quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A reforma política urge no Brasil

Por Genaldo de Melo

Passado os últimos dias de turbulência e rebuliço em torno das filiações partidárias daqueles que se pretendem a alçarem em candidaturas no pleito de 2012, observamos o quanto se faz necessária uma verdadeira reforma política no Brasil. Se passarmos um olhar sobre como ficou o quadro partidário, além de como ficou as diversas forças políticas da sociedade brasileira, inferimos naturalmente que a falta de seriedade e de coerência com os cidadãos é o que mais vale na política em nosso país.

É uma vergonha realmente observar que uma boa porcentagem de quadros políticos com mandatos vigentes, não tem compromisso nenhum com o povo, nem mesmo com os projetos imprimidos para a sociedade por determinadas legendas sérias, que se guiam por programas partidários. Partidos políticos estão sendo usados como reboques para políticos profissionais, enfeitiçados pela mosca azul, se alçarem à condição de decidir os rumos de nossa sociedade. Parece que os interesses de “umbigos marrons” são mais importantes do que as instituições e os projetos.

Para exemplificar o que falo, uso dos últimos acontecimentos em meu município, Feira de Santana, segundo maior colégio eleitoral da Bahia. Vergonhosamente cerca de 50% dos detentores de mandatos na Câmara de Vereadores até dezembro de 2012, mudaram de partido. Vergonhosamente mudaram de camisa como camaleões, sustentados no discurso da manutenção do “status quo” de ser vereador, sem nenhum compromisso com as agremiações partidárias que lhes deram a condição de serem parlamentares, bem como com a mais distinta falta de respeito com o eleitor feirense.

Consolida-se assim a certeza de que poucos partidos são sérios também, por receber indivíduos que podem de novo lá na frente distribuir mais uma vez o sabor amargo da traição. Olhando esse novo cenário, inferimos mais uma vez a certeza de que alguns indivíduos, como os velhos coronéis do passado, coordenam verdadeiros currais eleitorais, e que alguns bobos da corte que coordenam partidos políticos somente aceitam ordens e recebem em suas agremiações indivíduos que têm votos, sustentados no poder econômico.

Alguns partidos políticos estão conseguindo deixar a condição de sérios, passando a condição de escada para os velhos “primos” da política. Alguns indivíduos do mundo político deveriam ter a coerência de ser sérios e sair da política, respeitando assim a vontade do povo. Por isso, que nunca foi tão necessário uma verdadeira reforma política nesse país.

PCdoB quer consolidar nome

Por Rômulo Faro – Tribuna da Bahia

A expectativa é grande para que a Conferência Municipal do PCdoB, neste sábado, bata de vez o martelo a favor da consolidação da candidatura da deputada federal Alice Portugal à Prefeitura de Salvador em 2012. “Nós vamos fazer uma conferência gigante, massiva, entusiasmada, para que o projeto eleitoral do PCdoB em 2012 seja vitorioso. A candidatura de Alice deve ser referendada ainda durante o ato político do sábado”, afirmou o presidente do PCdoB em Salvador, Geraldo Galindo, em nota à imprensa.

Animada, a pré-
candidata conversou com a Tribuna e seu nome é praticamente unânime entre os comunistas. “Esperamos que essa conferência reafirme o que já foi decidido nos encontros distritais que já tivemos em Salvador. Nas distritais de Brotas, Pirajá, Castelo Branco e Cajazeiras, por exemplo, meu nome surgiu como melhor opção.

Todas essas distritais foram unânimes na decisão de termos
candidato próprio à Prefeitura e de ousarmos a fazer uma grande bancada na Câmara Municipal”, afirmou a deputada. Alice Portugal reconhece que o PCdoB dispõe de “grandes” nomes para encabeçar uma chapa majoritária na capital baiana, a exemplo, segundo ela, do ex-deputado estadual Javier Alfaya e das vereadoras Aladilce Souza e Olívia Santana. “São nomes de grande expressão na política da nossa cidade, mas a opção foi pelo meu nome por eu ter tido, mais uma vez, uma grande votação e por ter intimidade com nossa cidade”, se autoelogiou a parlamentar comunista.

O evento, que acontece no Hotel Othon, em Ondina, é mais um dos encontros de partidos da base aliada que buscam consolidar sua pretensão para 2012, apesar de o PT, do deputado federal e pré-candidato a prefeito Nelson Pelegrino, continuar com o discurso de que o governo deverá ter candidato único. “Estamos convidando lideranças políticas de outros partidos e dos movimentos sociais. Este ato político tem uma grande importância para nós, porque é um momento de consolidação da força do PCdoB na cidade”.

32 países confirmam assistência à Cúpula da Celac

AVN
Agência Venezuelana de Notícias
Adital
Tradução: ADITAL

Todos os dignatários confirmam sua assistência à Cúpula da Celac (Comunidade de Estados latino-americanos e Caribenhos)

O presidente Chávez mencionou que há a expectativa de que em Caracas se criem as bases da Celac, onde discutirão temas de interesse regional para os povos. […]

Os Estados membros da Celac são:

Antigua e Barbados; República Argentina; Mancomunidade das Bahamas; Barbados; Belize; Estado Plurinacional da Bolívia; República Federativa do Brasil; República do Chile; República da Colômbia; República da Costa Rica; República de Cuba; República Dominicana; Mancomunidade de Dominica; República do Equador; República de El Salvador; Granada; República de Guatemala; República Cooperativa de Guyana; República de Haiti; República de Honduras; Jamaica; Estados Unidos Mexicanos; República de Nicarágua; República do Panamá; República do Paraguai; República do Peru; Santa Lucia; Federação de Sãon Cristóvão e Neves; San Vicente e Granadinas; República de Suriname; República de Trinidad e Tobago; República Oriental do Uruguai; República Bolivariana de Venezuela.

32 países confirmam assistência à Cúpula da Celac

Os governos dos 32 países da América Latina e Caribe confirmaram sua assistência à Cúpula que marcará o nascimento da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), informou o presidente venezuelano, Hugo Chávez Frías.

Durante um contato telefônico com o Programa Dossier, transmitido por Venezolana de Televisión, indicou que por razões da agenda dos diferentes presidentes, dita reunião foi pautada para os dfias 2 e 3 de dezembro próximo, em Caracas.

O organismo buscará fortalecer a Região em condições de igualdade e sem a dominação de potências hegemônicas. Outro objetivo é fazer frente a OEA (Organização dos Estados Americanos), instância que vários países da região denunciam como uma entidade que obedece exclusivamente aos interesses dos Estados Unidos. [...]

América Latina deve constituir-se em uma zona de paz

O presidente Chávez disse que os governos da América Latina devem trabalhar para transformar a região em uma zona de paz que alcance o mundo inteiro.

O chefe de Estado destacou que na maioria dos países do continente reina a estabilidade. "Temos que cuidá-la )a estabilidade) e contribuir para criar na América Latina uma zona de paz, uma zona verdadeiramente democrática que comece a irradiar para o mundo soluções econômicas, distanciadas do neoliberalismo, do capitalismo e buscar, como dizia Alí Primera, ‘que a humanidade seja mais humana'”. [...]. "Esses países estão muito longe de alcançar a estabilidade. Pelo contrário, a instabilidade é o que avança; a violência política, social, econômica”, disse Chávez.

Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos

A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos é um organismo intergovernamental de âmbito regional, herdeiro do Grupo do Rio e da Calc, a Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento. Foi criado em 23 de fevereiro de 2010 em sessão da Cúpula da Unidade da América Latina e Caribe, na cidade de Playa del Carmen, Quintana Roo, México.

"A globalização é uma uma nova forma de colonização"

Autor de estudos sobre o modo como as percepções de tempo e espaço se alteraram no mundo contemporâneo, o antropólogo francês Marc Augé reflete sobre essas mudanças em uma entrevista especial. "A distância entre ricos e pobres é cada vez mais importante, e a mesma coisa ocorre com o acesso ao conhecimento e à ciência. Eu diria que a globalização não difere muito da colonização. Vivemos um tipo de colonização anônima ou multinacional. A globalização nos emparelhou" afirma.

