domingo, 13 de novembro de 2011

Trabalhadores/as rurais de Eunápolis enfrentam mais uma vez o desafio de se organizarem

Por Genaldo de Melo

Mais uma vez o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, Florestais e Silvícolas de Eunápolis demonstra sua capacidade de ser inovador no seio do Movimento Sindical dos Trabalhadores/as Rurais na Bahia. Como sempre fez seu planejamento estratégico para desenvolver o trabalho sindical pautado na seriedade e na competência comprovada, dessa vez resolveu fazer tal fato antes da constituição da Previsão Orçamentária. Assim, procura cumprir seu papel de instituição séria, e que cumpre seus Estatutos Sociais, bem como servir de exemplo para as demais entidades da Sociedade Civil Organizada.

Nos últimos dias 10 e 11 de novembro toda Diretoria Plena participou do Seminário de Planejamento Estratégico da organização. Juntos construíram a Missão e Visão de Futuro do Sindicato, definiram os objetivos e as ações estratégicas, bem como as atividades do cotidiano sindical. A Missão da Entidade foi definida como “apoiar o desenvolvimento pessoal, social, cultural e econômico dos trabalhadores/as rurais, florestais e silvícolas de Eunápolis”, e do mesmo modo foi definido como Visão da Entidade “Consolidar o Sindicato como a mais importante entidade do campo no Extremo Sul e ser reconhecida politicamente em todo Estado da Bahia”.

Os presentes definiram três grandes objetivos estratégicos da Entidade. O primeiro “contribuir com processos de inclusão social e Cidadania Ativa”; o segundo “apoiar processos de fortalecimento da Agricultura Familiar, à luta do assalariamento no campo, pela Reforma Agrária, e pelo meio ambiente”; e terceiro “organizar a estrutura administrativa, política e financeira da Entidade”. Do mesmo modo, foram definidas dentro dos objetivos nove ações estratégicas, bem como foi projetado para serem realizadas em 2012 diversas atividades sistemáticas e pontuais.

O evento teve assessoria da assessoria da FETAG-BA e da CTB-Bahia, através de Genaldo de Melo. Segundo Ailton Lisboa, presidente do Sindicato “o planejamento da entidade é uma das principais ações propriamente dita, porque define as diretrizes políticas e administrativas, enfrentando o dinamismo e espontaneismo sindical, já que representamos uma grande parcela da sociedade eunapolitana e temos responsabilidade para produzir os resultados que os sócios e a categoria esperam do sindicato”.


A militarização da USP

Por Mário Maestri
 
Na Idade Média, era uma enorme conquista quando uma cidade obtinha uma universidade. Comumente, com ela, vinha o direito a uma ampla autonomia quando à autocracia do príncipe. Tratava-se de liberdade considerada indispensável para o novo templo do saber. Devido a isso, o campus universitário medieval possuía sua polícia própria e julgava seus alunos, funcionários, professores.

Aprendi isso, no curso de História da UCL, na Bélgica, onde fui recebido de braços abertos, em 1974, fugido da ditadura brasileira e chilena. No Brasil de então, não tinha nada daquilo. A polícia e o exército entravam, revistavam, espancavam, prendiam, torturavam e, até mesmo, matavam professores, funcionários e sobretudo alunos que não se rendiam ao tacão da ditadura cívico-militar.

Uma aluna sul-rio-grandense, mestranda em História da USP, escreveu-me um longo e-mail, pedindo-me quase desesperada solidariedade para com ela e seus colegas daquela universidade.

A carta da estudante registra a angústia de jovens que se assustam com a regressão dos espaços de liberdade conquistados quando da versão de redemocratização brasileira, onde os criminosos civis e militares de 1964-1985 seguiram em seus postos ou com suas pensões e aposentadorias, homenageados com nomes de praças, avenidas, ruas, ao morrerem.

A aluna relata a degradação das condições de convivência, de trabalho e de estudo naquela instituição, a mais destacada do Brasil. Lembra que há muito se instauram processos administrativos contra alunos, funcionários e professores, eventuais motivos de demissão e de expulsão, por expressarem em manifestos, panfletos, ocupações, etc. suas idéias contra a política universitária dos governadores de São Paulo e dos dirigentes máximos daquela instituição.

Há cerca de dois meses, lembra a jovem, o senhor reitor lançou pelo retrete a autonomia universitária e escancarou o campus à Polícia Militar, sub a justificativa de reprimir a criminalidade.

Desde então, a Polícia Militar reina no campus - abordando, inquirindo, revistando funcionários, professores e sobretudo alunos. Certamente os principais objetos desses atos de intimidação são os alunos e alunas mais agitados ou de cabelo, roupas, adereços e comportamentos tidos como estranhos!

Conhecemos o resultado da política liberticida do senhor reitor – em 27 de outubro, alunos foram revistados por policiais militares, como sempre, na frente da Biblioteca da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, onde se reúnem, tradicionalmente, os universitários suspeitos de pensarem em demasia!

A revista deu resultado. Três estudantes de Geografia foram encontrados com alguns baseados, motivos de pronta prisão e imediata resposta dos seus colegas, todos pertinentemente surrados, pois universitárias e universitários comumente magricelos, armados com canetas, livros e laptops, pouco podem contra os parrudos PM, com os seus tradicionais instrumento de trabalho – cassetetes, revólveres, escopetas, bombasdissuasivas ...

A resposta previsível dos estudantes foi uma festa para a grande mídia conservadora, sobretudo televisiva. A ocupação do prédio da FFLCH e depois da Reitoria, por estudantes encapuzados – ninguém quer ser objeto de processo e eventual expulsão – foi mostrada como a ação de bárbaros desordeiros no templo do conhecimento!

Isolada, sob o silêncio dos grandes e pequenos partidos, a garotada está sendo obrigada a retroceder. Até segunda-feira, tem que entregar o prédio. Se não, vão conhecer pancadaria grande, prisões e os pertinentes processos. Não conseguem, nem mesmo, apresentar suas mais do que justas reivindicações: fins dos processos contra estudantes e servidores e a interdição do Campus à Polícia Militar.

