quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Mudar de partido, coerência ou fraqueza?

Por Genaldo de Melo


Esta semana é crucial para aqueles que pretendem se alçarem a condição de candidatos, tanto ao Legislativo quanto ao Executivo, nas eleições de 2012. Os prazos para filiações nas agremiações partidárias, cumprindo o que reza a legislação eleitoral vigente, terminam na próxima sexta-feira. Tem gente quase ficando doido e outros tentando vender pedaços do céu para pretensos puxadores de votos. Bem que todo mundo sabe dos prazos, mas todos que mudam de partido, sempre fazem isso de última hora para saber exatamente quando vale suas cabeças para os caciques partidários.

O mais interessante desse teatro todo é que o grande jogo que está sendo realizado é pautado principalmente pelos pleiteantes aos cargos ao Legislativo. Todos os partidos, com raras exceções estão envolvidos no processo, pois quase todos pretendem naturalmente aumentar seus coeficientes eleitorais e colocar mais quadros no céu azul dos vencedores, bem como colocar suas siglas em evidência.

Tem até parlamentar que sem conhecer a legislação eleitoral e sem ouvir suas respectivas assessorias, está mudando de partido sem observar a mesma, e pode perder o mandato e provavelmente chorará depois a dor dos que são vencidos sem a oportunidade de lutar.

Observando esses cenários em que esses atores encenam essa peça, aonde os interesses de umbigo se sobrepõem aos interesses das vozes das ruas, daqueles que labutam até 48 horas semanais em trabalhos degradantes para a natureza humana, temos a sensação nítida da preocupação. Poucos no meio do povo compreendem o que é um partido político e para que ele serve. Pouquíssimos sabem que partido político é coisa séria, e é prá fazer valer exatamente os interesses de todos que vivem em determinado Município ou Estado.

Tomara meu Deus que um pouco das vozes das ruas compreendam que daqueles que mudam, apenas uma minoria é formada de gente séria! Pois a grande maioria dos que abandonam seus ninhos e seus pares, são como bandidos que precisam para sobreviver cometer erros.

Compreendo também que são poucos os partidos sérios nesse país. Os sérios são aqueles que têm uma grade programática e um projeto, são exatamente aqueles que seus filhos não abandonam a casa, porque são bem criados. Os que abandonam a casa são aqueles que foram agregados e esqueceram o sentido da palavra coerência e a capacidade de compreender o verdadeiro sentido da palavra povo.

Aqueles que mudam por coerência merecem respeito e aqueles que mudam por interesse pessoais, por interesses ocultos de grupelhos que não representam o povo, são os fracos....

PCdoB de Feira de Santana realiza Conferência Municipal

Por Genaldo de Melo

No próximo sábado, 08 de outubro, o Diretório Municipal do Partido Comunista do Brasil do município de Feira de Santana realizará sua Conferência Municipal, com o conjunto de seus filiados e militantes para discutir assuntos referentes a sua organização visando a participação no próximo pleito eleitoral que acontecerá em outubro de 2012.

O evento acontecerá às 09:00 hs, na Escola Estadual Luís Eduardo Magalhães, situado na Avenida Presidente Dutra, s/n, no Centro de Feira de Santana. Entre os assuntos a serem discutidos está a discussão e deliberação do documento sobre o Projeto de Resolução Política e da Atuação Partidária, além de uma avaliação participativa da conjuntura política do município de Feira de Santana. No mesmo evento será escolhida a nova direção política da agremiação partidária, que ficará responsável pela condução dos rumos do Partido para o próximo período.

Segundo Rozete Evangelista, da atual Direção “a Conferência será um momento impar, pois pautados em resoluções baseadas na realidade em que estamos vivendo no país, retomaremos nossos trabalhos políticos para apresentar à sociedade feirense um projeto de renovação da Casa da Cidadania, e participaremos ativamente da construção de uma chapa majoritária em que estejam pautados elementos para uma cidade mais humana”.

Protecionismo, o apelo de um império em declínio

Editorial do Vermelho

O Senado dos EUA começou a debater um projeto de lei bipartidário que confere à Casa Branca o poder de decretar sanções comerciais contra países que, de acordo com o julgamento de Washington, recorrem à manipulação cambial para ganhar competitividade e proteger sua indústria.

O alvo é a China, que resiste à pressão internacional para deixar sua moeda flutuar livremente ao sabor das forças de mercado e mantém as cotações do yuan sob rigoroso controle. Em Pequim, o governo captou a mensagem e reagiu com firmeza, expressando “firme rejeição” à iniciativa e alertando que ela "pode conduzir a uma guerra comercial a que não queremos assistir".

