quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Oposição que enxerga apenas seu umbigo, não ajuda o Brasil

Por Genaldo de Melo

 

Quando as velhas raposas, representantes do conservadorismo da política brasileira, começam a dá claros sinais de que está prestes a deixar os cenários do teatro político - uns defenestrados pelos votos do povo e outros porque (viciados) a idade não mais permite - os novos filhotes criados para substituí-los dão também claros sinais de incompetência para ser oposição, e de desespero diante de tudo o que está transformando o Brasil numa potência mundial.

Quando do ponto de vista político todo e qualquer grupo que governa, precisa de oposição, para pelo menos apresentar os defeitos do próprio ato de governar, os novos representantes do anacronismo político se apresentam como fracos e incapazes de representar até mesmo seus próprios interesses.

Partem para atos raivosos, a até mesmo de covardia política, e esquecem que até mesmo para ser oposição no Brasil, todos precisam também avaliar projetos de Brasil. A oposição hoje nada mais faz do que gritar para se afirmar. Quem tem menos necessidade de se afirmar, é naturalmente quem se afirma no mundo político.

Os atrasados sabem disso baseado na experiência que tiveram em 2010. Passaram mais de 12 meses tentando se afirmar contra Lula, blasfemando contra a capacidade de Dilma, dizendo que ela não seria capaz de ganhar as eleições, bem como de administrar o país. Esqueceu-se de observar cientificamente o que acontecia de fato no mundo político. Lula fazia política e Dilma provava sua capacidade de administrar, que toda mulher tem.

Historicamente está comprovado que é ruim para qualquer governo não ter oposição. Nelson Rodrigues falava sempre disso, unanimidade demais causa problemas de limitação, até mesmo na política. Mas vá lá entender essa oposição no Brasil...!

O que observamos nos cenários atuais é que a oposição brasileira esquece os ensinamentos exatamente de alguns daqueles outros anacrônicos que estão desaparecendo para o Brasil ficar melhor. Fazer oposição de fato e com responsabilidade com o próprio país.

Se não sabe fazer oposição política de fato, que ajude então a defenestrar os corruptos e os chantagistas de plantão, e deixe a mulher governar, que ela pode. Sem necessidade de afirmação, pois quem poderia precisar disso são as mulheres brasileiras, sempre alijadas do processo social, político e econômico, bem como todos aqueles que divergem das convenções sociais, porque são diferentes. Todos vivem numa democracia para discordar observando o respeito, e todos tem o sangue vermelho.

O preço da Guerra

Por Hugh Gusterson - O Diário (Portugal)
21.Set.11 ::
Hugh Gusterson Como afirmam Dana Priest e William Arkin no seu belo livro novo, Top Secret America, os americanos “gastaram milhares de milhões de dólares para fazer com que a máquina do governo derrote o terrorismo sem nunca realmente questionar o que estão a receber em troca”. O décimo aniversário do 9/11 é um momento de reflexão, sim, mas é também uma oportunidade para começar a fazer perguntas difíceis.

Resolver problemas pela via das armas acaba por criar novos problemas de todo o tipo. O 10º aniversário da tragédia do 11 de Setembro oferece uma oportunidade para reflectir sobre os custos e benefícios das guerras que os EUA iniciaram contra o Iraque e o Afeganistão depois dos ataques terroristas. Um novo e abrangente estudo, intitulado “Costs of War”, patrocinado pela Brown University (a que estou ligado) sugere que os custos foram totalmente desproporcionados em relação aos benefícios. Este estudo deveria ser leitura recomendada para comentadores e dirigentes políticos de todo o país. Não obstante as sugestivas palavras dos autores dos discursos presidenciais sobre a coragem dos soldados norte-americanos e do êxito da “resposta”[1], é difícil encontrar qualquer escala pela qual se possam avaliar as guerras no Iraque e no Afeganistão como sucessos. Em dólares, como em sofrimento humano, o preço da guerra foi pavoroso (como o site Costs of War torna claro, com um misto de gráficos elucidativos e pesquisa bem fundamentada).
O prejuízo mais evidente é o financeiro. De todas as guerras em que o país se envolveu, apenas a II Guerra Mundial custou mais ao país do que as guerras no Iraque e no Afeganistão. Apesar de neoconservadores conceituados, desde Paul Wolfowitz a Ken Pollack, terem previsto que a guerra no Iraque em grande parte se pagaria a si própria, o economista prémio Nobel Joseph Stiglitz e a sua colaboradora Linda Bilmes estimam que, em fundos já desembolsados ou garantidos, as guerras no Iraque e no Afeganistão custaram até agora ao contribuinte norte-americano uns alarmantes 3,2 triliões de dólares, pelo menos.

