segunda-feira, 18 de julho de 2011

À caça das chechenas “imorais”

Kadírov (foto, à direita), reeleito em seu cargo em março deste ano, se propôs a conseguir o ‘renascimento espiritual e moral’ da Chechênia com ajuda de uma milícia especial. As mulheres constituem o principal objeto de seus ataques.

Por Cynthia Eisenberg - Revista Fórum

Na primavera de 2007, Vladímir Putin designou Ramzán Kadírov, filho do antigo presidente checheno Ajmat Kadírov (assassinado em um atentado pelas mãos dos rebeldes chechenos) como novo presidente da Chechênia. À frente de um país destruído por duas guerras separatistas (que entre 1994 e 2001 acabaram com 20% da população chechena) Kadírov, reeleito em seu cargo em março deste ano, se propôs a conseguir o ‘renascimento espiritual e moral’ da Chechênia com ajuda de uma milícia especial.

Organizações de direitos humanos como a Anistia Internacional acusam esta ‘polícia da moral’ de violar repetidamente os direitos humanos, alegando uma campanha para prevenir o terrorismo. As mulheres constituem o principal objeto de seus ataques, que incluem perseguição, agressões e inclusive morte.

Ramzán Kadírov à frente do governo checheno está levando a cabo um processo de re-islamização da república chechena que ocorre em detrimento dos direitos das mulheres. Há muita repressão sobre a população e elas são as principais vítimas, já que são o setor mais frágil dessa sociedade’, explica Marta Ter, membro da ONG catalã ‘Liga dos Direitos dos Pobres’, e responsável junto à pedagoga Silvia Puente pela campanha ‘Chechênia, rompamos o silêncio!’.

O retorno à tradição, proclamado por Kadírov, reforça a desigualdade das mulheres na sociedade chechena. Às práticas tradicionais como o roubo de namoradas, pela qual um homem caso seja rechaçado por uma mulher pode sequestrá-la e violá-la e casar-se com ela para lavar sua honra, se somam atualmente a obrigatoriedade do uso do véu e a validação pelo estado da poligamia e dos assassinatos de mulheres por questões de honra.

Em várias entrevistas Kadírov declarou que as mulheres são inferiores aos homens, devem obedecer-lhes e cobrir seus corpos para não tentá-los. O informe “You Dress According to Their Rules: Enforcement of an Islamic Dress Code for Women in Chechnya” (Você se veste de acordo com as regras deles: Imposição de um Código de Vestimenta Islâmico para as mulheres na Chechênia) documentou atos de violência e ameaças contra as mulheres e meninas com o fim de intimidá-las e fazer com que cubram o cabelo e o corpo. Paralelamente, em março deste ano, um informe do Human Rights denunciou os ataques dos guardiões da moral que são recorrentes nas ruas de Grozny, capital da Chechênia, disparando com pistolas de paintball contra as mulheres que resistiam a cobrir suas cabeças. Em relação a estes fatos, Kadírov assegurou pela televisão estatal que não conhecia os responsáveis por esses ataques, mas que quando os encontrasse expressaria sua gratidão por colaborarem com a recuperação moral do país.

O líder, apoiado por vários membros do governo, se pronunciou também a favor da legalização da poligamia com a desculpa para elevar a taxa de natalidade e contribuir desta maneira ao renascimento checheno. O mesmo manifestou aos meios que se encontra na busca de uma segunda esposa: "É melhor para uma mulher ser a segunda ou terceira esposa que see assassinada por sua 'má conduta'", declarou em uma entrevista que concedeu à Rossiiskaia Gazeta.

A má conduta ou "perda da moral" a que se refere Kadírov justificaria, a seu entender, os assassinatos de mulheres. Em fins de novembro de 2010, sete mulheres foram assassinadas com tiros na cabeça em Grozny; o presidente atribuiu as mortes a questões de honra, afirmando que a perda da moral de ditas mulheres foi o fato que obrigou os homens de suas famílias a assassiná-las, dizem, ainda, que ‘na Chechênia temos esses costumes. Qualquer menino, até o menor deles, se sua irmã levasse uma vida imoral, pensaria em matá-la’.

Paralelamente crescem as suspeitas da implicância do governo nos assassinatos de mulheres e homens, jornalistas e ativistas de direitos humanos contrários à política de Kadírov. O Centro de Direitos Humanos Memorial denunciou repetidamente a relação do líder coma morte da ativista de direitos humanos Zarema Sadulayeva e seu esposo, e das jornalistas Natalia Estemirova e Anna Politkovskaya, entre outros. De sua parte, a Anistia Internacional solicitou o fim da impunidade e o esclarecimento destes assassinatos.

O medo e a falta de difusão sobre a violação dos direitos humanos parecem ser os inimigos principais do povo checheno, especialmente das mulheres. Para Marta Ter "é difícil encontrar uma pessoa na Chechênia que queira falar sobre a situação ou encontrar material sobre o tema. É necessário denunciar o que ocorre e divulgá-lo porque o que cai em silêncio simplesmente não existe".