Em 2010, os EUA registraram um déficit comercial com a China de US$ 273 bilhões. Os congressistas justificam o reforço do protecionismo pretextando a necessidade de corrigir o formidável desequilíbrio implícito no intercâmbio comercial e financeiro dos EUA com o mundo, especialmente nas relações com a Ásia, apontado por alguns economistas como a raiz da crise mundial.

Não é possível negar que o rombo na conta de mercadorias, embora essencial à realização do capital proveniente de muitos países, é um problema sério para o império. Mas o déficit, que originou a dívida externa e uma alarmante necessidade de financiamento externo, vem de longe e não pode ser atribuído à competitividade chinesa.

Começou nos anos 1960 (com Japão e Alemanha) e se transformou em fenômeno crônico e geral a partir de 1971, coincidindo com o fim do padrão dólar-ouro. Desde então, ano a ano, os estadunidenses cultivam despreocupadamente a cultura de consumir além da própria renda que amealham, vivendo no início à custa dos lucros extraídos pelos seus monopólios e, posteriormente, à base do fiado. Os primeiros beneficiários deste vício foram Alemanha e Japão, até o final dos anos 1980; a China veio depois.

É este parasitismo que arrasta o império ao caminho da decadência e decomposição. Em sua origem, reside a carência de poupança, que está refletida no déficit em conta corrente, traduz a baixa taxa de acumulação interna de capitais e explica a perda de competitividade das exportações e acentuada desindustrialização da economia. Ainda que se queira apresentar tal realidade (a perda da importância relativa da indústria) como uma tendência inexorável do capitalismo contemporâneo e mesmo sinal de progresso, na verdade, neste caso, é apenas um sintoma de decadência, assim como a ascensão chinesa encontra sua explicação no extraordinário crescimento da indústria.

O problema não é a China, como não foi o Japão ou a Alemanha no passado, e não será resolvido com medidas protecionistas. Conforme argumenta Ma Zhaoxu, porta-voz do Ministério do Exterior do país asiático, os EUA estão usando o câmbio como “desculpa” e o projeto que o Senado examina “viola regras da OMC e perturba seriamente as relações econômicas e comerciais sino-americanas". Não serão ações deste gênero, sustenta, que eliminarão os "verdadeiros" problemas dos EUA: um déficit comercial elevado, uma alta taxa de desemprego e escassez de poupança. Culpar os chineses é como tapar o sol com a peneira.

É necessário sublinhar que o jogo de interesses envolto na disputa não é guiado pela Razão ou pelo bom senso. A reação dos EUA é própria de um império em declínio, que busca conter e se possível reverter a ascensão vertiginosa da nova potência asiática, hoje de longe a sua principal rival.

O protecionismo não é bom conselheiro das relações entre as nações e adiciona mais um ingrediente perturbador à crise mundial do capitalismo. É inevitável recordar que a Grande Depressão que atravessou os anos 1930 foi acompanhada pela multiplicação das medidas protecionistas, guerras cambiais e comerciais e conflitos crescentes entre as nações. O desfecho, em 1939, foi a tragédia de uma guerra que ceifou dezenas de milhões de vidas.

Ato político defende fim do poder econômico nas eleições

O financiamento público exclusivo de campanha e a lista preordenada são as questões que uniram partidos políticos de esquerda, movimentos sindicais e sociais no ato político em defesa da reforma política para ampliar democracia, realizado nesta terça-feira (4), na Câmara dos Deputados em Brasília. Lideranças políticas e sociais falaram em defesa do que consideram o primeiro passo.


Agência Câmara
Ato político defende fim do poder econômico nas eleições O evento atraiu grande público que lotou o maior auditório da Câmara dos Deputados
O ato foi marcado para um dia antes da votação da proposta na comissão especial nesta quarta-feira (5). A votação em plenário é esperada para segunda quinzena de novembro.

“O primeiro passo é proposta básica comum e podemos com isso ir adiante”, resumiu o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, lembrando que o Partido defende a reforma política há 20 anos, “porque é importante para nossas instituições políticas, mas tem significado para promover reformas no estado brasileiro.”

Os oradores se uniram em torno da defesa do financiamento público exclusivo de campanha para afastar o poder econômico do processo eleitoral. “É o fim da cláusula de barreira econômica”, resumiu o relator da matéria, deputado Henrique Fontana (PT-RS).

