quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Os honoráveis bandidos e o holocauto brasileiro

Levantamento histórico do período ditatorial deve ser efetivado sem mais demora

Por Cláudio Ribeiro - Caros Amigos

Frase tantas vezes dita e repetida, o tempo que passa é o tempo que nos resta. O levantamento histórico e documentado do período ditatorial deve ser efetivado sem mais demora.


Se a anistia destina-se à pacificação de ânimos de pessoas atingidas em certo momento histórico por atos ilegais, perseguições, prisões arbitrárias, torturas generalizadas, assassinatos e desaparecimentos, hoje a luta contra a repetição de violências semelhantes e a busca da verdade e da justiça devem andar de mãos dadas.


A importância de esquecer impõe a necessidade de lembrar. Ninguém pode apagar o que não foi escrito, nem se esquece daquilo que não é lembrado. O esquecimento exige o confronto com o passado.


Por essa razão, a revisita à memória dos anos vividos sob a batuta dos tacões militares (e da concepção de segurança nacional ainda decantada em certos espaços institucionais e meios sociais) possibilita recordar e detectar seus fins e seus meios: A ditadura militar não foi implantada no Brasil (e nos demais países da América do Sul) para derrotar o comunismo ou comunistas. Como Hitler na Alemanha, que içou bandeiras contra judeus e comunistas, no Brasil a bandeira do anticomunismo foi erguida apenas para esconder o verdadeiro holocausto brasileiro, a implementação de uma política econômica de subtração de rendas (e riquezas) das classes trabalhadoras através do confisco salarial e da modernização conservadora do campo para transferi-las à elite patrimonialista brasileira.


Se a ditadura veio para isso, como é possível alguém dizer que ela acabou? A política econômica continua, e agora mais protegida, não mais pelos quartéis, mas pelo Banco Central.


Durante o governo Lula, as rendas da classe média foram em grande parte confiscadas para minimizar o sofrimento dos excluídos, mas não teve forças para por o dedo na ferida, o bolso dos ricos e poderosos.


A dívida pública brasileira beira o abismo dos 3 trilhões de reais e neste ano, com a taxa Selic, alçada aos fantásticos 12%, vai custar ao nosso povo algo no entorno dos 300 bilhões. Os juros afundarão a curto prazo todas as possibilidades de crescimento sustentável e aprofundarão as intoleráveis desigualdades em que naufragamos nossas esperanças.


O Erário está a serviço do banquete de banqueiros e rentistas. O controle de informações é tão brutal que, como povo, não sabemos sequer a origem da dívida pública, quem são os credores, se estamos pagando algo que devemos ou alguma coisa cujo pagamento já se multiplicou.Enquanto não for desvendado o arquivo deste misterioso saque, não saberemos como enfrentá-lo, nem reconstruiremos um caminho de desenvolvimento nacional se não punirmos, e com rigor, esses honoráveis bandidos que assaltam nossos recursos públicos.


Não há dúvidas, a ditadura militar entregou a essa elite usurária todo o poder de comandar o Estado brasileiro e as burras nacionais. Além da concentração de rendas e riquezas, a essência doutrinária apregoada pela mídia abriu o coração do Brasil para o transplante das novas condições necessárias às transformações do capitalismo para colocar nossa sociedade sob o jugo dos interesses internacionais concentrados do grande capital, mais tarde regulamentados pelo Consenso de Washington.


Os fins impuseram os mecanismos e instrumentos de dominação (novas formas de colonização), demolindo-se, no limiar, os elementos culturais de raízes populares, desde a música e os cânticos, a literatura como um todo, até a degradação da qualidade dos bancos escolares e acadêmicos para impor uma nova escala de valores éticos (?) e morais (?), como a exacerbação do individualismo, a glorificação da competitividade econômica (para reerguer um dos pilares do regime nazista, o indivíduo produtivo), acarretando, como resultado pedagógico, o incentivo às disputas pessoais.


A perseguição feroz, sanguinária em vários exemplos (o caso Rubens Paiva é paradigmático), as prisões, torturas e assassinatos dos opositores (como se todos integrassem organizações comunistas), a imensa maioria dos quais discordava da barbárie cometida em subterrâneos policiais (como os saudosos Sobral Pinto, Alceu Amoroso Lima, Hélio Pelegrino, Frei Tito de Alencar e corajosos, como Cardeal Arns, fervorosos católicos, além de outros), deve ser investigada a fundo; todavia, isto não basta, porque a sádica brutalidade macarthista dos torturadores e seus mandantes serviu submissamente ao enriquecimento dessa elite ultrajante que tomou conta dos cofres da União.


Este quadro deu início e adubou a violência, a impunidade, a marginalização de amplas camadas da população atingidas pelo desemprego e pela brutal redução da remuneração do trabalho.


A censura e a mordaça (sobre o Judiciário inclusive) foram empregadas com todo vigor e, em alguns e raros casos, com prisões e cassações. O levantamento apurado de todos esses acontecimentos e a punição dos responsáveis (sem sanhas marcadas pela vingança ou revanchismo) são indispensáveis para estabelecimento de um alicerce sólido à construção de um Estado Democrático de Direito, onde as pessoas possam conviver com afeto e solidariedade e não, como hoje, com desconfianças recíprocas, um Estado, onde os crimes sejam punidos sem distinguir as classes sociais dos criminosos, onde os Poderes inerentes à Democracia ajam com absoluta transparência em benefício do Povo e não, de privilégios e privilegiados.


Países como a Argentina e o Uruguai, mergulhados em ditaduras brutais já vivem uma realidade menos violenta porque a História está sendo revista e escrita, os responsáveis, os cabeças e os torturadores mais doentios, punidos. Se os ladrões ainda continuam, quase todos, desfrutando dos bens saqueados.


Nós ainda não conseguimos a prestação de contas do passado recente e, por este motivo fundamental, a anistia com todas as suas repercussões deve ser examinada com os olhos presos nesse dever de contribuir para construir a sociedade programada principalmente pelo artigo 3º da Constituição Federal.


Quem barra a apuração desse violento período histórico? Apenas a cúpula das Forças Armadas? Ou, ao contrário, são os honoráveis bandidos brasileiros que se fartaram de enriquecer durante o regime exercido por militares a serviço dessa elite usurária?


A mais recente e triste decisão do Supremo Tribunal Federal não deve sufocar os que defendem um verdadeiro Estado Democrático de Direito. O Brasil e as razões que impuseram a tristeza daquele julgamento foram condenados pela Corte Interamericana de Justiça. A luta contra o velho regime ditatorial deve continuar, para que este País vença a violência e a impunidade que o assolam, sabendo que ambas são heranças do período de concentração de rendas e riquezas, dos ricos que empobrecem nossa nação escondidos no subsolo das sociedades ainda anônimas, comerciais, industriais, usurárias, nacionais e estrangeiras, que se valeram à farta de torturadores, fardados ou não, para saciar a infinita voracidade dos valores criados no entorno do Capital.


Apurar os crimes de prisões ilegais, sequestros, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres cometidos pelos governos militares contra integrantes da oposição democrática e popular e, com mais força ainda, investigar a vida daqueles que se enriqueceram ilicitamente às custas do sacrifico do povo e do Estado brasileiros.


Uma investigação rigorosa levará inevitavelmente à outra. Chega de violência. Chega de impunidade. Por uma auditoria real e transparente da dívida pública. Pela punição dos algozes da sociedade brasileira, dos torturadores e seus mandantes e dessa turba de assaltantes dos recursos públicos da Nação.

