira de Santana no último dia 19 de dezembro de 2011. Participaram do evento em espírito de confraternização natalina representantes e parceiros de 27 municípios da região, bem como Rozete Evangelista, presidente da Associação Sócio-Cultural Mandacaru de Feira de Santana, e Jean Carlos Machado, Secretário de Organização e Formação da FETAG-BA e Secretário de Finanças da CTB-Bahia. Além disso, presentes estavam representantes da APLB-Sindicato, SINDBORRACHA-BA, SINDIMED, SINTASTIAC, SINDIFRE, SINDICARNE, e outras entidades regionais.

Terceira carta às esquerdas


Por Boaventura de Sousa Santos
Fonte: Agência carta Maior


As novas mobilizações e militâncias políticas por causas historicamente pertencentes às esquerdas estão sendo feitas sem qualquer referência a elas (salvo talvez à tradição anarquista) e muitas vezes em oposição a elas. Isto não pode deixar de suscitar uma profunda reflexão. Essa reflexão está sendo feita? Tenho razões para crer que não


Quando estão no poder, as esquerdas não têm tempo para refletir sobre as transformações que ocorrem nas sociedades e quando o fazem é sempre por reação a qualquer acontecimento que perturbe o exercício do poder. A resposta é sempre defensiva. Quando não estão no poder, dividem-se internamente para definir quem vai ser o líder nas próximas eleições, e as reflexões e análises ficam vinculadas a esse objetivo.


Esta indisponibilidade para reflexão, se foi sempre perniciosa, é agora suicida. Por duas razões. A direita tem à sua disposição todos os intelectuais orgânicos do capital financeiro, das associações empresariais, das instituições multilaterais, dos think tanks, dos lobbistas, os quais lhe fornecem diariamente dados e interpretações que não são sempre faltos de rigor e sempre interpretam a realidade de modo a levar a água ao seu moinho. Pelo contrário, as esquerdas estão desprovidas de instrumentos de reflexão abertos aos não militantes e, internamente, a reflexão segue a linha estéril das facções.


Circula hoje no mundo uma imensidão de informações e análises que poderiam ter uma importância decisiva para repensar e refundar as esquerdas depois do duplo colapso da social-democracia e do socialismo real. O desequílibrio entre as esquerdas e a direita no que respeita ao conhecimento estratégico do mundo é hoje maior que nunca.


A segunda razão é que as novas mobilizações e militâncias políticas por causas historicamente pertencentes às esquerdas estão sendo feitas sem qualquer referência a elas (salvo talvez à tradição anarquista) e muitas vezes em oposição a elas. Isto não pode deixar de suscitar uma profunda reflexão. Essa reflexão está sendo feita? Tenho razões para crer que não e a prova está nas tentativas de cooptar, ensinar, minimizar, ignorar a nova militância.


Proponho algumas linhas de reflexão. A primeira diz respeito à polarização social que está a emergir das enormes desigualdades sociais. Vivemos um tempo que tem algumas semelhanças com o das revoluções democráticas que avassalaram a Europa em 1848. A polarização social era enorme porque o operariado (então uma classe jovem) dependia do trabalho para sobreviver mas (ao contrário dos pais e avós) o trabalho não dependia dele, dependia de quem o dava ou retirava a seu belprazer, o patrão; se trabalhasse, os salários eram tão baixos e a jornada tão longa que a saúde perigava e a família vivia sempre à beira da fome; se fosse despedido, não tinha qualquer suporte exceto o de alguma economia solidária ou do recurso ao crime. Não admira que, nessas revoluções, as duas bandeiras de luta tenham sido o direito ao trabalho e o direito a uma jornada de trabalho mais curta. 150 anos depois, a situação não é totalmente a mesma mas as bandeiras continuam a ser atuais.


E talvez o sejam hoje mais do que o eram há 30 anos. As revoluções foram sangrentas e falharam, mas os próprios governos conservadores que se seguiram tiveram de fazer concessões para que a questão social não descambasse em catástrofe. A que distância estamos nós da catástrofe? Por enquanto, a mobilização contra a escandalosa desigualdade social (semelhante à de 1848) é pacífica e tem um forte pendor moralista denunciador.


Não mete medo ao sistema financeiro-democrático. Quem pode garantir que assim continue? A direita está preparada para a resposta repressiva a qualquer alteração que se torne ameaçadora. Quais são os planos das esquerdas? Vão voltar a dividir-se como no passado, umas tomando a posição da repressão e outras, a da luta contra a repressão?


A segunda linha de reflexão tem igualmente muito a ver com as revoluções de 1848 e consiste em como voltar a conectar a democracia com as aspirações e as decisões dos cidadãos. Das palavras de ordem de 1848, sobressaíam liberalismo e democracia. Liberalismo significava governo republicano, separação ente estado e religião, liberdade de imprensa; democracia significava sufrágio “universal” para os homens. Neste domínio, muito se avançou nos últimos 150 anos. No entanto, as conquistas têm vindo a ser postas em causa nos últimos 30 anos e nos últimos tempos a democracia mais parece uma casa fechada ocupada por um grupo de extraterrestres que decide democraticamente pelos seus interesses e ditatorialmente pelos interesses das grandes maiorias. Um regime misto, uma democradura.


