quarta-feira, 11 de maio de 2011

Senado aprova segunda fase do programa Minha Casa

Proposta, que estabelece que obeneficiários não podem ter renda superior a R$ 4.650, segue agora para a sanção presidencial

O Senado aprovou hoje a Medida Provisória que trata da segunda etapa do Programa Minha Casa, Minha Vida. A proposta segue agora para a sanção presidencial.
Mais uma vez os senadores reclamaram de não poderem fazer qualquer alteração no texto porque a medida perderia validade nesta semana.
O texto aprovado estabelece que os beneficiários do programa não podem ter renda superior a R$ 4.650,00 - o equivalente a dez salários mínimos em 2009.
A atualização do limite da renda poderá ser feita desde que não ultrapasse a marca de dez salários mínimos vigentes, ou seja, R$ 5.450,00 hoje. A segunda etapa do programa tem como objetivo construir 2 milhões de moradias até o fim de 2014.
O projeto reduz o subsídio aos beneficiários relativo a gastos com emolumentos cartoriais. Atualmente, as famílias com renda de 3 a 6 salários mínimos pagavam 20% destes custos. Agora, passarão a bancar metade do valor. O montante será diluído ao longo do financiamento.
Outra mudança foi feita para aumentar a efetividade do programa em pequenas cidades. Das 2 milhões de moradias previstas, 220 mil terão de ser destinadas a famílias com renda de até R$ 1.395,00 e que vivam em cidades com menos de 50 mil habitantes. Além disso, terão prioridade os deficientes físicos (no recebimento da moradia) e as mulheres (na assinatura dos contratos). (iG)

Dilma garante aumento de repasse do FPM

O presidente da União dos Municípios da Bahia (UPB) e prefeito de Camaçari, Luiz Caetano (PT) disse que a presidente Dilma Rousseff, sua correligionária, respondeu positivamente aos pleitos apresentados pelos alcaides baianos através da carta “A Erradicação da Miséria Exige o Fortalecimento dos Municípios”, entregue ontem na capital federal.

Dilma participou do segundo dia da 14ª Marcha dos Prefeitos, evento que acontece através de iniciativa da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e entidades estaduais. O evento encerra amanhã.
Caetano destacou, em conversa com a Tribuna, que a presidente se comprometeu a ajudar os prefeitos com o Fundo de Participação dos Municípios (PFM), um dos principais temas discutidos na Marcha.

“A presidente disse que até dezembro vai aumentar o repasse para os municípios através do FPM em 26% em comparação ao valor repassado em 2010 a cada cidade que teve perda muito grande individualmente”, comemorou o presidente da UPB.
Outra reivindicação bastante destacada pelos prefeitos de todo o país, a reorganização da partilha dos royalties do pré-sal para os municípios, também foi recebida com presteza pela chefe da nação brasileira. Segundo o petista, Dilma pediu a elaboração “imediata” de uma proposta alternativa atinente ao atual modelo de distribuição do lucro da extração do petróleo nas camadas do pré-sal.
Os prefeitos defendem que a partilha seja feita por igual para todas as cidades e não mais com prioridade para os municípios dos estados que detêm as áreas de extração.

 Nesse sentido, Caetano, em companhia dos dirigentes da CNM, vão se reunir hoje com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB) e o da Câmara Federal, deputado Marco Maia (PT). O projeto deverá ser elaborado oficialmente pelo Poder Legislativo.

A presidente Dilma também determinou de imediato (para hoje) uma reunião entre a presidência da Caixa Econômica Federal (CEF), o Ministério do Planejamento e o Comitê Federativo dos Municípios com o objetivo de “desburocratizar” o trâmite de convênios emperrados com as cidades.

Luiz Caetano comemorou ainda a liberação, “também de imediato”, como fez questão de destacar, de R$ 500 milhões do governo federal para a quitação dos restos a pagar das obras municipais por todo o Brasil. Em junho, ainda segundo o presidente da União dos Municípios da Bahia, Dilma vai liberar mais R$ 250 milhões com a mesma finalidade. (Romulo Faro - TB)

Bahia: PT manda recado ao PCdoB

Um dia após o PCdoB lançar a deputada federal Alice Portugal como pré-candidata à prefeitura de Salvador em 2012, o Partido dos Trabalhadores (PT) mandou o recado de que o “fundamental é garantir a unidade do campo político que congrega a base do governador Jaques Wagner (PT)”.
Apesar de considerar como “legítima” a postulação do partido aliado, o presidente estadual do PT, Jonas Paulo disse que é preciso manter a união de olho em um projeto único para a capital baiana, a partir do próximo ano.
Segundo ele, o objetivo é construir uma candidatura única que viabilize a conquista do Palácio Thomé de Souza ainda no primeiro turno das eleições. Jonas também disse não acreditar que as forças políticas que integram a base “desprezem a orientação do governador, que deve ser o condutor no processo eleitoral”.
A anunciada postulação do PCdoB também é observada com descrença nos bastidores da oposição. Comenta-se que o partido apenas vai tentar cacifar a candidatura de vice, já que o governador é quem determinará as regras.