Código Florestal deve integrar agricultura e preservação ambiental

IHU - Unisinos
Instituto Humanitas Unisinos
Adital
Entrevista com Ricardo Rodrigues

Antes de aprovar um novo Código Florestal, é preciso reavaliar o Código vigente e atualizá-lo com o conhecimento científico adquirido nos últimos anos. Essa é a proposta defendida pela Academia Brasileira de Ciência – ABC e pela Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência – SBPC. "Sugerimos, em encontro no Senado e na Câmara, que o Código em vigor seja reescrito incorporando o conhecimento científico existente, pois não podemos pensar a questão ambiental separada da questão agrícola”, disse o biólogo e membro da ABC e SBPC à IHU On-Line por telefone.
Ricardo Rodrigues integra o grupo de pesquisadores responsáveis pelo estudo O Código Florestal e a Ciência – Contribuições para o Diálogo, organizado pela SBPC e pela ABC. Recentemente, ele e outros cientistas apresentaram sugestões de alterações ao Código Florestal aos senadores da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA). Segundo ele, o encontro foi positivo e a perspectiva é que o texto do Código Florestal seja alterado e aprovado até dezembro.
Na entrevista a seguir, Rodrigues diz que o novo texto do Código Florestal apresenta equívocos e não soluciona os problemas do Código atual. Entre as limitações da nova proposta, ele aponta a redução da mata ciliar de 30 para 15 metros. Segundo ele, o conhecimento científico disponível hoje já é enfático em relação à questão. "O conhecimento científico mostra que 30 metros é extensão mínima para o cumprimento do papel da mata ciliar. Com certeza a redução de 15 metros proposta no novo Código Florestal baseia-se em nada”.
Ricardo Ribeiro Rodrigues é graduado em Ciências Biológicas e doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Atualmente é docente na Universidade de São Paulo – USP e coordena o Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da instituição.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é a proposta da Academia Brasileira de Ciência e da Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência para o novo texto do Código Florestal?

Ricardo Rodrigues – Defendemos que o atual Código Florestal tem problemas e precisa ser atualizado em termos de conhecimento científico para depois pensarmos na criação de um novo Código Florestal.
Acreditamos que é possível construir uma política ambiental brasileira ou um novo Código Florestal sustentado no conhecimento científico disponível. Sugerimos, em encontro no Senado e na Câmara, que Código em vigor seja reescrito incorporando o conhecimento científico existente, pois não podemos pensar a questão ambiental separada da questão agrícola.
Aqueles que defendem a criação de um novo Código Florestal justificam que não existem florestas remanescentes no Brasil para o cumprimento da Reserva Legal dentro da perspectiva do Código vigente. Portanto, como não tem floresta para o cumprimento da Reserva Legal, a proposta é mudar o Código. Entretanto, em nenhuma das análises foi incorporada uma reflexão sobre as áreas que já foram inadequadamente disponibilizadas para agricultura. Com a evolução da tecnologia no campo, muitos territórios acabaram se transformando em áreas marginais e foram abandonados e agora querem revertê-los com uma nova ocupação dentro do conceito da Reserva Legal.

IHU On-Line – Quais são os principais equívocos do novo texto do Código Florestal?

Ricardo Rodrigues – Uma das propostas do novo Código é reduzir a área das matas ciliares de 30 para 15 metros. Se existe uma faixa de Área de Preservação Permanente – APP de 30 metros, mas só se recupera 15m, o que se faz com o restante? Essa aérea ficará abandonada? O conhecimento científico mostra que 30 metros é extensão mínima para o cumprimento do papel da mata ciliar. Com certeza a redução de 15 metros proposta no novo Código Florestal baseia-se em nada.
Outro equívoco é tentar compensar as degradações da Reserva Legal dentro do bioma. Quando se faz compensação do bioma, compensa-se uma formação ambiental muito diferente daquela que foi degradada, pois dentro do mesmo bioma existem vários ecossistemas. Quando se degrada uma área da Reserva Legal, é preciso recuperá-la e conservá-la. Através do conhecimento científico, mostramos que essas compensações têm um limite espacial de distância que precisa ser respeitado.

IHU On-Line – O senhor esteve reunido com os senadores da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle e da Comissão de Agricultura e Reforma Agrária para falar sobre os impactos do Código Florestal. Como foi o encontro?