Dada a preocupação com o deficit em Washington, vale a pena notar que estes 3,2 triliões de dólares incluem 200 mil milhões em pagamento de juros sobre estas guerras desde 2001. Isto acontece porque a Administração Bush decidiu financiar estas guerras através de empréstimos e não pela via dos impostos cobrados àqueles em nome de quem estas guerras foram travadas. Se as previsões do Departamento do Orçamento do Congresso se confirmarem, os EUA terão gasto mais 800 mil milhões de dólares em juros de guerra por volta de 2020.
Esta hemorragia financeira tem efeitos colaterais na economia norte-americana. O Governo pede tanto dinheiro emprestado que torna mais difícil os consumidores contraírem empréstimos, aumentando o pagamento dos empréstimos hipotecários em média 600 dólares por ano, por exemplo. As guerras também aumentaram grandemente o preço do petróleo, ampliando assim a recessão, e desviaram mais de 3 mil milhões que poderiam ter sido investidos na renovação de infra-estruturas nos EUA. Ou em postos de trabalho: um milhão de dólares gastos com o exército cria 8,3 postos de trabalho, ao passo que um milhão de dólares gastos em educação gera 15,5 postos de trabalho, e um milhão gasto na saúde cria 14,3 postos de trabalho. Se estimarmos que o Pentágono gastou 130 mil milhões por ano directamente nestas guerras, esse valor, se gasto internamente, teria criado 900 milhões de postos de trabalho nos EUA na educação, ou 780 milhões na saúde.

E depois temos os mortos, os feridos e os deslocados. De modo a evitar acusações de sensacionalismo, o projecto Costs of War usa deliberadamente números conservadores, em que as estimativas diferem, mas mesmo os números conservadores são horríveis. Enquanto que alguns estudos colocam o número de iraquianos mortos acima de um milhão, o projecto Costs of War fornece o número mais baixo de 225 000 afegãos e iraquianos que se sabe terem perdido as suas vidas; 137 000 de entre esses eram civis.

Quase oito milhões de iraquianos e afegãos (um número tão grande quanto a soma das populações de Connecticut e Kentucky) se pensa terem sido deslocados. Em cerca de 6 000, o número de soldados americanos mortos é muito menor, mas ainda é mais do dobro do que perdemos nos ataques terroristas que tanto traumatizaram o país há uma década atrás. E cada soldado morto deixa uma marca no coração de alguém.
Se os jornais periodicamente nos lembram desses soldados americanos mortos, mostrando-nos os seus rostos [2], os feridos são menos visíveis, mas o custo de cuidar deles apenas irá aumentar.

Cerca de 100 000 soldados americanos sofreram oficialmente ferimentos no Iraque e no Afeganistão, mas muitos destes ferimentos, como o stress pós-traumático, podem manifestar-se apenas após o regresso. Mais de 522 000 veteranos das nossas guerras no Médio Oriente já apresentaram pedidos de atestados de incapacidade.

Com base na experiência anterior na Segunda Guerra Mundial, na Guerra da Coreia e na Guerra do Vietname, sabemos que os custos dos cuidados de saúde com estes veteranos não atingem o máximo antes de passarem 30 ou 40 anos do fim da guerra. Por outras palavras, poderíamos fazer regressar até ao último soldado do Iraque e do Afeganistão amanhã, mas os custos do seu tratamento continuarão a subir até pelo menos 2040. Estima-se que estes custos atinjam um total entre 600 mil milhões de dólares e 1 trilião.

É claro que alguns desses veteranos irão pagar os custos da guerra de outro modo: a taxa de suicídio no exército é o dobro da taxa de suicídio na sociedade civil, e os veteranos de guerra tem 75% mais de probabilidade que os civis de morrer em acidentes de automóvel. Uma pesquisa em curso do Governo dos EUA constatou que mais de um quarto dos veteranos da guerra do Iraque abusam do consumo de álcool, e a taxa de abuso de medicamentos prescritos por veteranos de guerra é agora seis vezes maior do que era em 2002.
Entretanto, dois milhões de crianças norte-americanas têm vivido nos últimos anos com o sofrimento de ter um dos pais no Iraque ou no Afeganistão. Alguns viram os pais regressar da guerra com membros amputados, lesões cerebrais, e stress pós-traumático. Estas crianças, provenientes, em número desproporcional, de minorias comunitárias, estão mais propensas do que os seus congéneres civis a ter problemas na escola, a sofrer de depressão e a exibir distúrbios comportamentais. Elas representam um outro tipo de juros sobre o nosso investimento na guerra; e que iremos pagar por muito tempo. À medida que cortamos nos serviços sociais como parte da redução no orçamento federal, muitas destas crianças, e as suas famílias, lutarão sozinhas com os seus problemas; uma exteriorização intolerável dos custos da guerra para uma sociedade que afirma estar comprometida com os valores da família.

Quando ouvimos os nossos líderes falar em “operações militares” e “ataques cirúrgicos”, é tentador pensar no poderio militar como uma ferramenta poderosa e precisa para alcançar objectivos, como o afastamento de Saddam Hussein, ou a derrota dos Taliban. Aprendemos com o Iraque e com o Afeganistão (tendo aparentemente esquecido a lição anterior que nos deram os vietnamitas) que os ferramentas de guerra tem um preço alto a pagar, acabam por matar muitas pessoas inocentes, bem como seus alvos, e que os tiros de resposta deixam um rasto de seres humanos devastados e fragilizados, que enfrentam as consequências da guerra durante décadas após os últimos soldados terem deposto as armas.
Como afirmam Dana Priest e William Arkin no seu belo livro novo, Top Secret America, os americanos “gastaram milhares de milhões de dólares para fazer com que a máquina do governo derrote o terrorismo sem nunca realmente questionar o que estão a receber em troca”. O décimo aniversário do 9 / 11 é um momento de reflexão, sim, mas é também uma oportunidade para começar a fazer perguntas difíceis.