“Para que adiar quando podemos ganhar no primeiro turno?”, questionou, acrescentando que o caminho é o de buscar a unidade. Conforme Jonas, todos têm o direito de lançar pré-candidaturas, mas a essência está em volta da aliança.

“O PT tem suas postulações, mas tem que dialogar. Deve haver um senso profundo de construção para garantir a vitória da base”, alertou. Ainda segundo o dirigente petista é preciso ter clareza sobre “responsabilidade de um projeto coletivo”.

“Ao mesmo tempo temos que ter desprendimento para que apresentemos uma proposta para Salvador com a construção de uma candidatura única que ganhe no primeiro turno”, defendeu.

Jonas também destacou que mesmo diante de um cenário favorável não se pode menosprezar a oposição. Dentro do PT, o principal pré-candidato é o deputado federal Nelson Pelegrino. O petista não esconde que tentará entrar na disputa mais uma vez.

 Partidos descartam apoio

Mesmo sendo ventilado durante o evento do PCdoB, o apoio de legendas aliadas, a exemplo do PSB, PTB e PDT, a tendência é de que cada uma trace sozinha a caminhada nas eleições municipais de Salvador em 2012. Pelo menos esse é o recado dos dirigentes partidários.

“O PDT tem candidato, até porque entendemos que 2012 é o ano do 12. Como a eleição de Salvador tem segundo turno poderemos nos encontrar no segundo turno, apoiando um candidato da base do governo, sendo esse do PT ou do PCdoB, no entanto, também esperamos reciprocidade, caso nosso candidato vá para o segundo turno”, disse o presidente estadual do PT, Alexandre Brust. O partido deve ratificar a pré-candidatura do deputado federal Marcos Medrado.

O presidente estadual do PTB e vice-líder na Câmara do bloco PTB-PSB-PCdoB, Antônio Brito disse que até aplaude a pré-candidatura da deputada Alice Portugal, porém frisou que os petebistas já tem formulado o nome do vice-prefeito Edvaldo Brito.

“A deputada Alice é um nome importante que faz parte da base do governador Jaques Wagner, assim como nós fazemos e aplaudimos, mas o PTB tem candidato e ele é o renomado tributarista Edvaldo Brito. Somos partidos que seguem as mesmas linhas programáticas, mas temos a liberdade de termos nossos próprios nomes”, descartou.

Entretanto, apesar de negar a expectativa de apoio ao PCdoB o deputado federal chamou a atenção dos interesses em comum dos partidos, em especial o debate em torno da mobilidade urbana. 
Fonte: Lílian Machado - TB

Acordo é alcançado e Código será votado nesta quarta (11)

Uma nova tentativa para votar o projeto de lei do novo Código Florestal, de relatoria do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), será feita hoje (11). O presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-SP), afirmou na noite de ontem (10) que já se chegou a um acordo possível para votar a proposta. A votação está marcada para as 9h desta quarta-feira.

"Está sendo agora produzido o texto do relator que poderá levar ao acordo definitivo na sessão de amanhã. Agora na sessão de amanhã nós votamos. A matéria amanhã vai a voto", disse Maia, reforçando que vai pautar o projeto na sessão extraordinária desta quarta.

Mas, o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), ressalta que ainda não há um relatório pronto para ser votado. Teixeira afirma que, se o relatório ficar pronto até amanhã, "talvez" seja possível votar a matéria. "Nós esperamos que esse relatório seja produzido até amanhã. E amanhã vamos ler com cuidado e amanhã mesmo talvez nós votemos as modificações do código", afirmou.

Na noite desta terça-feira, após um dia intenso de negociações, relator e governo parecem ter conseguido costurar um acordo em torno dos dois pontos mais polêmicos da proposta. Segundo o presidente da Câmara, o último ponto sem consenso, a dispensa de reserva legal para pequenas propriedades (até quatro módulos fiscais), já está acertado.

