sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A revitalização do Rio São Francisco é uma dívida do Governo Federal com o povo saofranciscano


Por Josemário Martins da Silva 

O Rio Opara como era chamado pelos índios antes da chegada dos portugueses “que em tupi –quer dizer Rio grande, tortuoso, rio-mar” e hoje Rio São Francisco, também conhecido como o Velho Chico, Rio dos Currais e principalmente como Rio da Unidade Nacional. Nascido na Serra da Canastra, em Minas Gerais, o Rio percorre 2.700 km até atingir o Oceano Atlântico, na divisa dos estados de Sergipe e Alagoas. Sua bacia possui 640 mil Km2, onde se distribuem 503 municípios e vivem 14 milhões de pessoas, sendo que 58% do seu percurso se dá no sertão nordestino, onde é o único rio perene do semi-árido. 
A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, precisa de ações não apenas paliativas, temporárias e compensatórias, necessita de ações permanentes de revitalização e desenvolvimento sustentável  de médio e longo prazo em toda sua Bacia.Pois desde a  sua descoberta e o seu batismo pelos portugueses em 04 de Outubro-Dia de São Francisco, que a sua exploração, a sua agonia e a sua degradação hidro-ambiental é continua e permanente. 
Considerando que em 04 de outubro , o “Rio Opará”, que para os índios significava “rio-mar”, completa  mais de 506 anos de seu batismo cristão, quando foi chamado de Rio São Francisco pelo navegador Américo Vespúcio. 
Considerando que o rio é um patrimônio nacional e gera energia para todo país. "Hoje quando se gera energia no nordeste, ela pode ir para o Rio Grande do Sul porque o sistema é interligado, então outros estados do sul e do sudeste são beneficiados também com a Revitalização da Bacia do Rio São Francisco”. 
Considerando a finalidade da Proposta de Emenda Constitucional 524/02 que Cria o Fundo de Revitalização do Rio São Francisco, de autoria do senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), é vincular no Orçamento da União 0,5% (meio por cento) da receita líquida, descontadas as transferências e destinações específicas, para constituir o fundo. Com esse percentual, seria possível somar cerca de R$ 300 milhões anuais  para a recuperação hidroambiental do Velho Chico
Considerando que a PEC 524/02 já foi aprovada pelo SENADO, e  encontra-se em tramitação na Câmara dos Deputados e cadê a ação dessa importante Casa Legislativa do Povo Brasileiro em relação a está matéria; 
Considerando o substitutivo de Fernando Ferro para a PEC – que tramita no Congresso desde 2002 – prevê que o fundo seja formado por 0,2% da arrecadação federal e 10% dos royalties do setor elétrico pagos como compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos na geração de energia elétrica. Ou seja, do total pago pelas empresas do setor pelo direito ao uso da água, 10% serão destinados para o fundo. O deputado acredita que, com essa composição, o fundo poderia dispor de R$ 250 milhões anuais para custear as ações de revitalização do Rio São Francisco. 
Considerado que desde 1988, por determinação constitucional, 6% do faturamento bruto da Chesf é pago aos Estados e às prefeituras a título de royalties para as compensações ambientais pelo uso da água na geração de energia. Com a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), o percentual foi elevado para 6,75%, sendo que o acréscimo (0,75%) foi vinculado como receita específica da ANA. 
O relator da proposta na Câmara dos Deputados Fernando Ferro(PT-PE), afirma em seu relatório que “vai constitucionalizar esses royalties no Fundo de Revitalização, porque esse dinheiro não está sendo usado na finalidade para a qual foi destinado pela Constituição”. 
É importantíssimo que o Presidente da Câmara dos Deputados da República Federativa do Brasil – Deputado Marco Maia, aos demais membros da Mesa Diretora e a todos os lideres partidários e deputados e deputadas desta importante casa do Povo Brasileiro que a Proposta de Emenda Constitucional 524/02 que cria o Fundo de Revitalização do Rio São Francisco seja colocada em pauta, discutida e aprovada, pois navegar é preciso e revitalizar o grande rio genuinamente nacional também é imprescindível, pois corre um boato na beira do rio que o nosso rio pode morrer, pois como dizia o Frei Luiz, Rio Vivo-Povo Vivo .
Aprovar a  PEC 524/02  que cria o Fundo Revitalização do Rio São Francisco  é preciso!
*Assessor da Secretaria de Meio Ambiente da FETAG-BA e Conselheiro Estadual de Meio Ambiente-Conselheiro do CEPRAM

Edmilson Cerqueira fala sobre a greve dos bancários

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Edmilson Cerqueira, 53 anos, Contabilista, Bancário, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de Feira de Santana, Ex-Juiz Classista dos Trabalhadores na JCJ de Feira de Santana, Diretor de Comunicação do Sindicato dos Bancários e do Partido Comunista do Brasil de Feira de Santana.

Nesta entrevista para o Blog do Genaldo ela fala a greve dos bancários, seus motivos, sobre a proposta que eles apresentam para os bancos, bem como a contraproposta apresentada pelos baqueiros. Ele fala que caso não haja negociação a greve se prolongará por mais tempo. Leia na íntegra a entrevista.


BG: A população acompanha a mobilização e a paralisação dos bancários, mas nem todos compreendem porque não tem elementos para saber exatamente o que está acontecendo com os trabalhadores/as dos bancos que estão sendo constantemente explorados. De uma forma simples o Senhor poderia explicar o porquê da greve, qual a sua finalidade, o que vocês estão exigindo dos banqueiros?

Edimilson: Primeiro porque depois de esgotadas as negociações agendadas e todas negadas e com a finalidade de valorizarmos a categoria bancária e por dignidade e respeito aos clientes e desrespeito pela proposta de 0,56% depois de lucros astronômicos dos bancos rejeitada pela categoria na sua data base, buscamos o direito constitucional que é a greve.

BG: Em números vemos que nos últimos anos apesar de termos no Governo dirigentes mais progressistas, mais preocupados com a classe média, bem como com os mais excluídos, os donos dos bancos tem aumentado assustadoramente seus lucros. O Senhor como representante sindical dessa importante categoria profissional que são os bancários pode nos explicar como se dá esse processo de aumento dos lucros dos bancos? O Senhor tem números que pode demonstrar para a sociedade o quanto esses proprietários lucram?

Edmilson: Nós achamos que apesar de eleger um governo do seio sindical com suas alianças, não foi implementado uma reforma financeira que barre com a exploração dos banqueiros em temos de juros, tarifas, taxas e em especial a não aplicação da taxa CELIC como exemplo de percentuais, os 05 maiores bancos do Brasil (Bradesco, Santander, HSBC ,Itaú e Banco do Brasil) obtiveram no último semestre cerca de 27 Bilhões de lucros e crescimento acima de 30%. É um absurdo!

BG: Afinal de contas o que é mesmo com o pé no chão que os bancários estão exigindo de direitos e o que os donos de bancos têm apresentado como proposta até agora?

Edmilson: Mais contratações, horário do comércio para atendimento, segurança, fim dos correspondentes ,auxílio educação, isonomia, condições no local do trabalho, saúde, piso do mínimo do DIEESE, inflação mais 5%, tudo negado até agora.
 
BG: A população está apreensiva porque todos precisam dos bancos abertos e funcionando para que possam movimentar dinheiro, principalmente os pequenos comerciantes. Na opinião do Senhor com o endurecimento das negociações por parte dos donos de bancos a greve vai demorar quanto tempo?

Edmilson: Pode demorar muito porque os banqueiros são insensíveis e não se preocupam com pequenos clientes, aposentados etc. Eles os querem, mais há muito tempo os discriminam e mesmo sem greve estão sendo impedidos de adentrarem nas agências, sendo desviados para auto-atendimentos, lotéricas e correspondentes. Já tivemos greve que levou 45 dias, a população deve se preparar porque com banqueiros é assim, todos os anos quanto mais lucros menos para os bancários e desserviços para o povo.
 
BG: Como está o nível de organização dos próprios dirigentes que estão coordenando esse processo? Como o Senhor está vendo a participação dos próprios funcionários dos bancos na greve? Em números como está a paralisação mesmo?

Edmilson: Muito boa, temos um comando nacional e local, aqui em Feira de Santana  obtivemos apoio do PCdoB, FETAG-BA, Sindicatos dos Borracheiros e da CTB. A participação dos funcionários é ótima uma vez que fechamos 100% todos os dias.

BG: Gostaríamos de que o Senhor dissesse algumas palavras para a população sobre esse processo para que a população possa compreender a mobilização de vocês?

