quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Refúgio de canalhas

Por Theófilo Silva
 
“Quem é Charles Augustus Milverton, Holmes? O maior canalha de Londres, Watson”, responde Sherlock Holmes. O maior detetive de todos os tempos não economizou no adjetivo ao qualificar o sujeito, cuja ocupação era achacar pessoas honradas.
 
Chamo também de canalhas, aqueles que maculam a honra alheia plantando mentiras em veículos de comunicação. A pistolagem moderna – mesmo que ainda existam pistoleiros – chama-se reportagem caluniosa, uma matéria jornalística, imputando um crime a alguém, sem nenhuma prova material. É de pensar que esses textos são feitos apenas por crápulas que escrevem em Blogs de aluguel. Mas não é. A prática está disseminada em grandes veículos de comunicação, que estão rompendo com as mais elementares regras do jornalismo. Não estou me referindo ao caso do ministro dos esportes, nem sobre comentários de leitores em artigos e matérias em geral.

Falo dos órgãos de imprensa que estão entrando no mesmo nível de marginalidade dos adversários que combatem; usando os mesmos métodos vergonhosos de seus acusados; a mesma prática suja dos homens públicos envolvidos em falcatruas, e isso é muito ruim. Governo é para apanhar. A imprensa tem que fiscalizar, escarafunchar, desmascarar, bater mesmo. Outra coisa é colocar pessoas honradas no mesmo saco dos sujos, imputando-lhes crimes para atingir outrem. Essa prática é mercenária.

Ninguém é ingênuo, ao ponto de pensar que órgãos de imprensa e jornalistas não têm lado e que, a verdade não seja sacrificada em nome de interesses, sejam eles quais forem. Mesmo nos EUA e Inglaterra, a imprensa age assim. O velho inescrupuloso, Rupert Murdoch, dono de um império de comunicações, é prova disso. A diferença é que, nesses países, a justiça funciona, e os caluniadores pagam caro por suas canalhices.

Costumo dizer em rodas de conversa, debatendo nossos problemas, que, no Brasil, você gira, gira, discutindo coisas e, no final, conclui que nossas desgraças são causadas pela ineficiência do nosso estado de direito. Nossa justiça é ruim, muito ruim. Não temos como deter a corrupção no Brasil, em suas múltiplas formas, se não punirmos as pessoas. A Inglaterra deu certo por isso, e a Grécia está agonizando por que é corrupta.

Difamadores de aluguel sempre existiram, jornais venais também. Há cinco séculos, um caluniador chamado Aretino vendia sua verve a quem pagasse mais. Era contratado por nobres para destruir a reputação de seus inimigos, com seus panfletos difamatórios. Aretino chegou a ser apunhalado e espancado por suas vítimas, várias vezes.

A imprensa é livre e deve permanecer assim. Tudo que for visto de errado deve ser denunciado, principalmente na esfera pública. Mas o que fazer com os caluniadores e defensores de bandidos, contratados para espalhar mentiras, escondidos nas redações? Infelizmente, o refúgio para esses canalhas, como diria o Dr. Johnson, no Brasil, é o poder judiciário, que, na sua incompetência, não os pune como deveria.

Que ninguém pense que estou atacando o trabalho fiscalizador da imprensa séria. Do mesmo jeito que bato em homens públicos corruptos, todas as semanas, neste espaço, é meu dever também acusar o jornalismo nefasto.

Shakespeare nos disse em Medida por Medida: “Nem a grandeza, nem o poder, neste mundo mortal, podem escapar da calúnia que fere pelas costas e ataca a mais branca das virtudes.”. E pergunta: “Que Rei é bastante poderoso para conter o fel de uma língua caluniadora?”. A resposta é, nenhum!

No passado, os ofendidos defendiam sua honra em duelos com pistolas, mas a lei proibiu a prática. Hoje, apenas os caluniadores podem usar pistolas e atirar pelas costas. No Brasil, a justiça garante!

Theófilo Silva é articulista colaborador da Rádio do Moreno

Em votação na ONU, 186 países aprovam fim de bloqueio a Cuba

Por Karol Assunção
Fonte: Adital
 
Pela vigésima vez, o bloqueio econômico a Cuba foi tema de votação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Como nas edições anteriores, os participantes da Assembleia rechaçaram o bloqueio econômico, comercial e financeiro promovido pelos Estados Unidos contra a nação cubana. A votação terminou na tarde desta terça-feira (25) com 186 votos a favor do desbloqueio, dois contra e três abstenções.

A votação de hoje contou com 191 das 193 nações que fazem parte do organismo internacional. Assim como a realizada no ano passado, os dois votos negativos foram dos Estados Unidos e de Israel. Ilhas Marshall, Micronésia e Palau se abstiveram e Suécia e Líbia não participaram da votação.

Esta foi a vigésima votação – terceira na gestão do mandatário estadunidense Barack Obama - realizada nas Nações Unidas sobre o bloqueio estadunidense a Cuba. A primeira, segundo informações de Telesur, ocorreu em 1992, quando 59 países votaram a favor do desbloqueio, três contra e 71 se abstiveram. De lá para cá, as votações se repetiram, com rechaço cada vez maior ao bloqueio.

De acordo com um informe apresentado pelo Ministério das Relações Exteriores de Cuba à Assembleia da ONU por ocasião da votação, o bloqueio estadunidense causou, até 2010, um prejuízo econômico por volta de 975 bilhões de dólares à ilha caribenha. Segundo o relatório cubano, apesar de algumas medidas positivas promovidas pelos Estados Unidos, o bloqueio permanece.

"Apesar da retórica oficial que pretende convencer a opinião pública internacional de que o atual Governo norte-americano tem introduzido uma política de mudanças positivas, Cuba continua também sem poder comercializar com subsidiárias de empresas norte-americanas em países terceiros e os empresários de nações terceiras interessados em investir em Cuba são sistematicamente ameaçados e incluídos em listas negras”, destaca o informe.

Além disso, o Ministério das Relações Exteriores de Cuba revela que o país continua sem poder exportar e importar produtos e serviços dos Estados Unidos, assim como não pode utilizar o dólar norte-americano em negócios internacionais ou possuir contas com essa moeda em bancos de outros países. O documento cubano ainda lembra que o país não tem acesso a créditos de bancos estadunidenses nem de instituições financeiras internacionais.

"O bloqueio viola o Direito Internacional, é contrário aos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas e constitui uma transgressão ao direito à paz, ao desenvolvimento e à segurança de um Estado soberano. É, em sua essência e objetivos, um ato de agressão unilateral e uma ameaça permanente contra a estabilidade de um país. O bloqueio constitui uma violação massiva, flagrante e sistemática dos direitos humanos de todo um povo. Viola também os direitos constitucionais do povo norte-americano, ao infringir sua liberdade de viajar a Cuba. Viola, ademais, os direitos soberanos de muitos outros Estados por seu caráter extraterritorial”, ressalta.

Para ler o relatório completo, acesse: http://www.cubaminrex.cu/

Negro, nordestino, 30 anos: perfil do trabalhador em regime forçado no Brasil

Por Vitor Nuzzi
Fonte: Rede Brasil Atual
 
OIT divulga relatório sobre trabalho escravo rural, "a mais clara antítese do trabalho decente"

Eles têm em média 32 anos, mas alguns aparentam "idade bem superior à que tinham em decorrência do trabalho duro e extenuante no campo", aponta relatório divulgado nesta terça-feira (25) pelo escritório brasileiro da Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre o trabalho escravo rural.

Desde 1995, mais de 40 mil pessoas foram resgatadas de condição análoga à escravidão. "Invariavelmente sua aparência nas diferentes fazendas era semelhante: roupas e calçados rotos, mãos calejadas, pele queimada do sol, dentes não cuidados", diz o relatório a respeito dos trabalhadores entrevistados. "O trabalho forçado constitui a mais clara antítese do trabalho decente”, afirma a diretora do escritório, Laís Abramo.

Segundo a pesquisa, 53% dos trabalhadores tinham menos de 30 anos, o que é considerado compreensível em razão de o trabalho exigir uso de força física. Mesmo assim, trabalhadores com 50 anos ou mais correspondiam a 7,4%, dado considerado surpreendente pela OIT, "tendo em vista se tratar de trabalho exaustivo e pesado".

O levantamento detecta o que se chamou de outra face perversa da exploração: o trabalho infantil. "Praticamente todos os entrevistados na pesquisa de campo (92,6%) iniciaram sua vida profissional antes dos 16 anos. A idade média em que começaram a trabalhar é de 11,4 anos, sendo que aproximadamente 40% iniciaram antes desta idade", aponta a pesquisa. Quase 70% trabalhavam no âmbito familiar, enquanto os demais "já trabalhavam para um empregador, juntamente com a família (10%) ou diretamente para um patrão (20,6%)".

Os negros correspondiam a 80% do total. Na pesquisa, "negros" são os que se declararam pretos ou pardos. "Chama a atenção a proporção de pretos entre os trabalhadores pesquisados (18,2%), um percentual 2,5 vezes superior ao encontrado na população brasileira (6,9%)", diz a OIT.

Segundo o coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da entidade, Luiz Antonio Machado, as informações obtidas na pesquisa de campo vão ao encontro do banco de dados do Ministério do Trabalho e Emprego, que em 1995 criou o Grupo Especial de Fiscalização Móvel.

Ele chama a atenção para a vulnerabilidade social como principal fator de exposição à situação de trabalho degradante. "A pobreza é um catalisador desse problema social. É preciso garantir assistência às vítimas, para diminuir a vulnerabilidade, porque senão acabam voltando”. Entre os trabalhadores entrevistados, diz a OIT, quase 60% já haviam passado anteriormente pela situação de trabalho escravo.

