segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Copa de 2014: “Para o Brasil encantar o mundo”

Questões comerciais à parte, pois não podemos concordar com o pagamento de milhões de reais dos cofres municipais e estaduais do Rio de Janeiro a uma empresa ligada à TV Globo, do ponto de vista político e social o “pontapé inicial” da Copa do Mundo de Futebol de 2014, que terá por sede o Brasil, foi evento promissor, a julgar pelas afirmações da presidente da República durante o sorteio preliminar que definiu os grupos das eliminatórias.

Foi positivo o discurso da presidente Dilma Rousseff, que fez, em nome de nosso povo, um convite aos povos do mundo inteiro a conhecerem melhor o Brasil. Além da disputa no campo de jogo, em que todos esperamos que o Brasil conquiste o hexa-campeonato, é este o melhor sentido da realização da Copa do Mundo no país: o contato com outros povos, a relação internacional que se estabelece para além dos laços diplomáticos e comerciais e da inserção geral do Brasil no concerto das nações. Apesar da mercantilização e de o magno torneio esportivo mundial estar sujeito aos ditames de uma indústria cada vez mais lucrativa, é justo apostar nas competições esportivas como fator de congraçamento entre nações e povos e fazer da nossa condição de anfitriões uma oportunidade para mostrar algo mais para além do futebol.

Dilma deu um recado preciso ao ser assertiva quanto ao compromisso do governo com a realização de uma Copa “com muita segurança” e, na contramão dos abutres que apregoam o fracasso na construção dos estádios e demais obras, prometeu “toda a infraestrutura necessária” e um “eficiente sistema de transporte”, além de “avançada tecnologia de comunicação”.

Fez bem igualmente a presidente ao dizer que o Brasil está fazendo a sua parte para que a Copa do Mundo de 2014 “seja a melhor de todos os tempos”. Ela faz profissão de fé no “novo Brasil”, cuja construção está agora sob seu comando e assegura que o país estará pronto para “encantar o mundo” em 2014.

Em todos os sentidos, a realização da Copa do Mundo poderá ser positiva para o Brasil. Os seus reflexos se farão sentir na economia, infraestrutura, geração de empregos e prestígio internacional. Não há dúvidas de que o governo está empenhado em que o evento seja coroado de êxito e deixe um legado de progresso para o país.

A confiança nessa perspectiva deve ter correspondência também quanto às preocupações sociais. A construção de estádios e demais obras de infraestrutura tem consideráveis impactos sociais, sobretudo no que se refere ao deslocamento de milhares de pessoas das suas residências, sujeitas à desapropriação legal. É indispensável que o governo crie as condições necessárias para minorar os sofrimentos eventualmente acarretados à população, não apenas por meio de indenizações, mas também na criação de condições de vida adequadas.

Igualmente, é mister que o governo tome a distância necessária dos interesses mercantis e dos métodos espúrios da Fifa e da CBF e não permita o envolvimento da coisa pública com essas entidades privadas encarregadas da organização da Copa do Mundo. É notório que essas entidades não primam pela honestidade nem pela salvaguarda do interesse público, embora o manipulem. Elas defendem interesses inconfessáveis e são dirigidas por execráveis figuras, que extraem do futebol lucros e poder pessoal por meios ilícitos.

Estas entidades desonram as tradições esportivas do Futebol. No caso específico do Brasil, há sobejas razões para temer que fique comprometida a respeitabilidade das instituições do país. Seria salutar que a realização da Copa do Mundo criasse as condições e propiciasse a oportunidade para acabar com a era de desmandos e corrupção na entidade que controla o nosso futebol.

Pelo menos 20 partidos tentam registro para disputa eleitoral

Pelo menos 20 novos partidos políticos buscam registro na Justiça Eleitoral brasileira, conforme informou nesta sexta-feira (29) o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), após levantamento em parceria com Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Segundo a Lei 9.504/97, a obtenção do registro de um partido deve ser feita um ano antes da eleição a qual a sigla pretende concorrer.


 
Nos próximos 70 dias, o TSE deverá conceder os registros aos partidos que desejam concorrer às próximas eleições. O primeiro turno da disputa municipal será realizado no dia 7 de outubro de 2012, e os candidatos que pretendem pleitear cargo político também estão inclusos nesse prazo.

Pela Lei 9.096/95, a nova legenda deve ter o apoio de eleitores por meio de assinatura acompanhada do respectivo número do título eleitoral. O número de assinaturas deve equivaler a 0,5% dos votos dados para a Câmara dos Deputados, não computados os votos brancos e nulos, na última eleição geral. Com base nas eleições 2010, um novo partido deve reunir cerca de 490 mil assinaturas, em pelo menos nove estados.

Abrangência

Segundo levantamento baseado em informações de 18 TREs , a futura legenda com atuação em maior número de estados é o Partido Social Democrático (PSD), idealizado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM). O PSD já comunicou sua busca por assinaturas em 15 diferentes Estados.

Depois vem o Partido da Pátria Livre (PPL) e o Partido Novo (PN), que divulgaram assinaturas em 12 estados. O Partido Ecológico Nacional (PEN) busca do apoio de eleitores em 11 unidades da Federação.

O registro da coleta de assinaturas em um só estado foi feito pelas seguintes legendas: Partido da Educação e Cidadania (PEC), em São Paulo; Partido Democrático dos Servidores Públicos (PDSP), em Tocantins; Partido Geral do Trabalho (PGT), no Rio Grande do Norte; Partido Federalista (PF), Partido Humanista do Brasil (PMH), Partido Liberal Democrata (PLD), no Ceará e o Partido Cristão Nacional (PCN), no Acre.

Outros partidos que buscam atender às exigências para obter registro na Justiça Eleitoral são: Partido da Transformação Social (PTS); Partido do Meio Ambiente (PMA); Partido Cristão (PC); Partido Social (PS); Partido dos Servidores Públicos e dos Trabalhadores da Iniciativa privada do Brasil (PSPB); Partido da Mulher Brasileira (PMB); Partido da Justiça Social (PSJ); Partido Republicano da Ordem Social (PROS); e Partido Carismático Social (PCS).

Hoje, o Brasil possui 27 partidos registro no TSE. O mais antigo é o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), fundado em 1922. Já o Partido Republicano Brasileiro (PRB), o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido da República (PR) foram criados na última década.

Da Redação Vermelho, com informações da Agência Estado

Raúl Prebisch, a ascensão da China e o Terceiro Mundo

A coruja do conhecimento, geralmente, levanta voo ao entardecer. As grandes passagens da economia mundial produzem revoadas de corujas. Destas, muitas fazem a releitura de antigos pensadores deixados, provisoriamente, de lado.