De acordo com Maia, o governo admitiu dispensar todos os pequenos agricultores de recompor a reserva legal de suas propriedades. O governo inicialmente admitia dispensa apenas para agricultura familiar.

Segundo Maia, em contrapartida, Aldo retirou do texto o dispositivo que permitia descontar do cálculo da reserva legal de médias e grandes propriedades uma área de quatro módulos. Esse dispositivo era uma demanda da bancada ruralista.

Outro avanço foi em relação às áreas de preservação permanente (APPs). Ficou acordado que as áreas com plantio ou pecuária consolidadas poderão ser mantidas. A lista com quais culturas e produções serão mantidas será feita na própria lei e por decreto presidencial.

Fonte: Congresso em Foco

Mulheres querem lista fechada e financiamento público

A lista preordenada com alternância de gênero e o financiamento público foram as propostas que uniram as mulheres que participaram do seminário "As mulheres e a Reforma Política”, realizado nesta terça-feira (10), no Auditório Petrônio Portela, do Senado Federal, em Brasília. O objetivo do evento é construir uma pauta comum mínima das mulheres para a reforma política.

Para a deputada Jô Moraes, uma das palestrantes, “a experiência histórica indica que as conquistas das mulheres só se dão em períodos de expansão democrática, sob pressão das próprias mulheres, contando com o apoio do pensamento avançado da sociedade”.

Promovido pelas Secretarias Nacionais de Mulheres do PT, PC do B, PDT, PSB e PSOL, juntamente com a CUT, a CTB e a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político no Brasil, o seminário avalia que “o debate da reforma política em curso interessa às mulheres que querem ter suas reivindicações ouvidas, para que possam fazer avançar a construção de igualdade entre homens e mulheres”.

As oradoras que se seguiram à fala da ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM), Iriny Lopes, reafirmaram a preocupação dela com a mercantilização das eleições. Segundo a ministra, as empresas são quem definem o resultado da eleição, para defender o financiamento público de campanha.

Falam demais porque têm o que dizer
A deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que também é vice-presidente do Partido, falou no painel sobre a responsabilidade dos partidos com a prioridade das mulheres na reforma política. E destacou a proposta apresentada pela Comissão da Reforma Política do Senado como um grande feito. Ela lembrou que constituir uma proposta onde consta paridade em lista com alternância de gênero, em uma Casa conservadora e com predominância masculina como é o caso, deve ser saudada como fruto da capacidade política das senadoras e da luta política no movimento feminista e em outros movimentos sociais.

A deputada disse que o legado construído pela Bancada Feminina no Congresso não pode ser desperdiçado e que o debate da reforma política deve levar em consideração a história das lutas femininas ao longo dos tempos e buscar horizontes cada vez mais amplos.

"Nós somos mulheres que não vamos desistir, nós vamos persistir e fazer muito mais pelas nossas possibilidades, nós temos perspectivas muito maiores", afirmou. O fato de fazer parte da maior bancada feminina da Câmara também foi lembrado. "Eu tenho orgulho de ser da bancada do PCdoB, que tem proporcionalmente a maior bancada feminina do Congresso. Dos 15 deputados, somos seis mulheres, que falam demais durante a reunião da bancada, mas falamos muito porque temos muito o que dizer e, assim como todas as mulheres deste país, falaríamos muito mais, se tivéssemos oportunidade!", finalizou Luciana.

Maioria da população e do eleitorado
A coordenadora da bancada feminina na Câmara, deputada Janete Pietá (PT-SP), em sua palestra, lembrou que “as mulheres são 52% da população brasileira e 53% do eleitorado e que esses números não permitem que persista, no país, a hegemonia do mando masculino e nem que as mulheres sejam reprodutoras desse pensamento machista e excludente”.

Jô Moraes seguiu o raciocínio, destacando que “acompanhando a herança perversa da sociedade capitalista globalizada, do final do século, a construção política brasileira apresenta componentes que se opõem aos melhores pressupostos da tradição democrática”. Pietá diz que o Congresso nacional é “masculino, branco e proprietário”, produto dessa herança.

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) mostrou os números que comprovam as palavras da colega parlamentar. Na Câmara dos Deputados do Brasil, são 45 deputadas federais contra 468 deputados homens. Isto representa 8,7% de um total de 513 parlamentares. No Senado, a mulher representa 14,81% da Casa, são doze senadoras num universo de 81 membros.

