terça-feira, 1 de novembro de 2011

Política: Conferência Estadual será a maior realizada pelo PCdoB na Bahia

A Conferência Estadual será no próximo final de semana (5 e 6/11), mas o PCdoB na Bahia já está comemorando o sucesso do evento. Mais de 450 delegados já confirmaram presença e a Secretaria de Organização aguarda ainda a inscrição dos representantes de algumas cidades. O número de mobilizados para a Conferência também impressiona. Mais de duas mil pessoas participaram das 308 conferências municipais, que debateram as estratégias do partido para as eleições de 2012.


“A mobilização tem superado as nossas expectativas. Nós realizamos mais de 300 conferências municipais e podemos chegar na Conferência com um fato novo, na história do partido na Bahia, que é presença nos 417 municípios do estado. Hoje já estamos presentes em 404 municípios e estamos otimistas com essa expectativa”, comemorou o vice-secretário de Organização Jurandir Silva Júnior.

O dirigente estadual avalia que o processo de mobilização foi bastante positivo e demonstra a vitalidade e o momento de expansão do PCdoB no Brasil e na Bahia. “Devemos ter uma grande Conferência. Estamos fazendo os preparativos finais, a cerca da infra-estrutura para que seja condizente com este processo de mobilização. Nós estamos percebendo que há um grande interesse de participação no debate em torno das propostas e diretrizes que o partido vai definir para o próximo biênio”, acrescentou.

O processo de pré-credenciamento para a Conferência já está em andamento. A expectativa é que cerca de 700 pessoas participem do evento, entre delegados e convidados, que são os presidentes do PCdoB em municípios em que não foram realizadas conferências. O credenciamento final acontece no sábado, a partir das 8h. Os trabalhos começam às 9h, com a aprovação do regimento interno, seguida do ato político de abertura, marcado para às 11h.
Salto de qualidade
O processo de mobilização para a Conferência Estadual serviu também para o fortalecimento do partido na Bahia. “Os números não conseguem ainda dar uma dimensão do salto qualitativo que tivemos. Nestas viagens que fizemos pelo interior do estado, nós debates os documentos da Conferência e também preparamos a eleição de 2012. Nós influenciamos e montamos projetos eleitorais nos municípios. Hoje nós já catalogamos mais de 80 pré-candidaturas à prefeituras em toda a Bahia. A expectativa é que cheguemos a 100 pré-candidaturas em todo o estado, o que significa um salto positivo em relação à 2008, quando tivemos cerca de 40 candidaturas majoritárias. Este é um salto muito importante”, informou Jurandir Silva Júnior.

Segundo o vice-secretário de Organização, este processo serviu também para conhecer melhor o partido em todo o estado, o que vai possibilitar um planejamento do PCdoB e a construção de projetos políticos mais ousados para as eleições de 2012.

De Salvador,
Eliane Costa - Vermelho

Em entrevista, Ignácio Ramonet aponta ruídos na informação

Quando confrontado com a injustiça, é essencial não ficar reclamando sobre o quão ruim as coisas estão indo. Aprender a analisar a situação e encontrar uma solução é essencial para manter uma atitude positiva e conseguir fazer a mudança acontecer. E exatamente isso é o que faz Ignacio Ramonet, uma crítica ao sistema midiático para que o público possa sempre confiar na mídia. Confira entrevista concedida ao caderno cultura do Clarín, Revistaenie.


Em "A explosão do jornalismo", seu novo livro, Ignacio Ramonet, o semiólogo espanhol, analisa as mudanças que a Internet detonou na imprensa e o relacionamento sempre tenso entre comunicação e poder. Desde que a Internet se tornou massiva, digamos, há 15 anos, o trabalho dos jornalistas entrou em uma nova dimensão. Se você recordar, analisar e contextualizar os fatos centrais da nossa civilização sempre foi sua tarefa, essa tarefa está cada vez mais conectado, invadida, por outra imposição, de explorar as características desta atmosfera de novas mídias. Especialistas em arte, política, economia, esportes ou qualquer outra especialidade, dividem seu tempo e energia para analisar o meio que estão inseridos, tentando entender para mediar neste momento que, por enquanto, não oferece saídas claras.

O semiólogo espanhol Ignacio Ramonet passou pela Argentina respondendo a uma metralhadora de perguntas. Ele veio (a Argentina) para falar sobre as rebeliões no mundo árabe e divulgar seu novo livro, La explosión del periodismo (Capital Intelectual) - A explosão do jornalismo (capital intelectual) – saltando entre o virtual e o mundo físico para explicar sua obra. Do laboratório para o campo, do pensamento para as práticas concretas. Da crise europeia a Argentina, onde tudo é debatido e questionado. E tudo isso em um ambiente de grande confusão na relação entre comunicação e poder.

Revistaenie: Seu livro segue um conceito chave: a insegurança da informação. E para explicá-la apela a fatores negativos, muitos ocorridos na Internet. Você acha que esta informação incerta em longo prazo pode favorecer o desenvolvimento de uma visão mais crítica do público?
Ignacio Ramonet: Minha intenção não era apresenta-la nem como positiva, nem negativamente, mas sim de falar de um conceito que até agora não havia sido descrito, a insegurança da informação. Hoje, quando as pessoas entram em contato com informações, não têm a certeza que esta informação é verdadeira. Não me refiro a uma intencionalidade em mentir, mas porque o sistema de mídia não pode garantir, ao emitir a informação, que a mesma é verdadeira. Por exemplo, todos os dias somos informados de que Kadafi estava neste lugar, iria ser preso, que o filho de Kadafi tinha sido preso... Mas nunca estavam certo disso. Quem é a fonte? Não estou interessado. Me interessa que a informação não está funcionando.

Revistaenie: Não importa quem benefício ou prejudicou?
IR: Não é pertinente, O que me interessa é que o sistema tem falhas. Você não pode evitar que uma informação não checada vá ser desmentida e que isso chegue ao público. O sistema que se diz que "o mais sofisticado da história da comunicação", com mais tecnologia, é incapaz de dar informações básicas e seguras. Isso é o que eu chamo de insegurança da comunicação. É semelhante a muitas outras incertezas. A comida, por exemplo, comer carne ou fruta e você podem ser envenenados. A insegurança, de uma dimensão estrutural das nossas sociedades modernas, há também na informação.
Revistaenie: A erosão da confiança se soma à erosão dos suportes físicos - o livro fala que a informação é um fluxo constante – e os meios enfrentam um cenário preocupante. As respostas que temos dado são pobres, haverá saída?IR: Talvez o nosso erro seja a pretensão de que a informação, quando a recebemos, está perfeitamente certa. Isso é uma exigência da era industrial, caracterizada precisamente porque as coisas são feitas, fabricado, assim como foram prescritas. Na era digital, não é assim. Enquanto nos chocamos, nos ofendemos, a informação, quando difundida, é uma informação aproximada. Temos que ir aperfeiçoando-a, interferindo com ferramentas, corrigindo aqui e ali. Os próprios jornalistas, o sistema midiático, já não controlam a informação. Até certo ponto, não mais exercem o monopólio da informação. Tem que contar cada vez mais com a informação dos internautas para poder construir uma informação mais precisa.
Revistaenie: É impressionante que a perda de confiança nos meios de comunicação não se transferiu para as companhias da internet como Facebook, Twitter e Google, que são empresas e estão servindo como rota do fluxo de informações. Como você vê essa nova dinâmica? IR: Nesta fase inicial onde estamos, isso ainda não é visto. Muitos usuários da Internet não veem que o Google é uma empresa, faz negócios, recebe enormes benefícios. Porque agora vemos a contribuição das redes sociais. Mas eu digo no livro que a informação, no sentido mais estrito da palavra, tornou-se uma commodity estratégica: a empresa de telefonia ganha mais dinheiro que uma companhia de petróleo. Se faz dinheiro utilizando essa matéria-prima que é a informação.
Revistaenie: Algumas pessoas veem nesta relação com o Google ou Facebook um mecanismo de dominação do tipo deleuziano, foucaultiano, que é voluntário, não imposto ... IR: Eu diria que, neste ponto, há uma estreita colaboração entre usuários e empresas. Primeiro, os usuários são gratos por eles terem inventado ferramentas que antes não existiam. Esse fascínio faz com que não vejam a relação de poder indagada por vários filósofos.
Revistaenie: Apesar das calamidades que estremecem o cenário midiático, você vê um horizonte de democratização da informação.IR: É possível
Revistaenie: Destaca ideias como de Nicholas Carr, que diz que a Internet e idiotiza. Se é assim, dificilmente se torne mais democrática, é contraditório. IR: Teoricamente, a Internet permite uma maior democratização do conhecimento e o uso democrático da política. Muitas informações essenciais já circulam na Internet. Então, teoricamente, você pode avançar para uma democratização do conhecimento, do saber.
Agora, as dificuldades são as mesmas de sempre. Carr diz que quanto maior extensão, menor a profundidade. Ele não disse que idiotiza, mas desenvolve certas habilidades. Por exemplo, ser capaz de saltar de um assunto para outro muito rapidamente. O que, por sua vez, praticamente impede que se aprofunde um único tema ... O que se adquire por um lado, se perde por outro. Internet é tanto a possibilidade virtual de avançar para a democratização do conhecimento e informação, como também a possibilidade de se avançar para a idiotização da sociedade informatizada.

