segunda-feira, 13 de junho de 2011

Immanuel Wallerstein: O dilema político de Barack Obama

O presidente dos Estados Unidos é considerado a pessoa que individualmente tem mais poder no mundo moderno. Para seu pesar, o que Barack Obama está aprendendo é que tem ainda um enorme poder de fazer dano. Mas que virtualmente não conta com poder para fazer o bem. Penso que se dá conta disso, e não sabe o que fazer. O fato é que tem muito pouco a fazer a esse respeito.

Por Immanuel Wallerstein no La Jornada
Tomemos sua maior preocupação particular neste momento – a segunda revolta árabe. Ele não a iniciou. É óbvio que quando começou, essa revolta o pegou de surpresa, assim como a quase todo mundo. Sua resposta imediata foi pensar, corretamente, que implicava graves perigos para a já de per si cambaleante ordem geopolítica na região. Os Estados Unidos buscaram de todas as maneiras possíveis limitar o prejuízo, manter sua própria posição e restaurar a “ordem”. Não se pode dizer que os Estados Unidos tenham tido muito êxito. Todos os dias e de todas as formas a situação se tornou mais desordenada e ficou fora do controle dos Estados Unidos.

Barack Obama é, por convicção e personalidade, o centrista por excelência. Busca o diálogo e o acordo entre os “extremos”. Atua com a devida reflexão, e toma as decisões importantes com prudência. Está a favor de uma mudança ordenada, lenta — que não ameace o sistema básico do qual é não só uma mera parte mas a figura central e o jogador individual mais poderoso.

Hoje ele está constrangido, de todos os lados, a assumir seu papel. Não obstante, continua tentando jogar. Obviamente se diz a si mesmo: Que mais eu poderia fazer? O que ocorre como resultado disso é que os outros jogadores (incluídos aqueles que alguma vez foram seus aliados subordinados) o desafiam abertamente, e sem vergonha, e desse modo lhe subtraem ainda mais poder.

Netanyahu se dirige ao Congresso estadunidense, que com entusiasmo aplaude interminavelmente seu perigoso despautério em favor de seus próprios interesses, como se fora a reencarnação de George Washington. Isto foi uma bofetada direta na cara de Barack Obama, apesar de que ele, ao falar perante o American-Israel Public Affairs Commitee, já tinha retirado seu tímido intento de propor o regresso às fronteiras de 1967 como base de uma solução do conflito entre israelenses e palestinos.

O governo saudita deixou muito claro que fará tudo o que estiver a seu alcance para defender os regimes existentes no mundo árabe e está enojado diante do fato de que Obama permita em algumas ocasiões falar na linguagem dos “direitos humanos”. O governo do Paquistão disse com muita clareza a Obama que, se ele tentar ser duro, eles contarão com um amigo mais firme na China. Os governos russo, chinês e sul-africano deixaram claro a Obama que, se os Estados Unidos tentarem convocar o Conselho de Seguraça contra a Síria, não terão seu apoio e provavelmente não possa sequer obter a maioria simples de votos: ecos do fracasso de Bush em 2003 com a segunda resolução sobre o Iraque. No Afeganistão, Karzai está chamando a Otan para que ponha fim aos ataques com os chamados voos não tripulados ou drones. E o Pentágono está sentindo a pressão para sair do Afeganistão com base no argumento de que é muito custoso continuar ali.

Se alguém pensasse que a debilidade estadunidense é um assunto exclusivo do Oriente Médio, demos uma olhada em Honduras. Os Estados Unidos respaldaram virtualmente o golpe contra o agora ex-presidente Zelaya. Devido ao golpe, Honduras foi suspenso da Organização dos Estados Americanos (OEA). Os Estados Unidos lutaram duramente para fazer com que se restaurasse a Honduras a condição de membro pleno da OEA com base na noção de que o novo presidente foi formalmente eleito. Os governos latino-americanos resistiram a isso porque ainda não tinha sido permitido a Zelaya retornar ao país apesar de que tinham sido anuladas todas as falsas acusações contra ele.

Que ocorreu, então? A Colômbia (supostamente o melhor amigo dos Estados Unidos na região) e a Venezuela (supostamente a Nêmesis dos Estados Unidos na América Latina) se uniram e juntos acordaram com o governo hondurenho vigente que Zelaya regressasse incondicionalmente. A secretária de Estado Clinton sorriu sombria diante deste rechaço de fato da diplomacia estadunidense.

Finalmente, Obama vive problemas com o Congresso em relação à guerra com a Libia. De acordo com a Lei de Poderes em Tempo de Guerra, Obama poderia mobilizar tropas para a Líbia (sem o respaldo explícito do Congresso) apenas durante 60 dias. Já se passaram os 60 dias e o Congresso ainda não fez nada. Continuar com a ação na Libia é claramente ilegal, mas Obama não conseguiu respaldo do Congresso. Contudo, Obama continua comprometido com as ações na Líbia. E o envolvimento estadunidense poderia crescer.

Enquanto isso, Obama se concentra na reeleição. Tem boas possibilidades de obtê-la. Os republicanos se deslocam ainda mais à direita, e politicamente não há dúvida de que se estão excedendo. Porém, uma vez que se reeleja, o presidente dos Estados Unidos terá menos poder do que hoje. O mundo se move a passo rápido. Em um mundo com tantas incertezas e atores imprevisíveis, a mais perigosa “arma solta” são os Estados Unidos.

Fonte: Cubadebate
Traduzido do espanhol

Noam Chomsky: O ataque contra a força de trabalho

Na maior parte do mundo, o dia 1º de Maio é um dia feriado dos trabalhadores internacionais, ligado à amarga luta dos trabalhadores americanos do século 19 pela jornada de trabalho de oito horas. O 1º de Maio passado leva-nos a uma sombria reflexão.

Há uma década, foi cunhada pelos ativistas laborais italianos em honra do 1º de Maio uma palavra útil: “precariedade”. Referia-se inicialmente à cada vez mais precária existência da gente trabalhadora “à margem” – mulheres, jovens e imigrantes.

Logo de seguida, ela foi alargada e aplicada ao crescente “precariado” no núcleo da força laboral, o “proletariado precário” que sofria os programas de “dessindicalização”, flexibilização e desregulação, que formam parte do ataque contra a força de trabalho em todo o mundo.

Nessa altura, inclusive na Europa, havia uma preocupação crescente sobre aquilo a que o historiador do trabalho Ronaldo Munck, citando Ulrich Beck, chama a “brasileirização do Ocidente” “(… )a proliferação do emprego temporário e sem segurança, a descontinuidade e relaxamento das normas nas sociedades ocidentalizadas, que até então tinham sido bastiões do pleno emprego”.

A guerra do Estado e das corporações contra os sindicatos estendeu-se recentemente ao setor público, com legislação proibindo acordos coletivos e outros direitos elementares.

Mesmo no Massachusetts, a Câmara de Representantes favorável aos trabalhadores votou, pouco antes do 1º de Maio, uma acentuada restrição aos direitos dos polícias, dos professores e de outros empregados municipais quanto à negociação sobre a assistência à saúde - assunto crucial nos Estados Unidos, com o seu disfuncional e altamente ineficiente sistema privatizado de cuidados de saúde.

O resto do mundo pode associar o 1º de Maio com a luta dos trabalhadores americanos pelos seus direitos básicos, mas nos Estados Unidos essa solidariedade encontra-se suprimida a favor de um dia feriado reacionário.

O dia 1º de Maio é o “Dia da Lealdade”, assim designado pelo Congresso em 1958 para a “reafirmação da lealdade aos Estados Unidos e pelo reconhecimento do legado americano de liberdade”.

O presidente Eisenhower proclamou, além disso, que o Dia da Lealdade seja também o Dia da Lei, anualmente reafirmado com o içar da bandeira e a dedicação à “Justiça para Todos”, às “Fundações da Liberdade” e à “Luta pela Justiça”.

O calendário dos Estados Unidos tem o Dia do Trabalho em setembro, em celebração do regresso ao trabalho depois de férias que são mais curtas que noutros países industrializados.
A ferocidade do ataque contra as forças laborais pela classe dos negócios dos EUA está ilustrada pelo fato de Washington se ter abstido durante 60 anos de ratificar o princípio central da lei internacional do trabalho que garante a liberdade de associação.

O analista de leis Steve Charnovitz chama a isso de “tratado intocável da política dos Estados Unidos” e observa que nunca houve um debate sobre este assunto.

A indiferença de Washington em relação a algumas convenções apoiadas pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) contrasta marcadamente com a sua preocupação em fazer respeitar os direitos das corporações aos preços de monopólio, ocultos sob o manto do “livre comércio”, um dos orwellismos contemporâneos.

Em 2004, a OIT informou que “as inseguranças econômica e social multiplicam-se com a globalização e as políticas com ela associadas, à medida que o sistema econômico global se tornou mais instável e os trabalhadores suportam uma carga cada vez maior por exemplo através das reformas das pensões e da assistência na saúde”.

É este o que os economistas chamam o período da Grande Moderação, proclamado como “uma das grandes transformações da história moderna”, encabeçada pelos EUA e baseada na “libertação dos mercados” e, em particular, na “desregulação dos mercados financeiros”.

Este elogio ao estilo americano dos mercados livres foi pronunciado pelo editor do Wall Street Journal, Gerard Baker, em janeiro de 2007, dois meses apenas antes do sistema desmoronar e com ele o edifício inteiro da teologia econômica sobre o qual estava assente, levando a economia mundial à beira do desastre.

O descalabro deixou os Estados Unidos com níveis de desemprego real comparáveis aos da Grande Depressão e sob muitos aspectos piores ainda, porque debaixo das atuais políticas de quem manda esses empregos não regressarão, como aconteceu com os estímulos governamentais massivos durante a Segunda Guerra Mundial e nas décadas seguintes da “era dourada” do capitalismo estatal.