A renda média declarada pelos entrevistados foi de 1,3 salário mínimo – 40,5% disseram receber até um mínimo e 44,8%, de um a dois. Com grande diferença regional: 55,5% dos trabalhadores do Nordeste disseram receber até um salário mínimo  por mês, ante 21,5% do Norte e Centro-Oeste. E 77,6% dos trabalhadores nasceram na região Nordeste - 41,2% dos entrevistados eram naturais do Maranhão, bem à frente dos nascidos na Bahia (18,2%), na Paraíba (8,2%) e Piauí, Tocantins, Mato Grosso e Paraná (5% cada).

A pesquisa foi realizada por pesquisadores que colaboram com o Grupo de Estudo e Pesquisa Trabalho Escravo Contemporâneo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GPTEC/UFRJ), de 2007 a 2009 e de 2010 até agora, com supervisão da OIT. Foram visitadas dez fazendas, cinco de pecuária, e entrevistados 121 trabalhadores.

Também foram entrevistados empregadores. Quase todos se manifestaram contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438, de combate ao trabalho escravo. "Se vier a acontecer isso vai ser uma revolta muito grande. Tem que ser bem analisado. É tão fácil vir lei de lá de cima para a gente engolir", disse um deles. Os donos de fazenda também se queixaram dos métodos, considerados às vezes agressivos, da fiscalização.

A histeria de mídia contra Cristina

Por José Dirceu, em seu blog:

A mídia argentina continua inconformada com a vitória esmagadora, no 1º turno, da presidenta Cristina Kirchner em sua reeleição no último domingo. A de lá e a daqui, tão conservadora quanto, ampliam o som de suas trombetas contra a vitória popular, nas urnas, da presidenta. O coro dos inconformados cresce ainda mais e se torna ensurdecedor, porque concluída a apuração, confirmou-se que a chefe do governo venceu de ponta a ponta, obtendo, inclusive, a maioria de que não dispunha no Congresso Nacional - nas duas Casas.

Assim, a presidenta reelegeu-se domingo, ainda nem assumiu o seu 2º mandato, e lá - como aqui contra o ex-presidente Lula - já começou a grita dizendo que ela vai mudar a Constituição para obter um 3º mandato. Cristina Kirchner, como frisei, nem assumiu o 2º! E nunca disse que vai mudar a Constituição de seu país nesse ponto. Prepare-se sra. Kirchner! Aqui, enquanto Lula presidente, nós lemos, vimos, ouvimos e vivemos essa grita durante quase oito anos...

Aproveitam a campanha de desqualificação da presidenta e de sua vitória para ir embutindo no noticiário suas posições contrárias a decisões que serão tomadas pela mandatária argentina e que fira seus interesses econômicos. A última destas é que o governo da sra. Kirchner deve enviar nos próximos dias ao Congresso uma proposta para considerar "de interesse nacional" a produção de papel imprensa.

Mídia só teme sobrevivência em governo de esquerda, da direita, não

A iniciativa, protestam os grupos midiáticos conservadores da oposição, "Clarín" e "La Nación", coloca em risco os principais jornais oposicionistas - leia-se, eles. Mas, atualmente, eles já dividem com o próprio governo a propriedade da única produtora do material no país, a Papel Prensa.

Prestem atenção: ter uma associação com o governo numa empresa para produzir papel não limita a liberdade da imprensa, tão ao gosto do discurso permanente dessa mídia? E o que explica, então, essa associação dos grandes jornalões com o governo já existente na Papel Prensa? É porque o governo era de direita quando a aliança, a sociedade Estado-empresarial foi feita?

Associação com um governo de direita numa fábrica de papel para produzir jornais pode? Com um governo de centro-esquerda, como o da presidenta Cristina, não, é ameaça a liberdade de imprensa? Então, aliança da mídia com governo de direita não ameaça a liberdade de imprensa, só com governo de esquerda, ou de centro-esquerda?

O direito reside na força, da moral!

Por Genaldo de Melo

Um dos mais sanguinários monstros da arte de comunicar, de formar opinião a partir da mentira repetida minuciosa e insistentemente, deve está se rebulindo de inveja nas chamas do inferno. Joseph Goebbels, o pai da propaganda mentirosa nazista, deve está realmente com esse sentimento destrutivo da natureza humana, pois setores da mídia brasileira estão de fato conseguindo superá-lo na arte de mentir e tentar convencer a sociedade com fatos sem fundamento e sem noção.

Ele conseguiu convencer uma nação inteira de que era necessário realmente exterminar todos os judeus, porque segundo o mesmo os alemães eram superiores e tinha a missão de purificar a humanidade. Os setores conservadores do Brasil que coordenam determinados espaços de mídia não estão apenas imitando o chefe da propaganda nazista.  Eles estão de fato é superando o desgraçado assassino.

Estão escancarando com a utilização desse poder de informar com a mentira para derrubar a Presidente da República. Estão passando dos limites e muita gente não enxerga ou não quer enxergar mesmo, pelo simples fato de não ter tempo suficiente para pensar, pois o grande irmão orwelliano está pensando por todos, como se fossemos limitados para tanto. E olhe que alguns que têm a capacidade de enxergar o que está acontecendo, e até pensar um pouco, estão sendo literalmente enxertados de ideias mentirosas por jornalistas sem compromisso com a verdade.

Donos de tevês, revistas e tabloides sensacionalistas estão literalmente tentando substituir quem de fato representa politicamente os interesses difusos da sociedade brasileira. Alguns desses conglomerados midiáticos são coordenados por pessoas que estão no auge da megalomania, querendo ser os semideuses das comunicações. E você que está compreendendo o que está acontecendo não pode nem sequer falar em nomes, porque senão pode ser processado e cair nas malhas dos artigos 138, 139, 140 e 141 do Código Penal. E sem dinheiro você pode apodrecer numa cadeia ou no ostracismo social.

Tem uma frase que pela pujança de sua força conceitual está ficando na prática em moda no Brasil: “o direito reside na força”. O direito de dizer qualquer coisa, independente se é verdade ou não, contra pessoas de bem, pelo simples fato de ser o “trator” no processo de comunicar e formar opinião a partir da mentira. Os donos desse modo de fazer comunicação no Brasil fazem cálculos do custo-benefício, e podem guardar dinheiro para pagar pequenas indenizações aos ofendidos. Mas nenhuma força é maior que a força da moral, da honestidade, da ética e da honra.

Não adianta inventar tanto, porque não estamos na Alemanha hitlerista dos idos dos anos trinta e quarenta, quando era tão ridículo ser inteligente. Não somos tão abastados como os setores conservadores da sociedade brasileira, mas literalmente falando não somos limitados, bem como não precisamos inventar factoides para estarmos no poder. A verdade se liberta da mentira, quando os idiotas mexem com as pessoas que vivem da verdade. O direito reside na força da moral.

WikiLeaks e a hipocrisia da mídia

Por Paulo Moreira Leite, no blog Vamos combinar:

Há menos de um mês, um número colossal de jornalistas levantou-se para defender uma propaganda de sutiã e calcinha.

Agora, ouço o silencio barulhento sobre o bloqueio econômico ao Wikileaks. É de envergonhar.

Vamos combinar. O sutiã e a calcinha de Gisele Bundchen faziam parte de uma campanha publicitária. Como diz o estatuto do conselho que regula o trabalho das agencias, é um debate que expressa a liberdade de expressão comercial. Você pode até considerar que o esforço para tirar a propaganda do ar foi um absurdo mas tem de reconhecer que há uma diferença nessa discussão.

O Wikileaks é parte da liberdade de expressão — sem adjetivos. Com certeza, seus documentos incomodam. São provocadores, como acontece com todas revelações que mostram que o rei está nu.

Foi assim, há mais de três décadas, com os papéis do Pentágono, que, graças a uma senteça da Suprema Corte, o New York Times pode divulgar em plena Guerra do Vietnã, trazendo para o público americano as discussões internas de Washington sobre o conflito.

A liberdade de expressão pode ser tão inconveniente como toda denúncia que incomoda os donos do poder nos EUA, na França, na Russia e no Brasil.

Ao liberar um conjunto de 250 000 documentos da diplomacia americana o Wikileaks prestou um favor à democracia mundial. Contribuiu para a transparência. Permitiu que os cidadãos ficassem melhor informados sobre a atuação do governo americano. Flagrou figurões que diziam uma coisa em público e falavam o oposto quando se encontravam com a diplomatas dos EUA.

Numa demonstração de que não pretendia fazer um serviço leviano nem irresponsável, o Wikileaks entregou seu arquivo para respeitáveis veículos da imprensa internacional, reconhecidos por sua credibilidade e senso de responsabilidade. Nos EUA, o órgão escolhido foi o New York Times. Na França, Le Monde. Na Espanha, El País. E assim por diante.

Mesmo assim, a Casa Branca decidiu mobilizar sua máquina política para sufocar a organização. Mantem atrás das grades o militar que é suspeito — apenas isso, suspeito — de fornecer os documentos divulgados.

Seria equivalente a mandar prender o executivo do FBI que estava por trás das denuncias que alimentaram o escândalo Watergate.

Traduzindo em termos brasileiros e atuais, seria o mesmo que o governo Dilma Rousseff mandar prender o PM que faz acusações contra o ministro dos Esportes Orlando Silva — e olha que ele nem sempre se apoia em documentação tão sólida para dizer o que diz. Imagino a reação.

Não importa. Washington foi mais fundo. Pressionou empresas de cartão de crédito e outras instituições financeiras para cortar os canais de financiamento do Wikileaks, num esforço óbvio para inviabilizar seu funcionamento. Numa demonstração de que o mercado nem sempre obedece a uma célebre mão invisível, elas preferiram atender aos apelos da Casa Branca e interromper os pagamentos que garantiam o funcionamento do Wikileaks.

É inacreditável.