Revistaenie: E apenas passaram 20 anos ...
IR: Seria imprudente dizer, como muitas pessoas, "Internet já é uma catástrofe."
Revistaenie: Quem serão os novos atores responsáveis por marcar uma nova agenda? Wikileaks? "Celebridades" que têm mais seguidores no Twitter que muitos veículos de informação? Eles podem ter informações em primeira mão, mas não vai contextualizar ... IR: No momento é muito confuso. Internet, por exemplo, é o futuro da mídia. Vamos nessa direção. Mas os poderes continuam a trabalhar com os hábitos tradicionais e ainda não existem novas mídias on-line capazes de influenciar uma agenda. Mas já há indícios de mudança.
Por exemplo, quem mais define a agenda de política interna americana não é o Washington Post ou The New York Times. É o Politico.com, um diário digital. Eles inventaram um novo ritmo à informação, se dedicam à política do Congresso e suas atividades e, portanto, a informação tem uma nova dinâmica. E a grande mídia continua a influenciar, por quê? The New York Times vende 800 mil cópias em uma edição, digamos, de 950 mil, tem 43 milhões de usuários na web. Essa é a massa crítica do jornal. Digo que já estão surgindo novos meios de comunicação específicos para a era da Internet e que estão fazendo agenda, mas não se pode ampliar para o resto do mundo.

Revistaenie: Quais são os mais afetados?
IR: Não são os jornais, é Ca NN, que pode ir longe quando você menos espera, algo inconcebível no 11 de setembro de 2001. Jornais não vai desaparecer, porque a sociedade precisará da informação em outro ritmo, mais lento, que permite a imprensa escrita (impressa), com jornalistas capazes de contextualizar, o que é fundamental para situar a notícia em seu tempo e espaço. E, por outro lado, a capacidade da mídia impressa de ter algo a ver com um estilo literário. As pessoas sempre querem ler histórias bem contadas. Lembre-se que o público de hoje são muito mais bem treinados do que qualquer outro público em uma era anterior, e está exigindo mais ... Há razões para otimismo.
Revistaenie: Mas o cenário para os jornalistas tornou-se frustrante. O espaço para a reportagem está reduzido e há mais apelo para filmes documentários ou publicação de livros. São as melhores alternativas?IR: Os melhores jornalistas estão indo para o documentário de televisão, de fato. Por outro lado, hoje em dia há uma grande angustia dos jornalistas por seu estatuto social ter se deteriorado, a situação financeira e social estar assim em nível internacional ...
Revistaenie: Cito o que ocorreu no Jornal de Montreal: a redação paralisou e o jornal utilizou a colaboração de seus leitores na internet até que os repórteres desistissem de suas reivindicações. IR: É uma lição que segui de perto. Acontece que quando os jornalistas recorrem à greve, o jornal pode ser feito simplesmente convidando os usuários da Internet.

Revistaenie: E o que dizer das associações de jornalistas, sindicatos?
IR: Não só isso, mas as sociedades de jornalistas, porque na França, em particular, muitos jornais, incluindo o caso de Le Monde, onde eu trabalhava, que foram criados em contextos como a libertação da França em 1944, e onde os jornalistas tinham um poder importante na gestão do jornal, a crise econômica desses jornais levou ao quase desaparecimento do papel destas sociedades. Portanto, os jornalistas de hoje são mal protegidos.

Revistaenie: Aqui, na Argentina, o clima é raro: categorizações, eufemismos, jornalistas ativistas, jornalistas corporativos; é necessário que os jornalistas definam uma posição?
IR: Eu acho que o principal dever de um jornalista é produzir informação com padrões profissionais. Conversando com jornalistas militantes é uma contradição em termos, mas existe. E também há empresas militantes. Isso não é bom para os jornalistas, não é bom para o relacionamento que deve ter com a sociedade. A sociedade precisa de jornalismo. Jornalismo é revelar o que está errado com uma sociedade sob muitos pontos de vista. Numa sociedade democrática, esse tipo de debate que você tem aqui na Argentina surge.
Olha a França com toda sua experiência democrática com todos os seus cuidados, as instituições de monitoramento, ética, etc., mesmo assim tem esse debate. Há ali um setor público que depende, em certa medida, do Estado, e sempre se suspeita que o governo pode intervir. Por outro lado há grupos de mídia muito importante que defendem seus interesses comerciais e também suspeita que o que eles publicam, falando especialmente da França, onde grupos empresariais são grandes grupos que trabalham para militares ou da construção, está relacionados com seus interesses. Este debate não é um debate somente da Argentina, se me permite. Ocorre em todo o mundo.

Revistaenie: Mas haverá particularidades...
IR: Estive no Equador onde ocorre o mesmo debate; na Venezuela esse debate acontece há 10 anos. Em muitos países da América Latina chamamos isso de latifúndios da mídia. Hoje, há governos eleitos democraticamente, na legalidade, que estão tentando criar um melhor equilíbrio entre os setores público e privado. Resta uma parte do espaço aos antigos latifundiários e isso cria um debate. Deve ser visto como um debate democrático hoje, porque os grupos de mídia, o Governo, o Estado ou os jornalistas, têm interesse em esclarecer isso. O maior interesse dos jornalistas é para salvaguardar o seu direito de dar informação que não é determinada pelo poder do dinheiro ou do poder político.
Revistaenie: Esteve com Fidel Castro, com Correa, Chávez, com base nisso, qual visão você tem do que deve ser a relação com a mídia? E Cuba, é um caso diferente. IR: Sim, simplesmente não há ali uma discussão sobre a mídia (nas assembleias populares). E eu acho que Correa e Chávez, como muitos outros líderes, estão tentando criar um serviço de informação pública. Que não sejam as empresas que detenham todo o poder midiático, que tenham menos. Nem por isso foram capazes de reduzir a intensidade dos ataques infames contra esses governos que são democráticos. Basta ler a imprensa na Venezuela. Enquanto Chávez sofreu onze eleições classificado como "usurpador". Ele pretende criar um novo espaço. Acho que isso é o mais saudável.
Ignacio Ramonet é jornalista, diretor do "Le Monde Diplomatique em espanhol," Semiologista e Ph.D. em História da Cultura e Professor de Teoria da Comunicação na. Universidade Denis-Diderot (Paris VII), especialista em geopolítica e estratégia internacional, consultor para a ONU, é uma das principais figuras do movimento antiglobalização.
Fonte:  Revistaenie / Clarín

James Petras: Imperialismo e democracia: Casa Branca ou Liberty Square?

