quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Dilma acredita que mercado interno vai proteger Brasil de crise internacional

São Paulo – A presidenta da República, Dilma Rousseff, afirmou nesta quarta-feira (10) que o mercado interno será o caminho para que o Brasil não sofra os efeitos da crise financeira internacional. Ela reiterou a leitura de que o país está bem preparado para enfrentar instabilidades e garantiu que a economia não entrará em recessão.

“Temos um pensamento. Vamos preservar nossas forças produtivas, nossos empregos e a renda de nossa população. Temos certeza que ao fazer isso vamos fazer o combate mais eficaz da crise”, defendeu Dilma durante a abertura do Encontro Nacional da Indústria da Construção, em São Paulo. Foi o ponto mais enfático do discurso da presidenta, em parte respondendo a preocupações manifestadas por empresários ao longo da cerimônia.

A presidenta deixou claro que tem mais convergências com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à economia do que desejariam alguns setores da sociedade e da imprensa. À época da crise anterior, em 2008, à frente da Casa Civil, Dilma foi uma das defensoras da linha econômica que via na força dos consumidores brasileiros a resposta a um cenário internacional afetado pela perda de poder de compra das nações mais ricas e pelo dólar desvalorizado. Políticas anticíclicas apresentadas na ocasião pelo Ministério da Fazenda foram reconhecidas mais tarde como o principal fator para que o país não sofresse tanto quanto o problema iniciado nos Estados Unidos. Nesta quarta, a presidenta lamentou que muitas nações tenham utilizado seus recursos para saldar a dívida de bancos em vez de favorecer a população, um ponto que também era enfatizado com frequência por Lula, em uma referência voltada especialmente à atuação da Casa Branca.

Nas últimas semanas, tem aumentado a apreensão de que os Estados Unidos mergulhem em nova recessão. O grande endividamento público e a incerteza sobre as medidas que serão acordadas entre republicanos e democratas têm se refletido no desempenho dos mercados financeiros, com oscilações que repetem os episódios de 2008. Enquanto isso, a Europa demonstra também estar mais enfraquecida, adotando cortes drásticos no orçamento, o que vem se refletindo em distúrbios sociais. 

Para a presidenta, a falta de comando político e de respostas claras por parte das nações do Norte faz com que a saída da crise seja mais longa que o imaginado – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estima que a recessão possa durar até três anos. Por isso, embora os motivos de fundo sejam basicamente os mesmos, Dilma vê um panorama menos animador atualmente.

Por outro lado, a análise no Palácio do Planalto é de que a situação é mais cômoda agora por conta dos indicadores econômicos brasileiros, mais sólidos que há três anos. “Por que? Temos mais força porque demonstramos para nós mesmos quando fomos o primeiro país a sair da crise. O último a entrar e o primeiro a sair. Também porque hoje temos mais experiências e mais instrumentos.”

No discurso, Dilma pontuou várias vezes que o Brasil deve saber transformar o risco representado pela crise em uma oportunidade. Ela considera que é preciso avançar na proteção da indústria e garantir a continuidade dos programas sociais, agora sintetizados no programa Brasil sem Miséria. “Muitos olharam incrédulos para nós, mas esse país é integrado por brasileiros e brasileiras que sabem afirmar que quando queremos somos capazes de resistir e enfrentar as maiores dificuldades.”

‘Não é crise. É que não te quero mais’

Manuel Castells
Sociólogo catalão
Adital
 
Quando milhares de [jovens] indignados, [que ocuparam as praças da Espanha], tiram de foco a "crise” e atacam diretamente o sistema que produz tantos desarranjos, estão sustentando algo importante. Querem dizer que é preciso ir à raiz dos problemas; olhar para suas causas. Porque se elas persistirem, continuarão produzindo as mesmas consequências.

Mas de que sistema falamos? Muitos diriam capitalismo, mais é algo pouco útil: há muitos capitalismos. Precisamos analisar o que vivemos como crise para entender que não se trata de uma patologia do sistema, mas do resultado deste capitalismo. Além disso, a crítica se estende à gestão política. E surge no contexto de uma Europa desequilibrada por um sistema financeiro destrutivo que provoca a crise do euro e suscita a desunião europeia.

Nas últimas décadas, constituiu-se um capitalismo global, dominado por instituições financeiras (os bancos são apenas uma parte) que vivem de produzir dívida e ganhar com ela. Para aumentar seus lucros, as instituições financeiras criam capital virtual por meio dos chamados "derivativos” [ou, basicamente, apostas na evolução futura de todo tipo de preço].

Emprestam umas às outras, aumentando o capital circulante e, portanto, os juros [e comissões] a receber. Em média, os bancos dispõem, nos Estados Unidos ou na Europa, de apenas 3% do capital que devem ao público. Se este percentual chega a 5%, são considerados solventes, [em boa saúde financeira]. Enquanto isso, 95% [do dinheiro dos depositantes] não está disponível: alimenta incessantemente operações que envolvem múltiplos credores e devedores, que estabelecem relações num mercado volátil, em grande parte desregulado.