 Por razões óbvias não registro o nome da autora da carta. Com minha total solidariedade ao movimento, faço uma derradeira reflexão. Se, na Idade Média, um senhor reitor atirasse pela janela do seu palácio a valiosa autonomia conquistada pela cidade, chamando a polícia para atuar livremente no campus, certamente seria destituído por seus pares e, possivelmente, mandado para a masmorra da Universidade, para refletir melhor sobre sua vontade de subserviência ao príncipe! Coisas da Idade Média.

*Mário Maestri é doutor em Ciências Históricas pela UCL, Bélgica, e professor do Programa de Pós-Graduação em História da UPF, RS.

Fonte: Fundação perseu abramo

Roger Noriega ofende o Brasil e a América Latina

Editorial do Vermelho

Um dos “grandes” serviços que o diplomata estadunidense Roger Noriega prestou à extrema-direita de seu país foi o apoio decidido que deu à tentativa fracassada de deposição do presidente venezuelano Hugo Chávez em abril de 2002.

Expoente do radicalismo conservador, este estadunidense de origem cubana, com fortes vínculos com os “gusanos” de Miami, estava então no auge de sua influência na política externa dos EUA. Ele era um dos esteios da diplomacia do presidente George Bush Jr, e tinha a incumbência de definir a ação de seu país nesta América Latina que o imperialismo e os conservadores dos EUA sempre consideraram como uma espécie de “quintal”.

Os governos Lula, Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Nestor e Cristina Kirchner (Argentina), Rafael Correa (Equador) e tantos outros governantes democráticos que emergiram desde o final da década de 1990, mudaram este cenário. E é contra esta nova América do Sul integrada e soberana que o direitista Noriega se insurgiu na entrevista que deu à revista Veja (que já foi considerada como a mais norte-americana das revistas escritas em português) na semana passada.

Nostálgico da época ultrapassada onde a voz de Washington era imediatamente cumprida no “quintal”, Noriega se desdobrou (e a revista acolheu e divulgou) em impropérios absurdos que violam a soberania nacional das nações sul-americanas e representam ameaças graves.

A lista de impropérios é óbvia na boca de radical direitista como ele. Sobram acusações para todos. O grande alvo é Hugo Chávez, acusado de permitir o uso do território da Venezuela para o terrorismo contra os EUA. Acusa Evo Morales de trabalhar juntamente com o Irã no treinamento desses terroristas. Exige a mudança da política externa brasileira e diz que o país poderá sofrer ataques terroristas durante a Copa do Mundo de 2014 ou a Olimpíada de 2016. Acusa o governo brasileiro de apoiar e ser tolerante com o terrorismo na Tríplice Fronteira (na região de Foz do Iguaçu, onde o Brasil se encontra com o Paraguai e a Argentina).

Outro ingrediente desse pesadelo delirante é o narcotráfico, que estaria vinculado às atividades "terroristas" do Irã, do Hezbollah e da organização palestina Jihad Islâmica na Venezuela e no México, onde agiriam associados aos cartéis do tráfico. E tem a cara de pau de dizer que a América Latina virou base do terror islâmico (sendo a Venezuela sua “base avançada”, alega) devido a dois fatores – a existência de governos soberanos e democráticos que não aceitam o comando de Washington e a proximidade territorial com os EUA. Nessa lista de insânias, ofende os serviços de segurança dos países latino-americanos, qualificando-os de “ineficientes”, e insulta o próprio continente no qual há, diz, uma “baixa capacidade de aplicação das leis”. São alegações profundamente desrespeitosas à soberania dos povos da América Latina e aos governos democráticos do continente.

Suas declarações mereceram repúdio imediato dos movimentos sociais que, reunidos em Brasília, interpelaram o ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre a inaceitável intervenção desse funcionário de um governo estrangeiro em negócios internos de nosso país. Pedem que o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon Jr., responda por esse comportamento que merece o repúdio de todos e, se as explicações não forem convincentes, chegam a propor medidas contra aquele embaixador, chefe do diplomata agressivo, bisbilhoteiro e inconveniente.

É uma reação necessária e à altura da ofensa proferida. Reação que, partindo de organizações ligadas ao povo brasileiro, reforçam a decisão nacional de não aceitar mais imposições do imperialismo e de exigir compostura, boa educação e respeito à soberania brasileira por parte dos funcionários de governos estrangeiros.

Amorim: Na Comunicação, o Brasil é a ditadura perfeita

"A Globo quer impedir uma segunda opinião sobre a audiência em tevê. Ela só quer o Ibope. O que isso significa para a democracia brasileira?", dispara o jornalista Paulo Henrique Amorim, que também cita notícia dada pelo Instituto de Mídia Alternativa Barão de Itararé, sobre blogueiros perseguidos na Justiça por prefeitos, vereadores e empresários suspeitos de corrupção.



E ainda pensam que o copo determina a qualidade do vinho.

Este ansioso blogueiro participou de seminário promovido pela Ajuris, a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul e o blog Carta Maior, na quinta-feira da semana passada (dia 3 de nov 11). Entre os expositores, o desembargador Claudio Baldino Maciel, Pascual Serrano (do site Rebelión, da Espanha), Juremir Machado, Breno Altman (Altercom), prof. Venicio Lima, Bia Barbosa (Intervozes), deputada Luiza Erundina (líder da Frente Parlamentar pela Democratização da Comunicação, e membro da Comissão de Ciência e Tecnologia, que não consegue discutir a renovação das concessões das redes de televisão), e o ex-ministro Franklin Martins.

A seguir, trechos – não literais – da exposição deste ansioso blogueiro:

A Globo tem um pouco menos que 50% da audiência da televisão brasileira. E mais do 70% de toda a verba da publicidade da televisão brasileira. A televisão detém 50% de toda a publicidade brasileira.