por James Petras
Manifestação na Liberty Square, Nova York. A relação entre imperialismo e democracia tem sido debatida e discutida há mais de 2500 anos, desde a Atenas do século V ao Liberty Park em Manhattan. Críticos contemporâneos do imperialismo (e do capitalismo) afirmam encontrar uma incompatibilidade fundamental, mencionando as crescentes medidas de estado policial que acompanham guerras coloniais, desde as leis antiterroristas de Clinton e o "Patriot Act" de Bush até as ordens de assassinato judicial de cidadãos estado-unidenses de Obama.
No passado, contudo, muitos teóricos do imperialismo de variadas convicções políticas, que vão de Max Weber a Vladimir Lenine, argumentaram que o imperialismo unificava o país, reduzia a polarização interna de classe e criava trabalhadores privilegiados que apoiavam ativamente e votavam por partidos imperiais. Um levantamento histórico comparativo das condições sob as quais imperialismo e instituições democráticas convergem ou divergem pode lançar alguma luz sobre os desafios e opções que confrontam os florescentes movimentos democráticos que irrompem por todo o globo.
O século XIX
Durante o século XIX, a expansão imperial européia e estado-unidense cobriu o mundo. Em também, enraizaram-se instituições democráticas, a cidadania foi estendida à classe trabalhadora, emergiram partidos competitivos, foi aprovada legislação social e a classe trabalhadora aumentou a sua representação nas câmaras legislativas.
Terá sido o crescimento simultâneo da democracia e do imperialismo uma correlação espúria refletindo forças subjacentes divergentes e conflitantes, uma favorecendo a conquista além-mar e outra promovendo políticas democráticas? De fato, houve uma grande dose de sobreposição entre políticas pró-imperialistas e democráticas e não simplesmente entre as elites.
Ao longo de todo o século XIX e especialmente no século XX, importantes sectores do trabalho, partidos social-democratas e numerosas eminentes personalidades de esquerda e revolucionários socialistas, em um momento ou outro combinaram o apoio a exigências dos trabalhadores e a expansão imperial. Nada menos que Karl Marx, nos seus primeiros escritos jornalísticos no New York Herald Tribune apoiou criticamente a conquista britânica da Índia como sendo uma "força modernizadora" que deitava abaixo barreiras feudais, mesmo quando ele apoiava (com críticas) as revoluções européias de 1848.
As classes dominantes, a força condutora do imperialismo, estavam divididas. Alguns viam as reformas democráticas, a "cidadania", como um meio de efetuar conscrições em massa para guerras imperiais; outros temiam que reformas democráticas promovessem exigências sociais que solapassem a acumulação de capital e a dominação pela elite. Ambos estavam certos: Juntamente com maior participação popular veio o virulento nacionalismo moderno, o qual alimentou a construção do império. Ao mesmo tempo, o acesso em massa a direitos democráticos levou a organizações de classe elevadas, as quais ameaçavam ou desafiavam a classe dominante. Dentro das classes dominantes, as instituições democráticas eram encaradas como uma arena para a resolução pacífica de conflitos entre elites setoriais competidoras. Mas uma vez que tomassem um caráter de massa passavam a ser percebidas como ameaças políticas.
Partidos imperiais e partidos com base de classe competiam por eleitores entre os recém emancipados trabalhadores urbanos e rurais pobres. Em muitos casos, a lealdade imperial e de classe "co-existia" dentro dos mesmos indivíduos. A questão de qual das duas, a imperialista ou consciência de classe, se tornaria "operacional" ou "destacada" estava em parte dependente dos êxitos ou fracasso de projetos políticos competidores mais vastos.
Por outras palavras, quando a expansão imperial tinha êxito com conquistas fáceis que resultavam em colônias lucrativas (especialmente colônias de povoamento) trabalhadores democráticos abraçavam o império. Isto era assim porque o império promovia comércio, nomeadamente exportações lucrativas e importações baratas, ao mesmo tempo que protegia mercados e manufaturas locais. Isto por sua vez expandia emprego e salários para sectores substanciais da classe trabalhadora. Em conseqüência, o trabalho e partidos social-democratas e sindicatos não se opunham ao imperialismo, na verdade muitos o apoiavam.
Em contraste, quando guerras imperialistas levavam a prolongados conflitos sangrentos e custosos, a classe trabalhadora comutava do entusiasmo chauvinista inicial para o desencanto e a oposição. Exigências democráticas de "fim à guerra" levavam a greves que contestavam o sacrifício desigual. Sentimentos democráticos e antiimperialistas tendiam a fundir-se.
O conflito entre democracia e imperialismo tornava-se ainda mais aparente no caso de uma derrota imperial e de ocupação militar. Tanto a derrota da França na guerra franco-germânica de 1870-71 como a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial levou a maciços levantamentos democráticos socialistas (a Comuna de Paris de 1871 e a revolução alemã de 1918) atacando o militarismo, a dominação de classe da elite e toda a estrutura institucional imperial capitalista.
O debate imperialismo e democracia e "história a partir de baixo"
Historiadores, especialmente os praticantes da moderna "história a partir de baixo", exageram os valores democráticos e as lutas da classe trabalhadora e minimizam o prolongado e profundamente fraco apoio entre importantes sectores para o êxito da expansão imperial e da conquista. A noção de solidariedade de classe "inerente" ou "instintiva" é desmentida pelo papel ativo de trabalhadores como soldados na conquista imperial, pelos povoadores além-mar, pelos marinheiros mercantes e supervisores. Colaboradores imperiais e leais ao império foram numerosos entre trabalhadores ingleses e franceses e, especialmente mais tarde, dentro do movimento trabalhista dos EUA.
O ponto teórico é que a proeminência da consciência e ação democrática sobre a imperial, entre trabalhadores, está dependente dos resultados práticos materiais de políticas imperiais e lutas democráticas.
Trabalhadores e imperialismo
A construção do império exige dos trabalhadores que produzam mais por menos a fim de exportar e investir lucrativamente em regiões colonizadas. Isto leva ao conflito capital-trabalho, especialmente na fase inicial da expansão imperial. Quando dominadores imperiais consolidam seu controle sobre países colonizados eles intensificam a exploração de mercados, trabalho e recursos. As exportações imperiais destruíram competidores locais. Os lucros ascendem, salários aumentam e trabalhadores mudam da oposição inicial em relação ao imperialismo à exigência de uma fatia do rendimento crescente dos industriais orientados para a exportação. Líderes trabalhistas e sindicais aprovaram políticas de "preferência imperial", as quais protegiam indústrias locais da competição e do controle monopolista privilegiado de mercados coloniais. Eles assim fizeram porque políticas imperiais protegiam empregos e elevavam padrões de vida.
Trabalhadores que eram ativos em lutas sociais, estavam em listas negras ou presos, mudavam-se voluntariamente ou eram exilados para países colonizados. Uma vez assentes além-mar, era-lhes dado acesso privilegiado a empregos mais bem pagos como supervisores, empregados qualificados ou eram promovidos a posições de administração. Trabalhadores militantes no centro do império, quando chegava além-mar tornavam-se colaboradores coloniais. Muitos encorajavam antigos colegas, parentes e amigos a juntarem-se a eles como colonos bem sucedidos ou trabalhadores contratados. A "domesticação" de trabalhadores e a reconciliação de sentimentos democráticos e imperialistas eram uma causa e uma conseqüência do imperialismo com êxito.
Lealdade ao império: Não só pelo pão
Se bem que o aumento de benefícios materiais para trabalhadores do "imperialismo com êxito" seja um fator que potencia a consciência imperial de trabalhadores, esta era reforçada pela gratificação simbólica. A sensação de ser membro do "país líder no mundo" e de que "o sol nunca se põe no império" era igualmente importante. É raro encontrar um país onde a maioria dos trabalhadores exprima "solidariedade" com os mineiros explorados, trabalhadores de plantação, camponeses deslocados e pequenos proprietários indígenas nas “colônias". Quanto mais forte a influência do poder colonial, maiores as "oportunidades coloniais", mais amplos os laços coloniais, mais profundas a penetração econômica e mais forte a sensação de superioridade imperial entre os trabalhadores dos estados imperiais. Não é de surpreender que os trabalhadores britânicos, os sindicatos e o Partido Trabalhista fizessem poucas objeções à selvajaria das guerras do ópio imperiais contra a China, as fomes imperiais induzidas na Irlanda no século XIX e na Índia no século XX. Da mesma forma, os partidos de trabalhadores franceses – especialmente os socialistas – estavam na vanguarda das guerras coloniais pós II Guerra Mundial contra a Indochina e a Argélia só se voltando contra elas face à derrota iminente e a desintegração interna. Também as guerras coloniais dos EUA contra Cuba e as Filipinas, suas invasões de países do Caribe e da América Central foram apoiadas pela American Federation of Labor e muitos "trabalhadores comuns", mesmo quando uma minoria de trabalhadores radicalizados se opunha a estas guerras. A "viragem parcial" do trabalho contra guerras coloniais dos EUA ocorrida durante as da Coréia, Vietnam e Afeganistão resultou das perdas prolongadas e dos altos custos econômicos sem vitória à vista. Deveria ser acrescentado que os trabalhadores estado-unidenses, em oposição a guerras imperiais, não exprimiram solidariedade com os movimentos de libertação nacional e os movimentos de trabalhadores dos países colonizados.
O imperialismo e os "verdadeiros democratas"
Argumentar, tal como o fazem alguns na esquerda, que imperialismo não coexiste com "verdadeira" democracia é argumentar que os últimos 150 foram destituídos de eleições livres, competição de partidos e direitos dos cidadãos, ainda que reduzidos, especialmente ao longo da última década. A realidade é que a intervenção imperial e a expansão tem sido feita precisamente à custa do sentido de "obrigação" dos cidadãos de preservar as instituições democráticas, as quais permitiram a líderes imperiais obter legitimidade e apoio ativo ou aquiescência da cidadania para travar guerras coloniais sangrentas e mesmo genocidas.
Se a democracia habitualmente não tem sido um obstáculo para a expansão imperial – na verdade, uma facilitadora sob certas circunstâncias – sob que condições os movimentos de trabalhadores e cidadãos voltaram-se contra guerras imperiais? Qual foi a resposta política da classe dominante quando a maioria do eleitorado virou-se contra guerras imperiais? Por outras palavras: Quando as instituições democráticas deixam de funcionar como veículos para políticas imperiais, o que acontece?
Da democracia imperial ao estado policial imperial
Os últimos dez anos proporcionam importantes lições sobre a relação entre imperialismo e democracia nos Estados Unidos.
A partir das controversas circunstâncias políticas envolvendo terroristas que obtiveram acesso aos EUA e a seguir seqüestram os aviões do 11/Setembro/2001, o governo estado-unidense lançou duas grandes guerras coloniais e numerosos evidentes ataques "clandestinos" terrestres e aéreos na Somália, Iêmen, Paquistão, Líbia e outros países. A "guerra global ao terror", lançada sob o regime Bush e implementada por responsáveis militaristas-sionistas não eleitos em cooperação com a NATO e Israel foi apoiada pelo Congresso eleito democraticamente. Realmente, a vasta maioria do eleitorado, influenciada por uma imensa campanha de propaganda do medo, pela manipulação dos media e por mentiras endossou as guerras ao terror.