Diz-se que umas transações compensam umas às outras e o risco se dilui. Para cobrir os riscos, há os seguros – mas as seguradoras também emprestam o capital que deveriam reservar para fazer frente a sinistros. Ainda assim, permanecem tranquilos, porque supõem que, em ultima instância, o Estado (ou seja, nós) vai salvá-los das dívidas – desde que sejam grandes o suficiente [para ameaçar toda a economia]… O efeito perverso deste sistema, operado por redes de computadores mediadas por modelos matemáticos sofisticados, é: quanto menos garantias tiverem, mais rentáveis (para as instituições financeiras e seus dirigentes) as operações serão. E aqui entra outro fator: o modelo consumista que busca o sentido da vida comprando-a em prestações...

Como o maior investimento das pessoas são suas próprias casas, o mercado hipotecário (alimentado por juros reais negativos) criou um paraíso artificial. Estimulou uma indústria imobiliária especulativa e desmesurada, predadora do meio ambiente, que se alimenta de trabalhadores imigrantes e dinheiro emprestado a baixo custo. Diante de tal facilidade, poucos empreendedores apostaram em inovações. Mesmo empresas de desenvolvimento tecnológico, grandes ou pequenas, passaram a buscar a autovalorização no mercado financeiro, ao invés de inovar.

O que importava não eram as habilidades e virtudes da empresa, mas seu valor no mercado de capitais. O que muitos "inovadores” desejavam, na verdade, é que sua empresa fosse comprada por uma maior. A chave desta pirâmide especulativa era o entrelaçamento de toda essa divida: os passivos se convertiam em ativos para garantir outros empréstimos. Quando os empréstimos não puderam mais ser pagos, começou a insolvência de empresas e pessoas. As quebras propagaram-se em cadeia, até chegar ao coração do sistema: as grandes seguradoras.

Diante do perigo do colapso de todo o sistema, os governos salvaram bancos e demais instituições financeiras.
Quando secou o credito às empresas, a crise financeira converteu-se em crise industrial e de emprego. Os governos assumiram o custo de evitar o desemprego em massa e tentar reanimar a economia moribunda. Como pagar a conta?

Aumentar os impostos não dá votos. Por isso, recorreram aos próprios mercados financeiros, aumentando sua já elevada dívida pública. Quanto mais especulativas eram as economias (Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, Espanha) e quanto mais os governos pensavam apenas no curto prazo, maior eram o gasto público e o aumento da dívida. Como ela estava lastreada por uma moeda forte –o euro–, os mercados continuaram emprestando. Contavam com a força e o crédito da União Europeia. O resultado foi uma crise financeira de vários Estados, ameaçados de falência. Esta crise fiscal converteu-se, em seguida, numa nova crise financeira: porque colocou em perigo o euro e aumentou o risco de países suspeitos de futura insolvência.

Mas quem quebraria -se fossem à falência os países em condições financeiras mais precárias- seriam os bancos alemães e franceses. Para salvar tais bancos, seria preciso resgatar os países devedores. A condição foi impor cortes nos gastos dos Estados e a redução de empregos em empresas e no setor público. Muitos países –incluindo a Espanha– perderam sua soberania econômica. Assim, chegaram as ondas de demissões, o aumento do desemprego, a redução de salários e os cortes nos serviços sociais. Coexistem com lucros recordes para o setor financeiro.

Claro que alguns bancos perderam muito, e terão de sofrer intervenção do Estado – para serem, em seguida, reprivatizados. Por isso, os "indignados” afirmam que o sistema não está em crise. O capital financeiro continua ganhado, e transfere os prejuízos à sociedade e aos Estados. Assim se disciplinam os sindicatos e os cidadãos. Assim, a crise das finanças torna-se crise política.

Porque a outra característica-chave do sistema não é econômica, mas política. Trata-se da ruptura do vínculo entre cidadão e governantes. "Não nos representam”, dizem muitos. Os partidos vivem entre si e para si. A classe política tornou-se uma casta que compartilha o interesse comum de manter o poder dividido entre si mesma, através de um mercado político-midiático que se renova a cada quatro anos. Auto-absolvendo-se da corrupção e dos abusos, já que tem o poder de designar a cúpula do Poder Judiciário.

Protegido desta forma, o poder Político, pactua com os outros dois poderes: o Financeiro e o Midiático, que estão profundamente imbricados. Enquanto a dívida econômica puder ser rolada, e a comunicação controlada, as pessoas tocarão suas vidas passivamente. Esse é o sistema. Por isso, acreditavam-se invencíveis.

Até que a surgiu a comunicação autônoma e as pessoas, juntas, perderam o medo e se indignaram. Aonde vão? Cada um tem sua ideia, mas há temas em comuns. Que os bancos paguem a crise. Controle sobre os políticos. Internet livre. Uma economia da criatividade e um modo de vida sustentável. E, sobretudo, reinventar a democracia, a partir de valores como participação, transparência e prestação de contas aos cidadãos. Porque como dizia um cartaz dos indignados: "No es crisis, es que ya no te quiero”.

