quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Abaixo o lixo cultural na Bahia

Por Genaldo de Melo

Apesar de não ter nenhum livro publicado ainda, mas apenas alguns textos literários em diversas coletâneas, fico tentado a opinar sobre determinados temas culturais para as centenas de pessoas que acessam diariamente nosso blog. Passando um olhar sobre os diversos movimentos culturais que surgiram na Bahia a partir dos anos 70 até hoje, o que mais poderia contribuir com a formação dos nossos jovens, o pagode baiano, é que menos procura valorizar o que existe de mais belo, a mulher.

Num show de pagode participam milhares de jovens de todos os níveis culturais e econômicos. Jovens que consideramos sem sombra para a dúvida o futuro de nosso país. Deveríamos aproveitar esse estilo musical das periferias de Salvador, Feira de Santana e dos diversos municípios baianos para ensinar nossa juventude a pensar ou mesmo se rebelar politicamente contra os desmandos políticos e a corrupção. Mas em vez disso o pagode é utilizado de forma escancarada para incentivar a violência urbana e rural, a drogadição, e principalmente a violência sexual e física contra a mulher, o estrupo.

Nos anos 70 Raul fez opinião com suas músicas de qualidade e essência. Nos anos 80 o Axé fez forma e vez contra o racismo e em defesa de nossa afrodescendência. Por que não fazemos o mesmo com um estilo musical que invadiu todos os recantos da Bahia?

A iniciativa de um projeto de lei para tirar os recursos públicos para o financiamento de bandas musicais que investem em letras sem nenhum fundamento cultural, não deveria ser iniciativa de apenas uma deputada na Assembléia Legislativa da Bahia, mas sim de um bloco, ou mesmo da maioria, ou ainda de todos os nobres deputados eleitos pelo povo que precisa de processos culturais de qualidade, pois não podemos investir em lixo cultural.

O pagode baiano não é lixo cultural! Lixo são as letras que não formam nossa juventude. Por que não se aproveitar esse estilo musical para formar gente, para formar povo, para formar nossa geração do futuro? A iniciativa de um projeto de lei dessa na Assembléia Legislativa vai com certeza moralizar nosso pagode para construir música de qualidade, como aspecto de natureza essencialmente cultural.

O que é ridículo é ficar deputado naquela importante casa de cidadania dizendo na tribuna que isso é censura! O que é uma vergonha é ficar deputado na tribuna da casa defendendo a esculhambação e a falta de respeito, em vez de defender nossa cultura! A Bahia tem história de fazer cultura e levar para os mais diversos cantos do Brasil e do mundo, e a história tem de ser respeitada.

Reitero que um movimento cultural como o pagode deve ser aproveitado para formar nossos jovens e os espaços musicais (rádios e TV’s) devem construir novas opções de consumo musical que respeite o que o que existe de mais lindo no mundo, a mulher brasileira.



Dilma e o abandono da sua base política

Por Luis Nassif, em seu blog:

Não estão claros, ainda, os movimentos políticos da presidenta Dilma Rousseff.

Em breve ela começará a enfrentar uma oposição inédita das centrais sindicais. O afastamento da Força Sindical é apenas um primeiro sinal. O sinal mais preocupante será da CUT e dos sindicatos filiados a ela. A continuar a dinâmica política atual, é questão de tempo.


Começou com estranhamento, em função da aproximação de Dilma de seus antigos adversários. Continuou com mágoas, pelo que consideram falta de atenção continuada. E está transbordando para raiva.

Um preço que o governo Dilma estará pagando de graça.

Movimentos iniciais

Ela foi eleita por uma base de apoio dos sindicatos, movimentos sociais, blogosfera, base criada por Lula e ampliada pela adesão de grandes grupos e da classe média satisfeita com os rumos da economia.

Teve por adversários, ferozes, o tea party de José Serra, a chamada opinião pública midiática, embalados pela velha mídia, manipulando preconceitos, espalhando boatos, recorrendo a um denuncismo inédito na moderna história política brasileira - similar ao modelo Rupert Murdoch.

Foi uma guerra épica, que deixou mortos e feridos de lado a lado.

Eleita, tendo a maior base de apoio parlamentar que um presidente já dispôs, tratou de se aproximar dos adversários e de reduzir a fervura política - no que agiu corretamente. Tem que investir em ser a presidente de todos os brasileiros.

Aí avançou o sinal.

Para mostrar que não era a "terrível" Dilma retratada pela mídia, afastou-se dos sindicatos. O Plano Brasil Maior, lançado ontem, conseguiu apresentar um pacto de competitividade do qual as centrais sindicais sequer participaram.

É um retrocesso inédito. Nem Fernando Collor foi tão longe. Com toda resistência que provocava nos trabalhadores, ensaiou o primeiro pacto produtivo da história brasileira, com as câmaras setoriais da indústria automobilística, conduzidas pela Ministra Dorothea Werneck, Lá, pela primeira vez - vindo de um governo ferozmente liberalizante - se concluía que a preservação da produção nacional era de interesse direto de empresários e trabalhadores.

A detente abriu espaço para programas de qualidade, para diversos pactos ao longo dos anos 90 que modernizaram as relações trabalhistas no país.