Para Janete Pietá, a democracia se constrói com diversidade, para anunciar que é preciso montar uma estratégia para mobilizar as mulheres em torno da democratização do país. “Nesse ponto devemos ser radicais, queremos paridade nas listas fechadas para as eleições”, afirma, estendendo o desejo de paridade em todas as instâncias de poder.

E cita como exemplo o fato da Câmara possuir 20 comissões técnicas e somente duas serem presididas por mulheres, a de Direitos Humanos, pela deputada Manuela d´Ávila (PCdoB-RS) e a de Educação, pela deputada Fátima Bezerra (PT-RN). Das 12 Medidas Provisórias que tramitam na Câmara, só uma é relatada por mulher – a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

No poder, com poder
Para as mulheres, a luta pelo empoderamento não está restrito à reforma política. “Nós estivemos na luta pelo fim da escravidão, na luta contra a ditadura, na luta pela Constituinte”, afirma Nalba Teixeira, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político no Brasil, destacando que as mulheres já estão na política há muito tempo.

Ela destacou que a luta deve ser pela mulher no poder com poder e que esse poder não será alcançado apenas com a reforma política. E defendeu a democratização dos Meios de Comunicação de Massa, a divisão sexual do trabalho, o respeito aos direitos humanos. É a mudança de cultura defendida pela deputada Alice Portugal, que perpassa todos os setores da sociedade.

Para a secretária de mulheres do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Liége Rocha, que também participou do evento, o seminário é mais um passo na longa jornada de lutas pelo poder feminino nos espaços de decisões. “No avanço do processo democrático, as mulheres precisam se situar, precisam se organizar para ter seus direitos garantidos”, diz ela.

E destacou a união das entidades progressistas na realização do evento. “O ineditismo da iniciativa das quatro fundações é uma coisa muito positiva, de muito valor para reforçar o papel das mulheres nesse importante debate da reforma política”, diz ela.

De Brasília
Márcia Xavier
(Vermelho)

PSB aumenta exposição de Campos para torná-lo opção para 2014

O programa do PSB que será exibido na noite desta terça-feira, 10, no horário eleitoral gratuito, deixará mais nítida a candidatura do governador Eduardo Campos, de Pernambuco, como opção à sucessão presidencial.
Campos é, no mínimo, hoje, o grande cabo eleitoral do Nordeste para quem se dispuser a conquistar o Palácio do Planalto.
No máximo, é alternativa a Dilma,  ainda que condicionada à inviabilidade de sua reeleição e à decisão do ex-presidente Lula de não voltar ao cargo.  
Aos 44 anos, o governador fez de Pernambuco uma espécie de vice-reinado nordestino, irradiando para a região o poder eleitoral que foi decisivo na vitória da candidata do ex-presidente Lula à sua sucessão.
No programa, o governador aparece como a grande estrela do PSB e, mais que isso, a grande liderança jovem com perfil renovador, à frente do partido que mais cresceu no país a partir da última eleição.
O PSB elegeu seis governadores, quatro senadores, 35 deputados federais e 73 estaduais e administra 386 municípios, quatro deles capitais.
Nas três inserções que lhes foram reservadas Campos define sua gestão em Pernambuco como socialista e inovadora, aprovada por expressivo índice de eleitores.
Mostra-se aliado da era Lula, que compara a outros grandes momentos da vida brasileira, como a Semana de Arte Moderna de 22, A Bossa Nova e o Cinema Novo.
Mas também se diz o líder capaz de abrir um novo caminho para o Brasil, usando a prática socialista como ferramenta para reinventar a política.
Discurso de candidato que registra os avanços da era Lula, mas alerta que o Estado precisa se adequar aos seus efeitos e estar mais próximo do povo, uma gestão voltada para o Brasil real.
Por ora, é uma estratégia para firmar sua imagem nacionalmente para o que der e vier, atento àquilo que o governo da aliança PT/PMDB não fala, mas sente: que a gestão Dilma não terá uma economia tão favorável quanto a de seu antecessor.
A bola ainda tem muito para rolar,  mas, com perdão do trocadilho infame, Campos entrou em campo. (AE)

Sindicatos não podem cair no canto dos bancos e PSDB, diz ministro

Mantido no coração do governo por Dilma Rousseff, Gilberto Carvalho, Secretário Geral da Presidência, em entrevista exclusiva à Carta Maior, revela que área econômica tentará convencer centrais sindicais de que inflação está sob controle e não requer juros mais pesados, como defende o sistema financeiro. Mas avisa que também espera dos sindicatos que não sejam 'egoístas' ao negociar salários. Sobre aproximação de algumas centrais com PSDB, afirma: 'a oposição vai ter que comer um saco de sal, porque sindicalista não bobo'.