Os honoráveis bandidos e o holocauto brasileiro

Levantamento histórico do período ditatorial deve ser efetivado sem mais demora

Por Cláudio Ribeiro

Frase tantas vezes dita e repetida, o tempo que passa é o tempo que nos resta. O levantamento histórico e documentado do período ditatorial deve ser efetivado sem mais demora.
Se a anistia destina-se à pacificação de ânimos de pessoas atingidas em certo momento histórico por atos ilegais, perseguições, prisões arbitrárias, torturas generalizadas, assassinatos e desaparecimentos, hoje a luta contra a repetição de violências semelhantes e a busca da verdade e da justiça devem andar de mãos dadas.
A importância de esquecer impõe a necessidade de lembrar. Ninguém pode apagar o que não foi escrito, nem se esquece daquilo que não é lembrado. O esquecimento exige o confronto com o passado.
Por essa razão, a revisita à memória dos anos vividos sob a batuta dos tacões militares (e da concepção de segurança nacional ainda decantada em certos espaços institucionais e meios sociais) possibilita recordar e detectar seus fins e seus meios: A ditadura militar não foi implantada no Brasil (e nos demais países da América do Sul) para derrotar o comunismo ou comunistas. Como Hitler na Alemanha, que içou bandeiras contra judeus e comunistas, no Brasil a bandeira do anticomunismo foi erguida apenas para esconder o verdadeiro holocausto brasileiro, a implementação de uma política econômica de subtração de rendas (e riquezas) das classes trabalhadoras através do confisco salarial e da modernização conservadora do campo para transferi-las à elite patrimonialista brasileira.
Se a ditadura veio para isso, como é possível alguém dizer que ela acabou? A política econômica continua, e agora mais protegida, não mais pelos quartéis, mas pelo Banco Central.
Durante o governo Lula, as rendas da classe média foram em grande parte confiscadas para minimizar o sofrimento dos excluídos, mas não teve forças para por o dedo na ferida, o bolso dos ricos e poderosos.
A dívida pública brasileira beira o abismo dos 3 trilhões de reais e neste ano, com a taxa Selic, alçada aos fantásticos 12%, vai custar ao nosso povo algo no entorno dos 300 bilhões. Os juros afundarão a curto prazo todas as possibilidades de crescimento sustentável e aprofundarão as intoleráveis desigualdades em que naufragamos nossas esperanças.
O Erário está a serviço do banquete de banqueiros e rentistas. O controle de informações é tão brutal que, como povo, não sabemos sequer a origem da dívida pública, quem são os credores, se estamos pagando algo que devemos ou alguma coisa cujo pagamento já se multiplicou.Enquanto não for desvendado o arquivo deste misterioso saque, não saberemos como enfrentá-lo, nem reconstruiremos um caminho de desenvolvimento nacional se não punirmos, e com rigor, esses honoráveis bandidos que assaltam nossos recursos públicos.
Não há dúvidas, a ditadura militar entregou a essa elite usurária todo o poder de comandar o Estado brasileiro e as burras nacionais. Além da concentração de rendas e riquezas, a essência doutrinária apregoada pela mídia abriu o coração do Brasil para o transplante das novas condições necessárias às transformações do capitalismo para colocar nossa sociedade sob o jugo dos interesses internacionais concentrados do grande capital, mais tarde regulamentados pelo Consenso de Washington.
Os fins impuseram os mecanismos e instrumentos de dominação (novas formas de colonização), demolindo-se, no limiar, os elementos culturais de raízes populares, desde a música e os cânticos, a literatura como um todo, até a degradação da qualidade dos bancos escolares e acadêmicos para impor uma nova escala de valores éticos (?) e morais (?), como a exacerbação do individualismo, a glorificação da competitividade econômica (para reerguer um dos pilares do regime nazista, o indivíduo produtivo), acarretando, como resultado pedagógico, o incentivo às disputas pessoais.
A perseguição feroz, sanguinária em vários exemplos (o caso Rubens Paiva é paradigmático), as prisões, torturas e assassinatos dos opositores (como se todos integrassem organizações comunistas), a imensa maioria dos quais discordava da barbárie cometida em subterrâneos policiais (como os saudosos Sobral Pinto, Alceu Amoroso Lima, Hélio Pelegrino, Frei Tito de Alencar e corajosos, como Cardeal Arns, fervorosos católicos, além de outros), deve ser investigada a fundo; todavia, isto não basta, porque a sádica brutalidade macarthista dos torturadores e seus mandantes serviu submissamente ao enriquecimento dessa elite ultrajante que tomou conta dos cofres da União.
Este quadro deu início e adubou a violência, a impunidade, a marginalização de amplas camadas da população atingidas pelo desemprego e pela brutal redução da remuneração do trabalho.
A censura e a mordaça (sobre o Judiciário inclusive) foram empregadas com todo vigor e, em alguns e raros casos, com prisões e cassações. O levantamento apurado de todos esses acontecimentos e a punição dos responsáveis (sem sanhas marcadas pela vingança ou revanchismo) são indispensáveis para estabelecimento de um alicerce sólido à construção de um Estado Democrático de Direito, onde as pessoas possam conviver com afeto e solidariedade e não, como hoje, com desconfianças recíprocas, um Estado, onde os crimes sejam punidos sem distinguir as classes sociais dos criminosos, onde os Poderes inerentes à Democracia ajam com absoluta transparência em benefício do Povo e não, de privilégios e privilegiados.
Países como a Argentina e o Uruguai, mergulhados em ditaduras brutais já vivem uma realidade menos violenta porque a História está sendo revista e escrita, os responsáveis, os cabeças e os torturadores mais doentios, punidos. Se os ladrões ainda continuam, quase todos, desfrutando dos bens saqueados.
Nós ainda não conseguimos a prestação de contas do passado recente e, por este motivo fundamental, a anistia com todas as suas repercussões deve ser examinada com os olhos presos nesse dever de contribuir para construir a sociedade programada principalmente pelo artigo 3º da Constituição Federal.
Quem barra a apuração desse violento período histórico? Apenas a cúpula das Forças Armadas? Ou, ao contrário, são os honoráveis bandidos brasileiros que se fartaram de enriquecer durante o regime exercido por militares a serviço dessa elite usurária?
A mais recente e triste decisão do Supremo Tribunal Federal não deve sufocar os que defendem um verdadeiro Estado Democrático de Direito. O Brasil e as razões que impuseram a tristeza daquele julgamento foram condenados pela Corte Interamericana de Justiça. A luta contra o velho regime ditatorial deve continuar, para que este País vença a violência e a impunidade que o assolam, sabendo que ambas são heranças do período de concentração de rendas e riquezas, dos ricos que empobrecem nossa nação escondidos no subsolo das sociedades ainda anônimas, comerciais, industriais, usurárias, nacionais e estrangeiras, que se valeram à farta de torturadores, fardados ou não, para saciar a infinita voracidade dos valores criados no entorno do Capital.
Apurar os crimes de prisões ilegais, sequestros, torturas, assassinatos e ocultação de cadáveres cometidos pelos governos militares contra integrantes da oposição democrática e popular e, com mais força ainda, investigar a vida daqueles que se enriqueceram ilicitamente às custas do sacrifico do povo e do Estado brasileiros.
Uma investigação rigorosa levará inevitavelmente à outra. Chega de violência. Chega de impunidade. Por uma auditoria real e transparente da dívida pública. Pela punição dos algozes da sociedade brasileira, dos torturadores e seus mandantes e dessa turba de assaltantes dos recursos públicos da Nação.

A Líbia e os escribas do Pentagôno

Matéria do NYT, reproduzida pelo Estadão, na sua edição de 2 de dezembro - é esclarecedora do que o Pentágono e seus escribas entendem por “revolução”


Por Leonardo Wexell Severo - Revista Fórum


“Sem Kadafi, Trípoli vive revolução no cotidiano”, é o título da reportagem do New York Times, que comemora “a transformação acelerada” da capital líbia após o assassinato do líder, “com mudanças de hábitos de sua população que antes seriam vistos como uma séria afronta ao regime”.