Desde 1980, o antropólogo francês Marc Augé propõe uma observação e um relato inédito de um mundo contemporâneo em plena velocidade. Da África à América Latina, do mundo ocidental a uma travessia pelo Jardim de Luxemburgo, uma viagem etnográfica pelo Metrô de Paris ou um ensaio brilhante sobre a bicicleta e o território de autonomia e intimidade que nos oferece, Augé explorou quase todos os recantos da modernidade sem nunca perder de vista o objeto central de seus trabalhos, a saber, os outros, o próximo, o indivíduo.

A originalidade de Marc Augé se inscreve inclusive no lugar de seus encontros. Autor de um delicioso ensaio sobre a impossibilidade de viajar – « A viagem impossível » - e o consequente automatismo que consiste em não vijar por territórios novos, mas sim por lugares consagrados e codificados, o autor francês fixou o local da entrevista em uma estação de trens, a Gare d’Austerlitz. Um lugar de observação privilegiado, situado perto de sua casa, na esquina de um McDonald’s em frente do qual está a entrada do Museu de História Natural de Paris. Uma conjunção urbana perfeita para um intelectual que tem explorado como poucos as noções de tempo e espaço e cujas reflexões precederam o advento de uma modernidade onde o tempo se tornou instantâneo através da velocidade dos intercâmbios e o espaço se estreitou com a catarata de imagens.

No entanto, como assinala Augé nesta entrevista, a instantaneidade e a profusão de imagems não fizeram mais do que criar confusão e mais solidão. Promotor da ideia de andar de bicicleta como forma de recuperar o controle individual da noção de tempo e espaço, agudo descobridor dos « não lugares », inventor do conceito de « etno-ficção », Augé disseca nesta entrevista a realidade de um mundo enfermo de imagens, iludido com um conhecimento de miragens. O antropólogo não propõe nenhuma ideologia de substituição, mas sim uma lúcida viagem pela modernidade, com todos seus escândalos e seus acertos passageiros.

Muitos analistas vêm evocando há cerca de dez anos a existência de uma espécie de mal estar generalizado em quase todas as sociedades humanas. Qual é, para você, a origem dessa estranha sensação planetária ?

Creio que o grande mal estar provém da mudança de escala. Quando refletimos sobre o contexto de qualquer acontecimento, esse se situa em escala planetária. Isso leva a que, mesmo em acontecimentos pequenos, o mundo inteiro esteja em questão. Também somos conscientes de que o capitalismo conseguiu sua internacionalização. Estamos encerrados no sistema, enão só no do mercado. As referências locais são insuficientes, os indivíduos são mais individuais, mas ou são consumidores ou são excluídos do consumo. Essa situação provoca uma certa vertigem e, sob certos ângulos, uma vertigem metafísica. Creio, então, que a instalação do sistema planetário nos faz sofrer.

Poderíamos ter uma percepção gloriosa disso tudo e afirmar que todos os seres humanos são irmãos, ou celebrar a humanidade e a universlidade. Mas estamos longe de tudo isso por duas razões : a primeira é porque essas mudanças ocorrem sob o signo da economia ; a segunda, porque as transformações provocam resistências que, frequentemente, são opacas e um pouco loucas. Vemos, por exemplo, o desencadeamento dos fundamentalismos mais radicasis. Alguém pode se perguntar até onde é preciso olhar para encontrar algo alentador.

Há algo ao mesmo tempo nefasto e tentador na instantaneidade com a qual funciona o mundo. Em um de seus livros, "As formas do esquecimento", você coloca o esquecimento como condição para saborear o presente e o instante, para recuperar o que as formas atuais da instantaneidade nos retiram.

A instantaneiddade é hoje a consigna do mundo. Paul Virilio descreveu muito bem esta ubiquidade da instantaneidade. Mas eu me refiro a outro instante, a um instante mais íntimo, o instante da relação conosco mesmo, o instante do encontro com os outros, com um olhar, uma paisagem, uma ideia. Não há identidade individual ou coletiva que possa ser construída sem o outro. A solidão absoluta é impensável. O itinerário do indivíduo passa pelo encontro com os demais. Por isso, quando evoco o instante, é por oposição a tudo o que está marcado pelo passado. Temos uma tendência a encontrar a explicação de todos os fenômenos no passado, seja na perspectiva marxista ou analítica. É claro que não se pode negar a importãncia do passado na construção individual e coletiva, mas eu diria que os momentos de criação são os momentos que conseguem escapar dessa gravidade. Para mim, o instante é justamente isso, um momento no qual o tempo muda de registro, há um tempo que circula, mas que não depende do que pesa sobre ele. Um instante sem culpabilidade.

Você escreveu certa vez que bastava ampliar a distância para que os piores erros se apaguem. No entanto, hoje a distância se estreitou e os horrores se apagam do mesmo modo. A proximidade não nos redime do esquecimento.

Sim, está certo, há um efeito duplo. Quando escrevi isso pensava nesses pilotos de avião que lançam bombas. Para eles, o dano causado era abstrato. Hoje basta ligar a televisão para ver cadáveres em abundância. Mas, de certo modo, o que torna as coisas abstratas é o acúmulo. A visão de proximidade da televisão produz o mesmo efeito que a distância. Creio que não nos damos conta do que ocorre, da gravidade.

Você diria que o relato por meio da imagem nos desumanizou ?

De certa forma sim. A imagem é a melhor e a pior das coisas. Estamos orgulhosos porque a imagem nos aproxima de tudo. No entanto, ao mesmo tempo que nos aproxima ela nos distancoa. A imagem também tem outro efeito perverso : ela causa a ilusão de que conhecemos porque nos permite reconhecer. Mas o reconhecimento não é o conhecimento. É um jogo perverso, é a ignorância que desconhece a si mesma.

Em seu último livro você faz uma assombrosa recomendação : « Devemos escapar do pesadelo mítico »

Com isso me refiro à fórmula de Walter Benjamin quando conta que, no fundo, a aparição do relato organizado, dos contos onde o pequeno triunfa diante do grande ou do ogro, tudo isso desfaz o impacto dos relatos míticos onde as bruxas devoram os homens e outros horrores mais. O pesadelo mítico são os mitos originais, as cosmogonias, as cosmologias e toda uma panóplia de mitos horríveis e caóticos. Benjamin pensava que a narrativa era uma forma de afastar-se desses horrores. O pesadelo mítico sempre se relaciona com a indistinção, a indistinção entre o bem e o mal, entre os sexos, entre as distintas gerações, etc, etc. Podemos nos perguntar, então, se não há um risco de uma nova indistinção a partir da abundância de imagens.

Essa abundância nos remete a um tipo de ameaça mítica. É preciso ter cuidado. Devemos ter formas narrativas capazes de colocar a imagem à distância para que ela seja apenas o que é, ou seja, uma ilustração e não uma realidade. Os progressos tecnológicos nos levam a tomar a imagem como algo real. O pensamento escrito é muito mais articulado e é isso precisamente o que precisamos : um pensamento articulado frente à enxurrada de imagens. A escritura aporta outra coisa. No entanto, também é lícito interrogar-se sobre a noção de escritura dado que o inimigo se instalou nesse campo. Basta abrir a internet para dar-se conta de que quase tudo que circula ali é oralidade primitiva, primária.

A internet também é, para você, uma espécie de ilusão.

Sim. Acreditamos que a internet é um fim em si mesmo, e isso é uma ilusão. Acredita-se que basta ingressar nesse universo para pertencer à comunidade dos comunicantes. Isso é ilusório. Não pertencemos a coisa alguma. Falava a pouco da ilusão do conhecimento. Com a internet ocorre algo similar. Em nosso computador, temos toda a ilusão do mundo, mas esse conhecimento só é útil para aqueles que já sabem algo.

Parece que o mundo moderno é uma sinfonia de ilusões. Você sugere, por exemplo, que a própria ideia de comunidade é ilusória.