BRASÍLIA – O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, teve uma manhã difícil na sexta-feira (05/05). Não pelas reuniões e problemas que encara todos os dias desde 2003 no Palácio do Planalto. Na véspera, o Palmeiras, time dele, tinha levado uma surra de seis a zero. Foi alguém ainda abalado que atendera a um telefonema do ex-presidente Lula. Assunto sério, urgente? Se você gosta de futebol, como os dois, sim. O corintiano ex-presidente ligara para provocar o ministro, como tantas vezes fizera frente a frente, nos oito anos em que Carvalho chefiara seu gabinete.

Mantido no Planalto pela presidenta Dilma Rousseff, Carvalho é a presença mais forte e nítida do antigo chefe dentro do coração do governo, mas não por causa de futebol. O passado sindical e a proximidade com os amigos sindicais de Lula levaram Dilma, que não tem a mesma experiência e o mesmo traquejo, a entregar-lhe a missão de ser o interlocutor principal do governo com os movimentos sociais. "Nunca antes na história desse país, as centrais vieram tanto ao Planalto, como nestes últimos cinco meses. E vai continuar assim", brinca Carvalho, usando um bordão do ex-presidente.

Em entrevista exclusiva a Carta Maior, concedida naquela sexta-feira, o ministro conta que o governo chamou as centrais para mostrar como decidiu enfrentar a inflação, problema mais delicado do início da gestão Dilma. Para ele, os trabalhadores não podem cair no "canto da sereia a favor de medidas mais duras" liderado pelo sistema financeiro e achar que os preços estão fora de controle. Mas também vai pedir que as centrais compreendam a situação atual e não sejam "egoístas" em negociações salariais, o que poderia pressionar a inflação.

Sindicalista, Carvalho afirma ainda que considera "natural" a aproximação entre algumas centrais e o PSDB, como ocorreu nas comemorações do Dia do Trabalho. Mas acredita que é mais um desejo dos tucanos, que ainda teriam de "comer um saco de sal" para merecer a confiança dos neo-amigos, do que uma vontade dos trabalhadores. E dispara: "O que nós mais queremos é que, de fato, o PSDB faça uma inclinação para o povo".

O leitor confere abaixo a primeira parte da entrevista com o ministro.

A Secretaria Geral parece hoje mais exposta, participando mais, dentro do governo, do que no governo Lula. O que está acontecendo?

Gilberto Carvalho
– Para mim, não é muito fácil analisar, porque estou no epicentro da questão. Evidente que há um estilo pessoal diferente. Sou mais conversador do que o (ex-ministro Luiz) Dulci, mais atirado, talvez, para o bem e para o mal. No essencial, o que muda de verdade é que a presidenta me encarregou de realizar um trabalho na relação com os movimentos que é complementar ao estilo dela. Enquanto o Lula chamava para si muitas destas relações, pela história dele, a presidenta Dilma tem consicência de que, mesmo sendo totalmente comprometida com os movimentos, ela não tem a mesma convivência histórica com eles. Então, ela fica mais retraída e me deu ordem para eu ter uma relação sistemática com eles. Houve ainda uma coisa circunstancial, a negociação do salário mínimo, que a presidenta me pediu para tocar, e aí eu acabei me expondo mais também.

Ontem, houve a segunda reunião sua da mesa permanente de diálogo com as centrais sindicais. O que você enxerga como agenda principal na relação com as centrais?

Gilberto Carvalho – Eles colocaram algumas prioridades e nós colocamos as nossas, mas isso tudo foi apenas elencado, ainda será debatido. As centrais querem discutir com muita força o fator previdenciário e a valorização dos aposentados, querem discutir a reforma tributária, sobretudo a desoneração da folha de salários, elas estão muito preocupadas com isso. Também querem debater a terceirização, que precariza as condições de trabalho, e o que eles chamam de violação dos direitos sindicais. Tem empresas demitindo sindicalistas, empresas que conseguem na Justiça proibir que os sindicalistas atuem dentro da fábrica, coisas que não tinham nem na década de 70, quando eu panfleteva na porta de fábrica. Nós, por nosso lado, propusemos uma discussão sobre a economia. Nas próximas reuniões da mesa, vai ter a participação do ministro (da Fazenda) Guido Mantega. Também já marcamos para 25 de maio uma reunião para discutir o plano de erradicação da miséria.