Incluindo as invencionices e qualificativos depreciativos à figura de Muamar Kadafi, a matéria do NYT - reproduzida pelo Estadão na sua edição de 2 de dezembro - é esclarecedora do que o Pentágono e seus escribas entendem por “revolução”: o mais exacerbado, doentio e criminoso individualismo. É ler para crer.


Segundo o NYT, em “questão de semanas”, Trípoli “transformou-se em algo animador e, ao mesmo tempo, inquietante”. “Os vendedores de haxixe exibem abertamente seu produto na Praça dos Mártires – a antiga Praça Verde dos tempos do ditador Muamar Kadafi. Os motoristas ultrapassam os faróis vermelhos sem se preocupar... Membros de milícias que substituíram a odiada polícia em muitos bairros ainda se mostram pouco disciplinados com suas armas. Frequentemente, atiram contra as pessoas ou para o ar”. E odiada era a antiga polícia, que tal?


O jornal conta ainda sobre motoristas dirigindo em alta velocidade ou mudando de pista aleatoriamente que “estão provocando um número de vítimas três vezes maior do que o normal” sem serem importunados, pois “não é momento para multar”. “Pelo menos 15 vítimas de acidentes de carro chegam ao hospital diariamente, com braços ou costelas quebrados e ferimentos na cabeça...” Além disso, “diariamente pessoas chegam no pronto-socorro com ferimentos de bala”.


“Cobrir os vidros do carro com filme escuro era proibido”, diz o texto, lembrando que agora os motoristas os colocam nos veículos “como um sinal da sua nova liberdade”. Segundo o sargento Mobruk Ali, que apenas contemplava – conforme a matéria – os carros voando, “primeiro precisamos tirar as armas dos rebeldes, então passaremos ao trabalho de fato”. Algumas pessoas também “queixam-se de mais roubos de carros” e a pobreza ganha as ruas: uma “multidão” passou a ganhar a vida vendendo bananas e laranja “embaixo de viadutos e nos cruzamentos, o que piora os congestionamentos”.


“Trípoli tem uma nova pulsação”, acrescenta a reportagem, com o que temos de concordar. E os grafites “revolucionários” à altura deste momento, “estão por toda a parte, em inglês: Lybia Free”. “Alguns trazem a inscrição ‘Obrigado, Otan’ pela ajuda militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte, que foi crucial para a destituição do governo”. A informação salta das linhas e inunda as entrelinhas. Mais clara, impossível.

O novo Código Florestal é aprovado e volta à Câmara dos Deputados

O Plenário do Senado aprovou na noite desta terça-feira (6) o novo Código Florestal, na forma de substitutivo dos senadores Luiz Henrique (PMDB-SC) e Jorge Viana (PT-AC) para o texto do então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), hoje ministro do Esporte. O texto, que traça os limites entre a preservação de vegetação nativa e as diversas atividades econômicas, tanto no campo quanto nas cidades, volta agora à Câmara dos Deputados, que deve deliberar sobre a matéria até o fim do ano.


O texto-base de Luiz Henrique e Jorge Viana foi aprovado em primeiro turno com 59 votos a favor e 7 contrários. Em turno suplementar, de um total de 78 emendas, Jorge Viana acolheu 26, a maioria referente a mudanças de redação. As demais foram rejeitadas em bloco. Quatro destaques, votados separadamente, também foram rejeitados.


O novo Código Florestal estabelece disposições transitórias - para contemplar as chamadas "áreas consolidadas", em que há atividades agrossilvopastoris em Áreas de Preservação Permanente (APPs) - e disposições permanentes, com critérios a serem seguidos a partir da data de 22 de julho de 2008, data da publicação do Decreto 6.514/2008, que define penas previstas na Lei de Crimes Ambientais. A mesma data é o marco temporal para isentar de recuperação as propriedades rurais de até quatro módulos que desmataram as Reservas Legais (RLs).


Para isso, o projeto determina a criação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e estabelece prazo de um ano, prorrogável uma única vez por igual período, para que os donos de terras registrem suas propriedades nesse cadastro. Os dados do CAR serão disponibilizados na internet e servirão para a elaboração dos Programas de Regularização Ambiental.


Os relatores também incluíram incentivos para a recomposição de florestas e regras especiais para a agricultura familiar.


Vários líderes partidários - como as senadoras Kátia Abreu (PSD-TO) e Ana Amélia (PP-RS) e os senadores Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Gim Argello (PTB-DF), Wellington Dias (PT-PI), José Agripino (DEM-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL) - encaminharam favoravelmente ao substitutivo, elogiando o teor do relatório, o qual consideraram equilibrado. Também se manifestaram pelo texto os senadores Waldemir Moka (PMDB-MS), Demóstenes Torres (DEM-GO), Inácio Arruda (PCdoB-CE), Ivo Cassol (PP-RO) e Acir Gurgacz (PDT-RO).


O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) chegou a pedir verificação de quórum, com apoio dos senadores Marinor Brito (PSOL-PA), Lindbergh Farias (PT-RJ), Paulo Davim (PV-RN) e Cristovam Buarque (PDT-DF).


Fonte: Agência Senado

O livro de Boni

Jaime Sautchuk * Vermelho


A autobiografia de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, revela um bom bocado da trajetória da Rede Globo de TV e, com isso, uma parte da história recente do Brasil. Ele não conta tudo, mas relata fatos que demonstram o poder da TV sobre o povo brasileiro, em favor das elites e do imperialismo dos Estados Unidos.


O livro é um calhamaço de 463 páginas, bem escrito e bem editado. Competência técnica, aliás, foi sempre o forte do autor. Ele aprendeu televisão com Walter Clark, na antiga TV Rio. Mas a parte ideológica, conforme seu relato, ele trouxe de cursos que fez nos Estados Unidos.


Ele diz que o dono do sistema Globo (jornais, rádios, TVs e internet), Roberto Marinho, tinha visão democrática e que não teria colaborado com a ditadura militar iniciada em 64. É verdade que o Dr. Roberto, como era chamado, não perseguia as pessoas de esquerda.


Ele dizia que “comunista é que sabe fazer” comunicação. E, mais do que isso, tem sua frase célebre, que ele usava quando os militares tentavam pôr a mão em algum funcionário seu. “Dos meus comunistas, cuido eu”, dizia.


Eu mesmo fui personagem desse procedimento, quando era chefe da reportagem política do jornal O Globo, em Brasília, e não podia obter credencial para entrar no Palácio do Planalto. O vice-chefe da Casa Civil da Presidência, Heitor Aquino Ferreira, quando questionado sobre as razões do veto, disse a Merval Pereira, editor do jornal, que “aquele fdp do Jaime Sautchuk não deveria ter emprego em lugar nenhum; como é que vocês mantêm esse cara lá?”.


Merval me contou o fato no mesmo dia, mas ressaltou que eu não tinha o que temer, porque o Globo não aceitaria esse tipo de ameaça. E não aceitou. Eu saí do Globo quando eu quis, por opção profissional.


A raiva de Aquino era porque eu tinha escrito o livro “Projeto Jari – A Invasão Americana”, que vendeu 53 mil exemplares e promoveu forte mobilização nacional contra a presença do magnata estadunidense Daniel Ludwig no Brasil. E Heitor Aquino era consultor dele.


De todo jeito, uma parte marcante do livro do Boni é quando ele admite a intervenção da Globo na eleição de Fernando Collor para a presidência da República, em 1989. A manipulação do debate, na antevéspera das eleições, já é bastante conhecida. Mas a história é bem mais longa, segundo Boni.


Ele e sua equipe na Globo interferiram na campanha de Collor de modo direto. Ele conta que fizeram Collor tirar a gravata, andar de bicicleta e parecer um homem do povo, como Lula era identificado. No debate, eles criaram um suor sintético para fazer Collor parecer mais “normal”.