O líder comunista destacou o esforço do relator de buscar proposta viável. Proposta que está baseada em duas questões, que considera fundamentais. “Na visão do PCdoB, a reforma política parte de duas questões - financiamento público exclusivo de campanha, que garante democratização e controle, e as listas preordenadas, porque fortalecem os partidos”, explicou Rabelo.

E, a exemplo do presidente do PSB, Roberto Amaral, criticou qualquer proposta de voto distrital que, segundo eles, é um modelo importado, que quer impedir a participação das minorias e instalar o bipartidarismo.

“É preciso levar em conta a realidade política do nosso país”, disse Rabelo, anunciando o apoio à proposta alternativa do relator de permitir ao eleitor direito a dois votos na eleição proporcional – um na lista preordenada e outro em um candidato.

O Presidente do PCdoB enfatizou ainda que para o PCdoB, que é um partido que sempre levou em conta o papel das mulheres e juventude, a paridade nas listas preordenadas é muito importante, elogiando o trabalho da deputada Luiza Erundina (PSB-SP) nesse sentido.

União para aprovação


O deputado Henrique Fontana, que falou depois dos líderes partidários e antes do líderes sociais, fez um discurso inflamado, enfatizando que a proposta de reforma, “é encontrar ponto médio para impedir que a turma que não quer reforma, porque tem poder com esse sistema, encontre maneiras de bloquear a reforma”.

Ele disse ainda que “essa turma é capaz de reunir centrais sindicais, diversas entidades e setores da sociedade para comporem maioria e dizer chega a esse sistema político, que faz do poder econômico nascer o poder político que vai decidir os rumos do país nessa Casa”.

Ele explicou ainda que os empresários embutem nos preços aquilo que investem nas eleições, portanto, em última instância, quem paga é o povo brasileiro, para que os empresários se beneficiem , elegendo os seus representantes.

“Esse grupo quer mudar e vai mudar com aprovação do relatório que é o primeiro passo para acabar com a cláusula de barreira econômica”, enfatizou, acrescentando que “a reforma é por mais igualdade, mais credibilidade, porque a política é fundamental e indispensável para garantir educação e saúde”.

Participação popular

O Presidente do PSB, Roberto Amaral, foi o primeiro a falar. Ele abriu o caminho para os demais oradores em defesa do financiamento público exclusivo de campanha. “Toda medida que tolha participação popular terá nossa rejeição e toda aquela que aumente a democracia representativa terá nosso apoio”, disse, destacando o apoio do seu partido a realização de referendos, plebiscitos, projeto de lei de iniciativa popular e referendo revogatório de mandato, que representam transição para democracia participativa.

O deputado André Figueredo, do PDT do Ceará, falou em nome do seu Partido e, a exemplo dos demais oradores, disse que a reforma política que defende é aquela que garanta que a constituição seja cumprida: “Todo povo emana do povo e em nome dele deve ser exercido”, acrescentando que “ano após ano, os grupos econômicos se sobrepõem as candidaturas populares. As representações do povo estão minguando e o que impera é o poder do dinheiro e a compra do voto”.

Para o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), “ a primeira ideia é liquidar com a influencia do poder econômico sobre o processo eleitoral e isso só se faz com financiamento público exclusivo de campanha”, destacando que “as eleições, com financiamento privado, sai mais caro com corrupção, superfaturamento das obras, porque os empresários só doam se forem ganhar”.

Também o representante do PV, deputado Alfredo Sirkis (RJ), falou sobre a importância de que a proposta com o financiamento público exclusivo de campanha seja aprovada, lembrando que os partidos políticos que participaram do ato não compõem maioria, o que representa um processo difícil e complicado de negociação. Segundo ele, nesse processo de negociação, “não se pode perder o norte e a prioridade que é manter o poder econômico longe do processo eleitoral”.

Para prosseguir a luta

Rui Falcão, presidente do PT, foi o último a falar entre os líderes partidários. Ele disse que “a aprovação do relatório é condição para que a luta pela reforma política possa prosseguir, tem que ganhar as ruas, ganhar volume, para convencer sobre a importância da reforma para o nosso país”.

Ele também destacou o esforço comum de todos os partidos de manter as duas questões fundamentais – financiamento público e as listas mistas proporcionais. E, repetindo a fala de Renato Rabelo, afirmou que “lista é caminho mais apropriado para acabar com sub-representação das mulheres no Congresso”.

Após a fala do relator, as lideranças sociais se revezaram no microfone. Uma a um, eles defenderam a votação do relatório, destacando que é o início de mudanças mais profundas que devem ser feitas no processo eleitoral brasileiro.