Notas da tradução:
[1] No original, surge. É difícil encontrar uma correspondência exacta em português; o autor refere-se a um movimento de resposta, por parte de vários sectores da sociedade norte-americana, aos ataques do 11 de Setembro. O que quer que se pense desta resposta, ela sentiu-se, a título de exemplo, num aumento do número de recrutamentos no Exército, mas também se usa o termo noutros contextos, nomeadamente para referir o aumento de oportunidades de negócio para as firmas de segurança.

[2] No original, “Faces of the Fallen”; o autor refere-se a rubricas como a do jornal Washington Post, que tem este nome, e que publica os nomes e retratos dos soldados dos EUA mortos em combate.

Tradução de André Rodrigues P. Silva

PCdoB de Santa Bárbara realiza sua Conferência municipal

A Comissão Provisória do Partido Comunista do Brasil do município de Santa Bárbara realizou no último dia 20 de setembro sua Conferência Municipal para discutir temas relacionadas a sua organização naquele município do Semiárido baiano. Participaram do evento cerca de 100 militantes da agremiação partidária, bem como diversas lideranças políticas que estão em fase de ingresso no Partido.
As discussões políticas giraram em torno do documento que estabelece as resoluções do PCdoB para o próximo período, bem como sobre as estratégias que a agremiação deverá manter a partir de agora para buscar seu crescimento no município. Além disso, ficou estabelecido entre os presentes que são filiados, que em 2012 o Partido terá projeto para disputar as eleições, ou mesmo chegar a um consenso de fazer, inclusive se for o caso, uma coligação com partidos que defendem bandeiras políticas progressistas.
Na ocasião foi escolhida a direção partidária com sete dirigentes que ficarão responsáveis pela coordenação política no município, sendo que presidência ficará sob a responsabilidade de Gilmar Carvalho. Presentes ao evento estiveram Genaldo de Melo, do Diretório Municipal do PCdoB de Feira de Santana, Nivalto Lima, do Diretório Estadual do Partido, além de Edifrâncio Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santa Bárbara.

Genaldo de Melo


Briga de foice no escuro

As eleições do próximo ano definem em que proporção PT e PMDB avançam sobre o eleitorado lulista no Norte e no Nordeste - uma disputa que também é autofágica, pois os dois partidos estão abrigados na mesma base parlamentar que apoia, a nível federal, a presidenta Dilma Rousseff.

Tem lógica o clima de guerra entre PT e PMDB, aliados ao governo federal, em torno das eleições municipais do próximo ano. Assim como as bancadas dos partidos tradicionais tendem a aumentar se eles estiverem com o governo, e a diminuir na oposição, a base municipal obedece ao mesmo movimento. É o espólio da oposição que está em disputa entre os dois partidos e, mais do que isso, a disputa entre eles pelos votos da população mais pobre, capturada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em suas gestões e disputada pelos três partidos maiores da base governista: PT, PMDB e PSB.

A exemplo do que ocorre com as suas bancadas federais, o PT é o único que mantém um crescimento contínuo do número de prefeitos, quer no governo, quer na oposição. De 2004 para cá, quando disputou eleições municipais no comando do governo federal, a legenda não apenas aumentou a quantidade de prefeituras, como tornou-se atraente às bases municipais dos outros partidos. Nas eleições de 2008, todos os que obtiveram pelo menos 1% dos votos válidos perderam prefeitos para o PT, exceto o PSB, que tirou quatro do seu maior aliado, em relação às eleições de 2004, e não perdeu para nenhum. O PSB, todavia, não foge à regra de inchar no governo e desidratar na oposição. O PMDB, em 2006, só perdeu municípios para o PT (33 prefeitos) e para o PSB (18), partidos que se expandiram principalmente no Nordeste, em especial sobre as suas bases e as do ex-PFL.

De 2004 para 2008, as duas eleições que ocorreram no mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a redução das bases municipais dos partidos de oposição, antes aliados ao governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, foi alarmante. A situação pior em termos reais é a do DEM, ex-PFL. Em termos percentuais, a do PPS.

Das eleições de 1996 para as de 2000, quando o PFL usufruia da condição de aliado preferencial do governo peessedebista, passou de 937 para 1027 prefeitos; em 2004, já no governo petista, reduziu seu número de prefeituras para 791; nas eleições seguintes, para 500. Segundo estudo de Octavio Amorim Neto (FGV) e César Zucco (Iuperj), "As eleições de 2008 e o momento 'conservador' da política brasileira" (citado no artigo de Sérgio Quintella de março de 2009, "As eleições de 2008: conclusões e prognósticos"), o hoje DEM perdeu prefeituras para todos os outros partidos, exceto para o PPS. O PMDB levou 66 prefeituras da legenda conservadora; o PSB, 37; o PT, 38; o PP, 16; o PDT, 20; o PTB, 23; e o PR, 31. O partido perdeu até para o seu aliado preferencial, o PSDB, 23 prefeituras.

O PSDB perdeu prefeitos principalmente para os três maiores partidos da base aliada: 28 para o PSB, 34 para o PT e 36 para o PMDB, além de 8 para o PTB. Não teve enorme queda porque subtraiu prefeitos de seus aliados: 23 do DEM e 19 do PPS. É a chamada autofagia. O ex-PCB, por sua vez, perdeu de todo lado: do governo e da oposição, inclusive para o aliado DEM.

Os números de 2008 indicavam claramente o rumo que as eleições federais tomariam, dois anos depois. Segundo os mesmos autores, em 1996 o PT elegia 4 prefeitos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste para cada um eleito no Norte e no Nordeste. Em 2008, esta razão tinha caído para 1,7. O partido de Lula abriu espaço nos Estados mais pobres, em especial os do Nordeste, e perdeu nos mais ricos, das regiões Sul e Sudeste.