O movimento dos indignados e do occupy recusam a expropriação da democracia e optam por tomar decisões por consenso nas sua assembleias. São loucos ou são um sinal das exigências que vêm aí? As esquerdas já terão pensado que se não se sentirem confortáveis com formas de democracia de alta intensidade (no interior dos partidos e na república) esse será o sinal de que devem retirar-se ou refundar-se?

Amauri criou uma CPI em 06 dias

A revista Carta Capital chegou às bancas com a notícia do livro do Amaury na sexta-feira da semana passada às 20 horas.

Simultaneamente, os primeiros exemplares do livro do Amaury chegavam às livrarias para que a venda começasse no sábado de manhã.

Na segunda-feira, o livro do Amaury vendeu a primeira edição.

A primeira notícia do PIG (*) saiu na Folha (**) nesta quinta-feira.Nesta quinta-feira, o deputado Protógenes Queiroz conseguiu as assinaturas para criar a CPI da privataria.Jamais se viu isso antes.

Paulo henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Folha é um jornal que não se deve deixar a avó ler, porque publica palavrões. Além disso, Folha é aquele jornal que entrevista Daniel Dantas DEPOIS de condenado e pergunta o que ele achou da investigação; da “ditabranda”; da ficha falsa da Dilma; que veste FHC com o manto de “bom caráter”, porque, depois de 18 anos, reconheceu um filho; que matou o Tuma e depois o ressuscitou; e que é o que é, porque o dono é o que é; nos anos militares, a Folha emprestava carros de reportagem aos torturadores.

Brasil 2012

Perspectivas políticas e uma crise econômica no meio do caminho. Que venha 2012, um ano que bem poderia entrar para a história como aquele que encerrou uma década de transição da eterna agenda de estabilização para uma nova agenda de mudanças e desenvolvimento.



Antonio Lassance - Carta Maior



A crise, a política e as políticas públicas


O que será do ano de 2012?


Reverter os impactos da crise internacional que têm feito a economia empacar será a questão número um da agenda de 2012. Os riscos advindos dessa crise abrem uma oportunidade para a atual presidência: há condições objetivas para uma transição da eterna agenda de estabilização para uma nova agenda de mudanças e desenvolvimento.


No Congresso, debates e decisões importantes podem levar o Brasil a um novo patamar de financiamento da provisão de suas políticas públicas fundamentais. Ou seja, pode vir mais dinheiro para a educação, a saúde, a segurança pública, a previdência e a assistência social.


A disputa eleitoral para as prefeituras pode premiar os partidos da base governista, mas fragmentará sua coalizão nacional.


A oposição tentará sobreviver a mais uma estação do longo inverno a que foi submetida, há uma década, desde que perdeu as eleições presidenciais de 2002.


O enfrentamento à crise e uma nova fase para o governo


O governo deve fazer as contas para viabilizar um esforço concentrado, turbinando o investimento em programas de infraestrutura e abastecendo melhor as políticas sociais.


Concretamente, no primeiro trimestre se deve ver um aprofundamento da inflexão da política macroeconômica, para livrar o país de uma recessão. Entre suas opções estão a redução dos encargos da dívida e os pacotes de estímulo à produção e ao consumo.


O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o “Minha Casa, Minha Vida” são apostas líquidas e certas. Significam injeção na veia da economia, com uma estrutura de implementação já organizada.


A depender do nível e da rapidez com que isso ocorra, será possível criar uma folga fiscal também para garantir recursos extra que subsidiem uma pauta ousada de compromissos com políticas fundamentais que estão em pleno processo de redefinição (no Congresso) de suas fontes de financiamento.


Como é comum aos mandatos presidenciais, enquanto o primeiro ano é dedicado a arrumar a casa, o segundo é quando precisam mostrar a que vieram.


Em 2012, ficarão claros os programas que deram certo e podem deslanchar, os que patinaram e precisarão ser ajustados e os que não se sustentam e serão abandonados em favor de outras prioridades.


O Brasil Sem Miséria, que mostrou avanços substantivos em 2011, trará dados ainda mais palpáveis e em maior volume, consolidando também quase uma década de Bolsa Família na estrutura de políticas públicas do Estado.


Eleições municipais: governo, oposição e coalizões


Muitas das ações de enfrentamento à crise têm interface com questões municipais que serão alvo prioritário das campanhas para prefeito e vereador. É o caso das obras da Copa, das políticas de mobilidade urbana, saneamento, gestão de resíduos sólidos, habitação, transporte e apoio à agricultura familiar.


Com a popularidade da presidenta em alta, a campanha de 2012 tende a ser o desfile de candidatos que se insinuam, diante dos eleitores, como as melhores opções para trazer políticas federais, seus programas e recursos para cada município.


Um cenário de crescimento com estabilidade tende a fazer com que os partidos da coalizão governista estejam melhor preparados para enfrentar as eleições, mas em um quadro de total fragmentação de sua coalizão, cada vez mais um mosaico.


A oposição continuará mergulhada em sua crise ao cubo: crise de projeto (sem discurso para as eleições), crise de sua coalizão estilhaçada e crise de lideranças nacionais. A oposição se tornou um projeto de passado, e não uma proposta de futuro. Vive da nostalgia de uma época da qual a maioria do povo brasileiro não sente nenhuma saudade.


DEM e PPS agora vivem às turras com os tucanos. Reclamam de serem tratados como primos pobres, sócios menores de uma empresa incapaz de ganhar eleições presidenciais há uma década.