Edmilson: A população deveria ser mais unida, lutar e exigir melhor atendimento, mais bancários, buscar as leis de proteção e acioná-las a seu favor, esta luta é de todos para o bem comum. Nós fazemos nossa parte, denunciando e os orientando a buscar seus direitos. Se os movimentos populares começarem a se levantar protestando, indo as ruas com um grande eco, CHEGA DE FARRA, poderemos ter um sistema financeiro que faça o seu verdadeiro papel que é desenvolver o país e seus municípios, através dos louros auferidos dos clientes.


O Brasil precisa derrotar a aliança da especulação financeira

Editorial do Vermelho

A aliança da especulação financeira dá sinais de incômodo com as últimas medidas do governo – e do Banco Central – na área econômica, que sinalizam a disposição concreta de ultrapassar o pacto pelos juros altos firmado na implantação do Plano Real, em 1994, e substituí-lo por um novo arranjo que enfatiza o fortalecimento do desenvolvimento, deixando para trás o tripé neoliberal dos juros altos, câmbio fixo e superávit primário.

A gritaria começou com o aumento dos impostos para carros importados. No jornal O Estado de S. Paulo, o economista José Roberto Mendonça de Barros, um dos gurus da especulação financeira, esperneou usando os argumentos ultrapassados de sempre. A taxação dos importados, escreveu, contenta apenas industriais e sindicalistas mas prejudica os consumidores e a classe média – alegação que já era usada por comentaristas ligados à alta finança desde a década de 1940, quando combatiam o desenvolvimento industrial do país. O próprio título do artigo deste eminente neoliberal indica a aversão à mudança que se antevê: “A volta da aliança inflacionária”.

E vai por ele aí: aumentar os impostos dos importados prejudica a concorrência, situação agravada, pensa ele, pela “força do mercado de trabalho”, pela valorização do salário mínimo e pela volta dos investimentos do governo para fomentar o desenvolvimento e gerar empregos (inclusive contratando funcionários públicos). E ameaça com o risco da volta da inflação, baseado num diagnóstico antediluviano segundo o qual este dragão cresce com ao lado do emprego e do aumento do consumo popular. Mendonça de Barros parece desconhecer que a inflação, hoje, decorre justamente dos preços administrados (eletricidade, telefonia, pedágios e outros serviços públicos privatizados pelos governos tucanos) amarrados a contratos que determinam reajustes acima da inflação deixando o governo sem ação em relação a estes preços e favorecendo apenas as empresas privadas.

Na mesma semana o jornalão paulista seguiu idêntica toada e, num editorial intitulado “Dilma Rousseff, no comando do BC” (dai 4) investiu pesadamente contra a iminência de queda na taxa de juros escandalosa que decorre da vigência, ainda, da aliança da especulação financeira que mantém forte influência na condição da política macroeconômica. Nunca é demais lembrar que, até o final do governo Lula, foi um homem ligado aos bancos que comandou o Banco Central – Henrique Meirelles – e que, sob Dilma, isso começou a mudar com a indicação de um funcionário de carreira do Banco Central, Alexandre Tombini, para dirigir aquela instituição. Dilma Rousseff “assumiu oficialmente o comando do Banco Central”, lamenta o jornal da família Mesquita.

É como se isso estivesse fora das atribuições da Presidência da República! Felizmente no Brasil o dogma da “autonomia do Banco Central” (isto é, da passagem de seu comando aos interesses financeiros privados) não conseguiu se impor graças à forte reação que esta ideia encontrou em vários setores da sociedade. O que houve, nos mandatos de Luís Inácio Lula da Silva, foi uma autonomia tolerada, provocada inclusive pelas condições em que o presidente-operário tomou posse. E que pode agora ser deixada de lado em virtude justamente das mudanças econômicas que seu governo promoveu e que Dilma Rousseff aprofunda, criando as condições para a retomada da autonomia da política econômica. Autonomia que se manifesta na ação conjunta entre o Banco Central e o Ministério da Fazenda para aproveitar a janela de oportunidades representada pela crise internacional e que aponta para o fortalecimento da ação do governo no fomento do desenvolvimento, na redução dos juros, na adoção de uma política cambial que sirva aos interesses nacionais e na redução do superávit primário, que é a economia que o governo é obrigado a fazer para pagar juros à especulação. O editorial segue a mesma ladainha neoliberal de sempre, condena o “protecionismo”, agita o espantalho da inflação, etc.

Este é o eixo principal da batalha política em curso. Para consolidar o crescimento e avançar ainda mais, o país precisa derrotar a aliança da especulação financeira baseada nos juros escandalosamente altos e em uma política econômica favorável aos interesses da alta finança, em detrimento do país, dos trabalhadores e dos empresários da produção. Para vencer esta aliança de gordos especuladores, uma nova aliança se impõe, unindo os empresários nacionais da produção aos trabalhadores e movimentos sociais pois somente ela dará força e respaldo ao governo para mudar a política econômica, baixar os juros, valorizar o salário e o emprego e fortalecer a nação.

As propostas neoliberais, de corte nos investimentos públicos, arrocho salarial e juros altos, naufragaram no Brasil e nos países da América Latina nas décadas de 1980 e 1990, provocando sacrifícios dos quais os brasileiros não se esquecem. Elas hoje naufragam na Europa e nos Estados Unidos onde o esforço de salvar os ricaços da crise jogando os custos sobre os ombros dos trabalhadores provoca, de um lado, desemprego e empobrecimento da população e, de outro lado, a volta da instabilidade social e politica que muitos julgavam superadas naqueles países.

O Brasil não aceita mais isso, como Dilma Rousseff tem insistido dentro do país por palavras e na prática ao tomar medidas para aprofundar o rompimento com o neoliberalismo. E afirmado no exterior, quando – em discursos na Europa – condenou a maneira como os governos locais enfrentam a crise, com arrocho salarial, cortes nos direitos sociais e aumento dos impostos. A imprensa brasileira, ligada à aliança da especulação financeira, criticou. E novamente está errada – está na contramão da história, para usar uma frase da qual eles abusaram nos anos passados para atacar quem se opunha ao neoliberalismo.

Antichavista busca apoio de FHC, Collor e Sarney

O pretenso líder da oposição venezuelana, Leopoldo López, que se esforça para concorrer com Hugo Chávez nas eleições presidenciais de 2012, buscou no Brasil a "solidariedade" de três ex-presidentes - Fernando Henrique Cardoso, José Sarney e Fernando Collor de Mello - , com os quais se reuniu nos últimos dias.

Por José Reinaldo


A sabedoria popular diz que se mede o caráter e o valor das pessoas pelas companhias com quem anda. “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”, afirma o adágio, que certamente valerá também para as relações políticas.

O pretendente à candidatura presidencial na Venezuela não tem nenhum apoio em seu país e já se encontra empenhado em obtê-lo internacionalmente. Pelas escolhas que fez no Brasil, já se nota o tipo de aliança que promoveria caso assumisse o posto maior da nação bolivariana. Não o conseguirá. Faz parte de um grupo de políticos fracassados em seu país conotados como esquálidos pelo total isolamento em relação às massas populares.

Como lhe deram guarida e ouvidos, ele fez ouvir sua voz e saiu dizendo, após audiência nesta quinta-feira (6), que o presidente do Senado, José Sarney, "está muito atento e sabe o que está acontecendo na Venezuela".

O líder do partido direitista e pró-imperialista Voluntad Popular e ex-prefeito do município de Chacao em Caracas, foi recebido por Collor na quarta-feira (5) e por FHC na terça-feira (4), para os quais pediu "a compreensão do que está acontecendo na Venezuela, solidariedade com nossa luta pela democracia e os direitos". As informações são da agência noticiosa AFP.

Os três ex-presidentes têm defendido em pronunciamentos públicos e artigos nos veículos de comunicação opiniões contrárias ao governo de Chávez, alinhadas com as posições golpistas da direita venezuelana, as ameaças e ações intervencionistas do imperialismo estadunidense.

Collor e Sarney opuseram-se sistematicamente à entrada da Venezuela bolivariana no Mersosul, deblaterando sobre medidas "contra os princípios democráticos". Sarney tomou as dores do mega-empresário Marcel Granier, dono do canal de Televisão RCTV, cuja concessão não foi renovada pelo governo venezuelano, em 2007, estritamente dentro da legislação do país. A RCTV esteve envolvida em todas as conspirações antichavistas e semeava um ambiente de desestabilização política no país. Este canal televisivo tentou fomentar artificialmente os ingredientes para a guerra civil, que posteriormente justificasse uma “guerra humanitária” do imperialismo para depor o governo de Chávez.