O presidente da União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes), Yann Evanovick, o último orador do evento, que durou cerca de duas horas, afirmou que existe muito injustiça no processo eleitoral E destacou o esforço que deve ser feito pelos parlamentares comprometidos com o relatório de conquistar mais deputados para a formação de maioria.

Ganha quem gasta mais

Os oito deputados federais eleitos em 2010 pelo Distrito Federal gastaram em suas campanhas eleitorais um total de R$8 milhões, um gasto médio de R$1 milhão por candidato. Esse montante é 15,6 vezes maior que a média gasta pelos candidatos não eleitos. Os números foram levantados pela assessoria do deputado Henrique Fontana (PT-RS), relator da Reforma Política na Comissão Especial da Câmara, com base nos dados oficiais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Segundo o relator, essa lógica de que quem mais gasta tem maior chance de se eleger vale também para as assembleias municipais, estaduais e para o Senado Federal. Se levada em conta as campanhas para deputado federal em todo o país os gastos totalizaram R$904,5 milhões. Desse total, os 513 deputados eleitos gastaram 64% o que demonstra segundo Fontana, que há uma relação muito forte entre arrecadação e sucesso eleitoral.

Pelos números do TSE, a soma dos gastos de campanha para deputado federal no Distrito Federal chegou a R$13,6 milhões, mas os vencedores gastaram 59,18% desse total, sendo que os demais candidatos gastaram R$5,5 milhões. A série histórica dos gastos de campanha é ainda mais preocupante. A cada quatro anos o valor declarado pelos candidatos ao TSE cresce numa média de 120%.

De Brasília
Márcia Xavier

Quando a política vira coisa “técnica”

Desconfie daqueles que tentam lhe convencer da existência de medidas puramente técnicas em administrações públicas. Geralmente buscam encobrir o essencial: a ação governamental tem sempre ganhadores e perdedores. É sempre política.

A virtual quebra da economia grega representa o grau máximo de submissão de uma autoridade pública aos ditames do mercado. Ou seja, ao mundo privado. Embora as relações de troca se deem na esfera pública, suas regras, dinâmicas e procedimentos acontecem a partir daquela pequena mas poderosa parcela da sociedade que concentra capital e, por conseguinte, poder.

O governo grego, capitaneado por um partido que tem a denominação de “socialista” – o que hoje não significa muita coisa – resolveu tomar lado no dilema colocado à sua frente. Se suspendesse os pagamentos do serviço de sua dívida pública, estaria ameaçado de sofrer uma retaliação brutal por parte dos bancos credores – em sua maior parte europeus – e de ser tratado como um pária no sistema financeiro internacional. Uma espécie de leproso da Idade Média, de quem nada ou ninguém quer se aproximar e muito menos oferecer linhas de crédito.

Uma escolha soberana desse tipo teria também efeitos devastadores para a economia européia. Uma moratória ou default por parte do país, além de arrastar bancos franceses e alemães, contaminaria toda a zona do euro (na dupla acepção do termo) e poderia dizimar a credibilidade da moeda única, dizimando economias maiores que enfrentam problemas fiscais de difícil solução.

O governo grego tomou a não decisão: aceitar todas as exigências das autoridades monetárias européias e dos bancos credores. Arrebentarão o país, mas serão reconhecidos como bons pagadores.

O bom senso da rendição
Entre as duas opções, a administração de George Papandreou escolheu a alternativa tida como a mais sensata. Na novilíngua global, bom senso quer dizer render-se às circunstâncias ou caminhar passivamente para o matadouro (apesar das multidões não quererem isso).

Alguns governos europeus, de esquerda e de direita, trafegam pela mesma senda diante do tsunami da crise. A administração de José Luis Zapatero, na Espanha, chegou ao cúmulo de pretender colocar uma apertadíssima meta de déficit público na letra da Constituição, para se adequar às orientações do sistema financeiro.

Um ponto tem unido governos de distintas colorações: arrocho fiscal, redução do papel social do Estado e absoluta prioridade ao atendimento das demandas do mercado. Cada vez mais se buscam “consensos” que tornam as ações econômicas de distintos partidos no poder quase indiferenciadas entre si.

Neutras e limpas
A justificativa para o grande público é que as medidas adotadas seriam “técnicas” e nada teriam a ver com a esfera política. Algo semelhante ao que é decidido nas reuniões do Copom, do Banco Central brasileiro. Elevações estratosféricas das taxas de juros seriam decisões tomadas por um pessoal especializado que não se deixa dominar pelas paixões da política. Paixão, todos sabem, é aquela força estranha, algo irracional, que nos deixa em estado catatônico e nos faz pensar o dia inteiro na pessoa amada.

