segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Juizo Deputado!

Por Genaldo de Melo

No mundo político existem naturalmente indivíduos que não tendo o que fazer no parlamento, ou até mesmo o que apresentar que de fato interesse o povo, arvoram-se ao papel do ridículo e do absurdo.  Isso é coisa da política mesmo! Nela é necessário que haja os folclóricos, os espertos e os bem sucedidos, os que representam de fato os interesses dos cidadãos, bem como aqueles que se passam por ridículos, por pautarem os Parlamentos com absurdos, exatamente por serem ridículos.

Há alguns dias passados os noticiários pautaram-se por um fato um tanto que insólito no mundo político. Um deputado sergipano, da minha terra natal, querendo de forma absurda apresentar uma proposta de Emenda Constitucional no Congresso Nacional para levar dois municípios baianos (Rio Real e Jandaíra) para o Estado de Sergipe. O que estou tentando considerar e compreender é se esse nobre deputado combinou com o povo baiano desses municípios, se quer de uma hora para outra deixar de ser baiano para ser sergipano.

Ora, como sergipano que sou, se algum deputado baiano sem ter o que fazer, por ter provavelmente a cabeça vazia,  apresentasse uma proposta dessa natureza no Parlamento, querendo também tirar municípios de Sergipe, eu seria veementemente contra, e procuraria  de forma o mais combativo possível fazer a boa guerra e ser contra, porque não se mexe com os valores culturais e simbólicos de um povo.

Com tantas necessidades que meus conterrâneos do Sertão Sergipano passam, e com tantas possibilidades de articulação que um deputado pode fazer para procurar resolvê-las, fica o nobre Macedo que se elegeu para fazer o melhor pelo povo de seu Estado apresentando pautas absurdas no Congresso Nacional. Somente porque nasceu em Rio Real? Por que não vem ser deputado na Bahia para pelo menos respeitar a mesma agremiação partidária da qual faz parte e governa a Bahia hoje?

Conhecendo o deputado e sabendo qual o papel um homem público deve exercer, poderíamos até dá conselhos ao nobre deputado. Todos que tentam dividir o Estado da Bahia são os tolos que não representam de fato aqueles que nas urnas votaram para que os mesmos representasse seus próprios Estados. Parece que em Pernambuco e Sergipe têm parlamentares que se preocupam mais com os outros Estados que com os seus próprios. Juízo Deputado somos todos brasileiros!

As reservas da China e o declínio dos Estados Unidos

Editorial do Vermelho

A China acumulou até o final de setembro deste ano, reservas cambiais no valor de US$ 3,2 trilhões, as maiores do mundo, de acordo com informações divulgadas nesta sexta-feira (14) pelo Banco Central do país. O fato reflete o crescimento da economia chinesa e é emblemático da vertiginosa ascensão do gigante asiático.

Desperta também rancores e ciúmes no chamado Ocidente, em especial dos EUA, que acusam Pequim de explorar em proveito próprio os desequilíbrios do comércio internacional através de uma suposta “manipulação cambial” e ameaçam retaliar com medidas protecionistas que podem desencadear uma guerra comercial de consequencias imprevisíveis.

Washington atribuiu hoje aos chineses a causa de sua própria decadência, quando esta a rigor é um processo histórico impulsionado pelo menos desde os anos 1970 e enraizado no crônico déficit comercial (praticamente ininterrupto desde 1971). O rombo na conta de mercadorias, um câncer que devora lentamente a indústria estadunidense, reflete a carência de poupança interna e o insaciável parasitismo de Tio Sam, traduzido na propensão a consumir além dos próprios meios que produz, graças ao papel especial do dólar no mundo e ao crescente endividamento do Estado e da sociedade.

Cabe recordar que, nos anos 1980, o império entrou em conflito econômico com o Japão por pretexto semelhante ao que agora levanta contra a China, ou seja, o formidável desequilíbrio comercial no Pacífico. O alvo é outro, mas o problema de fundo não mudou. É o velho vício do parasitismo que, conforme notou Lênin, tem a virtude de provocar a decomposição da liderança das potências hegemônicas.