Tanto a sangria que levou ao racha do DEM, com a formação do PSD, quanto os flertes entre os partidos da oposição e os da base (inclusive com o PT) nas eleições municipais de 2012 indicam que a principal disputa não será entre governo e oposição, mas dos partidos da base entre si. Cada qual quer sair maior das eleições para prefeito e se cacifar para a coalizão de 2014. Principalmente as eleições nas capitais devem retratar o fenômeno.


Para sobreviver, a oposição buscará aproveitar as rebarbas dessa fragmentação. Onde não tiver chances de liderar, fará de tudo para decidir o resultado dessas brigas. Com fôlego menor a cada pleito, deverá priorizar as cidades em que disputa a reeleição.


Mensalão versus privataria tucana


A crise de longo prazo dos partidos de oposição reforçará outro aspecto de nossa política: o que reserva à velha mídia o papel de principal partido de oposição no Brasil - função aliás já assumida publicamente por dirigentes de suas associações. Se há um lugar onde a oposição é forte, é no setor que detém concessões públicas de rádio e TV, feitas décadas atrás, quando os dinossauros dominavam a terra.


O ano de 2012, que marcará 10 anos da eleição de Lula e do fim do governo FHC, será o momento do embate de duas narrativas contrapostas: a do mensalão, de um lado, e a da “privataria tucana”, de outro.


É claro e cristalino que a velha mídia usará o calendário de julgamento do processo do Mensalão, no Supremo Tribunal Federal (STF), como bigorna para malhar o PT e também como troco às denúncias elucidadas no livro “A Privataria Tucana”.


O mais importante ainda está por vir


Todas essas questões são de grande importância. Mas o fundamental, muitas vezes, passa ao largo das questões mais palpitantes e das manchetes mais escandalosas, como a da ciranda de ministros sucessivamente alvejados e derrubados por denúncias.


Entre março e junho, Executivo e Congresso podem decidir cinco grandes batalhas decisivas para a vida de todos os brasileiros. São elas a partilha dos recursos do pré-sal, a regulamentação da Emenda 29 (que estabelece os recursos da saúde), a aprovação do Plano Nacional de Educação, o novo marco legal da política ambiental (Código Florestal) e a definição das novas regras de cálculo do Fundo de Participação dos Estados.


Todas dizem respeito a algumas perguntas essenciais: para que e para quem serve o Estado? Quão desiguais nós somos e o que fazer para deixarmos de sê-lo?


Hora de fechar pra balanço


O cenário tendencial de 2012 conspira para uma inversão de prioridades em relação a 2011.


diminuição dos encargos com a dívida, requisito para a travessia da crise, pode levar a uma mudança de peso: a transição de uma agenda de estabilização para uma agenda de mudanças orientadas por um novo padrão de desenvolvimento. Transição que na presidência Lula demorou do primeiro para o segundo mandato para ter início, mas poderia ser abreviada na presidência Dilma entre o primeiro e o segundo ano de governo.


Basta que se perceba que as condições objetivas estão dadas e que se aguente com paciência a gritaria de setores rentistas e seus agregados, minoritários, elitistas, mas muito barulhentos. É fácil identificá-los. São os que acham que investimento em assistência social é clientelismo; que mais dinheiro para a saúde é gastança; que prioridade para a educação deve ser na base de muito discurso e pouco recurso. Esse pessoal tem ultimamente patrocinado editoriais dizendo que a desaceleração da economia é algo benéfico.


Mesmo que uns não queiram, o governo pode se ver forçado a cumprir o programa pelo qual foi eleito em 2010. Tanto por força das circunstâncias, por ter em mãos argumentos que justifiquem a transição sem que sequer pareça ousadia demais, quanto por pressão de setores sociais com ressonância política.


Que venha 2012, um ano difícil, mas que bem poderia entrar para a história como aquele que encerrou uma década de transição e virou definitivamente a página do Brasil do Real, que vivia em função de sua moeda, para o Brasil de todos, que passou a viver em função dos brasileiros.

Disputado a tapa: 120 mil exemplares

Por Conceição Lemes, no blog Viomundo:

A Geração Editorial acaba de mandar uma ordem para a gráfica para imprimir mais cópias do livro A Privataria Tucana, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Tiragem total até o momento: 120 mil exemplares.

“O trabalho está insano por aqui”, contou-nos há pouco por e-mail Willian Novaes, assessor de imprensa da Geração. “Ontem um vendedor ’surtou’. Foi embora porque não aguentava mais os clientes [livrarias] brigarem pelos ‘poucos’ exemplares.”

No sábado teve “tumulto” até na porta de uma das gráficas que estão rodando A Privataria. Foi entre duas distribuidoras (uma de Minas Gerais), disputando o reparte disponível. Hoje, o “problema” foi resolvido. Cada uma levou metade.

“Eu já perdi a conta de ligações de clientes [clientes e distribuidoras] ‘xingando’ a gente, porque querem o livro”, diz Fernanda Emediato, sócia da editora, num misto de surpresa e felicidade pelo sucesso estrondoso. “O livro está sendo disputado a tapa.”

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CELAC e o jornalismo

Que a Celac traga também teoria e prática de um jornalismo de integração

Por Beto Almeida - Brasil de Fato

Quando Vargas assinava a lei da Petrobras, a imprensa brasileira dizia ser absurdo criar empresa de petróleo num país que, segundo os EUA, não tinha petróleo.