Durante a Grande Moderação, os trabalhadores americanos habituaram-se a uma existência precária. O aumento do precariado americano foi orgulhosamente proclamado como um fator primário da Grande Moderação que produziu um crescimento mais lento, virtual estancamento do rendimento real para a maioria da população e riqueza para além das ambições da avareza para um setor diminuto, uma fração de um por cento, na maior parte diretores executivos, gestores de fundos de cobertura e outros nessa categoria.

O sumo-sacerdote desta economia magnífica foi Alan Greenspan, descrito na imprensa empresarial como “santo” pela sua brilhante condução. Orgulhando-se dos seus êxitos, testemunhou perante o Congresso que eles dependiam de “uma moderação atípica dos aumentos das compensações (que) parece principalmente consequência de uma maior insegurança dos trabalhadores”.

O desastre da Grande Moderação foi resgatado por esforços heroicos do governo para recompensar os seus autores. Neil Barosky, ao renunciar em 30 de março como inspetor-geral do programa de resgate, escreveu um artigo revelador na seção de Op-Ed (colunas de opinião – N.T.) do New York Times acerca de como funcionava o resgate.

Em teoria, o ato legislativo que autorizou o resgate foi um compromisso: as instituições financeiras seriam salvas pelos contribuintes e as vítimas dos seus maus atos seriam compensadas de certa forma através de medidas que protegeriam o valor das casas e preservariam a propriedade das mesmas.

Parte do compromisso foi cumprido: as instituições financeiras foram recompensadas com enorme generosidade por terem causado a crise e perdoadas dos crimes descarados. Mas o resto do programa desapareceu.

Conforme Barosky escreve: “as execuções hipotecárias continuam a aumentar, com entre 8 e 13 milhões de julgamentos previstos durante a existência do programa”, enquanto “os maiores bancos são 20% maiores do que antes da crise e controlam uma parte maior da nossa economia, como nunca antes. Assumem, logicamente, que o governo os resgatará de novo, se necessário. De fato, as agências de classificação do crédito incorporam futuros resgates do governo nas suas avaliações dos maiores bancos, exagerando as distorções do mercado que lhes proporcionam uma vantagem injusta sobre as instituições mais pequenas que continuam lutando por sobreviver”.

Em poucas palavras, o programa do presidente Obama foi “uma prenda para os executivos da Wall Street” e um golpe no plexo solar para as suas indefesas vítimas.

O resultado apenas surpreende os que insistem com inalterável ingenuidade no projeto e aplicação da mesma política, particularmente quando o poder econômico está altamente concentrado e o capitalismo de Estado entrou numa nova etapa de “destruição criativa”, para usar a famosa frase de Joseph Schumpeter, mas agora com uma diferença: criativa quanto às maneiras de enriquecer e dar mais poder aos ricos e poderosos, deixando o resto livre de sobreviver como puder, enquanto vai celebrando o Dia da Lealdade e da Lei.
Por Noam Chomsky - Vermelho

PT pode acabar com eleições diretas para direção

 
O PT pode acabar com as eleições diretas para dirigentes do partido. A proposta faz parte do anteprojeto de reforma estatutária elaborado por uma comissão sob o comando do deputado Ricardo Berzoini, ex-presidente do partido.

O anteprojeto também propõe alterações em temas vitais para a vida interna partidária como o financiamento do partido em períodos fora das eleições, restrições à participação de novos filiados em eleições e a concentração nas mãos das instâncias superiores das decisões sobre candidaturas.


Foto: Arquivo/US
Proposta faz parte do anteprojeto de reforma estatutária elaborado por uma comissão sob comando de Berzoini, ex-presidente do partido

O texto será submetido a uma série de debates internos. A definição sobre as mudanças no estatuto ficarão a cargo do 4º Congresso Nacional Extraordinário do PT, marcado para setembro.

Uma das propostas mais polêmicas é sobre a forma de escolha da direção. Desde 2001 o PT é o único partido do Brasil a escolher seus dirigentes por meio de eleições diretas. O último Processo de Eleições Diretas (PED) mobilizou 500 mil filiados em todo o Brasil.

Se por um lado o PED foi uma experiência de aprofundamento da democracia partidária, por outros trouxe problemas como filiações em massa com o único intuito de criar currais eleitorais e o acirramento de disputas internas.

O anteprojeto de reforma estatutária apresenta três propostas de emenda para alterar a forma de escolha da direção. Uma delas defende o fim do PED e a eleição dos dirigentes por meio de um encontro de delegados. A segunda proposta é pela manutenção do PED e a terceira sugere eleições diretas para os diretórios municipais e zonais e indiretas para as direções estaduais e nacional.

Com o objetivo de conter as filiações artificiais, o anteprojeto propõe uma série de barreiras aos novos filiados como ampliar de um para dois anos o prazo para que novos filiados possam concorrer a eleições pelo PT.

Financiamento partidário

A reforma estatutária também prevê novas formas de financiamento das atividades partidárias. Uma delas é taxar em 1% ao mês os salários dos dirigentes. Outra é transferir para o diretório nacional toda a arrecadação, hoje a cargo dos diretórios municipais.

Além disso, a reforma sugere uma série de barreiras para a realização de prévias eleitorais. Uma das emendas estipula que para ter direito a disputar prévias o pré-candidato deve ter apoio de no mínimo 30% dos delegados ou 20% dos filiados.

Nos locais onde o PT é governo, a realização ou não de prévias será decidida pela instância partidária superior. “A decisão de ter prévia também é uma decisão política”, explicou Berzoini.Segundo ele, outro ponto importante é o aumento de 30% para 40% do número de mulheres nos cargos de direção. (Ricardo Galhardo - iG)

PCdoB quer PF em inquéritos


“Em alguns estados, o inquérito não anda. Chegou a um limite em que, há anos, correm listas de gente para morrer. Se não houver uma atitude, não conseguiremos parar isso”, disse a deputada Jandira Feghali (RJ) à Agência Brasil.

O documento oficial, protocolado na quinta-feira (9), pede que o procurador-geral da República transfira as investigações das mortes para o Superior Tribunal de Justiça. Jandira Feghali disse que o Conselho Nacional de Justiça também foi comunicado.

O grupo de parlamentares deve se encontrar ainda com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para pedir a federalização dos inquéritos policiais. Com isso, as investigações passariam para a responsabilidade da Polícia Federal (PF).

“Tem inquérito que tramita há 18 anos, 20 anos. A gente já fez de tudo. A última coisa é buscar essa apuração”, disse a deputada.

Os conflitos no campo têm gerado preocupação também do governo federal. Na semana passada, foi inciada a Operação Proteção à Vida, formada por homens da PF, Força Nacional de Segurança, Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas para ajudar a combater a violência. Foram criados, ainda, 12 grupos de trabalho no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para estudar a situação fundiária no Pará.

No fim de maio, quatro ambientalistas foram assassinados: três no Pará e um em Rondônia. Para a Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, a lista dos que estão ameaçados chega a mil pessoas, sendo que 125 correm mais riscos. (Priscilla Mazenotti - Agência Brasil)

Carta aberta à Palestina



Em 1980, uma canção que escrevi, “Another Brick in the Wall Part 2”, foi proibida pelo governo da África do Sul porque estava a ser usada por crianças negras sul-africanas para reivindicar o seu direito a uma educação igual. Esse governo de apartheid impôs um bloqueio cultural, por assim dizer, sobre algumas canções, incluindo a minha.

Vinte e cinco anos mais tarde, em 2005, crianças palestinianas que participavam num festival na Cisjordânia usaram a canção para protestar contra o muro do apartheid israelita. Elas cantavam: “Não precisamos da ocupação! Não precisamos do muro racista!” Nessa altura, eu não tinha ainda visto com os meus olhos aquilo sobre o que elas estavam a cantar.

Um ano mais tarde, em 2006, fui contratado para actuar em Telavive.
Palestinos do movimento de boicote académico e cultural a Israel exortaram-me a reconsiderar. Eu já me tinha manifestado contra o muro, mas não tinha a certeza de que um boicote cultural fosse a via certa. Os defensores palestinos de um boicote pediram-me que visitasse o território palestiniano ocupado para ver o muro com os meus olhos antes de tomar uma decisão. Eu concordei.

Sob a protecção das Nações Unidas, visitei Jerusalém e Belém. Nada podia ter-me preparado para aquilo que vi nesse dia. O muro é um edifício revoltante. Ele é policiado por jovens soldados israelitas que me trataram, observador casual de um outro mundo, com uma agressão cheia de desprezo. Se foi assim comigo, um estrangeiro, imaginem o que deve ser com os palestinos, com os subproletários, com os portadores de autorizações. Soube então que a minha consciência não me permitiria afastar-me desse muro, do destino dos palestinos que conheci, pessoas cujas vidas são esmagadas diariamente de mil e uma maneiras pela ocupação de Israel. Em solidariedade, e de alguma forma por impotência, escrevi no muro, naquele dia: “Não precisamos do controlo das ideias”.

Realizando nesse momento que a minha presença num palco de Telavive iria legitimar involuntariamente a opressão que eu estava a testemunhar, cancelei o meu concerto no estádio de futebol de Telavive e mudei-o para Neve Shalom, uma comunidade agrícola dedicada a criar pintainhos e também, admiravelmente, à cooperação entre pessoas de crenças diferentes, onde muçulmanos, cristãos e judeus vivem e trabalham lado a lado em harmonia.

Contra todas as expectativas, ele tornou-se no maior evento musical da curta história de Israel. 60.000 fãs lutaram contra engarrafamentos de trânsito para assistir. Foi extraordinariamente comovente para mim e para a minha banda e, no fim do concerto, fui levado a exortar os jovens que ali estavam agrupados a exigirem ao seu governo que tentasse chegar à paz com os seus vizinhos e que respeitasse os direitos civis dos palestinianos que vivem em Israel.