As reservas da China refletem a expansão do país num contexto de desenvolvimento desigual das nações, ao ritmo médio de 10% ao ano durante as três últimas décadas, e têm, basicamente, duas fontes: o superávit obtido no comércio exterior, principalmente nas relações com os EUA, e os investimentos externos realizados pelas transnacionais na economia chinesa.

Não se trata de uma conspiração imperialista contra os EUA. O capital estrangeiro, inclusive americano, é atraído pela expansão do PIB e taxas de lucros mais elevadas que no chamado Ocidente. Nasce aí o fenômeno do deslocamento da indústria, e com ela do poder econômico, para o Oriente. Marx explica este movimento do capital, que – alheio a estratégias políticas e idiossincrasias nacionais - é determinado por um único objetivo: a maximização dos lucros.

É óbvio que o superávit chinês contracena com os déficits do Ocidente e não está divorciado dos denominados desequilíbrios globais reproduzidos de forma ampliada por Washington, que estão na raiz da crise mundial do capitalismo. Mas a responsabilidade pelo drama é do próprio imperialismo e cabe aos EUA, e a ninguém mais, resolvê-lo.

O doloroso caminho nesta direção não nos é estranho. Passa necessariamente por um ajuste interno capaz de harmonizar o consumo com a renda e os investimentos com a poupança. Significa, sim, redução de gastos governamentais e não temos o que lamentar. O império é obeso, possui gorduras em excesso.

No caso, a Humanidade e o próprio povo norte-americano teriam razão para comemorar e respirar de alívio se os cortes necessários, e provavelmente inevitáveis, recaírem sobre o monstruoso orçamento militar, que equivale à soma das despesas bélicas de todos os demais países do mundo e é estimado por alguns especialistas em mais de US$ 1 trilhão. Deixar de despejar dinheiro no sistema financeiro e impor tributos aos ricos, atendendo ao clamor popular que ecoa em Wall Street, também ajuda a conter os desequilíbrios e combater o flagelo do desemprego e dos despejos que infernizam a vida de milhões de famílias operárias no interior do país capitalista mais rico do mundo.

Pensar dói?

  
Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias. Gabler é o autor, entre outras obras, de Vida, o Filme (Companhia das Letras), no qual afirma que, durante décadas de bombardeio pelos meios de comunicação, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. O livro tem o significativo subtítulo: Como o entretenimento conquistou a realidade.

No texto atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.

Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.

Gabler critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.

No entanto, o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios. Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que, quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.

Pode-se acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só. Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em outras eras.

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/

Veja não apura, enlameia honras

A revista Veja sai aos sábados. Com isso, garante seu principal obejtivo “jornalístico”, que não é noticiar, mas “repercutir” nos jornais de domingo.

O que a revista tem contra o Ministro Orlando Silva é a declaração de um PM preso numa investigação sobre desvio de verbas, corroborada por um empregado seu.

Pode ser verdadeira ou não a declaração, não se prejulga. Mas parece ter pouca ou nenhuma lógica que um esquema de corrupção não tenha outro lugar e outra pessoa, na imensa Brasília, para entregar uma caixa de dinheiro senão a garagem do Ministério, onde há funcionários e, quam sabe, até câmeras. E muito menos ao próprio motorista do Ministro, com ele dentro do carro.

Jornalisticamente, não era informação a ser publicada sem ser checada. A fonte da informação tem um apontado comprometimento em desvio de verbas e a este homem  foi imputado, pelo próprio Ministério, um desvio de R$ 2 milhões dos cofres públicos, por irregularidades nas prestações de contas.

Mas a honra das pessoas, para a revista Veja, não é objeto de qualquer cuidado. O negócio é levantar a suspeita e que as pessoas cuidem de “provar a inocência”, depois, claro, de devidamente linchadas em praça pública.