O ex-presidente tentou ainda lançar uma campanha contra a suposta “corrida armamentista” em que a Venezuela estaria envolvida na América do Sul, alertando as Forças Armadas brasileiras e governos do continente a agirem em sentido oposto.

López, que não se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, grande aliado de Chávez, tentou fazer média com a presidente Dilma Rousseff, elogiando seu compromisso com a defesa dos direitos humanos.

Mas, o direitista venezuelano nada conseguirá com a presidente brasileira, que é comprometida não só com os direitos humanos, mas também com a soberania nacional, a participação popular, a integração latino-americana, a paz mundial, o multilateralismo, a construção de um mundo multipolar, o direito internacional, valores sobre os quais a oposição antichavista e seus patrões, os imperialistas estadunidenses, tripudiam. E para desagrado do pretenso candidato oposicionista, Dilma mantém relações de alto nível com o presidente venezuelano e é sua amiga.

López está fazendo grande ruído durante seu périplo, mas sequer é candidato ainda. Ele terá que disputar prévias em fevereiro, na expectativa de se tornar o candidato da plataforma oposicionista denominada “Unidad”. Ocorre que as oposições venezuelanas esquálidas, reacionárias, direitistas, antinacionais, dispersas por sucessivas derrotas políticas e eleitorais, são um saco de gatos e nada garante que sairão unificadas para enfrentar o líder anti-imperialista, que desfruta de grande apoio popular.

A julgar pela importância que os três ex-presidentes brasileiros atribuíram ao pigmeu antichavista, pode-se antever que a campanha eleitoral de 2012 na Venezuela será uma luta de envergadura não apenas na nação bolivariana, mas na arena da geopolítica latino-americana e mesmo mundial. Estas movimentações são apenas os primeiros sinais de que grandes embates políticos estão por vir.

Seja qual for ou quais forem as candidaturas da oposição antichavista, a luta terá dois campos nitidamente definidos. Os que querem uma Venezuela democrático-popular, soberana, progressista, anti-imperialista e socialista estarão alinhados com o líder bolivariano. Do outro lado estarão os inimigos da unidade latino-americana, regidos pela batuta do imperialismo.

O renascimento judaico na Alemanha

As novas gerações de judeus alemães têm uma relação mais distante em relação a fatos como o Holocausto e a preservação da cultura se torna uma preocupação.

Por Caroline d’Essen e Torsten Müller

“Com relação à questão judaica, o Führer decidiu fazer uma limpeza étnica. Ele profetizou que se os judeus causassem uma nova guerra mundial, eles viveriam para ver sua aniquilação total. Isso não foi apenas uma frase. A guerra mundial está acontecendo agora e a aniquilação dos judeus será sua principal consequência” - Diário pessoal de Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista de Adolf Hitler, em 1941.

O trecho acima faz referência à “Solução Final”, nome pelo qual ficou conhecido o plano nazista de genocídio sistemático da população judaica durante a Segunda Guerra Mundial. Setenta anos se passaram deste momento até agora. Muito aconteceu desde então. O tribunal de Nuremberg julgou os crimes cometidos pelos nazistas, o Estado alemão pagou indenizações às vítimas do Holocausto, e se esforçou para construir uma imagem positiva do país nos anos seguintes ao conflito. A Guerra Fria polarizou o mundo entre lideranças americanas e soviéticas por cerca de 45 anos. A disputa também dividiu o país em dois: a Alemanha Ocidental e Oriental. Em 1989, com a reunificação alemã e a adoção de leis de imigração, o número de judeus vindos de antigos países soviéticos fez com que a comunidade judaica na Alemanha quadruplicasse o seu tamanho.

Heide Sobotka, responsável há 18 anos pela editoria de sociedade do jornal judaico-alemão Jüdische Allgemeine, conta que a entrada desses imigrantes fortaleceu a sociedade judaica com a construção de novas sinagogas e centros judaicos, além de ter contribuído para a reconquista da autoconfiança dos judeus. Apesar do aparente cenário positivo, algumas questões ainda permanecem: quão integrados eles estão na sociedade alemã? Como lidam com o passado histórico? Quem são as diferentes gerações de judeus vivendo no país? Que perspectivas podem ser traçadas para os próximos anos?
Ser judeu na Alemanha pós-guerra
Antes da Segunda Guerra Mundial, cerca de 500 mil judeus viviam na Alemanha, número que foi reduzido para alguns milhares ao final do conflito. Andreas Brämmer, vice-diretor do Instituto de História Judaica Alemã, explica que, logo após a guerra, existiam diferentes grupos de judeus dentro do país. “Havia os casados com alemães não judeus, que também foram perseguidos, mas tinham um certo estado de segurança por conta do casamento. Também havia o grupo dos chamados 'submarinos', que foram aqueles que conseguiram se esconder ou mudaram suas identidades durante a guerra. E, finalmente, existiam os sobreviventes dos campos de concentração.”

Permanecer no país que deu origem às ideias do antissemitismo definitivamente não era a decisão mais fácil de ser tomada pelos judeus que se encontravam em terras alemãs. Segundo Brämmer, em 1947, havia 254 mil judeus vivendo na Alemanha sem a intenção de ficar. Eles aguardavam para seguir para Israel (criado em 1948) ou para os Estados Unidos. Apesar de muitos terem realmente partido, um grupo permaneceu. Eram pessoas emocional ou fisicamente abaladas pela guerra, que não se encontravam em condições de emigrar, além daqueles que haviam se casado ou encontrado uma oportunidade profissional. Esses, que por diferentes motivos resolveram permanecer em solo germânico, eram frequentemente apontados como traidores pela comunidade judaica internacional que não conseguia compreender o porquê de eles se estabelecerem ali.  

Arnold Simmenauer, 21 anos, é judeu e vive na Alemanha, e explica que mesmo nos dias de hoje não é fácil lidar com o assunto. “Meu avô, que fugiu do país antes da guerra e foi viver na França, não consegue entender até hoje porque eu quero viver aqui. E não é apenas entre os mais velhos que existe esse preconceito. Quando estudei na França por alguns anos meus colegas não compreendiam como eu podia ser judeu e ao mesmo tempo viver na Alemanha.”
A reunificação alemã e os migrantes
Já no início dos anos 1950, instituições judaicas foram fundadas, sinagogas reconstruídas e centros culturais criados. Mas foi em 1989, com a reunificação alemã, que a comunidade judaica passou por uma grande mudança. Entre os judeus soviéticos, apesar das mudanças políticas em seus respectivos países, existia certo receio em relação a um crescente sentimento de antissemitismo entre a população. Depois de negociar com o Conselho Central Judaico Alemão, a Alemanha adotou leis de imigração para judeus vindos da URSS, admitindo-os como refugiados. Desde então o número de judeus no país quadruplicou.

“Esse boom na imigração teve um impacto enorme na cultura judaica na Alemanha”, explica Brämmer. Isso porque a maioria dos imigrantes que vieram da antiga União Soviética não eram considerados judeus pela lei judaica (que considera judeu os filhos de mãe judia ou convertidos ao judaísmo).  Na União Soviética, ser judeu significava ter uma nacionalidade registrada em seus passaportes e ponto. Heide Sobotka explica que os imigrantes que viveram durante a ditadura soviética eram “judeus alienados”. “Eles eram judeus apenas no seu passaporte, pois, devido a represálias, não podiam trazer sua cultura a público. Entretanto, foi com esse mesmo passaporte que eles puderam imigrar para Alemanha em busca de melhores condições”. E assim se criou o grande desafio em relação aos “novos judeus”: como integrar esses imigrantes nas comunidades oficiais judaicas, uma vez que eles não preenchiam os requisitos das leis tradicionais do judaísmo?

“Além das dificuldades naturais, os judeus soviéticos tinham uma outra perspectiva do Holocausto, em que eles se enxergavam muito mais como aqueles que chegaram para libertar os judeus dos campos de concentração do que como vítimas”, explica Brämmer. “Tudo isso acabou tornando mais difícil sua aceitação dentro da sociedade alemã”, complementa. Há ainda o fato de que a comunidade judaico-alemã não estava preparada para lidar com tamanho número de imigrantes, tanto em termos de infraestrutura quanto financeiramente. A integração de 100 mil novos membros numa comunidade que abrigava 30 mil não foi fácil. Nos últimos anos, a infraestrutura se expandiu, mas ainda é um problema. A quantidade de rabinos cresceu de 15 para 42, mas outros ainda são necessários. Muitas comunidades tiveram que se virar sem um rabino. O Conselho Central Judaico Alemão empregou três rabinos visitantes para oferecer a essas comunidades instrução religiosa. Entretanto, essa ainda não é a situação ideal. O fato de imigrantes estarem crescendo num Estado ateísta, onde o regime foi hostil aos judeus no passado, acaba levando muitos a uma alienação em relação aos valores da cultura judaica.