Dado o âmbito sem precedentes e a amplitude das guerras (uma guerra global ao terror), o vasto aumento das despesas militares e os enormes gastos para tudo o que se referia ao aparelho de repressão interna (Homeland Security), foi construído um novo estado policial centrado no executivo o qual substituiu as instituições democráticas existentes e os direitos dos cidadãos.
A trajetória da política imperial passou dos primeiros êxitos militares à problemática ocupação prolongada. Isto levou a um escalar da resistência, ao crescimento das despesas do estado, ao aprofundamento de crises fiscais, decadência social e aumento da oposição política.
Tal como no passado, as guerras imperiais contemporâneas que são prolongadas, custosas e sem vitória decisiva à vista levaram ao desencanto da cidadania, seguido pelo aumento da rejeição aberta. As maiorias assalariadas que votaram por decisões políticos imperiais e apoiaram a sua legislação que a permitia, incluindo leis (Patriot Act) que suspendiam direitos civis e constitucionais básicos, afastaram-se da agenda imperial. Hoje a maioria democrática dá prioridade à sua classe, seus interesses econômicos, especialmente em face de uma recessão prolongada e desemprego e subemprego próximo dos 20%. A partir de 2008-2011 as guerras infindáveis e as crises prolongadas puseram em movimento um conflito entre democracia e imperialismo.
Por outras palavras, a maioria democrática tornou-se um obstáculo à implementação e prosseguimento de guerras imperiais. A atividade militar imperial no Iraque, Afeganistão, Líbia, etc não levou a vitórias rápidas, a conquista de mercados de exportação lucrativos e tomadas de recursos naturais. Não foram criados empregos e nenhum benefício acrescido para empregados e trabalhadores no país imperial. Despesas elevadas com armas prejudicam investimentos públicos com empregos trabalho intensivo em projetos de infraestrutura criticamente atrasados. O pequeno número de empregos perigosos em países ocupados não era atraente e demasiado arriscado para os desempregados.
Por outras palavras, ao contrário da maior parte das anteriores guerras imperiais-coloniais, nada da riqueza pilhada foi utilizada para assegurar a lealdade dos trabalhadores ao império. O fardo do império progressivamente deteriora os salários e os padrões de vida dos trabalhadores assalariados. Ao longo do tempo, a tributação regressiva erodiu gradualmente qualquer sentido de grandeza chauvinista ou de superioridade. Ao invés disso, cidadãos do império desenvolveram um complexo de inferioridade política. Confrontada com oposição islâmica determinada e a ascensão do poder econômico da China, apoderou-se de uma minoria uma belicosidade exagerada e da maioria uma introspecção crítica. A consciência popular de "alguma coisa basicamente errada" em Washington e na Wall Street passou a prevalecer. Os anteriores cantos de guerra e o agitar de bandeiras irrefletido, quando os exércitos do Império marchavam para o Afeganistão e o Iraque, foram substituídos pelo derrotismo furioso contra os que os enganaram. Mais de 80% do público agora articula uma visão negativa do Congresso, rejeitando ambos os partidos da guerra. Visões negativas semelhantes são mantidas em relação à Casa Branca, ao Pentágono e ao Ministério da Segurança Interna (Homeland Security).
Após uma década de guerra e quatro anos de crise econômica, irrompem protestos em massa, o movimento Occupy Wall Street coloca novas opções sobre a mesa, deslocando a agenda imperial com uma denúncia poderosa da elite militarista-financeira.
Os governantes do executivo, especialmente os aparelhos judiciais, de inteligência e de polícia, implementam cada vez mais medidas arbitrárias de estado policial. Dezenas de milhões de cidadãos estão sujeitos à vigilância por parte do Ministério da Segurança Interna. O estado policial intercepta milhares de milhões de faxes, emails, sítios web e chamadas telefônicas. A ligação entre imperialismo e democracia rompeu-se ao ponto de o império em declínio já não poder mais assegurar o apoio ou a aquiescência do eleitorado.
Cada vez mais tramas terroristas bizarras são fabricadas pelas agências de inteligência. A trama da bomba iraniana contra o embaixador da Arábia Saudita em Washington foi o esforço mais primitivo e grosseiro para recuperar apoio público ao militarismo imperial na região do Golfo. Aparte a politicamente influente, mas infinitamente pequena, configuração de poder pró Israel-sionista, a opinião pública dos EUA não se desvia da sua agenda interna; da sua busca por empregos internos e da oposição à Wall Street.
Quando o conflito entre imperialismo e democracia se intensifica, o "consenso" anterior fratura-se. A Casa Branca e o Congresso optam pelo imperialismo apoiado num estado policial profundamente antidemocrático. A maioria do eleitorado pressiona por um avanço, utilizando seus direitos democráticos remanescentes, a fim de mudar a agenda política do império rumo a uma república social.
Conclusão
Argumentamos que império e democracia têm sido complementares em tempos de imperialismo ascendente. Mostramos que quando guerras de conquista têm sido curtas e baratas, e quando os resultados têm sido lucrativos para o capital e criam empregos para o trabalho, as maiorias democráticas unem-se no apoio a elites imperiais. Instituições democráticas floresceram quando impérios além-mar proporcionavam mercados, recursos baratos e elevavam padrões de vida. Trabalhadores votaram por partidos imperiais, mantiveram opiniões positivas de responsáveis executivos e legislativos, e aplaudiam os veteranos das guerras coloniais (nossas tropas). Alguns chegavam mesmo a voluntariar-se aderir aos militares. Com vasto apoio da cidadania ao império, o estado agia mais ou menos de acordo com as garantias constitucionais. Mas o casamento da democracia e do imperialismo não é "estrutural". Ele está dependente de uma série de condições variáveis, as quais podem causar uma ruptura profunda entre os dois, como estamos hoje a testemunhar.
Guerras imperiais prolongadas, ruinosas e custos que desgastam crescentemente padrões de vida por mais de uma geração minaram o consenso entre dominadores imperiais e cidadãos democráticos. Sinais precursores desta divergência potencial foram evidentes durante o último período da Guerra da Coréia, quando a opinião pública voltou-se contra o presidente Truman, arquiteto da Guerra-Fria e da invasão estado-unidense da Coréia. Mais evidência disso emergiu durante a Guerra do Vietnam. Confrontados com uma guerra prolongada e perdida, a qual punha em perigo as vidas e oportunidades de dezenas de milhões de americanos em idade de conscrição, milhões na vida civil e militar optaram por acabar com a guerra e questionar intervenções imperiais. O estado repressivo ainda não estava suficientemente organizado para aterrorizar e conter o levantamento democrático da década de 1970. O fim da guerra do Vietnam representou o ponto alto na tentativa da América democrática de conter o imperialismo e reconstruir a república.
As subseqüentes pequenas, rápidas, de baixo custo e militarmente com êxito intervenções imperiais no Panamá, Granada, Haiti e alhures não provocaram qualquer conflito entre imperialismo e democracia. Nem tão pouco as guerras imperiais clandestinas e por procuração na Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Angola, Moçambique, Afeganistão e nos Bálcãs provocaram qualquer oposição democrática significativa uma vez que foram de baixo custo (em vidas e financiamento) e não foram acompanhadas por quaisquer cortes drásticos em despesas sociais e rendimentos.
No princípio as atuais guerras ofensivas globais no Afeganistão, Iraque eram encaradas por alguns estrategistas imperiais à mesma luz. Vitórias rápidas, de baixo custo e com poucas despesas internas. Um oficial pró Israel altamente colocado no Pentágono argumentou mesmo que a invasão e ocupação do Iraque seria "autofinanciáveis" através de um apresamento do petróleo.
As guerras do século XXI acabaram por ser de outra forma. Elas seguiram o padrão coreano-vietnamita, não o padrão centro-americano/caribenho. Imensamente custosas, as guerras do século XXI não têm levado a vitórias rápidas e, pior ainda, ocorreram em meio a uma crise econômica sem precedentes, sem o boom manufatureiro e de mercado das décadas de 1950/1960, os quais amorteceram a retirada da Coréia e do Vietnam.
A divergência entre imperialismo e democracia tornou-se aguda. A dissensão democrática aumentou e o estado policial tornou-se mais proeminente e direto. O imperialismo confia cada vez mais na "fabricação de tramas de terror internas e externas" para aumentar os poderes da maquinaria repressiva e dominar por decreto. As exortações da Casa Branca soam falsas. O público dá cada vez menos crédito às ações dos seus governantes – detenções arbitrárias “justificáveis”, vigilância maciça e assassinatos extrajudiciais de cidadãos estado-unidenses (e mesmo dos seus filhos).
Nós agora enfrentamos perigos a longo prazo e em grande escala, inerentes a democracias imperiais. Não devido a "contradições internas" mas sim porque mais cedo ou mais tarde potencias imperiais encontram seu adversário na forma de lutas prolongadas de movimentos antiimperialistas e de libertação nacional. Só quando guerras imperiais cobram a sua postagem à maioria assalariada é que a ruptura entre democracia e imperialismo se verifica. Então e só então são ativadas forças democráticas para criar uma república democrática, com justiça social e sem império.
O perigo atual é que estruturas imperiais estão profundamente incorporadas em todas as instituições políticas chave e são apoiadas por um vasto e extenso aparelho de polícia estatal sem precedentes, o Homeland Security. Talvez seja preciso um grande choque político-militar externo para atear a espécie de levantamento democrático em massa necessário para transformar um estado imperial numa república democrática. Um crescente sentimento de isolamento e impotência afeta o regime dominante face a derrotas militares além-mar e ao implacável aprofundamento da crise econômica interna. O perigo é que estes temores e frustrações possam induzir a Casa Branca a tentar recuperar apoio popular atacando o Irão sob um pretexto fabricado. Um assalto EUA/Israel ao Irão resultará numa conflagração à escala mundial. O Irão poderia retaliar e retaliaria. Poços de petróleo sauditas e no Golfo ficariam em chamas. Rotas de navegação vitais seriam bloqueadas. Os preços dos combustíveis disparariam enquanto economias asiáticas, da UE e dos EUA entrariam em crash. Tropas iranianas com seus aliados iraquianos bloqueariam guarnições estado-unidenses em Bagdá, o Afeganistão, Paquistão e o resto do mundo muçulmano pegariam em armas. As forças dos EUA teriam de render-se ou retirar-se. A guerra estilhaçaria o Tesouro dos EUA. Os déficits disparariam fora de controle. O desemprego duplicaria. Esta seqüência provável de acontecimentos dispararia um movimento democrático maciço e uma luta decisiva entre uma república emergente a lutar por nascer e um império decadente a ameaçar arrastar o mundo para o inferno da sua própria morte.
O original encontra-se em
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=27238. Tradução de JF.
Este artigo encontra-se em http://resistir.info