Ricardo Rodrigues – Foi muito positivo. Estava desanimado com a aprovação do Código Florestal na Câmara, mas fiquei animado com a recepção dos senadores em relação às nossas propostas. Conseguimos expor nossa posição; apontamos os itens do Código Florestal que precisam ser alterados e fundamentados no conhecimento existente e, principalmente, defendemos que é preciso integrar a questão ambiental com a agricultura. Não existe essa dicotomia, que foi colocada no texto do novo Código Florestal, de que a questão ambiental briga com a questão agrícola. Elas são complementares.
Para se ter uma ideia, as usinas de cana-de-açúcar são altamente impactantes em termos ambientais e não respeitam o Código Florestal atual, no que diz respeito à Reversa Legal, e as áreas de preservação. Ou seja, elas estão irregulares em termos ambientais. Mas quando se faz um diagnóstico ambiental e agrícola destas propriedades, percebe-se que a taxa de ocupação agrícola com cana-de-açúcar é em torno de 70%, enquanto a ocupação de áreas de preservação permanente fica em torno de 8%. Portanto, falta no Brasil um planejamento ambiental e agrícola da atividade de produção.
Outro grande problema ambiental do país é a pecuária: 2/3 da área agrícola é utilizada com pecuária de baixa produtividade. Nesse sentido, é preciso aumentar a produtividade da pecuária, o que permitirá a redução de área com pecuária, a qual poderá ser utilizada para a expansão da agricultura de grãos ou de cana-de-açúcar, por exemplo. Até 2030 o Brasil precisará de 15 milhões de hectares para a expansão agrícola. Ou seja, a solução da agricultura está na própria agricultura.
Alguns argumentam que o café, o arroz e o maracujá estão em áreas de restrição ambiental, mas estas são situações isoladas em relação ao todo. Para esses casos, podem-se pensar alternativas específicas, pois existem algumas soluções técnicas que permitem diminuir o impacto ambiental destas culturas. É besteira mudar um Código inteiro por causa de situações que representam 5% da atividade agrícola brasileira.

IHU On-Line – Como os agricultores reagem diante da possibilidade de preservar as APPs?

Ricardo Rodrigues – Quando se propõe aumento de tecnificação da agricultura, eles aceitam preservar as APPs. Eles não conseguem cumprir as regras do Código Florestal por causa da baixa produtividade agrícola.

IHU On-Line – Como é possível recuperar os 61 milhões de hectares de terra que estão degradadas?

Ricardo Rodrigues – É possível recuperá-las através da agricultura. Existem práticas agrícolas que permitem esta recuperação. Terras de baixa aptidão agrícola devem ter realocação de uso e podem ser destinadas à Reserva Legal.

IHU On-Line – Vocês apresentaram aos senadores novas tecnologias para o mapeamento e estudo sobre os recursos naturais brasileiros. Que tecnologias são essas?

Ricardo Rodrigues – Hoje, dispomos de um pacote tecnológico de imagens de radares e de novos programas de computador que permitem o planejamento agrícola ambiental de forma muito mais efetiva do que 40 anos atrás, quando o Código Florestal foi aprovado. Atualmente, temos imagens de alta resolução que permitem monitorar metro a metro a produção agrícola.

IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à aprovação ou não do novo Código a partir deste encontro com os senadores?

Ricardo Rodrigues – Segundo os senadores, a decisão final será da presidente. Até dezembro serão realizadas novas discussões, votações, e certamente o texto voltará para a Câmara com alterações. A expectativa dos senadores é que até dezembro o Código seja aprovado. Saí deste encontro com a perspectiva de que vamos conseguir fazer um planejamento agrícola e ambiental com conhecimento científico.

Fatos em foco

Esta semana, professores da rede estadual do Rio de Janeiro chegaram a ocupar a sede da Secretaria de Educação para pressionar as negociações
 
Da redação Brasil deFato
 
Ideologia genocida

Centenas de judeus ultraortodoxos protestaram no início do mês em frente à Suprema Corte de Jerusalém contra o interrogatório de dois rabinos que apoiaram um livro que incita violência contra não-judeus. A obra, publicada em 2009 e depois proibida em Israel, afirma que bebês e filhos dos inimigos de Israel podem ser mortos sob certas condições desde que “seja claro que eles vão crescer para nos ameaçar" e que os não judeus seriam “pessoas de pouca compaixão por natureza”.

Justiça contra o trabalhador

No Mato Grosso do Sul, uma decisão da juíza Marli Lopes Nogueira, da 20ª Vara do Trabalho do Distrito Federal (DF), provocou repúdio de organizações sociais. Oitocentos e dezessete trabalhadores, entre eles 275 indígenas, seguiram em condições análogas a escravidão numa fazenda de cana de açúcar em Naviraí. Do contrário, deveriam pedir desligamento da usina Infinity Agrícola, abrindo mão de seus direitos. Além disso, a juíza proibiu que a usina seja relacionada na lista suja do trabalho escravo.

Terra Indígena Marãiwatsede

O governo do Mato Grosso sancionou, no final do mês de junho, uma lei que autoriza o estado a trocar a Terra Indígena Marãiwatsede com a Funai pelo Parque Estadual do Araguaia. O Cimi alerta que a medida é inconstitucional e fere o direito assegurado ao povo Xavante a seu território tradicional, homologado desde 1998. Para a entidade, a lei do governo estadual é uma manobra para regularizar a ocupação ilegal dos não-índios. Hoje, os xavantes ocupam apenas 10% de seu território.

Professores no Rio

Esta semana, professores da rede estadual do Rio de Janeiro chegaram a ocupar a sede da Secretaria de Educação para pressionar as negociações. Em greve desde o dia 7 de junho, os professores que ganham cerca de R$ 600 por 16 horas querem o descongelamento do plano de carreira de funcionários administrativos, 26% de reajuste emergencial e incorporação imediata da gratificação Nova Escola, prevista para terminar de ser paga só em 2015.