Reeleição de Cristina Kirchner é vitória para toda a AL

Editorial do Vermelho

A América Latina assistiu, neste final de semana, a um dos capítulos mais sólidos do processo de fortalecimento democrático do continente. No domingo (23), 54% dos argentinos respaldaram a atual gestão de Cristina Kirchner. A vitória acachapante da atual presidente, que concorria à reeleição, é uma mostra do avanço dos povos latino-americanos rumo a uma administração independente, com crescimento econômico respaldado por maior justiça social e soberania.

Esse movimento progressista na América se estende por mais de uma década, tendo como expoentes no continente os governos de Argentina, Bolívia, Brasil, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Venezuela, além de Cuba – que há meio século desafia o governo estadunidense, responsável pelo criminoso bloqueio econômico imposto à ilha. Historicamente considerados “quintal” dos Estados Unidos, esses países romperam com o Consenso de Washington vigente durante a década de 1990 e ousaram reivindicar a independência dos povos, tendo como prioridade os avanços na área social e a consolidação do vitorioso processo de fortalecimento de uma América Latina soberana, que caminha para a superação das desigualdades e injustiças do continente.

Mas esse é um pecado que a direita subserviente ao Império não perdoa.

O ranço histórico dos setores conservadores é agravado pelo fato de que os meios de comunicação, convertidos em partidos políticos de manutenção do status quo, não conseguem impedir o avanço histórico das forças de esquerda no continente. Durante o todo o processo eleitoral da Argentina, jornais a serviço das classes dominantes fizeram intensa campanha contra Cristina Kirchner tentando, de todas as formas, demonizar e desqualificar seu governo.

O jornal Tiempo Argentino publicou, em setembro, uma pesquisa revelando que o grupo Clarín, maior conglomerado de mídia do país, publicou, em 15 meses, 347 capas negativas sobre o governo. Apesar disso, a presidente conseguiu, nas urnas, assegurar o processo de mudança iniciado por seu marido, Néstor Kirchner, quando assumiu a presidência em 2003, após uma ofensiva pelo desmantelamento do Estado perpetrada pelos governos neoliberais de Carlos Saúl Menem (1989 e 1999) e Fernando de La Rúa (1999-2001). O desespero dos meios argentinos pôde ser verificado no período que antecedeu as Primárias Abertas Simultâneas Obrigatórias (Paso), realizadas em agosto, quando a leitura dos grandes jornais do país deixava dúvidas sobre a reeleição de Cristina e propagava uma reação inexistente dos candidatos da oposição.

Observa-se, no entanto que, assim como no Brasil, a imprensa golpista argentina não conseguiu manipular a opinião pública do país que, frente aos avanços reais da sociedade, respaldou Cristina com mais um mandato. Uma pesquisa de boca de urna realizada pela Universidade de Buenos Aires (UBA) revelou que, dos dez indicadores considerados relevantes para os cidadãos, seis tiveram melhoras significativas nos últimos quatro anos: economia pessoal e familiar, economia nacional, educação, salários, empregos e aposentadoria. As maiores preocupações dos cidadãos argentinos são com segurança e emprego.

Sequer a evidência de que a economia argentina está crescendo de maneira sustentável é suficiente para acalmar os ânimos da direita rancorosa. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, neste ano, o país dispõe de um superávit comercial de mais de US$ 9 bilhões, o que deixa o governo em condições de pagar a dívida pública e controlar a fuga de capitais, mas os meios argentinos insistem em acusar o governo de manipulação dos dados oficiais da economia.

Descredibilizados, os veículos hegemônicos criaram mais um factóide, que já aparece também na imprensa brasileira, em comentários e reportagens nada isentas. Esta argumenta que a maioria parlamentar obtida pela presidente representa um “perigo” para a democracia. Fala em “controle do Congresso”, em superpoderes, “hiperpresidencialismo”, revela o “temor” de um suposto “radicalismo” no país. Esse discurso retrata o temor do que os argentinos chamam de “aprofundar o modelo” e dos avanços na democratização dos meios de comunicação, tal como ocorreu com a criação da Lei dos Meios, cujo objetivo é impedir a formação de monopólios impondo limites à concentração e fixando cotas à quantidade de licenças por tipo de meios.

Tudo indica que o terceiro mandato do partido Peronista na Argentina vai aprofundar as mudanças iniciadas em 2003. Oxalá que assim seja e que possamos tomar como exemplo os avanços conseguidos pelo país vizinho. De acordo com Patricio Echegaray, secretário-geral do Partido Comunista da Argentina, em artigo publicado em seu blog, a mudança estrutural no capitalismo da Argentina “é a única forma de impedir a ofensiva restauradora das direitas ou uma possível descomposição que pode afetar o chamado projeto nacional”.

Eric Toussaint: "As causas da crise são ilegítimas"

O professor Eric Toussaint escreveu e coordenou, junto com Damien Millet, uma obra lintitulada La deuda o la vida (A dívida ou a vida), publicado pela Editora Icaria. Às vésperas da manifestação dos indignados no 15 de outubro, em diferentes cidades da Europa, tendo Bruxelas como epicentro, a questão da dívida soberana e da crise na Zona do Euro assume papel central na discussão.

Por Màrius Fort, no La Vanguardia


Toussaint, presidente do Comitê de Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), oferece um seu último livro sua perspectiva a respeito da aual situação de crise que atravessa a Europa, e que, interpreta, não é muito diferente do que aconteceu nos países da América Latina nos anos 80 e 90 do século passado.

O título do livro é A dívida ou a vida. Dito assim, parece que alguém está nos roubando.
Claro que nos roubam. Os grandes acionistas dos bancos continuam tendo hoje toda a liberdade para fazerem o que quiserem, apesar da crise, apesar dos aspectos mais controversos de suas atividades. Aspectos que, vale lembrar, provocaram precisamente a crise em 2007, uma crise que teve início nos Estados Unidos e que finalmente contagiou a Europa. E, apesar de suas atividades prejudiciais, nem os Estados Unidos nem ninguém tem realmente tomado medidas para disciplinar essas instituições. Agora, novamente, muitas delas estão perto de quebrar, como aconteceu com o banco franco-belga Dexia, que teve que ser resgatado pela segunda vez, exatamente três anos depois do primeiro resgate. É preciso lembrar que as instituições bancárias estão tão interconectadas entre elas que a quebra de uma ou de duas pode ter um efeito desastroso sobre o conjunto do sistema financeiro. Não se pode subestimar os perigos reais nesse aspecto.

Por que os mercados não atormentam a França e a Alemanha, que possuem uma dívida pública maior que a Espanha?

Os mercados, quero dizer, os grandes bancos, os fundos de pensão, as seguradoras, o que chamamos de investidores institucionais, especulam com os elos fracos da União Europeia, que agora são países como Grécia, Portugal, Espanha ou Itália. Não há dúvida que em um ano, ou talvez menos, também especularão com França e Bélgica, meu país. No caso belga, acredito acontecerá em questão de semanas ou meses. O spread atual é de mais de 200 pontos básicos. É mais fácil atacar os elos mais fracos de uma cadeia do que começar a atacar os mais fortes. Isso não quer dizer que vão parar. Espanha e Itália serão os próximos, depois França e, talvez por último, Alemanha. Ninguém na União Europeia pode se considerar imune frente aos mercados que atuam com total liberdade para tirar proveito da situação, obtendo benefícios a curto prazo. O grave é que esses mesmos especuladores estão numa situação virtual de quebra. É uma situação escandalosa.

Os mesmos bancos que salvam os países atacam esses países?
Exatamente. Os Estados estão ajudando os bancos a continuar desestabilizando os Estados. É a pura verdade, é o que está ocorrendo. Não é uma visão ideológica, é a leitura da pura realidade.

Isso é quase como dizer que o sistema derruba a si mesmo.
De alguma maneira, sim, porque, para os banqueiros e outras instituições financeiras, o único que interessa é o máximo lucro a curto prazo. Eles não têm uma visão a longo prazo, porque eles mesmos pensam que os riscos que tomam a médio e longo prazo serão resgatados pelas instituições públicas para reduzir ou eliminar suas perdas.

Como presidente do CADTM, você acredita que algo foi aprendido com os 30 anos de ajuste estrutural em outros países, por exemplo, da América Latina?
Os governos da Europa demonstram que não querem usar as lições dos 30 anos de neoliberalismo na América Latina. Na Comissão Europeia (CE), os governos nacionais — e, claro, o governo do Estado espanhol — implementam políticas de ajuste e redução do gasto público que deprimem a demanda global e geram um crescimento reduzido ou, simplesmente, recessão. Até a Alemanha, que havia conseguido tirar vantagem da situação porque obteve superávit comercial com os países da periferia europeia (Grécia, Portugal, Espanha), agora está com dificuldades econômicas. Toda a Europa está implementando o mesmo tipo de política, e os modelos baseados em conseguir crescimento através de exportações não funcionam, sobretudo porque todos fazem o mesmo. Estive cinco vezes na América Latina, e vários representantes de diferentes governos me perguntam: “Como é possível que os governos da Europa não tenham tirado lições de nossa experiência e estejam tão empenhados em repetir os mesmos erros?”

Que comparação você faz entre os planos de ajuste na África, ou seja, o plano de ajuste estrutural do FMI, e os planos de austeridade na Europa?
Penso que existe um paralelismo evidente. São as mesmas medidas do chamado Consenso de Washington, que estão implantando na Europa. Quais são essas medidas? Cortes de gastos públicos, demissões massivas de funcionários públicos, importantes privatizações, aumento dos impostos indiretos tipo IVA, mudanças no mercado de trabalho e mudanças no sistema de aposentadoria — ainda que no caso da África nunca tenha havido aposentadoria, obviamente, mas em vários países da América Latina, sim. É exatamente o mesmo esquema que produz uma degradação das condições de vida e resultados econômicos muito pobres em termo de crescimento.