É como gol em impedimento, que todo mundo vê depois que deveria ser anulado, mas depois de marcado, vale tanto quanto um legítimo. A investigação pedida pelo Ministro à Polícia Federal, a menos que conclua por sua culpa, ficará como pizza.

Claro, numa época de preparação para a Copa, o que mais eficiente do que construir um escândalo que respingue sobre nossas responsabilidades e seriedade com as negociações com a Fifa? Que já manifesta, por “funcionários” anônimos, a preocupação disso sobre a organização da comeptição.

A Fifa, como se sabe, tem excelentes relações com o probo Ricardo Teixeira, presidente da CBF.

Mas não pensem que, apesar disso, não povoa os sonhos desta gente tirarem a Copa do Brasil. Vai ser o sonho de todas as suas noites deste verão.

Ministério do Esporte cobra R$ 3 mi de PM que faz acusação via Veja

Policial militar João Dias Ferreira teria desviado dinheiro de dois convênios com ministério do Esporte que atenderiam jovens e crianças. Pasta aciona TCU e cobra devolução de R$ 3,1 milhões. Em retaliação, policial, preso e réu em ação do Ministério Público, diz à Veja que esquema no Esporte favorece PCdoB. 'Reportagem é farsa e fonte é bandido', diz Orlando Silva.

BRASÍLIA – O ministério do Esporte está cobrando R$ 3,1 milhões do policial militar João Dias Ferreira, que está preso desde o ano passado por desvio de recursos federais e, neste fim de semana, em reportagem da revista Veja, acusa o ministro Orlando Silva de montar e operar um esquema de corrupção na pasta.

O dinheiro que o ministério tenta reaver foi repassado à Associação João Dias de Kung Fu e à Federação Brasiliense de Kung Fu. As entidades assinaram acordo com o Esporte, em 2005 e 2006, respectivamente, para participar do programa Segundo Tempo. Neste programa, os conveniados são financiados para atender jovens e crianças com atividades esportivas depois das aulas.

Segundo o ministério, porém, não teria havido prestação de serviços pelas entidades. A pasta suspendeu os repasses em junho de 2010 e decidiu fazer uma investigação específica sobre o que aconteceu, chamada de Tomada de Contas Especial.

O processo foi enviado ao Tribunal de Contas da União (TCU). Neste processo, o Esporte diz que João Dias e as duas entidades precisam devolver R$ 3,1 milhões. A descoberta das irregularidades custou ainda uma ação civil pública contra o policial, ajuizada pelo Ministério Público Federal.

Para Orlando Silva, este são as motivações de João Dias para ter contado à Veja que haveria suposto esquema corrupto no ministério. “A reportagem é uma farsa. A fonte é um bandido, um criminoso”, disse Silva em entrevista neste sábado (15) em Guadalajara, no México, onde, desde o dia anterior, estão sendo realizados os Jogos Panamamericanos.

Na reportagem, João Dias diz que 20% de todos os convênios do Segundo Tempo eram desviados, por determinação de Silva, para abastecer o PCdoB, partido do ministro e do policial. A matéria diz ainda que o próprio Silva receberia na garagem do ministério verba desviada. Quem faz esta denúncia específica é um funcionário de João Dias, Célio Soares Pereira.

Depois da publicação da reportagem neste sábado (15), o ministro do Esporte procurou a presidenta Dilma Rousseff para dizer que as denúncias não passam de “calúnia” feita por “pessoa desqualificada”. Também pediu ao colega da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal apure as denúncias.

Ele disse que também vai entrar com ação penal contra os personagens da reportagem. “Não podemos ser paralisados por alguém que faz um ataque vão e que, infelizmente, consegue espaço para repercutir”, disse Silva

A segunda década latinoamericana


Por Emir Sader, em seu Blog

A primeira década do século XXI foi uma década latino-americana. Depois de ter sido vítima de ditaduras militares, da crise da dívida e de governos neoliberais, o continente mostrava, de novo, surpreendente capacidade de recuperação, gerando governos de resistência ao neoliberalismo, progressistas, como nunca na sua história.