Um não ao prêmio empresarial

A professora Amanda Gurgel, nacionalmente conhecida por peitar deputados da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, lançou o blogdaamanda.com.br para continuar expondo às péssimas condições para se aprender e lecionar nas escolas públicas do país. Amanda também recusou o prêmio “educador de valor” da associação Pensamento Nacional de Bases Empresariais, que já premiou Fundação Bradesco, Fundação Victor Civita e Canal Futura. Segundo ela, sua luta é muito diferente dessas instituições.

Violência policial

No final do mês de junho o quilombola Diogo de Oliveira Flozina foi assassinado por policiais na cidade de Caravelas, litoral sul da Bahia.  A denúncia é dos moradores locais que não quiseram se identificar. O caso ocorreu no Quilombo de Volta Miúda. A vítima tinha 27 anos e era pai de dois filhos. A comunidade acusa policiais e empresas produtoras de eucaliptos de fazerem ameaças. De acordo com relatos, o jovem quilombola teve sua casa invadida e foi morto por três policiais à paisana.

Bueiros

Em um protesto bem humorado, moradores do Rio de Janeiro colaram adesivos em bueiros da concessionária Light para chamar a atenção dos pedestres sobre o perigo das explosões. No início deste mês, quatro bueiros explodiram em um só dia na região central do Rio, deixando duas pessoas feridas. Em uma vistoria, o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-RJ) constatou que sete dos 21 bueiros analisados poderiam explodir a qualquer momento.

Bueiros 2

As explosões motivaram até mesmo a criação de um jogo no Facebook, o "Desafio Rio Boom-eiro". Na tela do aplicativo aparece o convite "Caminhe pela Cidade Maravilhosa sem voar pelos ares". No jogo, o internauta controla um carioca que caminha pela "Rua Bueiros Aires" atento aos bueiros que explodem a qualquer momento, e a pontuação avalia apenas a distância que o jogador percorre sem ser atingido por um bueiro em chamas ou cair em um sem tampa.

Vale conferir

Para quem ainda não leu, está disponível na Agência Brasil de Fato a entrevista exclusiva com o crítico literário Antonio Candido, publicada na edição 435 do Brasil de Fato. Na página o leitor também pode conferir o especial "A Hora da Causa Gay", que reúne matérias sobre temas como união estável entre pessoas do mesmo sexo, religiosidade e preconceito.

Fruet: mais um tucano abandona o ninho

Por Altamiro Borges

Na semana passada, mais um tucano de alta plumagem abandonou o ninho. O ex-deputado paranaense Gustavo Fruet anunciou sua desfiliação do PSDB. Ele justificou a decisão pela falta de espaço no partido. “O PSDB fechou todas as portas para mim”, disse. O ex-tucano informou que decidirá até agosto em qual partido se filiará, mas há boatos de que ingressará no PDT.

Gustavo Fruet, de 47 anos, cumpriu três mandatos na Câmara Federal. Ele ganhou notoriedade a partir de 2005, quando foi um dos sub-relatores da CPI dos Correios e fez discursos raivosos contra o governo Lula. Com o declínio da oposição demotucana, o seu espaço no PSDB encolheu. Beto Richa, o truculento governador do Paraná, cortou as suas asinhas para a disputa da prefeitura de Curitiba.

“É uma perda muito grande”

Em carta aberta à sociedade, o ex-deputado bateu duro no oportunismo político do PSDB e questionou a “ética” dos tucanos. “A cada eleição prevalece o pragmatismo e os interesses locais. Por vezes, escusos e nem sempre transparentes! A estes não me submeto, ainda que seja levado pelas circunstâncias a trilhar um novo caminho, que sei que não será fácil”, argumentou.

A saída de Fruet abalou os tucanos. “É uma perda grande”, choramingou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Aécio Neves, o matreiro senador mineiro que luta para viabilizar sua candidatura presidencial, até ligou para o ex-correligionário na tentativa de evitar o baque. “Lamento muito, mas respeito a decisão dele. Espero que estejamos juntos novamente no futuro”, lamuriou.

“Uma nau sem rumo”

Com o apoio da mídia, que alardeia os escândalos de corrupção no governo Dilma, a oposição demotucana tenta se reerguer. Mas não está nada fácil. Sem programa e sem discurso – já que o bordão da ética, partindo de políticos mais sujos do que pau de galinheiro, não convence –, a direita continua sendo abalada por deserções. O DEM está sumindo e o PSDB não consegue superar sua crise.

Em recente artigo na Folha, Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia na Universidade de São Paulo (USP), destrinchou a atual crise dos tucanos. Para ele, o PSDB é uma nau sem rumo, sem projeto político. Reproduzo trechos da sua instigante análise:

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O conglomerado tucano foi e é uma trinca de partidos. O maior deles é o PSDB. Dos três, só ele pode concorrer à Presidência da República. Já o DEM foi nosso maior partido, elegendo 105 deputados federais em 1998. Mas minguou para 43, em 2010. Largou o nome de PFL, sangra com a saída do prefeito de São Paulo, seu maior líder eleito. Pouco lhe resta, salvo fundir-se com o PSDB... O PPS subsistirá, mas, como vários partidos, a sua vocação é ser coadjuvante.

