segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Histórias do 11 de setembro: 1973, 2001, 2011

Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Adital

11 de setembro de 1973: eu era frade franciscano e estudante de Teologia da PUCRS, em Porto Alegre. Era noviço, para não dizer cru, na política e na militância. Mas desde os tempos de Seminário escrevia poemas, que publicava no Caderno de Sábado do Correio do Povo, então maior jornal gaúcho. E cuidava do Mural da Teologia, onde se penduravam textos, artigos e tudo que interessava aos estudantes. Era uma das formas de comunicação da época. Homenageei o presidente Salvador Allende do Chile, ‘suicidado’ pela ditadura de Pinochet, com um poema lido no Mural pelos estudantes de outros cursos da PUC que tinham aulas no mesmo prédio, entre os quais o estudante de economia João Pedro Stédile. Conhecemo-nos e formamos, com sucesso, um grupo para mudar o movimento estudantil conservador da Universidade.

Allende foi ‘suicidado’ por um golpe militar monitorado e apoiado pelos EUA, em tempos de ditaduras em vários países da América do Sul, inclusive no Brasil. Enterrou-se a democracia por décadas, muitos foram assassinados, como Víctor Jara no Estádio nacional chileno, outros exilados, tantos perseguidos.

11 de setembro de 2001: eu estava reunido numa sala de hotel em Porto Alegre com a Executiva do PT gaúcho, do qual era vice-presidente. De repente, chega a notícia. Um atentado, ou algo parecido, em Nova York: um avião ‘furou’ uma das torres gêmeas. Nosso anti-americanismo latente logo imaginou um ataque ao imperialismo americano. Mais um pouco e nova notícia: outro avião choca-se com a outra torre. Ficamos todos atordoados, sem entender nada, corremos para a frente da televisão, e a reunião transformou-se em análise de conjuntura internacional.

O neoliberalismo, patrocinado pelos EUA, começava a mostrar seus primeiros sinais de esgotamento, queda e crise. Durante décadas, o mercado foi santificado, também no Brasil, o Estado tornou-se mínimo, o desemprego espalhou-se pelo mundo, fome e miséria crescentes, a década perdida – anos 80 - e a década desperdiçada – anos 90.

11 de setembro de 2011: Estou na Presidência da Republica –quem diria!- há longos oito anos e meio. O povo está nas ruas. Os estudantes protestam no Chile contra as conseqüências da ditadura e do neoliberalismo. Os jovens e as multidões se mobilizam na Europa contra os governos e exigem mudanças, exigem que os jovens e trabalhadores não paguem, mais uma vez, por uma crise não feita por eles, mas fruto e resultado dos tempos neoliberais patrocinados pelos Estados Unidos da América e demais países desenvolvidos. Os EUA, mergulhados na crise, na pobreza e no desemprego, não sabem como sair do Afeganistão e do Iraque, onde promoveram guerras e mortes em nome da democracia. Décadas de neoliberalismo levaram à maior crise do capitalismo mundial desde 1930. A hegemonia e a ‘pax’ americanas, que sustentaram ditaduras em vez da democracia e o mercado financeiro em vez do Estado e da sociedade no mundo inteiro, sofrem crescente questionamento.

4 décadas e muitas perguntas no ar. O que será do mundo e do planeta em crise econômica, ambiental e de valores? Qual o papel do Brasil e da América Latina, agora em tempos de democracia e de mudanças? E os BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China -, mais a África do Sul, hoje citados como salvadores da pátria pelos países ricos e pelo capital financeiro? E o futuro da democracia? Qual projeto de desenvolvimento promoverá a igualdade e a justiça, preservará o meio ambiente?

A crise pode parir a mudança e o novo, um projeto de desenvolvimento e de sociedade com participação da sociedade civil, não regulado pelo mercado financeiro, ambientalmente sustentável, recolocando no centro da vida e da economia valores como fraternidade, fazer coletivo, partilha e solidariedade.

Não há mais um único patrão no mundo, para decretar golpes e promover ditaduras, para impor a mercadoria-dinheiro e o lucro como objetivo máximo e quase único na vida e na sociedade. O desafio está posto para militantes, intelectuais, lutadoras/es sociais, pensadoras/es e sonhadoras/es que todas e todos somos e continuaremos a ser.

Em dezesseis de setembro de dois mil e onze.

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