O PMDB, embora seja, estourado, o partido com maior número de prefeitos, compete com o PT no Nordeste e com o PSDB no Sudeste e no Sul. Em São Paulo, que já foi reduto peemedebista, o partido sangrou de todos os lados, depois do racha que deu forma ao PSDB, em 1988. O PSDB avançou sobre o eleitorado mais rico e intelectualizado do Estado, que era peemedebista antes de existirem os tucanos; o PMDB ficou com a base de Orestes Quércia, que definhou até se tornar uma força exclusivamente municipal.

Nas últimas três eleições municipais, todavia, o partido vem perdendo espaço no Estado, aos poucos e sempre. Em 1996 tinha 109 pefeitos; em 2004, ganhou mais dois; em 2004, desceu para 90; em 2008, caiu para 70 deputados. Esta será a primeira eleição municipal sem a liderança de Orestes Quércia, que morreu no ano passado e era quem controlava o partido no interior paulista. O vice-presidente Michel Temer tenta ganhar essa estrutura, sem a qual perde peso relativo no partido nacional.

A base municipal do PMDB paulista é a única coisa que sobrou do partido no Estado em que já foi mais forte: depois do racha do PSDB, o quercismo não elegeu nenhum governador ou senador. Sua bancada federal hoje tem um único deputado. A redução do número de prefeitos acontece na proporção direta do aumento dos prefeitos do PSDB, do PT e até do DEM.

As eleições do próximo ano definem em que proporção PT e PMDB avançam sobre o eleitorado lulista no Norte e no Nordeste - uma disputa que também é autofágica, pois os dois partidos estão abrigados na mesma base parlamentar que apoia, a nível federal, a presidenta Dilma Rousseff.

Definem também a posição do partido saído da costela do DEM, o PSD, que vai para as urnas agora como governo. A nova legenda tem que avançar sobre as bases do DEM, do PSDB e do PMDB para firmar-se como partido. O PSDB, por sua vez, tenta estancar possíveis sangrias para outros partidos nas regiões menos desenvolvidas, sob pena de fixar-se como um partido das regiões Sul e Sudeste. O PT tem que ganhar espaço nessas regiões, sob pena de virar um partido nordestino. É muita briga para 2012, entre aliados e oposicionistas. Vai correr ainda muito sangue.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

Abril negociou com a Ditadura

Por Luiz Gustavo Pacete, no Portal Imprensa:

Quando tinha 10 anos de idade, o garoto José Hamilton Ribeiro, nascido na pacata cidade paulista de Santa Rosa do Viterbo, sofria de uma enfermidade chamada “osteomielite”, inflamação nos ossos que o obrigava a contar com a ajuda de uma muleta para apoiar a perna esquerda. Mesmo com restrições, o menino não deixou de confirmar que sua vocação era a reportagem. “Caiu um avião perto da minha cidade. Imagina! Se hoje já é notícia, naquela época então nem se fala. A molecada saiu correndo para ver o acidente e eu não pensei duas vezes, mesmo com dificuldades fui ver o que tinha acontecido”.

Vinte e três anos depois, em 1968, aquela mesma perna esquerda que precisava da ajuda da muleta na infância foi ferida, quando Zé Hamilton – então repórter da revista Realidade – pisou em uma mina na cobertura da guerra do Vietnã. “Depois que tudo passou eu fiz essa associação. Me dei conta de que perdi aquela mesma perna que, quando criança, precisava apoiar com uma muleta. Isso é simbólico para mim, pois, com 10 anos de idade eu estava sendo intuitivamente um repórter, indo até o fato, observando, perguntando e depois contando da melhor maneira possível”. A história de Zé comprova o que o jornalista defende: ser repórter é vocação.

Hoje, com mais de 50 anos de profissão e como repórter especial do “Globo Rural”, Zé diz que não é um repórter que lida com técnica e economia no agronegócio, mas tem a função de retratar a “alma do homem do campo”. Tarefa que, muitas vezes, dá trabalho aos companheiros de equipe: “tem um câmera que trabalha comigo e até reclama de que eu me aproximo muito das fontes”.

É com vigor e lucidez que o “príncipe dos repórteres” – como é chamado por seus contemporâneos – falou à IMPRENSA, contando o que o motiva aos 50 anos de profissão. Comentou sobre a cobertura de guerras e conflitos nos dias atuais, lembrou dos tempos de revista Realidade e a atual situação do jornalismo brasileiro, que segundo ele, “não anima muito”.

O “príncipe dos repórteres”

Com mais de 50 anos de carreira, você ainda está em busca da grande reportagem?

Buscar a grande reportagem faz parte da minha rotina. Tenho uma lista das 10 que quero fazer e, quando realizo uma, acrescento outra. É uma lista permanente de reportagens especiais, que demoram por que demandam planejamento e condições do veículo para me mandar.

Tem algum tema ou entrevistado específico?

Eu ainda quero fazer uma reportagem sobre a Guerra do Paraguai e descobrir o que o Brasil ainda tem de resquícios deste importante momento da América do Sul.

Como se sente vendo uma matéria sua inscrita em um prêmio como o Emmy de TV no ano passado?