Por Carlos Lessa*

Essa releitura auxiliará a construção de novas interpretações. Hegel falava da fácil sabedoria da visão retrospectiva, ou seja, como o curso histórico tem suas razões, a releitura permite explicitar algumas delas. Entretanto, a criação intelectual que ilumina o amanhã exige o que Nietzsche denominava "espírito de águia", que não teme se debruçar sobre o abismo.

Li "Raúl Prebisch (1901-1986): A Construção da América Latina e do Terceiro Mundo", de Edgar Dosman, editado pela Contraponto em parceria com o Centro Internacional Celso Furtado. Uma biografia exaustiva e rigorosa, do ponto de vista documental, do economista argentino que escreveu o livro "O Desenvolvimento Econômico da América Latina e Alguns de Seus Principais Problemas", conhecido como "Manifesto Latino-Americano", divulgado em Havana em 1949. Nele, Prebisch demonstrou que a distribuição de benefícios do crescimento mundial era desigual entre o centro e a periferia e se aprofundava secularmente, pois a dinâmica dos ciclos de comércio exterior favorecia, a longo prazo, as economias já industrializadas e dominantes.

O alicerce ortodoxo da economia política clássica inglesa foi a teoria ricardiana de comércio exterior. Seu teorema dos custos comparativos "justificava" como maximizante para todos os integrantes do comércio internacional a especialização nos bens que produzia com maior eficiência. Se cada país se especializasse e obtivesse, pelo comércio internacional, aquilo que tinha menor produtividade interna, haveria o máximo bem-estar das economias interligadas. David Ricardo construiu o argumento perfeito para a hegemonia inglesa, nação que sediou a Primeira Revolução Industrial. Investir, intelectual e politicamente, contra a ortodoxia do país dominante foi a prática dos pais fundadores dos Estados Unidos. Alexander Hamilton defendeu a ideia da industrialização como essencial ao padrão de vida e à soberania nacional das 13 ex-colônias. Friedrich List, em 1841, publica "O Sistema Nacional de Economia Política", que se sucedeu à Zollverein, união aduaneira alemã, de 1834. List explicita que o projeto nacional de desenvolvimento via industrialização é uma exceção ao livre-câmbio e livre-comércio.

A Revolução Meiji realiza uma modernização à força no Japão, sob o argumento de que sacrifícios no presente produziriam felicidade no futuro. A França, de Napoleão III, também critica Ricardo e defende a prioridade da industrialização nacional. O denominador histórico comum de todas essas experiências de industrialização consiste na adesão ao livre-câmbio e livre- comércio, tão logo esteja consolidada sua maturidade industrial. Foram poucas as nações que se industrializaram e nenhuma nação latino-americana, no século XIX e década iniciais do século XX.

Uma retórica geopolítica pretendendo superar o atraso pela boa convivência de nações foi recorrente. Por exemplo, o brasileiro Rui Barbosa, que conhecia a heterodoxa visão de finanças industrializantes dos fundadores americanos, defendeu o "desenvolvimento" da periferia na famosa e inútil 2ª Conferência de Haia, em 1907. Após a Primeira Guerra Mundial e no umbral da Grande Crise de 1929, Mihail Manoïlesco, ministro da Indústria e Comércio da Romênia, defendeu, em "Teoria do Protecionismo e da Permuta Internacional", a industrialização como único caminho para a superação do atraso. Essa defesa explicitou o argumento-chave de indústria nascente e das relações interindustriais de um sistema industrial nacional. O brasileiro Roberto Simonsen, presidente do Centro das Indústrias de São Paulo, traduziu e publicou, em 1931, o trabalho do economista romeno. A ideia da industrialização como projeto nacional impregnou a gestão Getúlio Vargas durante os anos 30 e a Segunda Guerra Mundial. O ideal de produzir as máquinas que fazem máquinas apareceu no discurso do obelisco, precedendo o governo Vargas, que realizou uma política keynesiana antes da publicação do clássico livro de Keynes.

Ouso dizer que a obra de Prebisch, menos pelo pioneirismo e mais pela oportunidade, decisão, habilidade e poder mobilizador, foi um voo de coruja decisivo para o esforço latino-americano de superação do atraso. O conceito de América Latina foi consolidado e tornado, em alto nível de abstração, homogêneo pela crítica atualizada e politizada da ortodoxia das economias dominantes. Prebisch, com visão política historicamente correta, evitou refletir sobre as estruturas internas dos países latino-americanos. Apesar do trabalho intelectual de economistas latino-americanos como Aníbal Pinto Santa Cruz e Celso Furtado, que mergulharam na heterogeneidade e na formação histórica singular de cada país latino-americano, o sonho bolivariano da integração recebeu um forte estímulo a partir do Manifesto, de Prebisch, e do trabalho dos estruturalistas da Cepal.

Em tempos de crise, a coruja voa revitalizando o passado, porém o fato mais relevante do momento atual é o desenvolvimento da China e não pode ser atribuído a nenhuma receita ortodoxa de livre-comércio e livre-câmbio. Não é uma economia de mercado. Regula - de perto e com instrumentos estatais variados, discriminatórios e poderosos - finanças, câmbio e atuação empresarial. O maior sucesso nacional do momento é, em si, questionador frontal da ortodoxia neoliberal.

Prebisch, hoje, teria se debruçado sobre a experiência chinesa e chamaria a atenção para a geopolítica dominante que a China vem fazendo no chamado Terceiro Mundo.

*Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES


Fonte:
Valor Econômico

As versões espanholas de Murdoch

Por Pascual Serrano, no sítio Carta Maior:

Os ambientes jornalísticos e políticos de todo o mundo, e da Espanha em especial, andam muito alterados com o escândalo Murdoch, sua espionagem telefônica, suas conivências com políticos e suas trapaças financeiras. Todos os meios de comunicação espanhóis apresentam o ocorrido no Reino Unido como algo estranho a nosso país.A ninguém ocorreu lembrar que praticamente todas as tropelias do magnata australiano tem seu formato correspondente na Espanha. Repassemos.

Em 1995, a Justiça processou Javier Godó, presidente e proprietário majoritário do Grupo Godó, editor, entre outras publicações, do diário La Vanguardia, por criar uma rede de escutas ilegais com o objetivo de seguir e vigiar numerosas personalidades da vida política e econômica espanhola. Foram espionados o prefeito de Barcelona, o promotor geral do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha, diversos ministros e até o juiz da Audiencia Nacional, Baltasar Garzón.

