quinta-feira, 28 de julho de 2011

Feira de Santana: no trânsito manda quem pode, obedece quem tem juizo

Tenho dito reiteradas vezes a alguns amigos que existem algumas maluquices e muita falta de respeito no trânsito, com as pessoas que andam pelas ruas centrais de Feira de Santana. E alguns não concordam com minha opinião, mas entendo. Eles transitam de carro e não andam a pé como a maioria dos feirenses.
Peço desculpa para estes amigos, pois respeito a opinião deles, mesmo não concordando, mas continuo dizendo que o trânsito de Feira de Santana tem problemas sérios que precisam serem sanados. Parece que ele é feito apenas para os motoristas, e não para todos.
Depois de ouvi várias reclamações da gente do povo sobre a falta de educação de alguns motoristas, bem como do próprio sistema de sinalização eletrônica do trânsito, que somente favorece a quem está dentro de um carro, vi pessoalmente esta semana um dos fatos mais absurdos no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Avenida Sampaio. Quando o sinal vermelho fecha, o outro rapidamente esverdeia-se, e não dá tempo nenhum para que as pessoas possam atravessar as ruas.
Por isso que acho que isso está errado, pois o trânsito de uma cidade não deve ser feito apenas para o usufruto de motoristas. E o povo que trafega nas ruas da cidade? E as pessoas da terceira Idade? E os portadores/as de deficiências? Vi foi duas senhoras quase serem atropeladas, depois de ficarem em torno dez minutos tentando atravessar a rua.
Todo mundo sabe de quem é a culpa por essa falta de organização. Mas a Câmara de Vereadores que deveria respeitar a opinião das ruas e levantar um debate sério sobre esse assunto, fica calada. Afinal de contas são as pessoas que andam nas ruas de Feira de Santana, investidas na qualidade de pedestres, que são os cidadãos, que votam em outubro do próximo ano, e naturalmente merecem um pouco de respeito.
Porque não se imita pelo menos outras metrópoles que educam o povo e os motoristas para naturalmente diminuir os índices de acidentes? Por que Feira de Santana deve ter um trânsito desse modo, tão desorganizado? Uma hora amigos o povo reveste-se da revolta e vinga politicamente.

Genaldo de Melo

Fatos em foco

O governo continua hesitante na regulação do etanol, especialmente para garantir o fornecimento do combustível durante o ano todo

Hamilton Octavio de Souza

Sem etanol
O governo continua hesitante na regulação do etanol, especialmente para garantir o fornecimento do combustível durante o ano todo. Os usineiros não querem arcar com os custos de armazenamento na entressafra. Se não houver acordo, o produto deverá faltar no mercado nos mês esde dezembro, janeiro e fevereiro. De novo os preços vão subir e o ônus recairá – mais uma vez – sobre os consumidores. Por que não prevalece o interesse da maioria?

Promessas
Na campanha eleitoral de 2010, os setores da esquerda que apoiaram a candidata Dilma Rousseff contaram com alguns avanços políticos prometidos pelo PT, entre os quais o fim do fator previdenciário para cálculo da aposentadoria, a constituição da Comissão da Verdade, a regulação da comunicação social conforme propostas da Confecom, a reforma política para aprofundar a democracia. Está tudo no banho-maria.

Comparação – 1
O programa Bolsa Família atende hoje 12,9 milhões de famílias em todo o Brasil, com valores que variam de R$ 32 a R$ 242 por família, um gasto total de R$ 1,4 bilhão por mês. De janeiro a junho deste ano, o Tesouro Nacional pagou R$ 98 bilhões de juros da dívida pública para um seleto grupo de capitalistas que lucra com os títulos públicos. O que é transferido para essa minoria rica é 11 vezes superior ao maior programa social do governo. Pode?

Comparação – 2
O orçamento da União para 2011, aprovado pelo Congresso Nacional em 22 de dezembro de 2010, fixou o total de despesas em R$ 2 trilhões, sendo quase R$ 1,4 trilhão para custeio e investimento, e pouco mais de R$ 600 bilhões para a rolagem da dívida. Em janeiro, a dívida pública estava em 40,1% do PIB, equivalente a R$ 1,4 trilhão. No final de junho, a dívida pública havia saltado para R$ 1,8 trilhão – graças à contínua elevação da taxa de juros.

Ética suprema
O ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF, considerou assunto “particular” o fato de ter ficado hospedado na Itália por conta de advogado que é defensor de réus em dois processos em tramitação no STF, os quais devem ser relatados pelo próprio ministro. Se não se declarar eticamente impedido de participar desses julgamentos, terá condições de atuar com independência diante do amigo que patrocinou a viagem “particular”?

Risco ecológico
Estudos encomendados pela ONU indicam que as altas temperaturas no verão do hemisfério Norte e o aumento dos incêndios estão relacionados com o ressecamento de várias regiões do planeta, o que deve agravar a crise de escassez de água. A previsão desses estudos é que a demanda mundial por água cresça em dois terços até 2025, e as cidades que não se prepararem para assegurar o abastecimento podem se tornar fantasmas.