Há palavras por trás das quais já não se colocam conceitos. Essas palavras funcionam como códigos para passar. Quando dizemos cultura, quando dizemos diferença, quando dizemos comunidade, eu me pergunto : de que estamos falando ? Por exemplo, quando se diz « sociedade multicultural » não sei do que está se falando. Trabalhei durante um tempo em uma localidade muito pequena da Costa do Marfim. Ali havia uma multiplicidade de grupos com culturas diferentes. Suas referências eram distintas e seus idiomas também. Em cada cultura, cada indivíduo tem uma relação diferente e desigual com essa cultura, A multiplicidade da referência cultural é enorme.

Quando falamos de sociedades multiculturais estamos nos referindo à coexistência de culturas no sentido mais impreciso, mais opaco. O que são a cultura africana ou a cultura asiática senão um conjunto de lugares comuns que não dizem grande coisa ? A noção de multiculturalismo é abstrata. Em resumo, cada vez que falamos de coletividade estamos recorrendo à linguagem da ilusão. Coloquemos as coisas ao contrário. Seria preciso dar voltas a partir do indivíduo, que é nossa única referência concreta. Não se trata de uma sociologia do egoísmo ou do egocentrismo. Não há indivíduo sem relação. Por isso de pode estudar a elaboração das relações entre os indivíduos.

Isso está no coração da democracia, a qual deve fixar a maneira pela qual nos relacionamos com o outro. A soberania do indivíduo está limitada pelo fato de que ele não está sozinho. A solidão absoluta conduz à loucura. O mesmo ocorre com a totalidade imposta, que também conduz á loucura. O papel da democracia deveria consistir em elaborar um compromisso para conciliar a individualidade e a alteridade.

Você introduz um conceito hiper moderno em sua definição dos blocos do mundo. Tomando como base o famoso artigo de Francis Fukuyama no qual, com o triunfo da democracia liberal, Fukuyama promoveu a ideia do fim da história, você escreveu que isso conduziu ao esfriamento do Ocidente.

Com isso, eu estava me referindo à ideia de Claude Levis-Strauss sobre as sociedades frias e as sociedades quentes. Quando se afirma que a história terminou então passamos para o lado frio. A ideia sobre o fim da história não significa que os acontecimentos acabaram, mas sim que a fórmula, a receita, foi encontrada : ou seja, mercado liberal e democracia representativa. Mas essa ideia enfrenta muitas objeções. A primeira : o mercado liberal se dá muito bem com regimes ditatoriais. Isso significa que a liberalização dos mercados, a liberdade dos intercâmbios, não garantem o advento da democracia. Há um paradoxo no postulado do fim da história : é uma espécie de marxismo ao contrário. É a ideia de qua organização da produção desemboca em formas sociais. Creio que esse foi o último grande relato que conhecemos.

A segunda objeção é que não nos dirigimos para um mundo de desigualdades reforçadas. A ascensão de alguns estados, os chamados países emergentes, alimenta a ilusão de que o mundo caminha na direção de mais igualdade. É certo que há países emergentes, mas assim como entre os países desenvolvidos, entre os emergentes se constatam fenômenos de desigualdade crescente. A distância entre ricos e pobres é cada vez mais importante, e a mesma coisa ocorre com o acesso ao conhecimento e à ciência. Eu diria que a globalização não difere muito da colonização. Vivemos um tipo de colonização anônima ou multinacional. A globalização nos emparelhou.

O Terceiro Mundo tem problemas que não são muito distintos dos problemas do Ocidente, por exemplo, no que diz respeito à migração. Os migrantes já não vão só do Sul ao Norte, mas também do Sul para o Sul. No Ocidente, há uma tradição de arrogância que não encontramos no Sul, mas não estou seguro de que os problemas sejam fundamentalmente distintos. A globalização criou as mesmas problemáticas em todas as partes. Não acredito que seja oportuno fazer a apologia do Ocidente ou questioná-lo. O questionamento do Ocidente permite às ditaduras locais fabricarem uma virtude por conta própria. Sou mais universalista, creio que todos compartilhamos o horror.

Há, de fato, uma tecno-oligarquia e uma oligarquia financeira que colonizaram o mundo ?

Sim, e cada vez mais nos dirigimos para esse modelo de oligarquias. Em alguns lugares do mundo vemos uma concentração muito forte de poder, conhecimento e riqueza. Há então uma classe oligárquica sob a qual encontramos uma classe de consumidores – sem eles o sistema não funciona – e depois vem os excluídos, essas classes que não são necessárias para que a máquina funcione. Esse esquema exclui todo modelo de revolução.

Para que uma revolução ocorra hoje ela deveria se situar em escala planetária. Conservamos uma ideia mítica da Revolução Francesa que também cometeu horrores. Mas conservamos também a ideia de que a Revolução Francesa foi feita em nome de princípios. Hoje já não sabemos quais são os princípios. O que está em jogo é enorme : transformar o planeta em um lugar onde todos os seres humanos se reconheçam é um desafio formidável. Mas a história não funciona assim.

Recordo o livro que você escreveu sobre a bicicleta, no qual aponta que andar de bicicleta é uma espécie de novo humanismo. Deveríamos todos andar de bicicleta para recuperar um pouco de humanidade ? Já não é muito tarde frente o avanço da globalização, a pobreza, a especulação, o vazio planetário das imagens ?

A experiência da bicicleta me permitiu destacar que tudo está relacionado com o tempo e o espaço. Neste sentido, a bicicleta corresponde à necessária dimensão individual. Quando estamos sentados na frente de nossos computadores estamos mergulhados em um universo fictício de instantaneidade e ubiquidade. Se temos trabalho estamos asfixiados pela maneira como está concebido fora de nós, e se não temos trabalho estamos aplastados como indivíduos. Há uma espécie de totalitarismo liberal muito pesado. Então, o que podemos fazer ? Em escala individual, creio que o único meio de escapar à ilusão é ter sua própria relação com o tempo e o espaço. A bicicleta é um bom instrumento : nos remete à infância, à velhice, nos remete à noção das distâncias que é preciso percorrer, ao controle, etc., etc. Quero deixar claro que não acredito que seja possível mudar o mundo por meio da reforma individual e da bicicleta. Como mortais, estamos todos condenados à utopia. Ainda não acabamos de redefinir a finitude do ser humano, a materialidade do espírito e o futuro de história.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O maior massacre da história da humanidade


Por Emir Sader

12 de outubro marca o início dos maiores massacres da história da humanidade. A chegada dos colonizadores, invadindo e ocupando o nosso continente – ate aí chamado Aby ayala pelas populações indígenas -, representava a chegada do capitalismo, com o despojo das riquezas naturais dos nossos países, da destruição das populações indígenas e a introdução da pior das selvagerias: a escravidão. Chegaram com a espada e a cruz, para dominar e oprimir, para impor seu poder militar e tentar impor sua religião.

Centenas de milhões de negros foram arrancados dos países, das suas famílias, do seu continente, à força, para serem trazidos como raça inferior, para produzir riquezas para as populações ricas da Europa branca e colonizadora. Uma grande proporção morria na viagem, os que chegavam tinham vida curta – de 7 a 9 anos -, porque era mais barato trazer nova leva de escravos da Africa.

Os massacres das populações indígenas e dos negros revelava como o capitalismo chegava ao novo continente jorrando sangue, demonstrando o que faria ao longo dos séculos de colonialismo e imperialismo. Fomos submetidos à chamada acumulação originária, aquele processo no qual as novas potências coloniais disputavam pelo mundo afora o acesso a matérias primas, mão de obra barata e mercados. A exploração colonial das Américas fez parte da disputa entre as potências coloniais no processo de revolução comercial, em que se definia quem estaria em melhores condições de liderar o processo de revolução industrial.

Durante mais de 4 séculos fomos reduzidos a isso. Os ciclos econômicos da nossa história foram determinados não por decisões das populações locais, mas das necessidades e interesses do mercado mundial, controlado pelas potências colonizadoras. Pau brasil, açúcar, açúcar, borracha, no nosso caso. Ouro, prata, cobre, carne, couro, e outras tantas riquezas do novo continente, foram sendo reiteradamente dilapidados em favor do enriquecimento das potências colonizadoras europeias.

Assim foi produzida a dicotomia entre o Norte rico e o Sul pobre, entre o poder e a riqueza concentrada no Norte – a que eles chamavam de “civilização” – e a pobreza e a opressão – a que eles chamavam de “barbárie”.