Do tijolinho para vender uma moto usada em Joboatão ao break do Jornal Nacional. Tudo somado, a TV fica com 50%.

Logo, a Globo, a família Marinho, com 50% da audiência e 70% da verba, põe no bolso R$ 0,35 de cada R$ 1 investido na publicidade da sexta (ou quinta) economia do mundo. A Globo é uma empresa fechada, que explora uma concessão de serviço público, o espaço eletromagnético, que pertence ao povo brasileiro. Póóóde ?

Agora, a Globo quer impedir uma segunda opinião sobre a audiência em tevê. Ela só quer o Ibope.
O que isso significa para a democracia brasileira? Em 1998, na eleição para governador de São Paulo, o Ibope, aqui também chamado de Globope, fechou para o cliente Paulo Maluf, uma pesquisa que o colocava à frente da Marta Suplicy. Essa mesma pesquisa o Jornal Nacional divulgou na sexta-feira, na antevéspera da eleição no primeiro turno. Com Maluf na frente da Marta. Só que, na sexta-feira, a Marta já tinha ultrapassado o Maluf e ela é que ia para o segundo turno com Mario Covas. Com o Globope do Jornal Nacional, muitos eleitores da Marta preferiram o "voto útil” e votaram no Covas, para derrotar o Maluf. Maluf foi para o segundo turno com Covas e assim Covas se elegeu governador de São Paulo.

Na segunda-feira, este ansioso blogueiro, apresentador do Jornal da Band, entrevistou o deputado federal mais votado, José Genoino, do PT. E nos bastidores avisou que ia perguntar sobre a patranha do Globope contra a Marta. Genoino reagiu enfaticamente: não, sobre isso eu não falo!

Na Argentina – ah!, que inveja da Argentina! – a Cristina Kirchner comprou o "Brasileirão” da Globo (Clarin) e exibiu no horário nobre da TV Educativa. E distribuiu o sinal para que outras emissoras exibissem quando lhes desse na telha. Aí, a Cristina descobriu que o Ibope argentino dava para o "Brasileirão” da TV Educativa uma audiência muito menor do que quando era da Globo (Clarin).
O que fez a Cristina? (Ah!, que inveja da Cristina!) Rompeu o contrato com o Ibope e pôs uma empresa independente, supervisionada por acadêmicos de diversas universidades, para medir a audiência. O Ibope da TV Educativa ficou parecido com o que o "Brasileirão” dava na Globo (Clarin).
Sabe quem era o Ibope da Argentina? O Ibope do Brasil! O mesmo! Só que lá era conhecido como Ibopín…

O nobre deputado gaúcho Henrique Fontana (PT), relator do projeto da Reforma Política, informa que, com menos de R$ 500 mil, não se elege um deputado estadual no Rio Grande do Sul. E com menos de R$ 1 milhão ninguém se elege deputado federal (Por isso ele defende o financiamento publico exclusivo, mas o PSDB e o PMDB são contra por que preferem o Caixa Dois, que é a alternativa ao financiamento público?). E o que tem o Globope com isso? Porque se um partido sai mal nas pesquisas do inicio da campanha, babau. Não tem grana.

Globope e Datafalha, que dão invariavelmente o "Cerra" na frente nas pesquisas iniciais, são uma chave para abrir o cofre dos financiadores: empreiteiros, industria farmacêutica, educação privada, tabaco … O que isso tem a ver com a democracia? Tudo!

Daqui a pouco, os parlamentares vão se vestir como piloto de Fórmula Um: cobertos de patrocinadores. O que isso tem a ver com uma Ley de Medios? Tudo! A Globo é o elefante na sala da Democracia.

Nos últimos três anos, caiu a audiência da Globo. Mas, ela não perde espectador nem um centavo de publicidade para os concorrentes. Perde para si própria. Perde audiência para os que vão para a internet e seus diferentes portais; para o cabo e o satélite e assistem à programação nacional controlada pela Globo; ou compram o "Brasileirinho” no pay-per-view.

Três famílias controlam a mídia de um país de 200 milhões de almas. Os Marinho (e seus donatários, como a RBS), os Frias, e os Mesquita, que sublocaram o Estadão aos bancos estrangeiros credores. Essas três famílias e seus donatários controlam tevê, rádio, jornal, revistas, agencias de notícias e portais na internet. E num mesmo mercado – e tome propriedade cruzada!

Nenhuma nova democracia no mundo toleraria essa concentração de poder. "Novas democracias” são Portugal, Espanha, Argentina, México, Chile, Uruguai. Essa é uma jabuticaba brasileira. Antonio Carlos Magalhães dizia: se não saiu no Jornal Nacional não aconteceu. Caetano, antes de trabalhar na Globo, dizia que assistia ao Jornal Nacional para saber o que o Jornal Nacional queria que ele pensasse que aconteceu.

O Ricardo Teixeira diz que enquanto a Globo não falar mal dele, nada lhe acontecerá. Hoje, fica assim: se não saiu no Jornal Nacional, NÃO aconteceu. E isso tende a se perpetuar, até que a televisão morra para dentro de sua própria obsolescência tecnológica. O presidente Lula não fez e a presidente Dilma não fará uma Ley de Medios. O ministro Bernardo adiou a discussão sobre o assunto para 2012.

Para que o PiG (*) não diga que a discussão ficou prejudicada pelas festas do Natal. Em 2012, pondera-se, tem o Carnaval, a Semana Santa e as eleições para prefeito. 2013 fica muito perto da eleição de 2014 e o PiG vai dizer que é manobra para censurar o PiG. 2014, nem pensar.
Quem ousará tocar na Globo num ano de eleição!