Envenenamento
O Comitê do Rio de Janeiro da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida lançou dia 25, no Teatro Casa Grande, o documentário “O veneno está na mesa”, dirigido pelo cineasta carioca Silvio Tendler. O filme mostra que todos nós estamos expostos ao emprego de agrotóxicos na produção de alimentos, e que o atual modelo de agricultura beneficia a indústria do veneno em detrimento da saúde da população.

Injustiça togada
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra de Marabá, no Pará, após a conclusão das investigações e a identificação dos assassinos do casal de agricultores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, o juiz Murilo Lemos Simão, de Marabá, negou dois pedidos de prisão encaminhados pela polícia, com aval do Ministério Público, facilitando assim a fuga dos acusados. Esse é o papel da Justiça?

Questão fiscal
Grupos empresariais e a grande mídia neoliberal costumam atacar o sistema público de previdência como sendo um setor deficitário que onera os cofres públicos. Mas não esclarecem que a maior parte do chamado déficit da previdência, no Brasil, decorre da renúncia fiscal no recolhimento das empresas rurais de exportação, das empresas de informática e das pequenas e médias empresas. Basta acabar com as isenções e privilégios!

Jobim e os idiotas que perderam a modéstia

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Na Folha de hoje:
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez uma revelação sobre sua preferência na disputa presidencial do ano passado: “Eu votei no Serra”.
Na avaliação dele, se o tucano José Serra tivesse derrotado a petista Dilma Rousseff, o governo “seria a mesma coisa” no manejo das recentes crises políticas, como a do combate à corrupção no Ministério dos Transportes(…).
A escolha eleitoral de Jobim sempre foi conhecida ou pelo menos intuída nos bastidores em Brasília. Dilma também sabia, diz ele.

Azedou a relação? “Azeda quando você esconde. Eu não costumo fazer dissimulações, então não tenho dificuldades”, disse.

Passada a eleição, entretanto, o assunto foi esquecido nas conversas entre o ministro e a presidente. “Não se toca no assunto.”

Há menos de um mês, ele se envolveu em polêmica ao afirmar, durante cerimônia pelos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que “os idiotas perderam a modéstia”.

No governo, a interpretação foi de uma crítica à administração Dilma. Ele repetiu não ter sido cobrado pela presidente: “Não, não. Ela até riu”.

Jobim deu entrevista ontem ao programa “Poder e Política”, uma parceria da Folha e do UOL, em Brasília.


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O ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, de quem sempre se discordou fortemente das idéias, era do PSDB, votou em Serra em 2002. Quando aceitou participar do governo, porém jamais ficou de gabolices frívolas, afirmando que não tinha votado em Lula.

O contrrário do que faz o ministro Nélson Jobim.

Jobim tornou-se um símbolo nacional. É inexcedível em matéria de vaidade, de arrogância, de grosseria. Não se constrange de constranger. Não sabe se manter discreto, não sabe ser respeitoso, não sabe nada senão jactar-se de sua própria “grandeza”.

O ministro Nélson Jobim perdeu, realmente, a modéstia.

Deveria perder o cargo, também.

Os efeitos do jornalismo de esgoto

Por Luis Nassif, em seu blog:

Um dos pontos centrais das políticas de direitos humanos é o chamado direito à privacidade. Desde que não afete a vida de terceiros nem desrespeite as leis, toda pessoa tem o direito à sua privacidade.

O caso Murdoch expôs uma das características mais repelentes do jornalismo-espetáculo e do jornalismo "partido político": a exposição da vida de pessoas, os ataques pessoais, os chamados assassinatos de reputação como ferramentas não apenas para aumento de audiência, mas como arma política.


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Ocorreu nas eleições de Barack Obama. Comentaristas da Fox News, acumpliciados com redes anônimas de internautas, espalhavam que Obama não teria nascido nos Estados Unidos, que seria muçulmano, uma liderança infiltrada na política norte-americana visando destruir o país.

Esse mesmo modelo foi utilizado na campanha eleitoral do ano passado. Em qualquer escola de São Paulo, crianças eram contaminadas pela versão de que a candidata Dilma Rousseff "assassinou pessoas", que seria a favor do aborto. Ao mesmo tempo, havia ataques destemperados contra nordestinos. Na outra ponta, o preconceito contra qualquer pessoa que pertencesse à classe média para cima.

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A intolerância global foi particularmente feroz contra muçulmanos e árabes em geral, especialmente após o episódio terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. Proliferaram sites e analistas preconizando o fim da civilização ocidental, com a invasão da Europa pelos muçulmanos.

Na França, proibiu-se o uso da burka. Diferenças culturais foram apontadas como desvios morais. Em um mundo cada vez mais globalizado, e enfrentando o fantasma da crise econômica, essa pregação espalhou-se como um rastilho, especialmente pelos países europeus. Da mesma maneira que a intolerância que se seguiu ao crack de 1929 da Bolsa de Nova York.