Na Espanha não se pagou as forças de segurança por seu silêncio, mas sim contratou-se integrantes delas para realizar as escutas telefônicas. Um agente do CESID (Centro Nacional de Inteligência) acabou condenado por criar a rede de escutas. Além disso, na sede do grupo Godó, um ex-coronel tinha um escritório no qual apareceram quinze documentos dos serviços de inteligência classificados como secretos e confidenciais. No final, nunca se soube quem foi o mandante da espionagem.

No Conselho de Administração do grupo Vocento (ABC) encontrava-se Emilio Ybarra, que também foi presidente do BBVA. Ele pediu demissão ao ser processado por apropriação indébita de fundos secretos em Jersey, em 1990. Inicialmente, foi condenado pela Audiencia Nacional, mas acabou absolvido pelo Tribunal Supremo.

Em 1992, o grupo Prisa comprou a rádio Antena 3, cadeia líder de audiência naqueles anos e principal competidora da cadeia Ser. Para isso, contaram com a autorização do governo socialista e, oito anos depois, a Audiencia Nacional e o Tribunal Supremo declararam a compra e a autorização governamental anuláveis e improcedentes por descumprir as leis anti-monopólio contra a concentração dos meios de comunicação. Como o grupo Prisa se encarregou de fechar a rádio Antena 3, a operação nunca pode ser revertida.

Sobre o grupo Zeta o jornalista Santiago Miró, da revista Interviú, conta que, com a mediação de sete milhões de pesetas, Mario Conde conseguiu parar as rotativas de um número da revista de 1991 que continha uma informação sobre o Banesto (Banco Espanhol de Crédito) que não era do seu agrado, quando já estavam impressos 70 mil exemplares.

Em 1998, Baltasar Garzón processou o presidente e o vice-presidente da Telecinco, acusados de diversos atos fraudulentos. Dois anos depois acusou seu principal acionista, Silvio Berlusconi, por delitos de fraude fiscal e violação da legislação espanhola anti-concentração de meios de comunicação. A impunidade parlamentar de Berlusconi impediu que fosse julgado, assim como seu braço direito, Marcelo Dell’Utri, que foi presidente da Publiespaña, empresa encarregada da publicidade da Telecinco. Dell’Utri foi condenado na Itália a vários anos de prisão por colaboração externa com a máfia.

O diário El Mundo pertence a Unidad Editorial. Os dirigentes da publicação, sabedores de que o grupo italiano Rizzoli estava interessado em ficar com a maioria das ações da companhia, compraram as participações de seus companheiros de redação para revendê-las aos italianos e embolsar, no caso de Pedro J. Ramírez, ao redor de 2 bilhões de pesetas entre 1999 e 2003.

Sobre a conivência entre políticos e grupos de comunicação. São bem conhecidas as sinergias entre o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) com os grupos Prisa e Mediapro (Público, LaSexta), ainda que com recorrentes brigas de família que nunca tem grandes consequências.

Os sindicatos da TVE denunciaram em numerosas ocasiões as contratações milionárias da produtora Mediapro. E o jornalista Miguel Barroso, ex-secretário de Estado de Comunicação com Rodríguez Zapatero e marido da ministra da Defesa, é conselheiro de uma multinacional britânica acionista de LaSexta. Quanto ao grupo Prisa, seu principal acionista de então e presidente, Jesús Polanco, recebeu milionárias receitas do governo de Felipe González, por meio dos Fundos de Ajuda ao Desenvolvimento, criados para que países, em sua maioria latino-americanos, comprassem bens e serviços de empresas espanholas. Graças ao governo socialista, o grupo Prisa foi a única empresa espanhola que explorava um canal pago de televisão.

São apenas alguns pequenos exemplos para lembrar que nossos proprietários de meios de comunicação não tem nada que aprender com Rupert Murdoch. A diferença é que aqui (na Espanha) não dão explicações no Congresso nem terminam condenados pela Justiça.

* Tradução de Katarina Peixoto.

O CARRO MAIS CARO DO MUNDO

Por Joel Leite, no sítio Auto Informe:

O Brasil tem o carro mais caro do mundo. Por quê? Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. Outro vilão seria o alto valor da mão de obra, mas os fabricantes não revelam quanto os salários - e os benefícios sociais - representam no preço final do carro. Muito menos os custos de produção, um segredo protegido por lei.


A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas as histórias que você verá a seguir vão mostrar que o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor.

A indústria culpa também o que chama de Terceira Folha pelo aumento do custo de produção: os gastos com funcionários, que deveriam ser papel do estado, mas que as empresas acabam tendo que assumir como condução, assistência médica e outros benefícios trabalhistas.

Com um mercado interno de um milhão de unidades em 1978, as fábricas argumentavam que seria impossível produzir um carro barato. Era preciso aumentar a escala de produção para, assim, baratear os custos dos fornecedores e chegar a um preço final no nível dos demais países produtores.

Pois bem: o Brasil fechou 2010 como o quinto maior produtor de veículos do mundo e como o quarto maior mercado consumidor, com 3,5 milhões de unidades vendidas no mercado interno e uma produção de 3,638 milhões de unidades.

Três milhões e meio de carros não seria um volume suficiente para baratear o produto? Quanto será preciso produzir para que o consumidor brasileiro possa comprar um carro com preço equivalente ao dos demais países?

Segundo Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, é verdade que a produção aumentou, mas agora ela está distribuída em mais de 20 empresas, de modo que a escala continua baixa. Ele elegeu um novo patamar para que o volume possa propiciar uma redução do preço final: cinco milhões de carros.

A carga tributária caiu

O imposto, o eterno vilão, caiu nos últimos anos. Em 1997, o carro 1.0 pagava 26,2% de impostos, o carro com motor até 100hp recolhia 34,8% (gasolina) e 32,5% (álcool). Para motores mais potentes o imposto era de 36,9% para gasolina e 34,8% a álcool.

Hoje - com os critérios alterados - o carro 1.0 recolhe 27,1%, a faixa de 1.0 a 2.0 paga 30,4% para motor a gasolina e 29,2% para motor a álcool. E na faixa superior, acima de 2.0, o imposto é de 36,4% para carro a gasolina e 33,8% a álcool.

Quer dizer: o carro popular teve um acréscimo de 0,9 ponto percentual na carga tributária, enquanto nas demais categorias o imposto diminuiu: o carro médio a gasolina paga 4,4 pontos percentuais a menos. O imposto da versão álcool/flex caiu de 32,5% para 29,2%. No segmento de luxo, o imposto também caiu: 0,5 ponto no carro e gasolina (de 36.9% para 36,4%) e 1 ponto percentual no álcool/flex.