Aparentemente, o governo Dilma tem uma visão temotecnicista da liberdade de expressão. "Temo”, porque teme a Globo. "Tecnicista”, porque acredita que a banda larga vai promover a democracia.
É como acreditar que o copo determina a qualidade do vinho. Outro ingrediente dessa "democracia” brasileira no campo da liberdade de expressão, é a reprodução, aqui, de manobra que não deu certo nos Estados Unidos. Calar os independentes com processos judiciais. Censurar pelo bolso.
Tentar manipular a Justiça. É o caso da perseguição aos blogs que o Padim Pade Cerra chamou de "sujos”.

No Instituto de Mídia Alternativa Barão de Itararé, temos notícia de dezenas de blogueiros perseguidos na Justiça do interior do Brasil por prefeitos, vereadores e empresários suspeitos de corrupção. Juca Kfouri é o campeão nessa prova. Ricardo Teixeira move contra ele 50 ações judiciais. Nassif, Azenha e Rodrigo Vianna são vítimas da mesma estratégia. Devo ser o vice-campeão. Costumo afirmar no Conversa Afiada, "diz-me quem te processa e dir-te-ei quem és”. Ou como dizia o ínclito presidente Itamar Franco, fundador do Plano Real e do programa de genéricos, "quem melhor me define são meus inimigos e, não, meus amigos”.

Sofro, provisoriamente, 40 ações, com a recente entrada de Paulo Preto no elenco. Treze das ações são de autoria do banqueiro condenado Daniel Dantas. Também sou homenageado por Gilmar Mendes (autor de dois HCs em 48 horas para tirar Daniel Dantas da cadeia), Heráclito Fortes, Eduardo Cunha, Naji Nahas e outros da mesma estirpe. É uma galeria que me honra. Mas, acima de tudo, é uma agressão à liberdade de expressão. É a tentativa de manipular a Justiça para censurar jornalistas pelo bolso. (No caso deste ansioso blogueiro, a tentativa é inútil.)

Acabo de voltar do México, onde se acredita que o Partido Revolucionário Institucional, o PRI, vai voltar ao poder na eleição presidencial do ano que vem. Segundo o Premio Nobel Mario Vargas Llosa, em entrevista ao jornal Excelsior, da cidade do México, o PRI vai voltar ao poder, para fazer um acordo com o narcotráfico. Foi Vargas Llosa quem disse que, nos 70 anos em que esteve no poder, o PRI construiu uma "ditadura perfeita”. Por fora, uma democracia. Por dentro, uma ditadura.
"Ditadura perfeita” – é o Brasil no campo da liberdade de expressão.

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

Fonte: Blog Conversa Afiada

Fidel Castro: Cinismo genocida (Primeira parte)

Nenhuma pessoa sã, especialmente aqueles que tiveram acesso aos conhecimentos elementares que se adquirem em uma escola primária, estaria de acordo com que nossa espécie, de modo particular as crianças, os adolescentes ou jovens, sejam privados hoje, amanhã e para sempre do direito a viver. Jamais os seres humanos, ao longo de sua turbulenta história, como pessoas dotadas de inteligência, conheceram experiência semelhante.

Por Fidel Castro


Sinto-me no dever de transmitir àqueles que se ocupam em ler estas reflexões, o critério de que todos, sem exceção, estamos na obrigação de criar consciência sobre os riscos que a humanidade está correndo de forma inexorável, rumo a uma catástrofe definitiva e total como consequência das decisões irresponsáveis de políticos a quem o acaso, mais que o talento ou o mérito, pôs em suas mãos o destino da humanidade.

Sejam ou não os cidadãos de seu país portadores de uma crença religiosa ou céticos com relação ao tema, nenhum ser humano, em seu juízo são, estaria de acordo com que seus filhos, ou familiares mais próximos, pereçam de forma abrupta ou vítimas de atrozes e torturantes sofrimentos.

Depois dos crimes repugnantes que com frequência crescente a Organização do Tratado do Atlântico Norte, sob a égide dos Estados Unidos e dos países mais ricos de Europa, vêm cometendo, a atenção mundial se concentrou na reunião do G20, onde se devia analisar a profunda crise econômica que hoje afeta todas as nações. A opinião internacional, e particularmente a europeia, esperava resposta à profunda crise econômica que, com suas profundas implicações sociais, e inclusive climáticas, ameaça todos os habitantes do planeta. Nessa reunião se decidia se o euro podia manter-se como a moeda comum da maior parte da Europa, e inclusive se alguns países poderiam permanecer dentro da comunidade.

Não houve resposta nem solução alguma para os problemas mais sérios da economia mundial, apesar dos esforços da China, Rússia, Indonésia, África do Sul, Brasil, Argentina e outros de economia emergente, desejosos de cooperar com o resto do mundo na busca de soluções aos graves problemas econômicos que o afetam.

O insólito é que logo que a Otan deu por concluída a operação na Líbia – depois do ataque aéreo que feriu o chefe constitucional desse país, destruiu o veículo que o transportava e o deixou à mercê dos mercenários do império, que o assassinaram e o exibiram como troféu de guerra, ultrajando costumes e tradições muçulmanos – a AIEA, órgão das Nações Unidas, uma instituição que deveria estar a serviço da paz mundial, lançou o informe político, carimbado e sectário, que põe o mundo à beira da guerra com o emprego de armas nucleares que o império ianque, em aliança com a Grã-Bretanha e Israel, vem preparando minuciosamente contra o Irã.

Depois do “Veni, vidi, vici” do famoso imperador romano há mais de dois mil anos, traduzido para o “vim, vi e morreu” transmitido à opinião pública através de uma importante rede de televisão logo que se tomou conhecimento da morte de Kadafi, as palavras são desnecessárias para qualificar a política dos Estados Unidos.

O que importa agora é a necessidade de criar nos povos uma consciência clara do abismo para onde a humanidade está sendo conduzida. Duas vezes nossa Revolução conheceu riscos dramáticos: em outubro de 1962, o mais crítico de todos, em que a humanidade esteve à beira do holocausto nuclear; e em meados de 1987, quando nossas forças enfrentavam as tropas racistas sul-africanas, dotadas com as armas nucleares que os israelenses os ajudaram a criar.