O início desse processo marca a data de hoje, que eles chamavam de "descoberta da América", como se não existissem as populações nativas antes que eles as “descobrissem”. No momento do quinto centenário buscaram abrandar a expressão, chamando de momento de “encontro de duas civilizações”. Um encontro imposto por eles, baseado na força militar, que desembocou no despojo, na opressão e na discriminação.

Não nos esqueçamos disso, demos à data seu verdadeiro significado, que nos permita entender o presente à luz desse tenebroso passado de exploração e de massacre das populações indígenas e das populações negras.

Confiante na vitória, Manuel Zelaya aposta em nova era com eleição em 2013

Deposto por um golpe de Estado em junho de 2009, o ex-presidente de Honduras Manuel Zelaya prepara-se para reassumir um papel protagonista no cenário político do país centro-americano. De volta à sua terra natal desde 28 de maio deste ano, ele coordenou a articulação de diversos movimentos populares que ajudaram na fundação do Libre (Liberdade e Refundação), partido que estará presente nas próximas eleições, em 2013.

Braço político da FNRP (Frente Nacional de Resistência Popular), o Libre fica órfão da palavra "resistência", termo que deu forte identidade ao movimento social surgido espontaneamente como reação ao golpe.

A assembleia geral da FNRP teve de mudar de nome outras duas vezes – primeiro, chamava-se FARP (Frente Ampla de Resistência Popular), e depois, PRP (Partido da Resistência Popular). Isso ocorreu porque as palavras "Frente Ampla" e "Resistência" já haviam sido registradas no TSE (Tribunal Supremo Eleitoral) local por outras forças políticas. Para Zelaya, coordenador do FNRP, esta não foi uma decisão fácil, mas acredita que o povo terá maturidade para compreendê-la.

Em entrevista exclusiva ao Opera Mundi, Zelaya abordou temas que provocam intensos debates na história recente de Honduras: as expectativas eleitorais, a necessidade de passar da luta social à luta política, a relação entre a Resistência e o novo partido e o silêncio internacional perante reiteradas violações do Acordo de Cartagena.

Liberdade e Refundação. Por que estas palavras?
A liberdade é uma utopia na qual mergulhamos. Ela rompe a corrente que nos oprime e é uma aspiração pessoal e coletiva. E queremos a liberdade mas, para sermos livres, temos de refundar a pátria.

Para além do golpe de Estado, a proposta política da FNRP surge de uma demanda histórica do povo. Ela tem raízes profundas, e se posiciona contra a desigualdade, a pobreza e a violência do sistema neoliberal e do capitalismo sem limites. O povo amadureceu e está pronto para promover a transformação do país.

Lucas/Opera Mundi


O ex-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, deposto em 2009

Como refundar a pátria? Convocando uma Assembleia Constituinte, que foi a proposta da FNRP, ou por instrumentos constitucionais que já existem?
Em Honduras sempre se debate sobre como administrar o modelo e nunca sobre a estrutura de poder que determina esse tipo de administração. O poder não se discute nunca.

Durante meu governo, tratei de promover mudanças consultando o povo sobre a Constituinte, e me deram um golpe de Estado. Neste sentido, o termo "refundação" vem do conceito: voltar a conceber os fatores de poder no contexto da correlação de forças do país.

O povo se apoderou deste conceito e é um novo ator na correlação de forças em Honduras. Agora, ele quer decidir assuntos de importância nacional. Não para tirar do capital, mas para distribuir melhor a riqueza e reduzir a pobreza.

A reforma constitucional continua prioridade para o novo partido?
Precisamos fazê-la para elaborar um novo poder constituinte no país. O Partido Nacional fez a mesma reforma constitucional que propus em meu governo, e agora deveria convocar uma Constituinte. Isso permitiria a recomposição do pacto social rompido pelo golpe. Se não querem fazê-lo, nós o faremos depois de 2013, quando formos governo.

Quais forças vão formar o Libre?
Reservamo-nos o direito de não aceitar pessoas que estão de acordo com a violência do golpe. Mas não recusamos os que se arrependeram verdadeiramente do que fizeram. Já perdoamos nossos detratores e avançamos rumo à reconciliação. Não queremos vingança, e sim justiça, e vamos fazê-la nas urnas.

Que peso terão no novo partido os liberais não comprometidos com o golpe?
Vai depender do povo. Se as pessoas, os líderes e os dirigentes que serão propostos ao povo não representarem os interesses bastardos das elites que dominam o país, acredito que terão o respaldo popular para empreender as transformações de que Honduras precisa. Todos vão se submeter ao escrutínio popular, para que o povo possa escolher quem o dirigirá e conduzirá na luta contra o Partido Nacional, a oligarquia e o tradicionalismo.

Também contra o Partido Liberal?
Contra tudo o que representa o tradicionalismo. Não importa a ideologia dos dirigentes, mas eles devem ter uma conduta diferente da tradição, e sua visão política deve estar comprometida com a luta pacífica, democrática, com um profundo compromisso social.

O senhor acredita que os setores que promoveram o golpe estarão dispostos a aceitar um governo do Libre?
Não haveria outro caminho a não ser reconhecer a vitória. Se eles interromperem um processo político eleitoral, o mundo lhes fechará novamente as portas.

Em diversas ocasiões, o senhor apontou a participação dos Estados Unidos no golpe. Acredita que o país vai intervir neste novo processo político?
Eles sempre se intrometem e sabemos que os países como Honduras são protetorados norte-americanos, ocupados economica e militarmente. Não podemos negar sua presença e devemos nos sentar com eles para lhes explicar que precisamos que suas grandes transnacionais deixem de promover golpes de Estado e violência. Honduras precisa se refundar e eles têm de entender isso.

Qual é a relação entre a FNRP e o Libre?
É o mesmo sujeito. O Libre é apenas o braço político da FNRP, que dirige a intenção do povo de se organizar. Por trás de todo o processo está o povo. A oligarquia quer semear a discórdia ao dizer que há uma divisão entre estas duas forças.

Na Resistência, há muitas pessoas que, por ingenuidade, caem neste erro. Dizer que é incorreto ir às eleições significa participar do jogo da oligarquia e do império. Mas o povo quer participar da política, tomar o poder para conseguir mudanças estruturais.

E quanto à luta social empreendida nestes anos?
Porfirio Lobo está no governo há quase dois anos e a luta social não deu resultados. O que obtiveram professores, operários e camponeses com a luta nas ruas? Praticamente foram privados de suas conquistas históricas. Isso demonstra que a resistência e a luta social são boas, mas têm limites e não resolvem o problema. Na verdade, tivemos retrocessos. O poder político de um governo comprometido é o caminho para resolver os problemas.

Também não haverá diferenças em termos de estrutura?
Já foram aprovados os estatutos do partido e toda a estrutura da FNRP vai se submeter à eleição. O povo decidirá quem vai conduzir a última fase da luta contra a oligarquia e os partidos tradicionais. A partir do momento em que o partido se inscrever haverá uma só estrutura, mas isso não quer dizer que a luta política abandonará a luta das massas, e sim que vai avaliá-la e apoiá-la.

Há pessoas que não acreditam nas lutas políticas, pois elas as obrigam a se relacionar com os verdadeiros atores do país e a reconhecê-los. Temos de participar para derrotá-los pacificamente nas eleições. Deixar o poder para a oligarquia seria fatal.

Quatro meses depois da assinatura do Acordo de Cartagena, o senhor considera esta decisão foi acertada?
Ninguém pode opor-se a um processo de reconciliação. É por isso que as pesquisas mostram que 80% da população é favorável ao acordo. Mas o fato de ele ser cumprido ou não depende de outros fatores.

Lutamos para que eles sejam respeitados, porque a violação dos direitos humanos continua, os julgamentos são parciais, a representação de direitos humanos da ONU não chegou ao país e continuamos reclamando nosso direito à reconciliação.