E partiram para baixaria, onde foi armado aquele circo com uma ex-mulher de Lula, que mentiu sobre seu relacionamento com o ex-marido. Só que, no dia seguinte ao debate (véspera das eleições), Boni fez uma edição dramática no Jornal Nacional, que, segundo um monte de cientistas políticos, foi o que derrotou Lula.


Vale lembrar que aquele noticiário não poderia ter ido ao ar, segundo a legislação eleitoral já então em vigor. Mas o Tribunal Superior Eleitoral fingiu de morto e deixou a Globo fazer o que bem entendesse. Em 24 horas, a tendência eleitoral, que era pró-Lula, se inverteu. E deu no que deu: Collor foi eleito.


Boni revela, pois, fatos importantes não só da sua vida e da vida da Globo, mas da história do Brasil. Vale ler.

Para onde vai o capitalismo?

Por Vladimir Pomar - Opera Mundi


A atual crise econômica e financeira mundial tem de positivo o fato de que está suscitando debates, há muito amortecidos, sobre a gravidade e a profundidade das crises do capital. O mundo de paz e prosperidade, prometido pela propaganda neoliberal, especialmente após o colapso da União Soviética e do socialismo do leste europeu, está se transformando rapidamente não só num mundo hipócrita e perigoso, como acentuamos em comentário anterior, mas também de desemprego, pobreza e desesperança nos países que antes se arrogavam os centros desenvolvidos e ricos do planeta.

Nessas condições é natural que ressurjam, com ênfase cada vez maior, perguntas sobre os caminhos reais do capitalismo. Afinal, qual a natureza da presente crise e para onde vai esse modo de produção que se proclamava eterno? Muitas pessoas se perguntam se a crise atual é igual à de 1929, ou tem algo de diferente. Outras acham que estamos diante de uma crise terminal, e que os países imperiais, ou imperialistas, buscarão nas guerras a saída para suas dificuldades estruturais. E, paradoxalmente, também existem aquelas pessoas que consideram a China a responsável por tudo que está acontecendo.

A crise atual tem semelhança com a de 1929, na medida em que seu epicentro está localizado nos Estados Unidos. O Japão já sofrera as conseqüências dos problemas norte-americanos desde antes, mas só agora suas ondas de choque estão abalando a Europa, embora muita gente não acreditasse que isso ocorreria. Fora isso, sua natureza é diferente. A crise atual, embora tenha muitas características de superprodução, tem por base a transformação da ciência e tecnologia nas principais forças produtivas, e dos capitalismos monopolistas nacionais, ainda comuns nos anos 1920 a 1960, num capitalismo corporativo transnacional.

As corporações transnacionais, embora ainda mantenham matrizes em seus países de origem, transferiram suas plantas de fabricação para outros países, às vezes mantendo nos Estados Unidos e na União Européia apenas unidades de montagem. Ainda mais sério é que possuam uma ação global, que as torna independentes de suas nações.

Nos anos 1980, suas unidades de projetos, e de pesquisa e desenvolvimento, também eram conservadas em território dos países centrais. Porém, nos anos posteriores, até mesmo essas unidades “cerebrais” foram realocadas rumo a países que ofereciam melhores condições para elevar as margens de rentabilidade.

Paralelamente, todas as corporações transnacionais incorporaram novos braços comerciais e financeiros, os primeiros para impor preços internacionais administrados a seus produtos, e os segundos para ingressar na jogatina da especulação financeira, na ânsia de elevar seus lucros através da criação de dinheiro fictício, sem base real na riqueza material. O chamado mercado mundial, onde se daria a competição, se transformou momentaneamente numa ficção.

Essas mudanças estruturais no capitalismo desenvolvido causaram modificações importantes no ritmo de crescimento dos produtos internos brutos. Os países desenvolvidos reduziram seu ritmo, enquanto vários dos países da periferia capitalista os elevaram substancialmente, em especial a China. Enquanto parte do produto interno bruto dos países da periferia era transferido para os países centrais, estes ainda podiam manter mecanismos de estímulo aos padrões de consumo interno.

No entanto, à medida que os países periféricos adotaram medidas para elevar seu produto nacional bruto, reduzindo aquelas possibilidades de altas transferência de rendas, e em que a ciranda financeira atingiu patamares hoje considerados irresponsáveis, as corporações transnacionais viram-se diante do retorno de parte da competição do mercado e viram-se obrigadas a adotar medidas para manter sua lucratividade, fazendo isso às custas dos seus Estados nacionais.

Nessas condições, as corporações transnacionais transferiram, pelo menos momentaneamente, a tendência de crise de realização do capital para os Estados nacionais, transformando-a em crise fiscal. Isto é o que explica, pelo menos em parte, o fato de que os Estados centrais vivem uma crise sem solução aparente, enquanto suas corporações transnacionais parecem demonstrar grande vigor, porque ainda retiram sua rentabilidade dos diversos países em que se realocaram.

As duas tendências principais, decorrentes dessas mudanças, residem no declínio lento e extremamente perigoso da hegemonia norte-americana e de seus parceiros europeus, e da ascensão não só dos BRIC, mas também de diversos outros países emergentes. Há, portanto, um paradoxo em que o capitalismo entra em declínio nos países centrais, todos eles tendendo a se transformar numa Inglaterra pós-final do colonialismo, e o desenvolvimento do capitalismo no resto do mundo, com a participação direta das corporações transnacionais.

Assim, a não ser que ocorram revoluções sociais nos países centrais, que os transformem em países socialistas de transição para um novo modo de produção, o capitalismo ainda possui o resto do campo planetário para desenvolver-se, antes de esgotar todas as suas possibilidades de reprodução. Não se deve, pois, pensar que esta seja uma crise terminal.

É lógico que a hipótese de guerras também continua presente. Por outro lado, quanto mais os Estados Unidos e os países centrais europeus e o Japão investirem recursos públicos em armas, para tentar fazer com que seus complexos industriais bélicos reergam suas economias, mais profundas se tornarão as crises fiscais de seus Estados. A experiência recente tem mostrado que, ao contrário do passado, as guerras deixaram de ser produtoras de riquezas das grandes potências industriais e se transformaram em dilapidadoras da riqueza acumulada. Nada muito diferente do que ocorreu com o Império Romano a partir de determinado momento de sua história.

Quanto ao papel da China nessa situação complexa, fica para a próxima semana.

*Wladimir Pomar é escritor e analista político
*Texto publicado originalmente na
revista Fórum

Diário de Marrocos (II): a primavera não chegou ao Marrocos

Por Emir Sader


Dia 25 de novembro o Marrocos teve eleições gerais e, pelo resultado, ninguém diria que a região vive um processo de mobilizações democráticas sem precedentes. Que aqui do lado mesmo, na Tunisia – o país mais laico da região – começou o que se convencionou chamar de primavera árabe e que em seguida derrubou a mais importante ditadura da região, a egípcia.


Se dando conta dos novos ventos, o rei do Marrocos convocou eleições, no marco da democracia constitucional (sic) existente. Ganhou um partido de oposição, de islamismo moderado – como ele se caracteriza -, mas votaram menos de um quarto dos que poderiam votar e o partido vencedor teve um terço desse total. Isto é, venceu com cerca de 8% dos votos do corpo eleitoral, sem contar os que não fazem parte dele. Assim funciona uma monarquia constitucional, que enquanto é aliada estreita das potências ocidentais, não é denunciada na mídia monopolista mundial. Se as mobilizações ja existentes no Marrocos chegarem um dia a derrubar a monarquia, este passará a ser chamada de ditador e a ser somado à lista dos tiranos repudiados pelos próprios aliados dele na Europa e nos EUA.