Denúncias e denuncismo

Dilma não apenas se distanciou dos sindicatos, mas passou a endossar denúncias da velha mídia.

É evidente que denúncias fundamentadas precisam ser apuradas e as distorções resolvidas. Mas há maneiras e maneiras. Há informações de investigações em curso na Polícia Federal que justificariam a razia ocorrida no Ministério dos Transportes. Em vez de uma ação objetiva, discreta e fulminante - que carcaterizaria uma vitória do governo - permitiu-se um show midiático que vai estimular a volta do denuncismo.

A lógica é simples. As denúncias fazem as primeiras vítimas - mas num alarido que pega gregos e troianos nas mesmas acusações. Depois, abre espaço para o festival de mágoas dos demitidos. O ápice de uma denúncia midiática é a demissão do acusado. O jornalismo brasiliense vive em função de dois sonhos: derrubar autoridades (primeiro secretários, depois ministros até o auge de presidentes) e pacotes econômicos.

Ontem o Jornal Nacional dedicou maior tempo ao desabafo do ex-Ministro Alfredo Nascimento do que ao Plano Brasil Maior. Na sua última edição, Veja abriu amplo espaço a um sujeito demitido da Conab por corrupção explícita, para que pudesse "denunciar" seus colegas que o demitiram, sem a necessidade de apresentar provas. Época enceta uma campanha contra a Agência Nacional de Petroleo em cima de informações que lhe foram passadas pela própria ANP dois anos atrás.

A comunicação do governo está restrita ao mundo das sucursais brasilienses; os contatos de Dilma com o mundo das associações empresariais - que tem e devem ser consultadas, mas não com exclusividade.

O que parecia um movimento tático - de se aproximar dos adversários e diminuir a fervura - a cada dia que passa ganha contorno de mudança estrutural do leque de alianças. Correta ou não, é essa a percepção cada vez mais forte em setores sindicais e do leque de aliados da campanha de 2010.

Lula costumava caçoar da ingenuidade do "Palocinho" (como o chamava), que sempre acreditava que ganharia o título de sócio remido do clube principal.

No final do ano passado, Palocci garantiu a Lula que Veja estaria preparando uma edição finalmente reconhecendo os méritos de seu governo. Na semana anunciada, a capa em todas as bancas: "O governo mais corrupto da história".

A vida de rico e a vida real

Por Eric Nepomuceno, no sítio Carta Maior:

Entre janeiro e julho venderam-se no Brasil pouco mais de dois milhões de veículos. É uma nova marca histórica e significa um crescimento de quase 9% em relação ao mesmo período de 2010. As empresas aéreas locais, por sua vez, experimentaram um aumento de 19% em suas vendas e jamais tantos brasileiros viajaram ao exterior, gastando como nunca. O Brasil é o país líder na expansão do setor aéreo em todo o mundo.


São brasileiros os estrangeiros que mais compram imóveis em Miami e arredores. E, para completar o cenário de bonança extrema, São Paulo é a décima cidade mais cara do planeta, e o Rio ocupa o décimo segundo posto no mesmo ranking. Vive-se mais barato em Berna, Copenhague ou Londres, e muitíssimo mais barato em paris, Milão ou Nova York. O custo de vida em Brasília supera o de Roma, Viena ou Estocolmo.

Em nenhum outro país se expande tanto e com tanta velocidade o número de internautas, e nos últimos quatro anos a telefonia móvel (o Brasil é o quinto mercado do setor no mundo) duplicou de tamanho. Existem mais telefones celulares que habitantes no país. Os preços dos imóveis nas duas maiores cidades fazem com que seja mais barato um escritório em Wall Street ou um apartamento em Manhattan que no Rio ou em São Paulo. Agências de publicidade dedicam seus melhores esforços para criar campanhas dirigidas especialmente aos quase 32 milhões de brasileiros que, nos últimos seis anos, ingressaram, velozes e ávidos, na classe média.

As reservas em dólares superam os 345 bilhões e o país está entre os cinco destinos preferenciais de investimentos estrangeiros no mundo.

Por detrás dessa aparente exibição de força e pujança há uma razão que preocupa cada vez mais o governo e desperta críticas contundentes de diversos e respeitados economistas: a supervalorização do real. O dólar vale hoje menos do que há doze anos. Nos últimos meses o governo brasileiro adotou uma série de medidas para impedir que a moeda norteamericana siga derretendo frente ao real, mas sem obter maiores resultados. Membros da equipe econômica asseguram que, se não fosse por essas medidas aparentemente ineficazes, o câmbio estaria muito próximo da paridade com o real (a cotação atual anda na casa de 1,55 real por dólar).

O resultado visível da valorização do real está, entre outras coisas, nos crescentes contingentes de brasileiros fazendo turismo no exterior, na expansão da importação de automóveis, nos investimentos imobiliários em Miami e na comparação do custo de vida no Rio e em São Paulo com outras metrópoles onde seguramente a qualidade de vida é bastante superior e a um preço mais baixo.