[Fonte: Publicado em espanhol em La Vanguardía. Tradução: Cauê Seigner Ameni. Publicado em Outras Palavras].

Bahia: Dilma anuncia na terça duas novas universidades no estado

A presidente Dilma Rousseff anunciará, na próxima terça-feira (16), a expansão da Rede Federal de Educação Superior e Profissional e Tecnológica. Segundo o senador Walter Pinheiro (PT), a Bahia será contemplada com duas novas universidades, a Federal do Oeste (UFOBA) e a Federal do Sul da Bahia (UFESBA). Os líderes baianos não escondem a satisfação. 

De acordo com o senador Walter Pinheiro (PT), o programa vai contemplar 32 novos campi de federais em todo o Brasil, além de 120 novas escolas técnicas. O Ministério da Educação (MEC) ainda está finalizando a proposta, com detalhamento do valor global do investimento e da localização das instituições.

Segundo Pinheiro, a expansão segue o projeto iniciado no governo Lula, que criou 14 universidades federais em todo o Brasil. Além de Porto Seguro, os municípios de Itabuna e Teixeira de Freitas também serão contemplados. O deputado federal, José Rocha (PR), por sua vez, disse que a Bahia, especialmente a bancada federal, alcançou uma grande vitória ontem.

A Universidade do Oeste terá sede em Barreiras e campi em Bom Jesus da Lapa, Luiz Eduardo Magalhães e Barra. José Rocha solicitou ao MEC que o município de Santa Maria da Vitória também seja incluído. A Universidade do Sul, com sede em Itabuna, terá campi em Porto Seguro e Teixeira de Freitas. Rocha e os demais deputados foram unânimes ao reivindicar que o município de Vitória da Conquista também seja atendido com uma universidade federal.

Fonte: Tribuna da Bahia

Pirotecnia da PF é questionada

Por Lílian Machado - Tribuna da Bahia

Após o meio político ter sido surpreendido com a prisão pela Polícia Federal, do ex-deputado e secretário-executivo do Ministério do Turismo, Colbert Martins, suspeito de envolvimento em desvios na pasta, muitas autoridades questionaram ontem a “espetacularização” e o uso de algemas nas prisões preventivas. Eles lembraram uma decisão do Supremo, que tenta refrear o abuso, quando ainda não há comprovação do crime. 

Na Assembleia Legislativa, os deputados assinaram uma nota de desagravo pela prisão do ex-parlamentar, que exerceu mandatos no legislativo estadual e na Câmara Federal. Segundo os deputados, “a ação investigatória atropelou as garantias e direitos assegurados pela Constituição da República”. A contestação também foi manifestada no alto escalão do governo federal.

O juiz federal titular da 1ª Vara da Seção Judiciária do Estado do Amapá, Anselmo Gonçalves da Silva, que determinou a prisão de Colbert e das outras 34 pessoas deixou o caso ontem. Na sessão de ontem na Assembleia, a indignação com a forma com que Colbert foi preso deu à tônica dos discursos.

O líder do bloco independente, Targino Machado (PSC) ocupou o grande expediente para falar “de forma emocionada” sobre o assunto. Conforme o deputado, a Polícia Federal descumpriu a súmula vinculante número 11 do STF ao algemar o político.

“Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência, e de fundado receio de fuga, de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcional idade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Esse não foi o caso de Colbert”, afirmou.

O pronunciamento que silenciou o plenário da Casa foi acrescentado com os apartes de outros deputados que frisaram o mesmo questionamento.  O deputado Capitão Tadeu (PSB) reforçou que houve abuso nas recentes operações da Polícia Federal.

“Porque ela foi com o intuito de humilhá-lo. Já que ela usa as algemas então que ela apresente as provas na hora da prisão e nenhuma polícia está acima da lei”, enfatizou. O deputado Adolfo Menezes (PRB) foi mais além e disse que “a decisão da corte do Supremo está sendo desmoralizada”. “Ninguém é favorável à corrupção, mas essas prisões estão sendo feitas de forma arbitrária”, frisou.

Terrorismo dos EUA ameaça a humanidade

Por Miguel Urbano Rodrigues:

A humanidade enfrenta a mais grave crise de civilização da sua história. Ela difere de outras, anteriores, por ser global, afetando a totalidade do planeta. É uma crise política, social, militar, financeira, econômica energética, ambiental, cultural.

O homem realizou nos últimos dois séculos conquistas prodigiosas. Se fossem colocadas a serviço da humanidade, permitiriam erradicar da Terra a fome, o analfabetismo, as guerras, abrindo portas a uma era de paz e prosperidade.

Mas não é o que acontece. Uma minoria insignificante controla e consome os recursos naturais existentes e a esmagadora maioria vive na pobreza ou na miséria.