Opções técnicas seriam feitas em ambientes neutros, limpos, de pura racionalidade, quase esterilizados, repletos de indicadores, estatísticas, balancetes e várias engenhocas de última geração. A decisão seria tão isenta quanto trocar o pneu furado de uma bicicleta.

O reino da política, por sua vez, seria sujo, cheio de interesses inconfessáveis, corrupto, parcial e tocado por gente da pior espécie. Se fosse num filme, poderia ser retratado como um local esfumaçado, repleto de vícios, drogas, álcool e negociatas variadas. Pior ainda se fosse contaminado pelo vírus da ideologia, essa praga que só serve para confundir as coisas e evitar que se faça o que tem de ser feito. Aliás, este era o slogan da campanha de Mario Covas (PSDB-SP) à reeleição para governador, em 1998: “Fazendo o que tem que ser feito”.

A diretriz tecnicista é tão óbvia e de fácil entendimento, que costuma se tornar popular. Por isso, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, gerou enorme empatia ao dizer que seu novo partido, o PSD. Ele “não é de direita, nem de esquerda e nem de centro”. É uma agremiação que fará o que tem de ser feito, um partido sem esse vício pernicioso da política. Um partido técnico, enfim.

É a política, é a política!
Poucos se aventuram atualmente a investir contra esse cipoal de meias verdades tecnicizantes.

Um deles é o ex-presidente Lula. Ele disse, durante a solenidade em que recebeu o título de doutor honoris causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, no último dia 27, que a crise econômica se resolve essencialmente no terreno da política. "A hora não é de negar a política, e sim fortalecê-la”, completou ele.

A frase toca num dos pontos mais caros aos conservadores e às lideranças políticas que buscam justificar medidas impopulares. Para eles, cortes orçamentários, restrições salariais, taxas de juros estratosféricas, entre outras iniciativas, seriam medidas “técnicas”, não “contaminadas” pelas “paixões políticas ou ideológicas”. Age-se como se existisse uma economia desprovida de ganhadores e perdedores, algo distante do arbítrio das decisões humanas.

História antiga
A distinção entre a política e medidas tidas como técnicas não nasceu com os ultraliberais de hoje. Como dizia o ex-governador Leonel Brizola, essa formulação vem de longe.

Uma das principais referências teóricas do pensamento conservador em economia é o Tratado de Economia Política, escrito pelo francês Jean-Baptiste Say (1767-1832),. Escrito em 1803, o trabalho é tido como um dos pilares do liberalismo. Say é um seguidor de Adam Smith (1723-90).

Say coloca no papel teses que se tornaram caras aos liberais ao longo dos séculos, como, por exemplo, a completa separação entre economia e política:

“Durante muito tempo, confundiu-se a Política propriamente dita, a ciência da organização das sociedades, com a Economia Política, que ensina como se constituem, se distribuem e se consomem as riquezas que satisfazem as necessidades das sociedades. Entretanto, as riquezas são essencialmente independentes da organização política. Desde que bem administrado, um Estado pode prosperar sob qualquer forma de governo”.

Em certa medida, é o que o economista liberal brasileiro Eugenio Gudin (1886-1986) defende em 1938, em um texto chamado Aspecto econômico do corporativismo brasileiro. Ali ele comenta a história do capitalismo nos séculos XIX e XX:

“Quem acompanhou a marcha e a evolução do chamado regime capitalista de 1875 a 1914, até rompimento da Guerra Mundial, constatou que o enriquecimento geral prosseguia seu ritmo natural e benéfico, a difusão de capitais se processava com regularidade, as condições de trabalho melhoravam por toda parte, o comércio internacional melhorava todos os anos. E se guerra houve, foi inteiramente gerada pelas paixões e ambições políticas e militares e em que os fatores econômicos menor papel representaram, essa foi a guerra de 1914, que desencadeou sobre o mundo uma das maiores crises econômicas da história”.

Gudin também separava economia de política. O conservadorismo vê a sociedade formada por partes estanques entre si.

Desconfie dos técnicos. O Brasil de 1964 estava cheio deles. Eram todos apolíticos, mas não vacilaram em aderir ao golpe triunfante e compor a tecnoburocracia da ditadura. Hoje encastelam-se no sistema financeiro, têm colunas na imprensa e continuam defendendo privatizações, desregulamentações, superávits primários, arrochos variados e recomendando fazer o que tem de ser feito.

Todos são sensatos, isentos e recionais. Longe da sujeira da política.

Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).