Infelizmente, nos anos que se seguiram, o governo israelita não fez nenhuma tentativa para implementar legislação que garanta aos árabes israelitas direitos civis iguais aos que têm os judeus israelitas, e o muro cresceu, inexoravelmente, anexando cada vez mais a faixa ocidental.

Aprendi nesse dia de 2006 em Belém alguma coisa do que significa viver sob ocupação, encarcerado por trás de um muro. Significa que um agricultor palestino tem de ver oliveiras centenárias ser arrancadas. Significa que um estudante palestino não pode ir para a escola porque o checkpoint está fechado. Significa que uma mulher pode dar à luz num carro, porque o soldado não a deixará passar até ao hospital que está a dez minutos de estrada. Significa que um artista palestiniano não pode viajar ao estrangeiro para exibir o seu trabalho ou para mostrar um filme num festival internacional.

Para a população de Gaza, fechada numa prisão virtual por trás do muro do bloqueio ilegal de Israel, significa outra série de injustiças. Significa que as crianças vão para a cama com fome, muitas delas malnutridas cronicamente. Significa que pais e mães, impedidos de trabalhar numa economia dizimada, não têm meios de sustentar as suas famílias. Significa que estudantes universitários com bolsas para estudar no estrangeiro têm de ver uma oportunidade escapar porque não são autorizados a viajar.

Na minha opinião, o controle repugnante e draconiano que Israel exerce sobre os palestinos de Gaza cercados e os palestinos da Cisjordânia ocupada (incluindo Jerusalém oriental), assim como a sua negação dos direitos dos refugiados de regressar às suas casas em Israel, exige que as pessoas com sentido de justiça em todo o mundo apoiem os palestinos na sua resistência civil, não violenta.

Onde os governos se recusam a atuar, as pessoas devem fazê-lo, com os meios pacíficos que tiverem à sua disposição. Para alguns, isto significou juntar-se à Marcha da Liberdade de Gaza; para outros, isto significou juntar-se à flotilha humanitária que tentou levar até Gaza a muito necessitada ajuda humanitária.

Para mim, isso significa declarar a minha intenção de me manter solidário, não só com o povo da Palestina, mas também com os muitos milhares de israelitas que discordam das políticas racistas e coloniais dos seus governos, juntando-me à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) contra Israel, até que este satisfaça três direitos humanos básicos exigidos na lei internacional.

1. Pondo fim à ocupação e à colonização de todas as terras árabes [ocupadas desde 1967] e desmantelando o muro;
2. Reconhecendo os direitos fundamentais dos cidadãos árabo-palestinianos de Israel em plena igualdade; e
3. Respeitando, protegendo e promovendo os direitos dos refugiados palestinianos de regressar às suas casas e propriedades como estipulado na resolução 194 da ONU.

A minha convicção nasceu da ideia de que todas as pessoas merecem direitos humanos básicos. A minha posição não é antisemita. Isto não é um ataque ao povo de Israel. Isto é, no entanto, um apelo aos meus colegas da indústria da música e também a artistas de outras áreas para que se juntem ao boicote cultural.

Os artistas tiveram razão de recusar-se a atuar na estação de Sun City na África do Sul até que o apartheid caísse e que brancos e negros gozassem dos mesmos direitos. E nós temos razão de recusar atuar em Israel até que venha o dia – e esse dia virá seguramente – em que o muro da ocupação caia e os palestinianos vivam ao lado dos israelitas em paz, liberdade, justiça e dignidade, que todos eles merecem.

17 de Março de 2011

G8: um esquema previsível

A recente cúpula do G-8 em Deauville, França, apresentou poucas novidades. Seus protagonistas se aferraram fielmente ao esquema repetitivo de todos seus encontros prévios: retórica democrática e humanitária vazia de conteúdo, por um lado, e aprofundamento das políticas das políticas neoliberais, pelo outro.

No entanto, a fidelidade a um esquema invariável não foi suficiente para dissimular o enfraquecimento progressivo do G-8. Sua perda de protagonismo como instrumento para gerir a ordem mundial em benefício do G-20 já é inquestionável, como resultado das reconfigurações da geopolítica e da economia global, do declive dos Estados Unidos e da União Europeia e a ascensão dos países emergentes.

A agenda de Deauville esteve marcada em particular pelas revoltas do mundo árabe, cujo desenvolvimento desestabiliza os alicerces da economia do petróleo e debilita enormemente os mecanismos de dominação imperialistas da região. O objetivo do G-8 não é outro a não ser tentar encaminhar os processos em curso na direção menos prejudicial para os interesses ocidentais e recuperar a iniciativa através da intervenção na Líbia. Em meio de grandes declarações sobre seu "compromisso para defender as reformas democráticas em todo o mundo e responder às aspirações de liberdade” e do anúncio de ajudas economias de 40 bilhões de dólares, o chamado "compromisso de Deauville” quer manter a continuidade das políticas neoliberais, dos planos de austeridade e do papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) na região, o impacto social cujas receitas são já conhecidas.

Sob o choque do acidente de Fukushima, o G-8 teve também em sua agenda a questão nuclear. Por detrás da retórica sobre "promover os níveis mais altos de segurança nuclear em todo o mundo” e de aumentar a cooperação internacional para reforçar "a cultura da segurança em todo o planeta e melhorar a transparência”, subsiste a firme vontade de não prejudicar os interesses do lobby nuclear, cujos planos para relançar a energia nuclear como alternativa à crise do petróleo têm sido prejudicados após o acidente japonês. A verborragia sobre a segurança nuclear esconde, como assinala o sociólogo Michael Löwy, que dita indústria "traz a catástrofe como a nuvem anuncia a tormenta”.

Paralelamente, apesar de que a declaração final da cúpula afirma que "enfrentar a mudança climática é uma prioridade global”, o G-8, continuando a serie de reuniões do COP15 e 16, em Copenhague e em Cancún, avaliza uma política de "ecorretoques” cosméticos que rechaça a adoção de medidas que incidam no coração do atual modelo de produção, distribuição e consumo.

O debate sobre a Internet foi outro tema estrela em Deauville. E, de novo, o divórcio entre retórica e realidade salta à vista. A defesa da "internet como instrumento de promoção dos direitos humanos e da participação democrática em todo o mundo” soma como proclama vazia de conteúdo à luz das políticas concretas impulsionadas pelos membros do G-8 acerca da rede. A reunião prévia à cúpula entre os chefes de Estado com os gigantes empresariais do setor, o chamado eG8, demonstra a aliança entre governos e interesses privados. Garantir a rede como um espaço sobre pára a difusão de conhecimentos não passa por aí, como os ciberativistas bem sabem.

Apesar de que não está contemplado na agenda oficial, a chegada ao velho continente dos ventos que eletrizaram ao mundo árabe nos últimos meses percorreu também a cúpula de Deauville. Quem sabe desde seu posto, para os líderes do G-8, os acampamentos em Sol ou Plaza Catalunya ainda parecem pouco significativos; porém, sem dúvida alguma, são bem conscientes da ameaça de que prenda a mecha da contestação social em uma Europa golpeada pelos planos de austeridade. Milhares de pessoas se mobilizaram na Grécia durante os dias da cúpula, continuando a longa série de protestos que sacodem o país há meses; porém, importando o modelo de ocupação de praças e acampamentos do movimento no Estado Espanhol. Um par de dias após o conclave, vários milhares de pessoas tentavam ocupar e acampar na praça da Bastilha, em Paris. Algo se move por debaixo...

A "rebelião dos indignados”, no Estado Espanhol, é a ponta do iceberg de um mal estar social acumulado que começa a transformar-se em mobilização. Uma primeira sacudida social rumo a uma previsível nova onda de mobilizações. Longe de ser um movimento circunscrito ao nosso país, as crescentes demonstrações de solidariedade internacional e de tentativas de emulação em outros lugares indicam que podemos estar diante do início de uma nova fase internacional de radicalização e de mobilização contra as medidas de ajuste. Na memória dos membros do G-8 deve estar ainda a ascensão fulgurante do movimento antiglobalização há uma década que pôs em cheque às instituições internacionais. Deauville aconteceu, precisamente, poucos meses antes do décimo aniversário da histórica cúpula do G-8, em Gênova, cenário de fortes mobilizações que marcaram o momento de máximo apogeu da contestação social a esse antidemocrático clube de países ricos.

Da mesma forma que naquela época, o grande desafio do presente é internacionalizar o renascimento da contestação social e coordenar as múltiplas vozes da indignação. (Josep Maria Antentas y Esther Vivas- Adital)

A carta dos blogueiros da Bahia

Por Eliane Costa, no sítio Vermelho:

Depois de dois dias de intenso debate, blogueiros, tuiteiros, produtores de conteúdo para a rede mundial de computadores e ativistas pela democratização da mídia aprovaram, no início da noite desta sábado (11/6), a criação de uma comissão para encaminhar a fundação de uma Associação dos Blogueiros Progressistas da Bahia.

Além de aprovar a Carta dos Blogueiros Progressistas da Bahia, que traz as principais deliberações do Encontro Estadual dos Blogueiros Progressistas, foi decidido apoiar o texto “Plataforma livre para autonomia da blogosfera brasileira”, que será encaminhado ao Encontro Nacional.

No encontro, que também contou com transmissão online em tempo real, foram realizadas 248 inscrições pela internet, além das que ocorreram no local. No dia de abertura, sexta-feira (10/06), 142 pessoas estiveram presentes, e outras 342 acompanharam o evento online. No sábado (11/06), foram registrados 278 participantes online pela manhã e 149 pela tarde.

Confira a Carta dos Blogueiros Progressistas da Bahia na íntegra

“Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas – Carta da Bahia

Políticas Públicas para a Democratização da Mídia

A Bahia foi pioneira ao realizar em 2008 a Conferência Estadual de Comunicação, que apontou a necessidade de políticas públicas voltadas para a democratização da mídia e baseadas na comunicação como um direito humano. Avança com a criação do Conselho Estadual de Comunicação, recentemente aprovado na Assembléia Legislativa, com caráter deliberativo quanto às políticas públicas para o setor. A Secretaria de Comunicação do Governo da Bahia é outra conquista. Agora se realiza o 1º Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas, reforçando a luta pela democratização da mídia.