O líder do partido vencedor é chamado, pela principal revista sobre a África – Jeune Afrique – de “o islâmico da Sua Majestade”. Mesmo sendo de um partido opositor, o governo que ele vai formar, por solicitação do monarca, não sairá dos marcos do regime atual. Abdelilah Benkirame dirige um partido agora chamado de Partido da Justica e do Desenvolvimento (PJD), que fez sua campanha centrado nos temas da justiça social, da luta contra a corrupção e do bom governo, mesmo se com referências ao Profeta e ao Corão. Ele abandonou posições contrárias aos direitos das mulheres, em discussão no Congresso, dizendo que os problemas dos costumes são de responsabilidade do rei.


O próprio rei estava mais interessado em outro dado, que não o eleitoral: o montante dos investimentos de fundos do Qatar, do Kwait e de Abu Dabi no país. 2 milhões de euros serão investidos no Marrocos, o que significa uma tentativa, por parte dos países mais ricos e mais conservadores da região, de que o Marrocos não seja afetado pelos ventos democráticos que sacodem os países vizinhos.


Mesmo vindo da oposição, o novo partido majoritário reconhece a monarquia e a natureza islâmica da sociedade e do Estado marroquinos, dizendo que quer islamizar a modernidade. É uma alternância que convém à monarquia, porque pode parecer que o país comporta a vitória da oposição. Mas uma oposição em que tudo mudará, para que nada realmente mude no Marrocos.

Fatos em foco


A Controladoria Geral da União apurou e concluiu que os desvios de recursos públicos no Ministério da Agricultura, na gestão de Wagner Rossi (PMDBSP), chegaram a R$ 228 milhões



Hamilton Octavio de Souza - Brasil de Fato

Oportunidades
A verdade precisa ser dita: a presidenta Dilma Rousseff tem muito a agradecer a grande imprensa empresarial de direita, que denunciou irregularidades e pediu a cabeça de vários integrantes do governo. Graças a isso, ela teve a chance de trocar sete ministros em um ano e de melhorar a composição do ministério. Se fosse contar com a fiscalização da mídia chapa-branca, não teria mudado nada. A conivência é fatal!


Privatização
Estudo do Conselho Federal de Medicina escancara a escandalosa distribuição dos médicos pelo Brasil e especialmente entre os que prestam serviço no setor público e no setor privado. Na média nacional existem dois médicos para cada mil usuários do setor público, contra oito médicos para cada mil usuários do setor privado. Em alguns estados existem 12 vezes mais médicos no setor privado do que no setor público – que é utilizado por 90% da população.


Precariedade
O município de São Paulo, considerado o mais rico e poderoso do Brasil, necessita hoje de 180 mil vagas em creches públicas para famílias de baixa renda. Esse número vem crescendo ano a ano, nas várias gestões do PSDB, DEM e PSD. A fila por vaga pode demorar até dois anos – e muitas mães, que precisam trabalhar, acabam deixando seus filhos pequenos trancados em casa, com vizinhos ou em creches improvisadas. Uma calamidade social.


Crime federal
Não é brincadeira não. A Controladoria Geral da União apurou e concluiu que os desvios de recursos públicos no Ministério da Agricultura, na gestão de Wagner Rossi (PMDBSP), chegaram a R$ 228 milhões, a maior parte com pagamentos sem contrapartida ou superfaturamento para empresas de fachada ligadas ao ministro e seus assessores. Perguntas básicas: O dinheiro será devolvido? O que vai acontecer com o ladrão?


Farra mundial
Todo mundo sabe que a Copa de 2014 – além das obras do PAC e outras negociatas em andamento – é um celeiro de transferência de recursos públicos para grupos privados. Em Cuiabá (MT), autoridades estaduais e empresários espertos inventaram a construção de mais uma obra para o Mundial de Futebol: é uma linha de veículo leve sobre trilhos, que vai custar mais R$ 700 milhões aos bolsos do povo. Fácil, né?


Luta heróica
No dia 5 de dezembro comemora-se o centenário de nascimento do político baiano Carlos Marighella, que foi deputado pelo Partido Comunista Brasileiro, fundador da Ação Libertadora Nacional e assassinado pela Ditadura Militar, em 1969, numa emboscada preparada por agentes do DOPS na Alameda Casa Branca, em São Paulo. Dedicou a vida à defesa da liberdade e de melhores condições de vida para o povo brasileiro.

Retrocesso
Garoto de ouro do petismo, indicado pelo ex-presidente Lula para o Supremo Tribunal Federal, o advogado Dias Toffoli mantém – desde que assumiu – uma sequência de votos típicos do mais puro conservadorismo. Agora votou contra o artigo 254 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que permite ao Estado fiscalizar a programação imprópria para crianças nas emissoras de TV. A grande mídia burguesa comemorou o voto do ministro.


Responsabilidade
O ataque contínuo dos grileiros, latifundiários e dos ruralistas do agronegócio contra os índios é obra direta do governo federal – a quem compete fazer a demarcação das reservas e dar proteção aos povos indígenas – e do Poder Judiciário, que tem deliberadamente protelado, em várias instâncias, os processos de demarcação. Os responsáveis pelo genocídio têm nome e endereço. Não estão nem aí com o faroeste porque as mortes são do outro lado.

Esquerda avança

Depois de mais de dez anos de domínio da direita, o Sindicato dos Economistas de Minas Gerais será dirigido agora por uma chapa de coalizão da esquerda e centro esquerda, encabeçada pelo economista João Baptista Santiago Neto. A vitória histórica aconteceu nas eleições do dia 30 de novembro e animou as forças de esquerda a acirrar a luta contra a direita encastelada em outras entidades da categoria. Avante!

A CELAC e os cem de cooperação

Beto Almeida
Jornalista, membro da Junta Diretiva da Telesur.
Adital


A TV brasileira continua centralizando suas atenções na cobertura da crise do capitalismo na Europa, o que significa, na prática, sonegar ao povo brasileiro uma informação objetiva, necessária e de importância histórica para a humanidade como é a criação da Celac (Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe), ocorrida em 2 e 3 em Caracas.


Assisti o evento em transmissão da Telesul, retransmitida aqui em Brasília pela TV Cidade Livre, o canal comunitário da capital.


A Celac nasce com desafios amplos, com uma pauta concreta e com um caminho já percorrido por meio das medidas que vêm sendo implementadas e que convergem para a integração de América Latina. A Celac nasce sem as presenças dos EUA e Canadá, países que apostam na desintegração e rapina, como prova o crime recente de demolição da Líbia.


Nada têm a fazer na Celac. Que fiquem com a moribunda OEA, um laboratório de maldades colonialistas que sempre operou a favor das ditaduras que marcaram em sangue e submissão a América Latina e o Caribe.


A Celac tem início buscando soluções soberanas, negociadas, democráticas para os grandes impasses da região, seja a questão colombiana, seja a saída para o mar para a Bolívia, ou integração de países mais frágeis como a Guiana ou Suriname e também uma solução para retirar o Haiti da imensa miséria em que ainda está imerso. Todas estas, e muitas outras, são questões amplamente complexas, mas com a Celac elas passam a ser encarada com base nos princípios da cooperação e da solidariedade que passam a marcar esta nova etapa da região.

Sem pedir licença


Muitas medidas já estão em andamento pavimentando o caminho para que nascesse a Celac: Mercosul, Alba, Unasul, Petrocaribe, Petrosul, Banco do Sul, Telesul etc. Tudo isto soma. Mas, a marca fundamental é que 33 estados decidem unir-se sem pedir licença aos EUA e projetam o futuro pela via de um caminho de independência, em variados graus, das intolerantes diretrizes que caracterizam, historicamente, as políticas estadunidenses para a região.