Mas o eixo está no PSDB. Restam-lhe, hoje, três presidenciáveis... Vejamos os três nomes. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conta com a fama de pessoa calma e tranqüila, mas já teve sua chance em 2006 e, talvez porque partiu para a agressão verbal ao então presidente Lula, conseguiu perder votos no segundo turno em relação ao primeiro, feito raro e que reduz sua cotação nacional. José Serra, ex-governador paulista, concorreu duas vezes à presidência e perdeu.

Restaria o príncipe encantado que, desde a pré-campanha de 2010 aparecia como o nome do futuro, fadado a resgatar a morte do avô, diplomado mas que morreu antes de assumir a presidência, Tancredo Neves. Dizem que Serra lhe teria prometido a candidatura em 2014, qualquer que fosse o resultado do pleito do ano passado. Mas na noite do segundo turno, ao sair o resultado das eleições, Serra se absteve de cumprimentar correligionários que não fossem paulistas.

Mais recente, o episódio em que Aécio Neves se recusou a prestar o teste do bafômetro deixa certa preocupação sobre sua maturidade para a Presidência. É provavelmente o melhor articulador dentro do partido, seu nome mais simpático e encantador, provém de um Estado que está há tempos fora do Planalto (até porque Dilma é mais gaúcha do que mineira) - mas deu à sociedade um exemplo negativo, em termos de conduta pessoal.

Este rápido percurso pelos nomes não substitui, porém, o que realmente conta: o projeto que o partido defenderá. Nenhum partido brasileiro, como se sabe, se diz de direita. O DEM, tentando não ser esvaziado por Kassab e sobreviver ao PSDB, outro dia ousou dizer-se "conservador". Mas talvez não tenha como ser um partido liberal, o que, aliás, não se confunde com conservador. O PSDB fará haraquiri se for conservador, e terá dificuldade em ser apenas liberal. Mas é fato que foi indo para a direita.

Sua criação já mostrava algo estranho. Os partidos social-democratas, na Europa, nasceram dos sindicatos. Mas aqui não houve amor entre o mundo sindical e o PSDB. Significativo da dificuldade de se dizer "social-democrata" é um artigo na Folha, por sinal brilhante, em que Gustavo Franco definia, no começo do ano, a "social-democracia" em que acreditava: nada sobre o mundo do trabalho, tudo sobre economia, finanças e gestão. Estava mais para um liberalismo consistente do que para a social-democracia. Disso, o resultado é que a social-democracia brasileira acabou sendo o PT no governo.

O PSDB tem três anos para galvanizar o país. Sorte dele que sua crise se dê agora; imaginem se estivéssemos já em 2014. Qual será seu projeto, é difícil saber. O partido parece se dividir entre um projeto que seria o de Serra, ou melhor, o de Bresser Pereira: desenvolvimento econômico, com projeto nacional e bons resultados sociais; e outro, que retomaria a linha privatizante de FHC, o projeto que o "Economist" queria que Serra adotasse, mas sabia que ele não assumiria. Ora, dos dois projetos, o segundo parece ter completado seu papel, enquanto o primeiro foi e é executado, bem, pelo PT.

Que discurso resta, então, ao partido tucano? Retomar a herança do governo Fernando Henrique parece pouco promissor. Concorrer com o PT em seu terreno é perda de tempo. Mas, em suma, o problema da oposição hoje não é o número de deputados, é o que ela quer fazer do Brasil. E, no fundo, deveria ser este o problema, não da oposição, mas de todos nós. Não importa tanto se um partido é grande e viável, ou não. Isso muda. O que importa é que o Brasil se beneficie das melhores propostas.

Em Congresso da UNE, estudantes soltam a voz

Terminou neste domingo (17) em Goiânia, o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Um evento altamente representativo, em cuja preparação, ao longo do primeiro semestre letivo, milhões de estudantes foram de alguma forma mobilizados em reuniões e assembleias nas quais debateram os principais problemas que afligem a Universidade e a educação de uma maneira geral no Brasil. Cerca de 1 milhão de estudantes escolheram em eleições diretas os delegados que se reuniram em Goiânia desde a última quarta-feira (13).

O estudante Daniel Iliescu, que liderou a chapa Transformar o Sonho em Realidade — encabeçada pela União da Juventude Socialista — foi eleito com uma consagradora maioria de 75% dos delegados votantes, fruto de uma ampla coalizão que englobou as mais representativas correntes do movimento estudantil universitário.

O novo líder declarou que “a União Nacional dos Estudantes é um dos símbolos mais fortes da democracia no Brasil”. Efetivamente, a UNE se consagrou como um dos intérpretes mais credenciados dos anseios de liberdade não só da juventude mas do próprio movimento democrático e popular como um todo. Há décadas a UNE aceitou e enfrentou o desafio de lutar pelas bandeiras mais caras ao povo brasileiro: democracia, soberania nacional, paz mundial, reformas estruturais e sobretudo pela educação universal, pública e gratuita. Das fileiras da UNE saíram militantes e quadros das principais organizações da esquerda brasileira. Nas ruas e nos combates da luta armada sobressaíram inúmeros líderes estudantis, heróis do povo brasileiro, como Honestino Guimarães e Helenira Resende.