Agora, quando presidentes de 33 países, em Caracas, decidem criar a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac) sem a presença dos EUA e enterrando a OEA, a mídia brasileira sonegou a informação objetiva aos brasileiros.
A Celac nasce lastreada no diálogo e na busca do desenvolvimento e da integração de países historicamente submetidos à exploração imperial. Dos 100 anos de solidão, começamos a construir os 100 anos de cooperação.


Muitas medidas que fomentam a integração já estão em marcha há anos. A Alba, a Petrosul, a Telesur, o Banco do Sul, a Unasur. O Brasil deu também sua contribuição ao criar a Universidade da Integração Latino Americana (Unila), que irá receber 500 professores e 5 mil estudantes hermanos, um investimento público nosso. Ajuda a reduzir assimetrias. A política externa de Lula-Amorim, com o seu bordão “temos que crescer todos”, espalhou investimentos públicos, via BNDES, na construção de obras indispensáveis na região. O porto de Mariel em Cuba, uma hidrelétrica na Nicarágua, recursos de Itaipu para industrializar o Paraguai, metrô e estaleiro na Venezuela são apenas alguns dos exemplos. Tudo alicerça a Celac.


EUA, os grandes derrotados, sonegam a informação: está em marcha a integração soberana e solidária. Na agenda, buscam-se soluções democráticas para questões históricas: a saída ao mar para a Bolívia, o fim do bloqueio contra Cuba, tirar a Colômbia da agenda bélica dos EUA, recuperar as Malvinas Argentinas. A caminhada será dura. Haverá sabotagens imperiais. Por isso, falta impulsionar também a integração informativo-cultural, encorajando-se a TV Brasil a retratar mais os rumos assumidos pelo Itamaraty. Afinal, 33 presidentes criam uma Celac, rejeitam a OEA e criam rumo novo para o continente. E isto não é notícia? É o conhecido jornalismo da desintegração. Que a Celac traga também teoria e prática de um jornalismo de integração.

América Latina 2011

Por Emir Sader


O ano foi de confirmação das tendências da década anterior, mesmo no marco do aguçamento da crise econômica internacional, cujos efeitos voltaram a sentir-se de maneira direta na economia dos países do continente.

Neste segundo ciclo da prolongada crise econômica internacional, os países que privilegiam a integração regional, da mesma forma que em 2011, conseguiram resistir e não entrar em recessão, apesar de que tiveram que diminuir seus ritmos de crescimento, pela diminuição da demanda dos mercados do centro do capitalismo e pela diminuição dos créditos.

A novidade foi que, se em 2008, surpreendidos pela crise, os países trataram de defender-se dos seus efeitos em nível nacional, desta vez se avançou na coordenação das políticas regionais, especialmente através da Unasul, para coordenar o uso das suas divisas, avançar na desdolarização do comércio regional e intensificar seus centros de financiamento regional, como o Banco do Sul e a Coordenação Andina de Fomento.

Do ponta de vista político geral, a eleição de Ollanta Humala como presidente do Peru foi o acontecimento politico novo, confirmando as tendências gerais na região. A reeleição de Cristina Kirchner consolida os governos progressistas na Argentina. No primeiro caso, um país que tinha assinado um Tratado de Livre Comércio com os EUA, se desloca da esfera de influência prioritária de Washington, para aproximar-se dos processos de integração regional. No segundo, a confirmação das tendências gerais na região de que, governos progressistas, que centram sua política no desenvolvimento econômico e social, com eixo em políticas sociais redistributivas, conseguem amplo apoio popular e tem sido reeleitos ou tem eleito seus sucessores.

Se estende assim a gama de governos progressistas, incorporando agora o Peru e desarticulando a tentativa norteamericana de construir um eixo do Pacifico – com Peru, Chile, Colombia a que se uniria o México – como contraponto ao Mercosul e à Unasul.

Unasul teve avanços importantes, sob direção colombiana, demonstrando como a Colombia estendeu um dos seus bracos para os processos de integração regional, enquanto continua seus tramites para assinar um TLC com os EUA.

Este fenômeno, junto ao movimento novo do Peru e às manifestações no Chile contra Pinera, diminuíram ainda mais a influência dos EUA na região, ainda mais que o desgaste do governo do México e o clima pre-eleitoral que passa a se instalar nesse país, com certas possibilidades de vitória do candidato de esquerda – Lopez Obrador – nas eleições de julho do próximo ano 2012.

Os governos progressistas tiveram que enfrentar conflitos internos, menos com a direita – em geral derrotada, embora seu segmento midiático continue forte – e mais com contradições dentro do campo popular. O caso boliviano foi o mais agudo, embora, o tema esteja presente em outros países, como o Equador, a Argentina, o Brasil.

