segunda-feira, 18 de julho de 2011

Fruet: mais um tucano abandona o ninho

Por Altamiro Borges

Na semana passada, mais um tucano de alta plumagem abandonou o ninho. O ex-deputado paranaense Gustavo Fruet anunciou sua desfiliação do PSDB. Ele justificou a decisão pela falta de espaço no partido. “O PSDB fechou todas as portas para mim”, disse. O ex-tucano informou que decidirá até agosto em qual partido se filiará, mas há boatos de que ingressará no PDT.

Gustavo Fruet, de 47 anos, cumpriu três mandatos na Câmara Federal. Ele ganhou notoriedade a partir de 2005, quando foi um dos sub-relatores da CPI dos Correios e fez discursos raivosos contra o governo Lula. Com o declínio da oposição demotucana, o seu espaço no PSDB encolheu. Beto Richa, o truculento governador do Paraná, cortou as suas asinhas para a disputa da prefeitura de Curitiba.

“É uma perda muito grande”

Em carta aberta à sociedade, o ex-deputado bateu duro no oportunismo político do PSDB e questionou a “ética” dos tucanos. “A cada eleição prevalece o pragmatismo e os interesses locais. Por vezes, escusos e nem sempre transparentes! A estes não me submeto, ainda que seja levado pelas circunstâncias a trilhar um novo caminho, que sei que não será fácil”, argumentou.

A saída de Fruet abalou os tucanos. “É uma perda grande”, choramingou o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE). Aécio Neves, o matreiro senador mineiro que luta para viabilizar sua candidatura presidencial, até ligou para o ex-correligionário na tentativa de evitar o baque. “Lamento muito, mas respeito a decisão dele. Espero que estejamos juntos novamente no futuro”, lamuriou.

“Uma nau sem rumo”

Com o apoio da mídia, que alardeia os escândalos de corrupção no governo Dilma, a oposição demotucana tenta se reerguer. Mas não está nada fácil. Sem programa e sem discurso – já que o bordão da ética, partindo de políticos mais sujos do que pau de galinheiro, não convence –, a direita continua sendo abalada por deserções. O DEM está sumindo e o PSDB não consegue superar sua crise.

Em recente artigo na Folha, Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia na Universidade de São Paulo (USP), destrinchou a atual crise dos tucanos. Para ele, o PSDB é uma nau sem rumo, sem projeto político. Reproduzo trechos da sua instigante análise:

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O conglomerado tucano foi e é uma trinca de partidos. O maior deles é o PSDB. Dos três, só ele pode concorrer à Presidência da República. Já o DEM foi nosso maior partido, elegendo 105 deputados federais em 1998. Mas minguou para 43, em 2010. Largou o nome de PFL, sangra com a saída do prefeito de São Paulo, seu maior líder eleito. Pouco lhe resta, salvo fundir-se com o PSDB... O PPS subsistirá, mas, como vários partidos, a sua vocação é ser coadjuvante.

Mas o eixo está no PSDB. Restam-lhe, hoje, três presidenciáveis... Vejamos os três nomes. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conta com a fama de pessoa calma e tranqüila, mas já teve sua chance em 2006 e, talvez porque partiu para a agressão verbal ao então presidente Lula, conseguiu perder votos no segundo turno em relação ao primeiro, feito raro e que reduz sua cotação nacional. José Serra, ex-governador paulista, concorreu duas vezes à presidência e perdeu.

Restaria o príncipe encantado que, desde a pré-campanha de 2010 aparecia como o nome do futuro, fadado a resgatar a morte do avô, diplomado mas que morreu antes de assumir a presidência, Tancredo Neves. Dizem que Serra lhe teria prometido a candidatura em 2014, qualquer que fosse o resultado do pleito do ano passado. Mas na noite do segundo turno, ao sair o resultado das eleições, Serra se absteve de cumprimentar correligionários que não fossem paulistas.

Mais recente, o episódio em que Aécio Neves se recusou a prestar o teste do bafômetro deixa certa preocupação sobre sua maturidade para a Presidência. É provavelmente o melhor articulador dentro do partido, seu nome mais simpático e encantador, provém de um Estado que está há tempos fora do Planalto (até porque Dilma é mais gaúcha do que mineira) - mas deu à sociedade um exemplo negativo, em termos de conduta pessoal.

Este rápido percurso pelos nomes não substitui, porém, o que realmente conta: o projeto que o partido defenderá. Nenhum partido brasileiro, como se sabe, se diz de direita. O DEM, tentando não ser esvaziado por Kassab e sobreviver ao PSDB, outro dia ousou dizer-se "conservador". Mas talvez não tenha como ser um partido liberal, o que, aliás, não se confunde com conservador. O PSDB fará haraquiri se for conservador, e terá dificuldade em ser apenas liberal. Mas é fato que foi indo para a direita.

Sua criação já mostrava algo estranho. Os partidos social-democratas, na Europa, nasceram dos sindicatos. Mas aqui não houve amor entre o mundo sindical e o PSDB. Significativo da dificuldade de se dizer "social-democrata" é um artigo na Folha, por sinal brilhante, em que Gustavo Franco definia, no começo do ano, a "social-democracia" em que acreditava: nada sobre o mundo do trabalho, tudo sobre economia, finanças e gestão. Estava mais para um liberalismo consistente do que para a social-democracia. Disso, o resultado é que a social-democracia brasileira acabou sendo o PT no governo.

O PSDB tem três anos para galvanizar o país. Sorte dele que sua crise se dê agora; imaginem se estivéssemos já em 2014. Qual será seu projeto, é difícil saber. O partido parece se dividir entre um projeto que seria o de Serra, ou melhor, o de Bresser Pereira: desenvolvimento econômico, com projeto nacional e bons resultados sociais; e outro, que retomaria a linha privatizante de FHC, o projeto que o "Economist" queria que Serra adotasse, mas sabia que ele não assumiria. Ora, dos dois projetos, o segundo parece ter completado seu papel, enquanto o primeiro foi e é executado, bem, pelo PT.

Que discurso resta, então, ao partido tucano? Retomar a herança do governo Fernando Henrique parece pouco promissor. Concorrer com o PT em seu terreno é perda de tempo. Mas, em suma, o problema da oposição hoje não é o número de deputados, é o que ela quer fazer do Brasil. E, no fundo, deveria ser este o problema, não da oposição, mas de todos nós. Não importa tanto se um partido é grande e viável, ou não. Isso muda. O que importa é que o Brasil se beneficie das melhores propostas.

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