Mas existe também o rosto menos visível e mais preocupante, que aparece de maneira incessante para industriais, empresários, economistas e, claro, para o governo. As exportações de manufaturados e de produtos industriais despencaram nos últimos anos. Dos automóveis produzidos no Brasil há cinco anos, cerca de 30% eram exportados. Hoje, esse número caiu para 12%. Enquanto isso, os automóveis importados significavam 5% do mercado em 2005 e hoje representam 22%. Se não fosse os preços das commodities, em constante expansão, o Brasil teria graves problemas em sua balança comercial. O país é o vigésimo exportador mundial e não consegue subir no ranking graças a sua moeda, que é uma das que mais se valorizaram frente ao dólar nos últimos anos, especialmente em 2011.

Os malefícios gerados por dois fatores específicos – o excessivo ingresso de moeda norteamericana no país, que valoriza o real, mais as taxas de juro mais elevadas do mundo, ferramenta favorita do governo para controlar a inflação – causam desastres no parque industrial brasileiro. Todo o resto, ou seja, as aparências de um período de extrema prosperidade, se desfaz frente à crise enfrentada pela indústria, que, em alguns segmentos, se aproxima de um nível de gravidade preocupante.

Um número considerável de empresas contraíram empréstimos significativos em dólares, aproveitando-se das baixas taxas de juro do mercado externo e da forte valorização do real. Muitas tomaram empréstimos em dólares, ingressaram com a moeda no Brasil e aplicaram o resultado em títulos locais, que remuneram com taxas muito mais altas do que aquelas que são pagas no exterior. Por mais que o governo tenha lançado advertências sobre os riscos desse tipo de operação, uma súbita valorização do dólar provocaria estragos consistentes nessas empresas e bancos. Neste cenário – a crise vivida na Europa provocando uma elevação da moeda norteamericana – é outro fantasma que assombra a equipe econômica brasileira.

* Artigo publicado no jornal argentino Pagina/12. Tradução de Katarina Peixoto.

Murdoch: quem é quem no escândalo das escutas ilegais

 

Aqui está o perfil resumido dos protagonistas do escândalo das escutas ilegais do lado do News of the World e as suas ligações à política e à polícia do Reino Unido. Quem são James Murdoch, Rebekah Brooks, Andy Coulson, Paul Stephenson, Andy Hayman e Sean Hoare? Filho do magnata australiano da mídia internacional, James Murdoch, por exemplo, esteve envolvido nas negociações milionárias com algumas das vítimas das escutas ilegais feitas pelo jornal para desistirem das queixas em tribunal e assinarem uma cláusula de confidencialidade.

James Murdoch - Filho do magnata da mídia, preside a News Corp. Europa e Ásia, controlando as televisões e a imprensa do grupo nessas regiões. É também presidente não-executivo da tv BskyB, por conta da posição minoritária que o grupo ali detém, embora a administração se prepare para rever a sua posição depois de ter visto evaporarem 2,7 bilhões de euros no valor bolsista da empresa após ter abortado o negócio de compra da parte do Estado na BskyB.

James Murdoch esteve envolvido nas negociações milionárias com algumas das vítimas das escutas ilegais feitas pelo jornal para desistirem das queixas em tribunal e assinarem uma cláusula de confidencialidade. Aos deputados da comissão parlamentar, disse que nunca teve conhecimento de quaisquer escutas, nem que o detetive preso em 2007 continuasse a ter as despesas legais pagas pela empresa ainda hoje.

Rebekah Brooks - Desde 2009 era a chefe da News International, dona dos jornais de Murdoch no Reino Unido. Foi editora do News of the World e o primeiro escândalo das escutas ilegais feitas pelo jornal refere-se ao seu mandato, que durou entre 2000 e 2003. Partiu para o tablóide Sun, do mesmo grupo, onde se manteve até ascender à administração do grupo. Este ano, o novo escândalo acabou por ser fatal para a ex-editora, ao descobrir-se que em 2002 o tablóide tinha acedido ilegalmente ao voice-mail do telemóvel de uma menina desaparecida para acessar as mensagens dos pais, apagando-as depois para permitir que outras chegassem.

A opinião pública virou-se contra Rebekah, que não resistiu às críticas e demitiu-se a 15 de julho. Dois dias depois foi presa e está em liberdade após ter pago fiança. A proximidade com o poder político é a imagem de marca de Rebekah Brooks: amiga de Blair e Brown, é com o atual primeiro-ministro David Cameron que tem uma relação mais próxima. Ambos têm propriedades na mesma zona e visitam-se com frequência, inclusive na última festa de natal em casa de Rebekah, onde também compareceram James e Rupert Murdoch, que a considera a sua "quinta filha".

A festa aconteceu 48 horas depois do primeiro-ministro ter tirado o dossier da venda da televisão BskyB à News Corporation ao secretário da Economia: Vince Cable tinha dito a jornalistas encobertos - que foram falar com ele enquanto eleitores - que tinha "declarado guerra" a Murdoch e queria impedir o negócio.

Andy Coulson - Foi editor do News of the World entre 2003 e 2007 e teve de se demitir quando o primeiro escândalo das escutas resultou na condenação dum repórter do jornal. Foi contratado pelo Partido Conservador para dirigir a comunicação de David Cameron, então líder da oposição. Quando Cameron ganhou as eleições - com forte apoio da imprensa de Murdoch - Andy Coulson seguiu para Downing Street com as mesmas tarefas, sendo o assessor mais bem pago do governo. Em janeiro deste ano, quando surgem as primeiras notícias sobre a verdadeira dimensão do caso das escutas, Coulson demite-se. Em 8 de julho foi preso no decurso a investigação policial.

