terça-feira, 30 de agosto de 2011

Manuela d'Ávila: O mundo está ao contrário e ninguém reparou?

Carros incendiados na Inglaterra. As ruas de Israel tomadas pela juventude. Jovens, um milhão deles, nas ruas do Chile. Mulheres com rostos cobertos questionando governos no mundo árabe. A marcha das vadias que começa em um continente e acaba por ocupar diversos pontos do mundo. A marcha da maconha que se transforma na marcha das liberdades.

Por Manuela d'Ávila*


O mundo todo tem presenciado, visto e vivido muitas manifestações. Algumas delas carregam grandes causas, de uma nação. Outras têm bandeiras individuais (o que não diminui seu valor e importância). Algumas têm atuação organizada e têm como objetivo claro a disputa pelo poder político. Outras carregam a revolta não traduzida em ação coerente.

Apesar de diferenças múltiplas, todos esses movimentos indicam um caminho, indicam que há algo de diferente no ar. Esse “diferente”, talvez seja o que nos faz ter acesso a tantos acontecimentos. Pode ser, também, uma das explicações para que essas manifestações tenham apoio de povos tão distantes.

O diferente, aqui, é a tecnologia e, mais precisamente, a internet. É assim por ajudar no processo de mobilização com as tão divulgadas redes sociais? Também. Mas, fundamentalmente, porque auxilia no processo de construção de um novo cidadão, no fortalecimento da nova sociedade, ou sociedade digital.

O cidadão digital é, sim, mais informado. Mas acima disso, tem outra visão sobre a importância e o significado da participação, sobre o significado de liderança. Esse talvez seja um dos grandes aprendizados pelos quais todos estamos passando.

O que, de fato, mudou? Além dos hábitos do uso, claro, a rede construiu novos valores na sociedade. Hoje, podemos dizer que existem dois mundos: um analógico, outro digital. E esses dois mundos são constituídos por cidadãos diferentes.

Para o cidadão analógico, o líder ainda é aquele que concentra a informação. Para o cidadão digital, o líder é aquele que sabe compartilhar a informação. O líder analógico sabe tudo e constrói sua ação “encastelado”. Enquanto isso, o líder digital reconhece seus limites e atua de maneira colaborativa, fortalecendo a ideia, o objetivo. O analógico é mecânico. O digital é orgânico. Há, portanto, um antagonismo entre essas realidades.

Talvez a ilustração do impacto gerado pelas diferenças de realidades possa ser expressada através da contraposição de computadores pessoais fixos e tablets, de orelhões e pequenos celulares multifuncionais. Não se trata, é importante destacar, de uma questão geracional, como alguns afirmam. Seria até mesmo ingênuo transformar a idade no fator central de mudanças tão profundas. Não é difícil encontrarmos jovens analógicos e senhores digitais!

O fato é que nossa sociedade e nossas instituições passam por transformações permanentemente. E isso faz com que coexistam cidadãos analógicos e digitais. Uns complementamos outros (afinal, não há rede social se não houver pessoas envolvidas). E uns também questionam aos outros. Nosso dilema – de nós, que optamos pela vida pública – é garantir que nossas instituições estejam atentas a essas transformações para manterem representatividade real, para consolidarmos a democracia. Afinal, o parlamento é a maior expressão da democracia.

O Estado, portanto, precisa se adaptar, precisar conciliar esses diferentes cidadãos. Se vivemos novos tempos, o Estado precisa responder a isso. Vivemos na era tecnológica, porém com um Estado analógico. O resultado desse abismo é a ampliação da distância entre o cidadão e o poder público. É preciso que haja uma mudança para que o Estado seja, de fato, o órgão representativo do seu povo.

* É deputada federal pelo PCdoB do Rio Grande do Sul; preside a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e é vice-líder do governo no Congresso Nacional.

Fonte: Congresso em Foco

Charge de Carlos Latuff

Partidos novatos não devem participar das eleições 2012

Das 20 legendas embrionárias que tentam obter registro para disputar as eleições no ano que vem, poucas devem conseguir. Entre as exigências está a coleta de 482 mil assinaturas
Se um eleitor de boa-fé ou mesmo um político calejado tentasse listar os partidos políticos do Brasil passaria aperto: são 27. Saber de cabeça o nome das legendas existentes e ainda das 20 que tentam a regularização é tarefa quase impossível. São cristãos, ecológicos, funcionários públicos, mulheres, humanistas, defensores da pátria livre, da educação e cidadania, além de outros temas para todos os credos e tendências.