Enquanto a carga tributária total do País, conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cresceu de 30,03% no ano 2000 para 35,04% em 2010, o imposto sobre veículo não acompanhou esse aumento.

Isso sem contar as ações do governo que baixou o IPI (retirou, no caso dos carros 1.0) durante a crise econômica. A política de incentivos durou de dezembro de 2008 a abril de 2010, reduzindo o preço do carro em mais de 5% sem que esse benefício fosse totalmente repassado para o consumidor.

As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora de estrada. Derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais e para choque saliente. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva.

A margem de lucro é três vezes maior que em outros países

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

O Palio Adventure (que tem motor 1.8 e sistema locker), custa R$ 52,5 mil e a versão normal R$ 40,9 mil (motor 1.4), uma diferença de 28,5%. No caso do Doblò (que tem a mesma configuração), a versão Adventure custa 9,3% a mais.

O analista Adam Jonas, responsável pela pesquisa, concluiu que, no geral, a margem de lucro das montadoras no Brasil chega a ser três vezes maior que a de outros países.

O Honda City é um bom exemplo do que ocorre com o preço do carro no Brasil. Fabricado em Sumaré, no interior de São Paulo, ele é vendido no México por R$ 25,8 mil (versão LX). Neste preço está incluído o frete, de R$ 3,5 mil, e a margem de lucro da revenda, em torno de R$ 2 mil. Restam, portanto R$ 20,3 mil.

Adicionando os custos de impostos e distribuição aos R$ 20,3 mil, teremos R$ 16.413,32 de carga tributária (de 29,2%) e R$ 3.979,66 de margem de lucro das concessionárias (10%). A soma dá R$ 40.692,00. Considerando que nos R$ 20,3 mil faturados para o México a montadora já tem a sua margem de lucro, o Lucro Brasil (adicional) é de R$ 15.518,00: R$ 56.210,00 (preço vendido no Brasil) menos R$ 40.692,00.

Isso sem considerar que o carro que vai para o México tem mais equipamentos de série: freios a disco nas quatro rodas com ABS e EBD, airbag duplo, ar-condicionado, vidros, travas e retrovisores elétricos. O motor é o mesmo: 1.5 de 116cv.

Será possível que a montadora tem um lucro adicional de R$ 15,5 mil num carro desses? O que a Honda fala sobre isso? Nada. Consultada, a montadora apenas diz que a empresa não fala sobre o assunto.

Na Argentina, a versão básica, a LX com câmbio manual, airbag duplo e rodas de liga leve de 15 polegadas, custa a partir de US$ 20.100 (R$ 35.600), segundo o Auto Blog.

Já o Hyundai ix35 é vendido na Argentina com o nome de Novo Tucson 2011 por R$ 56 mil, 37% a menos do que o consumidor brasileiro paga por ele: R$ 88 mil.

Porque o mesmo carro é mais barato na Argentina e no Chile?

A ACARA, Associacion de Concessionários de Automotores De La Republica Argentina, divulgou em fevereiro, no congresso dos distribuidores dos Estados Unidos (N.A.D.A), em São Francisco, os valores comercializados do Corolla nos três países. No Brasil o carro custa U$ 37.636,00, na Argentina U$ 21.658,00 e nos EUA U$ 15.450,00.

O consumidor paraguaio paga pelo Kia Soul U$ 18 mil, metade do preço do mesmo carro vendido no Brasil. Ambos vêm da Coréia. Não há imposto que justifique tamanha diferença de preço.

Outro exemplo de causar revolta: o Jetta é vendido no México por R$ 32,5 mil. No Brasil esse carro custa R$ 65,7 mil.

Quer mais? O Gol I-Motion com airbags e ABS fabricado no Brasil é vendido no Chile por R$ 29 mil. Aqui custa R$ 46 mil.

A Volkswagen não explica a diferença de preço entre os dois países. Solicitada pela reportagem, enviou o seguinte comunicado:

As principais razões para a diferença de preços do veículo no Chile e no Brasil podem ser atribuídas à diferença tributária e tarifária entre os dois países e também à variação cambial.

Questionada, a empresa enviou nova explicação:

As condições relacionadas aos contratos de exportação são temas estratégicos e abordados exclusivamente entre as partes envolvidas.

Nenhum dirigente contesta o fato de o carro brasileiro ser caro, mesmo considerando o preço FOB: o custo de produção, sem a carga tributária.

Mas o assunto é tão evitado que até mesmo consultores independentes não arriscam a falar, como o nosso entrevistado, um ex-executivo de uma grande montadora, hoje sócio de uma consultoria, e que pediu para não ser identificado.

Ele explicou que no segmento B do mercado, onde estão os carros de entrada, Corsa, Palio, Fiesta, Gol, a margem de lucro não é tão grande, porque as fábricas ganham no volume de venda e na lealdade à marca. Mas nos segmentos superiores o lucro é bem maior.

O que faz a fábrica ter um lucro maior no Brasil do que no México, segundo consultor, é o fato do México ter um mercado mais competitivo.

City é mais barato no México do que no Brasil por causa do drawback

Um dirigente da Honda, ouvido em off, responsabilizou o drawback, para explicar a diferença de preço do City vendido no Brasil e no México. O drawback é a devolução do imposto cobrado pelo Brasil na importação de peças e componentes importados para a produção do carro. Quando esse carro é exportado, o imposto que incidiu sobre esses componentes é devolvido, de forma que o valor base de exportação é menor do que o custo industrial, isto é: o City é exportado para o México por um valor menor do que os R$ 20,3 mil. Mas quanto é o valor dos impostos das peças importadas usadas no City feito em Sumaré? A fonte da Honda não responde, assim como outros dirigentes da indústria se negam a falar do assunto.

Ora, quanto poderá ser o custo dos equipamentos importados no City? Com certeza é menor do que a diferença de preço entre o carro vendido no Brasil e no México (R$ 15 mil).

A propósito, não se deve considerar que o dólar baixo em relação ao real barateou esses componentes?

A conta não bate e as montadoras não ajudam a resolver a equação. O que acontece com o Honda City é apenas um exemplo do que se passa na indústria automobilística. Apesar da grande concorrência, nenhuma das montadoras ousa baixar os preços dos seus produtos. Uma vez estabelecido, ninguém quer abrir mão do apetitoso Lucro Brasil.