São governos que agem no marco das transformações negativas das décadas anteriores, com a herança pesada que receberam: Estados enfraquecidos, sociedades fragmentadas, processos de desindustralização, renúncia à soberania, entre tantas outras.

De novo a América Latina mostrou imensa capacidade de recuperação, como tinha feito em momentos anteriores de sua história, diante de outras derrotas. Por isso chamo o continente de Nova Toupeira, no meu livro com esse nome. Desta vez foi a dura recuperação dos governos neoliberais, que devastaram o continente.

Foi necessário recompor a capacidade de indução do crescimento por parte dos Estados, resgatar direitos sociais, superar as recessões em que estavam nossas economias. Tudo em meio a uma herança muito negativa e a um contexto internacional desfavorável.

Ainda assim a America Latina protagonizou uma década memorável, em que começou a reverter seu triste recorde de ser o continente mais injusto do mundo. Para isso, os governos progressistas latino-americanos colocaram em prática políticas sociais criativas, que distribuíram renda, estenderam o mercado interno de consumo popular, integraram milhões de pessoas ao consumo básico e aos direitos elementares de cidadania, elevaram regularmente o poder aquisitivo dos salários e os empregos formais.

Por outro lado, foram sendo criados na região espaços de integração regional – Mercosul, Unasul, Banco do Sul, Conselho Sulamericano de Defesa, Corporação Andina de Fomento, entre outros, conformando o único espaço de integração autônomo em relação aos Estados Unidos. Foram priorizadas as alianças intraregionais e com o Sul do mundo, o que foi gerando um novo mapa político mundial e um mundo multipolar do ponto de vista econômico. A crise em que se encontra o capitalismo internacional desde 2008 revelou, com mais força, as vantagens desse tipo de inserção internacional: nossos países entraram mais tarde e saíram mais cedo do primeiro ciclo da crise e se defendem hoje muito melhor do que os do centro do sistema.

Os governos progressistas fizeram da América Latina a região mais avançada do mundo na luta contra o neoliberalismo. A única que combate sistematicamente as desigualdades sociais, que propõe formas inovadoras de políticas sociais, de reforma do Estado, de integração regional e de inserção internacional soberana. E esta tem tudo para ser a segunda década seguida da América Latina.

Futebol é jogo pra mulher também

Prática do esporte mais popular do planeta por mulheres é catalisadora de mudanças, mas ainda alvo de preconceitos

Marcos Alvito*

Ela disse que estava tímida e que só iria assistir. Ao chegar lá, não resistiu e ficou me puxando pela camisa para nos aproximarmos do grupo. Logo se soltou e correu em direção à bola. Era a primeira vez que Kay Alvito, 5 anos, realmente jogava futebol. Já havia outra menina na escolinha de futebol de praia, boa de bola aliás. Por enquanto Kay só chuta com a pontinha do pé, mas já aprendeu o mais importante: futebol também é coisa pra mulher, sim.

Normalmente o futebol funciona como uma máquina de enquadramento ao mundo capitalista e suas divisões. Uma espécie de fábrica de caretas. Seria coisa pra homem e não pra mulheres, vistas como fracas e inábeis para o “rude esporte bretão”. Os xingamentos preferidos das torcidas implicam em sodomizar os adversários. Não há esporte em que “sair do armário” seja um tabu maior. Os estádios estão divididos hierarquicamente segundo o poder de compra de cada um. Os dirigentes são ricos e brancos, a maioria dos meninos que tentam o sonho de ser jogador de futebol são negros e pobres. As camisas viraram painéis publicitários e a mesma coisa os estádios. Os ícones do futebol mundial põem lenha na fogueira do consumo além de simbolizarem a juventude, a vitalidade e o sucesso.