Fonte: Carta Capital

Fatos em foco

Professores públicos de Minas precisam da solidariedade nacional dos trabalhadores

Hamilton Octavio de Souza - BF
 
Evasão crescente
O grande problema de facilitar a vinda do capital estrangeiro para o Brasil é que a evasão da riqueza gerada aqui, com o suor dos trabalhadores brasileiros, não para de crescer. Em agosto, a remessa de lucros das transnacionais instaladas aqui chegou a 5,1 bilhões de dólares, 180% superior à remessa do mês anterior. É o recorde registrado pelo Banco Central em mais de 60 anos. Por que não existe exigência de investimento no Brasil?

Devastação
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou, dia 21, versão piorada da reforma do Código Florestal. Em nota, o movimento Greenpeace denunciou a manobra ao afirmar que “os senadores empurraram para frente um Código Florestal que desprotege as florestas”. Por sua vez, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil decidiu engrossar a defesa das florestas em campanha junto aos fiéis. A luta continua!

Luta operária
O Sindicato dos Químicos, que representa uma das maiores categorias profissionais de São Paulo, aprova dia 30 a pauta da campanha salarial deste ano, que inclui reposição da inflação mais 6% de aumento real, piso de R$1.200, participação nos lucros, redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e fim das dispensas imotivadas – nos termos da Convenção 158, da OIT, que é de 1982 e ainda não vigora no Brasil.

Pura retórica
Assim como os políticos e governantes dos Estados Unidos e Europa falam em aumentar os impostos dos ricos para conter os estragos da crise econômica, aqui no Brasil alguns parlamentares adotaram o mesmo discurso para captar recursos destinados ao falido sistema público de saúde. Só falta mesmo alguma iniciativa séria para transformar o discurso em medidas concretas. Quem tem coragem?

Vulnerabilidade
A mais séria pesquisa realizada no Brasil sobre tecnologias da informação e da comunicação, publicada em 2011, constata que 74% dos usuários da Internet na faixa dos 10 aos 15 anos de idade participam de sites de relacionamento, 69% tem ao menos um amigo virtual, 12% já namoraram pela rede, 11% já divulgaram fotos íntimas e 33% sabem de amigos que sofreram cyberbullying. Como promover os direitos de crianças e adolescentes no ciberespaço?

Empulhação
A aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que cria a Comissão da Verdade, piorado pelas concessões do PT ao DEM e ao PSDB, está sendo muito criticada por entidades de direitos humanos e familiares das vítimas da ditadura civil-militar (1964-1985). Todos pedem que o Senado realize várias mudanças no texto para assegurar a apuração efetiva dos crimes praticados pelo Estado. Será que o Senado vai sair do acordão?

Ação paramilitar
A Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência, do Rio de Janeiro, está mobilizando apoio em todo o país para denunciar as ameaças e atentados contra a militante dos direitos humanos Márcia Honorato, que há vários anos é perseguida por policiais e milicianos e, recentemente, quase foi atropelada, próximo da Central do Brasil, por um carro ocupado por homens encapuzados. A segurança da Márcia depende das autoridades!

Solidariedade já!
A greve dos professores públicos de Minas Gerais é legal, justa e legítima. Eles defendem o piso salarial nacional e a dignidade da categoria. Estão sofrendo ameaças do governo tucano, de chefetes capachos, do Tribunal de Justiça do Estado e da mídia conservadora. Precisam da solidariedade nacional dos trabalhadores e de todos os cidadãos e cidadãs que defendem uma educação pública de qualidade. Chega de enganação!

Correção
Na coluna anterior informei erradamente que um programa da Rede Bandeirantes – sobre prostituição infantil – não teria ido ao ar por veto da direção da emissora. Na verdade, o programa acabou indo ao ar com alterações feitas a pedido de diretores da Band, que estavam receosos de que o impacto do programa pudesse prejudicar negócios da emissora na cidade do Recife. A censura, mesmo pequena, existiu.

Sensacionalismo: informação que vende

Por Valério Cruz Brittos e Éderson Silva, no Observatório da Imprensa:

Desde que a informação, a matéria-prima do jornalismo, passou a ser concebida como um produto e como tal priorizada para venda, o ato de informar seguiu um caminho perigoso e conflitante. A fidelidade aos fatos e à ética foi distorcida em nome de uma matéria espetacular para a apreciação e o consumo do maior número de receptores possível. Inseridas no contexto capitalista, as empresas de comunicação têm uma visão mercantilista da informação, que deve agregar a maior parte do público a que se destina para obter os melhores preços na vendagem do produto em si ou de sua publicidade.