Andy Hayman - Ascendeu na carreira policial até se tornar responsável pelo contra-terrorismo no Reino Unido, tendo dirigido as investigações aos atentados de julho de 2005 em Londres e sido muito criticado pela operação policial que matou o brasileiro Jean Charles de Menezes no metro londrino. Andy Hayman liderou também o primeiro inquérito às escutas ilegais do News of the World, que circunscreveu o caso a apenas algumas das vítimas. Foi entretanto descoberto que aceitou jantar com executivos da News International durante a investigação. Quando saiu da polícia, foi trabalhar como colunista de um dos jornais do grupo News International.

Paul Stephenson - Ocupou o posto mais alto da polícia britânica até se demitir no passado dia 15 de Julho, pelas ligações a um antigo editor do News of the World, Neil Wallis. Stephenson contratou-o para consultor da polícia em part-time entre Setembro de 2009 e Outubro de 2010, altura em que a polícia repetia não ser necessário abrir mais investigações sobre as escutas ilegais. Para piorar a situação, Paul Stephenson aceitou a oferta duma estadia prolongada num spa de luxo onde Wallis era relações públicas, no valor de 13600 euros. No seu último acto enquanto chefe da polícia, disse à comissão parlamentar que tentara alertar o primeiro-ministro para as implicações do caso em Setembro de 2010, mas foi impedido de trazer o assunto à agenda dos encontros pelo gabinete do PM.

Sean Hoare - Encontrado morto em sua casa na véspera da audição parlamentar dos responsáveis da News International, Hoare foi o primeiro jornalista do News of the World a dizer que Andy Coulson tinha conhecimento das escutas e que incentivava o seu uso na redação do jornal para obter notícias exclusivas. Hoare e Coulson foram amigos desde o tempo em que trabalharam os dois no Sun, e o primeiro diz que continuou a informar o editor das escutas que fazia para o News of the World. Hoare foi a fonte das primeiras notícias do New York Times sobre o escândalo das escutas e uma semana antes de morrer acusou o News of the World de pagar 300 libras a polícias por cada pedido de dados de localização de telemóveis.

PT defenderá voto proporcional misto e financiamento público

Um dia depois da volta do recesso do Congresso Nacional, a reforma política já desponta como destaque no Legislativo. O PT, dono da relatoria da comissão especialmente criada na Câmara dos Deputados para o tema, coloca as mudanças no sistema eleitoral e no ordenamento jurídico dos partidos como uma das prioriades até o final do ano.


Por ser um tema polêmico e repleto de divergências, a legenda diz que buscará consenso e propõe um sistema de voto diferente — o sistema "proporcional misto", que combina elementos do modelo atual, conhecido como lista aberta, com o voto em lista fechada, determinada pelos partidos. Segundo o relator da Comissão de Reforma Política da Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), a proposta será apresentada no dia 10 de agosto e conta com o apoio de toda a bancada do partido.

"A essência do relatório em que estou trabalhando tem, em primeiro lugar, o financiamento público e exclusivo de campanha, que trará forte redução nos custos da campanha", avisa Fontana. "A segunda questão é o tipo de voto, que é o 'proporcional misto'. Chegamos a esse consenso após muitos debates e a conclusão de que o sistema de lista fechada, defendido originalmente pelo PT, ou qualquer sistema puro, não teria maioria (entre os partidos)", afirma o relator.

Na opinião de Fontana, o sistema daria ao eleitor o direito a dois votos para a formação do Legislativo — Câmara Federal, assembleias legislativas e câmaras de vereadores. No primeiro, seria possível escolher o candidato de sua preferência entre todos os postulantes do estado. O segundo voto seria na lista partidária, cuja ordem seria definida por votação interna e secreta dos filiados de cada legenda.

Na apuração, seriam somados os votos conferidos ao partido e aos candidatos da legenda. A exemplo do que ocorre atualmente, a quantidade de sufrágios adquirida por cada partido definiria a distribuição de cadeiras. A diferença é que, para preencher as vagas de cada legenda, haveria uma disposição alternada: primeiro o candidato com maior número de votos individuais, seguido pelo primeiro nome da lista pré-ordenada e assim por diante.

Dessa forma, diz Fontana, se poderia manter a "essência da cultura de voto do brasileiro", permitindo ao eleitor escolher o parlamentar de sua preferência. Ao mesmo tempo, ao demandar um voto no partido, de acordo com programas e ideologias, as agremiações política seriam fortalecidas. "Seria um voto mais completo (do que o atual)", avalia.

Apesar de a bancada do PT já estar fechada em torno desses pontos para a reforma política, Fontana comentou que "não há como saber se os outros partidos apoiarão esse sistema". O PCdoB, por exemplo, defende o voto em lista fechada.