O Xá do Irã também colaborou junto a Israel com o regime racista e fascista sul-africano.
O que é a ONU? – uma organização impulsionada pelos Estados Unidos antes do final da 2ª Guerra Mundial. Essa nação, cujo território estava consideravelmente distante dos cenários de guerra, tinha enriquecido enormemente; acumulou 80% do ouro do mundo e sob a direção de Roosevelt, sincero antifascista, impulsionou o desenvolvimento da arma nuclear que Truman, seu sucessor, oligarca e mediocre, não vacilou em usar contra as cidades indefesas de Hiroshima e Nagasaki no ano de 1945.

O monopólio do ouro mundial em poder dos Estados Unidos e o prestígio de Roosevelt permitiram o acordo de Bretton Woods, que atribuiu aos Estados Unidos o papel de emitir o dólar como única divisa que se utilizou durante anos no comércio mundial, sem outra limitação que seu respaldo em ouro metálico.

Os Estados Unidos, ao finalizar aquela guerra, eram também o único país que possuía a arma nuclear, privilégio que não vacilou em transmitir a seus aliados e membros do Conselho de Segurança: Grã-Bretanha e França, as duas mais importantes potências coloniais do mundo naquela época.

À URSS, Truman nem sequer informou uma palavra sobre a arma atômica antes de usá-la. A China, então governada pelo general nacionalista, oligárquico e pró-ianque Chiang Kai-shek, não podia ser excluída daquele Conselho de Segurança.

A URSS, golpeada duramente pela guerra, a destruição e a perda de mais de 20 milhões de seus filhos pela invasão nazista, consagrou ingentes recursos econômicos, científicos e humanos para equiparar sua capacidade nuclear com a dos Estados Unidos. Quatro anos depois, em 1949, provou sua primeira arma nuclear; a de hidrogênio, em 1953; e em 1955 seu primeiro megaton. A França dispôs de sua primeira arma nuclear em 1960.

Eram apenas três os países que possuíam a arma nuclear em 1957, quando a ONU, sob a égide ianque, criou a Agência Internacional de Energia Atômica. Alguém imagina que esse instrumento dos Estados Unidos fez algo para advertir o mundo sobre os terríveis riscos a que se exporia a sociedade humana quando Israel, aliado incondicional dos Estados Unidos e da Otan, situado em pleno coração das mais importantes reservas do mundo em petróleo e gás, se constituía em perigosa e agressiva potência nuclear?

Suas forças, em cooperação com as tropas coloniais inglesas e francesas, atacaram Port Said quando Abdel Nasser nacionalizou o Canal de Suez, propriedade da França, o que obrigou o primeiro-ministro soviético a transmitir um ultimato exigindo o cessar daquela agressão, que os aliados europeus dos Estados Unidos não tiveram outra alternativa senão acatar.

(Continuará)
Fidel Castro Ruz
12 de novembro de 2011, 20h15
Fonte: Cubadebate
Tradução: Redação do Vermelho

Europa quebra. Enquanto isso, no fim do mundo...

Por Flávio Aguiar*
 
Para o senso comum brasileiro (e de muita outra gente também) a Islândia fica no fim do mundo, ou perto. À beira do círculo polar ártico, entre os países nórdicos do continente europeu e a Groenlândia, esse pequeno país de pouco mais do que 300 mil habitantes (menos do que a da grande maioria das capitais brasileiras) só é lembrado recentemente quando algum de seus vulcões joga cinzas sobre o tráfego aéreo europeu, fechando aeroportos e perturbando viagens. 
 
É, mas nem sempre foi assim. No começo deste século a pequena Islândia virou notícia: era a menina dos olhos do capitalismo tardio (porém triunfante) e completamente financeirizado. Desregulamentou completamente seu sistema bancário. As taxas sobre os ganhos de capital eram baixíssimas perto de outras no continente. Choveram capitais especulativos sobre os vulcões, vales e geleiras.

Para dar uma mão, a Islândia desregulamentou completamente seu setor trabalhista. Choviam empregos também. Houve uma vaga migratória, sobretudo de jovens, da Alemanha e de outros países europeus para lá. Não tinham garantia trabalhista nenhuma, but who cares? Quem se importa? O clima geral era de oba-oba total: jamais o paraíso capitalista voltaria a ser perturbado por qualquer indigestão.
 
Mas... o tempo passou, e o Lehman Brothers e outras instituições financeiras quebraram. A maré quebradeira logo chegou à Europa. Os capitais se retraíram. Com a mesma facilidade com que tinham entrado na banca desregulada, os capitais especulativos foram embora. Num país cujo PIB anual era de 8 bilhões, a dívida pública estourou os limites e as dívidas dos três principais bancos privados passavam do equivalente a 50 bilhões de euros (a Islândia não é da Zona do Euro).

Para completar o quadro, bancos ingleses e holandeses, que tinham investido dinheiro de seus correntistas na Islândia, congelaram os ativos daqueles bancos. Enquanto isso, a Islândia nacionalizava a dívida dos bancos, e anunciava a impossibilidade de pagar os investidores internacionais. O Banco Central do país não tinha fundos para isso.
 
Mais ainda: milhares de pessoas dormiram empregadas e acordaram na manhã seguinte sem emprego e sem nenhuma garantia, indenização ou seguro desemprego que fosse, sem aviso prévio. Afinal, não fora tudo desregulamentado para “criar empregos?”. O então governo conservador, no poder há décadas, chamou o FMI, e lá vieram as receitas de sempre: cortes nos investimentos públicos, saúde, educação, ajuda social, etc. O caos se aprofundou.
 