Por aqui, a pregação limitou-se ao chamado Foro de São Paulo - que, segundo alguns alucinados, visaria tomada do poder na América Latina pelos esquerdistas.

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O massacre de Oslo foi conseqüência direta de um clima de intolerância que teve em Murdoch o ponto central de disseminação, o exemplo no qual se espelharam grupos de mídia pelo mundo afora. Esse movimento foi facilitado pela ampliação da Internet, com o caos inicial que marca a entrada de novas mídias - especialmente uma descentralizada e onde é possível a prática dos ataques anônimos.

Nesse ambiente, houve o oportunismo de muitos comentaristas de mídia, explorando a intolerância que se manifestava na classe média - acossada, de um lado, pela tributação pesada, de outro, pela ascensão das novas massas consumidoras.

Abriu-se espaço para um modismo repelente, o "politicamente incorreto", que tornou de bom tom zombar das minorias, dos defeitos físicos, da feiura.

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O episódio Murdoch-Oslo deve servir de reflexão não apenas na Inglaterra, mas sobre a comunicação de massa em geral, sobre o respeito às diferenças, sobre os direitos individuais, sobre a responsabilidade na hora de se atacar pessoas ou grupos.

El Pais chamou a esse jornalismo de Murdoch de "cloaca". Por aqui, tornou-se comum a expressão "jornalismo de esgoto" para definir esse estilo.

A perversidade do racismo

No momento em que o IBGE divulgou sua pesquisa sobre a identidade dos brasileiros, duas outras notícias colocaram em evidência a perversidade com que na sociedade capitalista é encarada a distinção étnica e cultural entre os povos. Na Itália, a eleição da brasileira Silvia Novais como Miss Itália Nel Mondo provocou uma enxurrada de manifestações racistas na internet, postadas por direitistas partidários da supremacia branca e europeia adeptos de Adolf Hitler, que não suportam negros, árabes, judeus, imigrantes e outros seres humanos que não têm as suas origens étnicas, seus preconceitos e seus interesses.

Esta intolerância encharcou de sangue o solo de Oslo, capital da Noruega, onde um criminoso assassinou com um atentado a bomba e a tiros 76 pessoas, na maioria jovens, que estavam em um evento do Partido Trabalhista, de esquerda, que comanda o governo do país.

As referências ao Brasil, nestes dois episódios, são diretas e interligadas. As ofensas contra Silvia Novais estão ligadas à cor escura de sua pele. E o assassino de Oslo, no prolixo e insano manifesto de mais de 1.500 páginas que postou na internet para justificar seus crimes, citou explicitamente o Brasil como um exemplo dos “malefícios” da mestiçagem, causadora de corrupção, improdutividade e do choque cultural.

É preciso refletir sobre isso. A pesquisa divulgada pelo IBGE, que cumpre compromissos firmados pelo Brasil na 3º Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na África do Sul, em 2001, tem o enorme mérito de desmentir mais uma vez as alegações racistas da direita, europeia ou não, de dar números oficiais à denúncia do racismo no Brasil, e também de ressaltar a importância e o avanço da convivência, num mesmo espaço nacional, de diferenças que compõem o amplo mosaico representado pela unidade do povo brasileiro.

Quase dois terços dos brasileiros (63,7%), diz a pesquisa, reconhecem a existência de racismo no Brasil e indicam onde ele se manifesta de maneira mais intensa e perversa: no trabalho (71%), na relação com a polícia ou a justiça (68,3%), no convívio social (65%), na escola (59,3%) e nas repartições públicas (51,3%).

É uma chaga que se perpetua; é o ovo da serpente do racismo que recusa a convivência com aparências diferenciadas e pode matar, como já ocorreu no passado, e repetiu-se em Oslo na sexta-feira. Somos os habitantes de um país encarado pelos supremacistas eurocêntricos como racialmente inferior que, nas condições atuais do mundo, faz parte do conjunto de nações que ameaçam o predomínio do “Ocidente” – isto é, de países como Estados Unidos ou daqueles que formam a União Europeia.

Talvez o maior mérito da pesquisa seja constatar que crescentemente os brasileiros assumem positivamente a miscigenação; metade dos entrevistados se autodefinem como “não brancos” (48,4%), ao lado de outra metade que se declara “branca” (incluindo minorias que se descreveram como alemãs, italianas ou “claras”). Isto é, metade da população encara-se como mestiça, usando o critério tradicional brasileiro de classificação, que é a cor da pele.

Exames de origem, baseados na análise genética, como aqueles feitos pela equipe do pesquisador Sérgio Penna, indicam uma mestiçagem maior e mais disseminada, revelando que, no Brasil, apenas um terço daqueles que se declaram “brancos” são realmente de origem europeia exclusiva. E também que os brasileiros de pele escura, mestiços, trazem no DNA também os sinais de antepassados europeus. Isto é, no Brasil misturamos todas as origens, dando origem a um povo com características peculiares, nem superior nem superior aos demais povos, com suas próprias manifestações culturais múltiplas e também miscigenadas, marcas da origem diversificada de nossos formadores.

