segunda-feira, 25 de abril de 2011

Oriente Médio: confusão total entre EUA e aliados

Nos últimos 50 anos, a política dos EUA no Oriente Médio foi construída a partir de estreitos laços com três países: Israel, Arábia Saudita e Paquistão. Em 2011, essa política apresenta diferenças significativas com esses três países. Além disso, tem divergências públicas também com Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, China e Brasil acerca de suas atuais políticas na região. Parece que quase ninguém concorda com os Estados Unidos nem segue sua linha. O artigo é de Immanuel Wallerstein.


NOTÍCIAS NACIONAIS

Em MG, divisão ameaça aliança vitoriosa
BELO HORIZONTE - Sem nomes fortes para disputar a prefeitura de Belo Horizonte no ano que vem, parte do PT mineiro já trabalha para reeditar a aliança que elegeu Márcio Lacerda (PSB) em 2008. Embora uma ala do partido defenda um confronto aberto com os tucanos, o grupo alinhado ao ex-prefeito e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, se articula nos bastidores pela manutenção da coligação, que inclui o PSDB.
O argumento é que se o partido abdicar da composição com Lacerda estará empurrando o PSB para o colo do senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Os tucanos já assediam Lacerda, mas o prefeito está determinado a manter as pontes com os governos estadual e federal, dos quais participa o PSB. "Eu tenho a obrigação de tentar reeditar a aliança", afirmou.
Lacerda tem se equilibrado e feito apelos para tentar viabilizar a repetição da aliança. O prefeito circula com desenvoltura entre tucanos e petistas. De acordo com interlocutores, o prefeito se apoia nos "setores mais responsáveis" dos partidos para jogar para daqui a um ano qualquer definição. O prefeito defende a tese de que a população poderá reagir negativamente em caso de antecipação da disputa.
Os socialistas mineiros lembram também que PT e PSDB não contam com opções reais de vitória na cidade. No caso do PT, o ex-ministro Patrus Ananias tem deixado claro em conversas reservadas que não pretende entrar numa eleição arriscada, avaliando que o partido perdeu muito espaço entre o eleitorado da capital mineira. (Eduardo Kattah – AE)

Volta de Dutra ainda é incógnita dentro do PT

Programado para esta segunda-feira, o retorno de José Eduardo Dutra à presidência do PT era um mistério até ontem. De licença médica desde 22 de março, devido a uma crise hipertensiva, o dirigente petista comunicou a amigos e correligionários que reassumiria o cargo logo após o feriado da Semana Santa.
Contudo, a direção nacional da legenda não confirma oficialmente a volta do líder partidário. O secretário-geral do PT, Elói Pietá, afirmou ao Estado que só hoje teria essa informação, ressalvando que a licença vale até a meia-noite e que Dutra poderia reassumir o posto até mesmo amanhã, terça-feira.
"Não falei com ele nesses dias, até para deixá-lo muito à vontade, não vou ficar insistindo. Além disso, ele pode reassumir (o cargo) no final do dia, amanhã, quando quiser. Não é um prazo judicial", disse.
Amigo de Dutra e líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), manteve o suspense. "Estive viajando, não tive contato com ele nos últimos dias", afirmou. Integrante da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), a mesma de Dutra, Costa é apontado como seu provável sucessor, em caso de renúncia do dirigente ao cargo. (Andréia Jubé Vianna – AE)

Síndrome de classe média
O rico não sabe que é rico. Um em cada cinco pobres não se acha pobre. Ambos sofrem da síndrome de classe média.
Apenas 1% dos que estão no topo da pirâmide social brasileira se reconhece abastado. Praticamente dois terços desses que estão na mais alta faixa de renda dizem que são classe média. O resto não aceita tal régua e se diz "trabalhador".
A camada intermediária incha em toda pesquisa que pede para o entrevistado dizer qual sua classe. Não é preciso ir à Sorbonne para entender o porquê.
Como não dá para calcular sua posição na escala social sem se comparar aos outros, seu lugar será sempre relativo. O mesmo 1,80 metro que garante a posição de pivô no time de basquete dos pigmeus, é insuficiente para ser armador na NBA. (José Roberto de Toledo – AE)