As novas gerações e a memória
Sobre a integração social, o jovem Arnold explica que possui “duas vidas”: uma dentro da comunidade judaica e outra com seus amigos alemães. “Não me sinto primeiro judeu e depois outra coisa. Primeiro, vem minha vida, e depois, minha religião. Entretanto, mantenho algumas tradições judaicas como o Bar Mitzvah, Hannuka e Yom Kupur.”

Maksim Aizikovitch, 25 anos, também judeu e alemão, conta que costumava respeitar mais as tradições quando era criança e adolescente, pois frequentava uma escola judaica. Desde que passou a viver sozinho ele foi cortando os rituais e tradições. “Eu tento manter o máximo que consigo dos costumes. Eu diria que sou um judeu tentando encontrar um caminho para conviver com sua religiosidade nos dias de hoje”.

F.T., 26 anos, que preferiu não se identificar, vive em Berlim e diz que ainda mantém algumas tradições como o Shabbat (dia de descanso semanal do judaísmo) e em relação ao seu círculo de amigos explica que a maioria é judia. Já Maksim mantém dois grupos distintos: “Eu tenho duas turmas de amigos que são definitivamente diferentes uns dos outros devido à sua educação, família, história e perspectiva do mundo em geral. Entretanto, meus amigos alemães e judeus se conhecem e se dão bem.”

Em relação ao tema Holocausto, a jornalista Heide Sobotka esclarece: “Para os jovens, esse tema não é mais algo que vai modelar completamente suas vidas. Claro que eles mantêm as lembranças dos acontecimentos, mas não é mais algo tão essencial como era para outras gerações.” Sobotka  explica ainda que, com a morte das vítimas e dos opressores, a lacuna entre as gerações aumenta e os acontecimentos deixam de ter o impacto que tiveram na vida dos mais velhos. Arnold diz que, para ele e seus colegas, o Holocausto é algo um pouco mais distante do que para seu avô e sua mãe. “Lógico que estudamos isso nas escolas alemãs. Diria até que eles dão uma ênfase maior do que qualquer outro assunto em História, para se ter a certeza de que isso não será esquecido ou acontecerá de novo, mas ainda assim não é algo que minha geração viveu de perto, portanto sentimos uma distância cada vez maior em relação ao tópico.”

O jovem F.T. afirma que o Holocausto é uma parte de sua consciência, mas acredita que com o passar do tempo o evento vai ter um impacto menor e se tornar algo “longe” da realidade.  “Acho que para as gerações novas e as que ainda virão, o Holocausto será algo similar ao que a Inquisição ou outros eventos contra os judeus tiveram na minha geração”, compara.

Um estudo feito em 2010 pelo Fundo Pincus para Educação Judaica em Diáspora mostrou uma grande diferença em relação à memória do Holocausto entre judeus menores de 40 anos e maiores de 61 anos. Enquanto 60% dos mais velhos responderam que o Holocausto teve uma influência negativa na sua vivência na Alemanha, apenas 20% do grupo mais novo concordou com a afirmação. A mesma pesquisa ainda indica que 32% dos que têm menos de 40 anos estão extremamente satisfeitos com suas vidas na Alemanha, enquanto apenas 2,6% do grupo acima dos 61 afirmam o mesmo. 
Segurança e futuro
Apesar de todo o esforço para trazer uma certa “normalidade” de volta à comunidade judaica, ainda se nota muita segurança ao redor de instituições judaicas como centros culturais, escolas e até mesmo as sinagogas. Arnold explica que quando ele e sua mãe abriram o café onde trabalham atualmente, foram abordados pelas autoridades locais que lhes ofereceram segurança extra para o local, assim como eles fazem com outros estabelecimentos judaicos. Eles não aceitaram. “Não sinto medo e não queria ter guardas na frente do meu café.”

F. T. vê a questão da segurança de outra maneira “Apesar de eu não ter medo de ser judeu aqui na Alemanha, compreendo a paranoia. Afinal, vamos ser realistas: existem ameaças hoje em dia como a do Hezbollah em 1994 em Buenos Aires ou a da Al-Qaeda em Mumbai dois anos atrás. No final, você acaba se acostumando rapidamente com toda essa segurança em torno das instituições judaicas.” Brämmer conta que as medidas de segurança são precauções que o Estado toma tanto por medo de ataques terroristas por conta da questão palestina, como de atos de neonazistas. “Existem discussões para diminuir a proteção, pois eles poderiam viver tranquilamente sem elas. Entretanto, houve atentados em outros lugares do mundo e ninguém quer ser responsabilizado caso isso ocorra aqui.”

Quanto ao futuro das comunidades judaicas vivendo na Alemanha, Maksim é otimista, porém cauteloso “Os judeus têm sido assimilados pela comunidade cada vez mais e isto é um bom sinal, uma vez que nós crescemos juntos. Eu acredito que os judeus devem se deixar ser parte desse grande povo, que é o alemão, entretanto a história nos ensinou a sempre ficarmos alerta e isso é o que continuaremos a fazer.”

Heide Sobotka explica que nos últimos 22 anos a infraestrutura destinada a preservar a cultura judaica tem melhorado muito. “Agora existem jardins de infância, escolas, centros juvenis. Há rabinos vindo para a Alemanha, sendo educados aqui. As perspectivas para o futuro raramente foram tão promissores como as de hoje e a aceitação nunca foi tão boa. Entretanto, ainda temos problemas: a imigração já estagnou e os judeus estão envelhecendo cada vez mais. Em 2009, 171 crianças nasceram, enquanto 1.038 pessoas morreram. Além disso, muitos jovens não precisam mais das comunidades judaicas como um lugar seguro. Eles se encontram fora das comunidades. Ninguém sabe como as sociedades judaicas serão em vinte anos na Alemanha – é certamente um dos grandes tópicos debatidos nas comunidades”, finaliza.
 
Pedras obstáculos

Um bom exemplo relacionado à manutenção da memória pode ser encontrado nas ruas de centenas de cidades alemãs. São as chamadas “pedras obstáculos”, um projeto que foi criado em memória daqueles que perderam suas vidas nos campos de concentração. Trata-se de uma espécie de azulejo de latão fixado nas calçadas em frente aos locais onde viviam as vítimas da perseguição nazista. Nele há uma inscrição com o nome da pessoa que morava ali, data de nascimento, destino da sua deportação e data da morte.

Fonte: Revista Fórum

A rebeldia no coração do sistema

Manifestações contra ditadura das finanças crescem em Nova York, espalham-se pelos Estados Unidos e ensaiam sinergias políticas que talvez sejam úteis em todo o mundo.

Por Antonio Martins - Outras Palvras

É provocativo viver momentos que farão história, e tentar compreendê-los. Por suas inúmeras novidades, 2011 será lembrado durante muito tempo — e a partir de agora, há um motivo a mais. Occupy Wall Street, um movimento de contestação do sistema que nasceu com ousadia mas alcance limitado, em 17 de setembro, ganhou nos últimos dias novas dimensões. Inspirado pelas ideias da autonomia e contracultura — mas reforçado por jovens mais movidos pela defesa de seus interesses que pela ideologia anticapitalista –, espalhou-se, no fim-de-semana, por dezenas de cidades norte-americanas: do Texas ao Havaí; de Boston a Memphis. Na segunda-feira, recebeu a adesão de alguns dos maiores sindicatos norte-americanos. Ontem (5/10), já engrossado por este apoio, organizou uma marcha de 15 mil pessoas, em Manhattan.  Ao receber adesões e influências, está se convertendo, antopofagicamente, em algo muito distinto de todas as tendências que o compõem — anarquismo, hippíes, juventude desencantada, trabalhadores organizados. Talvez aí residam sua potência e sua capacidade de contribuir com a construção de uma nova cultura política — uma necessidade que também ficou mais clara que nunca este ano.

Um texto publicado hoje, em nossa revista virtual, ajuda a compreender as origens do movimento. Foi produzido para The Nation por Nathan Schneider, um ativista ligado à cultura de paz e à organização dos movimentos de base (grassroots, no jargão político norte-americano) [e traduzido pela rede Vila Vudu]. Revela que os preparativos para um acampamento próximo ao centro financeiro de Nova York e do mundo começaram em julho. Foram conduzidos por três pequenos coletivos: Adbusters (uma rede global anti-consumista, fundada no Canadá e presente em especial na América do Norte), Day of Rage (uma rede de grupos jovens cujos alvos parecem ser, como na Espanha, os banqueiros e políticos) e Anonymous (uma espécie de guerrilha digital em rede, que luta especialmente pela liberdade na internet).