Esses novos conflitos, dentro do campo popular, se dão em torno do problema não resolvido entre desenvolvimento econômico e equilíbrio ecológico, que afeta a construção de estradas, de represas, de usinas de energia, entre outros. Quando se estremam as posições, resta um desenvolvimentismo tecnocrático por um lado, um preservacionismo conservador por outro, tornando antagônicas contradições que o campo popular não tem conseguido resolver através do diálogo.No caso da Bolivia, somando-se ao fracassado “gasolinazo” de dezembro de 2010 e outros conflitos setoriais, representou reveses para o governo Evo, que trata agora de recuperar sua liderança, um dos baluartes do fundamental processo de transformações boliviano. Nos outros países permanecem tensões, que as vezes se expressam em conflitos políticos, as vezes não, mas que permanecem sem solução ou com soluções pelas vias de fato – ou obras que terminam avançando ou outras, inviabilizadas, sem discussão e acordo politico, sobre um tema que so’ tende a se agudizar.

A perspectiva para 2012 é a de projeção do marco econômico atual, com diminuição do ritmo de crescimento das economias, mas sem cair na recessão. Do ponto de vista político, as eleições no México e na Venezuela são os dois acontecimentos de maior projeção. Na Venezuela, Hugo Chavez é o favorito para mais um mandato, com a recuperação da economia, novos programas sociais, enquanto a oposição, apesar da promessa de unificação, continua sem uma liderança com hegemonia e apoio popular. Dez pré-candidatos se apresentam, facilitando provavelmente a vitória de Hugo Chavez.

No México, o fracasso do governo Calderon marca o fim dos dois mandatos do PAN e uma disputa entre o velho PRI e o PRD. Pena Nieto, pelo PRI e Lopez Obradoz, pelo PRD, polarizam a disputa, com favoritismo, por enquanto do PRI, pela força da estrutura nacional recomposta do partido, pelos governos estaduais que detem e pelo monopólio da mídia. Lopez Obrador conta com um trabalho de base desenvolvido ao longo de cinco anos e com a imagem de democratização e luta contra a corrupção, podendo surpreender, o que fará com que as atenções dos EUA estejam voltadas no próximo ano centralmente nas eleições mexicanas.

Aécio:"estágio na oposição". Bebeu?

Por Altamiro Borges


Talvez embriagado pelo sucesso do livro “A privataria tucana”, que deixou de ressaca o seu rival José Serra, o senador Aécio Neves resolveu soltar a franga (ou o tucano?), abandonar a sua falsa mineirice conciliadora e vomitar todo o seu ódio direitista. Sem temer o bafômetro, que já lhe deu algumas dores de cabeça, o presidenciável está em plena campanha, todo serelepe.

Segundo a Agência Estado, Aécio esteve ontem em Curitiba e endureceu as críticas “ao governo federal, em discurso apropriado para a campanha eleitoral oposicionista”. O “imperador mineiro”, que controla a mídia local, criminaliza os movimentos sociais e silencia as vozes discordantes, afirmou que há no Brasil hoje um “mando político com nuances quase imperiais”. Ele bebeu?

Um borracho valentão

Disse ainda que o PSDB deve adotar “um projeto que cria um contraponto com o absurdo e perverso aparelhamento da máquina pública que estamos assistindo no Brasil, com os conseqüentes desvios e ineficiência... A manutenção do poder é a prioridade absoluta do PT, a agenda que está em curso hoje é uma agenda de 20 anos atrás proposta por nós”. Parece que bebeu!

Lembrando algumas histórias de borrachos valentões, ele ainda soltou a seguinte pérola: “Quem sabe nós vamos permitir que o PT faça um estágio na oposição a partir de 2014, até para que ele possa reencontrar-se com seus valores e com as idéias que ele abdicou, que ele esqueceu depois que chegou ao governo”. Nenhum curitibano solicitou um bafômetro?

Termina, no Iraque, outra guerra que os EUA não vençeram

Editorial do Vermelho


Os dirigentes dos Estados Unidos – o presidente Barack Obama à frente – foram cautelosos ao anunciar (dia15) o fim da agressão militar contra o Iraque e não usaram a palavra vitória em seus comunicados. Nem poderiam – não houve vitória em mais esta agressão dos EUA a uma nação soberana que repete, de forma menos estrondosa, fracasso semelhante ao que viveram no Vietnã, quando suas tropas agressoras foram humilhantemente expulsas da então Saigon, atual Ho Chi Minh.

A agressão norte-americana contra o Iraque, permanente desde o início da década de 1990 e que, em 19 de março de 2003, assumiu a forma de intervenção direta, com bombardeios aéreos contra a capital Bagdá e as principais cidades do país e depois desembarque de tropas, foi justificada com uma mentira, a alegação de que o país detinha armas de destruição em massa. E com um pretexto, a deposição do regime de Saddam Hussein.

Nove anos depois, com um espantoso número de mortos e feridos e um país arrasado, o objetivo real não pode mais ser disfarçado – o controle das fabulosas reservas de petróleo e gás, cuja exploração agora foi atribuída a empresas dos EUA e da Europa, pondo fim a mais de 40 anos de controle nacional sobre aqueles recursos naturais estratégicos.