Tudo isso que você conta me lembra aspectos que vivemos há pouco tempo.
Sim. Os acordos ditados pela troika (CE, FMI e BCE) a Grécia, Portugal e Irlanda são exatamente as medidas que foram implementadas na América Latina durante as épocas do mandato de Carlos Menem, na Argentina, medidas que resultaram no desastre e na rebelião de 2001, o famoso corralito. A Europa está vivendo mais ou menos a situação da América Latina nas décadas de 80 e 90. As pessoas começam agora a entender o desastre que representa tudo isso. Custou anos para que a América Latina levantasse voo. Espero que a Europa não atravesse 10 ou 15 anos de neoliberalismo. Espero que, graças à consciência social e à mobilização da sociedade, tenha início um questionamento sobre a legitimidade da dívida pública, que aumenta porque se transfere dívida privada aos governos. Na Espanha, a dívida pública representa somente 17% da dívida total. Está claro que a tendência é transferir dívida privada ao governo espanhol, como ocorreu em casos emblemáticos, como na Irlanda, onde um país modelo, de déficit zero e desemprego nulo, viu como a quebra dos bancos e a exposição da bolha imobiliária gerou um endividamento público massivo porque o tesouro público teve que assumir o custo de resgate bancário. Isso está no caminho de um país como a Espanha.

Este final de semana, a premiê alemã Angela Merkel e o presidente francês Nicolas Sarkozy parecem ter chegado a um acordo “total”, “uma solução duradora para os problemas de Europa”. E o presidente da CE, José Manuel Durão Barroso, apresentou um plano para recapitalizar a banca. Qual sua opinião do papel da CE nesta crise?
Os planos atuais da CE sempre têm um grande atraso. Agora estão respondendo à fase prévia da crise, tanto na metodologia quanto no volume de disposição do Fundo Europeu de Estabilidade para intervir. Este fundo, que chega a 440.000 milhões de euros, é totalmente insuficiente, mesmo sefor duplicado, poque tem que intervir na Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha. Estão oferecendo à opinião pública a mensagem de que tudo está sob controle, quando na realidade o chão está desabando debaixo dos pés.

A Grécia irá cair?
Para mim, o elo mais debilitado na Europa são os bancos. Se fala muito sobre a Grécia, mas na realidade agora são os bancos. Dexia já é um exemplo claro, mas também BNP Paribas, Socité Generale, até o Deutsche Bank, Intesa Sanpaolo, na Itália, e grupos como o Santander e BBVA. Essa é a minha opinião. Veremos nos próximos meses quem realmente se encontrará com mais dificuldades, os bancos ou a Grécia, Portugal ou Irlanda.

Em seu livro, você menciona a “doutrina de choque” de Naomi Klein. Nos encontramos sem narrativa, sem história, estamos desorientados?
Estamos vivendo a implementação da estratégia descrita por Naomi Klein, chamada de “estratégia de choque”. Por exemplo, há alguns dias, o jornal italiano Corriere de La Sera revelou o conteúdo exato da carta do BCE à Itália, que chegou no início do mês de agosto. Ali está a descrição exata da “estratégia do choque”. Mais que recomendações, era um ditado sobre temas que não são da competência do BCE. Exemplos: a criação dos convênios coletivos do mercado de trabalho. É uma intromissão de instituições multilaterais que não incluem em sua missão questões como o mercado de trabalho. Todo o mundo sabe que o objetivo do BCE é combater a inflação. O que digo no livro é que em 2008-2009 tivemos um pequeno lapso de tempo no qual não se implementava totalmente a “estratégia do choque”, mas que a partir de 2010-2011 estamos na parte agressiva da implementação e é fundamental para mim o que pode ocorrer em 15 de outubro. Os indignados, sejam de onde forem, agora em Bruxelas, protestam porque veem que alguns interesses privados são favorecidos contra os interesses da maioria. E isso é uma perda total de confiança de uma parte importante da sociedade em relação àqueles que nos governam.

Quais alternativas você sugere em seu livro?
É necessária uma solução radical sobre o tema da dívida pública através de um processo de auditoria para identificar a parte ilegítima — e repudiá-la. Isso implica mobilização social, porque os governos atuais não estão nada convencidos desse caminho. Segundo, realmente não podemos seguir deixando que os bancos atuem como atuam hoje. Por isso, precisamos socializá-los totalmente, e não apenas suas perdas. Os poderes públicos devem criar instrumentos para ter um setor público de crédito para a população e para incentivar a economia, criar emprego. Precisamos de uma nova disciplina financeira, rigorosa, em relação aos mercados financeiros. Realmente, como disse aquele trader na BBC, Alessio Rastani, “Goldman Sachs domina o mundo”. Goldman Sachs tem uma grande influência, mas não domina o mundo, ao menos não todo. Mario Draggi, o futuro presidente do BCE, é um homem de GS. Também foi um alto funcionário do Banco Mundial. Os mandatários políticos terminam muitas vezes sendo membros do conselho se administração de grandes empresas e vice-versa. E isso é em agradecimento a suas ajudas e também porque as empresas industriais e financeiras querem usar essa influência para fazer lobbies sobre os governos. Teríamos que limpar tudo isso e que não haja conflito de interesse entre mandatários políticos e acionistas privados. Um político não pode passar assim para o setor privado, ao menos deve ter uns cinco ou dez anos de distância.

Porque você considera a dívida de muitos países europeus, entre eles a Espanha, ilegítima?
Porque é o resultado de uma política deliberada, injusta, que não respeita o princípio fundamental de direito, que é a equidade. Primeiro houve uma reforma fiscal neoliberal de redução da contribuição tributária das famílias mais ricas, não falo da classe média, falo dos 5-10% mais ricos. São eles que são beneficiados por essas políticas, e também as empresas privadas, que pagam muito menos impostos por seus ganhos. Então, os Estados tiveram que financiar seu orçamento com mais dívidas; este é o primeiro fenômeno. O segundo é que a crise foi provocada pelas aventuras dos promotores imobiliários, que são grandes empresas privadas, e todo o sistema de crédito hipotecário, e isso gerou a explosão da bolha imobiliária, e provocou uma recessão econômica que obrigou o Estado a manter algum nível de crescimento, que supõe um custo que fez a dívida pública aumentar. Essa acumulação de dívida pública, que na Espanha não chegou ao nível comparado a Grécia, Itália ou Irlanda, é o resultado de uma política nefasta que favoreceu os responsáveis pela crise, que seguem sendo beneficiados das políticas dos governos. Por isso falamos de ilegitimidade. Um governo pode ser democrático e emitir dívida e que em nível legal não tenha vícios, mas não tem legitimidade por não respeitar o princípio de equidade.

Fonte: Outras Palavras. Tradução: Daniela Frabasile

OIT divulga estudo sobre trabalho escravo no Brasil

“Roupas e calçados rotos, mãos calejadas, pele queimada do sol, dentes não cuidados, alguns aparentando idade bem superior à que tinham em decorrência do trabalho duro e extenuante no campo.” Essa é a descrição dos trabalhadores resgatados nas fazendas de trabalho escravo no interior do país, feita por integrantes dos Grupos Especiais de Fiscalização Móvel (GEFM), ligado à Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).


trabalhadores em fazendas detidos como escravos Situação análoga à escravidão: trabalhadores encontrados em fazendas no interior do país / crédito: Repórter Brasil

O texto faz parte do estudo Perfil dos Principais Atores Envolvidos no Trabalho Escravo Rural no Brasil, divulgado hoje (25), pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O trabalho foi feito totalmente baseado em depoimentos colhidos das vítimas; dos intermediários, mais conhecidos como gatos; e dos empregadores.

Segundo o trabalho de campo realizado pelo GEFM, o trabalhador em situação análoga ao trabalho escravo atualmente, no país, é homem, negro, nordestino, analfabeto funcional, tem idade média de 31,4 anos e renda mensal, declarada, de 1,3 salário mínimo.

O objetivo do estudo foi traçar o perfil dos atores da escravidão contemporânea rural no Brasil para subsidiar políticas públicas de combate ao trabalho análogo ao de escravo, que podem ser tanto punitivas (de repressão), quanto preventivas e também contribuir para a reinserção dos trabalhadores resgatados em seus locais de origem, tendo em vista ofertas de trabalho e renda, mecanismos de acesso à terra e apoio à agricultura familiar. Além disso, podem orientar na elaboração de campanhas educativas e fornecer informações no controle do tráfico de trabalhadores submetidos à escravidão contemporânea.

“O Brasil já foi mencionado como modelo. Não é modelo nem exemplo, porque ainda não erradicou o trabalho escravo. Mas tem mecanismos que são referência e a OIT reconhece avanços do Brasil em relação a outros países”, ponderou o coordenador do Projeto de Combate ao Trabalho Escravo da OIT, Luiz Antonio Machado.

Segundo a OIT, o Brasil está avançando no combate à escravidão desde 1995, quando reconheceu oficialmente a existência de trabalho análogo à escravidão. Porém, é preciso ampliar ainda mais as políticas para diminuir a vulnerabilidade social das vítimas e punir efetivamente os criminosos.

Aliás, a impunidade ainda é um dos principais problemas no enfrentamento do trabalho escravo no país. “O desafio do país é complementar seus louváveis esforços no combate a escravidão com estratégias eficazes de prevenção e reabilitação. Além disso, a impunidade tem sido um dos maiores entraves no combate a esse crime no Brasil. A punição efetiva dos escravagistas é um dos elementos que faltam para uma mudança definitiva nesse quadro”, conclui o documento, que contém 176 páginas.

Ação

Dentre os esforços voltados para o fim da impunidade para os escra¬vagistas, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) n.º438/01 ganha destaque. Ela prevê a desapropriação das fazendas onde ocorre trabalho escravo, destinando-as à reforma agrária, prioritaria¬mente, aos trabalhadores que nela eram submetidos a condições análogas à escravidão.