Redigido na forma de perguntas e respostas, o breve texto de Nathan reconhece que o início foi difícil. Os organizadores esperavam reunir 20 mil pessoas em Wall Street, em 17 de setembro — um sábado. Mobilizaram um décimo disso. Os participantes enfrentaram a vida dura com coragem. Quase todos com menos de 25 anos, dormiram ao frio, em colchonetes finos, sobre o chão da Liberty Plaza (veja o mapa), próxima a pontos por onde trafegam trilhões de dólares todos os dias.

Mas tinham a seu favor dois fatores muito poderosos. Primeiro, o caráter simbólico do ato. Num país em que a direita domina o debate político, acua e coloca em xeque o próprio presidente e conquistou as ruas (por meio do Tea Party), o pequeno grupo de garotos e garotas foi capaz de fazer o que o establishment  progressista não conseguiu. Encarar a onda conservadora, produzir um fato político que revela audácia, convicção e atitude. Tocar simbolicamente, além disso, numa das grandes chagas da sociedade norte-americana: a imensa concentração de riquezas em favor do sistema financeiro, que está ameaçando inclusive os direitos básicos da maior parte da população.


O segundo fator que impulsionou o movimento está relacionado a isso, e é muito concreto. Ao questionar o mercado financeiro, os jovens acampados abriram diálogo com milhões de norte-americanos que estão angustiados com dívidas imobiliárias, junto aos cartões de crédito, ligadas ao financiamento de automóveis ao pagamento de mensalidades escolares e a um enorme feixe de contratos que se relacionam com a garantia da vida cotidiana. Estes milhões de endividados sofrem com a ausência de políticas que aliviem seus dramas, enquanto assistem, há pelo menos dois anos, aos anúncios de socorro público trilionário aos bancos e instituições que… provocaram a crise financeira. Como não se revoltar? “As coisas pioraram tanto que todo mundo quer participar”, contou a repórteres do Financial Times Ross Fuentes, uma garota acampada de 23 anos que integra o Partido do Socialismo Libertário — umas das organizações que se envolveram nos protestos desde a fase mais difícil.

A partir do final da semana passada, chegaram os sindicatos. Havia muitas razões para eles se envolverem, num cenário em que o desemprego ultrapassa 10%, os salários reais caem há anos, os trabalhadores estão muito endividados e não têm nenhuma certeza em relação a seu futuro? As necessidades comuns romperam barreiras. Há várias décadas, as relações entre sindicalismo e movimentos de contracultura são tensas — e conflituosas, na maior parte do tempo — nos Estados Unidos. 

Reportagem de Tina Susman, no Los Angeles Times revela: um sinal de que é possível superar velhos traumas surgiu ontem, na passeata em Nova York. Entre as milhares de pessoas, encontraram-se, lado a lado, jovens anticapitalistas e enfermeiras em defesa do sistema de saúde. A fusão e diálogo entre os públicos, notou Tina, apareceu na diversidade das mensagens exibidas pelos participantes: “Havia cartazes protestando contra o racismo, o presidente Obama, os republicanos, os democratas, a fome, as guerras no Iraque e Afeganistão. Em contrapartida, defendia-se os direitos dos trabalhadores, os dos prisioneiros em greve de fome, mais impostos para os milionários e a reestruturação do sistema financeiro”.

Num sinal de que o movimento pode se enraizar, estavam presentes ícones da cultura norte-americana. A presença de Michael Moore (veja seu inspirado discurso acima) era de se esperar — assim como o apoio expresso há dias, ao movimento, por intelectuais de esquerda como Noam Chomsky e Tarik Ali. A novidade foi a participação, na marcha, de atores como Tim Robbins e Penn Badgley.

Se mantiverem esta amplitude, e o foco no sistema financeiro, as manifestações do Occupy Wall Street podem acrescentar um ingrediente novo, a um cenário marcado pelo atrelamento das elites dos países mais ricos a dogmas e por sua irresponsabilidade diante de problemas de enorme gravidade. Também nos Estados Unidos, há sinais de que a opinião pública prefere buscar o novo. A reportagem em que o New York Times registrou a difusão das manifestações revela que em Chicago, como inúmeras outras cidades, a paisagem dos acampamentos é marcada por mesas onde se oferece comida grátis — talvez um símbolo de que relações não-mercantis podem se espalhar. A ideia, que pode ter feito Milton Friedman revirar na tumba, está sendo bem aceita por seus concidadãos. Os gêneros são coletados junto à população. Na segunda-feira (3/2), os organizadores viram-se incapazes de consumir todo o alimento que lhes foi doado, e convidaram os sem-teto para compartilhar a refeição.

Em 2012, eleição pode ter cinco partidos a mais do que em 2010

São Paulo – A dois dias do fim do prazo para que os partidos políticos obtenham registro a tempo de participar das eleições de 2012, já são 29 as agremiações garantidas no pleito municipal. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda vai avaliar três casos, o que levaria o total a 32, cinco a mais que o número de siglas registradas para as eleições de 2010.

Na última semana de setembro, foi autorizada a criação do Partido Social Democrático (PSD), que tem no prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM), seu principal articulador, e calcula já contar com a quarta maior bancada da Câmara dos Deputados. Na terça-feira (4), o TSE habilitou o Partido Pátria Livre (PPL), que reúne antigos integrantes do MR-8, coletivo de resistência à ditadura militar e que passou as últimas décadas como um grupo dentro do PMDB.

Ainda estão em exame os pedidos de registro de três legendas: Partido Democrático Vida Social (PDVS), Partido dos Servidores Públicos e dos Trabalhadores da Iniciativa Privada do Brasil (PSPB) e Partido Ecológico Nacional (PEN). É necessário que esses três sejam liberados até esta sexta-feira (7) para poderem participar da eleição. Isso acontece porque, segundo a lei eleitoral, um candidato precisa estar filiado ao partido pelo qual vai se candidatar pelo menos um ano antes do dia da votação.

Levantamento realizado em abril deste ano pelo TSE em parceria com tribunais regionais indicava que 20 agremiações tentariam o registro a tempo de participar.

A criação de um partido político precisa cumprir a uma série de requisitos perante a Justiça Eleitoral. Após registrar a “personalidade jurídica” da organização, a sigla em formação precisa obter o apoio de um número de eleitores equivalente a, no mínimo, a 0,5% dos votos válidos da última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados aí os votos em branco e os nulos – o que quer dizer 482 mil, aproximadamente. As assinaturas desses apoiadores devem estar distribuídas por um terço ou mais das unidades da federação – nove, portanto – e equivaler no mínimo a 0,10% do eleitorado que votou em cada um desses estados. 

Este apoio dos eleitores é manifestado em assinaturas colocadas em listas organizadas pela legenda, um dos pontos polêmicos da criação do PSD. Houve acusações de que a sigla de Kassab usou firmas duplicadas e de eleitores mortos para atingir o objetivo, além de distribuir cestas básicas em troca de adesões. Depois disso é preciso conseguir o aval dos tribunais regionais eleitorais (TREs) de ao menos um terço dos estados, e passar pelo crivo do TSE.

Fonte: Rede Brasil Atual

Estratégias nacionais

Por Luís gonzaga Belluzzo - Opera Mundi

Nos anos 1990, Paul Krugman vergastou as manifestações antiglobalização. Ironizou os que clamavam contra a concorrência das manufaturas baratas e cada vez mais qualificadas produzidas na China e adjacências. Em meados dos anos 2000, em artigo intitulado "The Big Squeeze", Krugman deu marcha à ré.

Reconheceu que em outros tempos a economia norte-americana oferecia empregos de boa qualidade, que não tornariam os trabalhadores ricos, mas lhes concederiam rendimento de classe média. Os bons empregos eram proporcionados pela grande empresa manufatureira norte-americana, especialmente pela indústria automotiva.
Durante os anos 1990, escreveu Krugman, ainda era possível sustentar que o aperfeiçoamento educacional e o melhor treinamento poderiam restaurar a capacidade de criação de empregos mais bem remunerados na economia norte-americana. Era o argumento da “empregabilidade”. Depois da desinflação da “bolha tecnológica” em 2000, os trabalhadores de colarinho-branco ficaram tão expostos aos programas empresariais de enxugamento, busca de fornecedores externos e transplante de fábricas, ou seja, à concorrência dos operosos e preparados chineses e indianos, quanto estavam os desditosos assalariados de macacão.