O saldo da agressão militar é terrível. O próprio governo dos EUA admite que 4.487 soldados das tropas ocupantes foram mortos e 32 mil feridos. Eram agressores que faziam parte dos mais de 1,5 milhão de soldados que, nestes nove anos, participaram da ocupação do Iraque. Entre os defensores do país, o número de mortos supera 150 mil, sendo a maior parte deles civis (cerca de 80% do total) – um morticínio criminoso que envolveu idosos, crianças, mulheres, vítimas da sanha assassina indiscriminada das tropas agressoras (a revelação de alguns documentos secretos, como os referentes ao massacre de Haditha, de 2005, levanta uma ponta do véu da atuação criminosa das tropas de ocupação). Mas estes números são questionados e há cálculos de um morticínio ainda maior. Uma pesquisa sobre a Saúde da Família Iraquiana estimou que apenas entre março de 2003 e junho de 2006 ocorreram 151 mil mortes violentas. E a revista The Lancet, especializada em assuntos militares, calculou que até 2006 a guerra provocou 654.965 mortes entre iraquianos. Além disso, entre 2005 e 2010, cerca de 1,6 milhão de iraquianos (5,5% da população) tiveram que deixar seus domicílios, engrossando o número daqueles que tiveram suas vidas precarizadas pela agressão estrangeira.

Há controvérsia também quanto ao preço da guerra, que o Congresso dos EUA calcula em US$ 800 bilhões; o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz e a professora de Harvard Linda Bilmes calculam que foi muito maior, chegando a US$ 3 trilhões no computo geral.

Ao anunciar a retirada das tropas agressoras do Iraque, o presidente Barack Obama dourou a pílula ao falar em um pretenso “sucesso extraordinário” dos EUA. Antes da agressão imperialista o Iraque – embora sob embargo – era um país em crescimento, onde as liberdades civis e o caráter laico do Estado se destacavam no contexto de nações com forte influência religiosa em suas legislações. Depois de nove anos de agressão comandada pelos EUA, o país está devastado, sem energia elétrica suficiente ou água potável suficiente e com uma taxa de desemprego que supera os 15%.

Obama alega que seu governo deixa um Iraque “soberano, estável e autossuficiente”. São palavras para os ouvidos de seus prováveis eleitores em 2012, mas não para os iraquianos ou os democratas pelo mundo afora. Há que se questionar a soberania do regime instalado pelos norte-americanos no Iraque na ponta do fuzil. O que farão lá os “conselheiros militares” que permanecerão após a retirada oficial das forças agressoras? Falar em estabilidade é uma piada, e somente os meses vindouros revelarão a capacidade do governo do primeiro-ministro Nurial al-Maliki controlar o país. Obama também teve o mau gosto de falar em autossuficiência. O que esta palavra pode significar um país devastado e que sai de uma guerra nas condições em que o Iraque está hoje, com a economia paralisada e a imensa maioria dos empregados (85% do total, calcula-se) prestando serviços para o governo?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Direitos, humanos

Por Emir Sader


No seminário sobre Direitos Humanos, Justiça e Memória, realizado esta semana na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, organizado pela Faculdade Latinoamericana de Ciencias Sociais (Flacso) e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, pudemos viver momentos de uma intensidade emocional incomparáveis. Não seria de se estranhar, sabendo o que vários países desde continente viveram em um passado recente, sob regimes militares que implantaram o terror.

Desta vez o momento foi especialmente emotivo porque a ministra Maria do Rosário, em nome do Estado brasileiro, entregou as cinzas de um cidadão espanhol de nascimento e de cidadania venezuelana, chamado Miguel Sabal Nue, aos seus três filhos. A cerimônia foi ainda mais emotiva, porque até recentemente circulava a versão da ditadura militar de que Miguel teria se suicidado. Maria do Rosario expressou aos filhos o pedido de perdão do Estado brasileiro pelo que havia sido feito com seu pai.

A tenacidade de familiares das vítimas da ditadura na pesquisa, permitiu encontrar nos arquivos do Doi-Codi a ficha de Miguel, com a letra T em vermelho, que indicaria que seria um “terrorista”. Apesar de não estar vinculado a atividades de esquerda, de ser um professor, Miguel foi preso, torturado e finalmente assassinado pelos órgãos da ditadura militar. Seus restos foram encontrados em uma das ossadas que foram descobertas e entregues suas cinzas para seus filhos.

Estes expressaram seus sentimentos de filhos que, desde pequenos não tinham podido conviver com o pai e que tinham tudo que conviver com a imagem de seu eventual suicídio, sem poder entender o que havia passado. Claro que nenhuma reparação cura as feridas de uma perda dessas, mas o Estado brasileiro fez o que pode para buscar a verdade do ocorrido e por isso recebeu o reconhecimento dos filhos de Miguel, que disseram que jogariam ao vento do Mont Juic, em Barcelona, de onde era proveniente seu pai, suas cinzas.

O seminário teve outros momentos de grande densidade, pela experiência transmitida por Daniel Filmus, senador e ex-Ministro de Educacao da Argentina, assim como a expoente mais importante da luta dos argentinos pelos direitos humanos, Estela Carlotto, presidente do movimento das Avós da Praça de Maio.

Expressão direta desse movimento foi a intervenção de outro argentino, Juan Cabandié, atual deputado pela cidade de Buenos Aires. Juan é o que se chama lá de neto recuperado, um grupo que já conta com 105 netos, que tiveram sua verdadeira identidade recuperada pelo movimento das Avós. Sao pessoas cujos pais foram presos e assassinados pela ditadura militar, que encaminhou-os as crianças, depois de assassinar seus pais, para outras famílias, que os educaram com identidade falsa.

No caso de Juan, as explicações que lhe eram dadas sobre eles nunca os tinha satisfeito, até que um dia, quando já tinha 25 anos, foi bater na porta da sede do Movimento das Avós e lhes manifestou sua suspeita de que ele seria filho de algum desaparecido. Ao cabo de três anos, Juan teve o retorno, com a identificação dos seus verdadeiros pais e seu nome real.