O nascimento da Celac já simboliza em si mesmo a necessidade de passar a um patamar mais elevado de planejamento, articulação e , sobretudo, cooperação entre os países latino-americanos e caribenhos porque os sinais emitidos pelo império, sobretudo com o aprofundamento de sua crise, seja nos EUA, seja na Europa do Euro, apontam para situações conflituosas mais complexas.


Nada indica a revisão, pela Casa Branca, das pretensões imperialistas sobre áreas estratégicas em todo o mundo. Basta anotar que enquanto a Unasul forma seu Conselho de Defesa Sul Americano, os EUA ordenam a retomada da Quarta Frota, justo quando se revelam grandes riquezas petrolíferas sobre os mares do sul. Vale citar também o envolvimento direto dos EUA nas ações de desestabilização de governos populares como na Venezuela, na Bolívia, no Equador, em Honduras etc.


Exatamente porque a TV comercial brasileira ignora e sonega informação sobre esse grande acontecimento em nossa região - como paralelo, é como se a TV da Europa ignorasse o nascimento da Comunidade Européia - e também porque há privilégio editorial na cobertura da crise do capitalismo europeu, vale informar e dimensionar a importância de todas as medidas que já conduzem a uma era de mais integração, mais cooperação.


Desde que os bons ventos das lutas populares espantaram a poeira e o mofo do neoliberalismo que andava por aqui, criando com inteligência, rebeldia e coragem inúmeros governos populares e progressistas, as ações de estado se alteraram, as políticas externas, mas também as financeiras, monetárias, ou de saúde e de educação, registrando câmbios importantes, que, com a Celac, poderão se ampliar, se consolidar ou mesmo estimular, simplesmente, a incorporação de vários outros países num planejamento político no mínimo contraditório com os interesses dos EUA.


Distanciamento da agenda do Pentágono


Um exemplo disso, os significativos acordos firmados entre Venezuela e Colômbia, indicando uma tática que favorece algum tipo de distanciamento de Bogotá da função anterior, na época de Uribe, como um simples peão militaresco a ameaçar a Revolução Bolivariana. Outro exemplo é a Revolução Cidadã no Equador, ou o novo curso progressista inaugurado no Peru com a eleição de Ollanta Humala.


A Revolução Bolivariana necessita de tempo histórico para consolidar-se e uma hipótese de guerra com a Colômbia, que esteve eminente, era tudo o que interessaria ao Pentágono para encontrar pretextos intervencionistas na região, como tem feito em muitos lados, seja no Iraque, no Afeganistão ou agora mais recentemente na Líbia. Já um setor da burguesia industrial colombiana vê a Venezuela como uma possibilidade de desafogo, um mercado comprador importante, sem contar que a pátria de Miranda não teve a oportunidade histórica de escapar da colonialista "maldição do petróleo”.


A Venezuela não teve sua Era Vargas. Só a partir de Hugo Chávez há um real processo de industrialização da Venezuela, do qual o Brasil participa com investimentos do BNDES que expandem a capacidade produtiva do país irmão. Em especial na realização de obras de infra-estrutura indispensáveis, além de contribuir, com a presença da Embrapa, a um processo de arrancada para uma economia agrícola, o que Venezuela não possuía antes, já que importava até alface dos EUA.


Nada disso tem sido adequadamente informado ao povo brasileiro. A política de integração regional dinamizada e priorizada por Lula, sob a operação de Amorim, foi sempre apresentada pela mídia colonizada brasileira como desperdício de dinheiro ou retórica itamarateca, com o que se ecoava os humores de Washington quanto ao novo quadro regional que acarretou em diminuição da presença comercial dos EUA. O que torna ainda mais incompreensível que a integração latino-americana não seja , até hoje, uma pauta jornalística importante para a TV Brasil, muito embora seja uma política sustentada pelos 63 milhões de votos que elegeram Dilma, e a Lula antes. Integração é prioridade de estado, mas a integração comunicativa não. No entanto a TV divulga com patética amplitude vida sexual de Berlusconi ou , agora, o caso das cuecas do Príncipe Charles.


Brasil participa da construção do maior porto do Caribe


Já os exemplos importantes não divulgados são inúmeros. Tomemos alguns. O Brasil participa atualmente da construção do estratégico porto de Mariel em Cuba. Será o maior porto do Caribe, dinamizando a economia regional. O Brasil participa com créditos do BNDES, enquanto que a escolha da construtora brasileira foi feita pelo governo de Cuba. Cuba não possui capacidade de engenharia nacional para realizar uma obra deste porte. E tampouco a Halliburton poderia substituir a construtora brasileira, né? A linha da Casa Branca é impedir que empresas de outros países violem o ilegal bloqueio a Cuba, o que vem sendo corretamente ignorado pelo Brasil. Aliás, em linha oposta, o Chanceler Amorim, na época, disse que o Brasil quer ser o primeiro parceiro comercial de Cuba.


O Brasil participa ainda de duas outras obras estratégicas ali na região: a construção da uma hidrelétrica no Haiti, construída pelo Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro, e a construção de uma usina hidrelétrica na Nicarágua. No caso do Haiti, são recursos públicos brasileiros repartidos exemplarmente pelo povo brasileiro com o sofrido povo haitiano, exemplo que as potências capitalistas não fazer. Há ainda um acordo entre Brasil-Cuba e Haiti para a construção de estruturas de saúde por lá, com investimentos da ordem de 80 milhões dólares por parte do Ministério da Saúde do Brasil, medida iniciada com Lula e confirmada agora por Dilma. Vale destacar que o Brasil só aceitou integrar a Missão da ONU no Haiti após ter recebido apoio unânime de todos os governos da região, inclusive de Cuba, Venezuela e Nicarágua. Fidel Castro chegou a declarar que prefere "soldados brasileiros a marines dos EUA no Haiti”.


Assim, de alguma forma, o Brasil se soma algo gigantesco esforço feito por Cuba, há anos, ao montar a Escola Latinoamericana de Medicina, para formar médicos para dezenas de países pobres, entre os eles o Haiti. Cuba divide uma parte de seus restritos recursos orçamentários com o Haiti e dezenas de outros povos. Aliás, até mesmo com países ricos, pois há 500 estudantes negros e pobres dos EUA estudando medicina em Cuba. Eles próprios, moradores em bairros negros, afirmam que ficassem nos EUA seriam fortes candidatos a serem recrutados pelo narcotráfico e que foi a Revolução Cubana que lhes deu a preciosa oportunidade de tornarem-se médicos. Ao ampliar suas parcerias com Cuba, o Brasil participa de alguma forma de esforço generoso. Mas há quem pense que isto é subimperialismo...


Europa e desintegração


Em linha diametralmente oposta, a Europa mergulha na crise para demolir os direitos sociais e trabalhistas. Cortes de salários de funcionários públicos já foram implementados em Portugal, Espanha, Itália e Grécia. Mas, com todas estas medidas retrógadas, hipocritamente apresentadas como de economia, os países europeus não vacilaram em gastar fortunas na guerra de rapina imperialista contra a Líbia.


E pior, com o apoio de partidos de esquerda, que identificaram num bombardeio incessante de 203 dias pela OTAN, causando mais de 200 mil mortos, uma suposta "ajuda humanitária”. A Grécia está demitindo em massa, cortando salários e direitos sociais, mas acaba de comprar, em meio à crise, 500 tanques de guerra dos EUA. A esquerda europeia ficou na patética situação de apoiar a guerra imperialista contra Líbia promovida pelos governos contra os quais está protestando nas ruas.


Retrocesso político e social na Europa


Há duas semanas foi promulgada em Madri uma lei que pune cidadãos que tentem coletar comida das cestas de lixo espalhadas pela cidade. Nenhuma lei para evitar que seres humanos tenham que buscar comida no lixo. É uma lei que dá a medida da decadência européia, que vai se aprofundando numa linha completamente antagônica ao que está ocorrendo na América Latina, simbolizado pela criação da Celac.