Os blogueiros progressistas da Bahia se unem em torno das seguintes bandeiras:

- Novo marco regulatório legal no país que contemple as transformações da comunicação no Brasil e no mundo.

- Regulamentação dos artigos da Constituição Federal que impedem a concentração dos meios de comunicação, estimulam a produção independente e regional, além de fortalecer o sistema público de comunicação.

- Não utilização de recursos públicos para o aprofundamento da concentração midiática no país.

- Defesa da neutralidade na rede e de plataformas livres de produção e distribuição de informação.

- Universalização da Banda Larga como um direito e um bem público. Apoio à “Campanha Banda Larga, um direito seu”. O Plano Nacional de Banda Larga é uma iniciativa positiva do Governo Federal e um instrumento de inclusão digital, mas necessita aprimoramento para explorar toda a potencialidade da rede mundial de computadores.

- Revisão dos critérios de distribuição das verbas publicitárias dos órgãos públicos. Além dos critérios mercadológicos devem ser considerados mecanismos visando fortalecer a diversidade e a pluralidade. A verba publicitária deve ser usada também para estimular a difusão dos veículos alternativos e dos movimentos sociais. Criação de uma linha de publicidade pública para blogs.

- Estímulo à rádiodifusão comunitária e simplificação de sua regularização.

- Implementação de políticas públicas de incentivo à blogosfera e à diversidade informativa no país.

- Indicação de um representante dos blogueiros progressistas para a representação da mídia digital no Conselho de Comunicação.

- Apoio aos fóruns populares e de movimentos sociais, em especial aos unitários, voltados para a defesa da democratização da mídia.

- Criação da Associação Estadual de Blogueiros Progressistas.

- Realização de Encontro Anual de Blogueiros Progressistas, produtores de conteúdo na internet e participantes de redes sociais.

- Criação de uma Central Nacional de Associações de Blogs Progressistas.

Os blogueiros progressistas da Bahia e sua associação utilizam, difundem e defendem o uso de plataformas abertas para o desenvolvimento de suas atividades e comunidades na rede mundial de computadores.

Salvador, 11 de junho de 2011.

ORTODOXIA TREME : OBAMA QUER UM BANCO ESTATAL COMO O BNDES

Diante de uma crise que não cede, mesmo depois de o governo despejar US$ 1,3 trilhão no metabolismo dos mercados, retidos, em boa parte, nos cofres da banca privada --que prefere investir em títulos públicos ou especular nas bolsas de commodities a financiar a demanda e o  investimento-- o presidente Barack Obama cogita agora criar um banco de desenvolvimento estatal, semelhante ao BNDES brasileiro. A intenção é ter uma ferramenta contracíclica , induzindo investimentos em infraesterutura para injetar algum oxigênio à atividade econômica. A crise e sua longa convalescência evidenciaram o custo elevado do desmonte do aparato público promovido por três décadas de neoliberalismo nos EUA, iniciado com Reagan, em 1981, passando por Clinton nos anos 90 até o seu esfarelamento completo com Bush. Em 2007/2008, quando os mercados entraram em parafuso com a crise das sub-primes, o governo não dispunha de mecanismos para se contrapor à lógica pró-cíclica, sobretudo das finanças, que agem como manada, exacerbando períodos de alta e agravando as dinâmicas recessivas. A reação de Obama , algo tardia, mas sobretudo amesquinhada pela resistência republicana que deseja impor limite acanhados à instituição - no ano passado, por exemplo,  o BNDES concedeu US$ 96,32 bilhões em empréstimos, 3 vezes mais que o BID  controlado pelos EUA, com US$ 28,8 bi-- traz importantes lições ao Brasil. Um dos maiores acertos do governo Lula foi ter preservado e expandido o fôlego do sistema financeiro público que permitiu ao país resistir e reverter a espiral recessiva  e voltar a crescer. Entre 2008 e 2010, quando a banca privada deixou o país na mão criando uma crise de crédito, o BNDES  aumentou sua fatia no financiamento produtivo  de 9,4% para 22,5%  O dispositivo midiático demotucano fez fogo e criticou as tendências estatizantes do empréstimo público subsidiado ( a taxa de juro do BNDES é de 6% contra Selic de 12,25%). A intenção de Obama agora  reafirma a relevancia desse ferramental num mundo onde nações se tornam reféns da incerteza financeira, que imobiliza governos e partidos desprovidos de instrumentos para enfrentá-la. O PT e o governo Dilma devem resistir ao canto da sereia que volta a demonizar o papel do Estado na economia e a dourar a pílula das privatizações como panacéia de eficiência.
(Carta Maior; 2º feira,13/06/ 2011)

Com Gleisi e Ideli, Dilma põe mulheres para o centro do governo

Fatia feminina da Esplanada sobe para 10 cargos, faltando só um para presidenta cumprir promessa de dar 30% das vagas a mulheres


Bem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisou: “As mulheres estão tomando conta de tudo”. A declaração, dada ontem em Curitiba, preconizava a escolha da presidenta Dilma Rousseff por mais uma mulher no primeiro escalão. Com a nomeação da nova chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Dilma aumentou para 10 o número de mulheres no ministério. Ao transferir Ideli Salvatti (PT-SC) da Pesca para as Relações Institucionais, ampliou a participação das mulheres no chamado núcleo duro do governo.
Ex-senadora e atual ministra da Pesca, Ideli teve seu nome confirmado para a pasta de Relações Institucionais nesta sexta-feira, no lugar de Luiz Sérgio (PT-RJ). Com a decisão por Ideli, Dilma ignorou os pedidos de PT e PMDB, que tinham preferência por Cândido Vaccarezza (PT-SP). Já Gleisi foi anunciada na última quarta-feira como substituta do ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci (PT-SP).
Com as novas nomeações, Dilma reforça a promessa repetida sucessivamente durante a campanha eleitoral em 2010 de dar prioridade às mulheres na montagem da administração. O tamanho da equipe feminina de Dilma supera a fatia de mulheres nomeadas no primeiro ministério de Lula em 2003. Entre elas, a própria Dilma na pasta de Minas e Energia. Dilma havia prometido compor 30% do ministeriado, ou 11 pastas, com mulheres. Ainda falta uma.

Conheça o time feminino de Dilma:
 
Foto: AE
Gleisi exercia seu 1º mandato no Senado

Gleisi Hoffmann (Casa Civil)
Formada em Direito na Faculdade de Curitiba, a senadora Gleisi Hoffmann, de 45 anos, é casada com o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo. Hoje em seu primeiro mandato eletivo, a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, foi secretária de Estado no Mato Grosso do Sul e secretária de Gestão em Londrina. Fez parte da equipe de transição do governo Lula e diretora da Itaipu Binacional. Petista histórica, a senadora iniciou sua carreira política no movimento estudantil, na União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas e Grêmio Estudantil do Cefet na capital paranaense. Também fez parte da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). Governista radical no Senado, Gleisi apoiou o Código Florestal proposto pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Conhecida nos corredores do Congresso pela beleza, Gleisi rejeitou o rótulo de musa em uma entrevista concedida ao iG em abril deste ano. "Não sou musa do Senado. Sou uma mulher que se cuida", disse. Até ser nomeada, Gleisi exercia seu primeiro mandato de senadora.

Foto: AE
Ideli já comandou a bancada petista no Senado e disputou o governo de Santa Catarina

Ideli Salvatti (Relações Institucionais)
Ex-senadora e ex-líder do PT e do governo no Congresso, Ideli foi ministra da Pesca de Dilma e, na segunda-feira, tomará posse da pasta de Relações Institucionais. Com formação em Física pela Universidade Federal do Paraná, militou em movimentos de professores e acabou ganhando projeção ao integrar em várias ocasiões a direção do PT de Santa Catarina. O primeiro cargo eletivo que conquistou foi o de deputada estadual, em 1994. Em 2002, tornou-se a primeira mulher a se eleger senadora pelo Estado de Santa Catarina. Na Casa, acabou se firmando como líder da bancada petista a partir de 2006. Três anos depois, assumiu a liderança do governo no Congresso. Recentemente, diante das denúncias que tiraram o senador Gim Argello (PTB-DF) da relatoria do Orçamento de 2011, a então senadora chegou a ser indicada para preencher a vaga. A indicação para o Ministério da Pesca, entretanto, levou a senadora a mudar os planos e repassar a relatoria a sua colega de partido na época, Serys Slhessarenko (MT).



Miriam Belchior (Planejamento)
Primeira mulher a ser confirmada no novo governo, Miriam Belchior é ministra do Planejamento, em substituição ao atual ministro da Comunicações, Paulo Bernardo. Coordenadora do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ela se destacou na condução do projeto que se transformou em uma das principais bandeiras da campanha presidencial petista. Além de preencher os quesitos técnicos desejados por Dilma para a função, Miriam também ajuda a atender às demandas do PT paulista, em especial da região do ABC, berço político do ex-presidente Lula. Ela foi mulher do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002. Com bom trânsito no partido, Miriam também já atuou no programa Bolsa Família, outra bandeira do governo Lula. Ajudou a comandar a integração de projetos sociais consolidados no programa.
Foto: Agência Estado
Helena segue rumo semelhante ao do pai

Helena Chagas (Comunicação Social)
Responsável por comandar a equipe de imprensa na campanha presidencial de Dilma e no governo de transição, a jornalista Helena Chagas ocupava até abril de 2010 a diretoria de Jornalismo da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), criada no governo Lula. Substituindo Franklin Martins na Secretaria de Comunicação Social (Secom), trilhou boa parte de sua carreira na grande imprensa. Na televisão, Helena atuou no SBT e, antes disso, na Globo. Também comandou o jornal O Globo em Brasília. Ao lado do jornalista Tales Faria, assinou o Blog dos Blogs no iG. Ao assumir a função no governo, Helena, que se formou pela UnB,  segue uma trajetória semelhante à de seu pai, o jornalista Carlos Chagas. Ele exerceu o cargo de secretário de Comunicação da Presidência da República durante o governo de Costa e Silva (1967-1969).
 