Como é habitual nos debates econômicos, a maior dificuldade é desvendar o óbvio. Na era da predominância norte-americana, a estrutura do comércio é moldada pela estratégia competitiva da grande corporação internacional empenhada em criar plataformas produtivas nas regiões de menor custo relativo. No caso dos Estados Unidos, as alianças estratégicas e a distribuição espacial da produção ensejaram dois fenômenos gêmeos: 1. A concentração do investimento e da capacidade produtiva “exportadora” nas áreas de menor custo e de maior perspectiva de  expansão; e 2. A fratura entre a economia territorial norte-americana e o projeto “internacionalista” de seu sistema empresarial.

O aguçamento da concorrência deflagrou, ademais, uma onda de fusões e aquisições como forma de enfrentar a intensificação da rivalidade. Desde os anos 1980, apoiada na escalada dos preços nos mercados de ações, foi impressionante a intensificação do processo de concentração e centralização do capital, sobretudo nos Estados Unidos. Na aurora do Século 21, a concorrência capitalista mostra a sua verdadeira natureza: a intensificação da rivalidade entre as grandes empresas é estimulada pela expansão do crédito e pela mobilidade do capital financeiro. Sob os auspícios do Estado Nacional norte-americano, capturado pelos poderosos lobbies empresariais e das finanças, as corporações lançam-se com fúria às megafusões e à ocupação das regiões mais “amigáveis” ao desenvolvimento das estratégias competitivas.

Há simultaneamente dinamismo e estagnação, avanço vertiginoso das forças produtivas em algumas áreas e setores, combinado com a regressão em outras partes. Até mesmo os estudiosos mais conservadores reconhecem que não vivemos num mundo bem-comportado de vantagens comparativas, mas sim num ambiente global em que prevalecem as economias de escala e de escopo, as externalidades positivas criadas pelas políticas governamentais. São esses os determinantes das estratégias de ocupação e diversificação dos mercados, conglomeração e acordos de cooperação.

O propósito da competição monopolista é o de assegurar simultaneamente a diversificação espacial adequada da base produtiva da grande empresa e o “livre” acesso a mercados. Apresentadas como benéficas à liberdade de comércio e à difusão do progresso técnico, as “novas” formas de concorrência escondem, na realidade, o contrário: um aumento brutal da centralização do capital, da concentração da riqueza e do progresso técnico.

Na turma dos aspirantes ao Primeiro Mundo, saíram-se bem os que souberam atrelar, de forma ativa e inteligente, os projetos nacionais de desenvolvimento à nova configuração da economia mundial proposta pelas multinacionais. Entre estes, os mais bem-sucedidos foram os que promoveram o crescimento e a internacionalização das suas próprias megaempresas, como o Japão, a Coreia, Taiwan e, agora, a China. Abertos ao investimento estrangeiro, os chineses usaram o seu poder de negociação para exigir dos investidores forâneos o compromisso de se abastecer no mercado doméstico e transferir tecnologia às empresas locais. Isso, além de distribuir incentivos às exportações e administrar a flutuação da taxa de câmbio.

Os processos de transformação do capitalismo descritos acima são, em geral, ignorados quando se pretende designar a mudança ocorrida nas últimas décadas, mediante a expressão vazia “globalização”. Seus resultados negativos têm sido assinalados pelos críticos, que costumam acentuar as características mais perversas da concorrência predatória (competition at the bottom): o conflito entre a criação de empregos nas regiões de baixos salários e a destruição de empregos em outras partes, o que configura perspectivas sombrias para os países que entram no jogo com a escalação errada
.

* Luiz Gonzaga Belluzzo é economista, professor e consultor editorial de Carta Capital. Publicado originalmente no
site da revista Carta Capital.

O Nordeste, em São Paulo

Por Brizola Neto - Tijolaço

Os dados da pesquisa Ipea que revelaram que 30% da população adulta da região metropolitana de São Paulo é nascida nas regiões Norte e Nordeste do Brasil deveria servir de alerta contra p pensamento elitista e até racista que se expressa em certa parte dos paulistanos – e sejamos justos, em parte significativa das classes médias brasileiras -  que vê no migrante, no negro, no pobre aquela tal famosa “gente diferenciada” de Higienópolis.

Em lugar de atacar as políticas sociais e os investimentos que, nos últimos anos, vem fazendo minguar e até, em muitos casos, reverter-se o processo migratório em direção às grandes metrópoles do Sudeste, devia era apoiá-las, para que São Paulo (e o Rio, e BH)  sofra menos com o inchaço urbano que a transforma a vida num caos.

Sim, porque estaríamos falando não de quatro milhões de migrantes na Paulicéa, mas de cinco ou seis milhões, porque na última década São Paulo recebeu menos de 50 mil migrantes por ano, um número seis vezes menor que os 300 mil anuais que recebia na década de 70 a 80. É só fazer a conta e ver quantos seriam a mais.

O desenvolvimento do Nordeste  e a elevação da educação, da renda e do padrão de vida dos brasileiros que migraram são mais que um dever humano deste país, mas a redescoberta de que somos um povo só e que não temos diferenças, mas diversidade.

E que ela é uma de nossas maiores riquezas.


Os caminhos e os impasses do (ex-)camarada Gorby

Neste último artigo da série sobre a unidade alemã, Flávio Aguiar comenta que as pressões internas e externas sobre o governo soviético eram enormes. Ronald Reagan e João Paulo II seguiam uma campanha de desestabilização da URSS. Na frente interna, a economia ia mal e o Exército Vermelho perdia prestígio e poder político.

A reunificação alemã, processo realizado entre novembro de 1989 (queda do muro de Berlim) e outubro de 1990, se tornou realidade durante o período em que Mikhail Gorbachev era o premiê soviético.

A propósito, na Alemanha esse processo não se chama de reunificação (Wiedervereinigung). O nome mais aceito, inclusive oficialmente, é o de Deutschland Einheit, Unidade da Alemanha. Também se fala sobre “die Wende”, nome mais controverso, que quer dizer “a reviravolta”, em inglês, “the turning point”.

As pressões internas e externas sobre o governo soviético eram enormes. Ronald Reagan e o Papa João Paulo II seguiam uma campanha concertada de desestabilização da URSS. Na frente interna, a economia ia mal e o Exército Vermelho perdia prestígio e poder político com a derrota e a retirada no Afeganistão (processo que levou os Estados Unidos a ajudarem seu depois arqui-inimigo Osama Bin Laden). Há teorias que afirmam ter sido o Exército Vermelho o responsável pela manutenção do regime comunista na União Soviética, desde seu legendário comando por Leon Trotsky.

Quando ele entrou em crise, o regime também entrou, já que o Partido Comunista e a KGB estavam ocupadas por verdadeiras burocracias corporativas (como aliás, mais tarde veio a se comprovar, com a derrubada de Gorbachev em 1991 e, muito depois, a ascensão vertiginosa do ex-camarada Putin), repressivas e inoperantes desde um ponto de vista de esquerda. A própria crise econômica e de abastecimento que a União Soviética foi mergulhando solapou o chão do Exército Vermelho, cuja manutenção era custosa e exigente, diante da escalada militar promovida pelo Ocidente.

No meio desse torvelinho vivido pela URSS e pelas demais “repúblicas” comunistas (vamos reconhecer que de espírito republicano elas não tinham muito), deu-se o processo que levou à unidade alemã. Essa unidade foi, de fato, uma anexação da Alemanha Oriental pela Ocidental, inclusive do ponto de vista legal. A Alemanha unificada continuou parte da OTAN, por exemplo, coisa que antes só a Ocidental era.

A Alemanha Oriental era vista como a “prima rica” dos países do Leste europeu. Entretanto essa fama se desvaneceu nos anos que antecederam a queda do muro de Berlim. A moeda oriental não tinha mais curso internacional, havia crises de abastecimento como na URSS, e a máquina de controle repressivo da polícia política, a Stasi, crescera absurdamente.

Porém a crise vivida na URSS e o estremecimento do bloco soviético, com as frinchas e rupturas que vieram, aceleraram o processo de desestruturação da Alemanha Oriental. Manifestações contínuas, a partir de Leipzig, exigiam o fim do tolhimento à liberdade de expressão e, sobretudo, da liberdade de ir e vir entre as duas Alemanhas. Quando a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria, uma torrente de alemães orientais se precipitou para Budapeste, de Budapeste para Viena e de lá para a Alemanha Ocidental.

O exército e a polícia da Alemanha Oriental tomaram, aparentemente por conta própria, a decisão de não abrir fogo contra as multidões que protestavam, embora as reprimissem com confrontos e prisões. Nesse quadro algo confuso, ocorreu a confusão maior, que levou diretamente à queda do muro em 9 de novembro de 1989.