A criação da Comunidade Europeia, o Tratado de Mastrich, representou o predomínio do capitalismo mais forte (Alemanha e França), sobre os demais países europeus. Enquanto aqui a realização de obras de infra-estrutura permitirá o desenvolvimento das forças produtivas, a CEE determinou o rebaixamento produtivo dos países mais débeis do capitalismo europeu.


A Grécia foi proibida de ultrapassar os limites impostos de fora para a produção naval ou para a produção de azeite. Limitou-se a produção agrícola de vários países mais fracos, sem esquecer que várias das repúblicas da ex-Yugoslávia, como a Eslovênia e a Croácia, retrocederam à condição de semicolônias da Alemanha. Até mesmo o funcionamento democrático formal dos países vem sendo anulado, com os novos governos sendo impostos pela oligarquia financeira européia, como ocorreu na Grécia e na Itália.


A solidariedade que vem do sul


Sinalizando uma linha contrária a este curso europeu de retrocesso político-social, Dilma Rousseff, em seu discurso na Celac, deu um exemplo cristalino do caminho de cooperação e solidariedade que marca a região. Lembrou que a Unila -Universidade da Integração Latino-Americana- está à disposição dos países que integram o novo organismo.


Ou seja, enquanto na Europa, africanos, latinos e asiáticos estão sendo cada vez mais escorraçados e ameaçados - (Jean Charles foi barbaramente executado no metrô de Londres pela polícia estatal) - aqui o Brasil recebe professores e estudantes do continente para uma ação concreta de integração por meio da educação, uma universidade pública, sustentada com recursos públicos brasileiros. Um investimento na integração.


Os "civilizados” países europeus investem na desintegração, na submissão do mais fraco, na guerra, na demolição do Estado do Bem Estar Social. Por aqui, recupera-se o valor do salário mínimo, o emprego formal, a licença maternidade amplia-se para 6 meses, as mamães recebem um ajuda do estado para amamentarem seus filhos no peito, um investimento estratégico do estado brasileiro em saúde das novas gerações. Que contraste!


Há quem reclame, aproveitando-se da escassa informação, de que apenas o B

rasil entra com recursos e não recebe contra-partida alguma. Bastaria que a TV Brasil informasse que há uma integração que beneficia mutuamente os países, inclusive o Brasil. Exemplo: a hidrelétrica de Guri, no sul da Venezuela, fornece energia para Roraima, antes iluminada a diesel. Até recentemente, Manaus, para conectar-se por internet, precisava do uso de satélites, mas agora, com o acordo feito com a empresa estatal venezuelana CANTV, há internet por banda larga conectando o Amazonas e Roraima às demais regiões.


Muita gente desdenhou quando Chávez propôs o Gasoduto do Sul integrando todo o continente, mas não desdenham do gasoduto que leva o gás russo para Itália, França, etc. Sem falar que o IPEA –que possui um Escritório em Caracas- foi solicitado pelo governo venezuelano a apresentar um programa de desenvolvimento regional integrando a Franja do Orenoco, onde provavelmente está um dos maiores mananciais de petróleo do mundo, ao sul da Venezuela e ao norte do Brasil, trazendo benefícios comuns às regiões dos dois países que padecem das desigualdades regionais.


Crescerem todos


O Brasil também determinou uma nova repartição dos recursos de Itaipu Binacional com o Paraguai, representando um reforço orçamentário enorme para o país vizinho, que, por sua vez, alavancará a economia de toda a região, inclusive a indústria brasileira. Embora sócio da maior hidrelétrica do mundo, a capital do Paraguai ainda convive com cortes de eletricidade...


Entre Brasil e Argentina multiplicaram-se os acordos, já há operações de troca sem a presença do dólar, barateando custos, medidas que fazem parte de uma revisão estratégica que alcança até mesmo a política de defesa do Brasil, mudança simbolizada pela cooperação industrial bélica entre os dois países -impensável antes do Mercosur- e também pelo deslocamento de tropas das fronteiras do sul para as fronteiras do norte amazônico onde há enormes riquezas de nióbio, petróleo, urânio, permanentemente alvo de cobiça internacional. E como declaram militares brasileiros, só uma grande potência tecnológica e militar pode ameaçar a soberania da Amazônia Brasileira. Não será a Guiana, nem a Bolívia, nem a Colômbia, nem a Venezuela, muito menos o Suriname...


Celac e Brics


A Celac nasce sob a égide da integração, da cooperação, do diálogo democrático e da solidariedade. É apenas o começo, ainda, ainda são alicerces em construção, mas, está reforçada a idéia mestra consubstanciada na política externa brasileira inaugurada no Governo Lula: precisamos crescer todos, reduzir as assimetrias. Na Europa, os mais ricos estão engolindo os mais pobres.


A Celac surge como necessidade histórica diante de um cenário internacional de crise crescente do capitalismo, como também são crescentes o intervencionismo militar e os orçamentos do setor bélico. Desafios de igual magnitude dos compromissos assumidos em Caracas cercam a Celac.


Haverá obstáculos, barreiras, a mídia colonizada anuncia forte contrariedade dos centros imperiais contra este novo organismo. Uma coordenação sempre mais ampla dos países da Celac com os Brics, conformando uma frente única mundial antiimperialista, desponta-se como necessidade imprescindível diante da agressiva voracidade dos impérios em crise, mas que nem por isso deixando de emitir sinais ameaçadores.


A Celac começa a virar a página dos Cem Anos de Solidão que trouxeram sombra do atraso e dependência para a América Latina e Caribe - uma época de solidariedade proibida - para abrir a nova página, a dos Cem Anos de Cooperação e da Integração. Este novo livro recém começa a ser escrito.

A mídia golpista e o sindicalismo

Por Augusto Petta, no sítio da CTB:


Quando cursei Ciências Sociais, no final da década de 60, várias frases de Marx me chamavam a atenção. Uma delas é a seguinte: “As idéias dominantes de uma época são as idéias das classes dominantes”. Seja em regimes ditatoriais ou democráticos, no sistema capitalista, as idéias burguesas têm hegemonia. Isto não quer dizer que as idéias do proletariado ficam totalmente massacradas e sem possibilidade alguma de manifestação. O que ocorre é que há uma luta ideológica e quanto mais a classe trabalhadora conquista espaço no terreno das idéias que expressam seus interesses, maiores as possibilidades de conquistar seu objetivo estratégico, o socialismo.


Por relações de parentesco e por acompanhar com interesse os fatos políticos mais relevantes que ocorrem em nosso país, acompanhei de perto o massacre midiático que atingiu brutalmente o ex-ministro Orlando Silva. A mídia golpista, a serviço de interesses econômicos e políticos das forças dominantes, buscou atingir a reputação de uma liderança jovem que se firma cada vez mais no cenário político nacional. E depois de mentir, o policial que a mídia acolheu sem provas, declarou que realmente não tinha provas!


Como Marx tinha clarividência de que o capitalismo é intrinsecamente injusto - em função inclusive do processo de exploração baseada na mais-valia - atribuía ao sindicalismo, além da organização e mobilização dos trabalhadores, ser escola de socialismo. Nesse sentido, cabe à entidade sindical, desenvolver dialeticamente, a luta econômica, política e ideológica. Na verdade, o sindicato nasceu, no século XVIII, na Inglaterra, época da Revolução Industrial, para organizar os trabalhadores e trabalhadoras na luta por melhores condições de salário e trabalho. Posteriormente, já no século XIX, se envolveu em movimentos políticos, a exemplo do Cartismo que reivindicava que todos os cidadãos tivessem direito de votar e de ser votado, e que o voto fosse secreto. E ao desenvolver a luta econômica e a luta política, o sindicalismo envolveu-se na luta ideológica.