Foto: Agência Estado
Ministra é ligada ao PT gaúcho

Maria do Rosário (Direitos Humanos)
Representante do PT gaúcho, a deputada Maria do Rosário iniciou sua militância no PC do B. Escolhida para comandar a Secretaria de Direitos Humanos, ela assumiu em 2003 seu primeiro mandato na Câmara, posto para o qual se reelegeu em 2006. Ocupou várias posições na direção nacional do PT. Em 2005, em meio à crise do mensalão, colocou-se como uma das candidatas à presidência nacional do partido pela corrente Movimento PT, grupo que integra dentro da sigla. Perdeu o posto para o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP). Maria do Rosário representou o PT também nas eleições municipais de 2008, quando disputou a Prefeitura de Porto Alegre. Embora tenha conseguido levar a eleição para o segundo turno, terminou o pleito  derrotada por José Fogaça (PMDB).
Foto: Agência Câmara
Iriny Lopes foi membro de CPIs

Iriny Lopes (Políticas para Mulheres)
Aos 54 anos, Iriny Lopes (PT-ES) deixou seu terceiro mandato como deputada federal, cargo que conquistou pela primeira vez em 2002, para assumir o comando da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres, um dos órgãos do governo que têm status de ministério. Além de ter integrado o Conselho de Ética da Câmara, foi membro de CPIs como a do Banestado e das Escutas Telefônicas Clandestinas, da qual foi relatora. Indicada pelo PT para integrar a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, a deputada também teve atuação nas negociações sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). O projeto foi um dos focos de polêmica durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deve voltar a ser discutido durante a gestão de Dilma.
 
Foto: AFP
Ministra tem forte apoio do setor

Izabella Teixeira (Meio Ambiente)
De perfil técnico e com bom trânsito no setor, a ministra do Meio Ambiente assumiu a pasta em abril de 2010, em substituição ao então ministro Carlos Minc, que deixou o governo para disputar uma vaga de deputado no Rio de Janeiro. Nascida em Brasília, ela possui formação em Biologia. A ministra possui ainda mestrado em Planejamento Energético e doutorado em Planejamento Ambiental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).  Izabella preenche parte da cota de técnicos prometida por Dilma no ministério. Funcionária de carreira, ela acumula também passagens pelo Ibama. Ainda assim, ela é ligada politicamente a Minc, que acompanha desde os tempos em que ambos estavam na Secretaria do Meio Ambiente no governo do Rio de Janeiro.
Foto: Agência Estado
A nova ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello

Tereza Campelo (Desenvolvimento Social)
Ex-coordenadora de Projetos Estratégicos da Casa Civil, Tereza Campelo comanda o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. A pasta é considerada estratégica por abrigar o programa Bolsa Família, menina dos olhos do governo na área social. Tereza é ligada ao PT gaúcho, assim como a própria presidenta eleita. Sua carreira foi construída em boa parte em administrações petistas no Rio Grande do Sul.  Economista formada pela Universidade Federal de Uberlândia, Tereza é casada com o também petista Paulo Ferreira, que comandou a Secretaria de Finanças do PT logo após a eclosão do escândalo do mensalão. Ao assumir, Tereza substituiu Márcia Lopes, irmã do  ministro Gilberto Carvalho e na época interina do Desenvolvimento Social. 



Ana de Hollanda (Cultura)
A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, é filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda e irmã de Chico Buarque. Foi secretária de Cultura em Osasco e diretora do Centro de Música da Funarte. Aos 62 anos, a carioca acumula vasta experiência nos palcos. Iniciou sua carreira artística na adolescência, gravou três discos e fez diversos espetáculos teatrais. Além de cantora e atriz, a ministra é escritora. Em menos de seis meses à frente da pasta da Cultura, Ana de Hollanda já enfrentou duas crises. A primeira girou em torno do anteprojeto que modifica a Lei de Direitos Autorais e a segunda veio à tona quando o jornal O Estado de S.Paulo revelou que a ministra vinha adotando a rotina de marcar compromissos oficiais às sextas e segundas-feiras fora de Brasília - principalmente no Rio de Janeiro, onde tem imóvel próprio - e receber a compensação financeira não só pelos dias de trabalho fora da capital federal como pelos sábados e domingos de folga. A ministra devolveu as diárias e se manteve no cargo.
 
Foto: Agência Brasil
Luiza Bairros tem sólida formação acadêmica e atuação política na área de direitos raciais

Luiza de Bairros (Igualdade Racial)
A ministra-chefe da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Helena de Bairros, é mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e cursou doutorado no exterior, na Sociologia pela Michigan State University. Luiza foi secretária de Promoção da Igualdade Racial no governo do Estado da Bahia. Gaúcha, ela se mudou para a Bahia em 1979, após ter tido contato com o Movimento Negro Unificado, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ao longo de sua trajetória política, a ministra atuou no em iniciativas como o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), na preparação e acompanhamento da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo. Ela também foi integrante da equipe do  Ministério do Governo Britânico para o Desenvolvimento Internacional e trabalhou na pré-implementação do Programa de Combate ao Racismo Institucional para os Estados de Pernambuco e Bahia.

Fonte: Nara Alves, iG

Um golpe rasteiro do capital contra o trabalho no Congresso

A aprovação do Projeto de Lei que escancara a terceirização no país (PL nº 4330/04) – pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público (CTASP) da Câmara Federal na quarta-feira (8) – representa uma séria ameaça contra os direitos da classe trabalhadora brasileira, conquistados ao longo de mais de um século de lutas.

A proposta, do deputado capitalista Sandro Mabel (PR-GO), proprietário da empresa de biscoito Mabel, estende a terceirização para as chamadas atividades-meio, revogando norma do TST que limita a terceirização às atividades-fim. Permite a subcontratação de atividade especializada, o que é considerado uma quarteirização, e ainda determina que a empresa contratante seja responsável apenas subsidiariamente pelos direitos do trabalhador terceirizado.

O fato surpreendeu as centrais sindicais, que não só repudiam o projeto Mabel como também estavam elaborando em parceria com o Ministério do Trabalho uma nova proposta sobre o mesmo tema, cujo conteúdo é oposto ao do empresário, pois visa restringir a terceirização e estabelecer a responsabilidade solidária da empresa contratante em relação às obrigações trabalhistas.

A responsabilidade subsidiária é limitada – o terceirizado só pode cobrar direitos trabalhistas da empresa contratante depois que forem esgotados todos os bens da empresa de prestação de serviços. Diferentemente, pela responsabilidade solidária a empresa contratante e a terceirizada seriam responsáveis na mesma medida perante a Justiça.

Além disto, os sindicalistas reivindicaram do presidente da Câmara Federal, Marco Maia (PT-RS), a criação de uma comissão especial para debater o assunto. E foram atendidos.
Por estas e outras, os deputados federais do PCdoB Assis Melo (RS) e Daniel Almeida (BA), ambos operários e sindicalistas, encaminharam recurso ao Plenário da Câmara exigindo a anulação da votação na CTASP, caracterizada por alguns sindicalistas como um golpe rasteiro do capital contra o trabalho no Congresso Nacional.

Uma vez que já foi criada uma comissão especial para analisar o tema – cuja relevância política, social e econômica é indiscutível – não se justifica a precipitação da Comissão do Trabalho, que se comporta, neste caso, como uma autêntica comissão do capital.

No Brasil, conforme denunciam os trabalhadores e muitos especialistas, a terceirização é sinônimo de precarização. Não passa de uma fraude a que o empresariado recorre para burlar a legislação trabalhista, subtrair direitos e aumentar o grau de exploração da classe trabalhadora, que já é um dos mais altos do mundo.

Estudos do Dieese revelam que o trabalhador terceirizado recebe, em média, o equivalente a um terço do que ganha o contratado de forma direta. Além de ser tratado como um assalariado de “segunda classe” (dividindo efetivamente os trabalhadores), ele não goza os benefícios consagrados através de acordos e convenções coletivas e geralmente vê seus direitos vilipendiados.

"Do jeito que está o projeto, tudo pode ser terceirizado”, afirma o deputado Vicentinho (PT-SP), referindo-se à proposta do capitalista Mabel, que pode significar a desregulamentação das relações trabalhistas e mesmo o fim do trabalho formal. É o sonho recorrente do capital, que igualmente orientou o projeto de reforma sindical de FHC, que Lula arquivou, e a chamada Emenda 3, vetada pelo ex-presidente de origem operária.

A manifestação do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, enaltecendo a aprovação do PL nº 4330/04, evidencia o caráter de classe da nefasta iniciativa. Andrade, um conservador neoliberal, alega que a terceirização sem peias vai “ampliar a competitividade” da indústria nacional. É uma versão da surrada e falsa teoria neoliberal segundo a qual a depreciação do trabalho, com a elevação do grau de exploração dos assalariados, é indispensável para o desenvolvimento. A história sugere o contrário.

A valorização do trabalho ao longo dos governos Lula – com aumento real do salário mínimo, redução da taxa de desemprego, criação de 15 milhões de empregos formais e legalização das centrais sindicais – foi fundamental para fortalecer o mercado interno, estimular o crescimento econômico e suavizar os efeitos da crise mundial exportada pelos EUA.

A batalha no Congresso Nacional contra o PL capitalista do empresário Mabel e pela regulamentação rígida da terceirização é uma expressão política da velha luta de classes que, confirmando a teoria marxista, segue sendo a principal força motriz da história. É preciso intensificar a mobilização social para que seu desfecho esteja de acordo com os interesses da classe trabalhadora, que melhor correspondem aos interesses nacionais e ao desenvolvimento econômico.