Nas relações internas, como nas que o povo brasileiro estabelece com o exterior, é necessário observar que o racismo está associado à dominação de classe e ao imperialismo neocolonialista. A superação da intolerância racista e o estabelecimento de relações fraternas no seio do povo e entre povos são objetivos associados à luta pela conquista de uma nova sociedade e um novo padrão civilizacional.

Editorial Vermelho

Estados unidos: devagar, quase parando

Enquanto o impasse em torno da dívida pública se arrasta, amplificando o nervosismo dos mercados de capitais, revelam-se nos Estados Unidos novos sinais de debilidade da economia, que caminha a passos de tartaruga, devagar, quase parando. A indústria está estagnada ou em recessão em muitas regiões do país.


O Federal Reserve (FED), banco central dos EUA, informou hoje, 27, que a economia americana cresceu a um ritmo mais vagaroso na maioria das regiões do país desde o início de junho, uma vez que os consumidores reduziram as compras e a produção industrial foi mais débil.
Desacelerando
"A atividade econômica continuou a crescer", disse o banco no Livro Bege. "No entanto, o ritmo foi moderado em muitas áreas." O crescimento se desacelerou em oito das 12 regiões dos Estados Unidos, em comparação à última pesquisa.

O relatório enfatiza a mensagem ao Congresso do presidente do FED, Ben Bernanke, no início deste mês. Ele disse que manter o estímulo monetário recorde era necessário para dinamizar a economia. Bernanke deixou a porta aberta para ações adicionais, incluindo a compra de mais títulos governamentais, se a recuperação fosse colocada em xeque.
Desemprego oficial de 9,2%
Com o desemprego em 9,2%, "a economia ainda precisa muito de apoio", disse ele a parlamentares no discurso semestral sobre política monetária. Pesquisas independentes, com metodologia diferente, abarcando o desemprego oculto pelo desalento, indicam taxas maiores.

O impasse no Parlamento em torno do teto da dívida pública e a imposição de cortes nas despesas públicas para reduzir o déficit amarram as mãos do governo, que a esta altura já não tem muitos recursos para estimular a economia. Por isto, não parece improvável que o banco central volte a usar o recurso das emissões, o que tende a ampliar a queda do dólar nos mercados cambiais.
Indústria vai de mal a pior
A pesquisa do FED, sempre divulgada duas semanas antes da reunião do Comitê de Política Monetária, baseia-se em informações coletadas em 12 bancos regionais do Fed. O relatório de hoje cobre junho e a primeira quinzena de julho. Muitas regiões informaram que a produção industrial se desacelerou ou se manteve estável. O consumo, que responde por 70% da economia, cresceu modestamente. A venda de veículos se desacelerou.

Horas antes da divulgação do relatório, o Departamento de Comércio informou que as encomendas de bens duráveis caíram 2,1% em junho, o que não era esperado. Isso sugere que as empresas estavam perdendo a confiança ao final do segundo trimestre.
Vermelho, com agências

Um estrondo na Noruega: quando o diabo bate à porta [1]

Os governos europeus, e os EUA fecham os olhos à contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi.

Quando em 1933, através de mil intrigas e manipulações politicas, Franz Von Papen [2] , velho político do Partido do Centro Católico, aliado a industriais e banqueiros alemães, convenceu o velho Marechal Von Hindenburg, presidente da Alemanha e empedernido militarista e oligarca, a nomear Adolf Hitler chefe do governo alemão encerrava-se um ciclo na história alemã. Era o “Kampfszeit”, os tempos de luta dos nazistas pelo poder. Desde 1920 o partido nazista alemão – DNSAP – promovera atentados, tentativas de golpe de Estado, arruaças de rua e homicídios políticos. Contudo, a elite política alemã – homens “respeitáveis” como Von Papen e Hjalmar Schacht [3] , o chamado “mago das finanças” – acreditavam que poderiam controlar o nazismo visando atingir seus próprios objetivos: a derrubada da democracia e a instauração de um regime reacionário estável e duradouro. Os nazistas, por mais desagradáveis que fossem, seriam apenas uma ferramenta para atingir seus fins. O resultado foi a maior catástrofe da história alemã e a maior tragédia bélica da história da humanidade.

A DIREITA TRADICIONAL EM FACE DOS FASCISMOS
Ao longo da história dos fascismos históricos (isso mesmo, fascismos, no plural: conjunto de movimentos antidemocráticos, ultranacionalistas e racistas surgidos desde os anos de 1920, incluindo aí o nazismo, o franquismo, o salazarismo e, claro, o fascismo italiano. Este, por ser o primeiro a fazer sua estreia no cenário europeu, acabará por denominar o conjunto dos movimentos de extrema direita) podemos reconhecer um padrão de relacionamento entre os partidos de Direita [4] tradicionais e constitucionais e as organizações fascistas.