Grupo de Alckmin lança campanha por prévias na escolha de candidatos tucanos
Eleições no horizonte. Aliados do governador paulista vão trabalhar para estabelecer as consultas primárias como forma de definir os nomes do PSDB nas disputas de 2012 e 2014; proposta pressiona José Serra a definir se disputará ou não a Prefeitura de SP
Depois de ter vencido uma disputa que rachou o PSDB paulistano e provocou a saída de seis vereadores do partido na capital, o secretário estadual de Gestão Pública, Julio Semeghini, defende a realização de prévias para escolha do candidato tucano a prefeito de São Paulo no ano que vem.
Semeghini é o primeiro aliado de Geraldo Alckmin com cargo executivo no PSDB a assumir o que o governador paulista vem defendendo reservadamente: a definição das consultas primárias como a única forma de acabar com as disputas fratricidas que marcaram os tucanos nos seus últimos anos de fracasso no âmbito nacional. Para o novo presidente municipal do PSDB, "o partido sempre fugiu das prévias" por acreditar que a consulta a seus filiados representa uma divisão. "Mas isso não é verdade, outros partidos se fortalecem porque têm prévias, porque ouvem as bases", disse, em entrevista exclusiva ao Estado.
O governador de São Paulo está espremido entre os grupos do senador Aécio Neves (MG) e do ex-governador José Serra (SP) no PSDB, ambos pré-candidatos ao Planalto em 2014. Em conversas privadas, Alckmin tem afirmado que as prévias são a única forma de o partido definir seu nome para a sucessão da presidente Dilma Rousseff.
No âmbito nacional, o sistema de prévias atende hoje aos interesses de Serra, derrotado por Dilma no passado após ter sido refratário à proposta de Aécio de estabelecer prévias em 2009. Agora, é Aécio quem não quer a consulta primária por entender que sua candidatura é "natural".
"Acho que, se for necessário, já para 2012 (teremos prévias). Nós temos que nos preparar. Abrir o partido, filiar jovens, permitir que as pessoas tenham representatividade. E isso é um exemplo que poderá ser usado em todas as esferas", diz Semeghini. Segundo ele, Alckmin "tem defendido as prévias no âmbito nacional". "Falei com o governador e com o Serra que, se fosse eleito presidente, iria preparar o partido para uma grande prévia, com grande abertura e participação das pessoas. E todos eles dizem que essa é a hora e que é o que o partido precisa." (Julia Duailibi e Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo)


Só Lula e Olívio Dutra escaparam de problemas à frente do partido
Ser presidente do PT, o partido que há nove anos comanda o País e que tem a maior bancada da Câmara, é uma aposta que tem se revelado perigosa. Não dá para falar em maldição do cargo, porque a palavra não se enquadra bem na política, uma atividade que vive das circunstâncias do momento e da força de que dispõem seus líderes. Mas as estatísticas são desfavoráveis aos dirigentes petistas.
Desde que o partido foi fundado, em fevereiro de 1980, foram sete presidentes efetivos e dois interinos. Dos sete efetivos, só Luiz Inácio Lula da Silva, que mantém o título de presidente de honra do partido, e Olívio Dutra não tiveram algum tipo de problema. Mesmo assim, Olívio Dutra hoje vive no ostracismo.
Dos outros cinco presidentes do PT, três são réus no escândalo do mensalão (leia ao lado). Ricardo Berzoini chegou a ser responsabilizado pelo comando dos "aloprados", que tentaram comprar um dossiê antitucano, na eleição de 2006, e José Eduardo Dutra, o atual, passa por problemas de saúde.
Quinze correntes. Nos seus 31 anos, o PT teve ainda dois presidentes interinos, que assumiram a direção da legenda na esteira de escândalos que afastaram os titulares. Em 2005, então na Presidência da República, Lula tirou Tarso Genro do Ministério da Educação para substituir José Genoino, abatido pelo escândalo do mensalão. (João Domingos – AE)