Mas... mais uma vez, ... havia eleições no meio do caminho, essa coisa às vezes detestável. O governo conservador caiu, subiu uma coligação social-democrata. O novo governo não se limitou a nacionalizar as dívidas dos bancos: nacionalizou temporariamente os próprios bancos. Fez uma intervenção pesada, abriu processos, houve até prisões de executivos considerados desonestos ou criminosamente negligentes. Saneou o setor.
 
Ao mesmo tempo, sem renegar o FMI (deu uma de Brasil...), como era dona de sua moeda e não estava, portanto, atada ao euro, a Islândia negociou créditos e investimentos em outras frentes: Suécia, Dinamarca, Noruega, França, Alemanha. Tinha na mão o sistema bancário nacionalizado, e mais seguro do que antes. Isso comprovou ser uma “moeda forte” na negociação. Além disso, com a nacionalização, tinha controle sobre as modalidades de empréstimos.
 
Hoje, dois dos três bancos foram reprivatizados, mas o terceiro continua estatal. Sem abrir mão de uma nova disciplina fiscal e do equilíbrio da dívida, hoje em torno de 90 % do PIB, voltou a investir na proteção social. Os empregos voltaram, mais seguros do que antes. Jovens que antes tinham debandado feito uma revoada de aves migratórias, migratoriamente retornaram a postos de trabalho hoje mais seguros do que antes. 
 
Não digo que a Islândia seja um exemplo único para o mundo, mas vai bem obrigado. Talvez isso tenha sido possível contando com a pequenez de sua economia. Mas também com a determinação de agir nos pontos fundamentais da questão: sanear o sistema financeiro, controlá-lo sem sufocá-lo, investir no equilíbrio social e manter a soberania nacional.
 
Para tranqüilizar credores e investidores (embora a contenda com a Inglaterra e a Holanda continue, já que esses países indenizaram os credores e agora querem que a Islândia os reembolse, coisa que ela tem se recusado a fazer até o momento, pelo menos) a Islândia pediu para ser admitida na União Europeia.
 
Esses processos demoram algum tempo. E a Islândia terá tempo para decidir se quer mesmo entrar. Se até o momento da palavra final ainda houver União Européia. 
 
P.S. – Com seu estilo próprio, a Islândia tomou medidas análogas às da Malásia, Brasil, Argentina, Uruguai, distanciando-se do receituário ortodoxo em maior ou menor grau. Enquanto isso o Consenso de Bruxelas se mantém atrelado ao ideário do de Washington, hoje finado, e vai arrasando o estado do bem estar social.
 
Se o mundo entrar numa recessão brutal será por causa das cinzas de Bruxelas, não as da Islândia.
 
* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim. Artigo publicado originalmente em Carta Maior.

Fiscalização do governo ou poder paralelo?

Será que estamos a assistir no Brasil à comprovação prática da afirmação de Paul Virilio: “A mídia é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra”? A resposta a essa questão deve ser dada pela própria Justiça e pelas instituições políticas.

(*) Artigo publicado originalmente na revista Teoria e Debate, n° 94

No clássico Four Theories of the Press, de Siebert, Peterson e Schramm – uma das consequências indiretas do longo trabalho da Hutchins Commission, originalmente publicado no auge da Guerra Fria (University of Illinois Press, 1956) –, uma das funções descritas para a imprensa na chamada “teoria libertária” era exercer o papel de “sentinela” da liberdade.

Em outro livro, também clássico, que teve uma pouco conhecida tradução brasileira (Os Meios de Comunicação e a Sociedade Moderna, Edições GRD, 1966), Peterson, Jensen e Rivers assim descrevem a função:

Os libertários geralmente consideravam o governo como o inimigo mais temível e tradicional da liberdade; e, mesmo nas sociedades democráticas, os que exercem funções governamentais poderiam usar caprichosa e perigosamente o poder. Portanto, os libertários atribuíam à imprensa a tarefa de inspecionar constantemente o governo, de fazer o papel da sentinela, chamando a atenção do público sempre que as liberdades pessoais estivessem perigando (p. 151-152).

Nos Estados Unidos, a teoria libertária foi substituída pela teoria da responsabilidade social, mas o papel de fiscalização sobre o governo permaneceu, lá e cá, geralmente aceito como uma das funções fundamentais da imprensa nas democracias liberais representativas.

Jornalismo investigativo
O chamado “jornalismo investigativo”, que surge simultaneamente ao “ethos” profissional que atribui aos jornalistas a “missão” de fiscalizar os governos e denunciar publicamente seus desvios, deriva do papel de “sentinela” e é por ele justificado. A revelação de segredos ocultos do poder público passou a ser vista como uma forma de exercer a missão de guardião do interesse público e a publicação de escândalos tornou-se uma prática que reforça e realimenta a imagem que os jornalistas construíram de si mesmos.

Com o tempo, a mídia passou a disputar diretamente a legitimidade da representação do interesse público, tanto em relação ao papel da Justiça – investigar, denunciar, julgar e condenar – como em relação à política institucionalizada de expressão da “opinião pública” pelos políticos profissionais eleitos e com cargo nos executivos e nos parlamentos. Tudo isso acompanhado de uma permanente desqualificação da Política (com P maiúsculo) e dos políticos.

Na nossa história política há casos bem documentados nos quais a grande mídia reivindica para si esses papéis. O melhor exemplo talvez seja o da chamada “rede da democracia” que antecedeu ao golpe de 1964 e está descrita detalhadamente no livro de Aloysio Castelo de Carvalho, A Rede da Democracia – O Globo, O Jornal e o Jornal do Brasil na Queda do Governo Goulart (1961-64); NitPress/Editora UFF, 2010.

Mais recentemente, a presidenta da Associação Nacional de Jornais (ANJ) declarou publicamente:

A liberdade de imprensa é um bem maior que não deve ser limitado. A esse direito geral, o contraponto é sempre a questão da responsabilidade dos meios de comunicação. E, obviamente, esses meios de comunicação estão fazendo, de fato, a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada. E esse papel de oposição, de investigação, sem dúvida nenhuma incomoda sobremaneira o governo" (“Ações contra tentativa de cercear a imprensa”, O Globo, 19/3/2010, pág. 10).