O fim da bipolar idade, após a desagregação da URSS, permitiu aos Estados Unidos adquirir uma superioridade militar, politica e econômica enorme que passou a usar como instrumento de um projeto de dominação universal. As principais potências da União Europeia, nomeadamente o Reino Unido, a Alemanha e a França tornaram-se cúmplices dessa perigosa politica.

O sistema de poder que tem o seu pólo em Washington, incapaz de encontrar solução para a crise do seu modelo, inseparável da desigualdade social, da sobre-exploraçao do trabalho e do esgotamento gradual dos mecanismos de acumulação, concebeu e aplica uma estratégia imperial de agressão a povos do chamado Terceiro Mundo.

Em guerras ditas de baixa intensidade, promovidas pelos EUA e seus aliados, morreram nos últimos sessenta anos mais de trinta milhões de pessoas. Algumas particularmente brutais, definidas como "preventivas", visaram o saque dos recursos naturais dos povos agredidos.

Reagan criou a expressão "o império do mal" para designar a URSS no final da guerra-fria. George Bush pai vulgarizou o conceito de "estados canalhas" para satanizar países cujos governos não se submetiam às exigências imperiais. Entre eles incluiu o Irã, a Coréia Popular, a Líbia e Cuba.

Em setembro de 2001, após ao atentados que destruíram o World Trade Center e demoliram uma ala do Pentágono, George W. Bush (o filho) utilizou o choque emocional provocado por esse trágico acontecimento para desenvolver uma estratégia que fez da "luta contra o terrorismo" a primeira prioridade da politica estadounidense.

Uma gigantesca campanha midiática foi desencadeada, com o apoio do Congresso, para criar condições favoráveis à implantação da política defendida pela extrema-direita. Segundo Bush e os neocon, "a segurança dos EUA" exigia medidas excepcionais na política internacional e na interna.

Os grandes jornais, as cadeias de televisão, as rádios, explorando a indignação popular e o medo, apoiaram iniciativas como o Patriot Act que suspendeu direitos e garantias constitucionais, legalizando a prática de crimes e arbitrariedades. A irracionalidade contaminou o mundo intelectual e até em universidades tradicionais professores progressistas foram despedidos e houve proibição de livros de autores celebres.

A campanha adquiriu rapidamente um carácter de caça às bruxas, com perseguições maciças a muçulmanos. Uma vaga de anti-islamismo varreu os EUA, com a cumplicidade da grande mídia. O Congresso legalizou a tortura.

No terreno internacional, o povo do Afeganistão foi a primeira vítima da "cruzada contra o terrorismo". Os EUA, a pretexto de que o governo do mullah Omar não lhe entregava Bin Laden - declarado inimigo número um de Washington - invadiu, bombardeou e ocupou aquele país.

Seguiu-se o Iraque após uma campanha de desinformação de âmbito mundial. O Governo de Bagdá foi acusado de acumular armas de extermínio massivo e de ameaçar portanto a segurança dos EUA e da Humanidade. A acusação era falsa, como se provou mais tarde, e os EUA não conseguiram obter o apoio do Conselho de Segurança. Mas, ignorando a posição da ONU, invadiram, vandalizaram e ocuparam o país. Inicialmente contaram somente com o apoio do Reino Unido.

Crimes monstruosos foram cometidos no Afeganistão e no Iraque pelas forças de ocupação. A tortura de prisioneiros no presídio de Abu Ghrabi assumiu proporções de escândalo mundial. Ficou provado que o alto comando do exército e o próprio secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, tinham autorizado esses atos de barbárie. Mas a Justiça norte-americana limitou-se a punir com penas leves meia dúzia de torcionários.

Simultaneamente, milhares de civis, acusados de "terroristas" - muitos nunca tinham sequer pegado numa arma - foram levados para a base de Guantánamo, em Cuba, e para cárceres da CIA instalados em países da Europa do Leste.

As Nações Unidas não somente ignoraram essas atrocidades como acabaram dando o seu aval à instalação de governos títeres em Kabul e Bagdá e ao envio para ali de tropas de muitos países. No caso do Afeganistão, a NATO, violando o seu próprio estatuto, participa ativamente, com 40.000 soldados, da agressão às populações. Dezenas de milhares de mercenários estão envolvidas nessas guerras.

Em ambos os casos, Washington sustenta que essas guerras preventivas representam uma contribuição dos EUA para a defesa da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da paz e foram inspiradas por princípios e valores éticos universais. O presidente Barack Obama, ao receber o Premio Nobel da Paz em Oslo, defendeu ambas, num discurso farisaico, como serviço prestado à humanidade. Isso no momento em que decidira enviar mais 30.000 soldados para a fogueira afegã.

Os fatos são esses. Apresentando-se como líder da luta mundial contra o terrorismo, o sistema de Poder dos EUA faz hoje do terrorismo de Estado um pilar da sua estratégia de dominação.