Nesse dia o governo comunista anunciou algo como “o estudo da viabilidade de conceder vistos de passagem do lado oriental para o ocidental de modo mais rápido e sumário”. No processo de boca-a-boca com que a notícia se espalhou, isso virou “o fim dos vistos de passagem”. Uma multidão se concentrou junto ao portão de Brandemburgo e outros pontos, exigindo a passagem. Logo o que fora uma represa transformou-se numa inundação: o muro caía, e se tornava inevitável a reunificação.

O então chanceler Helmut Kohl, da Alemanha Ocidental, agiu com notável habilidade no caso (logo ele, que era tido como um político tosco, motivo de piadas como o nosso antigo ditador Costa e Silva). Aceitou todas as imposições que as potências do Ocidente levantavam, e neutralizou temores a Leste quando admitiu não reclamar os territórios poloneses que tinham sido “germanizados” durante o regime nazista.

É claro que se colocou a questão da retirada das tropas que ocupavam Berlim e a Alemanha. Ao contrário do que se esperava, Gorbachev (que no Ocidente era conhecido como “Gorby”) facilitou tudo. Não só acabou aceitando, embora a contragosto, que a Alemanha permanecesse na OTAN, como deixou para os alemães o cálculo de quanto pagariam de indenização à agonizante URSS, não apresentando qualquer fatura de antemão.

De onde partiram as resistências? Ora, como sempre, do Ocidente, em particular da Grã-Bretanha e da França. O presidente da França, François Mitterand, acabou reconhecendo a inevitabilidade da reunificação. Mas a Dama de Ferro, Margareth Thatcher, não reconheceu, mas teve de engolir essa inevitabilidade.

Tornou-se famosa sua hostil observação em Estrasburgo, num encontro internacional a que estava presente o próprio Helmut Kohl: “We defeated the Germans twice. And now they are back!”. “Nós derrotamos os alemães duas vezes. E agora eles estão de volta!”.

Nos Estados Unidos as resistências eram menores, e foram neutralizadas pelo temor de que um impedimento das ações do conservador Kohl favorecesse o líder de esquerda do SPD, Oskar Lafontaine (hoje na Linke), crítico da OTAN, na disputa de poder. A premência de manter a Alemanha na OTAN prevaleceu, assim como para a França prevaleceu o ponto de vista de que a união seria aceitável desde que o “novo” país se mantivesse comprometido com a construção da União Européia.

A Grã-Bretanha de Thatcher continuou temendo que esse movimento levasse a França a se aproximar da Alemanha, coisa que acabou acontecendo de fato. Mas algum tempo depois Thatcher e seus temores caíram do governo, arrastados também por uma crise econômica. Aplainado o terreno, a reunificação, ou união, como se quiser, se deu, fechando o caminho aberto pela “reviravolta”.

Esses acontecimentos confirmaram as visões (neste particular) tanto do camarada Koba, aliás Josef Stalin, quanto do camarada Krushchev. Para o primeiro, era melhor ter uma Alemanha unificada mas neutra, do que um permanente conflito/atrito entre os dois lados de um país dividido e ocupado. Para o segundo, segundo frase também famosa sua, a Guerra Fria seria decidida em Berlim.

Simbolicamente, pelo menos, ela de fato o foi, embora as ações da Guerra Fria se desse com amplitude mundial. É que em Berlim os dois lados do confronto estavam face a face, como vitrinas que se mediam. Acabaram vencendo as mais brilhosas e sedutoras.

O resto, em todo caso, não é silêncio. É debate, felizmente.

* Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

Nasce um novo movimento social nos Estados Unidos

A presença de um amplo leque de sindicatos transformou o perfil do movimento iniciado por algumas centenas de jovens em Nova York, em sua maioria brancos, de universidades privadas, no dia 17 de setembro. Mudou não só em números, mas também em diversidade, gerando o que muitos líderes sindicais e comunitários estão chamando de um novo movimento social por justiça econômica. Algumas fontes policiais estimaram em mais de 10 mil os participantes da marcha e os organizadores calcularam o dobro. A reportagem é de David Brooks, do La Jornada.



Somos os 99%, gritaram juntos milhares de estudantes, sindicalistas, veteranos, imigrantes, professores e ativistas de todo tipo na primeira ação massiva contra o cobiça empresarial do 1% mais rico, a corrupção do sistema político e a desigualdade econômica que cresceu desde que o setor financeiro provocou a pior crise econômica desde a Grande Depressão.

A presença de um amplo leque de sindicatos transformou o perfil do movimento iniciado por algumas centenas de jovens, em sua maioria brancos, de universidades privadas, no dia 17 de setembro. Mudou não só em números, mas também em diversidade, gerando o que muitos líderes sindicais e comunitários estão chamando de um novo movimento social por justiça econômica. Algumas fontes policiais estimaram em mais de 10 mil os participantes da marcha e os organizadores calcularam o dobro. Na noite de quarta, ao terminar a manifestação, foram reportadas algumas detenções quando um grupo de manifestantes tentou ingressar em Wall Street.

Bob Masters, diretor político do distrito noroeste do sindicato de telefonistas CWA, declarou:
Ocupa Wall Street lançou um novo movimento e juntos ganharemos. Enquanto milhares continuavam chegando à Praça Foley, no meio dos tribunais de Nova York, onde ocorreu a marcha, Masters fez um chamado pela solidariedade ao movimento. “Todos juntos estamos dizendo: já basta!”.

Todo o dia, toda a semana, Ocupa Wall Street, gritavam enquanto caminhavam pela Broadway. Entre eles estavam as filiadas ao Sindicato Nacional de Enfermeiras (com cartazes que diziam ‘Vamos curar os Estados Unidos’), trabalhadores do metrô, motoristas de ônibus do TWU e trabalhadores de lojas de departamentos do sindicato UFCW. Com a brisa, tremulavam bandeiras do sindicato de professores (UFT), dos automotrizes (UAW), do setor público (AFSCME), do setor de serviços (SEIU), de professores e pesquisadores de universidades da cidade de Nova York, como Columbia.

Também participaram da manifestação uma ampla gama de organizações comunitárias, com latinos, hindus, chineses, porto-riquenhos, dominicanos, mexicanos e árabes, entre outros, que se somaram ao ato em solidariedade. “Filipino-estadunidenses” apoiam Ocupa Wall Street, lia-se numa faixa, e outra proclamava o mesmo de parte de indígenas norteamericanos. Estudantes abandonaram as aulas em vários cursos da Universidade Estatal de Nova York para somarem-se aos protestos.

Uma multiplicidade de expressões mostrava o mosaico de cartazes feitos a mão. “Comam os ricos”, “Se o governo não pode deter Wall Street, nós o faremos”, “Quando os ricos roubam dos pobres isso se chama negócio; quando os pobres se defendem se chama violência”, “Protejam as escolas, não aos milionários”.

Circula um par de camisetas de estadunidenses com a imagem de Zapata e um jovem que esteve na Praça Liberdade desde o dia 17 de setembro mostra orgulhoso um emblema do EZLN ao saber que o La Jornada estava cobrindo a marcha.

O mesmo que ocorreu no Egito está acontecendo aqui; já não podemos aguentar mais, afirmou Hank, integrante do Sindicato de Trabalhadores do Transporte Público (TWU), quando marchava. Um turista espanhol tirava fotos da marcha e comentava com seus companheiros: olha que bonita, igual a nós.

Ao passarem por ônibus de turismo, os manifestantes gritavam: deixem de tomar fotos e unam-se a nós. Outros alertavam ao exército de policiais: vocês também são parte do 99%, venham com nós. Trabalhadores da construção que trabalham em um edifício próximo liam exemplares do jornal Wall Street Journal Ocupado.

Tudo começou quando uma marcha desde a praça ocupada a um par de quadras de Wall Street se dirigiu à Praça Foley, a umas dez quadras de distância. Ao chegar ali, se escutou um ensurdecedor grito de júbilo no momento em que se encontravam com um ato organizado pelos principais sindicatos de Nova York com organizações comunitárias. Depois dos inevitáveis discursos, ocorreu a marcha de regresso à rebatizada Praça Liberdade, movimento que levou umas duas horas pelo seu tamanho. Assim se celebrou a solidariedade entre Ocupa Wall Street, sindicatos e organizações comunitárias.