Para o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (PT-SP), as atenções do partido estarão voltadas ainda para a reforma tributária, a criação da Comissão da Verdade, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de combate ao trabalho escravo e a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais. "Além disso, precisamos votar o Plano Nacional de Educação, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o Plano Nacional de Cultura e o Vale-Cultura", finalizou.

Vermelho, com informações do PT

Provocador, Jobim agora distribui ataques diretos a ministras

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, voltou a destilar provocações contra o governo da presidente Dilma Rousseff. Em depoimento à edição da revista Piauí que chega às bancas nesta sexta-feira (5), Jobim é só críticas ao governo federal.


Ao se referir às negociações sobre o sigilo eterno de documentos, ele atira no núcleo do governo. "É muita trapalhada", afirma, mirando os ataques nas ministras Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Para Jobim, “a Ideli é muito fraquinha”, enquanto Gleisi "nem sequer conhece Brasília".

Ele conta também que, ao convidar José Genoino para trabalhar na Defesa, ouviu de Dilma: "Mas será que ele pode ser útil?". Jobim diz que respondeu: "Presidenta, quem sabe se ele pode ou não ser útil sou eu." O ministro diz ainda que os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva são sedutores. "Só que de maneiras diferentes. O Lula diz palavrão, o Fernando é um lorde."

Também nesta sexta-feira, a ministra das Relações Institucionais criticou a postura de Jobim, a quem acusou de dar "desnecessárias" declarações. “Quando você está à frente de uma pasta, de um ministério, você tem que ter sempre muita preocupação de executar aquilo que você está delegado para executar. Não quero brincar — mas, apesar de muita gente dizer que o ataque é sempre a melhor defesa, o ministro da Defesa talvez devesse se conter um pouquinho”, disparou Ideli.

As críticas às ministras escolhidas recentemente por Dilma acontece pouco após Jobim ter revelado que votou em José Serra (PSDB) na eleição presidencial de 2010. A declaração de Jobim irritou a presidente, que cogitou demitir Jobim, mas preferiu não fazer isso já.

No governo avalia-se que, se o ministro tivesse pedido demissão, ela teria aceitado na hora. Na segunda-feira (1º), em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura, Jobim disse que não está demissionário e que deseja permanecer no governo. O ministro afirmou ainda ter "prazer" no cargo e rasgou elogios à Dilma.

"Para um ministro da Defesa, é desnecessário determinados ataques. É desnecessário. Não é assunto relacionado à pasta dele”, emendou Ideli. “Tenho clareza das minhas qualidades, das minhas potencialidades e das minhas dificuldades. Me esforço muito para corresponder a honra que a presidenta me deu de estar neste momento respondendo pela secretaria das Relações Institucionais. Me esforço muito.”

Na quarta-feira, Jobim teve audiência no Palácio do Planalto com Dilma, de quem ouviu críticas e reprimendas. Mas ainda não foi desta vez que ele foi demitido do cargo, embora todo o mundo político esperasse por isso.

Da Redação do Vermelho, com agências

EMILSON PIAU: “O que a oposição oferece? Até agora, nada”

Emilson Piau integra aquele seleto grupo de intelectuais de idéias claras

Emilson Piau integra aquele seleto grupo de intelectuais de idéias claras, das quais se pode até discordar, mas jamais desprezar. Administrador por formação, político por vocação, ele tem uma visão da administração pública em todos os níveis. Foi secretário municipal nos governos de Guilherme Menezes e de José Raimundo Fontes e hoje é o diretor de Administração e Finanças da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Wagner, que tem como titular Paulo César Lisboa.

Em sua pequena, mas confortável sala com vista para a Baía de Todos os Santos, decorada com as fotos da presidente Dilma e do governador Jaques Wagner, Emilson Piau recebeu na manhã desta quarta-feira o Blog do Fábio Sena para uma entrevista na qual ele mostrou estar bastante antenado com os debates políticos em Vitória da Conquista. Apontou caminhos para o prefeito Guilherme Menezes, que para ele deve ser o condutor do processo eleitoral em 2012, e cobrou da oposição que apresente um projeto para Vitória da Conquista.

BLOG DO FÁBIO SENA: Emilson, vamos começar com um tema que interessa mais imediatamente aos nossos leitores: a sucessão municipal. No campo governista, se assiste a muita especulação e lançamentos de candidaturas. Como você tem assistido a tudo isso?