Mas não é preciso ser assim. O futebol pode ser utilizado politicamente como arma de conscientização. A primeira faixa a favor da anistia aos presos políticos foi desfraldada pela Gaviões da Fiel em um jogo com mais de 100 mil pessoas presentes. As torcidas organizadas, aliás, quando surgiram em fi nais da década de 1960 contestavam o status quo dos clubes, protestando contra dirigentes corruptos e fazendo campanhas contra o aumento dos ingressos. Em 1978, logo após a Copa organizada pela ditadura militar argentina e vencida pelos anfitriões, os torcedores argentinos voltaram aos estádios cantando “Se va acabar, se va acabar la ditadura militar”. E em 1986, os moradores das favelas do México, percebendo que a Copa era um grande golpe publicitário, marcharam cantando: “Queremos pão e não gols!”.

Bola de presente

No caso do gênero, a reprodução das estruturas funciona como um crime quase perfeito. Não se estimulam as meninas a jogarem futebol. Alguém já viu uma menina ganhar uma bola de presente de aniversário? Ou seja, elas tendem a não aprender a jogar quando são bem pequenas. Ora, o futebol é um jogo especial, que depende de uma aprendizagem precoce, concomitante ao momento em que a criança está aprendendo a andar, porque é necessário adquirir um equilíbrio especial para correr, equilibrar o corpo e chutar ao mesmo tempo. Não estimulada ou até mesmo desestimulada pelos pais, a menina que mesmo assim quiser jogar terá que enfrentar a hostilidade dos meninos da sua idade.

Quando ela vier a fazer isso já terá passado algum tempo e a diferença técnica dela em relação a eles será gritante. Ou seja, ela acabará se transformando em motivo de chacota e em mais um exemplo de que mulher não sabe jogar futebol... Quando nascer uma menina, já que mulher “não sabe jogar futebol”, ninguém vai lhe dar uma bola de presente e assim o ciclo se completará.

Apesar disso, as mulheres jogam sim, e bastante. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, existe uma associação de futebol feminino extremamente bem organizada e que conta atualmente com 55 equipes que se enfrentam em competições regulares (http://www.futebolfemininorj.com.br). É preciso lembrar que já havia mulheres jogando no Brasil ainda na década de 1930, quando o futebol feminino era proibido por Getúlio Vargas sob a alegação de que era um esporte violento e impróprio para as futuras mães.

O mesmo ocorreu na Inglaterra. Ali, quando da I Guerra Mundial, as operárias montaram equipes e começaram a jogar. Logo o futebol feminino virou uma coqueluche e houve partidas jogadas em grandes estádios para públicos com dezenas de milhares de pessoas. Quando termina a guerra, a Football  Association (a Federação Inglesa de Futebol) praticamente proíbe o futebol feminino ao impedir que elas utilizassem todo e qualquer equipamento esportivo dos clubes associados à federação. Ou seja: se elas quisessem jogar, que o fizessem no parque! Em 1969 as mulheres inglesas revidaram: criaram a Women’s Football Association, cujo sucesso obrigou a Football Association a rever seus conceitos e a incorporar o futebol feminino definitivamente em 1993.

“Revolução do futebol”

O futebol tem refletido o novo papel das mulheres na sociedade, servindo também como elemento catalisador de mudanças. No Irã, por exemplo, as mulheres foram proibidas de assistir futebol, pela televisão ou nos estádios, após a Revolução Islâmica em fins da década de 1970. Inconformadas, continuaram indo aos estádios disfarçadas de homens. Tanto pressionaram que em 1987 o regime permitiu que assistissem futebol pela televisão, mantendo ainda a proibição de frequentar estádios. Dez anos depois, em 1997, as mulheres desencadearam um processo em massa de desobediência civil. Quando o Irã se classifica às duras penas para a Copa do Mundo de 1998, as mulheres saem às ruas desafiando todas as proibições e até mesmo a polícia, encarregada de reprimi-las. Quando os policiais barram a sua entrada no estádio onde os heróis da classificação chegariam de helicóptero, as mulheres começam a cantar: “Não somos parte desta nação? Também queremos comemorar.” Resultado: a polícia teve que achar um jeito para acomodar três mil mulheres no estádio. Este episódio ficou conhecido como “A Revolução do Futebol” e talvez tenha sido ali que o povo iraniano entendeu que podia enfrentar o governo.