A precarização neoliberal das relações trabalhistas certamente serve ao capital e ao capitalismo, na medida em que exacerba a espoliação dos despossuídos e amplia os lucros das empresas, mas não está em sintonia com os interesses maiores da nação, é nociva ao mercado interno e, por consequência, ao desenvolvimento econômico.

O golpe na Comissão do Trabalho mostra que, embora o neoliberalismo tenha sido derrotado nas urnas, mais de uma vez, é prematuro decretar sua morte, pois continua firme, forte e influente no Congresso Nacional, onde mais de 50% dos deputados são empresários, segundo levantamento do Diap. Isto se explica em boa medida pelo custo excessivo das campanhas eleitorais e a forma (privada) de seu financiamento. Aos trabalhadores, que também têm seus representantes no Legislativo, resta o caminho da mobilização e pressão popular para impedir o retrocesso das relações sociais. (Editorial do Vermelho)

Entrevista: ALICE PORTUGAL




Tribuna – O PCdoB terá fôlego para alçar o primeiro voo solo sem o PT?
Alice Portugal – O PCdoB terá sim condições porque nós somos um partido com uma marca histórica, somos a mais antiga legenda em exercício político no Brasil, temos uma clareza muito grande sobre a importância das frentes, diga-se de passagem, em função de frentes amplas, nós conseguimos sobreviver às ditaduras que o Brasil já teve no século XX e à última ditadura, que terminou na década de oitenta (1980) no Brasil. Nós prezamos muito o projeto que compartilhamos com o PT, quer seja na Bahia, com Jaques Wagner à frente, quer seja no Brasil, hoje com a presidenta Dilma Rousseff à frente, mas Salvador é uma cidade com dois turnos. Nós teremos uma atitude responsável em relação ao campo político, porque no segundo turno estaremos juntos, mas nós não podemos perder a chance de botar as nossas ideias na rua e para nós é muito importante fazer isso na Bahia, em outras cidades também, e no Brasil.

Tribuna – Seu nome já está posto para 2012. Existe algo que possa motivar uma desistência? Alice – Não. Só se houvesse um fenômeno intransponível de uma vitória anunciada da direita, do retorno do carlismo, mas esse não é o cenário. Portanto, a nossa decisão é manter a candidatura até o fim e quem tocar o coração do povo no primeiro turno, com certeza, terá o apoio dos outros.

Tribuna – O PT pode emperrar o projeto do PCdoB?Alice – Eu não acredito que o PT se posicione com este tipo de intenção porque o projeto do PT é o nosso projeto. De maneira similar, temos construído juntos no Brasil. Nós não faríamos voo hoje à condução de governar o Brasil se o PT não tivesse contado com aliados como o PCdoB, fiéis, de primeira hora. Então, eu não acredito que qualquer emperramento seja colocado sob o véu de uma retaliação contra um partido co-irmão, nós temos esse direito, especialmente quando a reforma política anuncia o fim das coligações. É uma tendência muito forte. Então, se essas coligações partidárias terminam, os partidos serão obrigados a colocar as suas chapas para proporcionais, vereadores e deputados federais e estaduais e, evidentemente, candidatos majoritários. Isso é da democracia e a evolução democrática está desenhando essa possibilidade e, portanto, o PT tem que começar a entender com naturalidade que seus aliados existem.

Tribuna - Daniel Almeida chegou a declarar à Tribuna que vão convencer  Wagner de que seu nome é a melhor opção da base. Vislumbra um recuo da candidatura petista ou isso é utópico?Alice – Não é utópico. Na verdade, é o processo de discussão política no primeiro turno. O presidente do partido (do PCdoB), Daniel Almeida, colocou essa intenção de debater com o governador, diga-se de passagem, nós fomos ao governador antes de anunciarmos a pré-candidatura para a imprensa e para a sociedade. Tamanha é a nossa atitude cortês e respeitosa para com o governador Jaques Wagner, um homem com ideias avançadas e com uma prática interessante do ponto de vista da discussão da co-participação com os partidos aliados e o que o Daniel tem dito é que a nossa candidatura, de fato, tem marcas importantes e pode ser que ela seja a candidatura que ofereça um tabuleiro de novidades para a cidade e, objetivamente, isso acontecendo, nós vamos querer o apoio do governador, o governador é de todos nós, é um governador de toda a base aliada e, se for uma candidata de um partido aliado, que lhe traga mais vantagens para o projeto geral, por que não? Por que ele tem que ficar amarrado ao candidato da sua legenda? Na verdade, ele é o governador de toda a base aliada, então vamos ver, vamos oferecer à cidade a oportunidade de conhecer nossas ideias, a nossa prática. Eu já sou uma deputada de cinco mandatos. Eu fui deputada estadual por duas vezes e sou pela terceira vez deputada federal, portanto me sinto madura e preparada, com a serenidade necessária, para colocar as minhas observações e propostas sobre a cidade e ao mesmo tempo aprender também o que a cidade nos diz.

Tribuna - Com a postura de cooptação do PT, há ameaça de ruptura futura?
Alice – Não. Não há risco nesse sentido. Nós e o PT, como se diz na gíria da política, somos primos carnais, nós somos filhos de uma mesma árvore, da mudança social, da expectativa de direitos sociais. Nós estamos no mesmo campo de maneira inexorável na política, então, eu não acredito que qualquer ruptura seja possível, há alianças estratégicas, há um compartilhamento estratégico, agora podem haver diferenças táticas, podemos estar com candidatos diferentes em alguns municípios, como já aconteceu no movimento sindical, muitas vezes tentamos em chapas opostas, mas do ponto de vista de uma responsabilidade com o que há de mais importante para nossa população, que é seu destino, marcado pela ação do Poder Executivo. Não existe possibilidade de ruptura. Pode haver diferenças, com candidaturas diferentes.

Tribuna – O vice-prefeito Edvaldo Brito anunciou na semana passada candidatura entre PTB, PCdoB e PSB. É o nome da senhora que desponta? Como é que está a conversação entre os partidos?
Alice – Esses três partidos têm promovido debates e reuniões porque entre nós há uma agregação constituída por causa do bloco parlamentar na Câmara dos Deputados. O PT aliou-se com o PMDB em bloco, não trabalham num só bloco, mas são os dois grandes partidos do Congresso Nacional e esses partidos da base aliada se agregaram até por motivo de operacionalidade parlamentar nesse bloco parlamentar PTB, PCdoB, PSB e com um diálogo muito bom com o PDT também e por força dessa nossa agregação parlamentar estamos promovendo esse debate. Nossa expectativa é que possa surgir daí, sim, uma candidatura, mas ainda não existe nada traçado para dizer: ‘olha, existe um acerto para o PCdoB ser a cabeça da chapa, o PTB vice’ ou vice-versa, ou o PSB vir também como cabeça, com nomes importantes, como tem, mas não há qualquer discussão nesse plano. O que há é agregação em função da facilidade que temos de estarmos no mesmo bloco parlamentar e estarmos conduzindo um debate, inclusive vamos começar a chamar o PT para participar.

Tribuna – O PCdoB ajudou a eleger João Henrique no primeiro mandato dele. Qual a avaliação, hoje, na oposição, do prefeito? Qual o maior erro da gestão dele?Alice – Você sabe que nós apoiamos Nelson Pelegrino e apoiamos Walter Pinheiro nessas duas últimas eleições que houve na cidade e, no segundo turno, participamos, inclusive, do governo municipal com dois quadros importantes, Olívia Santana e Ney Campello na Secretaria de Educação, trazendo frutos importantes para a educação da cidade. A minha opinião é que, infelizmente, essa alternância das agregações políticas feitas pelo prefeito, a falta de um projeto definido para a cidade, as atitudes de uma certa dependência de determinados setores da economia da cidade geraram uma despersonalização do projeto dele. Então, hoje, o projeto que ele representa é um projeto superado, é um projeto que não dá respostas às necessidades da cidade, avança por áreas perigosas do ponto de vista do futuro financeiro da cidade, em relação a essa questão da mobilidade urbana, do desenvolvimento das construções civis na cidade, o uso do solo, enfim.

Tribuna – A senhora colocou a questão da mobilidade urbana. É possível reverter essa situação que beira o caos hoje em Salvador?Alice – Tem que se lutar por isso porque, senão nós declararemos nossa cidade inviável. Então, é preciso lutar por isso. O primeiro debate que nós fizemos sobre mobilidade, ouvimos o presidente do IAB, o arquiteto Daniel Colina. O próprio Ney Campello, à frente da Secretaria Especial da Copa (Secopa), tem tratado, visitado cidades com a visão da estrutura de desenvolvimento de Salvador, foi à África do Sul. Nós temos que trabalhar de maneira muito ampla. A ideia do intermodal, eu tenho achado ela muito mais sensata. Você precisa ter metrô em uma cidade de quase três milhões de habitantes, você precisa completar essa relação com VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) em áreas onde não seja possível o metrô e com o BRT (Bus Rapid Transit) para as vias de acesso ao transporte principal. Isso Porto Alegre fez muito bem. É claro que não há paralelo entre uma cidade como Porto Alegre e Salvador, do ponto de vista do desenvolvimento urbano, mas a ideia do intermodal, ela é de fato, em minha opinião, completa e inteligente. Há soluções para Salvador.

Tribuna – Nós estamos em junho de 2011. Falta muito pouco tempo para a Copa do Mundo 2014. É possível, com tanta coisa que falta, deixar a cidade pronta para a Copa das Confederações (2013) e para a Copa do Mundo? Não há um risco de expor Salvador de uma forma muito precária para o mundo todo?Alice – Acredito que não. Eu, quando estou contra, e quando estou a favor, não duvido da competência da nossa indústria da construção civil. Então, nós sabemos que temos hoje tecnologia. A única coisa que pode complicar é não se aprovar a flexibilidade para a facilitação das licitações, a aceleração das licitações. Então, aprovando-se isso, que está em pauta nessa próxima semana (nesta) no Congresso, e ao mesmo tempo garantindo-se um pacto com São Pedro (risos), mas, felizmente, não somos um lugar de grandes períodos de chuva, eu acredito que dê tempo com certa margem para que Salvador se prepare.

