quarta-feira, 27 de abril de 2011

Governo deve amaciar cortes de restos a pagar

Pressionado pela base aliada que nos bastidores ameaçou uma rebelião contra o Planalto nas votações no Congresso por causa do "cancelamento" de emendas parlamentares, o governo sinalizou ontem que vai amaciar o corte. O calote dos chamados restos a
pagar de orçamentos anteriores, de 2007 a 2009, deve ficar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 3 bilhões e nem todo este montante será cortado de emendas, segundo um parlamentar envolvido nas negociações.

A questão tem provocado polêmica no Congresso porque cerca de metade dos restos a pagar dizem respeito a emendas. Hoje, há R$ 9,8 bilhões em risco de cancelamento desse período, sendo que R$ 5,2 bilhões são de emendas parlamentares, segundo dados do ministério do Planejamento. Até sexta, a presidente Dilma Rousseff vai anunciar o tamanho da tesourada para tentar interromper a insatisfação parlamentar.

A tendência é que os restos a pagar de 2009 sejam prorrogados pelo menos até o final de agosto e que o cancelamento atinja somente convênios dos anos de 2008 e 2007 que ainda não estejam em execução. Decreto assinado ainda pelo presidente Lula determinava o cancelamento dos restos a pagar destes três anos que não fossem liquidados até 30 de abril. (AE)

Bahia: Negromonte ameniza tensão política

O ministro das Cidades, Mário Negromonte, foi ao Senado, ontem, para conversar com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), e aproveitou para amenizar o clima de tensão instalado no governo em função dos atrasos nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da Copa do Mundo de 2014.

Em entrevista ao G1, Negromonte confirmou que a presidente Dilma Rousseff está preocupada com a situação das

"A presidenta é uma senhora educada, não puxa a orelha de ninguém. Logicamente que ela fica preocupada com o que está acontecendo, a questão de alguns atrasos. Tivemos uma reunião com ela ontem [segunda] e outros ministros para levar um relatório sobre como estariam as obras do PAC na área de mobilidade. Estamos fazendo um alerta a prefeitos e governadores para que acelerem projetos", afirmou Negromonte.

O ministro das Cidades também negou que haja desorganização nas ações do governo relacionadas ao Mundial de 2014: "Tem muita organização, muita reunião, muito planejamento. O que falta realmente é ter algumas ações. Os estados têm problemas

Então, prefeitos e governadores estão buscando as soluções".
No dia 20 de abril, o ministro das Cidades disse que seis das 12 cidades brasileiras que irão sediar a Copa do Mundo de 2014 estavam com obras atrasadas.
"Nossa parte [do Ministério das Cidades] é mobilidade urbana e vamos ter que ter a responsabilidade de levar o torcedor até a catacra. São 12 capitais-sede da Copa. Boa parte está com problema. Eu diria meia dúzia", disse, durante cerimônia de formatura de
novos diplomatas, no Itamaraty.

Negromonte admitiu ainda que será preciso aumentar o ritmo de trabalho para concluir todas as obras de mobilidade urbana que viabilizarão o Mundial.
"Nós estamos monitorando essas obras, mas muitas têm problemas jurídicos, ambientais, problemas de licitação. Tem gargalos que estamos desobstruindo. Depois que iniciar essas obras, vamos ter que trabalhar de manhã, de tarde e de noite para avançarmos", afirmou.

Segundo o ministro, a "única certeza" do governo é a de que a Copa tem data certa para ser realizada. "Existe uma preocupação de que não vai trazer prejuízo para o andamento das obras. A única certeza que temos é que a data da Copa não pode ser adiada".
Fonte: Tribuna da Bahia
ações em torno do Mundial e do PAC, mas não fez nenhuma cobrança exagerada aos integrantes do governo.ambientais, problemas jurídicos, problemas em terrenos.

O dólar com seus dias contados

O dólar tem seus dias contados

A moeda americana se transformou na maior bolha especulativa da história e está condenada a uma forte queda. Os ataques contra o euro são apenas uma cortina de fumaça para esconder a falência da economia americana, defende a jornalista suíça Myret Zaki em seu último livro.