Ouvido pela AutoInforme, quando esteve em visita a Manaus, o presidente mundial da Honda, Takanobu Ito, respondeu que, retirando os impostos, o preço do carro do Brasil é mais caro que em outros países porque aqui se pratica um preço mais próximo da realidade. Lá fora é mais sacrificado vender automóveis.

Ele disse que o fator câmbio pesa na composição do preço do carro Brasil, mas lembrou que o que conta é o valor percebido. O que vale é o preço que o mercado paga.

E porque o consumidor brasileiro paga mais do que os outros?

Eu também queria entender - respondeu Takanobu Ito - a verdade é que o Brasil tem um custo de vida muito alto. Até o McDonald aqui é o mais caro do mundo.

Se a moeda for o Big Mac - confirmou Sérgio Habib, que foi presidente da Citroën e hoje é importador da chinesa JAC - o custo de vida do brasileiro é o mais caro do mundo. O sanduíche custa U$ 3,60 lá e R$ 14,00 aqui. Sérgio Habib investigou o mercado chinês durante um ano e meio à procura por uma marca que pudesse representar no Brasil. E descobriu que o governo chinês não dá subsídio à indústria automobilística; que o salário dos engenheiros e dos operários chineses não são menores do que os dos brasileiros.

Tem muita coisa torta no Brasil - concluiu o empresário, não é o carro. Um galpão na China custa R$ 400,00 o metro quadrado, no Brasil custa R$ 1,2 mil. O frete de Xangai e Pequim custa U$ 160,00 e de São Paulo a Salvador R$ 1,8 mil.

Para o presidente da PSA Peugeot Citroën, Carlos Gomes, os preços dos carros no Brasil são determinados pela Fiat e pela Volkswagen. As demais montadoras seguem o patamar traçado pelas líderes, donas dos maiores volumes de venda e referência do mercado, disse.

Fazendo uma comparação grosseira, ele citou o mercado da moda, talvez o que mais dita preço e o que mais distorce a relação custo e preço:

Me diga, por que a Louis Vuitton deveria baixar os preços das suas bolsas?, questionou.

Ele se refere ao valor percebido pelo cliente. É isso que vale.

O preço não tem nada a ver com o custo do produto. Quem define o preço é o mercado, disse um executivo da Mercedes-Benz, para explicar porque o brasileiro paga R$ 265.00,00 por uma ML 350, que nos Estados Unidos custa o equivalente a R$ 75 mil.

Por que baixar o preço se o consumidor paga?, explicou o executivo.

Em 2003, quando foi lançado, o EcoEsport, da Ford, não tinha concorrente. Era um carro diferente, inusitado. A Ford cobrou caro a exclusividade: segundo informações de uma fonte que tinha grande ligação com a empresa na época, e conhecia os custos do produto, o carro tinha uma margem líquida de US$ 5 mil.

A montadora põe o preço lá em cima. Se colar, colou

Quando um carro não tem concorrente direto, a montadora joga o preço lá pra cima, disse um dirigente do setor. É usual, até, a fábrica lançar o carro a um preço acima do pretendido, para tentar posicionar o produto num patamar mais alto. Se colar, colou. Caso contrário, passa a dar bônus à concessionárias até reposicionar o modelo num preço que o consumidor está disposto a pagar.

Um exemplo recente revela esse comportamento do mercado. A Kia fez um pedido à matriz coreana de dois mil Sportage por mês, um volume que, segundo seus dirigentes, o mercado brasileiro poderia absorver. E já tinha fixado o preço: R$ 75 mil. Às vésperas do lançamento soube que a cota para o Brasil tinha sido limitada a mil unidades. A importadora, então, reposicionou o carro num patamar superior, para R$ 86 mil. E, como já foi dito aqui: pra que vender por R$ 75 mil se tem fila de espera pra comprar por R$ 86 mil? A versão com câmbio automático, vendida a R$ 93 mil, tem fila de espera e seu preço sobe para R$ 100 mil no mercado paralelo.

Cledorvino Belini, que também é presidente da Fiat Automóveis e membro do Conselho Mundial do Grupo Fiat, responsabiliza os custos dos insumos pelo alto preço do carro feito no Brasil. Disse que o aço custa 50% mais caro no Brasil em relação a outros países e que a energia no País é uma das mais caras do mundo.

A Anfavea está fazendo um Estudo de Competitividade para mostrar ao governo o que considera uma injusta concorrência da indústria instalada no Brasil em relação aos importadores.

Os fabricantes consideram que o custo dos insumos encarece e prejudica a competitividade da indústria nacional. O aço comprado no Brasil é 40% mais caro do que o importado da China, que usa minério de ferro brasileiro para a produção, revelou Belini. Ele apontou também os custos com a logística como um problema da indústria nacional e criticou a oneração do capital. É preciso que o governo desonere o capital nos três setores: cadeia produtiva, na infraestrutura e na exportação de tributos, disse.

Com a crise, o setor mostrou que tem (muita) gordura pra queimar. O preço de alguns carros baixou de R$ 100 mil para R$ 80 mil. Carros mais caros tiveram descontos ainda maiores.

São comuns descontos de R$ 5 mil, 10 mil. Como isso é possível se não há uma margem tão elástica pra trabalhar?

A GM vendeu um lote do Corsa Classic com desconto de 35% para uma locadora paulista, segundo um executivo da locadora em questão. O preço unitário foi de R$ 19 mil!

As montadoras tradicionais tentam evitar o óbvio, que é a perda de participação para as novas montadoras, disse José Carlos Gandini, presidente da Kia e da Abeiva, a associação dos importadores de veículos. O dólar é o mesmo pra todo mundo. As montadoras também compram componentes lá fora, e muito. Além disso, os importados já pagam uma alíquota de 35%, por isso não se trata de uma concorrência desleal, ao contrário, as grandes montadoras não querem é abrir mão da margem de lucro.

Míni no tamanho, big no preço

Míni, Fiat 500, Smart, são conceitos diferentes de um carro comum: embora menores do que os carros da categoria dos pequenos, eles proporcionam mais conforto, sem contar o cuidado e o requinte com que são construídos. São carros chiques, equipados, destinados a um público que quer se exibir, que quer estar na moda. Que paga R$ 60 mil por um carro menor do que o Celta que custa R$ 30 mil e já é caro.

Onde estão os R$ 30 mil que o consumidor está pagando a mais pelo Smart e o Cinquecento e os R$ 70 mil a mais pelo Míni Cooper?