No Brasil, o sucesso da seleção feminina de futebol tem feito algumas barreiras caírem, com comentaristas de televisão admitindo abertamente a qualidade do futebol jogado por elas, sobretudo por Marta, eleita cinco vezes a melhor jogadora do planeta. Contraditoriamente, ou melhor, de forma coerente com os preconceitos de gênero, o futebol feminino não tem recebido nenhum incentivo real e as nossas melhores jogadoras são obrigadas a se transferirem para o exterior. No país do futebol inexistem competições de futebol feminino de maior expressão veiculadas pela mídia. Um campeonato brasileiro de futebol feminino forte seria uma arma importante contra o sexismo. Serviria de exemplo para milhares de meninas não só no que diz respeito ao seu direito de gostar de jogar futebol. Porque se o futebol também é coisa pra mulher, haverá algo que não seja?

*Marcos Alvito é historiador e antropólogo e um dos fundadores da Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras

As razões dos protestos nos EUA

Foto: Eduardo Muñoz-Reuters
Por Mauro Santayana, em seu blog:

O movimento de protesto nos Estados Unidos teve ontem um dia diferente em Nova Iorque: piquetes de centenas de pessoas se manifestaram às portas de cinco dos maiores milionários de Manhattan, começando pela casa de Rupert Murdoch. Outras residências visitadas foram as dos banqueiros John Paulson, Jamie Dimon, David Koch, e Howard Millstein – todos eles envolvidos nos grandes escândalos de Wall Street, e socorridos por Bush. Os lemas foram os mesmos: que tratassem de devolver o que haviam retirado da economia popular.

A polícia limitou-se a conter, com barreiras, os manifestantes. Mas a mesma coisa não ocorreu em Boston. A polícia municipal atuou com extrema violência durante a madrugada de ontem, atacando, com porretes, dezenas de manifestantes e ferindo dois veteranos de guerra, um deles, de 74 anos, ex-combatente no Vietnã. O “Occupy Together” atingiu mais de 1.200 cidades norte-americanas, em preparação para as grandes concentrações nacionais no próximo sábado, dia 15.

Conforme o jornalista americano David Graeber, em incisivo artigo publicado pelo The Guardian, os jovens, e também homens maduros, vão às ruas nos Estados Unidos em busca de empregos, de boa educação, de paz, é certo, mas querem muito mais do que isso. Eles contestam um sistema que deixou de servir aos homens, para servir apenas aos banqueiros e a um capitalismo anacrônico. “Para que serve o capitalismo?”, é uma de suas perguntas. Eles contestam um sistema baseado no consumo supérfluo de uns fundado na negação das necessidades básicas de 99% da população de seu país. Descobriram que o seu futuro, os seus sonhos, o seu destino e a sua vida foram roubados pelo sistema que deixou de ser democrático.

Os neoliberais no mundo inteiro fazem de conta que esses protestos nada significam, e muitos deles continuam sem perceber o que está ocorrendo. Tem sido sempre assim na História. Na noite de 4 de agosto de 1789, quando, a Assembléia revolucionária da França aboliu os privilégios feudais da nobreza, Luis 16, que seria guilhotinado menos de três anos depois, escreveu em seu diário: hoje, nada de novo. Como bem registrou Paul Krugman, em seu artigo no New York Times, os manifestantes não são extremistas: os verdadeiros extremistas são os oligarcas, que não querem que se conheçam as fontes de sua riqueza.

Não percebem os políticos o processo revolucionário em marcha que, de uma forma ou de outra, atingirá todos os países do mundo. Ao globalizar-se, pela imposição do sistema financeiro, a economia, globalizou-se a reação dos povos ao sistema totalitário e criminoso. Seria a hora de um entendimento entre os estadistas do mundo, a fim de chamar os especuladores à razão e colocar o Estado ao serviço da justiça, retornando-o à sua natureza original. Na Europa e nos Estados Unidos o que se vê é o Estado socorrendo os banqueiros fraudulentos, e os ricos insistindo na receita neoliberal clássica, de ajustes fiscais, de redução dos serviços sociais, do arrocho salarial e da demissão sumária de imensos contingentes de trabalhadores, a fim de garantir o lucro dos especuladores.