O anticomunismo grosseiro de Eugênio Bucci

Por Carlos Pompe - Vermelho

 


Eugênio Bucci, professor de comunição que influencia as novas gerações de jornalistas com seus livros e aulas, vendeu sua força de trabalho para um panfleto anticomunista publicado pelas Organizações Globo, a edição do semanário Época que teve por capa “PCdoBolso”, onde estava estampada uma adulteração da logomarca do PCdoB. Os editores determinaram ao professor (de pronta obediência) que escrevesse “Por que roubam os comunistas?”.

O título já nos classifica, a mim a vocês, camaradas, como ladrões, e o autor, talvez com conhecimento de causa (no artigo, ele insinua já ter compartilhado esperanças de uma sociedade melhor, ou seja, não capitalista), propõe-se explicar porque roubamos.

Primeiro, faz digressões para mostrar intimidade da produção cultural, em especial cinematográfica e livresca. Tenta valorizar-se enquanto testemunha não só pessoal, mas intelectual – afinal, é professor universitário, autor de livros adotados em escolas e até participou do Governo Lula, como diretor da Rádio Nacional (onde conheceu o governo por dentro. Como dizia o humorista Leon Eliachar a respeito das mulheres que terminavam o relacionamento com ele, Bucci está “cuspindo no prato que o comeu”).

Segundo o artigo na Época, quando Che morreu (em 1967, Bucci tinha 9 aninhos, mas acusa), “os ladrões proliferaram nas fileiras de esquerda. Rechonchudos e felizes. Não roubaram apenas automóveis, mas utopias. Transformaram sonhos dos camaradas em butim. Estão por aí, de terno, gravata e dinheiro vivo dentro de casa. Nisso se resume o grande dilema existencial e político das organizações de esquerda”. Vale lembrar: nesse período, alguns “rechonchudos e felizes”, no Brasil, perseguidos nas cidades, estavam se deslocando para o Sul do Pará, onde aconteceu anos depois a Guerrilha do Araguaia, onde menos de uma centena de “ladrões de utopia” enfrentaram milhares de militares em defesa da democracia e do povo. Mas isso são fatos, que prejudicariam as acusações de Bucci.

Segue o formador de profissionais de comunicação: “Passemos ao Brasil de 2011. Passemos para hoje. Estamos aí atordoados com mais um escândalo, outra vez embaralhando ONGs, mas agora com militantes e ex-militantes do PCdoB e autoridades do Ministério dos Esportes. Passarão meses, talvez anos, até que saibamos quem de fato tem culpa no cartório, se é que o tabelião e os cartorários não estavam no esquema. Desde já, porém, sabemos que há milhões e milhões de reais em irregularidades, tudo em nome de dar assistência a crianças carentes que não recebiam assistência nenhuma”.

Uau! O escriba se protegeu! Não a ponto de investigar que o ministério não é “dos Esportes”, mas “do Esporte”, mas a afeição à exatidão anularia todo o seu bolodório. Nunca saberemos o que de fato aconteceu, já que até “o tabelião e os cartorários” estavam no esquema que ele não conseguiu comprovar, mas que a família Marinho e os outros donos da mídia monopolista que emprega gente como Bucci dizem ser verdade, e ponto final. O mentor de hordas de jornalistas descomprometidos com a apuração dos fatos já se traiu, em outros momentos, defendendo uma “objetividade” alheia aos fatos, e que este seu texto mostra ser uma farsa, como as muitas da ideologia burguesa, desde que se tornou reacionária. Escreveu ele, em, “A missão de servir ao cidadão e vigiar o poder” (25/9/2007) que “os veículos jornalísticos, na busca de aperfeiçoar os parâmetros de sua governança, vêm desenvolvendo métodos que garantem independência de gestão editorial em relação não apenas às intervenções dos anunciantes, mas também às interferências – demandas extra-jornalísticas – dos acionistas” (não tem como nomear quaisquer desses veículos).

Continua: “Apartidário, equilibrado – e livre. Se quer ser fiel à sua responsabilidade social, o jornalista não deve permitir que agendas, causas ou doutrinas totalizantes de uma parte da sociedade – venham elas de ONGs, de igrejas, de governos, grandes corporações, de partidos, de onde vierem – contaminem seu trabalho. É mais adequado que ele procure desvincular-se material e formalmente desses pólos de poder e de influência, sem que isso signifique desmerecer a legitimidade que eles têm”.

O jornalista é, portanto, um ser humano sem causa, sem doutrina, sem governo, sem patrão, sem partido, sem religião, sem ONG. Apesar de um mal tamanho, Bucci ainda deu uma entrevista, no dia seguinte, afirmando: “A comunicação pública só irá vingar entre nós se for independente, tanto dos governos quanto dos mercados, se for gerida com austeridade, se for uma escola para novas linguagens, se encontrar sua especificidade insubstituível. Isso é possível, mas ainda falta muito chão”. Bem, falta chão, mas garante seu sustento, quando vende sua força de trabalho para a mídia monopolista e se torna teórico da ideologia capitalista, anticomunista, portanto.