EMILSON PIAU: Bom, Fábio, a primeira coisa a dizer é que esses são os dramas do crescimento. Nós vivemos hoje numa sociedade que exige de nós relações interpessoais cada vez mais fortes. A única forma de, coletivamente, sobrevivermos, é nos unirmos em torno dos propósitos que são o bem comum. E esse é o grande desafio posto para os partidos que compuseram aquela frente ampla, em 1996, mas que vem desde o início da década de 1990. Numa inteligência estratégica, reunimos as forças que àquela época eram do campo democrático popular. Estavam sentados à mesma mesa – e eu participei disso – Wilton Cunha, Geraldo Reis, Elias Dourado, Hildebrando Oliveira, Clóvis Assis, o próprio Raul Ferraz, que estava envolvido nesse processo de discussão por causa do PMDB; nós conseguimos construir uma coalizão que nos levou à vitória, que não era inesperada, nem foi por acaso. Foi uma vitória dentro de um campo social-democrata de gestão. Só pra resgatar a memória: nós estávamos no Hotel Livramento Palace em uma reunião e a discussão era quem seria o vice de Guilherme, se seria Raul Ferraz ou Clóvis Assis. Ou seja, PSDB e PMDB precisavam resolver quem seria o vice mais adequado para nos levar à vitória. Nesse período, o PSDB era um partido que vinha da frente das Diretas Já!, com Lula e Fernando Henrique nos palanques. Eu entendo que Vitória da Conquista não pode perder esse olhar do projeto. Se você transformar esse olhar do projeto no olhar da persona, você vai perder o que nos fez chegar onde chegamos. Então hoje é legítimo que Fabrício, que Elve Pontes, que outros nomes de nosso campo se coloquem. É legítimo que lideranças como Waldenor e Zé Raimundo, Alice Portugal, Marcelino Galo se coloquem, porque todo mundo cresceu. O que nossa experiência com Wagner mostra? Que nossa maior chance de vitória está quando olhamos unidos para o projeto. Então, a união PT, PSB, PCdoB e PV mais os partidos que estão na frente democrática como o PDT, PP, o PSD, que está sendo criado agora, é, sem dúvida, imbatível em Vitória da Conquista. Esse grupo tem as melhores condições, os melhores quadros para levar Conquista pra frente. O que eu vejo é que Vitória da Conquista, no nosso campo, precisa reequilibrar as forças na coalizão governativa, que vai oxigenar o processo pra que a gente continue avançando. Eu entendo que há liderança inconteste de Guilherme nesse processo; o fato de Guilherme ser a figura humana que é, com as características pessoais de hombridade, de seriedade, dinamismo, firmeza de propósito, o qualificam pra continuar à frente do próximo processo eleitoral. Agora, é natural que as outras forças também queiram seus espaços; então, nessa discussão, o PCdoB quer qualificar mais a sua presença dentro do governo, quer contribuir mais; todos querem contribuir mais. Então, veja que briga boa: nós não estamos lutando porque o governo é ruim e está levando a cidade à destruição. Mas a briga é assim: ‘eu quero mais espaço porque eu posso fazer mais’. O recado é esse e é um bom debate. Essa busca por mais espaço é natural. Aqueles meninos de 1997, liderados por Guilherme, são homens que estão dizendo: ‘nós estamos prontos’. É como se você tivesse numa olimpíada e os atletas estão todos em ponto de bala, no auge da sua forma física, em posição de largada aguardando o tiro.

BLOG DO FÁBIO SENA: Há quem diga que não há oposição em Vitória da Conquista e que, se há, esta não tem projeto. Você tem avaliado também esse aspecto da política local?

EMILSON PIAU: Eu acho que esse debate em Conquista hoje está desqualificado porque a discussão da política do desenvolvimento da cidade não está aparecendo. A sociedade exige um novo patamar de projeto e essa discussão está interditada em Conquista. Qual é o projeto que a oposição oferece pra Conquista? Não basta dizer que é capaz de fazer melhor do que ele, ou eu sou melhor do que ele. Essa é uma discussão que a sociedade não quer mais. A oposição não pôs na mesa seu projeto. É um projeto de continuidade do que Guilherme tá fazendo porque Guilherme não saberá fazer tão bem quanto eles fariam no lugar de Guilherme? Porque o nosso projeto é baseado nas questões sociais, na melhoria da saúde, na melhoria da educação, na melhoria da infra-estrutura urbana, tem um programa de governo focado nesses eixos: inclusão social, democracia, participação e desenvolvimento econômico. Qual é o outro projeto. O que que essa oposição oferece? Na minha visão, até agora, nada. O discurso da oposição é que vai fazer uma nova licitação do transporte coletivo? Qual o discurso da oposição? A oposição botou na cabeça que derrotar Guilherme é algo que vai transformar o mundo. E derrotar Guilherme não é projeto. Nós não estamos mais em Vitória da Conquista na fase de disputa por poder. A cidade quer saber qual o seu projeto. E esse debate está interditado porque a oposição não apresentou seu projeto. Nós já provamos que sabemos fazer política de saúde, de educação, de desenvolvimento social, e o que o governo Guilherme está propondo é a continuidade desse projeto, em consonância com o governo Wagner e com o Governo Dilma. A oposição está trazendo o que mesmo? Quem são os quadros?

Qual é o outro projeto. O que que essa oposição oferece? Na minha visão, até agora, nada

BLOG DO FÁBIO SENA: Já que você falou em projeto, Emilson, na sua avaliação, nesses últimos 14 anos, o que esse projeto político liderado pelo PT trouxe de ganhos para a cidade?

EMILSON PIAU: Esse projeto deu uma nova cara para a cidade de Vitória da Conquista. Eu costumo dizer aos meus amigos que quem tem mais de dez anos que esteve em Vitória da Conquista, chegando lá desconhece a cidade. Uma pessoa que saiu em 1996, para trabalhar em outras cidades, vai desconhecer completamente. É evidente que não é fruto da Administração Municipal somente, há outros vetores que favorecem essa dinâmica, mas, sem dúvida nenhuma, a forma como nosso grupo vem gerenciando a cidade trouxe as condições para esse salto de qualidade, e é evidente que nessa onda de crescimento do Brasil, a partir do Governo Lula, Vitória da Conquista se torna uma cidade mais forte ainda como fórum de desenvolvimento no território.