A criação de um exército permanente em África - o Africom –, os bombardeamentos da Somália e do Iémen, a participação na agressão ao povo da Líbia inserem-se nessa politica criminosa de desrespeito pela Carta da ONU.

Mas a ambição de poder absoluto de Washington é insaciável.

O Irã, por não capitular perante as exigências do sistema de Poder hegemonizado pelos EUA, é há anos alvo permanente da hostilidade dos EUA. Washington tem saudades do governo vassalo do Xá Pahlevi e cobiça as enormes reservas de gás e petróleo iranianas.

A campanha de calúnias, apoiada pela mídia, repete incansavelmente que o Irã enriquece urânio para produzir armas atômicas. A acusação é gratuita. A Agência Internacional de Segurança Atômica não conseguiu encontrar qualquer indício de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com fins militares. O presidente Ahmanidejah, alias, de acordo com o Brasil e a Turquia, numa demonstração de boa fé, propôs-se a enriquecer o urânio no exterior. Mas essa proposta logo foi recusada por Washington e pelos aliados europeus.

Sobre as armas nucleares de Israel, obviamente, nem uma palavra. Para os EUA, o Estado sionista e neo fascista, responsável por monstruosos crimes contra os povos do Líbano e da Palestina, é uma democracia exemplar e o seu melhor aliado no Médio Oriente.

O agravamento das sanções que visam estrangular economicamente o Irã é acompanhado de declarações provocatórias do presidente Obama e da secretaria de Estado Clinton, segundo as quais "todas as opções continuam em aberto", incluindo a militar. Periodicamente jornais influentes divulgam planos de hipotéticos bombardeamentos do Irão, ou pelos EUA ou por Israel, sem excluir o recurso a armas nucleares táticas. O objectivo é manter a tensão na guerra não declarada contra um país soberano.

Lamentavelmente, uma parcela importante do povo dos EUA assimila as calunia anti iranianas como verdades. A maioria dos estadunidenses desconhece a gravidade e complexidade da crise interna. A recente elevação do teto da dívida pública de mais de 14 trilhões de dólares para 16 trilhões - total superior ao PIB do pais – é, porém, reveladora da fragilidade do gigante que impõe ao mundo uma política de terrorismo de estado.

Entretanto, o discurso oficial, invocando os "pais da Pátria", insiste em apresentar os EUA como o grande defensor da democracia e das liberdades, vocacionado para salvar a humanidade

Sem o controle pelo grande capital da esmagadora maioria dos meios de comunicação social e dos áudio visuais pelo sistema de poder imperial, a manipulação da informação e a falsificação da História não seriam possíveis. Um instrumento importante nessa politica é a exportação da contra-cultura dos EUA, país - registe-se - onde coexiste com a cultura autêntica.

A televisão, o cinema, a imprensa escrita e, hoje, sobretudo a Internet cumprem um papel fundamental como difusores dessa contra cultura que nos países industrializados do Ocidente alterou profundamente nos últimos anos a vida cotidiana dos povos e a sua atitude perante a existência.

A construção do homem formatado principia na infância e exige uma ruptura com a utilização tradicional dos tempos livres. O convívio familiar e com os amigos é substituído por ocupações lúdicas frente à TV e ao computador, com prioridade para jogos violentos e filmes que difundem a contra cultura com prioridade para os que fazem a apologia das Forças Armadas dos EUA.

A contra cultura atua intensamente no terreno da música, da canção, das artes plásticas, da sexualidade. A contra música que empolga hoje multidões juvenis é a de estranhas personagens que gritam e gesticulam, exibindo roupas exóticas, berrantes em gigantescos palcos luminosos, numa atmosfera ensurdecedora, em rebeldia abstrata contra o vácuo.

O jornalismo degradou-se. Transmite a imagem de uma falsa objetividade para ocultar que a mídia a serviço da engrenagem do poder insiste, com poucas excepções, em justificar as guerras americanas como "cruzada anti-terrorista" em defesa da humanidade porque os EUA, nação predestinada, batalhariam por um mundo de justiça e paz.

É de justiça assinalar que um número crescente de cidadãos americanos denunciam essa estratégia de Poder, exigem o fim das guerras na Ásia e lutam em condições muito difíceis contra a estratégia criminosa do sistema de poder.

Nestes dias em que se multiplicam as ameaças ao Irã, é minha convicção de que a solidariedade atuante com o seu povo se tornou um dever humanista para os intelectuais progressistas.

Visitei o Irã há cinco anos. Percorri o pais de Chiraz ao Mar Cáspio. Escrevi sobre o que vi e senti. Tive a oportunidade de verificar que é falsa e caluniosa a imagem que os governos ocidentais difundem do país e da sua gente. Independentemente da minha discordância de aspectos da politica interna iraniana - nomeadamente os referentes à situação da mulher - encontrei um povo educado, hospitaleiro, generoso, amante da paz, orgulhoso de uma cultura e uma civilização milenares que contribuíram decisivamente para o progresso da humanidade.