A PEC do trabalho escravo chegou a tramitar dois anos no Senado Federal, tendo sido aprovada em 2001, quando encaminhada à Câmara dos Deputados. Mas, algumas mudanças propostas por membros da bancada ruralista na pri¬meira votação (para inserir os imóveis urbanos na expropriação), a matéria terá que retornar ao Senado depois de aprovada no Ple¬nário da Câmara.

“O que a gente consome, o que a gente veste, o que a gente usa tem origem. E muitas vezes está no campo, com um trabalhador explorado, escravizado. Quando a sociedade perceber que a gente não pode consumir produtos oriundos do trabalho escravo, consumidores se mobilizarem com o tema, a PEC pode ganhar força”, disse o coordenador do projeto na OIT, Antonio Machado.





Confira o estudo na íntegra
aqui

Fonte: Da redação Vermelho, com agências

1929: Roosevelt, Keynes e a Segunda Guerra

A história monetária dos últimos cem anos é repleta de crises financeiras. O padrão revela um investidor otimista, na medida em que as economias se expandem, o crescimento do crédito aumenta e os indivíduos investem para obter retornos de curto prazo, nem sempre atentos ao valor real dos ativos. Investimentos em alta estimulam maiores fontes creditícias, correspondentes ao otimismo peculiar das fases de prosperidade econômica.

Por Samuel Sérgio Salinas *


A bola de neve da manada especulativa nem sequer notou os claros indícios de que a economia norte-americana, em 1929, estava em declínio. Os consumidores se retraiam, grandes quedas na produção, na construção civil e na venda de automóveis delineavam um panorama perigoso Em setembro, o mercado estremeceu e, em outubro, em uma fatídica sexta-feira dia 25, uma onda de falências espalhou o pânico. O valor real das ações ordinárias despencou 40%. A renda agrícola reduziu-se à metade e praticamente cessou a construção civil. Em 1931, um em cada quatro americanos estava desempregado. A Era Dourada do capitalismo atravessava a sua primeira crise e só os crédulos e alguns teóricos acreditavam que seria a última.

Como pôde essa situação ocorrer no país mais rico e poderoso do mundo que supunha todas as suas virtudes econômicas, sociais e políticas resultavam da liberdade de um mercado eficaz e auto-regulador?

As grandes criações tecnológicas pautaram as fases de crescimento do capitalismo ocidental, a exemplo da indústria ferroviária em meados do século XlX, surto que Marx e Engels acompanharam atentamente, como expressão da atividade do capitalismo, enaltecida nesse aspecto pelo Manifesto de 1848. Nos anos subsequentes à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o crescimento da indústria automotiva norte-americana e o fordismo que estimulava o consumo popular dos veículos mediante uma política salarial adequada, promoveu exuberante crescimento econômico. A Primeira Guerra projetara os norte-americanos para o centro do poder mundial.

A grande queda do mercado de ações em 1929 incrementou o aumento na taxa de juros, mas resultou na redução da compra de ativos estrangeiros dificultando os países da órbita americana de manter a paridade de suas moedas, pois tornava o acesso ao dólar financiado muito caro. A implosão das bolsas em 1929 acelerou uma retração na economia global e grande número de países suspendeu a conversibilidade de suas moedas ao dólar, pois sofreram redução considerável nas exportações, além de pressões especulativas contra suas moedas. Desaparece a liquidez, as falências bancárias aumentam a queda nos preços não tem limites naturais até que o sistema monetário desabou convertido em quase troca (barter).

Com o grande investimento próximo a zero em 1932, a economia estava pronta para recomeçar. No entanto, seria necessário ocorrer um apocalíptico clímax e falências bancárias, o expurgo anticíclico que desaloja todos, mas, principalmente, os menos aptos. Quase desnecessário afirmar que uma lei norte-americana de franco protecionismo, The Smooth-Hawley (1930), criou problemas de pagamentos para outros países e desencadeou reações da mesma natureza por toda parte. Essas tarifas protetoras liquidaram as perspectivas de reativação do comércio externo norte-americano. O presidente Herbert Hoover (1874-1864), que a promulgara, por sua vez, opôs-se a todas as medidas diretas de auxílio desemprego, pois considerava seus graves efeitos prejudiciais à tradição e ao caráter americano.

Nos Estados Unidos, a depressão foi amargamente sentida dada a sua violência e a brusca e inesperada redução dos indicativos macroeconômicos. Doze milhões de operários foram desempregados sem nenhum meio de subsistência, desassistidos de seguro desemprego, resvalaram para a miséria absoluta (na época, o sistema norte-americano deixava os desempregados aos cuidados da caridade). Entre 1929 e 1933 a renda nacional americana caiu 53%, os preços despencaram 25%, a renda per capita regride ao nível de 1908.

Também os homens de negócios sofreram perda de seus ativos, a falência dos seus bancos e a opressão das dívidas impossíveis de serem solvidas. Roosevelt (1882-1945, eleito presidente dos EUA em 1932) tentou adotar o sistema inglês de seguro desemprego, mobilizando consideráveis subsídios. Foram organizados campos de trabalho (Civilian Conservation) para os jovens, com tarifas remuneratórias de caráter sindical; os sindicalistas participavam na administração dos campos. Obras de repovoamento florestal e de construção de estradas contribuíram para evitar um desemprego devastador. Em resumo, as grandes obras que John Maynard Keynes (1883-1946) preconizava desde 1924. Foi cria da a PWA (Public Work Administration) para empreender obras públicas e conceder créditos até um terço do custo do trabalho e materiais utilizados. O exemplo mais conhecido foi a criação da TVA, a Autoridade do Vale do Tenessee, organismo que empreendeu cerca de meia dúzia de enormes represas e a instalação de centrais hidroelétricas e redes de transmissão de energia, com enorme economia nos custos posteriores do produto. Essa autarquia contribuiu para remodelar um sistema fluvial de transporte mediante construção de barragens, além de melhorar o controle de inundações.

A crise relançou problemas de organização sindical e o período foi muito profícuo nesse sentido, contando os sindicatos com a cooperação do governo Roosevelt.

A esperança de que o desatino seria passageiro aliviava as expectativas fundadas nas alternativas de situações semelhantes, que se recuperavam sem grandes percalços, ou seja, os negócios, como de costume, envolviam fases boas e más, do saudável regime de concorrência. A débil esperança não se mostrou ativa e a economia norte-americana, a despeito dos esforços do governo democrata de Roosevelt, resvalou para um abismo que perdurou por mais de uma década. O New Deal, a política de recuperação de Roosevelt, ousou enfrentar o tradicionalismo econômico dos norte-am ericanos, mas não foi uma revolução, nem debelou os efeitos desastrosos da crise. O laissez-faire liberal foi abandonado pela decisão de encontrar na intervenção estatal a recuperação do investimento bancado pelo governo. Abandonou-se a política de guerra contra os sindicatos. Admitiu-se a organização sindical. Não há dúvida de que os trabalhadores, com suas reivindicações alimentavam a demanda. Optou-se pela regulação bancária e a garantia dos depósitos bancários (Commodity Credit Corporation). A despeito dessas e outras medidas que alteraram o relacionamento das classes sociais, não ocorreu transferência de poder de uma para outra. Nada de revolução social pela cúpula. Roosevelt usou o dinheiro público para garantir as suas decisões. Não só, mas uma eloquência e simpatia pessoais que se tornaram famosas. Diante das corridas bancá rias que buscou evitar, disse Roosevelt “os vendilhões do templo tinham fugido do recinto sagrado”, o que não o impediu de restituir aos banqueiros os seus postos. Os três “Rs” de Relief, Reform e Recovery caracterizaram o programado New Deal. Anote-se a primazia do primeiro R = Auxílio, expressão que revela a disposição de ultrapassar as medidas recomendadas pela tradição econômica conservadora.

A depressão, porém, fora devastadora. A fantasiosa e periclitante melhoria de 1937 só contribuiu para alimentar ilusões, pois logo se diluiu no ar com o regresso imediato da longa depressão. Em 1938 o número de desempregados foi estimado em 10 milhões.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) descortinou uma inesperada recuperação, ou seja, o país se tornou o armeiro da Europa e seu maior credor. Esta oportunidade foi preenchida com o retorno dos trabalhadores a seus postos, acompanhados da inesperada presença do trabalho feminino em áreas que não lhe eram próprias até a época. O trabalho feminino, em decorrência da guerra, ingressou para sempre na classe trabalhadora numa posição a cada dia mais expressiva.

O financiamento, decorrente da produção de armamentos e bens duráveis para a Europa, durante a guerra, não decorreu do retorno da iniciativa privada aos negócios, mas dos déficits públicos. Logo após a guerra, com o regresso dos milhões de soldados e o declínio do esforço de guerra, aumentou nos Estados Unidos o desemprego. Desde 1946 ocorreu um amplo movimento destinado a reconstruir a economia em geral e levantar empréstimos para as nações europeias devastadas pela destruição, as quais buscaram adquirir dos norte-americanos os bens de capital de que necessitavam para a reconstrução de seus parques industriais. A recuperação alemã, importante para a condução da guerra fria contra a União Soviética, foi beneficiada pelo Plano Marshall, do general norte-americano George Marsha ll (1880-1959) que elaborou e conduziu o Programa de Recuperação Econômica Europeu. Na maioria dos países europeus, em poucos anos, o nível de emprego e produção emparelhou-se com os de pré-guerra. O conflito coreano (1950-1953) acresceu oportunidades de investimento que beneficiaram excepcionalmente os japoneses. Dessa maneira, os anos de meados de 1950 até a década de 1970 foram favoráveis à economia norte-americana e europeia, aumentando o PIB internacional e a renda per capita.

A depressão dos anos 1930, porém, deixou suas marcas nos corações e mentes dos norte-americanos, bem mais talvez do que as perdas humanas, proporcionalmente muito pequenas em relação aos beligerantes europeus e asiáticos.