O sensacionalismo é utilizado cada vez mais como recurso estratégico nesta Fase da Multiplicidade da Oferta em que os agentes comunicacionais têm que captar a atenção do público rapidamente, ante o acirramento da concorrência. Esta capacidade de agregar públicos faz com que o sensacionalismo seja utilizado, inclusive, como ação de programação para conquistar público localmente, como, no mercado televisivo, fazem Band e Record com a edição regional do Brasil Urgente e o Balanço Geral, respectivamente, ou como procedem organizações jornalísticas de vários estados brasileiros, com jornais para públicos C, D e E.

Nos projetos sensacionalistas, a notícia deve ser conduzida a um extremo, ocorrendo a exacerbação dos fatos incessantemente com detalhes minuciosos a fim de chocar ou emocionar o público. Estes casos ocorrem principalmente em sequestros, estupros, crimes hediondos, assaltos e outros acontecimentos fortes, em que há uma máscara de jornalismo popular, com seus protagonistas sendo proclamados representantes do povo. São mostrados como figuras paternalistas, defensoras dos mais fracos, mas se enriquecem da desgraça e do sofrimento alheio, vendendo uma imagem ilusória de salvação para os problemas sociais.

Questão ética, ponto crucial

Diariamente, grande parte da mídia utiliza-se do sensacionalismo para esquentar a notícia, permitindo sérios questionamentos éticos. Assim, o sensacional é mostrado de forma chocante e cruel ao telespectador e ao leitor. Os programas policiais utilizam-se muito desta forma de violência gratuita para noticiar os acontecimentos diários, quando são violados os direitos do cidadão. Forma-se um verdadeiro “circo midiático” em torno de um dado acontecimento, que toma proporções gigantescas, não raro desenrolando-se em vários capítulos, como uma novela, pronta para a venda em larga escala. Este tipo de jornalismo não distingue o que é informação relevante da que não é, e sim, a que vende e a que não vende.

O Código de Ética dos jornalistas brasileiros menciona que o profissional da área deve combater e denunciar todas as formas de corrupção, em especial quando exercidas com o objetivo de controlar a informação. Deve haver respeito à intimidade, à privacidade, à honra e à imagem do cidadão, o que não ocorre quando se trata de explorar a notícia pelo seu ângulo sensacional. Paradoxalmente, quanto mais o sensacionalismo é utilizado, mais é lançado o argumento de que o jornalismo não deve ser regulado porque, por si próprio, teria um caráter de serviço público, mesmo quando exercido no âmbito de instituições mercadológicas.

A atividade jornalística visa à pluralidade, na sua gênese estando ligada a interesses mais amplos, já a exploração de imagens com o objetivo de chocar as pessoas remete a objetivos privados, relacionados ao lucro, preferencialmente. No código da profissão está claro, em seu artigo 11, dentre outros pontos, que o jornalista não pode divulgar informações visando ao interesse pessoal ou buscando vantagem econômica; nem que contenham caráter mórbido, sensacionalista ou contrário aos valores humanos, especialmente em cobertura de crimes e acidentes. Questiona-se até que ponto grande parte dos conteúdos jornalísticos atuais passa por este confronto nas diversas mídias que atravessam a sociabilidade contemporânea.

Lei que alterar processo eleitoral não valerá para as eleições de 2012, diz TSE

O objetivo, de acordo com o TSE, é evitar mudanças de última hora motivadas por conveniências políticas (casuísmo eleitoral) e preservar a segurança do processo eleitoral.

Brasília – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) informou hoje ( 4) que toda e qualquer lei sancionada este ano que alterar o processo eleitoral não valerá para as eleições de 2012.

O chamado princípio da anterioridade eleitoral está previsto no Artigo 16 da Constituição Federal e entra em vigor na próxima sexta-feira (7).

O objetivo, de acordo com o TSE, é evitar mudanças de última hora motivadas por conveniências políticas (casuísmo eleitoral) e preservar a segurança do processo eleitoral.

O mesmo ocorreu em 2006 com o fim da chamada verticalização, princípio introduzido por meio da Emenda Constitucional 52, no qual as coligações partidárias não eram mais obrigadas a se repetir nos âmbitos nacional, estadual, distrital ou municipal.

Em outubro do mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou procedente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3685, reconhecendo que, como foi promulgada em março de 2006, a Emenda 52 havia afrontado o princípio da anterioridade eleitoral.

Portanto, o teor da emenda não deveria valer para as eleições daquele ano. Com isso, as regras da verticalização só passaram a valer a partir do pleito de 2010.