Entretanto, a maior parte dos novatos não participará das eleições do ano que vem, pois não conseguirá completar uma série de etapas exigidas para isso, que inclui em montagem de diretórios em pelo menos nove estados e coleta de 482.894 assinaturas, o que corresponde a 0,5% dos votos dados para deputados federais na última eleição.

O mais famoso é o Partido Social Democrata (PSD), capitaneado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), que já coletou as assinaturas, criou os diretórios e pediu o registro. Porém, nem todos contam com a mesma estrutura e agilidade.

O Partido Mulher Brasileira (PMB), por exemplo, não deverá conseguir o registro, pois, segundo a presidente Suede Haidar, tem apenas 380 mil assinaturas certificadas. “Se não der para essa eleição dará para as próximas”, vislumbra Suede.

Questionada sobre a ideologia do partido, Suede explica se tratar de “inserir a mulher na política partidária com mais respeito”. Entretanto, das assinaturas coletadas até agora, segundo cálcudos dela, mais de 90% são de homens. “O homem quando casa não muda de nome.

Já a mulher muda o nome e não tem o hábito de trocar no cartório eleitoral o nome de solteira para casada”, justifica a presidente. Isso explicaria o fato de 70% das assinaturas de mulheres não terem sido validadas. As assinaturas não implicam filiação, mas sem elas a legenda não pode existir.

O Partido da Transformação Social (PTS) também não participará do pleito do ano que vem. O presidente da legenda, Ronaldo Gualberto, reclama da quantidade de assinaturas exigida, o que na visão dele é uma forma de manter o poder nas mãos das mesmas pessoas.

Gualberto é diretor da União Geral dos Trabalhadores (UGT) e presidente do Sindicato dos Comerciários de Contagem. Mas a grande maioria do partido, segundo ele, é oriunda do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8), organização que empreendeu a luta armada contra o regime militar.

“Somos oriundos da esquerda, mas não somos doentes”, relativiza Gualberto. Ele explica que já coletou 200 mil assinaturas. Para definir melhor os rumos do partido, ele quer agregar intelectuais que estão desanimados e construir um programa de fato.

“Não adianta pensar no Brasil somente para a Copa do Mundo”, critica o presidente do PTS. Gualberto também ataca a maioria dos partidos, que, na análise dele, são legendas de aluguel e “distantes das bases”.

O Partido Cristão (PC) conseguiu cerca de 300 mil assinaturas e, de acordo com o presidente, Ronaldo Moreno, não é possível saber se haverá tempo de cumprir todos os preceitos até o prazo. Moreno destaca que apesar de ser um partido cristão, a legenda defende o estado laico.

“Não fazemos a defesa de nenhuma instituição religiosa”, ressalta. De acordo com Moreno, o PC vai exigir a ficha limpa antes de a pessoa se filiar. “Não temos nenhum malandro dentro do partido”, garantiu o presidente.
Verdes


Já o Partido Ecológico Nacional (PEN) acerta os últimos detalhes para pedir o registro a tempo das próximas eleições. De acordo com o presidente Adilson Barroso, o processo está em fase final e faltam apenas 30 mil assinaturas certificadas, já que as articulações começaram em 2007.

A causa do PEN, de acordo com Barroso, é defender o crescimento sustentável. Ele destaca que é muito difícil montar um partido e entende que todos as legendas, até as que já são oficiais, deveriam passar pelo mesmo processo de criação, com a coleta de assinaturas. “Sobrariam só alguns”, avalia Barroso.

Outra legenda que também usa a defesa ecológica como mote, o Partido do Meio Ambiente (PMA) não participará das próximas eleições. “Temos 282 mil assinaturas e não vai dar tempo”, admite seu presidente, Jurandir Silvério. A ideologia principal é a defesa do meio ambiente, explica Silvério. Tem algo diferente dos outros? “Nada. Vamos trabalhar a política da maneira que ela deve ser trabalhada”, resume Silvério.

