terça-feira, 20 de dezembro de 2011

CELAC e o jornalismo

Que a Celac traga também teoria e prática de um jornalismo de integração

Por Beto Almeida - Brasil de Fato

Quando Vargas assinava a lei da Petrobras, a imprensa brasileira dizia ser absurdo criar empresa de petróleo num país que, segundo os EUA, não tinha petróleo.


Agora, quando presidentes de 33 países, em Caracas, decidem criar a Comunidade dos Estados da América Latina e do Caribe (Celac) sem a presença dos EUA e enterrando a OEA, a mídia brasileira sonegou a informação objetiva aos brasileiros.
A Celac nasce lastreada no diálogo e na busca do desenvolvimento e da integração de países historicamente submetidos à exploração imperial. Dos 100 anos de solidão, começamos a construir os 100 anos de cooperação.


Muitas medidas que fomentam a integração já estão em marcha há anos. A Alba, a Petrosul, a Telesur, o Banco do Sul, a Unasur. O Brasil deu também sua contribuição ao criar a Universidade da Integração Latino Americana (Unila), que irá receber 500 professores e 5 mil estudantes hermanos, um investimento público nosso. Ajuda a reduzir assimetrias. A política externa de Lula-Amorim, com o seu bordão “temos que crescer todos”, espalhou investimentos públicos, via BNDES, na construção de obras indispensáveis na região. O porto de Mariel em Cuba, uma hidrelétrica na Nicarágua, recursos de Itaipu para industrializar o Paraguai, metrô e estaleiro na Venezuela são apenas alguns dos exemplos. Tudo alicerça a Celac.


EUA, os grandes derrotados, sonegam a informação: está em marcha a integração soberana e solidária. Na agenda, buscam-se soluções democráticas para questões históricas: a saída ao mar para a Bolívia, o fim do bloqueio contra Cuba, tirar a Colômbia da agenda bélica dos EUA, recuperar as Malvinas Argentinas. A caminhada será dura. Haverá sabotagens imperiais. Por isso, falta impulsionar também a integração informativo-cultural, encorajando-se a TV Brasil a retratar mais os rumos assumidos pelo Itamaraty. Afinal, 33 presidentes criam uma Celac, rejeitam a OEA e criam rumo novo para o continente. E isto não é notícia? É o conhecido jornalismo da desintegração. Que a Celac traga também teoria e prática de um jornalismo de integração.

América Latina 2011

Por Emir Sader


O ano foi de confirmação das tendências da década anterior, mesmo no marco do aguçamento da crise econômica internacional, cujos efeitos voltaram a sentir-se de maneira direta na economia dos países do continente.

Neste segundo ciclo da prolongada crise econômica internacional, os países que privilegiam a integração regional, da mesma forma que em 2011, conseguiram resistir e não entrar em recessão, apesar de que tiveram que diminuir seus ritmos de crescimento, pela diminuição da demanda dos mercados do centro do capitalismo e pela diminuição dos créditos.

A novidade foi que, se em 2008, surpreendidos pela crise, os países trataram de defender-se dos seus efeitos em nível nacional, desta vez se avançou na coordenação das políticas regionais, especialmente através da Unasul, para coordenar o uso das suas divisas, avançar na desdolarização do comércio regional e intensificar seus centros de financiamento regional, como o Banco do Sul e a Coordenação Andina de Fomento.

Do ponta de vista político geral, a eleição de Ollanta Humala como presidente do Peru foi o acontecimento politico novo, confirmando as tendências gerais na região. A reeleição de Cristina Kirchner consolida os governos progressistas na Argentina. No primeiro caso, um país que tinha assinado um Tratado de Livre Comércio com os EUA, se desloca da esfera de influência prioritária de Washington, para aproximar-se dos processos de integração regional. No segundo, a confirmação das tendências gerais na região de que, governos progressistas, que centram sua política no desenvolvimento econômico e social, com eixo em políticas sociais redistributivas, conseguem amplo apoio popular e tem sido reeleitos ou tem eleito seus sucessores.

Se estende assim a gama de governos progressistas, incorporando agora o Peru e desarticulando a tentativa norteamericana de construir um eixo do Pacifico – com Peru, Chile, Colombia a que se uniria o México – como contraponto ao Mercosul e à Unasul.

Unasul teve avanços importantes, sob direção colombiana, demonstrando como a Colombia estendeu um dos seus bracos para os processos de integração regional, enquanto continua seus tramites para assinar um TLC com os EUA.