No período de guerra e nas seguintes foram relevantes para os norte-americanos e ingleses as recomendações do economista John Maynard Keynes que foram aplicadas em grau maior ou menor dependendo das situações concretas emergentes do pós-guerra. Preconizava Keynes o financiamento público e fiscal das grandes obras necessárias à retomada. Keynes e Roosevelt só se encontraram oficialmente duas vezes. Segundo as personalidades que estiveram presentes, sem grandes proveitos para ambos. Os economistas ligados a Roosevelt conheciam a obra do economista inglês e compartilhavam de suas ideias quanto ao financiamento da guerra e das atividades destinadas a apoiar a reconstrução mediante obras públicas.

Após a Guerra (1945), os EUA puderam desenvolver políticas expansionistas graça ao enorme poderio econômico acumulado. As despesas públicas foram necessárias para escoar os recursos obtidos em proporção por vezes maior do que o crescimento dos produtos brutos nacionais. Tais gastos nem sempre decorreram de déficits públicos, mas resultaram de tributos sobre a renda pessoal e das empresas. Keynes, desde 1924, estimulara as despesas dessa natureza, ampliando a demanda efetiva e trabalhando para o aumento do emprego, aspecto pelo qual fundamentava o seu apego ao pleno emprego como forma de sustentar as economias em qualquer circunstância, mas, principalmente, nas fases depressivas. Os decênios que se sucederam foram conhecidos como os anos do compromisso keynesiano

As circunstâncias históricas exerceram pressões desvinculadas de estrita preocupação econômica, dentre elas a Guerra Fria e os enormes investimentos armamentistas. A extensão do crédito aos consumidores, uma sequência do propósito de alimentar a demanda para o consumo, ampliou-se, mas adquiriu, nos Estados Unidos, uma proporção que iria induzir o consumidor americano a sustentar-se nos créditos, e créditos das bolsas, de forma tal que a subsistência do consumo depende do financiamento de um sistema complexo e altamente criativo, inclusive de subprimes.

O período inaugurado pelo redesenho do papel financeiro e do Estado aliviou as contradições capitalistas e propiciou uma fase de elucubrações sobre a perenidade do capitalismo. O keynesianismo foi um dos mais interessantes aspectos da nova teorização. A Revolução Keynesiana inaugurou a intervenção do Estado no processo econômico, a redução do desemprego, o controle dos investimentos e do consumo, dos preços e juros. As sugestões de John Maynard Keynes foram precedidas de uma devastadora crítica da Lei dos mercados, da economia clássica e neoclássica, a Lei de Say, que sustentava que toda produção seria sempre absorvida pelo consumo.

O keynesianismo acentuou-se nos Estados Unidos enfileirando nomes de economistas de grande prestígio universitário, tais como Alvin Hansen, Schumpeter, Samuelson, Galbraith. Este último publicou um livro de grande repercussão – O Novo Estado Industrial – onde acolhia as recomendações de Keynes e formulava o conceito de tecnoestrutura como a camada de especialistas que já substituíam os empresários individuais na administração das grandes empresas. O mercado é agora a variável dependente. O planejamento do capital eliminaria as incertezas da produção e do consumo, afastando, dessa maneira, as lutas sociais pela renda gerada. Em resumo não haveria dispersão de investimentos, nem luta de classes.

O desencadear da crise mais recente, de caráter financeiro, como equivocadamente apregoam os economistas liberais, despertam a avaliação entrevista no que ocorreu durante o programa de recuperação econômica, mas não social, do New Deal, o keynesianismo, o pós-keynesianismo e seus avatares.

Resta-nos regressar a Marx que revelou a natureza do capitalismo e seus estertores. Se toda crise parece financeira, no seu âmago desvela-se o todo que revela as crises, as guerras, o desemprego e as dores do parto das fugazes recuperações. Keynes acreditava no capitalismo e buscava nos interstícios desse modo de produção o meio permanente, vale a pena assinalar, de livrá-lo do desemprego e perdurar ao largo de um mar tranquilo. Marx demonstra que as crises nascem no seio do modo de produção capitalista que alia a exploração das pessoas a uma inevitável e permanente sucessão de crises, onde o desemprego é a sua marca feroz.

O capitalismo traz em seu âmago a morte, pois a cada momento se exaure a sua vitalidade, logre-se ou não fugazes momentos keynesianos.

* Sociólogo, jornalista e advogado. É procurador de justiça aposentado do Estado de São Paulo e colaborador do portal Vermelho. Tem diversos livros publicados, entre eles Islã, Esse Desconhecido, pela Editora Anita Garibaldi. E-mail: sssalinas@uol.com.br


Fonte: www.vermelho.org.br

Assembleia Geral da ONU exige fim de bloqueio contra Cuba

A Assembleia Geral da ONU exigiu nesta terça-feira (25), pelo vigésimo ano consecutivo, o fim do bloqueio norte-americano imposto a Cuba há meio século, em uma resolução adotada por uma maioria esmagadora de 186 países.


A resolução foi adotada por 186 votos a favor, apenas dois contra (Estados Unidos e Israel) e três abstenções.

"O dano econômico direto contra o povo cubano supera os 975 bilhões de dólares", disse o chanceler cubano Bruno Rodríguez, ao defender a resolução que condena o bloqueio e exige seu fim diante da Assembleia Geral reunida em Nova York.

Rodríguez lembrou que em 1991 e no ano seguinte foi incluída pela primeira vez a questão de eliminar o bloqueio contra Cuba, em um momento em que os Estados Unidos pretendiam, com "cruel oportunismo", apertar o cerco contra a ilha, após a queda do bloco soviético.

Naquele ano, a sessão ordinária aprovou por 59 votos a favor, três contra e 71 abstenções a primeira resolução condenando o bloqueio e cobrando seu levantamento. Desde então, a cada novo ano, a Assembleia aprova uma resolução intitulada "Necessidade de pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América contra Cuba".

"É inacreditável o fato de que, 20 anos depois, esta Assembleia continue considerando este assunto", afirmou Rodriguez, reiterando que "os Estados Unidos nunca ocultaram que seu objetivo é derrubar o governo revolucionário" cubano.

"Por que o governo Obama não se ocupa dos problemas dos EUA e deixa nós cubanos resolvermos em paz e sossegados os nossos"?, questionou.

De acordo com o chancelar a condeação ao bloqueio já é um dos temas tradicionais na Assembleia Geral, "que reúne os pronunciamentos mais reiterados, com o apoio mais contundente e esmagador, o que mostra mais claramente o incômodo isolamento do país agressor e a resistência heroica de um povo que se nega a ceder os seus direitos soberanos".

Segundo Bruno Rodriguez, o que os Estados Unidos querem que Cuba mude, não será transformado. "O governo de Cuba permanecerá o governo do povo, pelo povo e para o povo. Nossas eleições não serão leilões. Não teremos campanhas eleitorais de 4 bilhões de dólares, nem um Parlamento com o apoio de 13% dos eleitores. Não teremos elites políticas corruptas separadas do povo. Continuaremos a ser uma verdadeira democracia e não uma plutocracia. Defenderemos o direito à informação verdadeira e objetiva", discursou.

Rodríguez afirmou ainda que os "vínculos familiares e o limitado intercâmbio cultural, acadêmico e científico entre os EUA e Cuba já demonstram como positiva seria a expansão destas ligações para o benefício dos dois povos, sem as restrições e limitações impostas por Washington".

"A proposta de Cuba para avançar no sentido da normalização das relações e ampliar a cooperação bilateral em diversas áreas continua", afirmou, agredecendo o apoio de todos os países que, nesses 20 anos, têm votado a favor do fim do bloqueio.

Fonte:Vermelho, Com agências

Entenda o novo aviso prévio

Por Fernando Borges Vieira

Na quinta (13 de outubro de 2011) passou a vigorar a Lei 12.506, a qual dispõe sobre os novos prazos para concessão do aviso prévio, bem como os critérios de cálculo, alterando em parte o artigo 477 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Ocorre que a muitos empregados e empregadores crêem pura e simplesmente que o período de aviso prévio passou de 30 para 90 dias, o que é um engano, sendo oportuno prestar alguns breves esclarecimentos a respeito.

Inicialmente convém esclarecer que o aviso prévio nada mais é do que uma indenização, paga pela parte que deu causa à rescisão do contrato de trabalho, equivalente à maior remuneração que o empregado tenha percebido.

O objetivo do aviso prévio é assegurar ao empregado – demitido sem justa causa e cujo contrato seja a prazo indeterminado – a capacidade de manutenção de sua subsistência por determinado período e a possibilidade de que, neste prazo, alcance sua recolocação no mercado de trabalho. Igualmente, é seu objetivo permitir ao empregador a substituição do demissionário no período de aviso prévio ou ser indenizado pelo “desfalque” provocado pelo empregado que não pretende permanecer trabalhando.
Antes do advento da Lei 12.506/11, o aviso prévio era de 30 dias, mas a regra mudou, e o aviso prévio passa a ser calculado da seguinte forma:

a) se o empregado estiver prestando seus serviços por mais de ano, deverá ser observado o período de 30 dias;

b) além do aviso prévio de trinta dias, deverá ser observado o período de três dias a cada ano trabalhado, não podendo superar 60 dias.

c) assim, somando-se o aviso prévio de 30 dias (a) e o período de 3 dias a cada ano trabalhado (b), o aviso prévio será de, no máximo, 90 dias.

Com efeito, equivocada a compreensão de que o aviso prévio passa a ser de 90 dias, pois, em verdade, ele será de no máximo 90 dias, conforme se depreende do próprio texto legal.