Em sua diatibre contra nós, Bucci ainda diz que, mais do que ladrões de dinheiro, somos também de utopias. Estamos “por aí, de terno, gravata e dinheiro vivo dentro de casa”. Não vou aprofundar a “acusação” de que usar terno, gravata ou ter dinheiro vivo em casa é crime – até os Marinhos, Cívitas, Frias e Mesquitas, proprietários da mídia monopolista brasileira, devem ter sentido algum desconforto quando leram isso. Vamos analisar a questão da utopia.

Utopia se refere a um projeto de sociedade, justa, mas ainda inexistente. Neste sentido, os comunistas, materialistas dialéticos, superaram a visão sonhadora do projeto, e o trouxeram para o factível, mas levando em conta as circunstâncias em que as pessoas de fato vivem, para mudar a realidade circundante. Assenhoreados de tal visão, os comunistas atuaram no Ministério do Esporte, primeiro no Governo Lula, depois no Governo Dilma.

Uma Pasta que se voltava em especial para o esporte profissional e para a demanda dos desportistas de várias modalidades, passou a adotar, sob a gestão comunista, uma orientação de inclusão social, que tantos resultados positivos tem trazido para o país e seu povo.

Tratando o tema jornalisticamente, ouçamos pessoas que labutam na área. Não é um escriba de aluguel, mas a ex-jogadora de voleibol Ana Mozer quem, voluntariamente, testemunhou no Twitter: "Minha experiência com políticas públicas de esporte começou em 2000 e segue até hoje. (...) Nesses anos, vi o país avançar, participei de vários fóruns, encontros, conferências. O Brasil do esporte ampliou, aumentou a visibilidade. Se debateu mais, aumentaram as fontes de financiamento para ações de esporte. Concentrou no rendimento, mas também criou outras frentes. Ainda há muito a avançar, mas reconheço o trabalho de Orlando Silva e equipe. Que o próximo siga avançando".

Não posso deixar de testemunhar a alegria e orgulho que me proporcionaram a atitude do Orlando Silva, dirigente do PcdoB e ex-ministro do Esporte, que fez juz à tradição que vem de Dimitrov, na época do domínio nazifascista na Europa, de que “a defesa acusa” e partiu para cima de seus detratores durante o episódio que o levou a pedir demissão do Ministério. E também da garra revolucionária dos camaradas, amigos do Partido e democratas que, nas redes sociais e por todos os meios defenderam a causa revolucionária nesta que foi, ao que tudo indica, a maior operação de “cerco e aniquilamento” dos comunistas desde o ataque final da ditadura militar à gloriosa Guerrilha do Araguaia.

Henfil, o genial humorista, irmão do Hebert de Souza, criou nos tempos da ditadura militar um “cemitério dos mortos-vivos”, onde enterrava pessoas que, mesmo talentosas, acabavam prestando serviço aos algozes. Vez por outra, ressuscitava algumas, como Clarice Lispector e Elis Regina, porque elas – e não ele – haviam mudado de comportamento. Que Eugênio Bucci saia da vala comum. Pode ser bom para o país e os oprimidos, em que pese o que signifique para o seu “dinheiro vivo dentro de casa”, que poderá ser diminuído.

Lutemos pela verdade classista, também no Twitter: @Carlopo.

Carta Aberta da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político

Várias organizações
Adital



Brasília, 26 de outubro de 2011

Ilustríssimos/as Senhores/as parlamentares da Comissão Especial da Reforma Política e líderes partidários,

Nós da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político viemos a público pedir a vossas senhorias que aprovem, com ressalvas, a proposta de reforma política apresentada pelo relator da comissão, deputado Henrique Fontana.

Em que pese a pouca ousadia do relatório de pensar o sistema político de forma mais democrática e participativa e o nosso descontentamento com alguns pontos propostos, como por exemplo, a nova regulamentação dos mecanismos de democracia direta e o não enfrentamento da subrepresentação das mulheres e da população negra e indígena, LGBTT, e a não participação da sociedade na fiscalização do processo eleitoral, defendemos a sua aprovação como estratégia para a continuidade do debate na Câmara, bem como para aperfeiçoar o relatório.

Desde 2005, a plataforma, integrada por 35 redes e articulações dos movimentos sociais que lutam por uma sociedade mais equânime e com estruturas políticas e de poder com participação social, demandam uma mudança em nosso sistema político. A votação do relatório que apresenta pontos fundamentais para essa mudança (especialmente o financiamento público exclusivo de campanha e a simplificação da iniciativa popular) para nós é um passo no sentido da democratização política que almejamos. Gostaríamos de ousar e demandar a lista fechada com alternância de sexo (1 para 1), com critérios étnico-raciais e não um sistema misto como propõe o relatório. Defendemos também uma nova regulamentação dos plebiscitos e referendos com a definição de temas obrigatórios.

O tema da reforma política é recorrente na pauta do Congresso Nacional, ainda que nenhuma proposta estruturante tenha sido aprovada, se restringindo a mudanças pequenas e insuficientes para alterar o exercício do poder. Nova Legislatura começou e deputados/as e senadores/as voltam a discutir uma proposta de reforma política.

O Parlamento é avaliado pela população brasileira como uma instituição alheia aos seus anseios, fazendo crescer a aversão cidadã com a política. Aprovar uma reforma que amplie o sentido da participação popular e da democracia é o caminho para restabelecer a credibilidade do Parlamento.

Nós da Plataforma acreditamos que o poder é da cidadania e queremos resgatar esse propósito. Assim, pedimos a aprovação de uma proposta que vá no sentido do que almejamos.

Atenciosamente,

Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político:

ABONG – Associação Brasileira de ONGs
AMB – Articulação de Mulheres Brasileiras
AMNB – Articulação de Mulheres Negras Brasileiras
ACB – Associação dos Cartunistas do Brasil
Campanha Nacional pelo Direito a Educação
CEAAL – Conselho Latino Americano de Educação
CNLB – Conselho Nacional do Laicato do Brasil
Comitê da Escola de Governo de São Paulo da Campanha em Defesa da República e da Democracia
CONFEA: Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
EPJ - Evangélicos Pela Justiça
FAOC – Fórum da Amazônia Ocidental
FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
FBO – Fórum Brasil do Orçamento
FENDH – Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos
FES – Fundação Friedrich Ebert
Fórum de Reflexão Política
Fórum Mineiro pela Reforma Política Ampla, Democrática e Participativa
FNPP – Fórum Nacional de Participação Popular
FPPP - Fórum Paulista de Participação Popular
FNRU – Fórum Nacional da Reforma Urbana
INTERVOZES – Coletivo Brasil de comunicação social
LBL – Liga Brasileira de Lésbicas
MEP – Movimento Evangélico Progressista
MCCE – Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral
MNDH – Movimento Nacional de Direitos Humanos
Movimento Pró-reforma Política com Participação Popular
Observatório da Cidadania
PAD – Processo de Diálogo e Articulação de Agências Ecumênicas e Organizações Brasileiras
Rede Brasil Sobre Instituições Financeiras Multilaterais
REBRIP – Rede Brasileira Pela Integração dos Povos
Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

Novo ministro do Esporte diz que “não é inimigo de ONGs”, mas dará prioridade a convênios...

Rebelo disse que o governo prefere desenvolver parcerias com órgãos públicos. “A prioridade do governo é outra, é trabalhar com órgãos do governo, mas não rejeitamos a presença nem a ação das ONGs.

Novo ministro do Esporte diz que “não é inimigo de ONGs”, mas dará prioridade a convênios com órgãos públicos

Brasília - O novo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse hoje (31) que vai cumprir a prioridade do governo de firmar convênios com órgãos governamentais. No entanto, ele fez questão de deixar claro que "não é inimigo das ONGs [organizações não governamentais].”

“A primeira coisa que tem que ficar clara é que o ministério e eu não somos inimigos das ONGs”, assinalou Rebelo. “Tenho um grande apreço pelas ONGs e pelo seu trabalho. Só que pelo próprio nome são organizações não governamentais.”

Rebelo disse que o governo prefere desenvolver parcerias com órgãos públicos. “A prioridade do governo é outra, é trabalhar com órgãos do governo, mas não rejeitamos a presença nem a ação das ONGs.

Agora, vamos cumprir a determinação da presidente Dilma de fazer esse trabalho neste prazo de 30 dias”, disse Rebelo, após tomar posse no Palácio do Planalto.

Segundo ele, a intenção do governo é cumprir os contratos já firmados. "Os [convênios] que estão em curso são contratos já formalizados. Se você rompe um contrato há consequências jurídicas decorrentes desse seu ato.

Agora, aqueles que forem encerrados, a minha ideia é não renovar nem fazer novos. Vamos priorizar entes públicos ou outras instituições sem fins lucrativos, mas isso eu vou examinar direito.”