A Mercedes-Benz, importadora do Smart, fez as contas a nosso pedido dos acessórios do minicarro. Ele tem quatro airbags, ar-condicionado digital, freios ABS com EBD, controle de tração e controle de estabilidade. Segundo a empresa, o custo desse pacote seria em torno de R$ 20 mil, considerando os preços de equipamentos para a linha Mercedes, uma vez que o Smart já vem completo e não dispõe dos preços desses equipamentos separados.

Mesmo considerando esses preços ainda não se justifica os R$ 62 mil para um carro que leva apenas duas pessoas.

A Fiat vende o Cinquencento por R$ 62 mil, exatamente, e não por acaso, o mesmo preço do Smart. O carro tem sete airbags, banco de couro, ar-condicionado digital, teto solar, controle de tração, mas é menor que o Celta. Esse pacote custaria, somando os valores dos equipamentos, conforme preços divulgados pela Fiat, R$ 24 mil. Portanto, no preço cobrado, de R$ 62 mil, tem uma margem de lucro muito maior do que a de um carro comum.

E quem comprar o minúsculo Míni Cooper vai pagar a pequena fortuna de R$ 105 mil.

Claro que tamanho não é documento, especialmente quando se fala de carro. Você poderia dizer que a Ferrari é do tamanho de uma Kombi. Mas o fato é que as montadoras posicionam seus produtos num determinado patamar sem levar em conta o tamanho, o tipo de uso ou o custo do produto, mas apenas o preço que o mercado paga, optando por vender mais caro em vez de priorizar o volume, ganhando na margem de lucro.

Essa política pode ser válida para uma bolsa da Louis Vuitton, um produto supérfluo destinado a uma pequena parcela da elite da sociedade, ou mesmo para uma Ferrari, pra não sair do mundo do automóvel. Mas não deveria ser para um carro comum.

Além disso, existem exemplos de carro muito bem equipado a preços bem mais baixos. O chinês QQ, da Chery, vem a preço de popular mesmo recheado de equipamentos, alguns deles inexistentes mesmo em carros de categoria superior, como airbag duplo e ABS, além de CD Player, sensor de estacionamento. O carro custa R$ 22.990,00, isso porque o importador sofreu pressão das concessionárias para não baixar o preço ainda mais. A idéia original - disse o presidente da Chery no Brasil, Luiz Curi - era vender o QQ por R$ 19,9 mil. Segundo Curi, o preço do QQ poderá chegar a menos de R$ 20 mil na versão 1.0 flex, que chega no ano que vem. Hoje o carro tem motor 1.1 litro e por isso recolhe o dobro do IPI do 1000cc, ou 13%, isso além dos 35% de Imposto Importação.

As fábricas reduzem os custos com o aumento da produção, espremem os fornecedores, que reclamam das margens limitadas, o governo reduz imposto, como fez durante a crise, as vendas explodem e o Brasil se torna o quarto maior mercado do mundo.

E o Lucro Brasil permanece inalterado, obrigando o consumidor a comprar o carro mais caro do mundo.

Obama perde 36 mil seguidores no twitter

Do sítio Opera Mundi:

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, perdeu mais de 36 mil seguidores no Twitter em um dia, depois que sua equipe de campanha utilizou seu perfil na rede social para pedir mais pressão aos republicanos por conta da crise da dívida.


Obama, o terceiro perfil mais seguido no Twitter do mundo - atrás de Lady Gaga e Justin Bieber -, teve sua lista de seguidores reduzida de 9.402.898 na manhã da sexta-feira (29/07) para 9.366.634 neste sábado (30/07), conforme informou o canal CNN.

A redução aconteceu depois que a equipe que trabalha para a reeleição de Obama em 2012, e que cuida de sua conta oficial, começou a enviar diversas mensagens pedindo aos seguidores que escrevessem aos legisladores republicanos solicitando um acordo para ampliar o teto da dívida antes de 2 de agosto.

Rapidamente, o perfil se tornou uma lista de nomes de cada um dos congressistas e senadores republicanos, estado por estado, precedidos de mensagens como "assegure que seu representante sabe que você apoia um acordo".

A campanha teve o efeito desejado, pois muitos dos congressistas e senadores republicanos viram de fato aumentar os tweets dirigidos a eles.

Por outro lado, irritou fiéis seguidores como @Arevill, de Connecticut, que considerou "realmente estranho" o comportamento dos responsáveis pela conta do presidente, após anunciar que tinha deixado de segui-lo, segundo indicou o jornal New York Daily News.

Horas depois, a equipe de Obama optou por publicar todos os perfis dos republicanos em uma única lista e prometeu moderar suas mensagens a partir de então.

O Congresso dos Estados Unidos estará reunido durante todo o fim de semana para tentar alcançar um acordo de última hora que encerre a crise para elevar o teto da dívida, sem o qual o país entraria parcialmente em moratória na próxima terça-feira (02/07).

Após semanas de negociações e concessões de ambas as partes, a Câmara de Representantes aprovou na sexta-feira uma proposta apoiada pelo republicano John Boehner, presidente da Casa, que foi rapidamente bloqueada no Senado, cuja maioria democrata é comandada por Harry Reid.

A Câmara Baixa planeja neste sábado fazer o mesmo com o plano democrata impulsionado por Reid, em uma sessão após a qual o Senado prevê efetuar um voto de procedimento à 1h da madrugada do domingo (2h de Brasília).

A mídia e os assaltantes da consciência

Por Mauro Santayana, em seu blog:

Muitos cometemos o engano de atribuir a Goebbels a idéia da manipulação das massas pela propaganda política. Antes que o ministro de Hitler cunhasse expressões fortes, como Deutschland, erwacht!, Edward Bernays começava a construir a sua excitante teoria sobre o tema.