O departamento de jornalismo da TV Globo escolheu cinco reportagens para concorrer a esse prêmio e uma era minha. Para mim é muito gratificante o fato de a emissora ter escolhido, em um colégio de tantos jornalistas competentes uma matéria minha.

Cobertura de conflitos

Quando você olha hoje para as coberturas de guerras e conflitos lembra muito de sua época?

Hoje eu vejo que cada vez mais o jornalista de guerra está restrito. A tecnologia de comunicação de alguns exércitos está muito avançada, e mais: os grandes exércitos do mundo aprenderam que a atuação da imprensa em uma guerra é muito importante e, ao descobrirem isso, passaram a fazer uma vigilância rigorosa de tudo o que é publicado pelos jornalistas e correspondentes que acompanham as tropas.

Como você conviveu e convive com os traumas físicos e psicológicos?

Eu tive três medos no Vietnã depois do acidente com a perna: primeiro, o medo de morrer, e, quando eu fui levado para o hospital, eu vi que não morria mais; o segundo, era de tornar-me uma pessoa com uma deficiência física de tal gravidade, que não pudesse mais ganhar a vida com o meu trabalho e ser dependente; por último, o terceiro, era de ficar marcado como um repórter que fez somente a cobertura do Vietnã e nada mais. O primeiro passou assim que eu fui socorrido. O segundo, logo que cheguei ao hospital e na cadeira de roda comecei a entrevistar os médicos e enfermeiros para a matéria que eu estava fazendo. E o terceiro, eu resolvi aqui no Brasil, trabalhando e tendo reconhecimento da qualidade de meu trabalho.

A revista que marcou uma geração

Qual era a receita da revista Realidade? O que a transformou em um símbolo do jornalismo?

Ela foi se moldando em suas circunstâncias. O que deu à Realidade uma característica original foi o contexto histórico daquele momento. Parece que, na década de 1960 [a Realidade foi criada em 1966], tudo aconteceu no mundo: a pílula, o movimento hippie e o estudantil, a libertação da mulher, a luta dos americanos no Vietnã e muitos outros acontecimentos. E se você olhar muita das coisas que ainda acontecem no Brasil começaram naquele momento. Acredito que isso contribuiu para que a Realidade fosse bem sucedida, além do bom jornalismo, é claro.

Por qual motivo ela acabou?

O AI-5 [Ato Institucional] é de dezembro de 1968 e a revista começou a cair em janeiro de 1969. Quer dizer: a censura chegou até nós. Até então, a Editora Abril acreditava na Realidade e bancava toda essa rebeldia que nós tínhamos, mas, a partir do AI-5, ela recuou e passou a apostar em um novo produto chamado revista Veja, que vinha sendo cultivada internamente. A Editora Abril negociou com a ditadura para entregar a cabeça da Realidade em troca de abrir caminho para a Veja.

Pessoalmente, como foi lidar com o fim da revista?

Desde os 20 anos de idade eu estava na linha de frente da imprensa, seja por ter atuado na Folha de S.Paulo ou na Abril. Com este momento da censura, eu perdi espaço na grande imprensa. Se já era difícil fazer jornalismo, imagine ser jornalista investigativo na época da ditadura. À época, fui para o interior fazer reforma gráfica de jornal, implantar computadores. Como não podia mexer com conteúdo, fui trabalhar com a forma em Ribeirão Preto, Rio Preto e depois Campinas.

A atual situação do jornalismo

O jornalismo de hoje tem espaço para uma nova revista Realidade?

Eu acho que o brasileiro se acostuma rápido até com o que é ruim. Então, a pessoa está acostumada com o que é de baixa qualidade. Automaticamente, quando você oferece coisa boa, ele corre para ela. Nos dias de hoje, a Realidade só daria certo se você tivesse uma redação proporcional àquela que nós tínhamos, com qualidade, salário, condições de produção e de reportagem. Se ela desse certo, acredito que ainda conseguiria mudar o espectro da imprensa, assim como aconteceu nos Estados Unidos e Inglaterra. Se o primeiro mundo consegue fazer, a gente também deve aspirar.

Quando você olha hoje para o mercado editorial brasileiro tem algo que se aproxima do projeto da Realidade?

Na área da grande reportagem eu não estou muito entusiasmado, não. Eu acho que o momento do Brasil é do jornalismo de papel, jornal propriamente dito. Eu acho que é esse o grande momento da imprensa brasileira.

De que maneira você enxerga essa onda do jornalismo investigativo e das grandes reportagens?

A expressão repórter “super herói” é uma coisa enganosa por que o repórter que pensa que é um lobo solitário acaba sendo só um solitário. O repórter depende de estrutura tanto da redação como da empresa; então, é uma ilusão pensar na figura solitária do repórter.

Maringoni e as incríveis capas Veja

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

Gilberto Maringoni fez um trabalho didático na Carta Maior: expôs as principais capas de “Veja”, de 1993 a 2010. O período cobre exatamente os dois mandatos de FHC e os dois mandatos de Lula.

A comparação visual é impressionante. Ao lado das capas, Maringoni faz uma pequena análise do conteúdo. Nem precisava. As imagens quase falam por si. Lula é tratado com desrespeito: pé no traseiro, barriga de fora, a faixa de presidente enrolada feito venda nos olhos do presidente. FHC aparece austero, professoral, um estadista.