No momento atual, com o avanço tecnológico na comunicação, com a viabilidade de veículos que atingem instantaneamente milhões e milhões de seres humanos, a luta ideológica adquire importância fundamental. Os grandes veículos de comunicação atuam de acordo com os interesses dos que detêm o poder econômico. A mídia golpista atinge aqueles que se opõem a esses interesses inclusive as entidades sindicais. Basta verificarmos as matérias que são insistentemente publicadas a respeito do imposto sindical e das outras taxas que mantêm as atividades sindicais.


A grande questão que se coloca aos sindicalistas classistas é o que fazer diante desse ataques constantes da mídia. É necessário elevar o nível de consciência política dos trabalhadores e das trabalhadoras em geral, para que desenvolvam cada vez mais o senso crítico e a percepção de que a luta de classes está presente no embate político que se desenvolve. Hoje no Brasil, os setores reacionários que foram derrotados em 2002, 2006 e 2010 não resistem à comparação dos dados relativos às condições de vida da população brasileira. Evidentemente, os Governos Lula e Dilma são muito superiores aos Governos FHC. Por isso, mentem para enganar a classe trabalhadora; na medida que esta tiver nível de consciência política avançado, terá melhores condições para separar o joio do trigo, e de denunciar as inverdades da mídia.

COP17: o veto dos EUA ao futuro

Editorial de Carta Maior


A direita norte-americana que já teve sucesso em implodir a primeira fase do Protocolo de Kioto, ao desautorizar no Congresso o governo Clinton, que apoiava o acordo; deu as cartas da diplomacia ambiental no período Bush e, tudo indica, continua a comandar a agenda do meio-ambiente no mandato de Barak Obama.


Em Durban, na COP 17, onde 15 mil delegados de 195 países tentam redesenhar o formato de Kioto pós-2012 -para que não se repita o fracasso da 1ª fase-- a delegação que representa Obama age como se fosse porta-voz do conservadorismo republicano mais retrógrado. Partem dos EUA os obstáculos, vetos e dissimulações que comprometem a formatação legal do novo documento; esvaziam o seu lastro de financiamento e inutilizam as metas de redução de emissões de CO2 para próxima década.


Os EUA rejeitam um protocolo que inclua qualquer acordo vinculante até 2015, ou seja, que tenha a força de lei; defendem que as ações e controles sejam voluntários até 2020; propõem reduzir em 4% suas emissões nesse prazo, tendo 1990 como base, mas sem etapas intermediárias fiscalizáveis. É como deixar o planeta uma década a mais nas mãos do bushismo e só depois conferir no que deu.


Finalmente, a delegação norte-americana desconversa cada vez que é cobrada do compromisso assumido em Copenhague, em 2009, de criação de um Fundo Verde de US$ 100 bi compensações ambientais às nações em desenvolvimento. Se Obama não cotiza, ninguém mais o fará.


A sociedade norte-americana representa hoje, de longe, a maior ameaça ao aquecimento do clima. Sua emissão média é de 16,9 toneladas de CO2 por habitante/ano. Significa que cada norte-americano sozinho emite mais que um chinês e um europeu juntos (respectivamente 6,8 t/per capita/ano e 8,1 t/per capita/ano).


A COP Durban termina nesta 6ª feira. Desde já, porém, reafirma conflitos que, mais uma vez, vinculam a possibilidade de futuro à superação de uma lógica de mercado imperial que empurra a humanidade a um beco sem saída.

Não passarão


Os Kaiowá Guarani na noite dos Direitos Humanos

Egon Heck - Brasil de Fato


Noite de saudade e de lágrimas indignadas. De memória perigosa, de denúncia e anúncio. Noite de saudar lutadores e lutadoras do Brasil e do mundo. Mas em especial uma noite de conclamação e certeza: as forças da morte, das ditaduras, da tortura, dos seqüestros e ocultamento dos corpos, da acumulação e da opressão não vencerão, não passarão!


A Assembléia Legislativa da agitada e cinzenta São Paulo foi palco da 15ª. Sessão solene de entrega do premio de Direitos Humanos Santo Dias para destacadas(os) guerreiros e lutadores e entidades combativas do país.


Dentre as homenageadas, as mães de maio e a Dr. Michael Nolan, uma incansável batalhadora da justiça, dos direitos dos moradores de rua, dos encarcerados, dos povos indígenas e quilombolas.


Depoimentos emocionados e de alerta por aqueles que passaram pelos porões da ditadura, da tortura, da repressão e violação dos direitos humanos. “Ainda precisamos lutar muito para ter um efetivo Estado Democrático de Direito”. Não um estado a serviço dos privilégios de uns poucos, um estado que é verdade para os poderosos, mas é uma mentira para a classe popular. “Estamos longe de construir um país para todos, uma nação de honre e respeite sua pluralidade e tenha a justiça e igualdade social como princípio e prática”.


Os Kaiowá Guarani na noite dos Direitos Humanos


Enquanto era lembrada a memória de centenas de “desaparecidos” por uma polícia que eliminou inúmeros lutadores e guerreiros deste país, os Kaiowá Guarani denuciavam que a mesma estratégia estava sendo utilizada pelas milícias armadas e pistoleiros a serviço do agronegócio, que ocultaram os corpos de Rolindo Vera e agora Nisio Gomes.


Dr. Michael Nolan, sob forte emoção, circulou pelo ambiente como reconhecida lutadora, guerreira defensora dos direitos dos pobres e oprimidos. Na hora da premiação esteve acompanhada pelos Kaiowa Guarani, Oriel,Faride e Léia, que vieram do Mato Grosso do Sul, para dar seu grito pelos direitos e vida de seu povo. Ao conceder parte de seu tempo para Léia, Michael lembrou seu compromisso de estar atuando na defesa de vários casos de violência contra esse povo, nas últimas décadas.


Leia lembrou a história de sofrimento, massacre e resistência dos Kaiowá Guarani. “O corpo do cacique Nisio, assassinado há menos de duas semanas, continua desaparecido. Queremos justiça, exigimos justiça”. Ela é da terra indígena Nhanderu Marangatu, onde foi assassinado Marçal de Souza, Dorvalino e muitos outros que tombaram na luta pela terra e pelos direitos de seu povo. Hoje são mais de mil pessoas vivendo em 124 hectares de terra. Enquanto isso nem a ação em Ponta Porã não é julgada, nem a ação no Supremo Tribunal Federal em Brasilia. Leia, em nome de seu povo pergunta: porque essa demora no julgamento. Já fazem três anos que a perícia técnica foi entregue ao juiz. Porque não julgam? Pedem que o Conselho Nacional de Justiça, que se comprometeu em pedir agilidade no julgamento dos processos, se empenhe efetivamente para que situação vergonhosa não se perpetue.


Os assessores teológico e de comunicação do Cimi nacional estiveram presentes, além da equipe local e do Cimi regional Mato Grosso do Sul.


Do luto à luta


Além de lembrar as lutas e lutadores dos direitos do povo, como Santo Dias, Mariguela e centenas de vitimas de um estado repressor e protagonista de constantes violações dos direitos humanos, foram feitas homenagens, a personalidades mundiais de luta pela vida, justiça e direitos humanos, como Nelson Mandela, dentre outros.


Foi lembrado um poema de Cecilia Meireles


“Toda vez que um justo grite

Um carrasco vem calar

Quem não presta fica vivo

Quem é bom mandam matar”


Com muita emoção e dignidade a sessão foi até mais de onze horas da noite. Um momento memorável de homenagem aos lutadores na linha de frente na defesa da vida e da justiça, da construção de uma nação, de um efetivo estado de direito democrático. O pastor Ariovaldo Ramos, homenageado, lembrou “Temos um Estado, temos um Território, mas só teremos uma Nação quando os direitos de todos forem respeitados.”


Egon Heck da campanha Povo Guarani Grande Povo