Honduras reingressou ao cenário internacional, mas ninguém fala do que está acontecendo no país. O Acordo de Cartagena era a peça que faltava para a 'lavagem' do golpe?
O golpe não foi lavado. A Comissão da Verdade disse que foi um golpe e o condenou. Assinei como ex-presidente e Porfirio Lobo como presidente surgido de eleições que impugnamos. Dizer que não reconhecemos seu governo seria negar uma realidade, porque o governo existe.

A Resistência continua desconhecendo sua legitimidade.
A Resistência foi coerente do início ao fim. Com o acordo, nos ofereceram eleições e a inscrição do partido, e aceitamos. No começo, a Resistência queria derrubar o sistema de fora para dentro. Como não foi possível e muitas das conquistas obtidas no passado começaram a se perder, decidimos entrar no sistema e combatê-lo a partir de dentro.

Espero que, em 2013, a sabedoria popular e a conduta desta nova força política marquem o início de uma nova era, não utópica, de falsas ilusões, mentiras e demagogias, mas de realidades. À medida que a campanha (eleitoral) avançar, enfrentaremos todos. Especialmente a CIA (agência de inteligência norte-americana), que vêm nos difamando para dividir o país, tal como fizeram com o golpe.

Fonte: Opera Mundi

A publicidade infantil é legítima?

Por Emiliano José

A publicidade é um negócio especial, motor do capitalismo. A atividade consegue fazer do produto uma mercadoria, transferir qualidades mágicas ao que se quer vender e ainda carrega consigo, por isso mesmo, uma carga enorme de criatividade, pois manipula a mente das pessoas. Realiza a transformação a que Marx se referia, transformando valor de uso em valor de troca. Ninguém compra um automóvel. Compra o que pensa ser aquele automóvel. E convence. E vende.

O capitalismo é o modo de produção das marcas a partir da publicidade. Isso foi registrado por Paul Baran e Paul Sweezy em seu notável livro O capital monopolista, de 1966. E esse capitalismo de marcas data do final do século XIX, início do século XX. Valem mais as marcas, o simbolismo que se empresta a elas, do que o produto concreto que representam. Então, a publicidade é algo extraordinário pela sua força, pelo seu poder de, sob vários aspectos, moldar o mundo.

Por isso, pergunto: será justo que nossas crianças continuem a ser constantemente bombardeadas por mensagens publicitárias destinadas a incentivar o consumo, a propalar uma visão consumista de mundo, a serem os porta-vozes do mercado junto aos seus pais? É correto que a publicidade no Brasil não experimente nenhuma regulamentação com relação à publicidade infantil?

Respondo logo que, do meu ponto de vista, não.  As crianças têm sido utilizadas não só para a venda de produtos infantis, como para estimular o consumo de produtos destinados a adultos. Lamentavelmente transformam-se em joguetes na construção do consumismo, na efetivação da transformação do valor de uso em valor de troca.

Não estou especulando. O mundo publicitário assume isso, sem culpa. Desculpem-me os leitores. Falar em culpa no mundo da publicidade é um equívoco completo. Tenho participado intensamente desse debate na Câmara Federal. Uma amiga do Instituto Alana, Gabriella Vuolo, que se dedica a combater o consumismo infantil, recentemente me mostrou um cartaz que dizia: “Venha ao Maximídia e aprenda a falar com quem mal aprendeu a falar”. Isso mesmo. Obsceno assim. A publicidade começa a mexer com os corações e mentes das crianças muito cedo. De modo planejado, científico.

Tratava-se, no caso a que me refiro, de um debate do Maximídia 2011, o 21º Encontro Internacional de Marketing e Comunicação, realizado pela Meio&Mensagem, em São Paulo, que ocorreria no dia 6 de outubro. “É a oportunidade de você e sua empresa aprenderem a falar com gente que influencia imensamente o consumo de milhões de adultos”.

Não há, portanto, dúvida quanto ao que se quer com a publicidade destinada ao público infantil – levar os adultos a comprar, e não somente produtos para as crianças. Os pequenos transformam-se no batalhão avançado do consumismo, os que primeiro devem convencer os pais a comprar, e a adquirir as mais variadas mercadorias, não apenas os produtos infantis.

As crianças – e falamos de uma idade que vai de zero a 12 anos – ainda não têm maturidade suficiente, como é natural, não têm experiência de vida, acreditam com mais facilidade nas coisas que ouvem e vêem, são pessoas vulneráveis. Crianças não sabem controlar seus desejos e são facilmente iludidas pelas atraentes, bem estudadas e pesquisadas mensagem publicitárias. São, portanto, facilmente manipuláveis. Como o diz quase abertamente o texto do cartaz a que me referi acima.

As conseqüências para as crianças são danosas, graves. Obesidade infantil, uma delas. A publicidade de alimentos não saudáveis contribui muito para a formação de maus hábitos alimentares. De cada 10 alimentos anunciados no Brasil, sete são guloseimas e comidas industrializadas, e 15% das crianças brasileiras já estão obesas e 33% com sobrepeso. Constitui um problema de saúde, inclusive, também, de natureza psicológica.

A erotização precoce é outra questão. Estimuladas pela publicidade, as crianças acabam pulando etapas importantes de seu desenvolvimento. Muito cedo, são induzidas a deixar de brincar, de desenvolver a sua imaginação, de fantasiar por si próprias, para se envolver com as fantasias que a publicidade lhes impõe, e passam a se preocupar em parecer mais velhas e atraentes, portando-se como adultas. Os pais às vezes não percebem tudo isso, e acabam entrando no jogo. Quantos pais e mães não se orgulham em apresentar uma filha de pouco anos como uma mulher, ou um menino como um homem feito?

Também é notório que crianças mais pobres, que não podem comprar o que o mundo publicitário anuncia, reagem contra a família e a sociedade. Violência e delinquência precoces também estão vinculadas ao consumo insatisfeito. Muitos jovens vão buscar no tranco, armados, o que o fantástico mundo da publicidade apregoa como algo permitido a todos.

A publicidade sem controle de bebidas alcoólicas também estimula o consumo precoce do álcool, com as conseqüências conhecidas. Ficamos discutindo as drogas e quase nos esquecemos da gravidade do consumo do álcool na infância e adolescência. Nossas crianças têm de ser protegidas desse bombardeio. Na Câmara Federal, há projetos destinados a isso, e nós os temos apoiado, promovido audiências públicas e insistido que tramitem rapidamente.

Sei que no Brasil, quando se fala em regulação, apela-se logo para a democracia, como se o mundo dos negócios estivesse profundamente preocupado com nosso destino político, como se o regime democrático estivesse correndo risco. Não está. Em outros países há regulação em relação ao assunto. Na Suécia, é proibida a publicidade na TV dirigida à criança menor de 12 anos em horário anterior às 21 horas. É proibido qualquer tipo de comercial que seja veiculado durante, imediatamente antes ou depois dos programas infantis – seja de produtos destinados ao público infantil ou adulto.

Na Inglaterra, é proibida a publicidade de alimentos com alto teor de gordura, sal e açúcar dentro e durante a programação de TV com apelo ao público menor de 16 anos, a qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer canal ou emissora, como é proibida a publicidade para crianças, que ofereça produtos ou serviços por telefone, correio, internet ou celular.

Por lá também, para não confundir a criança, é proibido o uso de efeitos especiais que insinuem que o produto possa fazer mais do que efetivamente faz, o que ocorre no Brasil à saciedade. É proibida qualquer transmissão antes das 21h de publicidade comercial apresentada por personalidades ou personagens – inclusive bonecos, fantoches e marionetes – que apareçam regularmente em programas de TV apresentando ou endossando produtos ou serviços de particular interesse das crianças.

Na Alemanha, os programas infantis não podem ser interrompidos pela publicidade. Crianças não devem ser usadas para apresentar vantagens especiais e características de um produto que não seja adequado ao natural interesse e manifestação delas.  Na Noruega, é proibida a publicidade de produtos e serviços direcionados a crianças menores de 12 anos. E é proibida a publicidade durante programas infantis.

EUA, Bélgica, Canadá, Irlanda, Dinamarca, Holanda, Áustria, Portugal, Luxemburgo, Itália e Grécia são alguns outros países que têm legislações voltadas à proteção das crianças em relação à publicidade. Como se vê, não estaremos mal acompanhados caso consigamos avançar na legislação com algum tipo de proteção às nossas crianças diante do indiscriminado bombardeio publicitário.