BLOG DO FÁBIO SENA: Mas há quem defenda que Vitória da Conquista cresce e se desenvolve independentemente de governos. Você acredita nisso?

EMILSON PIAU: Eu acho que houve um deslocamento na década de 80 no processo de crescimento das cidades no Brasil como uma redescoberta das cidades médias por conta do “inchaço” nas grandes metrópoles. E Vitória da Conquista, diferentemente de Feira de Santana, é uma cidade que tem uma maior sinergia com aquela mesorregião e com o norte de Minas. Se você olhar dados do Ministério do Planejamento, mais do que Feira de Santana, que é uma cidade que tem quase 800 mil habitantes mas que sofre com a atratividade de Salvador, Vitória da Conquista exerce uma atratividade naquela região, então, na verdade, não é uma geração espontânea, porque você tem os investimentos em políticas públicas que funcionam como vetor e atração de crescimento. No Brasil, uma questão importante é que o maior comprador é o governo, seja ele municipal, estadual ou federal; é o maior comprador de insumos, é o maior contratante, é o maior consumidor de materiais de informática, de escritório, de lápis; então, o próprio funcionamento da máquina pública, a dinamização… por exemplo, a Prefeitura de Vitória da Conquista arrecada em torno de R$ 30 milhões; hoje deve estar arrecadando em torno de R$ 300 milhões a mais; esse recurso gira duas ou três vezes do ponto de vista econômico dentro da própria cidade, porque o salário reveste dentro do pagamento das contas das pessoas, que reveste no pagamento dos trabalhadores das empresas, e depois na compra de um bem. Só para você ter uma referência, quando se compra um produto da agricultura familiar, esse dinheiro gira cinco ou seis vezes dentro da própria comunidade; quando você compra uma camisa de São Paulo ou outro lugar, o terceiro giro desse dinheiro já vai acontecer em São Paulo; então, pelo menos dois giros dos recursos da Prefeitura são feitos dentro da própria cidade, e isso por si só gera aquecimento; você soma a esse aspecto o crescimento da chamada “nova classe média”, sem entrar na controvérsia se existe ou não essa nova classe média, mas essa inclusão de 30 milhões de pessoas no mercado consumidor pela base faz com que Vitória da Conquista, que é uma cidade com uma forte vocação para serviços, melhore o seu perfil. O Mangabeira Unger diz que o surgimento dessa nova classe média gera um novo mercado, que são pessoas que estão batalhando, ganhando seu dinheiro, pagando sua própria faculdade, pagando seu próprio curso de especialização, abrindo seus pequenos negócios. Uma pesquisa publicada recentemente mostra que esse crescimento dessa nova classe média, esse novo perfil empreendedor está fortalecendo a abertura de lan houses, de salão de cabeleireiros, de pequenos negócios em forma de franquia por pessoas com faixa de renda até R$60 mil; se você olhar Vitória da Conquista hoje, tem um monte de franquias abertas, de iogurtes, de lanche, de cafeteria, de livraria, que não tava ma cidade antes. Essa dinâmica tem que ser agregada ao seguinte fato: houve a moralização na gestão publica, houve ordenamento no gasto, concursos públicos realizados, transparência nas ações, houve um processo de empoderamento social através do estímulo do Orçamento Participativo, das discussões com a comunidade, da participação das pessoas, criação de vagas nas escolas, ampliação do número de leitos hospitalares, reestruturação dos hospitais, dos postos de saúde, criação das equipes de saúde da família, construção de escolas… tudo isso gera um ambiente favorável ao desenvolvimento dos negócios; aí você soma a isso também a melhoria da infra-estrutura básica: saneamento, pavimentação, iluminação, reforma de praças, transporte público, fatores que contribuem para a atratividade da cidade de Vitória da Conquista como vetor de desenvolvimento; então não é geração espontânea: é uma visão empreendedora dos conquistenses, uma disponibilidade de ousar e buscar novos negócios, por outro lado, a colocação de vetores que favorecem isso: universidades, faculdades particulares… você cria um ambiente onde a potencialidade do sujeito, que em certos momentos poderia estar interditada pela falta de condições, quando você coloca as condições, o indivíduo que já tem em si a vocação empreendedora se lança e a cidade cresce. É um processo onde o poder público funciona como alavancador e o empreendedor vai puxando, então há um movimento de peso e contra-peso e todo mundo cresce.