Seus pais foram um jovem casal de estudantes, ele de 19, ela de apenas 16, presos pela ditadura e executados, assim que ele nasceu, dado que sua mãe foi detida já grávida. Foi a partir desse momento que, segundo o depoimento de Juan, ele recuperou sua liberdade e sua alegria, mesmo sabendo do destino trágico de seus pais nas mãos da ditadura.

Tomar consciência de sua verdadeira identidade era, ao mesmo tempo, tomar consciência política do que a Argentina estava vivendo e havia vivido, o que o levou imediatamente à militância política, por meio da qual ele é hoje um jovem e combativo parlamentar do partido de governo.

É natal: Esquerda e consumismo. por Pasolini

"...os marxistas também foram mudados antropologicamente pela revolução consumista, porque vivem de outro modo, em uma outra qualidade de vida, em outros modelos culturais e também foram mudados ideologicamente...Há essa contradição, todos aqueles que são declaradamente marxistas, mesmo que votem em marxistas, são ao mesmo tempo consumistas. Não só isso: o Partido Comunista Italiano aceitou esse desenvolvimento... comunistas, socialistas, extremistas. Por exemplo, os extremistas italianos jogam bombas e depois, de noite, assistem à televisão, Canzonissima --programa de variedades da RAI--, Mike Bongiorno --famoso apresentador de TV italiano...As classes existem, mas (...)a luta de classes é no plano econômico, não mais no plano cultural. Agora, a diferença é econômica entre um burguês e um operário, mas não há mais diferença cultural entre os dois..." (Pier Paolo Pasolini;entrevista inédita de 1975 ;Expresso/ IHU).
(Carta Maior;2ª feira; 19/12/ 2011)

Hora de rever as privações

Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.


Mauro Santayana - Carta Maior


Se outros efeitos não causar à vida nacional o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., suas acusações reclamam o reexame profundo do processo de privatizações e suas razões. Ao decidir por aquele caminho, o governo Collor estava sendo coerente com sua essencial natureza, que era a de restabelecer o poder econômico e político das oligarquias nordestinas e, com elas, dominar o país. A estratégia era a de buscar aliança internacional, aceitando os novos postulados de um projetado governo mundial, estabelecido pela Comissão Trilateral e pelo Clube de Bielderbeg. Foi assim que Collor formou a sua equipe econômica, e escolheu o Sr. Eduardo Modiano para presidir ao BNDES - e, ali, cuidar das privatizações.

Primeiro, houve a necessidade de se estabelecer o Plano Nacional de Desestatização. Tendo em vista a reação da sociedade e as denúncias de corrupção contra o grupo do presidente, não foi possível fazê-lo da noite para o dia, e o tempo passou. O impeachment de Collor e a ascensão de Itamar representaram certo freio no processo, não obstante a pressão dos interessados.

Com a chegada de Fernando Henrique ao Ministério da Fazenda, as pressões se acentuaram, mas Itamar foi cozinhando as coisas em banho-maria. Fernando Henrique se entregou à causa do neoliberalismo e da globalização com entusiasmo. Ele repudiou a sua fé antiga no Estado, e saudou o domínio dos centros financeiros mundiais – com suas conseqüências, como as da exclusão do mundo econômico dos chamados “incapazes” – como um Novo Renascimento.

Ora, o Brasil era dos poucos países do mundo que podiam dizer não ao Consenso de Washington. Com todas as suas dificuldades, entre elas a de rolar a dívida externa, poderíamos, se fosse o caso, fechar as fronteiras e partir para uma economia autônoma, com a ampliação do mercado interno. Se assim agíssemos, é seguro que serviríamos de exemplo de resistência para numerosos países do Terceiro Mundo, entre eles os nossos vizinhos do continente.

Alguns dos mais importantes pensadores contemporâneos- entre eles Federico Mayor Zaragoza, em artigo publicado em El País há dias, e Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia - constataram que o desmantelamento do Estado, a partir dos governos de Margareth Thatcher, na Grã Bretanha, e de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, foi a maior estupidez política e econômica do fim do século 20. Além de concentrar o poder financeiro em duas ou três grandes instituições, entre elas, o Goldman Sachs, que é hoje o senhor da Europa, provocou o desemprego em massa; a erosão do sistema educacional, com o surgimento de escolas privadas que só servem para vender diplomas; a contaminação dos sistemas judiciários mundiais, a partir da Suprema Corte dos Estados Unidos – que, entre outras decisões, convalidou a fraude eleitoral da Flórida, dando a vitória a Bush, nas eleições de 2000 -; a acelerada degradação do meio-ambiente e, agora, desmonta a Comunidade Européia. No Brasil, como podemos nos lembrar, não só os pobres sofreram com a miséria e o desemprego: a classe média se empobreceu a ponto de engenheiros serem compelidos a vender sanduíches e limonadas nas praias.