Com a chamada Lei da Ficha Limpa, não foi diferente. Sancionada em junho do ano passado, a nova lei estabelecia novas hipóteses de inelegibilidades e chegou a ser aplicada pelo TSE nas eleições de 2010.

Porém, o STF, em março deste ano, ao julgar o Recurso Extraordinário 633703, concordou que a norma afrontava o Artigo 16 da Constituição. Por esse motivo, o entendimento foi o de que a Lei da Ficha Limpa não teve validade no pleito de 2010.

Sancionada em setembro de 2009, a Lei 12.034, que alterou diversos dispositivos nas leis eleitorais brasileiras, conhecida como minirreforma eleitoral, teve validade no pleito posterior ao ano da sanção.

Isso porque a sanção ocorreu pouco mais de um ano antes das eleições de 2010, o que permitiu que as alterações no processo eleitoral previstas na lei pudessem ser aplicadas integralmente no pleito do ano passado.

Fonte: Agência Brasil

CPIs não funcionam no Brasil, aponta estudo

Em relação às assembleias legislativas, a conclusão do estudo é que a oposição acaba por sucumbir ao que Speck se referiu como “poder de atração” da base do governo. O cenário, de acordo com o pesquisador, compromete a capacidade da instituição de exercer...

CPIs não funcionam no Brasil, aponta estudo
Tribunais de Contas, assembleias legislativas e comissões parlamentares de inquérito, entre outros, não funcionam a contento no país, de acordo com o pesquisador da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Bruno Speck. Ele é um dos coordenadores do estudo Sistemas de Integridade dos Estados Brasileiros, divulgado hoje em parceria com o Instituto Ethos.

Segundo Speck, no caso específico dos tribunais de Contas, o problema é a dependência extrema deles em relação ao poder político local.

A pesquisa analisou o grau de independência política dos conselheiros e apontou, por exemplo, que nem sempre se cumpre o preceito de que duas das sete vagas sejam preenchidas por pessoas do próprio quadro técnico.

Acre, Alagoas, Mato Grosso, Sergipe e São Paulo não tiveram nenhuma das vagas preenchidas dentro dos padrões constitucionais, enquanto Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Roraima e Rio Grande do Sul cumpriram parcialmente a norma. No Tribunal de Contas do Amazonas, não foi possível coletar informações sobre o cumprimento da meta.

Assembleias

Em relação às assembleias legislativas, a conclusão do estudo é que a oposição acaba por sucumbir ao que Speck se referiu como “poder de atração” da base do governo. O cenário, de acordo com o pesquisador, compromete a capacidade da instituição de exercer sua função de fiscalizadora do Poder Executivo.

“Esse talvez seja o ponto mais difícil de ser corrigido por reformas institucionais”, avaliou o pesquisador. Em oito das 27 unidades da Federação, a coalizão que venceu as eleições para governar obteve maioria também na Assembleia Legislativa.

Após a formação do governo, o número aumentou para 21 estados – em sete deles, a oposição foi reduzida a menos de 30%; em dois, a menos de 20%; e em outros dois, a menos de 10%.

De acordo com o estudo, em apenas dez estados, os deputados chegaram a abrir CPIs (comissões parlamentares de inquérito) com o objetivo de investigar irregularidades na administração ou no governo local.

Em 22 assembleias legislativas, há um limite para o número de CPIs abertas concomitantemente. No Distrito Federal, Piauí e Tocantins, por exemplo, o teto é de apenas duas CPIs simultâneas.

Licitações

Outro problema identificado pelos pesquisadores inclui dados coletados nas áreas de saúde e educação. Nesses setores, modalidades menos competitivas de contratação – como dispensa e inexigibilidade de licitação – são responsáveis, em média, por 57% do volume de contratações dos estados.

No Pará, em Minas Gerais, no Espírito Santo e em São Paulo, o quadro é ainda mais preocupante, com taxas de dispensa e inexigibilidade de licitação de 61%, 62%, 67% e 75%, respectivamente.

O estudo identificou ainda que, embora 85% dos órgãos estaduais de controle interno tenham sites próprios ou vinculados ao portal do governo, apenas 52% disponibilizam relatórios de atividade. No Distrito Federal, em Minas Gerais, no Piauí e em Roraima, os dados estavam defasados em mais de um mês.

“A transparência orçamentária não é só uma exigência da sociedade, mas uma exigência de lei. Muitos estados ainda não cumprem a lei. Nesse caso, é mais fácil as organizações civis cobrarem e denunciarem o não cumprimento aos órgãos competentes”, assinalou Speck.

Fonte: Agência Brasil