"A queda do dólar se prepara. É inevitável. O principal risco no mundo atualmente é uma crise da dívida pública americana. A maior economia mundial não passa de uma grande ilusão. Para produzir 14 trilhões de renda nacional (PIB), os Estados Unidos geraram uma dívida de mais de 50 trilhões que custa 4 trilhões de juros por ano."

O tom está dado. Ao longo das 223 páginas de seu novo livro, a jornalista Myret Zaki faz uma acusação impiedosa contra o dólar e a economia americana, que considera "tecnicamente falida".

A jornalista se tornou, nos últimos anos, uma das mais famosas escritoras de economia da Suíça. Em seus últimos livros, ela aborda a situação desastrosa do banco suíço UBS nos Estados Unidos e a guerra comercial no mercado da evasão fiscal. Na entrevista a seguir, Myret Zaki defende a tese de que o ataque contra o euro é para desviar a atenção sobre a gravidade do caso americano.

Swissinfo.ch: A Senhora diz que o crash da dívida americana e o fim do dólar como lastro internacional será o grande acontecimento do século XXI. Não seria um catastrofismo meio exagerado?
Myrette Zaki: Eu entendo que isso possa parecer alarmista, já que os sinais de uma crise tão violenta ainda não são tangíveis. No entanto, estou me baseando em critérios altamente racionais e fatuais. Há cada vez mais autores americanos estimando que a deriva da política monetária dos Estados Unidos conduzirá inevitavelmente a tal cenário. É simplesmente impossível que aconteça o contrário.

Swissinfo.ch: No entanto, esta constatação não é, de forma alguma, compartilhada pela maioria dos economistas. Por quê?
MZ: É verdade. Existe uma espécie de conspiração do silêncio, pois há muitos interesses em jogo ligados ao dólar. A gigantesca indústria de asset management (investimento) e dos hedge funds (fundos especulativos) está baseada no dólar. Há também interesses políticos óbvios. Se o dólar não mantiver seu estatuto de moeda lastro, as agências de notações tirariam rapidamente a nota máxima da dívida americana. A partir daí começaria um ciclo vicioso que revelaria a realidade da economia americana. Estão tentando manter as aparências a todo custo, mesmo se o verniz não corresponde mais à realidade.

Swissinfo.ch: Não é a primeira vez que se anuncia o fim do dólar. O que mudou em 2011?
MZ: O fim do dólar é realmente anunciado desde os anos 70. Mas nunca tivemos tantos fatores reunidos para se prever o pior como agora. O montante da dívida dos EUA atingiu um recorde absoluto, o dólar nunca esteve tão baixo em relação ao franco suíço e as emissões de novas dívidas americanas são compradas principalmente pelo próprio banco central dos EUA.

Há também críticas sem precedentes de outros bancos centrais, que criam uma frente hostil à política monetária americana. O Japão, que é credor dos Estados Unidos em um trilhão de dólares, poderia reivindicar uma parte desta liquidez para sua reconstrução. E o regime dos petrodólares não é mais garantido pela Arábia Saudita.

Swissinfo.ch: Mais do que o fim do dólar, a Senhora anuncia a queda da superpotência econômica dos EUA. Mas os Estados Unidos não são grandes demais para falir?
MZ: Todo mundo tem interesse que os Estados Unidos continuem se mantendo e a mentira deve continuar por um tempo. Mas, não indefinidamente. Ninguém poderá salvar os americanos em última instância. São eles quem terão que arcar com o custo da falência. Um período muito longo de austeridade se anuncia. Ele já começou. Quarenta e cinco milhões de americanos perderam suas casas, 20% da população sairam do circuito econômico e não consomem mais, sem contar que um terço dos estados dos EUA estão praticamente falidos. Ninguém mais investe capital no país. Tudo depende exclusivamente da dívida.