Senado quer pôr fim à farra das subcomissões
Fáceis de criar, às vezes sem objetivo nenhum, a não ser dar ao senador que a idealizou a condição de "dono", as 33 subcomissões do Senado podem ser reduzidas para no máximo 22. Projeto do senador Walter Pinheiro (PT-BA) reduz de quatro para duas subcomissões para cada uma das 11 comissões permanentes. Pinheiro alega que, apesar de movimentar os corredores da Casa, o trabalho delas resulta em pouca coisa de concreto.
Até meados dos anos 90, os senadores se orientavam pelo Regimento Interno, que prevê a existência de quatro subcomissões "no âmbito" das comissões permanentes. E como tal era entendido, até que a inauguração da TV Senado, em 1995, mostrou uma nova forma de o parlamentar se exibir como presidente de uma subcomissão. E aí começou a farra, com a interpretação de que o Regimento se referia a quatro subs para cada comissão.
Há subcomissões para todos os gostos, da distribuição de recursos hídricos ao desenvolvimento do Nordeste, das obras da usina hidrelétrica de Belo Monte até a situação de haitianos no Acre. Há até uma subcomissão que ninguém sabe para que serve, quem foi seu "criador" ou quais foram as circunstâncias de sua criação.
É a subcomissão da Imagem e Prerrogativas Parlamentares, subordinada à Comissão de Constituição e Justiça. Ela existe desde 2002, deveria ter sete titulares e sete suplentes, mas nunca funcionou. Outra no mesmo rumo é a subcomissão permanente do livro, criada em 2002 por José Sarney (PMDB-AP), mas que nunca foi instalada.
Clone. Há subcomissões idênticas, criadas para acompanhar a Copa do Mundo e a Olimpíada. A que está subordinada à Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor, criada no ano passado, tem Blairo Maggi (PR-MT) como titular. A outra, da Comissão do Desenvolvimento Regional, foi criada por requerimento da senadora Lídice da Mata (PSB-BA) e ainda está sendo montada. O objetivo de ambas é fiscalizar e controlar as obras financiadas com dinheiro público, prerrogativa que é do Tribunal de Contas da União e de da Controladoria-Geral da União. (Rosa Costa -AE)

PSDB, DEM e PPS tentam encontrar caminhos para confrontar os petistas
Brigas internas devido a prejuízos nas urnas e avanço do PSD, porém, dificultam a busca de soluções
O governo Dilma Rousseff começou com ventos favoráveis e segue sem arranhões causados por discursos, análises ou estratégias da oposição. Ainda atordoados pela redução sofrida nas urnas em 2010 e pela demonstração de que a massa de brasileiros aposta nas políticas dos petistas, os partidos oposicionistas têm gasto energia tentando evitar feridas internas e aberto cada vez mais brechas que só aumentam as forças do governo federal.

Abalados pelas divisões causadas pelos interesses pessoais de integrantes das legendas e pelas estratégias de sobreviver politicamente, os oposicionistas têm tido cada vez mais dificuldade de perceber quais são os contrapontos ideiais aos planos governistas.

Para os opositores, uma das maiores falhas neste início de mandato de Dilma é a falta de fiscalização efetiva nos programas do governo. Como a maioria deles tem grande apelo social, alguns parlamentares optaram por não atacá-los, evitando o risco de sofrer desgastes nos redutos eleitorais. “A ideia não é atacar os bons programas.

Mas precisamos fiscalizar melhor e denunciar as falhas desses programas, que são muitas. Só assim vamos poder atuar verdadeiramente como contraponto ao que tentam vender como sendo um mar de rosas”, avalia o presidente do DEM, José Agripino Maia (RN).

Mas as falhas apontadas pelos oposicionistas não se restringem à fiscalização de programas. Grande parte deles afirma haver erros no aprofundamento de discursos críticos e estudos técnicos que comprovem dados e desvantagens das propostas do Executivo. “Não entendo a oposição. Ela não consegue mostrar qual a desvantagem das propostas que discutimos a pedido do governo.

Faz um discurso vazio, incapaz de reverter a posição de algum dos nossos aliados. Deve ser por isso que andam perdendo gente”, espezinha o deputado Silvio Costa (PTB-PE). Para piorar, o número de parlamentares eleitos e de governadores do PSDB, DEM e PPS caiu nas três últimas eleições (leia quadro nesta página).

Culpado

Entre os tucanos, a avaliação é de que a maneira como a campanha presidencial de José Serra foi tocada acabou como gatilho que precipitou a desordem dentro do partido, enfraquecendo a oposição —sobretudo o DEM — e acelerando a criação do PSD, capitaneado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Serra centralizou as decisões, não dividiu poderes com os partidos aliados e inflamou os correligionários mais próximos de que a vitória era possível e, bem no começo da corrida eleitoral, provável.