Este fenômeno, junto ao movimento novo do Peru e às manifestações no Chile contra Pinera, diminuíram ainda mais a influência dos EUA na região, ainda mais que o desgaste do governo do México e o clima pre-eleitoral que passa a se instalar nesse país, com certas possibilidades de vitória do candidato de esquerda – Lopez Obrador – nas eleições de julho do próximo ano 2012.

Os governos progressistas tiveram que enfrentar conflitos internos, menos com a direita – em geral derrotada, embora seu segmento midiático continue forte – e mais com contradições dentro do campo popular. O caso boliviano foi o mais agudo, embora, o tema esteja presente em outros países, como o Equador, a Argentina, o Brasil.

Esses novos conflitos, dentro do campo popular, se dão em torno do problema não resolvido entre desenvolvimento econômico e equilíbrio ecológico, que afeta a construção de estradas, de represas, de usinas de energia, entre outros. Quando se estremam as posições, resta um desenvolvimentismo tecnocrático por um lado, um preservacionismo conservador por outro, tornando antagônicas contradições que o campo popular não tem conseguido resolver através do diálogo.No caso da Bolivia, somando-se ao fracassado “gasolinazo” de dezembro de 2010 e outros conflitos setoriais, representou reveses para o governo Evo, que trata agora de recuperar sua liderança, um dos baluartes do fundamental processo de transformações boliviano. Nos outros países permanecem tensões, que as vezes se expressam em conflitos políticos, as vezes não, mas que permanecem sem solução ou com soluções pelas vias de fato – ou obras que terminam avançando ou outras, inviabilizadas, sem discussão e acordo politico, sobre um tema que so’ tende a se agudizar.

A perspectiva para 2012 é a de projeção do marco econômico atual, com diminuição do ritmo de crescimento das economias, mas sem cair na recessão. Do ponto de vista político, as eleições no México e na Venezuela são os dois acontecimentos de maior projeção. Na Venezuela, Hugo Chavez é o favorito para mais um mandato, com a recuperação da economia, novos programas sociais, enquanto a oposição, apesar da promessa de unificação, continua sem uma liderança com hegemonia e apoio popular. Dez pré-candidatos se apresentam, facilitando provavelmente a vitória de Hugo Chavez.

No México, o fracasso do governo Calderon marca o fim dos dois mandatos do PAN e uma disputa entre o velho PRI e o PRD. Pena Nieto, pelo PRI e Lopez Obradoz, pelo PRD, polarizam a disputa, com favoritismo, por enquanto do PRI, pela força da estrutura nacional recomposta do partido, pelos governos estaduais que detem e pelo monopólio da mídia. Lopez Obrador conta com um trabalho de base desenvolvido ao longo de cinco anos e com a imagem de democratização e luta contra a corrupção, podendo surpreender, o que fará com que as atenções dos EUA estejam voltadas no próximo ano centralmente nas eleições mexicanas.

Aécio:"estágio na oposição". Bebeu?

Por Altamiro Borges


Talvez embriagado pelo sucesso do livro “A privataria tucana”, que deixou de ressaca o seu rival José Serra, o senador Aécio Neves resolveu soltar a franga (ou o tucano?), abandonar a sua falsa mineirice conciliadora e vomitar todo o seu ódio direitista. Sem temer o bafômetro, que já lhe deu algumas dores de cabeça, o presidenciável está em plena campanha, todo serelepe.

Segundo a Agência Estado, Aécio esteve ontem em Curitiba e endureceu as críticas “ao governo federal, em discurso apropriado para a campanha eleitoral oposicionista”. O “imperador mineiro”, que controla a mídia local, criminaliza os movimentos sociais e silencia as vozes discordantes, afirmou que há no Brasil hoje um “mando político com nuances quase imperiais”. Ele bebeu?

Um borracho valentão

Disse ainda que o PSDB deve adotar “um projeto que cria um contraponto com o absurdo e perverso aparelhamento da máquina pública que estamos assistindo no Brasil, com os conseqüentes desvios e ineficiência... A manutenção do poder é a prioridade absoluta do PT, a agenda que está em curso hoje é uma agenda de 20 anos atrás proposta por nós”. Parece que bebeu!

Lembrando algumas histórias de borrachos valentões, ele ainda soltou a seguinte pérola: “Quem sabe nós vamos permitir que o PT faça um estágio na oposição a partir de 2014, até para que ele possa reencontrar-se com seus valores e com as idéias que ele abdicou, que ele esqueceu depois que chegou ao governo”. Nenhum curitibano solicitou um bafômetro?