Nos anos oitenta, os paises emergentes de hoje, entre eles o Brasil, estavam atolados em uma dívida internacional marota, gerada pela necessidade de rolar os bilhões de eurodólares, e não dispunham de recursos. Mme Thatcher disse que o Brasil teria que vender as suas terras e florestas, a fim de pagar o que devia. Hoje, trinta anos depois, a Grécia está vendendo tudo o que pode, até mesmo monumentos históricos, enquanto parcelas de seu povo começam a passar fome.

Quando os africanos morrem de fome e de epidemias, como voltaram a morrer agora, não há problema. Para os brancos, europeus ou americanos, é alguma coisa que não lhes diz respeito. A África não é outro continente: é outro mundo. Mas, neste momento, são brancos, de cabelos louros e olhos azuis, como os manifestantes de Boston – jóia da velha aristocracia da Nova Inglaterra – que vão às ruas e são espancados pela polícia. A revolução, como os próprios manifestantes denominam seu movimento pacífico, está em marcha.

Há é certo, algumas providências na Europa, como a estatização do banco belga Dexie, mas se trata de um paliativo, quando Trichet, o presidente do Banco Central Europeu recomenda injetar mais dinheiro no sistema financeiro privado. Mais astuto, o governo da China reforçou a presença estatal no sistema financeiro, aumentando a sua participação nos bancos de que é acionista majoritário.

E o mundo se move também na política. Abbas - o presidente da Autoridade Nacional Palestina, que luta pelo reconhecimento pela ONU de seu Estado nacional - em hábil iniciativa, esteve anteontem e ontem em Bogotá. Ele fez a viagem a Colômbia, sabendo que dificilmente o apoiariam: o país hospeda bases militares americanas e, ontem mesmo, um comitê do Senado, em Washington, aprovou o Tratado de Livre Comércio entre os dois países. Assim, o presidente Juan Manuel Santos limitou-se a declarações protocolares de apoio à paz no Oriente Médio, o que não impedirá a caminhada da História.

Cooperação em saúde na nossa América

Os países latino-americanos e caribenhos têm fomentado mais frequentemente foros internacionais onde representantes de áreas diversas trocam figurinhas a fim de reduzir as lacunas do álbum. O intercâmbio de experiências, desta forma, inibe a reincidência em erros e termina em propostas de cooperação que fortalecem políticas sociais.

Por Bruno Peron Loureiro, em seu blog


A Cidade do Panamá recebeu, entre 29 e 30 de setembro de 2011, a 22ª Reunião de Diretores de Cooperação Internacional da América Latina e o Caribe. O Sistema Econômico Latino-americano e do Caribe (SELA) organizou este evento, cujo tema central foi sobre "Integração, Cooperação e Convergência em Saúde na América Latina e no Caribe".

A saúde é um tema preocupante nesta região, porquanto há uma pressão grande de empresários do setor para que os sistemas públicos não melhorem, o orçamento estatal que se lhe dedica é exíguo, e a maioria dos países não prioriza a profilaxia (prevenção de doenças) sobre o tratamento pontual da patologia a exemplo de Cuba.

O raciocínio é o seguinte: um país poupa dinheiro se investe no preparo de seus habitantes para que não fiquem doentes de modo a reduzir a probabilidade de incidência de enfermidades e preveni-los em menos tempo e com menos recursos. Esta prática requer que políticas instrutivas se alinhem às políticas sanitárias.

A 22ª Reunião destaca a "cooperação" entre os participantes que representam os 28 Estados-membros do SELA, Ministérios de Saúde, acadêmicos e agentes sanitários. Unem-se no desejo de impulsionar ações de cooperação Sul-Sul ou ditas "horizontais".