Agora, segundo tucanos, ele impõe obstáculos para sair de cena e cria atritos no comando do partido, que hoje está com o deputado Sérgio Guerra (PSDB-PE). O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tenta empurrar o correligionário para a disputa pela prefeitura de São Paulo no ano que vem, mas Serra já avisou que não pretende entrar na briga.

Na avaliação do deputado Jutahy Junior (PSDB-BA), colocar a culpa na atuação do Serra é ignorar a importância que foi provocar o segundo turno e reduzir o foco do PT nas campanhas dos estados.

“Quem fala esse tipo de coisa esquece que se não fosse ele (Serra) a ocupar os espaços na disputa contra a candidata do Lula, os esforços petistas iriam para os estados e não teríamos conquistado os governos que conquistamos. A dificuldade do nosso partido e da oposição como um todo, não tem a ver com o Serra. Tem a ver com a cultura e os interesses de quem só sabe ficar perto do poder”, opina.

Avaliação

O artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso divulgado na semana passada, de acordo com a avaliação dos tucanos, declarou o óbvio ao falar que o partido deve mirar na classe média — assim como o PT está fazendo com Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff—, mas extrapolou ao dizer que o se o “PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os ‘movimentos sociais’ ou o ‘povão’, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos”. Para alguns tucanos, mesmo sem querer, Fernando Henrique reforçou a tese de um PSDB elitista.

Serra continua na arena política tentando se manter como referência da oposição, ao lado de Aécio Neves, senador por Minas Gerais, e Alckmin. O problema hoje, para qualquer um dos três, é a redução sentida e temida pelos políticos que integram a oposição e pelos que já atenderam aos apelos das vantagens oferecidas pelo poder, migrando para o recém-criado PSD.

Para a senadora Kátia Abreu (PSD-GO), que abandonou o DEM, há uma preocupação generalizada com o encolhimento das legendas oposicionistas. Tanto que, segundo ela, até o líder do Democratas Antonio Carlos Magalhães Neto (BA) chegou a confidenciar que, se notar que a legenda pode encolher ainda mais, uma saída seria o PSDB. Um sinal de que os ventos sopram contra a oposição e até as lideranças mais empenhadas em criar estratégias para sobreviver temem pelo futuro das legendas.

Dificuldades

Confira o desempenho de partidos de oposição nas três últimas eleições

Senadores

Partido 2002 2006 (*) 2010

PSDB 8 5 5

DEM 14 6 2

PPS 1 1 1

Deputados federais

Partido 2002 2006 (*) 2010

PSDB 70 66 53

DEM 43 65 84

PPS 15 22 12

(*) Eleição de um terço dos senadores (uma vaga por estado).

Governadores

Partido 2002 2006 (*) 2010

PSDB 8 6 7

DEM 4 1 2

PPS 2 2 1

Obs.: Nas eleições de 2002 e de 2006, o DEM concorreu com o nome da antiga sigla, PFL.

Fonte: Izabelle Torres / Tiago Pariz (Vote Brasil)

Quase 14 milhões de brasileiros são filiados a quadros partidários
Nem mesmo o comprovante de endereço para atestar o domicílio eleitoral se exige na maior parte dos 27 partidos brasileiros, que em breve serão 28 ou 29 ou 30. Desse modo, as legendas, que em nomes e ideologias muito se repetem, chegaram a 2011 com 13.863.268..
Alguns minutos do dia, um telefonema, cliques no teclado do computador e você já está dentro. Para comprovar a idoneidade, apenas o documento de identidade e o título de eleitor. Nem mesmo o comprovante de endereço para atestar o domicílio eleitoral se exige na maior parte dos 27 partidos brasileiros, que em breve serão 28 ou 29 ou 30. Desse modo, as legendas, que em nomes e ideologias muito se repetem, chegaram a 2011 com 13.863.268 filiados.

A verificação de dupla filiação, que leva à perda dos dois cadastros, fica por conta da Justiça Eleitoral. E qual a linha ideológica? “Não tem uma assim pra te falar”, responde a atendente de um partido pequeno. O Correio/Estado de Minas ligou para os 27 partidos para pedir a filiação. Em um deles, entre os chamados nanicos, houve até convite para concorrer a uma vaga de vereador nas próximas eleições.