Swissinfo.ch: A Senhora diz que o enfraquecimento da zona euro representa nada menos do que uma questão de segurança nacional para os Estados Unidos. Será que não estamos entrando numa espécie de paranoia antiamericana?
MZ: Todos nós amamos os Estados Unidos e preferimos ver o mundo cor-de-rosa. No entanto, após o fim da Guerra Fria e da criação do euro em 1999, uma guerra econômica foi declarada. A oferta de uma dívida pública sólida em uma moeda forte iria provavelmente diminuir a demanda pela dívida dos EUA. Mas os Estados Unidos não podem deixar de se endividar. Essa dívida lhes permitiu financiar as guerras no Iraque e no Afeganistão e garantir a sua hegemonia. Eles têm uma necessidade vital dela.

Em 2008, o euro era uma moeda levada muito a sério pela OPEP, os fundos soberanos e os bancos centrais. Ela estava prestes a destronar o dólar. E isso os EUA queriam impedir a todo custo. O mundo precisa de um lugar seguro para depositar seus excedentes, e a Europa está sendo totalmente impedida de aparecer como sendo esse lugar. É precisamente por isso que os fundos especulativos têm atacado a dívida soberana de alguns países europeus.

Swissinfo.ch: O que vai acontecer depois da queda anunciada do dólar?
MZ: A Europa é hoje a maior potência econômica e tem uma moeda de referência sólida. Ao contrário dos Estados Unidos, é um bloco em expansão. Na Ásia, o yuan passará a ser a moeda de referência. A China é a melhor aliada na Europa. Ela tem interesse em apoiar um euro forte para diversificar seus investimentos. Por outro lado, ela precisa de um aliado como a Europa na OMC e no G20 para evitar de ter que reavaliar sua moeda em breve. Hoje, a Europa e a China atuam como duas forças gravitacionais que atraem em suas órbitas os antigos aliados dos Estados Unidos: o Japão e a Inglaterra.

Swissinfo.ch: E o que vai acontecer com o franco suíço?
MZ: Seu papel de valor refúgio ainda vai crescer. No caso de uma crise da dívida soberana dos EUA, haverá uma grande procura pelo franco suíço. O franco suíço tem quase o mesmo status que o ouro e não está pronto a cair face ao dólar. Em uma revisão do sistema monetário, a Suíça terá que escolher um lado. Porque eu não estou convencida de que o franco suíço possa continuar existindo sozinho, o seu papel como valor refúgio é muito prejudicial para a economia suíça.

Fonte: Samuel Jaberg, swissinfo.ch. Adaptação: Fernando Hirschy

Alckimin retalia PSD e tira Afif da Secretaria

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), respondeu nesta terça-feira, 26, à articulação do prefeito paulistano Gilberto Kassab para formar o PSD. Numa mesma movimentação, abriu espaço no governo para o DEM e selou a saída do vice-governador Guilherme Afif (PSD) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico.
O movimento de Alckmin deve garantir a reedição da aliança DEM-PSDB na eleição municipal de 2012, mas põe fim à histórica união dos dois grupos que dominaram a política de São Paulo na última década.
Após almoço com a cúpula do DEM ontem no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, Alckmin acertou passar a Secretaria de Desenvolvimento Social para o partido aliado, deslocando o então secretário Paulo Barbosa para a pasta de Afif. A negociação envolvendo as duas pastas foi antecipada nesta terça pelo Estado.
Indicado pelo DEM, o deputado Rodrigo Garcia assume o Desenvolvimento Social na segunda-feira. A pasta é vitrine de projetos sociais do governo tucano, como o Bom Prato e o Viva Leite. Alckmin teria sinalizado ainda com a possibilidade de fortalecer outros programas da secretaria, como o Ação Jovem. (Julia Dualibi - AE)

'Conselhão' volta com promessa de Dilma de 'valorizá-lo' e sem PT

Criado no governo Lula, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social faz primeira reunião na gestão Dilma Rousseff sob nova direção: sai PT, entra PMDB. Mas presidenta promete 'valorizá-lo' e discutir políticas públicas com o grupo. A reportagem é de André Barrocal.