O cálculo é simples, para os trabalhadores com mais de um ano de prestação se serviços:

Aviso prévio = [30 + (3 X número de anos trabalhados na mesma empresa)]
Suponhamos, por exemplo, que o empregado trabalhe a sete anos na mesma empresa:

Aviso prévio = [30 + (3 X 7)] = [30 + 21] = 51 dias

Exceção feita ao prazo, o regramento do aviso prévio está mantido, inclusive no que concerne ao desconto que o empregador pode promover sobre as verbas rescisórias do empregado quando este pede demissão.

Assim, se no caso acima o empregado tivesse pedido demissão e não respeitasse o aviso prévio, sofreria o desconto de 51 dias, reiterando-se que o aviso prévio é uma obrigação bilateral, tanto do empregador em favor do empregado como do empregado em favor do empregador.

Importante salientar, por fim, esta regra vale somente para as rescisões - sem justa causa em contratos a prazo indeterminado ou por pedido de demissão - que ocorrerem a partir da entrada em vigor da Lei 12.506/11, ou seja, 13 de outubro de 2011, não atingindo aquelas que ocorreram anteriormente.

Fonte: Agência Sindical

Matemáticos revelam rede capitalista que domina o mundo

Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global. A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça. Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.

Nota introdutória publicada por Ladislau Dowbor em sua página:

The Network of Global Corporate Control - S. Vitali, J. Glattfelder eS. Battistoni - Sept. 2011
Um estudo de grande importância, mostra pela primeira vez de forma tão abrangente como se estrutura o poder global das empresas transnacionais. Frente à crise mundial, este trabalho constitui uma grande ajuda, pois mostra a densidade das participações cruzadas entre as empresas, que permite que um núcleo muito pequeno (na ordem de centenas) exerça imenso controle. Por outro lado, os interesses estão tão entrelaçados que os desequilíbrios se propagam instantaneamente, representando risco sistêmico.

Fica assim claro como se propagou (efeito dominó) a crise financeira, já que a maioria destas mega-empresas está na área da intermediação financeira. A visão do poder político das ETN (Empresas Trans-Nacionais) adquire também uma base muito mais firme, ao se constatar que na cadeia de empresas que controlam empresas que por sua vez controlam outras empresas, o que todos "sentimos" ao ver os comportamentos da mega-empresas torna-se cientificamente evidente. O artigo tem 9 páginas, e 25 de anexos metodológicos. Está
disponível online gratuitamente, no sistemaarxiv.org

Um excelente pequeno resumo das principais implicações pode ser encontrado no New Scientist de 22/10/2011 (e está publicado a seguir).


(*) O gráfico em forma de globo mostra as interconexões entre o grupo de 1.318 empresas transnacionais que formam o núcleo da economia mundial. O tamanho de cada ponto representa o tamanho da receita de cada uma

A rede capitalista que domina o mundo
Conforme os protestos contra o capitalismo se espalham pelo mundo, os manifestantes vão ganhando novos argumentos.

Uma análise das relações entre 43.000 empresas transnacionais concluiu que um pequeno número delas - sobretudo bancos - tem um poder desproporcionalmente elevado sobre a economia global.

A conclusão é de três pesquisadores da área de sistemas complexos do Instituto Federal de Tecnologia de Lausanne, na Suíça

Este é o primeiro estudo que vai além das ideologias e identifica empiricamente essa rede de poder global.

"A realidade é complexa demais, nós temos que ir além dos dogmas, sejam eles das teorias da conspiração ou do livre mercado," afirmou James Glattfelder, um dos autores do trabalho. "Nossa análise é baseada na realidade."

Rede de controle econômico mundial
A análise usa a mesma matemática empregada há décadas para criar modelos dos sistemas naturais e para a construção de simuladores dos mais diversos tipos. Agora ela foi usada para estudar dados corporativos disponíveis mundialmente.

O resultado é um mapa que traça a rede de controle entre as grandes empresas transnacionais em nível global.

Estudos anteriores já haviam identificado que algumas poucas empresas controlam grandes porções da economia, mas esses estudos incluíam um número limitado de empresas e não levavam em conta os controles indiretos de propriedade, não podendo, portanto, ser usados para dizer como a rede de controle econômico poderia afetar a economia mundial - tornando-a mais ou menos instável, por exemplo.

O novo estudo pode falar sobre isso com a autoridade de quem analisou uma base de dados com 37 milhões de empresas e investidores.

A análise identificou 43.060 grandes empresas transnacionais e traçou as conexões de controle acionário entre elas, construindo um modelo de poder econômico em escala mundial.

Poder econômico mundial
Refinando ainda mais os dados, o modelo final revelou um núcleo central de 1.318 grandes empresas com laços com duas ou mais outras empresas - na média, cada uma delas tem 20 conexões com outras empresas.

Mais do que isso, embora este núcleo central de poder econômico concentre apenas 20% das receitas globais de venda, as 1.318 empresas em conjunto detêm a maioria das ações das principais empresas do mundo - as chamadas blue chips nos mercados de ações.

Em outras palavras, elas detêm um controle sobre a economia real que atinge 60% de todas as vendas realizadas no mundo todo.

E isso não é tudo.

Super-entidade econômica
Quando os cientistas desfizeram o emaranhado dessa rede de propriedades cruzadas, eles identificaram uma "super-entidade" de 147 empresas intimamente inter-relacionadas que controla 40% da riqueza total daquele primeiro núcleo central de 1.318 empresas.

"Na verdade, menos de 1% das companhias controla 40% da rede inteira," diz Glattfelder.

E a maioria delas são bancos.

Os pesquisadores afirmam em seu estudo que a concentração de poder em si não é boa e nem ruim, mas essa interconexão pode ser.

Como o mundo viu durante a crise de 2008, essas redes são muito instáveis: basta que um dos nós tenha um problema sério para que o problema se propague automaticamente por toda a rede, levando consigo a economia mundial como um todo.

Eles ponderam, contudo, que essa super-entidade pode não ser o resultado de uma conspiração - 147 empresas seria um número grande demais para sustentar um conluio qualquer.

A questão real, colocam eles, é saber se esse núcleo global de poder econômico pode exercer um poder político centralizado intencionalmente.

Eles suspeitam que as empresas podem até competir entre si no mercado, mas agem em conjunto no interesse comum - e um dos maiores interesses seria resistir a mudanças na própria rede.

As 50 primeiras das 147 empresas transnacionais super conectadas
Barclays plc
Capital Group Companies Inc
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‘A flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo’. Entrevista com Teresa Forcades

José Manuel Vidal
Jornalista – Religión Digital
Adital
Médica, teóloga e monja de clausura. A beneditina do mosteiro de St. Benet de Montserratm, Teresa Forcades, entretanto, é conhecida em todo o mundo. Um vídeo no Youtube contra as multinacionais e a armação da gripe A, catapultou-a para a fama.

Entrevistei-a em Madri, no dia 07 de outubro, por ocasião da apresentação do seu livro A teologia feminista na História. Irmã Teresa afirma que a situação de marginalização da mulher na Igreja é "um escândalo” e que "nenhum Papa se atreveu a proibir ex-cathedra o sacerdócio feminino”. Mas também reconhece que é na Igreja e em seu mosteiro onde se sente mais respeitada como mulher.
A entrevista foi concedida a José Manuel Vidal e publicada pelo Religión Digital, 23-10-2011. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.
- Por que uma monja da clausura como você escreveu um livro sobre a ‘Teologia feminista na História’?
O livro foi uma proposta da editora Fragmenta. E propuseram porque sabiam que me formei com a teóloga Elizabeth Schüssler Fiorenza. Conheci-a em Barcelona em 1992, antes das Olimpíadas. Eu iria estudar nos Estados Unidos, especializar-me em medicina. Ela vinha de Harvard e fez uma conferência. Uma conferência na qual se rompeu a comunicação porque a tradutora que sabia muito inglês, não sabia nada de teologia. Ajudei na tradução do inglês para o catalão e se salvou a situação. Elizabeth ficou encantada e me convidou a visitá-la em Harvard. Ao final, foi ela que acabou vindo a Buffalo, no norte do Estado de Nova York, onde estava em meu hospital, para dar outra conferência.

- E foi novamente a tradutora espontânea?
Fui a sua conferência, onde não precisei traduzir, e voltamos a nos encontrar. E, como consequência, comecei a traduzir um dos seus livros ao catalão, seu livro de hermenêutica bíblica feminista. Gostei muito do livro e o traduzi para aprofundar o conteúdo. Quando acabei a tradução, fui conversar algumas vezes com Schüssler Fiorenza, para falar de minhas dúvidas e reflexões. Ela, à vista de como recebeu, entendeu e processou o seu livro, animou-me a estudar Teologia e escreveu uma carta recomendando-me estudar em Harvard.

- Um percurso que a editora conhecia.
Efetivamente, além disso, havia dado umas conferências sobre teologia feminista em Barcelona. E quando a editora lançou essa coleção de livros breves, introdutórios, que pudessem servir de manual nas Universidades para introduzir uma disciplina teológica, me pediram o livro que eu aceitei como muito gosto.

- Com teóloga feminista lhe magoa especialmente a atual situação da mulher na Igreja?
A situação da mulher na Igreja tem uma história complexa que inclui tanto a discriminação quanto a promoção. A discriminação magoa qualquer pessoa que seja a favor da justiça e que compreenda que o Evangelho implica crescimento humano em todos os níveis. No Evangelho, se aprende também o realismo de saber que quando uma pessoa tenta viver a mensagem de Jesus, fica à margem. Nesse sentido, a situação das mulheres é testemunho de que há verdades cujo lugar estará sempre à margem até a escatologia final.

- Ou seja, que você se sente preparada para continuar na margem ou na fronteira e sem aspirar ao altar.
A dinâmica da margem evangélica consiste, a meu juízo, na promoção da justiça em todos os níveis, mas com o realismo de saber que, quando se consegue um passo a frente, se gera um processo no qual aquele que não quer ficar acomodado continuará encontrando razões para continuar caminhando até as margens. Daí minha defesa teológica das margens.