A maioria dos temas que você colocou são demandas das centrais, mas o que, para o governo, é importante negociar com elas?

Gilberto Carvalho - É esse conjunto aí, não tem uma coisa destacada. Nós propusemos discutir o plano da miséria, a questão da economia, em que nós queremos a participação deles. No caso das demandas das centrais, quando entrarmos na discussão dos conteúdos, vai haver a posição do governo, a posição deles e uma tentativa de acordo. Eu brinco dizendo que nunca antes na história desse país, as centrais vieram tantas vezes ao Planalto como nestes últimos cinco meses. E vai continuar assim. Nós vamos cansá-los de tanta reunião.

O que o governo quer discutir com elas sobre economia?


Gilberto Carvalho – A nossa preocupação é que o movimento entenda aquilo que o governo está fazendo contra a inflação. Há um canto da sereia muito grande que setores interessados propagam na imprensa hoje a favor de juros mais altos, de medidas mais duras, que o setor financeiro sobretudo tem interesse. E o governo acredita que não é bem assim, que tem de manejar o remédio em doses adequadas para evitar um efeito colateral recessivo muito grande. Nos interessa que os trabalhadores compreendam isso e possam vir a apoiar, nossa esperança é que venham a apoiar.

Vai ser complicado com as negociações salariais no segundo semestre...


Gilberto Carvalho
– Nós sabemos que vamos ter um ano duro de negociação. Praticamente todos os acordos realizados com o setor público terminam neste ano. Vamos ter campanhas salarias no fim do ano, quando a inflação já estará caindo, mas no acumulado ainda estará alta. Então, vai ter que ter maturidade do movimento sindical, do governo e do funcionalismo público, para que, num ano específico como este, as pessoas não queiram, egoisticamente, o seu próprio bem e ponham em risco o andamento da carruagem em geral.

Como o governo vai se comportar em relação a uma questão que racha as centrais, que é o fim do imposto sindical?

Gilberto Carvalho – O governo não vai tomar uma posição. É real que havia um acordo, quando foram legalizadas as centrais, que previa a extinção do imposto, ficando apenas a contribuição voluntária de cada trabalhador ao sindicato. Mas, aí, as centrais mudaram de posição, e o governo tem que respeitar. O que esperamos é que haja um debate entre elas, que eles já estão fazendo, e que cheguem a um consenso. Se chegaram, da parte do governo, evidentente, não há nenhum problema em abolir o imposto sindical. Mas também o governo não vai forçar a barra para isso. Para nós, não é um ponto central nesse momento e diz respeito ao livre direito de organização dos trabalhadores.

Inflação no ar, desavenças no imposto sindical... O governo não teme a aproximação entre algumas entidades e a oposição, como vimos nas comemorações do dia 1 de maio?

Gilberto Carvalho – A aproximação das centrais sindicais do PSDB, particularmente, é mais uma tentativa do PSDB, do que um movimento das centrais em direção à oposição. E é um movimento natutral na democracia. Agora, como diz um velho provérbio, para você fazer um amigo, tem que comer junto um saco de sal. Eu acho que nós, de vários setores do governo, comemos esse saco de sal com o movimento sindical desde os anos 70 e 80. A oposição vai ter de comer esse saco de sal, leva tempo para consolidar uma aproximação. Não pode se iludir de que, em dois ou três atos, vai ganhar (o apoio do movimento). Nenhum sindicalista é bobo, conhece o que era o Brasil antes do Lula, conhece o Brasil agora. Então, o que nós temos a apresentar ao movimento sindical é esse Brasil em que eles foram chamados a participar, em que o trabalhador ganhou muito, e o que a oposição, o PSDB, fez historicamente. Não podemos subestimar o movimento sindical e achar que um canto de sereia vai mudar isso.

Mas e se essa aproximação for bem-sucedida?

Gilberto Carvalho - Os caras (da oposição) vão ter de mostrar serviço. E, se mostrarem, vai ser bom para os trabalhadores, não tem nenhum problema, não tem ciumeira. O que nós mais queremos é que, de fato, o PSDB faça uma inclinação para o povo. E se eles demonstrarem isso nos governos de estado em que estão e depois, um dia, ganharem o governo (federal) e fizerem isso, não tem nenhum problema, nós não somos donos da classe trabalhadora. Nós defendemos mais do que ninguém a autonomia da classe trabalhadora.

Fonte: André Barrocal - CM