Poder paralelo
Como chamou a atenção o governador Tarso Genro, na abertura de um congresso nacional contra a corrupção, organizado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, em outubro passado:

Criou-se um jornalismo de denúncia, que julga e condena. Usam a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las (...) atualmente, os casos mais graves são investigados pela mídia e divulgados dentro das conveniências dos proprietários dos grandes veículos (...) fazem condenações políticas de largas consequências sobre a vida dos atingidos, e tomam para si até o direito de perdão, quando isso se mostra conveniente (
http://sul21.com.br/jornal/2011/10/grande-midia-quer-instituir-justica-p...).

Será que estamos a assistir no Brasil à comprovação prática da afirmação de Paul Virilio: “A mídia é o único poder que tem a prerrogativa de editar suas próprias leis, ao mesmo tempo em que sustenta a pretensão de não se submeter a nenhuma outra”? A resposta a essa questão deve ser dada pela própria Justiça e pelas instituições políticas. A ver.

* Professor Titular de Ciência Política e Comunicação da UnB (aposentado) e autor, dentre outros, de Regulação das Comunicações – História, poder e direitos, Editora Paulus, 2011.

Capitalismo ou democracia

Por Emir Sader

Até um certo momento os grandes empresários mantinham um baixo perfil. Quase tinham vergonham de serem tão ricos em sociedades tão pobres. Ou também preferiam não chamar a atenção sobre as fontes da sua riqueza.

A passagem à hegemonia neoliberal, com a criminalização do Estado e da política, e a exaltação do mercado e das empresas, promoveu também a imagem dos grandes empresários. Começaram a proliferar as biografias e auto-biografias de empresários. Todos teriam nascido pobres e ascendido com muito trabalho, enfrentando todas as dificuldades, exibindo-se assim como exemplos para todos das possibilidades de ascensão ampla e irrestrita.

Da apologia dos empresários como modelo de cidadãos se passou às tentativas de sua promoção como bons governantes. Se deram certo dirigindo suas empresas, teriam que dar certo como governantes. Ainda mais que passou ao centro da agenda política o tema dos “excessivos gastos do Estado”. Ninguém melhor do que um empresário para racionalizar os gastos do Estado.

Como se a lógica da busca do lucro das empresas privadas se aplicasse ao Estado. A empresa privada busca lucros e dar satisfação aos acionistas. O Estado tem que defender os direitos da cidadania, de todos, privilegiando especialmente os mais pobres. Roberto Campos dizia que as empresas estatais deveriam dar lucro, da mesma forma que as empresas privadas. Isto é, queria que o direito de todos fosse prejudicado em favor da eficiência. Os serviços públicos, por exemplo, deveriam obedecer a esses critérios, ao invés de garantir o direito do acesso de todos à educação, à moradia, à saúde publica, à luz, à agua.

Berlusconi tornou-se o modelo mesmo do tipo de empresário de sucesso que se propôs a governar o pais com os mesmos critérios das suas empresas. Como muitos, ele encabeça um grande conglomerado de empresas, de distintos setores, incluindo a Fininvest e o monopólio dos meios de comunicação. Este aspecto, multiplicado pela mídia estatal, permitiu aumentar ainda mais o controle sobre a formação da opinião pública.

Durante quase duas décadas Berlusconi dirigiu a Itália, coincidindo com a decadência do país, misturado com casos reiterados – e assumidos – de escândalos sexuais e de corrupção, promovendo a vulgaridade e o escracho como estilo de política. Não foi a oposição, nem as mobilizações populares ou as denúncias que terminaram derrubando Berlusconi, mas ataques especulativos, mostrando que nem um grande empresário está imune a eles.

Pinera se elegeu no Chile com a mesma fama de empresário de sucesso. Impulsionado pela ditadura militar - em que seu irmão foi ministro do Trabalho do Pinochet, tristemente célebre por ter introduzido o tema da “flexibilização laboral” -, o grupo se expandiu, nas asas da expansão da Lan Chile, chegou até a comprar o Colo Colo, mesmo que torcendo para outro time.

Pinera gozou de uma lua-de-mel, mas logo começaram a se acumular crises, com mobilizações sociais contra o governo de diferentes setores, até que os estudantes expressaram o descontentamento com a privatização da educação publica – realizada por Pinochet -, catalizando o descontentamento popular. A capacidade de mobilização dos estudantes – que conseguiu agregar o movimento sindical – gerou uma crise política nacional, com o desgaste radical da popularidade de Piñera. De nada lhe adiantou sua capacidade de gerenciamento empresarial. O Estado é outra coisa, pertence à esfera política, é radicalmente diferente do mercado.

Como aqui, os governos neoliberais governavam para 1/3 da população, isto é, para o mercado, para os que tem poder aquisitivo garantido. Para isso basta um empresariado ou alguém com mentalidade empresarial. As políticas de inclusão social promoveram o resgate da política, da esfera dos direitos, do povo como cidadania. Disso os empresários, com sua mentalidade de busca do lucro, não entendem. A lógica do lucro é contraditória com a democracia.

Uma vitória histórica

Esta é a primeira vez que o Estado brasileiro é obrigado a instituir um órgão para investigar a verdade sobre crimes perpetrados pelas elites

Por Alipio Freire - Brasil de fato

Temos uma Comissão da Verdade.

Sua criação é uma vitória histórica, cuja dimensão, o calor da luta imediata ainda não permite perceber: torturas, assassinatos e todo tipo de violências contra os trabalhadores, o povo (povo=explorados e oprimidos) e todos os que se opuseram aos desígnios do grande capital (sempre impune), nunca deixaram de existir. Nossa inclusão na órbita do desenvolvimento capitalista, desde o mercantilismo até o presente, foi alcançada e mantida a esse preço, que foi e prossegue uma questão estrutural em nossa e outras sociedades. Esta é a primeira vez que o Estado brasileiro é obrigado a instituir um órgão para investigar a verdade sobre crimes perpetrados pelas elites.