Bernays, nascido em Viena, trazia a forte influência de Freud: era seu duplo sobrinho. Sua mãe foi irmã do pai da psicanálise, e seu pai, irmão da mulher do grande cientista. Na realidade, Bernays teve poucas relações pessoais com o tio. Com um ano de idade transferiu-se de Viena para Nova Iorque, acompanhando seus pais judeus. Depois de ter feito um curso de agronomia, dedicou-se muito cedo a uma profissão que inventou, a de Relações Públicas, expressão que considerava mais apropriada do que “propaganda”. Combinando os estudos do tio sobre a mente e os estudos de Gustave Le Bon e outros, sobre a psicologia das massas, Bernays desenvolveu sua teoria sobre a necessidade de manipular as massas, na sociedade industrial que florescia nos Estados Unidos e no mundo. O texto que se segue é ilustrativo de sua conclusão:

"A consciente e inteligente manipulação dos hábitos e das opiniões das massas é um importante elemento na sociedade democrática. Os que manipulam esse mecanismo oculto da sociedade constituem um governo invisível, o verdadeiro poder dirigente de nosso país. Nós somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas idéias sugeridas amplamente por homens dos quais nunca ouvimos falar. Este é o resultado lógico de como a nossa 'sociedade democrática' é organizada. Vasto número de seres humanos deve cooperar, desta maneira acomodada, se eles têm que conviver em sociedade. Em quase todos os atos de nossa vida diária, seja na esfera política ou nos negócios, em nossa conduta social ou em nosso pensamento ético, somos dominados por um relativamente pequeno número de pessoas. Elas entendem os processos mentais e os modelos das massas. E são essas pessoas que puxam os cordões com os quais controlam a mente pública'.

Bernays entendeu que essa manipulação só é possível mediante os meios de comunicação. Ao abrir a primeira agência de comunicação em Nova Iorque, em 1913 – aos 22 anos – ele tratou de convencer os homens de negócios que o controle do mercado e o prestígio das empresas estavam “nas notícias”, e não nos anúncios. Foi assim que inventou o famoso press release. Coube-lhe também criar “eventos”, que se tornariam notícias. Patrocinou uma parada em Nova Iorque na qual, pela primeira vez, mulheres eram vistas fumando. Contratou dezenas de jovens bonitas, que desfilaram com suas longas piteiras – e abriu o mercado do cigarro para o consumo feminino. Dele também foi a idéia de que, no cinema, o cigarro tivesse, como teve, presença permanente – e criou a “merchandising”. É provável que ele mesmo nunca tenha fumado – morreu aos 103 anos, em 1995.

A prevalência dos interesses comerciais nos jornais e, em seguida, nos meios eletrônicos, tornou-se comum, depois de Bernays, que se dedicou também à propaganda política. Foi consultor de Woodrow Wilson, na Primeira Guerra Mundial, e de Roosevelt, durante o “New Deal”. É difícil que Goebbels não tivesse conhecido seus trabalhos.

A técnica de manipulação das massas é simples, sobretudo quando se conhecem os mecanismos da mente, os famosos instintos de manada, aos quais também ele e outros teóricos se referem. O “instinto de manada” foi manipulado magistralmente pelos nazistas e, também ali, a serviço do capitalismo. Krupp e Schacht tiveram tanta importância quanto Hitler. Mas, se sem Hitler poderia ter havido o nazismo, o sistema seria impensável sem Goebbels. E Goebbels, ao que tudo indica, valeu-se de Bernays, Le Bon e outros da mesma época e de idéias similares.

A propósito do “instinto de manada” vale a pena lembrar a definição do fascismo por Ortega y Gasset: um rebanho de ovelhas acovardadas, juntas umas às outras pêlo com pêlo, vigiadas por cães e submissas ao cajado do pastor. Essa manipulação das massas é o mais forte instrumento de dominação dos povos pelas oligarquias financeiras. Ela anestesia as pessoas - mediante a alienação - ao invadir a mente de cada uma delas, com os produtos tóxicos do entretenimento dirigido e das comunicações deformadas. É o que ocorre, com a demonização dos imigrantes “extracomunitários” nos países europeus, mas, sobretudo, dos procedentes dos países islâmicos.

Acossados pela crise econômica, nada melhor do que encontrar um “bode expiatório”- como foram os judeus para Hitler, depois da derrota na Primeira Guerra - e, desesperadamente, organizar nova cruzada para a definitiva conquista da energia que se encontra sob as areias do Oriente Médio. Se essa conquista se fizer, há outras no horizonte, como a dos metais dos Andes e dos imensos recursos amazônicos. Não nos esqueçamos da “missão divina” de que se atribuía Bush para a invasão do Iraque – aprovada com entusiasmo pelo Congresso.

É preciso envenenar a mente dos homens, como envenenada foi a inteligência do assassino de Oslo – e desmoralizar, tanto quanto possível, as instituições do Estado Democrático – sempre a serviço dos donos do dinheiro. Quem conhece os jornais e as emissoras de televisão de Murdoch sabem que não há melhor exemplo de prática das idéias de Bernays e Goebbels do que a sua imensa empresa.

São esses mesmos instrumentos manipuladores que construíram o Partido Republicano americano e hoje incitam seus membros a impedir a taxação dos ricos para resolver o problema do endividamento do país, trazido pelas guerras, e a exigir os cortes nos gastos sociais, como os da saúde e da educação. Essa mesma manipulação produziu Quisling, o traidor norueguês a serviço de Hitler durante a guerra, e agora partejou o matador de Oslo.

Diário da Nova China (6): A China e os dilemas do socialismo periférico (1ª parte)

Por Emir Sader

Na visão de Marx, o socialismo surgiria nos países do centro do capitalismo. Com as forças produtivas mais desenvolvidas, com as classes sociais mais constituídas, a luta de classes apareceria de forma mais direta. O socialismo surgiria, dialeticamente, como a incorporação – do desenvolvimento das forças produtivas – e como sua negação – a socialização dos meios de produção, no lugar da sua propriedade privada, no capitalismo, haveria a socialização da produção e dos seus produtos, ao invés da sua apropriação privada.

O enredo concreto da história se deu de forma distinta. A primeira ruptura com a cadeia mundial de dominação imperialista acabou dando-se na periferia – na Rússia -, onde, segundo Lenin, as contradições se deram de maneira mais aguda, o poder – tzarista – era mais frágil, mais fácil de ser abatido. No entanto, segundo o mesmo Lenin, se era mais fácil tomar o poder na Rússia atrasada, era muito mais difícil construir o capitalismo – por essa mesma razão: o atraso das forças produtivas.

O próprio Lenin explicava o deslocamento das contradições mais agudas do centro para a periferia como um fenômeno produzido pela própria exploração colonial. Um império como o britânico, dividiria com a classe trabalhadora inglesa os ganhos na exploração colonial, diminuindo os conflitos dentro do pais e cooptando a setores da classe trabalhadora – no fenômeno que ele chamou de “aristocracia operária” -, aumentando, ao mesmo tempo, as contradições na periferia, superexplorada. Dessa forma se exportariam as contradições para a periferia, criando a contradição apontada por Lenin: mais fácil a conquista do poder, mais difícil a construção do socialismo.