A UNE cumpriu papel importante também na consolidação da democracia no País, no período da Nova República e da eleição e realização da Assembleia Constituinte. E foi uma organização social importante no respaldo ao governo do presidente Lula, o que foi reconhecido pelo ex-mandatário no congresso encerrado ontem.

Hoje, a UNE está diante de novos desafios. Nas palavras do presidente eleito da entidade, o principal destes “é o desafio de ajudar o Brasil a percorrer os caminhos e as lutas para tornar-se uma nação mais justa e desenvolvida; o movimento estudantil brasileiro está muito amadurecido e se prepara para vôos maiores; queremos muito ajudar o país a dar passos largos e ousados, em especial, na área da Educação.

Iliescu sintetiza as principais lutas da entidade no atual momento: “A UNE defende um projeto de desenvolvimento democrático e autossustentável, soberano e solidário, com distribuição de renda, valorização do trabalho e da produção para um povo e uma juventude mais feliz. Entendemos que nosso papel é pressionar os governos e dialogar com a sociedade para que o país avance”.

O 52º Congresso da UNE aprovou resoluções que podem impactar positivamente o desenvolvimento nacional. Como bandeiras prioritárias os estudantes reunidos em Goiânia decidiram lutar pelo investimento na educação de 10% do PIB e pela atribuição de 50% do Fundo Social do pré-sal à educação. Os estudantes decidiram intensificar a luta para erradicar o analfabetismo e ampliar o acesso e a qualidade do ensino superior.

Fiel às suas tradições de politização das lutas, a UNE decidiu apoiar a criação da Comissão da Verdade, ressaltou a importância do Plano Nacional de Educação (PNE) e se manifestou a favor da realização de reformas estruturais democráticas no país.

Chama a atenção positivamente a resolução política do 52º Congresso, que destaca as mudanças progressistas que o País vive desde a eleição do ex-presidente Lula e no governo da presidente Dilma, mas é crítico a “medidas que contrastam com as necessidades do povo brasileiro”, destacadamente a “política econômica conservadora”, assim como aos “entraves e políticas que só jogam contra os interesses do país e do povo”.

Mais do que nunca o Brasil necessita do concurso da UNE, como das demais organizações do movimento social. Para além das lutas estritamente educacionais, que de per si têm dimensão estratégica para o desenvolvimento do país e a emancipação social do povo, o momento requer a realização de um grande debate e mobilização nacionais.

Na ordem do dia está colocada objetivamente a discussão sobre o Projeto Nacional, em que o pensamento avançado da sociedade, no qual figura com méritos o dos estudantes e do conjunto da comunidade universitária, é chamado a formular propostas à altura das necessidades da nação e do povo brasileiro.

O momento em que se ouviu a sonora voz dos estudantes brasileiros corresponde ao de uma retomada das lutas da juventude em todo o mundo. É o que se observa na “Primavera” árabe, em manifestações na Europa e no Chile, onde os estudantes se encontram nas ruas há três meses, combatendo por seus direitos, democracia e justiça social, interpretando simultaneamente os sentimentos da esmagadora maioria da sociedade. (Editorial Vermelho)

TODOS OS HOMENS DE MURDOCH: O CONTROLE DA SOCIEDADE PELA MÍDIA

Com a detenção da ex-editora do News of the World,  Rebekah Brooks, neste domingo --solta depois sob fiança--  oito jornalistas  do grupo Murdoch passaram pela prisão de Londres.Todos são acusados  de crime de corrupção e interceptação de comunicações de um amplo universo de mais  de 4 mil pessoas, incluindo-se celebridades, políticos e cidadãos comuns. Neste domingo, ainda, nada menos que o  chefe da Polícia Metropolitana de Londres (Scotland Yard), Paul Stephenson, renunciou ao cargo, após admitir que havia contratado o antigo sub-editor do News Of the World, Neil Wallis, como consultor da Scotland Yard.  Wallis, foi preso sob  suspeita de participar de esquema de suborno de policiais em troca de informações confidenciais para o  tabloide de Murdoch. Outro braço-direito  de Murdoch, Andy Coulson, ex-diretor do News of the World,  trabalhara como homem  de comunicação de David Cameron, antes que este assumisse o cargo de primeiro ministro inglês. Nos EUA, o FBI começa esta semana  a investigar denúncias de espionagens  realizadas por veículos do grupo  Murdoch,  que possui a rede Fox News, o Wall Street Jounal e a Business Week. As  investigações poderão desnudar as ligações políticas e operacionais entre a extrema direita republicana e o canal Fox News, dirigido pelo ex-assessor de imprensa de Nixon e Bush (pai), Roger Ailes. Nos anos 70, Ailes  foi o autor de um estudo sugestivamente intitulado: ‘ Como Colocar o Partido Republicano na Mídia'. Na presidência da Fox, Ailes notabilizou-se por demonstrar na prática ‘como colocar o Tea Party na agenda da mídia'.  Esse  jornalismo que se distingue por combater idéias  e defender interesses  destruindo reputações e alvejando biografias, tem a sua contrapartida em termos de agenda econômica. Nos EUA, atualmente,  ela é representada pelo  extremismo orçamentário republicano, cuja  intenção é imobilizar Obama impondo-lhe um calendário de cortes em gastos  sociais em plena campanha presidencial de 2012. A mídia brasileira, de um modo geral, adotou uma abordagem minimalista dos desdobramentos que  o escândalo  do ‘News of  the World' coloca no tocante  às relações entre o dinheiro, a democracia e o direito à  informação.  Em uma palavra, a regulação da mídia, tema incomodo que perpassa todo o escândalo Murdoch, mas silenciado entre nós. Bernardo Kuscinski , um dos pioneiros da crítica da mídia no país, em comentário sobre  um artigo do historiador Timothy Ash, publicado no Estadão deste domingo, diz o seguinte : " Ash aponta para a profundidade e a gravidade do que se passa na democracia inglesa, refém de Murdoch e da grande midia; a elite britânica e todas as pessoas de perfil público viviam em estado de medo, (que Ash)  compara ao medo vivido na Rússia. É a grande mídia agindo como organização criminosa.Há algo de parecido no comportamento de VEJA".
(Carta Maior; 2º feira 18/07/ 2011)