Ninguém poderá rotular de autoritarismo qualquer regulação. Ao contrário. Todos os países a que nos referimos são países democráticos, e que zelam por suas crianças. Ao dar um passo para regular a publicidade infantil, avançaremos na proteção de nosso futuro. Será um gesto carinhoso, amoroso. O consumo é assunto de adultos. Crianças merecem ser protegidas.

*Emiliano José é deputado federal, integra o Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo.

A mulher que enfureceu a mídia

Por Eduardo Guimarães
 
Uma improvável “pesquisa de opinião” deste blog revelou um fato que não chega a ser surpreendente: não se encontra alma viva que não tenha tomado conhecimento da polêmica em torno da propaganda de lingerie da Hope na qual a “top model” Gisele Bündchen insinua oferta de sexo a um homem de forma a “compensá-lo” por bater seu “carro” e “estourar” o limite de seu cartão de crédito.

Além da enorme repercussão do caso, a veiculação de tal propaganda aumentou exponencialmente –  tanto na tevê aberta quando na tevê por assinatura – depois que a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), a mineira de Lavras Iriny Lopes, oficializou ao Conar  (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) um pedido de suspensão daquela peça publicitária, agindo em resposta a queixas que a Secretaria recebeu.

Parece desnecessário especular sobre a causa do aumento da veiculação da peça. Trata-se de afirmação de independência e poder não da empresa que financiou a produção, mas da categoria publicitária (de empresas a profissionais da área) e da própria mídia como um todo, que, há muito, classifica como “censura” qualquer tentativa de regulação do espaço público da comunicação por rádio e tevê.

Dessa iniciativa da SPM decorreu forte reação dos meios de comunicação de massa, reação que fica evidenciada na edição desta semana da revista IstoÉ, que afirma que Iriny  “tornou-se alvo de uma saraivada de críticas e virou tema para humoristas ao mexer num vespeiro”, tendo sido acusada pelos “críticos mais exaltados” de ter investido contra o comercial da Hope por conta de uma “reação feminina de inveja à beleza da Gisele Bündchen”.

Uma das charges encomendadas pela mídia para ridicularizar a titular da Secretaria do governo federal de Políticas para Mulheres mostrou-a seminua (só de lingerie), em franca desvantagem em relação às formas exuberantes e à juventude da “top model” da propaganda do fabricante de lingerie devido ao fato de a ministra ter idade para ser sua mãe.

Em um momento em que a presidente Dilma Rousseff vinha fazendo gestos de boa vontade para com a grande mídia, prestigiando suas autocongratulações festivas e programas destinados ao público feminino, além de fazer reiterados gestos de gentileza ao político mais celebrado pelos grandes meios de comunicação, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, essa mulher de meia-idade, de aparência comum, petista de carteirinha, ocupante do principal cargo em um órgão considerado “inútil” por esses veículos, cutucou a onça com vara curta.

Só o episódio envolvendo o fabricante de lingerie Hope já teria potencial para fazer a ministra refletir que não é promissor para a sua carreira política enfrentar a máquina de moer reputações da direita brasileira, sobretudo por conta da fragilidade do ministério do atual governo diante do noticiário, fato comprovado pela queda de cinco ministros neste ano após matérias da imprensa. No entanto, Iriny voltou à carga.

Além do caso da propaganda de lingerie, a SPM, provocada pelo sindicato dos metroviários de São Paulo, pediu providências à Globo em relação ao programa humorístico Zorra Total, que apresenta quadro em que uma mulher aceita ser apalpada por um estranho em um vagão de metrô lotado. A provocação do sindicato à SPM acusa o quadro do programa de incentivar o assédio sexual de mulheres no transporte público.

Em seguida, o mesmo órgão, por iniciativa da ministra, pediu à Globo que colaborasse com a divulgação da existência de instâncias do governo a que mulheres vitimadas por violência doméstica podem recorrer. A colaboração se daria através da inserção de informações nas cenas da novela Fina Estampa em que uma mulher e sua filha são reiteradamente agredidas pelo marido e pai.

Aguinaldo Silva, autor da novela Fina Estampa, bem como a própria Globo receberam mal o pedido de colaboração da SPM e, como de costume, passaram a brandir queixas sobre “censura” apesar de o órgão ter feito apenas um pedido, não tendo tomado nenhuma medida para obrigar a emissora e o autor a colaborarem com a campanha governamental para informar as brasileiras da existência de medidas oficiais de proteção à mulher.

Apesar de carregar nas tintas, a mídia deixa ver que Iriny Lopes, à diferença dos homens do ministério de Dilma que não resistiram às seguidas matérias veiculadas com enorme destaque acusando-os, pode vir a se mostrar um osso duro de roer. Uma matéria da revista Veja divulgada no fim do ano passado, quando da nomeação de Iriny por Dilma, e outra publicada na revista IstoÉ desta semana revelam uma mulher no mínimo tenaz.

Segundo a edição da revista Veja de 13 de dezembro do ano passado, “Iriny Lopes está no PT desde 1984″ e “Pertence a uma ala mais radical do partido”, tendo chegado a “Integrar a chamada bancada agrária, simpática ao Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST)”.

Já a revista IstoÉ, na edição desta semana, classifica a ministra como “Militante dos direitos civis e fundadora do PT no Espírito Santo” e afirma que ela “Enfrentou momentos difíceis em seus 58 anos de vida”, já que, “Ao combater a corrupção e o crime organizado em seu Estado, foi ameaçada de morte e passou cinco anos sob proteção da Polícia Federal”.

Alguém com tal histórico provavelmente não se deixará intimidar por campanhas difamatórias na imprensa, mesmo que, previsivelmente, surja alguma acusação à sua honestidade, arma que tem sido altamente eficiente na derrubada incessante de ministros que vem marcando o atual governo. E é bom que seja assim mesmo, porque essa mulher de aparência frágil de fato enfureceu a mídia.

Armação dos EUA ou loucura do Irã?

Por Antonio Luiz M. C. Costa, na CartaCapital:

Ontem, 11 de outubro, o governo de Barack Obama anunciou ruidosamente a desarticulação de uma suposta conspiração de uma facção do governo iraniano para assassinar o embaixador da Arábia Saudita nos EUA e cometer outros atentados contra embaixadas sauditas e israelenses. Em represália, anunciou novas sanções contra Teerã.

A Arábia Saudita se manifestou de imediato contra a “violação fragrante e desprezível da lei internacional” e o governo britânico de David Cameron para dizer que os indícios de envolvimento de “elementos do regime iraniano” eram “chocantes” e oferecer seu apoio aos EUA em relação a medidas punitivas. Os outros aliados dos EUA se mostraram mais cautelosos. A chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, diz que as a acusações terão consequências graves “se forem confirmadas” e mídias da França e Alemanha falam de “suposto complô” e “acusação dos EUA”.

O governo iraniano está longe de ser monolítico – são notórios os desentendimentos entre o aiatolá Khamenei e o presidente Mahmoud Ahmadinejad, recentemente acusado de corrupção por vários parlamentares – e não se pode descartar, a priori, a possibilidade de algum componente fanatizado ter-se envolvido em planos insensatos. Mas há razões para duvidar.

A primeira, mais óbvia, é que já se viu EUA e Reino Unido fazerem acusações falsas e forjarem provas contra um governo estrangeiro, quando decidiram invadir o Iraque de Saddam Hussein. Desde então, mudaram os governos, mas as políticas de Estado continuam fundamentalmente as mesmas.

A segunda é que um complô do Irã para atacar os EUA ou a Arábia Saudita se encaixa mal na atual conjuntura internacional, ao passo que um complô anglo-americano contra o Irã combina perfeitamente com o cenário. Nos últimos meses, a Primavera Árabe tem permitido ao Irã romper seu isolamento na região, a começar pela normalização das relações com o Egito, que alarma estadunidenses, sauditas e israelenses. Teerã também continua a buscar a mediação dos BRICS e da Turquia para um acordo sobre seu programa nuclear, voltando a oferecer o fim do enriquecimento de urânio a 20% em troca de combustível. Parece óbvio que o regime não quer provocar um conflito imediato, ao passo que os EUA e seus aliados têm todo interesse em deter a regularização das relações iranianas e voltar a segregar o país.