Para mim o Irã encarna muito mais valores eternos da condição humana do que a sociedade norte- americana, cada vez mais robotizada.

Porto, Portugal, 10 de Agosto de 2011

* Escritor e jornalista português. Foi docente de Historia Contemporânea, deputado à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa e membro do Parlamento Português.

A crise mundial do capitalismo e o Brasil

Editorial do jornal Brasil de Fato:

As informações que chegam todos os dias do hemisfério norte revelam que a crise do capitalismo que emergiu em 2008 não só não se debelou como continua se agravando cada vez mais. Ao contrário do que os jornalistas burgueses pregaram nos últimos dois anos, que o capital daria a volta por cima. Esses jornalistas são bem pagos para mentir e fazer análises sem nenhuma base com a realidade. Mas não têm o direito nem o mérito de fazer a economia de fato funcionar, mesmo como querem os capitalistas.

Os EUA enfrentam a pior crise desde 1930. Um déficit comercial de 500 bilhões de dólares por ano, um déficit de orçamento público federal de 700 bilhões de dólares. Todo esse buraco é bancado pela emissão de dólares, já que eles podem emitir a moeda como querem, sem nenhum controle internacional. A princípio, os governos dos Estados Unidos (Bush, Clinton e Obama) tentaram sair da crise com a fórmula clássica: produzir guerras contra outros povos e assim incentivar a indústria bélica e reativar a economia estadunidense.

Estão há dez anos em guerra com o Afeganistão, Iraque, Irã... Criaram e mataram o Bin Laden. Transformaram os árabes e o islamismo em inimigos da humanidade. Mataram mais de 600 mil civis, perderam milhares de seus soldados. Mas politicamente já perderam a guerra, pois a invasão não se sustenta e terão que sair de cabeça baixa. Tiveram um custo, nesses dez anos, de 3 a 5 trilhões de dólares. Que todos os povos do mundo pagaram, ao usar dólares em seus intercâmbios comerciais.
Mesmo assim, as contradições estão se agravando e a emissão irresponsável bateu no teto de 13 trilhões de dólares, sem equivalência em produção.

Na Europa, o crescimento econômico está parado desde 2008; as taxas de desemprego atingem 20% na média. E vários países já têm suas economias tecnicamente falidas, como a Grécia, Polônia, Portugal... e agora é a vez da Itália e Espanha. E a juventude começa a mexer-se, ainda que tarde.

Portanto, a crise do capitalismo no centro da hegemonia do capital financeiro e oligopolizado tente a se agravar. E, naturalmente, vai despejar parte de seus custos também para as economias periféricas e dependentes como a brasileira.

O caso brasileiro

A economia brasileira está crescendo. Porém em níveis medíocres de 3 a 4% ao ano. Isso é apenas suficiente para manter a economia ativa e gerar parte dos empregos necessários para os 2,5 milhões de jovens que entram no mercado de trabalho a cada ano.

A estrutura econômica como um todo vem sendo afetada pela crise capitalista há muito tempo. E talvez sua natureza e efeitos perversos estejam sendo mascarados pela continuidade do crescimento.

Os efeitos da crise aparecem agora, na pauta de exportações. Em 1990, cerca de 60% das exportações eram produtos manufaturados. Hoje, quase 80% das exportações são matérias primas agrícolas e minerais, sem nenhum valor agregado de mão-de-obra de nosso povo. Voltamos a ser uma economia primaria-exportadora. E nenhum país se desenvolveu, cresceu, resolveu os problemas econômicos de seu povo exportando matérias primas naturais. Nem mesmo os petroleiros.

Desindustrialização

Em 1980, a industria pesava 33% do PIB nacional, no ano passado caiu para apenas 16%. Nossa mão-de-obra em sua maioria se dedica a atividades de serviços, trabalhos informais, que não geram riqueza, apenas se apropriam de parte da mais-valia gerada por um grupo cada vez menor de trabalhadores.

Taxa de câmbio

Em todas as grandes economias, os governos tem controle absoluto da taxa de câmbio. E não o mercado. Só no Brasil é apenas o mercado que decide. E todos os especialistas denunciam que o câmbio está defasado entre 30 a 100%. Ou seja, os preços médios dos bens da economia brasileira comparados com os preços da economia americana, deveriam ter uma paridade de um dólar valendo no mínimo 2, 50 a 3 reais. Mas ele é pressionado para baixo artificialmente pela grande entrada de capitais financeiros que entram no Brasil para especular e para se proteger da crise.

Taxa de juros

O centro de acumulação capitalista agora é o capital financeiro, que acumula e se reproduz através das taxas de juros. E eles pressionam os governos para lhes garantir altas taxas de juros. O Brasil é a economia que mais paga juros. O governo garante o mínimo de 14% por ano, de juros da taxa Selic, a qualquer capitalista, enquanto o governo estadunidense garante apenas 0,2% ao ano.