BRASÍLIA – Criado em 2003 pelo ex-presidente Lula com órgão de consulta, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social realizou nesta terça-feira (26/04) sua primeira reunião do governo Dilma Rousseff com a promessa presidencial de que o espaço será valorizado e chamado a discutir políticas públicas. Ao reativá-lo, Dilma transferiu a tutela do Conselhão, que desde o início esteve vinculado ligado à área política do Planalto mas, agora, vincula-se ao ministério encarregado de pensar o Brasil no longo prazo.

A mudança era planejada por Dilma desde a campanha eleitoral. Na visão dela, faz sentido que um grupo que ajuda a refletir sobre o Brasil fique na estrutura da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, cuja missão é exatamente olhar para frente. “Não vejo nenhum inconveniente exatamente por isso”, disse o cientista político Murilo Aragão, que é membro do Conselhão.

Mas para o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, que é do Conselho, a alteração vai enfraquecer o grupo. Segundo o sindicalista, o órgão pertencia a um ministério, a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), com assento na coordenação do governo, seleção de ministros que se reúne toda a semana com Dilma (como já era com o ex-presidente Lula) para discutir as questões mais importantes. A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), nova tutora do Conselhão, não faz parte da coordenação.

A CUT fez um abaixo-assinado, enviado à presidenta, defendendo que o Conselho ficasse onde estava. Conseguiu a adesão de 40, dos 90 conselheiros. Em vão.

Já o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, igualmente do Conselho, considera que a troca de subordinação não afetará em nada o trabalho do grupo, já que, no fim da contas, que dirige o órgão é a própria presidenta.

Para além da visão técnica sobre a função do Conselho, o debate sobre seu controle foi uma queda de braço entre PT e PMDB. O primeiro comanda a SRI e o segundo, a SAE. A transferência de comando foi feita por decreto de Dilma assinado na segunda-feira (25/04).

O ministro-chefe da SAE, Moreira Franco, já havia tentado encorpar sua secretaria trocando o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann. Embora o Ipea pertença à estrutura de Moreira Franco, Pochmann está no cargo desde o governo Lula, é ligado ao PT e age com independência. Quando percebeu os planos de Moreira, em notícias de jornais, Dilma mandou um recado ao ministro: Pochmann ficaria onde está. (André Barrocal - AE)

DILMA REJEITA A PAZ SALAZARISTA DOS CEMITÉRIOS

Expectativa de manutenção dos juros baixos nos EUA, a ser sancionada na reunião do FED desta quarta-feira, provocou desvalorização mundial do dólar ontem, com recordes de baixa no Brasil, Austrália, África do Sul e Noruega. Juro baixo nos EUA e liquidez ilimitada explicam a perda de competitividade das exportações industriais de países em desenvolvimento --o que é péssimo. Explicam também a voragem dos capitais especulativos que tomam de assalto os derivativos de commodities, elevando os preços dos alimentos para disseminar fome e inflação em todo o planeta. O antídoto oferecido pela ortodoxia equivale a apagar incendio com o lança-chamas: um devastador 'choque de juros' para conter uma alta de preços que independe em certa medida da demanda interna. Ontem, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Dilma, Mantega e outros (leia reportagem nesta pág) deram um chega para lá no jogral mercadista sonorizado pela mídia demotucana. A exemplo do salazarismo dominante em Portugal entre 1932 e 1968, o que se pretende é embalsamar o Brasil em um formol de inflação baixa, com desemprego alto e juros explosivos. Em resumo, a velha e nostálgica paz dos cemitérios rentistas. O funeral foi descartado de maneira lapidar pela Presidenta da República quando disse: "...sempre é melhor enfrentar os problemas do crescimento do que os problemas do desemprego, da falta de renda, da falta de investimento e da depressão econômica".
(Carta Maior; 4º feira, 27/04/2011)