Em termos de objetivos ou linhas de atuação, a maioria dos partidos se apresenta como trabalhista: são nove. Outros três estão no campo democrático. Três são socialistas e dois, comunistas. Também com dois exemplos de cada, existem as linhas progressista, republicana, humanista cristã e liberal. O PV segue único com a bandeira verde.

Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), sobram partidos no Brasil. “Com uns sete ou oito, o país já estaria bem servido para representar os interesses e demandas do eleitorado. Do modo atual, eles funcionam na base do interesse pessoal, procurando a Lei de Gerson: o que é mais vantagem para mim, para minha eleição ou reeleição”, afirmou.

O professor lista os partidos em tipos específicos. “Tem os partidos de aluguel, os partidos com dono, como o PDT que era do Brizola e passou para o Carlos Lupi, ou o Lula, que se achava dono do PT, e o PPS do Roberto Freire, por exemplo”, avalia Fleischer. Já o PMDB, conforme o cientista, é exatamente o contrário.

Os donos são muitos. "São 27 tendências ou mais, um balaio de gato. E não há como encontrar consenso entre diferentes estados nem mesmo escolher um candidato bom para a Presidência da República”, diz. (Vote Brasil)

Notícias da conspiração dos EUA no golpe contra João Goulart

Três dias antes do golpe, Casa Branca pediu orientação sobre quais medidas deveria tomar. Governo questionava embaixador se deveria "segurar a aprovação" de empréstimos para enfraquecer presidente

Em apoio ao golpe de 1964, a Casa Branca estava decidida a rever as relações econômicas com o Brasil para enfraquecer o governo do presidente João Goulart. Os EUA, que usam a máscara da defesa da democracia e dos direitos humanos para intervir em outros países, tiveram papel central na sinistra aventura militar, que torturou e assassinou centenas de brasileiros.

A intervenção

A informação consta de documentos secretos liberados pelo governo norte-americano e obtidos pela Folha. Os papéis relatam uma reunião na Casa Branca em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, com conselheiros diretos do presidente Lyndon Johnson e agentes de alto escalão da CIA.

Esse encontro ocorreu após o recebimento de mensagem do então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, com detalhes e pedidos para possível participação norte-americana no golpe para derrubar Jango.

operação Brother Sam

Essa participação ficou conhecida como "Operação Brother Sam": o governo dos EUA discutiu a possibilidade de enviar navios, combustíveis e armamentos para auxiliar os militares golpistas.

Novos documentos mostram que os planos dos EUA não tratavam só de apoio militar. Um dos textos, que resume a reunião do dia 28, diz que a Casa Branca deveria telegrafar a Gordon: "Queremos que o embaixador reveja nossas relações econômicas e financeiras com o Brasil e nos recomende quais ações devemos tomar".

No mesmo dia, esse telegrama é enviado ao Brasil e fala em medidas concretas, como abandonar ou modificar negociação sobre a dívida brasileira e repensar as taxas de importação de café.

A Casa Branca questiona se deveria "abandonar, reduzir ou modificar de alguma forma a estratégia de negociação da dívida para evitar fortalecer o prestígio de Goulart". E mais: "Devemos segurar a aprovação ou o anúncio de empréstimos assistenciais? Outras medidas não militares são desejáveis para polarizar mais a situação em detrimento de Goulart?"

Gordon pediu o envio de armas sem identificação serial ou fabricadas fora dos EUA. A Casa Branca, porém, viu dificuldades em fornecer armamento "que não fosse depois atribuído a uma operação secreta dos EUA".

Um dos memorandos do Estado-Maior americano, datado de 31 de março, detalha ordens de envio de força-tarefa naval para a região de Santos para "estabelecer presença dos EUA nesta área".

Também neste caso aparece a preocupação de não expor os EUA: "Não sabemos se podemos oferecer disfarce plausível para a força naval".

As medidas não chegaram a ser executadas, porque Jango não resistiu ao golpe, mas revelam a natureza imperialista das relações dos militares com os EUA e as reais intenções da Casa Branca, que em nome da democracia e dos direitos humanos dissemina guerra e tortura no Oriente Médio e na África. (Vermelho)