E no comércio e indústria, os bancos chegam a cobrar, em média, 56% para empréstimos da produção e até 140% ao ano, nos empréstimos pessoais de cartão de credito. Isto não tem paralelo.

Plano Brasil Maior

O governo anunciou o Plano Brasil Maior. Ora, é apenas um plano político, para dar resposta para a oposição parlamentar e para a burguesia brasileira de que o governo está preocupado. Mas suas medidas são pífias. Porque apenas desoneraram os capitalistas de pagarem o INSS da folha, que representam ao redor de 8% dos custos. Ou seja, o Estado deixa de recolher para que os capitalistas aumentem suas taxas de lucros. E possam competir com os capitalistas da China. Mas isso não resolve o problema da estrutura de produção, de emprego e da indústria.

A única medida importante é o anúncio de que o governo fará esforços para que o BNDES aplique 500 bilhões de reais até 2014, em investimentos produtivos. Isso pode gerar mais emprego e crescimento econômico.

O governo não vai proteger a economia brasileira da crise internacional, nem vai resolver os problemas da dependência e da estrutura de produção negativa, se não mexer na taxa de câmbio e na taxa de juros. Será que as autoridades entenderão isso, antes que os trabalhadores tenham que pagar mais caro, por sua falta de coragem?

TEM UM CHIP DO TEA PARTY NA CABEÇA DE CADA DIRIGENTE EUROPEU NESSE MOMENTO

Em uma 4º feira de novas quedas nas bolsas da Europa e dos EUA, dirigentes europeus tentam acalmar os mercados bovinamente com promessas de novas rodadas de arrocho fiscal, que só farão aprofundar a crise e a recessão. Berlusconi promete antecipar cortes de isenções fiscais, escalpelar aposentadorias e liberar privatizações em massa até dia 18. Na Espanha, viúvas já perderam bonificação anual em algumas províncias. O preço do transporte sofreu uma alta de 50% , as pesquisas indicam vitória da direita na sucessão de Zapatero e o premiê continua a falar em ‘ajuste'. Acossado por dúvidas sobre a saúde de bancos franceses, com carteiras atreladas a títulos públicos, Sarkozy equilibra-se na ponta dos pés, empina o nariz gaulês e bate forte no peito: cortar, cortar, cortar.  Espanha e Itália tem que colocar algo como  US$ 375 bilhões em títulos públicos até dezembro junto a investidores ariscos.  Fundos de investimento ferozes e capitais deliquentes, desses que saem quebrando tudo pela frente --famílias, países, nações-- querem 'garantias' de austeridade que se traduzam em juros maiores. A esses Cameron não ameaça com cacete & canhão de água.  Infectados por um vírus que os impede de contrastar a lógica financista, os dirigentes europeus cumprem sem ganir, nem mugir, o roteiro do matadouro. E empurram o mundo para o abismo da recessão. O Tea Party está inscrustrado como um chip na cabeça de cada um deles nesse momento.  Nouriel Roubini já havia antecipado: deixada à própria lógica, essa crise se desdobra em outra. Começou como crise imobiliária nos EUA; virou uma crise financeira; atingiu sua fase fiscal com Estados que se arrebentaram no socorro trilionário a bancos e especuladores. Agora vive o cume político que paralisa países e incendeia populações acuadas. A solução é renegociar a digestão do imenso débito egresso da desregulação do sistema financeiro. Dilatar prazos e reduzir  juros para sobrar espaço ao crescimento, sem o qual não há saída. A persistir a lógica atual , as chamas de Londres serão lembradas como a faísca de um incêndio maior. (Leia mais sobre Londres nesta pág).
(Carta Maior; 5º feira, 11/08/ 2011)

Ousadia no enfrentamento da crise

Editorial do Vermelho

O pessimismo que domina os mercados de capitais nestes dias, derretendo o valor das ações e semeando instabilidade – motivado pelos dados desanimadores da economia estadunidense e o agravamento da crise da dívida na Europa e também nos EUA –, indica que a economia mundial está a caminho de uma nova recessão. O Brasil, como se pode notar pelo comportamento da Bovespa, que acumula perdas de 15,1% no ano até esta quarta (10), não está imune, ao contrário do que imaginam alguns analistas.

A situação é “delicada”, conforme admitiu a presidente Dilma durante reunião do Conselho Político. Resta saber o que se pretende fazer para prevenir e neutralizar os prováveis impactos das turbulências que emanam da maior economia capitalista do planeta, cujos desequilíbrios são a grande fonte da crise. As coisas não estão claras neste sentido, as pressões são contraditórias e as autoridades não parecem estar falando a mesma língua.

A presidente incitou a população a continuar consumindo, repetindo o apelo de Lula em 2008 e dando a entender que a equação do problema passa pelo fortalecimento do mercado interno. Dilma reitera que não quer sacrificar o crescimento da economia e da oferta de emprego. Já a oposição neoliberal, com o respaldo da mídia capitalista, levanta a bandeira do ajuste fiscal, clamando por mais cortes nas despesas públicas.