A terceira é que a história contada pelo procurador-geral (com poderes de ministro da Justiça) dos EUA, o democrata Eric Holder, é, em si, um tanto bizarra. De maio a setembro, ao lado de Gholam Shakuri, integrante de uma unidade especial da Guarda Revolucionária do Irã, o iraniano-americano Manssor Arbabsiar, preso em 29 de setembro, teria feito contatos no México um informante da DEA (departamento antidrogas dos EUA) que se fazia passar por representante de um cartel de narcotráfico não identificado (provavelmente os Zetas). Depois de discutirem a possibilidade de ataques com explosivos a embaixadas sauditas e israelenses não especificadas (fala-se em Washington e Buenos Aires), teriam fechado um acordo para assassinar o embaixador saudita nos EUA, Adel Jubeir, por 1,5 milhão de dólares, possivelmente num restaurante de Washington, mesmo que isso envolvesse a morte de inocentes. Arbabsiar foi detido ao desembarcar no México para pagar a primeira metade do acordo e teria confessado suas ligações com facções do governo de Teerã, enquanto Shakuri está no Irã.

Por que interessaria ao Irã, ou mesmo a uma facção do seu governo, eliminar um embaixador, ou cometer atentados contra embaixadas neste momento? Tais ações não são típicas de governos, mesmo mal intencionados, mas de organizações em busca de projeção, propaganda e conquista de militantes, como a Al-Qaeda. A tradicional pergunta “cui bono?” ou “cui prodest?” – “quem se beneficia?” –, pode não bastar como prova, mas aponta para outro lado.

Mesmo antes da Primavera Árabe, a Arábia Saudita e os emirados do Golfo pressionavam os EUA a atacarem Irã, visto como uma ameaça revolucionária a seus regimes obsoletos. E é evidente que a nova conjuntura da região os deixou em pânico, pela influência dos aiatolás sobre a região e principalmente os xiitas de sua região oriental e dos países vizinhos. Teerã acusou os sauditas de genocídio na repressão às manifestações de descontentamento dos xiitas do vizinho Bahrein, que é também a principal base da Quinta Frota dos EUA. Por outro lado, na Síria o Irã dá apoio crítico ao regime Assad, enquanto o governo de Riad foi o primeiro a romper relações com Damasco e apoiar abertamente os dissidentes.

Também é evidente o interesse de Washington em criar um incidente, tanto por razões de política internacional – desincentivar negociações e aproximação de outros países com o Irã, dar o “toque de reunir” a seus aliados da Otan – quanto de política interna, uma vez que se aproxima o período eleitoral, Obama já não é favorito para a reeleição e está encurralado entre os ataques dos republicanos pela direita e as críticas do #Occupywallstreet, pela esquerda. Quando a economia é um desastre, nada como forjar um inimigo externo para conseguir o apoio automático da mídia e de parte dos eleitores. O patriotismo é o último recurso, como dizia Samuel Johnson.

Demissão na Siemens apavora tucanos

Por Altamiro Borges

Sem manchetes nos jornalões ou estardalhaço da TV, a mídia demotucana noticia hoje que a multinacional alemã Siemens demitiu Adilson Primo, que desde 2001 era o presidente-executivo da sua subsidiaria brasileira. Segundo a lacônica nota da empresa, “por meio de investigação interna, foi descoberta uma grave contravenção das diretivas da Siemens na sede nacional”.

O Valor informa que “a demissão foi resultado de extensa investigação por suspeita de desvio de dinheiro, de aproximadamente € 6,5 milhões”. Já a Folha observa que “Primo teria feito as retiradas indevidas antes de 2007, quando estourou o maior escândalo de propina da história da multinacional”. A mídia demotucana só não enfatiza que o Brasil estava metido neste gigantesco caso de corrupção.

Bilionário negócios com o Metrô

Na época do escândalo, a imprensa mundial especulou que o dinheiro desviado da multinacional teria servido para corromper autoridades de diversos países, incluindo o Brasil. A demissão sumária do executivo confirma a suspeita e deve apavorar os tucanos. Afinal, Adilson Primo negociou bilionários contratos da Siemens com o governo de São Paulo, principalmente nas obras do Metrô.

Durante dez anos, o executivo agora demitido comandou a empresa com receitas de mais de R$ 4 bilhões ao ano no Brasil e com atuação em diversos setores, como equipamentos do setor elétrico, automação industrial, sistemas metroviários e até na área da saúde. Primo, como vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base, inclusive participava dos projetos do PAC.

Propinas de US$ 850 milhões

Quando eclodiu o escândalo, descobriu-se que a Siemens e a Alstom, também com negócios no Metrô paulista, tinham distribuído propinas de mais de US$ 850 milhões, especialmente na América Latina. Corrompendo “autoridades”, a multinacional expandiu seus negócios no país através de bilionários contratos com o setor público. Ela era beneficiada por licitações públicas distorcidas.

Na divulgação dos nomes dos suspeitos de envolvimento no gigantesco esquema de corrupção, a mídia mundial chegou a citar o nome de Robson Marinho, um tucano de alta-plumagem – que coordenou a campanha de Mario Covas e presidiu o Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. A rede de suborno também incluiria outros integrantes dos governos PSDB no estado.

Ministério Público e Polícia Federal

Se as “investigações internas” da Siemens vierem à tona, muita gente graúda pode perder o sono de vez. O Ministério Público e a Polícia Federal, inclusive, deveriam ingressar no caso. Afinal, o executivo demitido atuava no Brasil. Quem se beneficiou do seu esquema de corrupção? Um rastreamento das contas de Adilson Primo pode resultar em importantes revelações – inclusive sobre licitações fraudulentas.

Senado quer destinar 2% da arrecadação das loterias da Caixa para o ProJovem

Do todo, 20% são separados para despesas de custeio e para a manutenção dos serviços e percentual aproximado é descontado de Imposto de Renda, variando de acordo com a modalidade.

Brasília – O Senado enviará nos próximos dias para a Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 570/09, do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que prevê a destinação de 2% da arrecadação das loterias da Caixa Econômica Federal ao Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), com o objetivo de integrar os adolescentes à escola e qualificá-los profissionalmente.

O projeto foi aprovado ontem (11) pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e agora segue para apreciação dos deputados, que devem discutir de onde tirar os 2% propostos, uma vez que a arrecadação das nove modalidades de jogos está toda rateada e sobram apenas 32,2% para o prêmio líquido da Mega Sena, por exemplo, ou 45,5% no caso da Loteria Federal.

Do todo, 20% são separados para despesas de custeio e para a manutenção dos serviços e percentual aproximado é descontado de Imposto de Renda, variando de acordo com a modalidade.

Do que sobra, a Seguridade Social fica com boa parte, seguida por destinações para o crédito educativo, para os esportes, para o Fundo Nacional da Cultura e para o Fundo Penitenciário Nacional. Além disso, 22% da Timemania são destinados à recuperação das dívidas dos clubes de futebol com a União.

O problema vai ser de onde tirar os 2% sugeridos pelo projeto, mas o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), relator da proposta, está otimista quanto à aprovação da matéria também pelos deputados. Segundo ele, a Caixa Econômica Federal arrecadou R$ 8,8 bilhões no ano passado com as loterias e 2% disso resultariam em uma injeção de R$ 176 milhões, equivalentes a 14% do orçamento do ProJovem neste ano.

Fonte: Agência Brasil

UNE lança campanha em defesa da educação pública no Brasil

A União Nacional dos Estudantes (UNE) espera realizar, nos próximos meses, a maior campanha em defesa da educação já promovida no Brasil. A mobilização é pela aprovação dos 10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-Sal como recursos a serem investidos exclusivamente nesse setor.


Todo esse dinheiro deverá ser destinado para a melhoria da estrutura das escolas, pagamento de salário digno aos professores, excelência do ensino público na periferia das cidades e nas zonas rurais de todos os municípios, além da ampliação do acesso e da qualidade nas universidades para todas e todos.