A luta para resgatar a Primavera Árabe


Seis meses após a primavera árabe derrubar o seu primeiro ditador, as principais praças do Cairo e de Túnis foram novamente palco de protestos, gás lacrimogêneo e fúria contra a resistência à mudança demonstrada pelas autoridades interinas nestes países. Na Síria, ativistas disseram que pelo menos 19 pessoas foram mortas na última repressão contra os protestos que têm convulsionado o país há mais de quatro meses. Pelo menos sete pessoas morreram no Iêmen em meio a um limbo político que parece não estar perto de uma solução

As revoluções históricas que abalaram o mundo árabe ao longo deste ano estavam correndo o risco de colapsar quando, na noite de sexta-feira, os manifestantes voltaram às ruas para professar a sua repulsa à forma como o movimento está sendo bloqueado por regimes antigos e novos.

Seis meses após a primavera árabe derrubar o seu primeiro ditador, as principais praças do Cairo e de Túnis foram novamente palco de protestos, gás lacrimogêneo e fúria contra a resistência à mudança demonstrada pelas autoridades interinas nestes países. Na Síria, ativistas disseram que pelo menos 19 pessoas foram mortas na última repressão contra os protestos que têm convulsionado o país há mais de quatro meses. Pelo menos sete pessoas morreram no Iêmen em meio a um limbo político que parece não estar perto de uma solução. E na Jordânia um forte esquema de segurança policial acompanhou manifestações pró e anti-reforma que acabaram se tornando violentas.

As cenas serviram como um lembrete de que, após a euforia da primavera árabe, poucos avanços concretos na direção das reformas pretendidas ocorreram. As eleições na Tunísia e no Egito foram adiadas. As propostas de reforma no Iêmen e na Síria têm sido rejeitadas como inadequadas.

Egito
Milhares de manifestantes foram para praças públicas de todo o país, em uma "sexta-feira de advertência final" para a junta militar, em meio a temores de que a revolução que derrubou Hosni Mubarak está sendo traída por forças conservadoras.

Manifestações e greves de fome foram registradas desde Alexandria, na costa do Mediterrâneo, até Luxor no sul e Suez, no leste, com o foco principal, mais uma vez na praça Tahrir, no Cairo, onde um grande acampamento já dura mais de uma semana e não mostra sinais de acabar.

Os manifestantes acusam o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF), que assumiu o poder após a queda de Mubarak e prometeu abrir caminho para um governo civil democraticamente eleito no final deste ano, de sufocar as demandas revolucionárias, trabalhando para proteger os elementos do velho regime de uma mudança política.

"Como muitos têm dito no Facebook, a relação entre o população e o SCAF é o mesmo que o relacionamento entre uma mulher e um marido que ela sabe que está sendo infiel", disse Alaa El Shady Din, um manifestante na praça Tahrir.

"Ela tolera a infidelidade em um primeiro momento, em um esforço para não destruir a família e machucar as crianças, mas logo percebe que o marido não se importa nem um pouco com a família", acrescentou.

"No começo nós mentimos para nós mesmos, nós queríamos acreditar que eles estavam conosco. Mas agora as ruas estão acordando e dizendo ao conselho “nós somos os governantes e vocês seguem as nossas ordens; não o contrário. Nós somos a maldita linha vermelha e vocês não devem atravessá-la”.

Assim como a maioria dos manifestantes, El Din estava furioso esta semana por um comunicado do porta-voz da SCAF, Mohsen El-Fangari, que alertou contra aqueles que procuram "perturbar a ordem pública" e adotou um tom que lembrou Mubarak em seus discursos finais à nação. A pressão está aumentando sobre o primeiro-ministro interino, Essam Sharaf, que parece incapaz ou não quer forçar mudanças políticas significativas em face da intransigência dos generais. Muitos de seus apoiadores originais começam agora a pedir sua saída.