Os grandes partidos da Direita constitucional hoje – como no exemplo clássico dos católicos, dos conservadores e dos liberais em 1933 - assumem uma postura comum: negação de identificação direta e unilateral com os movimentos fascistas. Contudo, mantém uma relação ambígua e “compreensiva” da agenda extremista de cunho fascista. Assumem vários dos temas da agenda fascista – xenofobia, anti-multiculturalismo, anti-Estado Social, luta contra os impostos que incidem sobre ricos e empresas, identificação entre criminalidade e estrangeiros e entre desemprego e imigrantes. Da mesma forma, apoiam uma crítica violenta, cheia de ódio, aos quadros intelectuais e políticos da Esquerda, apontados como traidores da civilização e da raça branca. Por fim, permitem nos seus quadros de base e associações um amplo “intercâmbio” de pessoal com a (sub)cultura politica fascista, em especial no cyberspace e nas suas associações juvenis.

Embora partidos estabelecidos, constitucionais, como os Republicanos, nos EUA; o Likud, em Israel; a CSU/CDU, na Alemanha; o Partido Progressista, na Noruega; a Liga Norte na Itália entre outros, mantenham-se na esfera constitucional, aproveitam-se da pregação de ódio das entidades fascistas para enfraquecer e encurralar os partidos trabalhistas e socialistas, caracterizados como fracos e antinacionais, no limite traidores, como no caso do assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 por extremista de direita (no bojo de uma violenta campanha do direitista Likud contra o ex-premiê israelense). Da mesma forma, a violenta campanha do “Tea Party” nos EUA, endossada pelo Partido Republicano, não é estranha a matança de janeiro de 2011 de seis pessoas numa reunião em Tucson do Partido Democrata local. Notem bem: embora a imprensa internacional queira sempre caracterizar tais ataques como produto da “loucura” de um desiquilibrado isolado, os ataques são sempre dirigidos a um alvo político que se opõe à Direita local: contra o líder trabalhista em Israel, contra os democratas em Tucson ou os trabalhistas na Noruega. Até a loucura possui um sentido.

OS FASCISTAS EM FACE DA DIRIETA TRADICIONAL
As entidades fascistas, por sua vez, aproveitam-se do oportunismo dos grandes partidos da Direita constitucional, para ampliar seu “auditório” e para por em debate suas ideias generalistas e equivocadas sobre, por exemplo, desemprego versus imigração ou criminalidade versus estrangeiros.

A crise econômica, desde 2008, teve um papel relevante no acirramento das tensões internas e no debate sobre a distribuição social do ônus das medidas de “salvação” . A maioria dos países avançados – EUA, RU, Espanha, Itália – e os chamados “novos” países capitalistas do leste europeu optaram, após uma paralisia inicial, em “investir” grandes somas de dinheiro público em bancos, seguradoras e montadoras de automóveis para debelar a crise. Assumiam, assim, a responsabilidade do passivo gerado pela má gestão dos negócios, pela especulação e pelas consequências da “bolha imobiliária” ( o chamado “subprime” ). Seguiu-se, então, um abandono seletivo do fundamentalismo liberal: intervenções salvadores em empresas irresponsáveis e o abandono de inúmeros programas sociais ( como educação e saúde na Inglaterra ) e corte nas políticas de crescimento e de emprego ( como na Espanha, Portugal e Grécia ).

Para a grande parte da população, na maioria das vezes sem quaisquer iniciação ou militância política, os estados surgiam como arrecadadores vorazes, injustos e perdulários dos impostos públicos. Haveria uma maior sensibilidade para salvar as grandes empresas e os empregos milionários de gerentes irresponsáveis do que com a garantia do emprego dos trabalhadores contribuintes. Assim, não é de estranhar que uma parcela importante das populações nos países avançados - em especial pequenos empresários, fazendeiros, lojistas e funcionários das empresas privadas ( todos eles contribuintes diretos e indiretos ) se rebelassem contra o Estado “devorador e insensível”. Estes mesmos segmentos sociais voltam sua frustração diretamente contra estrangeiros, muitos deles concorrentes no pequeno comércio ou em empregos menos remunerados, abrindo caminho para a xenofobia e o ódio racial, estopim do processo de fascistização. Campanhas anti-impostos e pelo Estado mínimo – cortando programas das classes trabalhadoras, vistas como privilegiadas nas suas relações com o Estado e ações afirmativas voltadas para minorias – são abraçadas com fervor, em especial pelo” Tea Party”, a Liga Norte, Front National ( França) e o Partido Progressista ( Noruega ).