Fonte: Agência brasil

Unesco vai sobreviver a corte de ajuda dos EUA, diz embaixadora brasileira

A Unesco, que aprovou nesta segunda-feira a adesão da Palestina como membro pleno da organização, "terá de conviver" com o corte da ajuda anual americana à agência da ONU, afirma a embaixadora do Brasil na Unesco, Maria Laura da Rocha.

Unesco vai sobreviver a corte de ajuda dos EUA, diz embaixadora brasileira
Contrários à entrada dos palestinos na Unesco, os Estados Unidos anunciaram a suspensão de um pagamento de US$ 60 milhões que seria feito à organização em novembro.

"Se não houver jeito e a verba não vier, vamos continuar trabalhando mesmo em situações mais difíceis", disse à BBC Brasil a embaixadora brasileira, que votou a favor da adesão da Palestina.

Ela diz, no entanto, que existe "apreensão" na Unesco em relação ao corte dos fundos americanos, já que o país é muito importante e ativo na organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, com sede em Paris.

A ajuda anual dos Estados Unidos à Unesco, de cerca de US$ 70 bilhões, representa 22% do orçamento da organização.

"Nós vamos ter de trabalhar para preservar os recursos financeiros da Unesco", declarou nesta segunda-feira o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

França e Alemanha

A Unesco foi a primeira agência da ONU a reconhecer o Estado Palestino, que se tornou o 195° membro da entidade.

A resolução foi aprovada por 107 votos a favor, 14 contra e 52 abstenções.

Brasil, China, Rússia, Índia e França (que havia expressado reservas em relação à iniciativa) estão entre os países que votaram a favor.

Estados Unidos, Alemanha e Canadá se opuseram ao ingresso da Palestina como membro pleno. A Itália e a Grã-Bretanha se abstiveram.

Os Estados Unidos declararam que a adesão da Palestina é "prematura e contraproducente".

"Essa ação realizada hoje complica nossa capacidade de apoiar os programas da Unesco", afirmou o embaixador americano na organização, David Killion.

Duas leis americanas, do início dos anos 90, proíbem que o governo desembolse recursos em organizações da ONU que reconhecerem entidades não reconhecidas internacionalmente e que tenham em seus quadros de funcionários membros da Organização para a Liberação da Palestina (OLP).

Cooperação

A diplomacia brasileira argumenta que a Unesco já estava vinculada à Autoridade Nacional Palestina (ANP), que tinha o estatuto de membro observador na organização, e que não há ligação com a OLP.

"Entre os países membros da Unesco, 107, a grande maioria, já reconhece a Palestina como Estado membro", diz a embaixadora, sugerindo que não há um problema de falta de reconhecimento internacional.

O Brasil só reconheceu oficialmente o Estado Palestino em dezembro do ano passado.

A contribuição anual do Brasil à Unesco é da ordem de US$ 5 milhões, mas o país realiza atividades de cooperação extraorçamentárias, que em 2010 atingiram US$ 70 milhões, segundo Rocha.

Para a embaixadora, a aprovação pela Unesco da entrada da Palestina "é algo natural", em razão desse amplo reconhecimento internacional, e também porque esse pedido já fazia parte da agenda da organização desde 1989.

Ela espera que esse problema em relação à legislação "possa ser contornado" pelos americanos e que isso não significa a saída do país da organização.

Rocha lembra que a Unesco continuou desempenhando suas atividades durante o período em que os americanos se retiraram da organização.

Boicote

Não é a primeira vez que os Estados Unidos suspendem a ajuda à Unesco. O país boicotou a instituição durante 18 anos, entre 1985 e 2003, alegando problemas de gestão da agência da ONU.

Rocha diz esperar que a adesão da Palestina à Unesco contribua para melhorar o diálogo entre palestinos e israelenses.

O governo de Israel, que prometeu cortar sua ajuda financeira à Unesco, diz justamente o contrário e afirma que a iniciativa irá prejudicar as negociações de paz.

A vitória diplomática dos palestinos na Unesco poderá abrir caminho para o reconhecimento do Estado pelo Conselho de Segurança da ONU, conforme pedido apresentado em setembro pelo presidente palestino, Mahmoud Abbas, e que está sendo discutido.

Fonte: BBC Brasil

Guia de boas maneiras na política. E no jornalismo

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou.

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas redes sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.

Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.

A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.

A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.

A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo numa situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião tem a obrigação de disseminar esses valores.

A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.

No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

O declínio da Europa e a ascensão financeira da China

A crise europeia, um dos temas em debate na reunião da Cúpula do G20 que começa quinta-feira (3) em Cannes, rendeu acontecimentos inusitados ao longo da semana passada.

Por Umberto Martins


Na última quinta-feira (27-10), após a reunião de líderes da Zona do Euro que decidiu cortar pela metade o valor da impagável dívida grega, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, telefonou ao homólogo chinês, Hu Jintao, com um pedido de socorro, reforçado nos dias seguintes pelo chefe do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF), o alemão Klaus Regling, que viajou a Pequim com o pires na mão.

Contraste

Já não é segredo para ninguém que a Europa está falida. Com raras exceções, que incluem a rica e poderosa Alemanha, os governos do velho continente estão às voltas com déficits explosivos e dívidas impagáveis, consequentes em certa medida das intervenções feitas para socorrer bancos em crise. Em geral, os Estados não só carecem de poupança própria como demandam desesperadamente financiamento externo e depositam minguadas esperanças na ampliação do fundo de resgate, o FEEF, ao mesmo tempo em que submetem a chamada sociedade civil a ajustes dramáticos e recessivos a pretexto de equilibrar os orçamentos.

A China, ao contrário, parece estar nadando em dinheiro. Suas reservas, que no final de setembro deste ano subiram a US$ 3,2 trilhões, constituem, neste momento crítico, um invejável excedente econômico. Trata-se de uma poupança que por definição é externa e que em maior ou menor medida pode ser usada para atenuar a crise da dívida europeia. É este o desejo dos líderes da União Europeia, que apelam ao ouro de Pequim para engordar o FEEF e viabilizar a expansão do fundo para 1 trilhão de euros.

A vida dá voltas

O episódio despertou paixões nacionalistas na França e constrangimento em muitos políticos europeus, mas a necessidade atropelou orgulhos e até agora tem falado mais alto. Trata-se de um acontecimento extraordinário, emblemático das mudanças objetivas que estão em curso na economia mundial com o progressivo deslocamento do poder econômico do chamado Ocidente para o Oriente e das potências capitalistas lideradas pelos EUA para a China.

Este movimento da história, acelerado pela crise, decorre de duas leis básicas da reprodução do capitalismo na sua fase imperialista: o desenvolvimento desigual das nações e o parasitismo econômico no antigo 1º Mundo. O que mais parece surpreendente é a rapidez da mudança. Vale recordar que foi só no final do século XX que a Europa levantou os últimos vestígios da sua presença colonial na China, com a saída de Hong Kong e de Macau.

Reflexo do crescimento

As reservas da China refletem a expansão ininterrupta do país ao ritmo médio de 10% ao ano durante as três últimas décadas, e têm, basicamente, duas fontes: o superávit obtido no comércio exterior, principalmente no intercâmbio com os EUA, e os investimentos externos realizados pelas transnacionais na economia chinesa, atraídas pelo crescimento e a perspectiva de maximização dos lucros. As potências capitalistas avançaram no mesmo período entre 2 a 3% ao ano, em meio a crises e ampliando desequilíbrios e dívidas.

Os recursos em poder do governo chinês, dirigido pelo Partido Comunista, não estão entesourados. Existem na forma de investimentos externos, principalmente em títulos. Até hoje, os EUA são o principal destino dessas aplicações. Pequim é o maior credor da Casa Branca, com mais de US$ 1 trilhão em títulos públicos do Tesouro americano.

A Europa também está em dívida com Pequim, que já investiu US$ 500 bilhões na região. Os europeus esperam ampliar esta participação e ao que tudo indica contam com a boa vontade dos líderes asiáticos neste sentido. A China é a maior exportadora mundial e a Europa é o seu maior mercado, absorvendo um quinto das suas vendas – os Estados Unidos são o segundo, com cerca de 18%.

Toma lá dá cá

Os interesses da China vão além do comércio. O país também tem interesse em diversificar seus investimentos externos, reduzindo ainda mais sua exposição ao dólar, embora isto possa acarretar problemas de financiamento para a dívida estadunidense. O ministro chinês de Comércio Exterior, Chen Deming, reiterou nesta segunda-feira (31) que o país está disposto a ajudar o combalido bloco europeu, "já que todos os países estão no mesmo barco e precisam cooperar para que a Europa se recupere". Ele prometeu um "apoio real".