Tribuna - Na Câmara o clima é tenso entre comunistas e petistas. Há risco de rompimento, já que tem tido posicionamentos opostos e conflitantes?Alice – Não. A relação é de unidade e de luta. Então, estamos juntos naquelas questões que, de fato, julgamos importantes para a cidade. Não vamos estar juntos em questões como a que aconteceu em relação a um projeto de reforma na área relacionada com as águas, um projeto que envolvia um processo de centenas de páginas e, objetivamente, você não teve a oportunidade de ter lido, de conhecer. As nossas vereadoras são preparadas, são pessoas que advêm de movimentos que lhe exigiram qualificação. Então, evidentemente, elas não se submeterão a esse tipo de afogadilho que pode pôr um área estratégica da cidade em risco.
Tribuna – O PCdoB reconhece o vereador Henrique Carballal como líder da bancada de oposição? Sente-se liderado por ele?Alice – Ele é o líder. De fato, nós estamos envolvidos nessa bancada de oposição, mas temos a independência, a liberdade de, no momento de discordarmos fraternalmente, dizermos a ele que naquele ponto específico não nos submeteremos àquele ordenamento. Isso é que é importante nas coalizões e nas coligações, unidade e luta, apoio e crítica.

Tribuna – Os próprios petistas atribuem esse clima tenso justamente à sucessão municipal, eles dizem que isso se dá devido ao acirramento da disputa em 2012. A senhora se considera o pivô, já que sua candidatura está indo de vento em popa?Alice – Eu não acredito que, evidentemente, essas coisas se coloquem no nível da sucessão. Será? Será que Carballal articulou e tratou com João Henrique para facilitar a vida financeira da cidade através da Embasa para construir uma coalizão a posteriori? Não sei. Então, eu acredito que tenha sido episódico e espero, quero crer, que nós trabalharemos juntos, de preferência, do primeiro turno, em torno de uma candidatura que possa ser analisada, de uma força aliada. Se- não, estaremos no segundo turno para evitar qualquer ameaça de retorno do carlismo. Isso para nós é fundamental. Eu dediquei a minha juventude enfrentando esse mal maior que infelicitou a Bahia por quase quarenta anos. Obviamente nós não teremos qualquer dúvida de no segundo turno estarmos ao lado do que se sair melhor no primeiro. Mas nós estamos com muita certeza que temos chance de sermos abraçados pela população de Salvador.

Tribuna – O que a senhora avalia hoje como maior entrave no governo Wagner?Alice – Eu acho que o governo vai muito bem. Lhe falo sinceramente. Acho que o governo tem dado viradas históricas em relação à alfabetização de jovens e adultos na Bahia; em relação à espraiar serviços de água; a própria saúde, apesar da minha discordância com a terceirização de serviços na saúde, que pode gerar prejuízos futuros ao próprio erário público e menospreza a importância dos seus servidores, mas o governador vem dando respostas com a construção de novos hospitais; com o renascimento da Bahiafarma, e eu, como farmacêutica, saúdo especialmente essa renovação. Eu acho que o governo vai muito bem. A crise econômica nos abalou no ano passado e continua deixando seus vestígios no objeto investimento. Então, o que é que nós temos que destravar? Destravar investimentos para que a Bahia possa ocupar de fato o lugar que tem, mas eu confio que o governador está atento a isso.
Osvalkdo Lyra - Editor de Política -TB
Colaboraram: Fernanda Chagas e Romulo Faro.

Paulo Henrique Amorim abre Encontro de Blogueiros na Bahia

Blogueiros, tuiteiros, produtores de conteúdo para a internet e militantes pela democratização da mídia de toda Bahia participaram na noite desta sexta-feira (10/6) da abertura do Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas. O evento, que acontece no Hotel Fiesta, em Salvador, foi aberto pela palestra do jornalista Paulo Henrique Amorim, que falou sobre marco regulatório, banda larga, democratização da mídia e o papel dos blogueiros no debate sobre estes temas.

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Um clima de descontração tomou conta da abertura do evento, com uma mesa formada pelo professor Marcos Dantas, da Universidade Federal do Rio de Janeiro; o jornalista e deputado federal Emiliano José (PT-BA); o jornalista Altamiro Borges e o secretário de Comunicação da Bahia, Robinson Almeida, além de integrantes da Comissão Organizadora do evento.

Em sua fala, o jornalista Paulo Henrique Amorim relembrou a criação do movimento dos blogueiros progressistas e de como este grupo contribuiu para discussão sobre a necessidade de o Congresso legislar sobre a criação de um novo marco regulatório para a comunicação no Brasil, já que a atual legislação data da década de 1940, quando não existia televisão ou internet no país. Amorim citou como bom exemplo a lei sobre o assunto aprovada na Argentina, que impede a propriedade cruzada – quando o mesmo grupo detém emissoras de tv, rádios, jornais e provedores de internet em uma localidade, colocando assim um limite no crescimento dos grandes grupos de comunicação daquele país.

Amorim conclamou os presentes a lutar para que o governo da presidenta Dilma Rousseff envie para o Congresso Nacional uma lei semelhante a adotada na Argentina, impedindo assim que apenas poucas famílias continuem com o monopólio da comunicação no Brasil. O movimento deve lutar ainda para que os políticos sejam de fato impedidos de explorarem concessões públicas, além de garantir o acesso das minorias aos meios de comunicação.

Para o jornalista, uma das formas de garantir este acesso é a universalização da uma banda larga de qualidade, neutra e com baixo custo em todo o país. “Está na hora de termos uma banda larga republicana e sem restrições no tráfego de informações”, argumentou Amorim, acrescentando que a internet será o meio de comunicação mais utilizado pelos brasileiros até 2020.

Ainda de acordo com Amorim, para que a internet cumpra seu papel de democratizar a comunicação, ela precisa seguir a risca o princípio pensado em sua concepção original, que é a descentralização, a universalização e a independência. Ou seja, garantir que qualquer pessoa possa acessar ou disponibilizar conteúdo em qualquer lugar, em qualquer idioma e sem a necessidade de autorização de ninguém. “Foi para democratizar a informação que a internet foi criada e é por isso que temos que lutar por uma banda larga de qualidade para todo mundo”, concluiu o editor do Blog Conversa Afiada.

O Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas segue neste sábado, com uma extensa programação, que inclui debates sobre políticas públicas de comunicação e democratização das verbas publicitárias, Plano Nacional de Banda Larga e universalização da internet, militância digital, regulação da internet, dentre outros temas que envolvem a blogosfera.

No evento serão discutidas ainda a Associação de Blogueiros e a participação da Bahia no 2º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas, que acontece entre os dias 17 e 19 de junho, em Brasília.

De Salvador,
Eliane Costa - V.

Brasileiros respaldam Dilma: aprovação ao governo sobe para 49%

Apesar da queda do ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci, os brasileiros continuam aprovando o governo da presidente Dilma Rousseff. Quase metade do eleitorado manifesta apoio a Dilma – um índice sete pontos acima do obtido pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no mesmo período de seu primeiro mandato.

É o que aponta pesquisa Datafolha realizada nos dias 9 e 10 de junho, depois que Palocci pediu demissão em meio a denúncias decorrentes de seu aumento patrimonial. De acordo com o levantamento, subiu de 47% para 49% o número de pessoas que avaliam a gestão Dilma como “ótima ou boa”. Houve queda somente entre os brasileiros que têm ensino superior. Entre os que não passaram do fundamental ou do médio, a aprovação ficou estável ou aumentou.

Para 60% dos brasileiros, as notícias envolvendo o súbito enriquecimento de Palocci prejudicaram o governo. Mas, segundo próprio Datafolha, a “crise” que causou a demissão do ministro e a ligeira alta da inflação “não tiveram impacto negativo na aprovação do governo”. A pesquisa Datafolha ouviu 2.188 pessoas em todo o país. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Além da saída de Palocci, Dilma realizou na sexta-feira uma troca entre os ministros da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) e da Pesca e Aquicultura. Ideli Salvatti (PT-SC) assumiu a SRI, que é encarregada da articulação política do governo com o Congresso, enquanto Luiz Sérgio foi nomeado para substituí-la na Pesca.

No lugar de Palocci na Casa Civil, Dilma nomeou a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR). Segundo Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, não é possível descartar “a hipótese de que algum abalo na popularidade de Dilma durante as semanas de turbulência pode ter sido revertido com as providências dos últimos dias”.
Lula
Para desespero da oposição e da grande mídia, o levantamento revela também que a maioria dos brasileiros quer que Lula opine nas decisões de Dilma. Segundo o Datafolha, 64% dos brasileiros afirmam que ele deve influenciar nos rumos no governo.

Mesmo entre os brasileiros que têm ensino superior – segmento, em geral, mais hostil ao ex-presidente –, 45% acreditam que Lula deveria participar da gestão federal. O índice sobe para 69% na faixa do ensino fundamental e 71% no Nordeste, região em que o antecessor de Dilma mantinha suas mais altas taxas de popularidade.

As maiores preocupações dos brasileiros dizem respeito à economia. Hoje, 51% dizem acreditar que a inflação vai continuar subindo, e apenas 33% creem que o poder de compra vá aumentar. Apesar disso, a maior parte dos brasileiros acha que a economia vai melhorar (42%) ou ficar como está (37%) nos próximos meses – o índice dos que apostam em dias piores é de 17%.