A LUTA CONTRA O ESTADO SOCIAL
Os partidos da Direita constitucional, no mais das vezes profundamente imbricados com o mundo dos negócios, acabam por ver na crise uma oportunidade para desinvestimentos, cortes de programas sociais e de ajuda humanitária, configurando forte convergência com as associações fascistas. Tais medidas, para além de serem um programa de aprofundamento da recessão – como na Grécia, Espanha e Portugal – implicam em legitimar a plataforma fascista, gerando ainda mais desemprego e mal-estar social.

Os partidos da esquerda constitucional, por sua vez, emparedados entre a crise e as acusações de fraqueza perante a “invasão de estrangeiros” e de ações de antinacionais, vacilam e abrem mão de plataformas progressistas e reformistas, aceitando vergonhosamente ( como em Portugal, Grécia, França ) a distribuição socialmente injusta do ônus da crise econômica gerada pelo fundamentalismo neoliberal. As preocupações com a inflação e o equilíbrio fiscal sobrepõem-se às políticas de emprego e de crescimento econômico. Neste contexto, os partidos de esquerda ficam incapazes de apresentar alternativas nas áreas sociais, mantendo-se exclusivamente no âmbito do debate sobre quem seria o melhor gerente da crise. Da mesma forma, a Esquerda falhou miseravelmente em assumir um papel de condutor, esclarecedor, das razões da crise e dos interesses da sociedade.

No momento em que o neoliberalismo entrava em crise, a Esquerda assumiu a sua gerência. A população revoltada – os “Indignados” - em Atenas, Madrid ou Lisboa, em especial os jovens, não enxergam alternativas viáveis nos grandes partidos socialistas. Numa linguagem gramsciniana, a Esquerda estabelecida renunciou ao seu papel de “Príncipe moderno”.

Foi desta forma, que os pequenos grupos fascistas - imbuídos de raiva, frustração e inveja – emergiram com respostas tão fáceis e diretas quanto incorretas. Apontar para os imigrantes, para os estrangeiros ou para uma conspiração judia mundial era fácil. E, além disso, de grande capacidade de aderência popular.

A MARÉ NEONAZI
Desemprego= a imigração; crise econômica= a estrangeiros; recessão= a dirigismo estatal; carestia= a euro. Tudo simples, direto e sem questionamentos muito complicados. Foi neste contexto que se desenvolveu uma ampla (sub)cultura política fasciscizante: ocupou o cyberspace ( são 12 sítios eletrônicos na Noruega fazendo propaganda nazista! ), as rádios e os temas televisivos cotidianos. Bandas de rock, de tipo “Black Metal”, desenvolveram signos, canções e atitudes neonazi na Alemanha, Inglaterra, Suécia e Noruega. Alusões ao satanismo e ao ocultismo proliferaram, com o uso de runas e de ícones nazistas, como a suástica e a runa “SS” em pretensos cultos que vandalizam cemitérios e antigas igrejas. Em outros casos emergiu um forte neopaganismo, como nos grupos “Viking” sueco e “Vigrid” norueguês, ambos intimamente associado ao grupo de supremacia branca norte-americano “National Alliance”. Na própria Noruega emergiu uma “Sociedade Aasatru” ( denominação da mitologia nórdica), de culto pagão e adoração a runas nazistas. Tais organizações negam a existência histórica do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, falando odiosamente de um “Holocash” – uma impostura judia para arrancar dinheiro dos países germânicos. Ao lado disso, uma velha mentira, como o livro “Protocolos dos Sábios de Sião” foi reeditado e vendido publicamente na Noruega. Em outros casos, como é o caso do atirador Anders Behring Breivik, desenvolveu-se um forte e intolerante fundamentalismo cristão, profundamente anti-muçulmano e anti-socialista. Estes são elementos comuns da cena fascista contemporânea.

Uma temática especial mereceu a atenção dos novos fascistas: a revisão positivada dos fascismos históricos, recuperando uma memória construída sobre os imaginados “bons tempos” dos anos de 1930 e da própria ocupação nazista durante a guerra. Ao lado do revisionismo histórico, desenvolveu-se também o negacionismo, a recusa em aceitar o genocídio de judeus, ciganos, doentes mentais, testemunhas de Jeová e gays pelos nazistas. Isso já havia acontecido entre 1991 e 1996, numa primeira vaga revisionista/negacionista. Agora ressurge uma segunda vaga visando passar a Segunda Guerra Mundial à limpo. Na França, Itália, Alemanha, Espanha, Noruega e Suécia vários grupos buscam negar a realidade histórica do holocausto e reabilitar os velhos fascistas nacionais, como é o objetivo do pretenso “Norwegian Occupation History Institute”.

Ao mesmo tempo políticos, intelectuais e celebridades – como Jorg Haider[5] , Gian Franco Fini [6], o estilista John Galliano e o cineasta Lars von Trier – fazem declarações desculpando e “entendendo” personagens como Mussolini e Hitler, numa clara banalização da maior tragédia da história contemporânea.