AFL-CIO: o movimento capturou a paixão de milhões nos EUA
Desde Washington, o presidente da central operária nacional AFL-CIO, Richard Trumka, fez uma declaração pública: o movimento conhecido como Ocupa Wall Street capturou a paixão de milhões de estadunidenses, que perderam a esperança nos políticos desta nação e, agora, com esses atos, falam diretamente a eles. Apoiamos os manifestantes em sua determinação de responsabilizar a Wall Street por suas ações e demandar a criação de empregos. Estamos orgulhosos que hoje em Wall Street, motoristas, pintores, enfermeiras e trabalhadores de serviços básicos unam-se a estudantes, proprietários de casas, desempregados e aos que não têm emprego fixo para fazer um chamado por mudanças fundamentais que precisam ser feitas.

Um pouco antes, os integrantes do comitê executivo – presidentes de sindicatos nacionais – tinham aprovado de maneira unânime dar apoio a Ocupa Wall Street.

Também ocorreram ações semelhantes em outras partes do país. Em Boston, centenas de estudantes e enfermeiras sindicalizadas fizeram um ato de protesto contra os altos custos da educação, as reduções orçamentárias na saúde e o que definem como controle do governo pelas corporações. Em Seattle, foram reportadas algumas prisões quando “ocupantes” se recusaram a acatar ordens de abandonar um espaço público.

Em Los Angeles, relata a agência Associated Press, houve um tratamento diferente do governo, depois que conselheiros municipais aprovaram uma resolução de apoio ao Ocupa Los Angeles, e o gabinete do prefeito Antonio Villaraigosa distribuiu 100 capas de plástico para os manifestantes se protegerem da chuva. Também ocorreram ações em Boise, Idaho e outras cidades.

Hoje esse movimento deu um giro que não só ampliou suas bases, mas que, caso essa nascente aliança entre estudantes e trabalhadores se consolide, pode transformar o panorama político dos Estados Unidos.

Tradução: Katarina Peixoto

Regulação da mídia e o lado mais fraco

Por João Brant, no jornal Brasil de Fato:

Se eu fosse tentar resumir em dois princípios tudo o que gostaria para a área da comunicação, seriam os seguintes:

1) Todo brasileiro deve ter garantido o direito à comunicação, de forma que os meios de comunicação reflitam a diversidade e a pluralidade de ideias do conjunto da sociedade.

2) Toda forma de opressão, pública ou privada, deve ser combatida. O lado mais fraco deve ser sempre protegido.

Na primeira frase, está expresso o princípio geral, da liberdade. Fundamental, mas insuficiente. Na segunda, está o reconhecimento de que a comunicação pode ser arena de um exercício desigual de poder de um lado mais forte sobre outro mais fraco. E de que o combate a essas opressões deve ser base de qualquer país que se queira justo e democrático.

Isso vale para governantes corruptos que perseguem jornalistas que os investigam; grande revista que persegue movimento social; agência reguladora que persegue rádio comunitária; milionário que processa blogueiro; grande canal de TV que invisibiliza os negros ou que naturaliza a violência contra as mulheres. Como se vê, às vezes os meios de comunicação são os oprimidos; às vezes eles são os próprios opressores. No primeiro caso, eles devem ser protegidos; no segundo, devem ser enfrentados.

Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro. A liberdade não deve nunca ser previamente impedida, mas ela não exime a responsabilidade de quem se comunica. E quando a comunicação é usada como forma de opressão e violação de direitos, é o lado mais fraco que deve ser protegido. Em outras palavras, quando a liberdade de expressão colide com outros direitos humanos, deve haver o cotejamento para se entender qual deles está sendo “sufocado”.

É em nome basicamente desses dois princípios que uma série de organizações defende um novo marco regulatório para as comunicações. Até 7 de outubro está aberta uma consulta pública sobre o tema em ww.comunicacaodemocratica.org.br. Se essas questões também te movem, acesse e participe.

Novo partido defende mercado interno e produção nacional

De acordo com o programa disponível no site da sigla, os objetivos do PPL são completar o processo de independência do Brasil, especialmente no cenário de crise econômica internacional.

Brasília – A criação do Partido Pátria Livre (PPL), a 29ª legenda do país, foi autorizada nesta semana pelos ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

De acordo com o programa disponível no site da sigla, os objetivos do PPL são completar o processo de independência do Brasil, especialmente no cenário de crise econômica internacional.

Para atingir esse objetivo, o PPL propõe o combate ao descontrole do mercado e o estímulo à produção nacional. Também pretende que o governo dê preferência ao financiamento e à encomenda de produtos nacionais.

O partido foi fundado no dia 21 de abril de 2009 por 122 membros e levou mais de dois anos para sair do papel. Seus filiados poderão disputar as eleições de 2012, já que a legenda foi criada antes da data limite para que isso ocorresse (dia 7 de outubro).

O PPL obteve mais que o dobro do mínimo de assinaturas exigidas por lei (1,2 milhão). Também obteve registro local em São Paulo, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Ceará, Distrito Federal, Pará, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, em Santa Catarina e Mato Grosso, dois estados a mais que o mínimo de nove exigido por lei.

A criação de um partido implica autorização de repasse do Fundo Partidário e obtenção de horário de propaganda em rádio e TV. A lei determina que 5% do total do fundo (neste ano a dotação é R$ 301,4 milhões) sejam divididos em partes iguais por todos os partidos brasileiros - os outros 95% são distribuídos segundo a proporção de votos obtidos para a Câmara dos Deputados.

Fonte: Agência Brasil

Reforma política: Senado conclui primeira parte dos debates sobre três propostas de emenda...

Diversos senadores foram à tribuna – as outras duas sessões haviam sido encerradas sem oradores – para defender as mudanças no processo eleitoral brasileiro.

Brasília - No mesmo dia em que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado manteve o voto para que as coligações partidárias sejam proibidas em eleições proporcionais, o plenário da Casa concluiu as cinco sessões de discussão necessárias para a votação em primeiro turno da primeira parte da reforma política.

Diversos senadores foram à tribuna – as outras duas sessões haviam sido encerradas sem oradores – para defender as mudanças no processo eleitoral brasileiro.

Um dos parlamentares mais experientes do Congresso Nacional, senador Pedro Simon (PMDB-RS) não esperou a proposta de emenda à Constituição (PEC) que trata de voto em lista chegar ao plenário para começar a discussão sobre ela. Apesar de o assunto não estar relacionado às PECs que estavam em discussão, Simon criticou a ideia do PT de unir voto majoritário e em lista.

“Não dá para fazer isso, porque isso é a ditadura do grande partido. O ideal, na minha opinião, é o voto distrital. Não é à toa que há na maioria dos partidos do mundo o voto distrital, e na maioria dos países do mundo moderno ele funciona”, defendeu Simon na tribuna.

O senador Aníbal Diniz (PT-AC) também expôs sua posição contra duas PECs: a que põe fim à reeleição e a que amplia para cinco anos o mandato de chefes do Poder Executivo. Da tribuna, ele lembrou que o instituto da reeleição foi criado relativamente há pouco tempo e usufruído por apenas dois presidentes.

“Se mudarmos novamente esse instituto, ficaremos naquela instabilidade das regras que quase sempre mudam e não dão segurança às pessoas na hora em que vão debater, analisar e mesmo tomar decisão nas eleições”, disse Diniz.

Sobre a PEC 37/11, que trata da redução de dois para um o número de suplentes de senador, Pedro Taques (PDT-MT) disse que a proposta ajuda, mas deveria ir mais longe.

Na opinião dele, o suplente deve ser a pessoa mais votada depois do eleito. Para ele, os senadores também devem ser impedidos de assumir cargos no Executivo, como o de ministro ou secretário de Estado, para não atrapalhar o papel fiscalizador do Poder Legislativo.

Três das cinco PECs relacionadas à reforma política tiveram as discussões concluídas em primeiro turno hoje. São as de número 37/11, que trata do número de suplentes; a 38/11, que aumenta de quatro para cinco anos o mandato de chefes do Executivo e muda as datas das posses; e a 42/11, que determina que um referendo seja convocado caso haja mudanças aprovadas para regras eleitorais.

As duas primeiras, contudo, receberam emendas e deverão retornar para receber parecer da Comissão de Constituição e Justiça antes de seguirem para votação em primeiro turno no plenário.

Há ainda outras quatro PECs relacionadas à reforma política tramitando no Senado. A de número 39/11 trata do fim da reeleição para governadores, prefeitos e presidente da república; a 40/11 põe fim às coligações eleitorais nas disputadas para deputados e vereadores; a 41/11 dispensa os candidatos a eleições municipais de serem filiados a um partido político; e a 43/11 institui o sistema eleitoral por listas preordenadas para deputados federais. Essas PECs ainda não foram discutidas em plenário.

Fonte: Agência Brasil