Mas a ajuda, se for concretizada, não sairá de graça. As relações entre nações são mais baseadas em interesses do que em qualquer outra consideração. Por isto, é quase sempre na base do toma lá dá cá. Entre outras coisas, os líderes chineses pedem, em contrapartida, garantia para seus investimentos, reconhecimento do país como economia de mercado e fim ou abrandamento de muitas restrições, especialmente as que estão associadas a áreas sensíveis de alta tecnologia.

Preferência por ativos reais


A conjuntura turva também abriu os olhos dos chineses para os riscos embutidos nos investimentos em títulos, que Karl Marx computava como capital fictício, cujo valor (descolado, mas não independente da produção) pode depreciar, como ocorre com os ativos denominados em dólar, ou mesmo derreter. Por isto, os chineses fizeram notar que preferem investir suas reservas em ativos reais, o que se faz através de investimentos diretos seja na aquisição de empresas (como acaba de ocorrer com a Swedish Automobile NV – Swan -, proprietária da Saab) ou instalação de novas unidades produtivas.

As reservas constituem um poderoso instrumento da projeção do poder econômico da China pelo mundo. A força da riqueza que nasce do trabalho do povo chinês e se reproduz principalmente na indústria, disseminada no comércio exterior, já transformou a próspera nação asiática numa potência financeira, revolucionando a geografia econômica e política e tornando mais candente a necessidade de uma nova ordem mundial.

Fonte:
www.vermelho.org.br

O superávit primário e a desaceleração da economia nacional

Editorial do vermelho

O superávit primário do setor público consolidado (conceito que reúne União, estados, municípios e empresas estatais) chegou a R$ 104,637 bilhões nos primeiros nove meses de 2011, resultado significativamente maior que os R$ 76,938 bilhões registrados em igual período de 2010 e bem próximo da meta estabelecida para o ano, ampliada após a posse de Dilma para R$ 127,9 bilhões.

Em setembro, a economia entre receitas e despesas do setor público (excetuando juros) foi de R$ 8,096 bilhões, de acordo com informações do Banco Central (BC). Tanto dinheiro não foi, porém, suficiente para cobrir os gastos com juros, que chegaram a R$ 17,267 bilhões, gerando um déficit nominal de R$ 9,171 bilhões, coberto com a emissão de novos títulos da dívida pública.

A elevação do superávit primário é considerada uma notícia alvissareira pela equipe econômica do governo e agentes do sistema financeiro, que a interpretam como um sinal inequívoco de que o Brasil continua fazendo a coisa certa em matéria de política fiscal, de forma a manter num patamar confortável a relação dívida/PIB.

Mas o povo brasileiro não tem razões para comemorar nem observar tal resultado com os mesmos olhos do mercado. É indispensável notar que ele traduz uma brutal e escandalosa transferência de recursos públicos, que por definição são recursos do povo, para o bolso dos credores das dívidas governamentais, principalmente bancos e grandes investidores. Isto não sai de graça.

Apesar de exibir uma relação dívida/PIB (em torno de 40%) invejável para muitos países (os EUA, por exemplo, devem cerca de 100% do que produzem, a Grécia em torno de 160%, Itália mais que 120% e o Reino Unido 80%), o Brasil é o segundo país que mais gasta com juros em todo o mundo. Estima-se que neste ano 5,5% do valor da produção nacional serão canalizados para tal objetivo.

O primeiro lugar neste triste ranking é ocupado pela Grécia, onde os credores devem se apropriar, até o final de dezembro, de nada menos que 9% do PIB. Os Estados Unidos, com uma dívida pública superior a US$ 14 trilhões, praticamente do mesmo tamanho do PIB e cerca de 28 dívidas gregas, dedicam 1,4% da produção ao pagamento de juros.

A diferença, aberrante, tem sua explicação singela na taxa real de juros. A magnitude do valor dos juros pagos depende mais da taxa do que do tamanho da dívida e o Brasil continua praticando as mais altas taxas de juros do mundo. É o fruto de uma política monetária conservadora, parte da herança maldita do neoliberalismo tucano (ao lado do câmbio flutuante e do superávit primário) consagrada na famosa Carta aos Brasileiros. Uma política que nos é vendida por porta-vozes autorizados do mercado como sábia e indispensável à estabilidade econômica, mas que na realidade é prisioneira dos interesses tão nocivos quanto poderosos do capital financeiro.

São muitos os efeitos colaterais da transferência de riqueza arrecadada do conjunto da sociedade para os rentistas que dominam o sistema financeiro e não precisam produzir nada para acumular capital. Os governos são forçados a poupar sacrificando despesas com a saúde, que vai de mal a pior, educação, infraestrutura, que continua precária, apesar do PAC, e outros investimentos produtivos.

O saldo final do superávit primário é uma redução da taxa de consumo e de investimentos no país. Isto ficou transparente nas medidas adotadas pelo governo no primeiro semestre deste ano com o objetivo de desacelerar o crescimento da economia, um corte cavalar (R$ 50 bilhões) nos gastos públicos, associado inicialmente a cinco rodadas de elevação da taxa de juros.

O agravamento da crise do capitalismo na Europa e nos EUA levou o governo a rever a orientação monetária e iniciar uma política de redução da taxa de juros que ainda é considerada demasiadamente tímida por trabalhadores e empresários do setor produtivo e está longe de tirar o Brasil da liderança mundial dos juros altos.

A desaceleração econômica é um fato que merece ser observado com redobrada preocupação num cenário global carregado de instabilidade e temores de uma nova recessão. O interesse nacional no desenvolvimento será melhor contemplado com maior ousadia na política monetária e ampliação dos investimentos públicos, o que requer a redução do superávit fiscal primário. Os obstáculos ideológicos e políticos neste caminho não são desconhecidos. Refletem os interesses predominantes no sistema financeiro, ecoados na mídia hegemônica, que devem ser enfrentados e superados.

Repúdio ao tribunal midiático no Brasil

Moção apresentada no Encontro Mundial de Blogueiros:

Nas últimas semanas, a mídia hegemônica mostrou mais uma vez suas garras. De forma inescrupulosa, se aproveitou de denúncias vazias para governar o país no grito.

Inconformados com o fato de terem perdido nas urnas a eleição presidencial, tentam impor uma agenda negativa para a nova presidente, tendo como foco a desmoralização dos quadros políticos que ocupam seu primeiro escalão. Com muito orgulho, os barões da mídia se vangloriam de ter derrubado o 6º ministro de estado em 10 meses de governo.

O alvo da vez foi o ex-ministro do Esporte Orlando Silva. Baseados em afirmações feitas por um homem com extensa ficha corrida na justiça, acionado por ter desviado milhões dos cofres públicos e que não apresentou nenhuma prova contra o ex-ministro, a mídia criou um tribunal de exceção para julgar e condenar publicamente Orlando Silva. Num primeiro momento, a presidente Dilma Rousseff resistiu à investida da mídia, mas não suportou a pressão e cedeu à chantagem midiática.

Ao se curvar, mais uma vez, aos interesses dos grandes conglomerados de comunicação e se pautar pela efemeridade das pesquisas de opinião, a presidente Dilma cria um perigoso precedente para a democracia brasileira e uma arapuca para o seu governo.

No primeiro caso, porque qualquer pessoa pública passa a ter o ônus da prova de sua inocência, violando um princípio Constitucional, e pode ser fuzilada no paredão da sanha reacionária. No segundo, porque a mídia e a elite conservadora que ela representa se sentem fortes para continuar a investida contra o seu governo. Já há, inclusive, os que apontam os próximos alvos. Engana-se a presidente se ela acredita que adotando uma postura subserviente à mídia ela estará fora do alcance dos seus fuzis.

Nessa guerra midiática, a estratégia da mídia e das elites é desmoralizar os partidos que compõe a base do governo e seu primeiro escalão com o objetivo de enfraquecer a presidente, que pode ser o próximo alvo.

Este episódio só fortalece a necessidade de o Brasil discutir urgentemente um marco regulatório para as comunicações. A mídia ataca os que defendem a regulação porque tem o monopólio da capacidade de gerar escândalos – mesmo que a partir de fatos que não os justifiquem – ou de abafá-los, quando lhes interessa. O país não pode mais ser refém das vontades políticas das poucas famílias que controlam 80% do conteúdo dos meios de comunicação. Só por meio da regulação é possível garantir a liberdade de expressão para todos, ampliar o pluralismo e a diversidade da comunicação brasileira.