Termina, no Iraque, outra guerra que os EUA não vençeram

Editorial do Vermelho


Os dirigentes dos Estados Unidos – o presidente Barack Obama à frente – foram cautelosos ao anunciar (dia15) o fim da agressão militar contra o Iraque e não usaram a palavra vitória em seus comunicados. Nem poderiam – não houve vitória em mais esta agressão dos EUA a uma nação soberana que repete, de forma menos estrondosa, fracasso semelhante ao que viveram no Vietnã, quando suas tropas agressoras foram humilhantemente expulsas da então Saigon, atual Ho Chi Minh.

A agressão norte-americana contra o Iraque, permanente desde o início da década de 1990 e que, em 19 de março de 2003, assumiu a forma de intervenção direta, com bombardeios aéreos contra a capital Bagdá e as principais cidades do país e depois desembarque de tropas, foi justificada com uma mentira, a alegação de que o país detinha armas de destruição em massa. E com um pretexto, a deposição do regime de Saddam Hussein.

Nove anos depois, com um espantoso número de mortos e feridos e um país arrasado, o objetivo real não pode mais ser disfarçado – o controle das fabulosas reservas de petróleo e gás, cuja exploração agora foi atribuída a empresas dos EUA e da Europa, pondo fim a mais de 40 anos de controle nacional sobre aqueles recursos naturais estratégicos.

O saldo da agressão militar é terrível. O próprio governo dos EUA admite que 4.487 soldados das tropas ocupantes foram mortos e 32 mil feridos. Eram agressores que faziam parte dos mais de 1,5 milhão de soldados que, nestes nove anos, participaram da ocupação do Iraque. Entre os defensores do país, o número de mortos supera 150 mil, sendo a maior parte deles civis (cerca de 80% do total) – um morticínio criminoso que envolveu idosos, crianças, mulheres, vítimas da sanha assassina indiscriminada das tropas agressoras (a revelação de alguns documentos secretos, como os referentes ao massacre de Haditha, de 2005, levanta uma ponta do véu da atuação criminosa das tropas de ocupação). Mas estes números são questionados e há cálculos de um morticínio ainda maior. Uma pesquisa sobre a Saúde da Família Iraquiana estimou que apenas entre março de 2003 e junho de 2006 ocorreram 151 mil mortes violentas. E a revista The Lancet, especializada em assuntos militares, calculou que até 2006 a guerra provocou 654.965 mortes entre iraquianos. Além disso, entre 2005 e 2010, cerca de 1,6 milhão de iraquianos (5,5% da população) tiveram que deixar seus domicílios, engrossando o número daqueles que tiveram suas vidas precarizadas pela agressão estrangeira.

Há controvérsia também quanto ao preço da guerra, que o Congresso dos EUA calcula em US$ 800 bilhões; o prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz e a professora de Harvard Linda Bilmes calculam que foi muito maior, chegando a US$ 3 trilhões no computo geral.

Ao anunciar a retirada das tropas agressoras do Iraque, o presidente Barack Obama dourou a pílula ao falar em um pretenso “sucesso extraordinário” dos EUA. Antes da agressão imperialista o Iraque – embora sob embargo – era um país em crescimento, onde as liberdades civis e o caráter laico do Estado se destacavam no contexto de nações com forte influência religiosa em suas legislações. Depois de nove anos de agressão comandada pelos EUA, o país está devastado, sem energia elétrica suficiente ou água potável suficiente e com uma taxa de desemprego que supera os 15%.

Obama alega que seu governo deixa um Iraque “soberano, estável e autossuficiente”. São palavras para os ouvidos de seus prováveis eleitores em 2012, mas não para os iraquianos ou os democratas pelo mundo afora. Há que se questionar a soberania do regime instalado pelos norte-americanos no Iraque na ponta do fuzil. O que farão lá os “conselheiros militares” que permanecerão após a retirada oficial das forças agressoras? Falar em estabilidade é uma piada, e somente os meses vindouros revelarão a capacidade do governo do primeiro-ministro Nurial al-Maliki controlar o país. Obama também teve o mau gosto de falar em autossuficiência. O que esta palavra pode significar um país devastado e que sai de uma guerra nas condições em que o Iraque está hoje, com a economia paralisada e a imensa maioria dos empregados (85% do total, calcula-se) prestando serviços para o governo?