Salada partidária
OS PRETENDENTES

Partido Social Democrata (PSD)

Partido da Pátria Livre (PPL)

Partido Novo (PN)

Partido Ecológico Nacional (PEN)

Partido da Educação e Cidadania (PEC)

Partido Democrático dos Servidores Públicos (PDSP)

Partido Geral do Trabalho (PGT)

Partido Federalista (PF)

Partido Humanista do Brasil (PMH)

Partido Liberal Democrata (PLD)

Partido Cristão Nacional (PCN)

Partido da Transformação Social (PTS)

Partido do Meio Ambiente (PMA)

Partido Cristão (PC)

Partido Social (PS)

Partido dos Servidores Públicos e da Iniciativa Privada do Brasil (PSPB)

Partido Mulher Brasileira (PMB)

Partido da Justiça Social (PSJ)

Partido Republicano da Ordem Social (PRSB)

Partido Carismático Social (PCS)
OS ATUAIS

Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) 1981

Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) 1981

Partido Democrático Trabalhista (PDT) 1981

Partido dos Trabalhadores (PT) 1982

Democratas (DEM) 1986

Partido Comunista do Brasil (PCdoB) 1988

Partido Socialista Brasileiro (PSB) 1988

Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) 1989

Partido Trabalhista Cristão (PTC) 1990

Partido Social Cristão (PSC) 1990

Partido da Mobilização Nacional (PMN ) 1990

Partido Republicano Progressista (PRP) 1991

Partido Popular Socialista (PPS) 1992

Partido Verde (PV) 1993

Partido Trabalhista do Brasil (PTB) 1994

Partido Progressista (PP) 1995

Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) 1995

Partido Comunista Brasileiro (PCB) 1996

Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB) 1995

Partido Humanista da Solidariedade (PHS) 1997

Partido Social Democrata Cristão (PSDC) 1997

Partido da Causa Operária (PCO) 1997

Partido Trabalhista Nacional (PTN) 1997

Partido Social Liberal (PSL) 1998

Partido da República (PR) 2006

Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) 2005

Partido Republicano Brasileiro (PRB) 2005

Fonte: Estado de Minas



Veja é o Murdoch brasileiro

Por Charles Carmo, no blog Viomundo:

A revista Veja entrou no centro de um dos maiores escândalos da imprensa nacional após a divulgação da suposta tentativa de invasão do apartamento em que o ex-ministro José Dirceu estava hospedado, no Hotel Naoum, em Brasília. O repórter Gustavo Nogueira Ribeiro está sendo acusado de tentar convencer a camareira a deixá-lo entrar no quarto de José Dirceu, fingindo se passar por um colega do ex-ministro que estaria hospedado no mesmo apartamento.

A denúncia partiu da camareira e do chefe de segurança do hotel, e foi registrada num boletim de ocorrência do 5º distrito policial de Brasília.

Para o deputado Emiliano José (PT/BA) “a Veja está assumindo a sua face mais clara de banditismo. Dentro dos padrões éticos do jornalismo e da convivência democrática não há justificativa possível para este tipo de comportamento, salvo se ela estiver seguindo as trilhas do Murdoch. Para tentar obter um fato, não importa qual fato seja, a revista cometeu um crime ao tentar invadir um apartamento. Não importa de quem é o apartamento e qual o fato que ela supostamente queria investigar”, afirmou o parlamentar.

Emiliano José afirma que o caso é extremamente grave e a sociedade brasileira deve reagir ao escândalo com a mesma indignação que os ingleses reagiram aos escândalos dos grampos do jornal News of the World, pertencente ao grupo do bilionário Rupert Murdoch, e que resultou na prisão dos responsáveis, além do fechamento do jornal, maculado de maneira irremediável pelo escândalo dos grampos que foram descobertos e atingiram desde políticos até vítimas de seqüestro. O chamado “Caso Murdoch” abalou a Inglaterra e trouxe à baila a discussão sobre os limites da imprensa na democracia.

“É preciso envolver os setores democráticos brasileiros para que não se configure uma prática nitidamente arbitrária, ilegal e golpista como esta. A Veja é o Murdoch brasileiro, só que com características do golpismo político. Ela é uma usina golpista da direita brasileira e latino-americana. A sociedade brasileira precisa reagir a isto que está ocorrendo. Temos que tomar uma providência diante dos crimes da Veja. Não se trata de um fato com um companheiro do partido, que fique bem claro, mas de uma agressão à vida democrática brasileira. A Veja foi pega com a mão na botija e isto é contra a democracia”, concluiu o deputado que também é jornalista e professor da Universidade Federal da Bahia.

E qual seria a motivação para a matéria da Veja? Emiliano José tem uma opinião. Para ele “a revista Veja quer forçar a condenação prévia de um cidadão, ela faz lobby para forçar a condenação de Dirceu. Ela está tolhendo Zé Dirceu do seu direito de ir e vir, de sua privacidade, e está devassando a sua vida privada de maneira caluniosa e ilegal. É o caso Murdoch novamente, só que com motivação política”, afirmou o deputado.