É o momento para que a sociedade brasileira se articule e exija do governo a reversão do processo de privatizações. As corporações multinacionais já dominam grande parte da economia brasileira e é necessário que retomemos as atividades estratégicas, a fim de preservar a soberania nacional. É também urgente sustar a incontrolada remessa de lucros, obrigando as multinacionais a investi-los aqui e taxar a parte enviada às matrizes; aprovar legislação que obrigue as empresas a limpa e transparente escrituração contábil; regulamentar estritamente a atividade bancária e proibir as operações com paraísos fiscais. É imprescindível retomar o conceito de empresa nacional da Constituição de 1988 – sem o que o BNDES continuará a financiar as multinacionais com condições favorecidas.

A CPI que provavelmente será constituída, a pedido dos deputados Protógenes Queiroz e Brizola Neto, naturalmente não se perderá nos detalhes menores – e irá a fundo na análise das privatizações, a partir de 1990, para que se esclareça a constrangedora vassalagem de alguns brasileiros, diante das ordens emanadas de Washington. Mas para tanto é imprescindível a participação dos intelectuais, dos sindicatos de trabalhadores e de todas as entidades estudantis, da UNE, aos diretórios colegiais. Sem a mobilização da sociedade, por mais se esforcem os defensores do interesse nacional, continuaremos submetidos aos contratos do passado. A presidente da República poderia fazer seu o lema de Tancredo: um governante só consegue fazer o que fizer junto com o seu povo.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Jabor, Josias, Kramer... Cadê vocês?

Por Altamiro Borges


A velha mídia levou um baile das redes sociais e da blogosfera e, aos poucos, rompe seu silêncio sobre o best-seller “A privataria tucana”, de Amaury Ribeiro. Na mídia impressa, a Folha engoliu a seco e publicou um artigo com o único intuito de desqualificar o autor e blindar o tucanato privatista e corrupto. O texto nem é assinado. Deve ter sido “obra” do Otavinho, o patrão serrista do diário. Um dia depois, o Estadão também reconheceu que o livro é um sucesso, num artigo um pouco mais isento.

Já nas telinhas, até o Boris Casoy, outro direitista convicto, noticiou o estrondo causado pelo livro. Só faltou o bordão: “Isto é uma vergonha”. Antes, vale registrar, a Record, por razões mercadológicas e políticas conhecidas, foi a primeira a dar destaque à obra – inclusive com uma excelente entrevista do autor ao jornalista Paulo Henrique Amorim. Bob Fernandes também usou a sua coluna na TV Gazeta para criticar o silêncio hipócrita e seletivo da maior parte da chamada grande imprensa.

E cadê os histéricos “calunistas”?

A pergunta que não quer calar é a seguinte: cadê os histéricos “calunistas” dos impérios midiáticos? Eles saíram de férias, ficaram com preguiça de ler o livro, estão com medo do vingativo Serra ou tem algum peso na consciência por terem apoiado o criminoso processo de privatização das estatais na era FHC? Será que alguém usou as lavanderias tucanas nos paraísos fiscais? Será?

No caso de Eliane Cantanhêde, da “massa cheirosa” do PSDB, ela tem uma justificativa. Está em férias. Mesmo assim, a incansável colunista da Folha escreveu mais um de seus petardos contra Hugo Chávez. Deve ser pura obsessão contra o líder venezuelano. Já o Josias de Souza, também da Folha, o famoso carona do FHC, não escreveu uma linha sobre o livro e também entrou em férias.

“Não-notícia” na telinha da Globo

Mirian Leitão e Dora Kramer, outras duas colunistas estridentes da mídia imprensa, também murcharam. A colunista do Estadão até ficou irritada com seus seguidores na internet, que criticaram o silêncio. “Façamos o seguinte: matriculem-se na faculdade de jornalismo, trabalhem 30 anos no ramo e aí a gente discute”, disparou a deselegante Kramer. Para ela, “o envolvimento do autor com dossiês de campanha, arranha a credibilidade [do livro]”. O policial-bandido João Dias, herói da mídia, não arranhou?

Já para o campeão de audiência na tevê, o Jornal Nacional, o livro de Amaury Ribeiro não existe, é uma “não-notícia”. O veterano Willian Bonner está calado e a novata Patrícia Poeta está muda. No Jornal da Globo, o requisitado Willian Waack, freqüentador da embaixada dos EUA, também está quieto. E o Arnaldo Jabor ainda não fez os seus trejeitos patéticos para tratar do tema tabu. Ele adora falar sobre as tais maracutaias, desde que não atinjam os seus íntimos amigos tucanos.

Noblat não se acovardou

Entre os colunistas da mídia demotucana que não se acovardaram diante do best-seller, o primeiro foi Ricardo Noblat, o blogueiro mais acessado das Organizações Globo. De imediato, ele escreveu: “O livro desperta desde já dois tipos de reação: ‘Não li e não gostei’. E: ‘Não li e gostei’. Comecei a ler ontem. É uma leitura penosa para quem tem pouca intimidade com o mundo financeiro”.

Na sequência, ele assumiu o seu lado na contenda. Publicou o chilique de José Serra contra o livro. “Lixo é lixo”. E depois, como se fosse o porta-voz dos tucanos, ele antecipou que a “bancada de deputados federais do PSDB se reúne esta tarde, em Brasília, para anunciar providências quanto à publicação do livro ‘A Privataria Tucana’, que começou a ser vendido no último domingo”.

Merval Pereira, o “imortal” da Academia Brasileira de Letras, demorou, mas também se posicionou – como sempre, em apoio aos santos tucanos. Já com relação a Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, os blogueiros da Veja, não vale a pena falar. Eles babam!