Os governos europeus, e os EUA, por sua vez, fecham os olhos frente a contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi. A polícia, sob instigação da “luta antiterrorista” mata inocentes e brutaliza oponentes antifascistas, como na Inglaterra, França e Espanha. Nos estádios de futebol multiplicam-se as manifestações abertamente racistas contra atletas negros e árabes, tudo isso em face da leniência das autoridades e das instituições ditas culturais e esportivas.
É a multiplicação dos microfascismos no interior do próprio estado liberal.
Mais uma vez a sociedade e o estado comportam-se como Franz von Papen e seus seguidores católicos, conservadores e liberais. Negam-se a ver a ameaça nazista que bate à porta. Com estrondo.

NOTAS
[1] Devo a inspiração desse título ao livro “Lucifer ante portas”, de Rudolf Dihls (Interverlag, Zurique, 1950), “Oberführer” da Gestapo entre 1933 e 1934, quando então se afasta do nazismo.

[2] Franz von Papen ( 1879-1969 ) político reacionário alemão, membro do primeiro gabinete de Hitler e político que viabilizou o governo de Hitler junto aos empresários e militares alemães.

[3] Hjalmar Schacht ( 1877-1970) político, banqueiro e empresário alemão responsável pela adminsitração financeira no gabinete Hitler.

[4] Embora se fale muito no fim das oposições “direita versus esquerda” continuo achando válida, e mesmo imprescindivel, a díade. Utilizo aqui as noções de “esquerda” e de “direita” conforme proposta de Norberto Bobbio no livro “Direita e esquerda: razões de uma diferença” ( São Paulo, Edusp, 1999 ).

[5] Jorg Haider ( 1950-2008), lider do abertamente fascista partido FPÖ ( Partido Austríaco da Liberdade ).

[6] Gianfranco Fini ( 1952) lider do partido dito pós-fascista italiano Aliança Nacional e depois ministro de Berlusconi no Partido Povo da Liberdade.

(*) Professor de Relações Internacionais/UFRJ.

Diario da Nova China (4) Ler em Beijing

Quem vier à China e não se surpreender, está preocupantemente perdendo a capacidade de ver a realidade, se problematizar com ela e aprender dela. Do bom, do ruim e do difícil de assimilar e compreender. Quem não sair da China com a mente mais aberta e se perguntando mais sobre o mundo contemporâneo, está perdendo a capacidade de captar a realidade no que ela tem de mais representativo, significativo – suas contradições, como motores que a movem.

Trato de ver, com o menos grau de preconceito possível, a China, e transmitir a vocês algumas dessas observações. Pretendo, no final, fazer um twitcam e escrever algo mais abrangente. Estou mandando este Diário e algumas mensagens pelo Facebook e pelo Twitter, contornando os bloqueios existentes aqui - que existem também com o Google -, o que faz com que não possa ler os comentários de vocês nesses instrumentos – no blog, sim -, nem as solicitações de ingresso no Facebook, o que eu só poderei processar no meu regresso.

Hoje quero contar o que se pode ler – em inglês, é claro, não tenho condições de relatar o que se pode ler em mandarim – por aqui. As livrarias em línguas estrangeiras são similares às do ocidente, com tudo o que tem ali, inclusive as coisas muito ruins: as listas de best-seller são iguais às daí.

Existe um Time Out, como nas grandes cidades europeias e dos EUA, com os programas culturais de Beijing, mas com uma edição mensal e não semanal. Toda a programação cultural da cidade está ali: cinemas, teatros, exposições, etc. Inclusive tudo o que acontece no espetacular e surpreendente bairro chamado 9 7 8, porque antes ali havia ali um complexo industrial ligado à segurança chinesa, de que ainda sobram pedaços. Mas o espaço se transformou num belíssimo lugar de ateliês de arte a mais avançada do mundo contemporâneo, de exposições e galerias, de bares com música – muita musica brasileira, especialmente bossa nova, a única presença brasileira que deu pra presenciar por enquanto por aqui, além dos nadadores no campeonato mundial de natação que se realiza em Shanghai -, de lojinhas com produtos muito sofisticados e criativos. Um espaço que não fica nada a dever a espaços similares de Nova York ou Londres, é até bem melhor em vários aspectos, apontando não apenas para a possibilidade de espaços criativos de arte – inclusive com criticas politicas aos processos de mercantilização por que passa a China -, como ensejam um potencial criativo que revela que o país se tornará um país de vanguarda artística no século XXI. Um jornal de noticias culturais, as também politicas, Beijing Today, é distribuído gratuitamente no bairro.

Mas e melhor e mais representativa leitura é a do China Daily (
www.chinadaily.com.cn), um resumo da imprensa chinesa, em uma ótica claramente progressista, nestes dias especialmente centrada na apuração rigorosa das responsabilidades sobre o acidente de trem rápido que levou à morte de 48 pessoas, na luta permanente contra a corrupção e a contaminação e na defesa dos direitos sociais dos trabalhadores.