BLOG DO FÁBIO SENA: São quase 15 anos de um mesmo projeto político em Vitória da Conquista. Você enxerga esse projeto como um todo ou ele apresenta nuances, fases, etapas diferentes…

EMILSON PIAU: Eu tenho trabalhado atualmente com o conceito de bom problema. Nós vivemos, em muitos aspectos de nossa vida, na problematização das coisas; então, os problemas são, em tese, resultados indesejados, coisas que aconteceram no passado que você considera que não foram corretamente executadas, ou que não deram certo. Mas eu tenho buscado trabalhar com o conceito de bom problema, ou seja, são conseqüências de sua ação, como se fossem efeitos colaterais de sua ação e você tem que resolvê-las no sentido de avançar ainda mais. Quando nós assumimos o governo em 1997, estávamos com os salários atrasados, problemas em várias áreas, Prefeitura inadimplente, dois veículos apenas. Então o primeiro governo do prefeito Guilherme foi de arrumação da casa, foi um governo de organização das estruturas internas. É como se você tivesse um movimento para dentro, no sentido de fazer os grandes concursos públicos, a licitação do transporte coletivo, a regularização das contas dos funcionários, a resolução de pendências judiciais que vinham se arrastando; no segundo governo, você já tem um patamar de desenvolvimento que lhe permite ousar em algumas direções, embora me lembrando que, desse período anterior, vem a municipalização da saúde, as grandes brigas que foram travadas pra você organizar a relação com os prestadores, hospitais particulares, rede pública, conveniada; era um processo onde o próprio SUS estava se estruturando também como modelo; a segunda gestão foi aquela onde, estruturadas as condições de funcionamento, melhoradas as condições internas, realizado o concurso público, resolvida uma grande quantidade de questões, Vitória da Conquista estava forte pra crescer. E aí foi a hora de elaborar projetos. Vários projetos foram gestados – coisas que inclusive estão sendo executadas agora – na segunda gestão. A terceira gestão, que foi a de José Raimundo, ela foi para os eixos estruturantes do crescimento da cidade, a questão da Avenida Integração, da licitação para o saneamento básico, a ampliação de diversas ruas, pavimentação, reestruturação de hospitais… e nessa fase agora o prefeito Guilherme herdou um bom problema, porque, de todo modo, de 1997 até 2008, foram re-arrumadas várias coisas dentro da cidade, reorganizados vários processos, e o que sobrou? Sobraram os grandes desafios do salto de qualidade de cidade pequena para cidade média; então o que falta hoje? Falta o aeroporto, uma estação rodoviária, melhorar o transporte coletivo além do que já foi melhorado; antes, as pessoas brigavam pra conseguir ter acesso ao ônibus; tinha 60 ônibus velhos que, quando a gente começou fazer vistoria, o tanque de um desses ônibus caiu no chão; hoje você tem duas empresas operando, pesquisas do sobe e desce, fluxo, você sabe quais são as linhas deficitárias, você tem hoje um acúmulo de informações sobre o sistema que permite fazer nova licitação com outro patamar, então as gestões de Vitória da Conquista foram criando degraus sustentáveis, estáveis e seguros para os próximos passos; Guilherme, ele mesmo jogou um bom problema da primeira para a segunda gestão; passa o governo de Zé Raimundo, que herda de Guilherme excelentes problemas. Se você pensar bem, Vitória da Conquista foi pioneira em programas que o próprio governo federal abraçou; o programa de agentes comunitários de saúde Vitória da Conquista já tinha antes de se tornar uma política pública; o Conquista Criança foi uma experiência exitosa que o Banco de Desenvolvimento, o BNDES, foi à cidade, e foi a primeira vez no Brasil em que uma estrutura governamental foi o eixo de articulação para uma rede de atenção a criança e adolescente, que envolveu creche, pastorais, movimentos sociais, puxados pelo governo, quando o comum é a sociedade puxar o governo; o Conquista Criança era uma política inédita no Brasil e hoje você tem SUAS, CRAS e um monte de coisas que não havia. Imagine que a primeira atitude do governo foi comprar uma área para assentamento urbano, com algo em torno de 6 a 8 mil lotes, na região de crescimento da cidade. Que área é essa hoje? É a área onde está o shopping, a área que é o vetor de desenvolvimento da cidade; um assentamento urbano promovido pela Prefeitura, que é o Vila América, está a 700 metros do shopping, numa cidade média, isso antes de existir o Minha Casa Minha Vida. Ou seja, o nosso programa de habitação popular, ele é pioneiro em relação ao Minha Casa Minha Vida. Então, o governo de Vitória da Conquista vem gerando para ele mesmo excelentes problemas. Hoje, os setores médios e endinheirados da cidade, estão clamando por desafios mais além: eles clamam por emprego de melhor qualidade, por universidades públicas e privadas de melhor nível, com cursos de tecnologia, com cursos de ponta, clamam por um aeroporto. Vitória da Conquista tem excelentes supermercados, hotéis, uma rede de lazer e entretenimento boa. Mas faltam esses desafios. Então você precisa ter escolas politécnicas, institutos federais de educação, centros de tecnologia… já tem isso e as pessoas querem mais. Então, se você olhar, essa administração é extremamente vitoriosa porque hoje você não vê ninguém discutindo se a Prefeitura está ou não envolvida naquela tramóia; se a gestão municipal está ou não envolvida neste ou naquele esquema; a discussão na cidade é ‘nós queremos mais, esse governo pode mais’. O desafio que o governo Guilherme tem hoje é se projetar com esse olhar do futuro e ser hoje, como foi em 1997, o farol para os empresários, os comerciantes, apontando o rumo desse novo crescimento.

Fonte:www.blogdofabiosena.com.br