Alguns dos objetivos deste encontro foram: fomentar a cooperação internacional em saúde, trocar experiências sobre casos bem sucedidos de cooperação nesta área, expor os avanços em integração sanitária no âmbito dos países membros do SELA.

Houve destaque aos trabalhos de redução da mortalidade infantil, o combate à Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS) e outras doenças, a instrução à saúde materna, entre outros temas que não são menos importantes por proporcionar qualidade melhor de vida aos latino-americanos e caribenhos.

Os eventos de cooperação internacional em "Nossa América" mostram que a troca de experiências é pré-requisito em políticas sociais, entre as quais está a sanitária, com o propósito de avançar com celeridade na matéria. Há que tomar em conta, porém, a disposição de cada governo de investir mais ou menos no sistema público de saúde, uma vez que alguns posicionamentos ideológicos precarizam-no em benefício de convênios e planos privados por julgar que saúde não é responsabilidade de Estado.

A despesa pública em saúde na América Latina e no Caribe está muito abaixo da de países que estão próximos da universalização do acesso aos recursos sanitários e investem mais de 6% do Produto Interno Bruto (PIB). Um dos caminhos administrativos propostos é reduzir a evasão fiscal a fim de aumentar o orçamento público em saúde.

Os participantes da 22ª Reunião reconhecem que a cooperação internacional em saúde permite-lhes ganhar tempo em lugar de arriscar-se a realizar propostas que deram errado alhures, além de propor e aprofundar medidas que melhorem os sistemas públicos de saúde sem negligenciar as particularidades de cada país ou região.

Belize sediará em 2012 a próxima 23ª Reunião de Diretores de Cooperação Internacional da América Latina e o Caribe sob o tema "Cooperação Agrícola e Segurança Alimentar na América Latina e o Caribe".

Esperamos até lá que as parcerias "horizontais" entre países latino-americanos e caribenhos brindem-nos melhoras substantivas nos sistemas públicos de saúde e reorientem a importância atribuída a estas políticas sociais.

Fonte: http://www.brunoperon.com.br

Bancários decidem na segunda-feira se acabam com a greve

Os 483 mil bancários de todo o país decidem segunda-feira (17), em assembleias marcadas para as 18h, se acabam com a greve, que vai completar 21 dias – a mais longa da categoria desde 2004, quando a paralisação durou 30 dias.


Na última sexta-feira (14), os representantes dos trabalhadores e a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) chegaram a um acordo para encerrar o movimento. A proposta prevê reajuste salarial de 9%, que inclui a inflação dos últimos 12 meses até setembro último mais 1,5% de aumento real, além de outras melhorias financeiras.

Na reunião de sexta, também foi proposta a valorização do piso com correção de 12%. Com isso, ele passará para R$ 1.400 (aumento real de 4,3%). Ficou acertado ainda uma elevação do percentual para o cálculo da Participação nos Lucros e Resultados (PLR).

“Houve avanço nos pontos que considerávamos essenciais, como aumento real, melhoria do piso e do PLR”, disse a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira. A entidade representa 16 municípios, com 138 mil trabalhadores.

Além de concordar em não descontar os dias parados, assinalou Juvandia, os representantes dos banqueiros assumiram o compromisso informal de ampliar o número de vagas nas agências. “No caso da Caixa Econômica Federal [CEF], tivemos a garantia de 5 mil novas contrações”. A dirigente sindical vai defender a aprovação da proposta patronal.

Por meio de nota, o presidente do Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, também defendeu o fim da greve. “As novas propostas são resultado de um intenso processo de mobilização e negociação, que é o caminho que sempre defendemos, sem interferência de atores externos, para que os trabalhadores possam consolidar e avançara nas suas conquistas.”

No comunicado, a Contraf-CUT informou ainda que foram obtidas outras conquistas, como a proibição de que seja divulgado rankings individuais dos funcionários, o que permite coibir a cobrança das metas abusivas. Os dias parados deverão ser compensados com a extensão de duas horas nas jornadas até o próximo dia 15 de dezembro.

Fonte: Agência Brasil