No numero de 27 de julho,ontem, por exemplo, havia matérias significativas (que podem ser consultadas no endereço que mencionei acima). Os familiares das vitimas do choque de trens reclamavam do governo, mais do que indenização, definir os responsáveis pela tragédia. Dois vice-ministros foram demitidos, mas a apuração segue, incentivada pelo próprio primeiro ministro. Um artigo aproveitava para questionar as prioridades: se um transporte mais rápido ou mais seguro, se uma sociedade melhor equipada tecnologicamente ou com mais direitos para as pessoas.

Outra matéria relatava os casos de corruptos extraditados, grande parte dos quais funcionários do Banco Central ou da Alfandega, que outra transferia dinheiro para uma conta no exterior, depois saia do pais e não retornava ou, funcionários da Alfandega, que ganhava dinheiro para facilitar a importação ilegal de mercadorias. São citados com alarde os casos de extradição, com destaque para o mais recente, que foi reenviado pelo Canadá.

Um artigo cita um livro de um chinês que combateu na guerra da Coréia, foi prisioneiro de guerra, e quando retornou ao pais, sob suspeita de ter colaborado com o inimigo, foi preso. Defende-se seus direitos e se ataca a visão – chamada de ultra-esquerdista – de desconfiança em relação aos que defenderam os interesses nacionais na guerra e foram vitimas do inimigo.

Aborda-se casos de contaminação ambiental, de injustiças sociais – com boa seção de carta de leitores – e se publica editorial sobre a supremacia dos critérios tecnológicos sobre os humanos.

Varias outras matérias de interesse discutem a natureza do sistema politico chinês, o lugar da China no mundo, a crise capitalista e como a China tem contornado esse problema.

Em suma, quem quiser ter uma visão mais real do que se lê na China, deve dar uma olhada no China Daily. ´

Emir Sader

O QUE AINDA FALTA PARA CONTER A ESPECULAÇÃO CAMBIAL?

A  decisão mais contundente do pacote cambial anunciado 4º feira pelo governo ficou um tanto escondida por configurar, ainda, apenas uma possibilidade. A Medida Provisória 539 dá ao Conselho Monetário Nacional a prerrogativa de, a qualquer momento, exigir que os especuladores do mercado futuro de dólar elevem a margem relativa ao valor das apostas. Ou seja, façam depósitos em dinheiro vivo proporcionalmente  maiores que os percentuais vigentes. A roleta do mercado futuro de câmbio gira diariamente mais de US$ 15 bilhões, cerca de dez vezes o volume físico de dólar negociado no país. Exerce assim um poder desproporcional sobre as cotações pelas facilidades intrínsecas à operação. O especulador só precisa depositar 8% do valor da aposta, o que lhe dá enorme poder de 'alavancagem': com menos de US$ 1 milhão, pode reunir contratos de US$ 10 milhões --multiplicando por 10 os ganhos com eventual queda do dólar. Esse cassino atrai capitais especulativos que ganham ainda a diferença de juros, o 'carry trade' que consiste em tomar empréstimo a juro zero lá fora e aplicar aqui a uma taxa real de 6,8%, a maior do planeta. Esse, na verdade, é o grande vilão da taxa de câmbio, que transforma a economia nma esponja, com dólares que enram por todos os poros em busca de rentabilidade sem igual num mudo mergulhado em recessão e inundado de liquidez.O pacote cambial ergue a comporta do dique e dá ao governo, ao Conselho Monetário, o poder de manejar para cima o mecanismo quando for o caso.Mas não ataca o vertedouri inclinado cos juros que desloca massas descomunais de dinheiro especulativo para a economia. É difícil separar o joio do trigo nesse aluvião em que especuladores e tesourarias de bancos e empresas --inclusive nacionais-- muitas vezes se confundem. O conjunto forma uma avalanche que barateia o dólar e impulsiona as importações com dois efeitos contraditórios: arrefece a inflação com o ingresso de mercadoria barata, mas transfere emprego e produção para o exterior.É um corner estratégico para o qual não existe resposta estritamente técnica. No fundo trata-se de escolher a sociedade que se quer construir no Brasil. A desordem cambial reflete um desarranjo mais amplo nos preços básicos da economia --entre os quais a taxa de juros se sobressai como um aspirador que suga recursos ao rentismo, em detrimento de outras prioridades. Reordenar essa equação requer uma negociação política mais ampla. O governo teme que uma redução abrupta do fluxo de dólares, decorrente de um efetivo controle cambial, por exemplo, encareça subitamente as importações, prejudicando o controle da inflação. O risco existe. Mas existe também alternativa: uma repactuação política das bases do crescimento, coisa complexa, mas talvez menos cabuloso do que controlar caso a caso a esponja da especulaçã cambial. Mantida a equação ortodoxa continua o jogo de gato e rato entre o governo e a esperteza dos especuladores.  Com a palavra, sindicatos, partidos e movimentos sociais.
(Carta Maior; 5º feira, 28/07/ 2011)