Mais que isso. Os escândalos na era FHC levam para a capa os pivôs dos escândalos: Ricardo Sérgio, Mendonção, Sérgio Motta… Uma exceção: Eduardo Jorge, secretário particular aparece ao fundo da imagem resignada de FHC, sob a chamada de capa quase amiga: “as ligações e os negócios do ex-assessor que estão fazendo um estrago na imagem do presidente”. Ou seja, FHC não tem nada com isso, mas a revista alerta que o ex-assesor está atrapalhando a boa imagem do estadista. Assim, de amigo para amigo.

Os escândalos da era Lula são escândalos de Lula. Sempre. Lula carrega Zé Dirceu feito um peso já em 2004 (FHC jamais carregou Ricardo Sérgio nas capas de “Veja”; mas o livro do Amaury vem aí pra contar bem essa história); a imagem de Lula se desfaz na capa da revista, em 2005; depois, as manchetes do “Mensalão” (“Ele sabia?” , “Quando e como Lula foi alertado”), sempre com a figura de Lula na capa. Com FHC e a compra de votos para a reeleição, nada parecido. Ninguém perguntou se FHC “sabia”?

A obsessão com a estrela...

E a tentativa (obsessiva?) de arrasar a imagem do PT e dos movimentos sociais: a estrela petista na capa uma, duas, três vezes. Sempre a se desmilinguir. O MST como grande inimigo. E o “polvo” (PT? povão?) a ameaçar a República (ou a ameaçar aqueles amigos de “Veja” que não conseguem voltar ao Palácio?).

As imagens coletadas por Maringoni são também, e isso me ocorre agora, as imagens de uma derrota clamorosa. Nunca um órgão de imprensa apostou tantas fichas em derrotar um presidente e um partido. Nem Carlos Lacerda foi tão longe contra Vargas, porque não tinha os recursos visuais das capas de “Veja”.

A turma do esgoto, instalada na Marginal Pinheiros, usou e abusou dos recursos visuais. E das mentiras (dólares de Cuba, contas de Lula no exterior…). E perdeu. Duas vezes. Ou três vezes, se contarmos 2002, 2006 e 2010.

E o medo do povo!

A história das capas de “Veja” é a história do preconceito (quem não se lembra da “mulher, nordestina” – cruz, credo – que pode decidir a eleição em 2006?). Preconceito derrotado. É a história de um discurso de ódio. Derrotado. “Veja” e sua máquina de manipulações foram derrotadas de forma espetacular. Isso é o mais impressionante na coletânea feita pelo Maringoni.

Isso tudo não absolve o PT e Lula de seus erros. Maringoni, aliás, nem é do PT. Faz opopsição pela esquerda, no PSOL. Mas é daqueles que não perderam o juízo e sabem que o inimigo principal não está no lulopetismo. Basta olhar para as capas de “Veja” para saber que ali está não apenas um inimigo feroz da esquerda e dos movimentos sociais. A “Veja” é inimiga do Brasil. Ela e suas capas odiosas e odientas. Derrotadas.

Tão derrotadas como Ali Kamel da Globo – com o delegado Bruno em 2006 e a bolinha de papel em 2010. Mas a “Veja”, é preciso reconhecer, foi muito mais longe que Kamel. Ele é mais sutil, mais inteligente. A “Veja”, não. É boçal. Bom saber e ver que a boçalidade odiosa de “Veja” foi derrotada.

O mais incrível é que “Veja” segue a alimentar o discurso de que o PT e o lulismo querem calar a imprensa. Hehe. Se houvesse “projeto autoritário”, a “Veja” não estaria aí até hoje. Lula e o PT ganharam da “Veja”, na bola. Sem tapetão.

O que choca é outra coisa: o lulismo e o PT seguem a alimentar o monstro. É o que diz Maringoni:

“A visão de Veja é a visão da extrema direita brasileira. Tem uma tiragem de um milhão de exemplares e é lida por muita gente. Entre seus apreciadores está, surpreendentemente, o governo brasileiro. Este não se cansa de pagar caríssimas páginas de publicidade para uma publicação que o achincalha com um preconceito de classe raras vezes visto na imprensa. Freud deve explicar.”

Calote na Fundação Roberto Marinho?

Do sítio Os amigos do presidente Lula:

A Fundação Roberto Marinho fez um convênio com o Ministério Turismo, e recebeu R$ 17 milhões dos cofres públicos de 2009 até o primeiro semestre deste ano.

Com o dinheiro, a ONG ligada à TV Globo deveria qualificar 80 mil profissionais, autônomos e estudantes de turismo, gastronomia e hotelaria, em cursos online de inglês e espanhol, para a Copa de 2014.

Esse projeto recebeu o nome de Olá, Turista! e já encerrou suas atividades.

No entanto não existe na internet inteira, nem no site da ONG (sem qualquer prestação de contas com transparência), nem nos sites de controle do governo federal, nem no TCU, nenhuma prestação de contas disponível (pelo menos até o momento) para o cidadão saber como esses R$ 17 milhões foram gastos e se de fato foram treinadas 80 mil pessoas, ajudando a combater a corrupção e o desvio do dinheiro público.

Mas o twitter oficial do projeto "Olá, Turista!" traz uma informação alarmante: para quem deveria ter treinado 80 mil pessoas, estava com dificuldades em encontrar guias de turismo que fizeram o curso.

Está na hora da CGU auditar e o TCU examinar com rigor estas contas. E, se confirmadas as suspeitas, exigir o dinheiro de volta aos cofres públicos de convênios se propondo a treinar dezenas de milhares de pessoas, e só treinam uns "gatos pingados".