Mas esse avanço ainda exige lutas pela sua consolidação prática e novos passos. Exige que estudemos a lei aprovada, para que não se criem ondas de boatos e mal-entendidos, turvando as águas e confundindo a “opinião pública”; que criemos Comitês da Verdade (www.nucleomemoria.org.br), capazes de mobilizar e organizar milhões de pessoas, em torno da necessidade, justeza e importância da Comissão para a consolidação e aprofundamento das conquistas democráticas (=de interesse da maioria).

As atuais atribuições da Comissão avançam na resolução de questões pendentes desde a Anistia: localização dos restos mortais dos desaparecidos e sua devolução para as famílias; abertura dos arquivos da ditadura; esclarecimento dos crimes de sequestro, cárcere clandestino, tortura, assassinato e ocultação de cadáveres de opositores, levados a cabo por agentes do Estado e/ou grupos paramilitares, e a identificação dos seus responsáveis.

Mas o indiciamento legal, julgamento e punição dos responsáveis ainda não constituem tarefa da Comissão. Embora nada impeça que, de posse das verdades, entremos com processos junto ao Judiciário, entendemos que esta deve ser uma atribuição do Estado.

 Essa conquista dependerá fundamentalmente de sermos capazes de mudar a atual correlação de forças na sociedade e, consequentemente, no interior das instituições do Estado.

Até FHC desconfia de Aécio Neves

Por Altamiro Borges

Josias de Souza, o blogueiro da Folha que é um dos mais assíduos freqüentadores do ninho tucano, postou na sexta-feira (11) um artigo que deve ter irritado os caciques do PSDB – partido rachado e conflagrado por disputas internas sangrentas. Se citar a fonte, o jornalista revelou:

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Em seus diálogos privados, Fernando Henrique Cardoso tem dedicado a Aécio Neves críticas ácidas.

Na opinião de FHC, o comportamento de Aécio é incompatível com o desejo dele de ser candidato à Presidência da República.

Presidente de honra do PSDB, FHC se queixa da “ausência” de Aécio na discussão sobre os temas mais relevantes. “Ele não dialoga com a nação”, resume.

Ao esmiuçar o raciocínio, FHC declara: não se trata de antecipar a campanha, mas de escolher um rol de assuntos e se apresentar para o debate.

FHC considera ultrapassada a estratégia de esperar que o calendário se aproxime do ano eleitoral para iniciar a exposição. É tática “velha”, eis a palavra que usou.

Insinua que, desde que se elegeu senador, no ano passado, Aécio enfurnou-se no Senado. O ideal, segundo diz, é que o presidenciável corresse o país...

Na opinião de FHC, deve-se, sobretudo, ao vazio proporcionado pela inação de Aécio a sobrevida da candidatura presidencial de José Serra.

FHC enxerga em Serra, por exemplo, credenciais para fazer incursões no debate sobre a degradação moral da política.

Costuma dizer que sempre houve corrupção na política. Mas acha que, agora, subverteu-se a ordem das coisas: há política na corrupção.

Dito de outro modo: hoje, a corrupção, por abundante, prevalece sobre a política, ofuscando-a. “O Serra é duro o bastante para romper com isso”, acredita.

O que se esconde sob os comentários de FHC é, em essência, uma ponta de decepção com Aécio.

Nas pegadas da derrota de Serra para Dilma Rousseff, na eleição presidencial do ano passado, FHC dissera que a fila do PSDB andara. Seria a vez de Aécio.

Daí o desapontamento. Na avaliação de FHC, Aécio desperdiça sua hora.


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Bafômetros e blitz policial

Em síntese, o ex-presidente FHC – ou será o próprio Josias – acha que o senador mineiro deve ser mais agressivo na sua ambição presidencial, viajando o país e atacando a “corrupção sistêmica” do governo Dilma Rousseff. Deveria, quem sabe, deixar de participar de badaladas festinhas no Rio de Janeiro, que inclusive lhe causam algumas ressacas e dores de cabeça – como bafômetros e blitz policial.

Não se sabe se o “desapontamento” e a bronca do chefão tucano já causaram efeitos. Mas, na sequência, Aécio Neves visitou o Rio Grande do Sul. Mais animado, Josias de Souza registrou hoje (13) que, finalmente, ele “cumpre uma agenda de candidato... Sob o eco das críticas de FHC, que prega a necessidade de Aécio se expor mais, o senador disse que fará um giro pelo país”.

A Yeda participou da caminhada?

Segundo seu relato, “na capital gaúcha, o senador almoçou com militantes do PSDB. Foi recebido aos gritos de ‘Aécio presidente’. Discursou, tirou fotos, caminhou pelas ruas do centro de Porto Alegre, visitou uma feira de livros. Viu e foi visto... Sem citar Dilma Rousseff, declarou que a gestão petista vive de ‘segurar um ministro aqui, segurar outro acolá’”.

Aécio, porém, não deve ter falado muito sobre corrupção. Afinal, os gaúchos aplicaram recentemente uma dura derrota ao PSDB, expulsando a governadora Yeda Crusius, com sua mansão mal-explicada e inúmeras denúncias de desvios de recursos públicos. O cínico discurso da “ética” não cola muito entre os gaúchos, que conhecem bem o “jeito tucano de roubar”.

"Não temos vergonha das privatizações"

Aécio aproveitou, então, para bajular o chefe. “Temos que assumir o nosso legado, não temos que ter vergonha das privatizações”. Com seu ego inflado, FHC deve ter gostado do carinho. Mas, conforme o tempo for passando, o senador mineiro também deverá abandonar a defesa da privataria – a exemplo do que fizeram José Serra e Geraldo Alckmin nas três últimas disputas presidenciais.