Daí a expectativa que a revolução em um país europeu fosse resgatar o poder revolucionário na Rússia – além do mais, enfrentado a mais de 10 exércitos estrangeiros no seu próprio território, tentando derrubar o poder bolchevique. A Alemanha seria o elo mais frágil da cadeia imperialista – depois da Rússia -, derrotada na guerra, massacrada pelos acordos de pos-guerra, inviabilizada sua reconstrução pelas represálias tomadas contra ela. Ali as contradições se condensavam se maneira profunda. Alguma saída radical esperava a Alemanha.

Derrotado o movimento Espartaco, dirigido por Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht, o campo ficava livre para a outra alternativa radical, desta vez de direita: o nacional socialismo, de Hitler. E a URSS ficava condenada ao isolamento. No pós-guerra, a Europa se reconstruía e mesmo os partidos social democratas não apoiavam a URSS, criticando sua via “totalitária” e deixando assim apenas para os em geral pouco representativos comunistas a solidariedade com a URSS.

No plano interno, a política inicial do governo bolchevique foi a do “comunismo de guerra”, isto é, enquanto enfrentava a contrarrevolução aberta e diretamente apoiada pelas potencias ocidentais, se fazia uma distribuição igualitária dos poucos bens que se dispunha. Passado esse momento, Lenin formulou uma nova política econômica, que visava estimular os camponeses – que realizavam seu sonho de acesso à terra, enquanto nas cidades se colocava em pratica um programa socialista, com a expropriação das grandes empresas pelo Estado.

Em seguida à morte de Lenin, a situação se deteriorou, com os camponeses deixando de vender ao Estado, que não tinha com que pagar-lhes, para vender no mercado negro interno, assim como também para as forças contrarrevolucionarias. A situação das cidades e do próprio governo foi se tornando cada vez mais difícil.

Com a morte de Lenin se desenvolveu a discussão entre Stalin e Trotsky sobre como seguir adiante com o novo regime, diante o isolamento da URSS. Sem resumir aqui com detalhes o grande debate, Trotsky considerava que era necessário colocar os principais esforços na extensão da revolução, sem a qual, considerava ele, seria asfixiada e derrotada ou desfigurada internamente pela burocracia. Stalin considerava que haveria que consolidar o processo internamente, dado que não havia perspectivas revolucionarias no horizonte, o que os obrigava a concentrar os principais esforços no foro interno de consolidação do poder bolchevique.

Stalin triunfou e teve que enfrentar o problema herdado de antagonismo crescente entre os interesses dos trabalhadores urbanos e os camponeses, que foi se agudizando cada vez mais. Até que Stalin, acusando aos camponeses de queres asfixias o processo revolucionário e de serem coniventes, de forma expressa ou implícita, com a contrarrevolução, promoveu, a partir de 1929, uma expropriação violenta e maciça dos camponeses, estatizando suas terras.

Essa foi a forma que assumiu na URSS a “acumulação socialista primitiva”, isto é, a forma do socialismo, na periferia pobre, dar o salto que lhe poderia possibilitar o desenvolvimento das forças produtivas que Marx supunha indispensável para a construção do socialismo. A via soviética permitiu ao regime uma industrialização compulsiva durante toda a década de 1930, que possibilitou que a URSS pudesse, heroicamente e contando com suas próprias forças, inclusive sua própria indústria bélica, derrotar o exército mais poderoso do mundo naquele momento, o alemão, permitindo não apenas sobreviver, com grandes sofrimentos, a URSS, como possibilitou a contra ofensiva que terminou com a derrubada do poder nazista, concretizado pelas tropas soviéticas.

Mas o preço interno não foi simples: por um lado, uma ferida que o regime soviético nunca superou com os camponeses e a economia agrícola, que até o final foi um dos pontos fracos da URSS, que teve que importar alimentos até sua desaparição, várias décadas depois. E, por outro lado, se deu o chamado processo de estalinização tanto do poder soviético – de que os Processos de Moscou foram a expressão mais sistemática e cruel, liquidando grande parte da liderança que tinha feito a revolução, sob a liderança de Lenin – como praticamente liquidando com a democracia interna nos partidos comunistas.

Ficava a resolver o problema do salto que poderia permitir a construção do socialismo em países pobres, da periferia capitalista. Que lições tiraria a China, que poucas décadas depois teve que enfrentar um problema similar. (continua)

OBAMA CEDE: CORTE FISCAL CONTRA OS POBRES PODE CHEGAR A US$ 3 TRILHÕES. RICOS SÃO POUPADOS

O capitalismo americano não iria acabar, fosse qual fosse o resultado do impasse fiscal no Congresso. Mas o desfecho esboçado nesta noite de domingo é quase uma rendição de Obama ao Tea Party, tendo merecido a repulsa da esquerda do partido Democrata. Formada por cerca de 70 parlamentares ela vocaliza os setores da sociedade que mais se engajaram na eleição de Obama. A proposta a ser votada nas próximas horas rompe as bases desse engajamento, põe em risco a reeleição democrata e fixa uma nova referencia de crise política dentro da crise financeira mundial. Obama não se mostrou uma alternativa histórica capaz de contrastar os interesses  enfeixados pela supremacia das finanças desreguladas. Ao contrário de Roosevelt, em pleno colapso econômico, abraça um plano de arrocho fiscal que imobiliza o Estado e torna ainda mais incerta a recuperação americana e mundial. Pior que isso. A crise fiscal evidenciou a  monopolização do sistema político norte-americano por uma direita extremista, filha da madrassa neoliberal ativada nas últimas décadas.Embebida em um laissez-faire rudimentar, indissociável de uma visão de mundo belicista, ela busca compensar a desordem intrínseca a sua ideologia com uma pregação moralista e religiosa de sociedade. Ao ceder em quase tudo o que exigia a  ortodoxia extremista, Obama coloca a população pobre dos EUA na linha de tiro de cortes que podem chegar a US$ 3 trilhões em dez anos. Em contrapartida, seu plano de elevar a receita com maior imposto sobre os ricos foi engavetado.  A rendição de Obama coloca o mundo à mercê de forças  incapazes de exercer o poder  americano com algum equilíbrio e discernimento. Ademais de irradiar instabilidade financeira, os EUA se transformam em fator de insegurança política global. A negociação orçamentária escancarou o que estava subentendido e consolidou uma dimensão  atemorizante do passo seguinte da história. Os países em desenvolvimento devem extrair lições esse episódio. Mas, sobretudo, blindar sua agenda econômica e social contra os solavancos implícitos na nova era da incerteza (LEIA análise de Amir Khair nesta pag.) 
(Carta Maior; 2ª feira, 01/08/ 2011)