A campanha tem o nome “Educação 10″ e contará com um
abaixo assinado que, de acordo com as expectativas UNE, reunirá milhões de assinaturas. “Há na sociedade brasileira, atualmente, um enorme consenso da necessidade de aumentar significativamente os investimentos em educação”, destaca o presidente da entidade Daniel Iliescu.

Os dois objetivos da campanha poderão ser alcançados ainda esse ano. Nos próximos meses, o Congresso deverá votar o projeto do Plano Nacional de Educação (PNE) do governo federal, que propõe a ampliação dos investimentos no setor para 7% do PIB até 2020, o que não é, definitivamente, suficiente. A UNE defende que o texto seja refeito e garanta o investimento de 10% na educação do Brasil até 2014.

Urgente também é a aprovação do PLS 138/2011, em tramitação no Congresso, que garante 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação. O Fundo Social, criado em 2010, tem o objetivo de garantir que os recursos dessa riqueza natural sejam revertidos com finalidades sociais. Ainda segundo a entidade investir na educação pública é a única forma de realmente superar os problemas mais urgentes do Brasil.


Fonte: Portal da UNE

Che, modelo de moral

Che, modelo de moral


Já se faz 44 anos desde o dia do assassinato - a sangue-frio - de Che Guevara, em 9 de outubro de 1967, na escola primária de La Higuera, na Bolívia, onde havia sido transportado após sua prisão por rangers bolivianos e agentes da Agência Central de Inteligência (CIA) dos EUA. No dia anterior caíra em emboscada junto com 17 guerrilheiros remanescentes.

Por Pedro Belasco, no Monitor Mercantil

Afirmar que a memória de Che permanece viva seria muito pouco para o "eterno revolucionário" cujo internacionalismo de sua presença não tem precedente: Está "presente" em qualquer manifestação popular, em qualquer comício em qualquer lugar do mundo, tornou-se ídolo da juventude mundial, símbolo de radical disputa e revolução permanente, fonte de inspiração para muitas faces da arte.

Jean-Paul Sartre, o caracterizou em 1968 "uma das maiores figuras humanas do século 20". Mas, também, neste século 21 a figura de Che permanece viva como nunca na América Latina e no mundo inteiro, onde o lema "socialismo ou barbárie" torna-se novamente atual.

Hoje, a Bolívia, com Evo Morales na Presidência de República, honra Che oficialmente. Mas também a América Latina, de um modo geral, evolui - de uma ou de outra forma - rumo à direção que Che sonhou, porém não por intermédio das armas, mas com múltiplos movimentos populares e vitórias eleitorais de frentes de forças da esquerda, na base de programas antineoliberais.
União da AL
Em um período de profunda crise, como a atual que é, também, crise de valores, é de particular importância destacar-se que Che desperta consciências não porque foi um grande teórico ou porque representa a correta "receita para uma revolução", mas como modelo de moral de um combatente irreconciliável e internacionalista, na teoria e na prática.

"Meu marxismo tem raízes profundas", escreveu na última carta aos seus pais. Se for realizada uma pesquisa questionando qual era sua nacionalidade, dificilmente haveria respostas certas.

Che nasceu na Argentina, mas é herói da América Latina e símbolo de sua união. Foi um dos líderes da Revolução Cubana e, seu indiscutível teórico. Abandonou seu cargo de ministro da Indústria para lutar ao lado dos movimentos nacionalistas libertários na África. Depois foi à Bolívia, onde tentou organizar um movimento de guerrilha, mas encontrou grandes dificuldades e, finalmente, foi morto, não como gostaria ter sido - em pé, lutando - mas assassinado.

Transcorrendo o século 21, o mito de Che não sofreu desgaste, mas cresce incessantemente e internacionaliza-se, particularmente entre os jovens do planeta. E isto ocorre porque a crise do sistema é profunda e multidimensional, e o mundo deverá mudar radicalmente e derrubar as desigualdades que destroem as sociedades e imobilizam as capacidades criativas dos seres humanos. A própria vida na Terra está ameaçada pela galopante decadência ambiental, consequência do predominante modelo neoliberal de crescimento.

Che está mais vivo hoje. Propõe a esquerda como postura e modelo de vida. Fala direto no coração e na consciência com as mesmas palavras, com as quais falou aos seus filhos em sua última carta: "Acima de tudo, sejam sempre capazes de sentir profundamente qualquer injustiça que está sendo cometida contra qualquer um, em qualquer canto deste mundo. É a característica mais bela de um revolucionário". Ernesto Che Guevara, guerrilheiro heróico.

A FIFA quer atropelar a soberana brasileira

Editorial Vermelho

O mais recente braço de ferro entre o governo brasileiro e a FIFA (Federação Internacional de Futebol Association) expõe a torcida da imprensa conservadora pelo fracasso da Copa do Mundo no Brasil (em 2014) e também a arrogância imperialista daquela entidade, que faz exigências inaceitáveis para um país soberano.

Ninguém duvida que a Copa do Mundo seja, além de um evento esportivo, um negócio de enormes proporções; e a expectativa da FIFA, com a Copa no Brasil, é faturar nada menos do que três bilhões de dólares (em valores atuais, cerca de 5,4 bilhões de reais). Daí a arrogância e avareza de seus dirigentes que tiveram a ousadia de exigir do governo brasileiro a flexibilização da legislação que garante meia entrada para jovens e idosos, a suspensão da proibição do consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, e o endurecimento da legislação contra a pirataria particularmente em relação aos produtos ligados à Copa do Mundo.

O governo brasileiro tem demonstrado a disposição de negociar estas exigências, mas já deixou claro que a legislação nacional é soberana e a margem de manobra é pequena.

A meia entrada é prevista pelo Estatuto dos Idosos e, para a juventude, é assegurada pela legislação de estados e municípios, tendo sido incorporada ao Estatuto da Juventude recém aprovado pela Câmara dos Deputados, onde foi relatado pela deputada comunista Manuela D´Ávila (PCdoB-RS). Agora vai ser submetido ao Senado e, depois, à sanção da presidente Dilma Rousseff. A meia entrada é, assim, um direito social de jovens e idosos, previsto na lei.

O consumo de bebidas alcoólicas é proibido pela legislação brasileira de segurança nos estádios, e contra ela não há muito a fazer, embora a FIFA insista até mesmo porque uma das empresas patrocinadoras da Copa do Mundo é fabricante de cerveja. Em relação à pirataria – como bem lembrou o ministro do Esporte, Orlando Silva, a legislação brasileira em vigor é regularmente aplicada desde sua aprovação em 1998.

A pretensão da FIFA envolve a importante questão da soberania nacional. Aquela organização mundial do futebol determina regras sobre o esporte, mas pode atropelar a legislação dos países onde ocorrem eventos esportivos? E a “flexibilização” (seria menos hipócrita dizer abandono) da legislação nacional pode ser imposta unilateralmente a um governo soberano, como o brasileiro - e, pior ainda, atendendo exclusivamente aos interesses financeiros daquela entidade?

A resposta a estas questões é não. Em primeiro lugar – embora não seja o mais importante – o argumento do prejuízo da FIFA é uma falácia. A FIFA exagera e fala em um bilhão de dólares embora cálculos mais precisos mostrem que ele chegará a uns 10% dessa quantia (algo em torno de 100 milhões de dólares). Em segundo lugar, há que se levar em conta a receita que aquela entidade internacional vai obter com a comercialização, mundo afora, dos direitos de transmissão dos jogos e também da costumeira parafernália de bugigangas ligadas a eles.

Mas a questão principal são os direitos do povo brasileiro e a soberania de nosso país. Este é o ponto. As decisões sobre o pleno exercício desses direitos como a meia entrada e a respeito da segurança nos estádios cabem ao governo brasileiro. A FIFA pode reivindicar, mas nunca impor. Negociar, mas não exigir. E ao governo brasileiro cabe chegar aos acordos possíveis, resguardando o cumprimento da lei brasileira e o respeito à soberania e à dignidade nacionais.