Membros proeminentes da equipe econômica, apegados a uma orientação conservadora de viés neoliberal, criticam os aumentos salariais obtidos com muita luta pelos trabalhadores e bradam contra projetos que elevam as despesas públicas, quando estes contemplam os interesses dos assalariados. Ao mesmo tempo, apoiam projetos polêmicos de renúncia fiscal em benefício de alguns ramos da indústria, inclusive as multinacionais do automóvel.

Falar mal dos sindicatos, responsabilizando os salários pela instabilidade monetária, e persistir na linha do arrocho fiscal são coisas que nada têm a ver com a necessidade de fortalecimento do mercado interno ressaltada por Dilma. As iniciativas até agora anunciadas pela equipe econômica, como o Plano Brasil Maior (PBM), a elevação do teto do Simples e as medidas implementadas para conter a valorização do real, são tímidas e insuficientes. Além disto, o PBM contém uma ameaça ao financiamento da Previdência Social que os trabalhadores consideram simplesmente inaceitável.

Prevalece a impressão de que o governo evita colocar o dedo na ferida ou, em outras palavras, carece de ousadia para mexer no dogmático tripé da política macroeconômica: os juros altos, o câmbio flutuante e o superávit primário, que conspiram contra o crescimento, obstruindo a expansão dos investimentos internos, e provocam a chamada desindustrialização.

É difícil, senão impossível, prever todos os desdobramentos da crise, mas o cenário que se projeta no horizonte dos próximos anos é pintado com as cores da instabilidade, acirramento da competição e do protecionismo, consumo deprimido, baixo crescimento e provavelmente recessão nos Estados Unidos e na Europa. A promessa do Federal Reserve de manter a taxa básica de juros negativa (entre 0 a 0,25% a.a.) até 2013 é sintomática.

O momento exige ousadia, conforme observou o líder do PCdoB na Câmara dos Deputados, Osmar Júnior. Ousadia para reduzir significativamente a taxa de juros; mudar a política cambial, acabando com o câmbio flutuante e administrando as cotações, em vez de criticar a justa política adotada pela China neste sentido; controlar o fluxo de capitais, freando a especulação; taxar fortemente a remessa de lucros das transnacionais, principal causa do déficit em conta corrente, e reduzir o superávit primário, utilizando a economia hoje destinada ao pagamento de juros para a ampliação dos investimentos públicos.

Se o governo caminhar nesta direção, certamente enfrentará a oposição da oligarquia financeira e das viúvas do neoliberalismo. Mas contará com o apoio do povo, dos movimentos sociais e dos partidos e organizações progressistas. Pesquisa recente feita pelo Ibope mostra que 63% dos brasileiros se opõem à política monetária conduzida pelo Banco Central, que há anos mantém o Brasil na vergonhosa e injustificável posição de campeão mundial dos juros altos. Um claro sinal de que a maioria da sociedade anseia por mudanças na orientação macroeconômica.

A caça às bruxas na Rede Globo

Por Marco Aurélio Mello, em blog DoLaDoDeLá:

Uma fonte na TV Globo conta que desde sexta-feira começou uma caça às bruxas na emissora. Eles querem saber quem foi que vazou para o Rodrigo Vianna o plano de desqualificar o novo ministro da defesa, Celso Amorim. Como era sigiloso e envolveu não mais do que 20 profissionais de três capitais, eles consideram que fazer o mapeamento e achar o "traidor" é questão de tempo.

Só que eles ignoram que este tipo de segredo é de polichinelo, não dá para ser guardado numa redação. Por uma razão simples: um editor tem sempre outro editor com quem troca confidências. Repórteres, mesmo que tenham sido poucos e confiáveis os acionados, sempre comentam com os cinegrafistas - afinal têm uma amizade muito longa. E, não raro, há alguém que ouve, um auxiliar, um motorista... Portanto, esqueçam, será impossível descobrir de onde partiu a notícia que caiu como uma bomba no colo dos gestores.

Dizem até que o Código de Princípios que estava planejado para ser divulgado depois de um Seminário, com pompa e circunstância, foi antecipado. Os principais apresentadores do Jornal Nacional, Wiliam Bonner e Fátima Bernardes teriam sido convocados para trabalhar no fim de semana, fato raríssimo. Tudo para tentar apagar o incêndio de proporções desastrosas.

Sinal de que há sim um grupo lá dentro muito insatisfeito com o comando do jornalismo. Na Avenida Chucri Zaidan, por exemplo, onde fica a sede da emissora em São Paulo, o clima é de tensão e medo. O vazamento é tratado como crime e ao traidor está reservada a forca, o esfolamento - como na pintura de Michelângelo na Capela Sistina - com consequente exibição de vísceras em praça pública. Ninguém mandou tratar jornalismo como se fosse mercadoria. Jornalismo é informação, sem viés ideológico, sem interesse econômico e político. Simples assim!