Brasil terá dificuldade para adotar ajuste fiscal, diz economista do Bird

No momento em que se prepara para grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil terá dificuldade para cumprir sua promessa de ajuste fiscal, disse nesta terça-feira à BBC Brasil o economista-chefe do Banco Mundial...

Brasil terá dificuldade para adotar ajuste fiscal, diz economista do Bird
No momento em que se prepara para grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, o Brasil terá dificuldade para cumprir sua promessa de ajuste fiscal, disse nesta terça-feira à BBC Brasil o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, Augusto de la Torre.

"É um desafio muito grande, porque o Brasil está enfrentando um ano de gastos importantes, associados à Copa do Mundo e todo o resto. Então não vai ser fácil cumprir a promessa de fortalecer a posição fiscal", afirmou.

No início deste ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a intenção do governo de fazer um ajuste fiscal de R$ 50 bilhões.

O economista diz que o cumprimento das medidas é crucial para o país, especialmente diante do início de uma trajetória de redução da taxa básica de juros (Selic).

No mês passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a Selic pela primeira vez neste ano, de 12,5% para 12%, em uma decisão que surpreendeu analistas e foi justificada em parte pelo aumento da incerteza global.

Segundo De la Torre, o rumo da política fiscal no Brasil é o que vai determinar se a decisão do Banco Central foi correta ou não.

"A variável chave é se as ações que estão tomando na taxa de juros serão compensadas por uma posição fiscal mais forte", afirma.

Crise

O economista afirma que, caso o Brasil consiga levar adiante seu esforço fiscal, estaria bem preparado para uma eventual nova crise internacional. Caso contrário, "a situação pode não ser tão favorável".

"Se conseguir fazê-lo, vai ter espaço fiscal e monetário caso o mundo venha abaixo. Se o mundo não vier abaixo, o ajuste fiscal vai abrir espaço para que a política monetária possa ter uma taxa de juros mais baixa, sem que isso recrudesça as expectativas inflacionárias", disse.

A manutenção de altas taxas de juros é usada como arma contra as crescentes pressões inflacionárias, em um momento em que a taxa de inflação no Brasil corre o risco de fechar o ano acima do teto da meta, que é de 6,5%.

Assim como o Brasil, vários outros países latino-americanos que trabalham com metas de inflação têm mantido suas taxas de juros bem acima da média internacional e, principalmente, de economias avançadas como Estados Unidos ou Japão, onde essas taxas estão próximas de zero.

Essa margem para baixar juros – e fazê-lo rapidamente – deixa os latino-americanos em vantagem caso ocorra uma piora no cenário global.

O aumento das incertezas na economia mundial, especialmente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa que enfrentam crises de dívida e déficit, levou o Banco Mundial a projetar crescimento de entre 3,5% e 4,5% para a América Latina neste ano, bem abaixo dos 6% registrados no ano passado.

Em seu mais recente relatório sobre o estado da economia na região, lançado nesta terça-feira em Washington, o Banco Mundial diz que a recuperação econômica após a crise de 2008 começa a dar lugar a uma "dinâmica de crescimento mais madura, mas menor".

China

O relatório ressalta, porém, que mesmo que a situação das economias avançadas se agrave, alguns países latino-americanos poderão manter sua atividade econômica relativamente livre de contágio, caso a China continue crescendo e os preços das commodities não sofram uma queda muito grande.

A relação com a China merece atenção especial no documento e é citada como um dos principais fatores que contribuíram para o que o Banco Mundial define como "crescimento robusto" apresentado pela América Latina na última década.

"Coincidentemente ou não, o crescimento da produtividade na região aumentou à medida que esses laços se aprofundaram", diz o documento.

O relatório compara essa relação com aquela mantida entre os países conhecidos como Tigres Asiáticos (Hong Kong, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan) com o Japão entre os anos 1970 e 1990 – na época, um vizinho com grande crescimento e progresso tecnológico.

A conclusão, porém, é a de que, enquanto a relação com o Japão rendeu uma significativa transfusão de conhecimento e tecnologia para os Tigres Asiáticos, o mesmo não ocorre no relacionamento da América Latina com a China.

O Banco Mundial diz que, até o momento, não há evidência de que a relação com a China – baseada principalmente na enorme demanda chinesa por matérias-primas abundantes na América Latina – esteja sendo acompanhada de um processo de difusão tecnológica para a região.

"O ponto central é que a conexão comercial sozinha, quando não vem acompanhada ou não leva à formação de capital humano, investimentos em inovação, adoção e adaptação de tecnologia, não induz ao crescimento de produtividade", diz o documento.

No entanto, o Banco Mundial observa que a própria relação da América Latina com os Estados Unidos sugere que há também "razões estruturais e institucionais mais profundas" pelas quais as economias da região são menos propensas a absorver tecnologia e conhecimento.

"A nova conexão com a China não vai por si só alterar essas deficiências", diz o relatório. "Isso é uma tarefa para uma agenda de políticas bem elaboradas e implementadas e orientadas para o crescimento, uma agenda que, em geral, ainda está faltando."

Fonte: BBC Brasil

Senado tenta hoje analisar projeto de Código Florestal

O projeto de reforma do Código Florestal (PLC 30/11) volta a abrir a pauta da reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) desta quarta-feira (21). Simbolicamente, o exame do projeto coincidirá com as comemorações do Dia da Árvore.