Além disso, 21% afirmam que o rendimento mensal da família "é muito pouco, trazendo muitas dificuldades". É ainda uma parcela significativa da sociedade, mas muito menos numerosa do que os 45% registrados em dezembro de 2002, no último ano no governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Fonte: vermelho, com agências

Dilma fecha reestruturação política; mulheres são maioria no Planalto


Para tentar encerrar de vez crise de relacionamento do governo com partidos aliados, Dilma Rousseff completa reestruturação da área política, iniciada com demissão de Antonio Palocci, e troca ministro das Relações Institucionais. Mas resiste à pressão de setores do PT e indica nome de sua preferência, a ex-senadora Ideli Salvatti. Pela primeira vez na história brasileira, mulheres são maioria nos cargos mais importantes do Palácio do Planalto.

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff concluiu nesta sexta-feira (10/06) a reformulação da área política do governo a que foi obriga pela crise de relacionamento com aliados exposta ao público na crise do ex-ministro Antonio Palocci, que era até aquele momento o principal estrategista e articulador presidencial. Depois da saída de Palocci, Dilma decidiu trocar o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência e nomear para o cargo a ex-senadora petista Ideli Salvatti, que assumirá na próxima segunda-feira (13/06).

A opção de Dilma por Ideli faz com que, pela primeira vez na história brasileira, as mulheres estejam em maioria nos postos de comando mais importantes da Presidência da República, sem contar a presidenta e o vice, Michel Temer. Dos cinco ministros que trabalham no Palácio do Planalto, três serão mulheres com a posse de Ideli: ela, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Helena Chagas (Comunicação Social). Aos homens, restaram a Secretaria Geral, do ministro Gilberto Carvalho, e o Gabinete de Segurança Institucional, do general José Elito Carvalho Miranda.

Com a substituição nas Relações Institucionais, Dilma tenta melhorar o convívio do governo com o Congresso e os partidos aliados, especialmente com o PT. Os petistas estavam insatisfeitos com Palocci e com o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio. Achavam que o primeiro não defendia, perante a presidenta, as reivindicações do partido por cargos e rumos do governo. E que Luiz Sérgio, que deveria ajudar a pressionar Dilma, acanhara-se e deixara-se engolir pela força do ex-chefe da Casa Civil.

Esse tipo de contrariedade selou o destino dos dois ministros e obrigou a presidenta a reformular a área política do governo. Nenhum partido aliado fez defesa enfática de Palocci na denúncia de enriquecimento de ilícito, que o ex-chefe da Casa Civil acredita ter sido obra de “fogo amigo”.

Vários políticos, sobretudo do PT, aproveitaram o caso, que forçou uma discussão da condução política do governo, para minar Luiz Sérgio e tentar derrubá-lo, como se pode observar em inúmeras reportagens em jornais e na internet nas quais os interesses escondiam-se sob anonimato.

Um dos mais interessados no cargo era o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), que ainda não assimilou ter derrotado pelo colega petista Marco Maia (RS) na disputa pela presidência da Casa, em fevereiro.

Time das "duronas"
Segundo apurou Carta Maior, pessoalmente, Dilma não tinha intenção de trocar Luiz Sérgio, pois tem convivência cordial com ele. Tanto que o manteve no governo - ele vai para o lugar de Ideli no Ministério da Pesca. A presidenta convenceu-se, porém, de que, se o segurasse, ainda teria problemas políticos, já que o ministro perdera autoridade, a exemplo de Palocci.

Mas Dilma não cedeu de todo. Resistiu à tentativa do PT, especialmente da bancada de deputados, de impor-lhe um nome. A escolha de Ideli foi pessoal da presidenta, que deu mais uma demonstração de que gosta de ter auxiliares do tipo “linha dura”.

Já havia demonstrado isso ao nomear Gleisi Hoffmann para o lugar de Palocci. A senadora vinha se destacando no Congresso pela defesa inflexível do governo. Em seu discurso de posse na chefia da Casa Civil, na última quarta-feira (08/06), Gleisi tentou inclusive mostrar que tem condições de ser flexível, o tipo de coisa que a classe política adora ouvir. Recusou a pecha de “trator” e disse que sua escolha sinalizava “apreço” de Dilma pelo Congresso.

Com Ideli, acontece o mesmo. Nos oito anos do governo Lula em que foi senadora, sete deles exercendo algum tipo de liderança (do governo ou do PT), mostrou ter temperamento forte, o que várias vezes lhe custou brigas com adversários e até com aliados.

Em entrevista nesta sexta-feira (10/06) na qual já falou como indicada por Dilma, Ideli também foi confrontada com a imagem de “durona”. E, a exemplo de Gleisi, tentou mostrar flexibilidade. “A relação com todos os partidos será respeitosa sempre”, afirmou a ministra, que disse que vai usar “ouvidos, coração e bom senso” no novo cargo.

Escanteado pelas circunstâncias, Luiz Sérgio participou da mesma entrevista, ao lado de Ideli, para dar sua versão sobre sua saída. Disse que se trata de uma “reformulação natural” da coordenação política do governo e que não há “desarticulação” da base aliada de Dilma. (André Barrocal - CM)

As surpresas e a força de Dilma

As mesmas forças políticas conservadoras que perderam as três últimas eleições presidenciais no Brasil têm usado sua ascendência sobre a mídia com muita habilidade para criar uma sensação de que Dilma teria perdido o controle de seu governo. Nada mais falso, como mostraram as últimas decisões da presidente.

Passado o momento mais agudo da crise que culminou nas mudanças ministeriais determinadas pela presidente Dilma Rousseff, agora é chegada a hora de as forças progressistas que sustentam seu projeto político desarmarem a bomba propagandística de parte da grande imprensa que tenta sugerir ao país a existência de um governo fraco. As mesmas forças políticas conservadoras que perderam as três últimas eleições presidenciais no Brasil têm usado sua ascendência sobre a mídia com muita habilidade para criar uma sensação de que Dilma teria perdido o controle de seu governo. Nada mais falso, como mostraram as últimas decisões da presidente.

Após a longa hesitação que antecedeu a saída do ex-ministro Antonio Palocci, Dilma compensou ao acertar duas vezes. Ao convocar a senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil e afirmar que a pasta voltará a ter funções mais voltadas ao gerenciamento e execução de políticas públicas, a presidente repete o gesto feito há seis anos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando convocou a ela própria para substituir o então chefe da Casa Civil, José Dirceu. Sem entrar no mérito dos motivos que levaram à substituição de Dirceu, o fato, já histórico, é que a chegada de Dilma ao principal ministério deu início a um ciclo virtuoso do governo que propiciou a Lula um segundo mandato muito melhor do que o primeiro.

Lula acertou em 2005 e agora Dilma acerta também. Em que pesem os comentários preconceituosos sobre uma suposta falta de estofo político de Gleisi para o cargo ou até mesmo sobre seu jeito de “trator”, “durona” e “esquentadinha” (alguém lembra desse filme?), a senadora paranaense tem o exato perfil para recolocar a Casa Civil em um caminho muito bem trilhado sob o comando da própria Dilma no governo Lula. Além da competência administrativa comprovada em Itaipu ou quando foi secretária de governo no Mato Grosso do Sul, Gleisi parece ter a independência política necessária para cumprir o papel que dela espera a presidente. A surpresa causada por sua nomeação é fruto dessa independência e isso é um bom sinal.

A segunda surpresa - e o segundo acerto - foi o desfecho dado por Dilma para a substituição do ministro Luiz Sérgio na Secretaria de Relações Institucionais. Esse acerto, entretanto, não se dá tanto em função da substituta, que ainda terá de provar competência na nova função, mas sim pelo fato de a presidente ter jogado um balde de água gelada na crise de histeria em que já começava a se transformar a atuação da bancada do PT na Câmara dos Deputados. A ex-senadora catarinense Ideli Salvatti tem todos os predicados para obter sucesso em sua missão na articulação política do governo, mas isso dependerá fundamentalmente de uma mudança de postura do principal partido governista no Congresso Nacional.

Após essas duas movimentações acertadas feitas pela presidente no tabuleiro ministerial, é hora de os parlamentares do PT relegarem a um segundo plano a disputa mais imediata por espaço e começarem a atuar como esteio político para as duas novas ministras. No Senado, origem de Gleisi e Ideli, tudo parece mais fácil. Na Câmara, um maior esforço de coesão dos petistas é necessário. Foi a falta dessa coesão que minou Luiz Sérgio, muito mais do que uma suposta fraqueza do deputado fluminense, como apregoa parte da mídia. O excelente trânsito do agora ministro da Pesca (cargo que trocou com Ideli) entre seus colegas no Congresso já havia sido comprovado no governo Lula, mas Luiz Sérgio esbarrou na divisão da bancada petista na Câmara e também no papel centralizador assumido por Palocci.

A presidente Dilma quer se dedicar a mudar essa realidade e, a exemplo de seu antecessor, passará a acompanhar cotidianamente as negociações políticas com os partidos que apóiam o governo. Mesmo que tenha encontrado em Ideli Salvatti uma figura mais próxima na articulação política e em Gleisi Hoffmann a “Dilma da Dilma”, caberá à presidente conduzir pessoalmente esse momento de reafirmação da força política de seu governo. Dilma deverá ser a partir de agora o “Lula de si mesma” e ninguém que a conhece duvida de que tenha plenas condições de exercer esse papel.

Em sua edição de 8 de junho, o jornal carioca O Globo trazia como manchete: “Palocci cai e enfraquece Dilma com apenas cinco meses de governo”. Pelo que me lembro, é a primeira vez em que um desejo dos donos do jornal, misturado a uma notícia, ganha destaque na primeira página. Enfraquecer o governo Dilma é o maior desejo das forças conservadoras que perderam com José Serra e Geraldo Alckmin as últimas eleições, pois isso significaria uma maior possibilidade da volta dessas forças ao poder. Para quem está do outro lado, para quem apóia o projeto de transformação do Brasil que começou com Lula e tem em Dilma a força de 56 milhões de votos, é tarefa primordial evitar que esse falso enfraquecimento se torne verdade. (Maurício Thuswohl - CM)