- E a proibição da presença feminina no altar?
A conclusão da Comissão Bíblica Pontifícia, a que Paulo VI pediu que estudasse o tema, foi de que não há razão bíblica alguma para privar o acesso das mulheres ao ministério ordenado. Isso foi no ano de 1976. Em 1974, realizaram-se as primeiras ordenações de mulheres na Igreja episcopaliana. Paulo VI percebeu que iria se produzir a mesma demanda na Igreja Católica e, por isso, pediu para a comissão pontifícia que estudasse o tema.

- O que diz de concreto o documento da comissão pontifícia?
Assegura que nas Escrituras não há nada contra. Depois de conhecer as conclusões da comissão, Paulo VIpublicou um motu proprio no qual considerava que não se devia ordenar mulheres na Igreja Católica.

- Mais a frente veio a tentativa de fechamento definitivo da questão por parte de João Paulo II.
Sim, mas nenhum Papa se atreveu a proclamar essa proibição ex-cathedra.

- Esta flagrante discriminação da mulher na Igreja é um escândalo?
Sim. Recomendo a quem queira aprofundar esse tema o livro de Gary Macy A história oculta da ordenação das mulheres.

- E como se vive essa situação num momento em que a sociedade civil avança na paridade de direitos?
Não gosto do esquema em que se coloca a sociedade civil na vanguarda e a Igreja na retaguarda em algo que deveria ser a pioneira. Entendo que a situação entre homem e mulher e a maneira de conceber o feminino e o masculino numa sociedade contemporânea ocidental deixa muito de ser satisfatória. O que mais me interessa debater teologicamente atualmente são as teorias de Lacan e de alguns pós-estruturalistas contemporâneos. Porque, no momento e reconhecendo que podem existir outras pessoas que tenham vivido experiência contrária, particularmente onde me senti mais respeitada em meu ser mulher é na Igreja e, em concreto, no meu mosteiro. Em comparação com outros lugares, como pode ser no hospital ou na Universidade, fico com o mosteiro, como espaço de liberdade e respeito. Em minha relação com os monges de Montserrat, por exemplo, descobri possibilidades de interação mais ricas do que em geral que vivi e observei entre homens e mulheres que são colegas no hospital ou na universidade.

- Então, a Igreja não tão antifeminina como se diz.
Veja, é preciso começar a falar desse tema com verdade, porque, do contrário, parece que temos de um lado uma sociedade liberada, oásis ou meca para as mulheres e, por outro, a Igreja que é uma instituição de opressão e de desastre. Minha experiência diz o contrário. Porque, se assim não fosse, quem sabe eu já não estaria aqui.

- Quer dizer que há um espaço de liberdade enorme dentro da Igreja apesar de tudo?
Sempre houve. O que acontece é que também é preciso denunciar que, entre os quadros de mando da Igreja há uma falta absoluta de representação das mulheres. E é esse o escândalo de que falamos.

- Liberdade para as mulheres na Igreja-povo de Deus e falta de representatividade na sua hierarquia.
Temos que mudar essa noção de Igreja que olha primeiro para cima. Para falar da Igreja, temos primeiro que olhar para baixo. E embaixo encontramos fundadoras iniciativas que não tem correlato no mundo civil, ao menos até agora. Vamos ver o que acontece no século XXI.

- Acusam-lhe de heresias, os setores mais conservadores e alguns sites. Tem medo?
Lembro da "perfeita alegria” de São Francisco e acredito que o essencial para um cristão é saber que quando todos te aplaudem, alguma coisa não vai bem. Desatar iras de certos setores, por outro lado, não é garantia de que as coisas vão bem, mas é um pouco melhor de quando todos te aplaudem.

- A Igreja hierárquica espanhola está muito fechada em si mesma e exerce um excessivo controle?
Está claro que, desde o Vaticano II, houve uma involução. E, na igreja espanhola se pode constatar que o medo existe e que há falta de liberdade para falar com vozes diferentes que é o que acontece quando as pessoas falam a partir de sua experiência. Essa uniformidade de expressão é muito preocupante.

- Falta pluralismo na Igreja espanhola. Ou dito de outra forma, são capazes os bispos espanhóis de assumir que há diferentes modelos ou diferentes sensibilidades eclesiais e que todas são válidas?
Há muitos bispos que são capazes. O problema é que não é apenas questão de aceitar isso, mas sim de vivê-lo. Os bispos têm o dever-direito de exercer sua responsabilidade pastoral de acordo com sua própria consciência, não podem simplesmente suprir seu critério com o critério que vem desde cima. Nesse sentido, o bispo não apenas aceita a pluralidade, mas também se converte em gerador da mesma e a vive.

- Você é religiosa beneditina. A vida religiosa tem futuro ou terminou o seu tempo. Como a vê?
Vejo-a muito bem. A vida religiosa tem mudado ao longo da história e apenas terá futuro se continuar mudando. A mudança é inerente à vida religiosa e apenas quem não muda tende a desaparecer. As beneditinas estão acabando, mas esses espaços de comunidade de pessoas que entendem que suas vidas não se plenificam em uma vida de casal, sem a relação de comunidade sempre existirão. Porque, além disso, são pessoas que dão testemunho de que esse é o modelo para todos no mundo escatológico.

- A vida religiosa como antecipação da vida celestial.
Esta é a antropologia cristã. A vida de casal é sacramento do mesmo amor de Deus, mas é de uma forma temporal. A vida de comunidade é de forma escatológica, porque Deus nos chama a ser pessoas que compreendam que a relação com toda humanidade, com todas e todos aqueles criados a imagem de Deus, é uma relação de amor absoluto, uma relação de dar e receber como a da Trindade. Esta vida de comunhão trinitária é que a utopia cristã nos propõe.

- Mas, isso também se pode viver no matrimônio: estar aberto a todos e amar a todos.
Claro, mas o matrimônio é até que a morte nos separe. E por isso dizia Jesus: "Não compreendem”. Porque, no céu, as pessoas não se casam.

- Seu vídeo de 2009, denunciando a montagem da famosa gripe A, teve tanta repercussão porque desmontava a superficialidade na qual se movem os grandes poderes da informação num mundo globalizado?
É preciso ser claro na crítica a este desastre da sociedade contemporânea que é o aumento da desigualdade riqueza-pobreza nos últimos 50 anos. Esse é um escândalo muito maior que a injustiça com as mulheres na Igreja da que acabamos de falar, ainda que não haja muito sentido em comparar injustiças, porque cada uma é absoluta em si mesma. Há muito o que criticar na sociedade contemporânea, mas não como um slogan. Porque se é certo que existe essa superficialidade, também é fato de que, pela primeira vez, há pessoas que realmente acreditam que não se deve esperar que a solução venha de cima.

- É o que vemos nessa crescente indignação em todos os lugares, incluindo no mundo árabe?
Estou muito preocupada pelo o que está acontecendo na Líbia, na Síria. Ou pelo que possa vir acontecer no Irã. Especialmente a partir da perspectiva das grandes mentiras políticas. Já o fizeram duas vezes, mas parece que não aprendemos. Aconteceu no Iraque e depois lamentamos. E com Gadafi creio que aconteceu o mesmo. Mente-se para justificar a intervenção militar. Por que não intervimos na Arábia Saudita para liberar as mulheres se o fazemos no Afeganistão?

- Gostaria que o Papa fosse à Somália num gesto profético que detivesse ou interrompesse a morte de tantas pessoas e tantas crianças inocentes?
Esse pode ser outro desses slogans de que desejaria afastar-me. Quem sabe agora, quando todo mundo está olhando a Somália, gostaria que o Papa fosse a outra parte. Porque os desastres proliferam. Por exemplo, o que está acontecendo no Sudão?

- Os meios de comunicação nos enganam?
Tenho a impressão, confirmada no caso da gripe A, de que outro, dos maiores escândalos atuais é a falta de liberdade no mundo da informação. Há mais liberdade jornalística em Periodista Digital ou em Vida Nuevado que no El País ou no La Vanguardia.

- Voltamos ao lugar de onde começamos: na Igreja se vive melhor.
Não gostaria de morder a língua na hora de criticar o condenável da Igreja, mas ninguém me peça que diga que na sociedade civil há maior liberdade de que na Igreja, porque não é certo. O que não quer dizer que a Igreja não tenha nada a aprender com a sociedade não eclesial. O que fez sempre.

- Participou ou viu a JMJ? O que lhe parece esse tipo de evento?
Não vi muito. Participaram três irmãs mais jovens do mosteiro e voltaram muito contentes. O evento macro-eclesial quem sabe seja um sinal dos tempos. Assisti na Venezuela a um desses eventos macro por motivo do aniversário de 90 anos da morte de Dom Óscar Romeroe me pareceu algo extraordinário. O mesmo pode acontecer com as pessoas que foram ver o Papa. Esses grandes eventos eclesiais quem sabe sejam um sinal dos tempos de século XXI. O importante é o tipo de mensagem que com eles se transmite e como se utilizam esses espaços.

- E como o utilizaram na JMJ?
Creio que houve um predomínio de articulações conservadoras ou de mensagens para os jovens no esquema nós-eles (Igreja-Sociedade), mas também houve espaços onde se pode partilhar a fé com uma visão mais aberta.

- Tem esperança no futuro da sociedade e da Igreja? É você uma mulher esperançosa?
Sim.

- Por exemplo, poderemos ver uma mudança na Igreja em curto prazo?
Mais do que em curto prazo, hoje mesmo. Gostaria de ter sobre a realidade o olhar que Jesus nos pede. Um olhar de que os campos estão dourados ou maduros e apenas faltam os ceifadores. Esse olhar que vê, como diz São Paulo, que o mundo está grávido de Deus. Ou, inclusive, já de parto e em lugares onde ninguém espera. Isso é o que dá esperança.

[Fonte: IHU Unisinos].