A matéria constou da pauta da última reunião, mas novo pedido de vista coletiva levou ao adiamento da votação mais uma vez. A solicitação de vista foi motivada por duas mudanças feitas pelo relator, senador Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), em seu substitutivo As alterações foram anunciadas pelo parlamentar na reunião da CCJ da última quarta-feira (14).

Inicialmente, o relator retirou do texto a possibilidade de os governadores definirem situações em que a vegetação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) poderia ser suprimida. Ao fazer isso, ele manteve a norma em vigor, que define a autorização para uso de APP como prerrogativa exclusiva da União.

A outra modificação refere-se à conversão das multas que incidirem sobre imóvel rural que aderir ao Programa de Regularização Ambiental em serviços de preservação ambiental.

Obras da Copa

Além de confirmar a constitucionalidade, juridicidade e regimentalidade do projeto do código florestal (o que seria sua função), o relator do projeto na CCJ quer incluir no novo texto a possibilidade de intervenção em APPs para construções de obras ligadas a eventos esportivos, como estádios.

O relator justifica que o maior detalhamento das expressões: “utilidade pública”, “interesse social” e “baixo impacto ambiental” no projeto trará mais segurança jurídica ao texto do código florestal. “Inserimos a expressão ‘estádios e demais instalações necessárias à realização de competições esportivas municipais, estaduais, nacionais ou internacionais’, para garantir a sua construção, especialmente pela urgência do governo em viabilizar as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016”, explicou o senador em seu relatório.

Somado a isso, o relator sugeriu alterações de redação e rejeitou as 37 emendas parlamentares que o projeto recebeu, sob alegação de que estariam mudando “o mérito da matéria” – o que deveria ser analisado nas outras duas comissões. Justamente por fugir dos itens “constitucionalidade”, “juridicidade e “regimentalidade”, o relatório do peemedebista é que gerará polêmica entre seus pares para ser aprovado na comissão.

A questão é que Luiz Henrique também é relator da matéria em outra comissão, a de Reforma Agrária, e acabou “adiantando o trabalho” e promovendo mudanças no mérito da matéria. As mudanças podem adiar a expectativa do presidente da CCJ, o senador Eunicio Oliveira (PMDB-CE), de que o tema voltasse à pauta nesta semana.

Fonte: Agência Senado

Mulheres Árabes

Jaime Sautchuk  - Vermelho

A intensa propaganda dos Estados Unidos contra os povos árabes inclui informações mentirosas sobre a mulher naquela parte do mundo, independente de religião e classe social. A grande mídia imperialista busca afirmar a idéia de que a mulher árabe é mais discriminada e oprimida que a dos países ocidentais.


Às vésperas de uma decisão da Organização das Nações Unidas sobre a retardada criação do estado da Palestina, esses meios de comunicação tentam impingir uma imagem de bárbaros sobre os povos árabes. São textos e imagens que escamoteiam a realidade.

Querem, no fim das contas, vender a idéia de que os conflitos que estão ocorrendo no Oriente Médio e Norte da África trariam a redenção especialmente para as mulheres. Os fatos demonstram, porém, que não é bem assim. Artigos e matérias com pouco destaque, na própria grande mídia, demonstram a contradição.
Por exemplo, uma jornalista do New York Times escreveu semana passada artigo denunciando o fato de que apenas uma mulher faz parte do tal conselho nacional formado na Líbia após a invasão do país, que tem 45 membros. Ou seja, o processo é assunto de homem.

A guerra ali promovida, com amparo da ONU, em verdade apenas reaviva disputas religiosas, econômicas e culturais, na velha estratégia de dividir para reinar. Reforçam, pois, aspectos negativos das relações sociais em vez de alterá-los. Em especial, no que se refere à situação da mulher.

O fato é que, ao contrário do que diz essa mídia, no entanto, a mulher árabe, de um modo geral, é muitíssimo consciente de seu papel feminino.

Vamos pegar o caso das vestimentas. Essa é uma herança turca, do período do Império Otomano, e nada tem a ver com a religião. Aliás, o Corão é como a Bíblia, sujeito às mais diversas interpretações e serve, portanto, à defesa de teses que vão do fascismo à Teologia da Libertação, esta que se aproxima da visão marxista do mundo.

Ao se cobrirem com um monte de vestes, muitas vezes deixando só um visor de tela para os olhos, a mulher árabe está mesmo é se valorizando. E este é um aspecto fundamental dessa confusão midiática que se faz.
O fato de usarem burcas e mantos não significa opressão ou medo. Os trajes encobrem mulheres lindas, que cuidam com delicadeza do seu corpo, a ponto de se depilarem dos pés ao pescoço, usarem perfumes e se guardarem para manter relações sexuais com algum homem, mas este será o que elas escolherem.

É por isso que, ao viajar por países árabes, a gente vê salões de beleza por todo canto. Mas, mostrar o corpo é, para elas, se oferecer a qualquer um. E isso as mulheres ocidentais fazem o tempo todo, ainda que mantenham relações firmes com algum parceiro ou parceira. São visões diferentes, apenas.

A oportunista venda da imagem de um mundo repressivo e obscuro, portanto, não condiz com a realidade. São modos de vida diferentes, apenas. Lá, é claro, a mulher é discriminada e padece também. Mas é também, porque isso ocorre igualmente aqui, em nossos terrenos.

O problema é usar isso como propaganda, como arma de guerra, como vem sendo feito.