Tunísia
Alguém que estivesse visitando a capital da Tunísia pela primeira vez não diria que uma revolta popular ocorrera ali nos últimos seis meses. Policiais armados com cassetetes, gás lacrimogêneo e cães reprimiam uma pequena multidão de manifestantes que se reuniu para expressar um sentimento amplamente difundido na cidade: que a revolução foi construída em cima da areia e acabou bloqueada por um governo que tem feito pouco para implementar as exigências dos revolucionários.

A sede do governo central (Qasbah) foi cercada por rolos de arame farpado e veículos blindados, enquanto os manifestantes com bandeiras tunisinas gritavam "paz, paz". Então o problema começou. A primeira granada de gás vomitou uma espessa fumaça branca e foi rapidamente seguida por muitas outras. Os manifestantes correram para se esconder nas sombras da noite em meio a uma espessa nuvem de fumaça branca.

Dois homens se lançaram ao chão, de joelhos e com o peito nu, enfrentando a polícia. Um terceiro aparou uma boma de gás que passou girando e jogou-a de volta contra os policiais. Assim que a fumaça se dispersou, os manifestantes retornaram com o reforço de algumas centenas de pessoas. Alguns começaram a atirar pequenas pedras contra a polícia.

"As pessoas que me torturaram ainda estão lá", disse Malek Khudaira apontando para o ministério onde foi mantido por 10 dias durante o levante que derrubou o ex-ditador Zine al-Abidine Ben Ali.

"Como eu posso sentir que há mudanças ou que houve uma revolução total, se tudo está a mesma coisa; eu vejo os torturadores andando nas ruas todos os dias."

Por horas, seguiu-se um jogo de ataque e contra-ataque entre manifestantes e policiais. Os manifestantes marchavam e a polícia lançava bombas de gás no meio deles. Um homem de calça preta, camisa branca e óculos de sol estava de frente para a polícia quando um projétil atingiu sua barriga. Ele caiu onde estava e foi socorrido por outros manifestantes.

Os organizadores da manifestação chamaram-na de “Qasbah 3". A número 1 foi o levante que derrubou Ben Ali e forçou-o a fugir. A número 2 foi a mobilização que derrubou o primeiro governo provisório, um mês depois.

Síria
Ativistas relataram pelo menos 19 mortes em toda a Síria e dezenas de feridos quando as pessoas se reuniam para suas orações semanais, que têm sido usadas como um ponto de mobilização para a dissidência há mais de quatro meses.

Pesados conflitos foram relatados em pontos da capital, segundo relatos e contas amplamente divergentes de ativistas e da mídia estatal. Pelo menos sete manifestantes foram mortos a tiros em bairros de Damasco, em mobilizações que reuniram algumas das maiores multidões já registradas desde que os protestos iniciaram.

As forças de segurança têm usado cassetetes e gás lacrimogêneo em Damasco para reprimtir os protestos no coração do poder do regime. Dezenas de pessoas ficaram feridas nas cidades de Aleppo, Deraa, Idleb e Homs.

As autoridades sírias novamente culparam grupos armados pela violência - uma referência indireta aos ativistas islâmicos acusados de tentar inflamar o “caos sectário”. No entanto, ativistas disseram que manifestantes desarmados foram novamente atacados por soldados que dispararam rajadas contra a multidão.

Os atos de violência tem sido imprevisíveis, mudando de local o tempo todo. Em Homs, um morador do bairro abastado de Inshaat disse que as forças de segurança pareciam estar tentando evitar mortes. "Eles foram atirando, mas pareciam estar visando as pernas e não as cabeças".

Dois dos maiores protestos ocorreram em Hama e Deir Ezzor, num dia em que ativistas estimaram que até 1 milhão de pessoas podem ter desafiado abertamente o regime em todo o país.

Jordânia
Dez pessoas, a maioria delas jornalistas, ficaram feridas em Fridaywhen quando a polícia jordaniana intervir em confrontos entre manifestantes pró-reforma e partidários do governo em Amã.

Centenas de manifestantes pedindo mudanças políticas e um fim à corrupção se reuniram no centro da capital. Não ficou claro se eles iriam ignorar os avisos oficiais contra a realização de concentrações do tipos das realizadas no Egito e no Bahrein.

A Jordânia vive tumultos esporádicos desde janeiro, mas apenas em pequena escala. As demandas da oposição - apoiada por grupos de jovens, organizações da sociedade civil e os islâmicos - são para mudanças no quadro da monarquia Hachemita. O rei Abdullah assumiu o compromisso de implementar reformas que permitiriam a formação de futuros governos com base em uma maioria parlamentar eleita, mas não fixou data para cumprir a promessa.

O slogan "o povo quer a reforma do regime" esteve em flagrante contraste com as demandas e revoltas em outros países que pediram a "derrubada" dos governantes.

O protesto em Amã foi realizado com uma forte presença de forças de segurança, com a polícia e forças especiais cercando a área, disse o site Amom News.

Atos em defesa da reforma e contra a "corrupção desenfreada" também atraíram centenas de manifestantes nas cidades do sul de Tafileh, Maan e Karak, e em Irbid e Jerash, no norte.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer