sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mundo rural de Cristópolis em ação

Numa parceria com a FETAG-BA e CTB-Bahia, o Sindicato dos Trabalhadores/as Rurais de Cristopolis realizou no último dia 08 de julho o curso de “Relações Sistêmicas de Cooperação”, para agricultores/as familiares produtores de cachaça do município.

A iniciativa faz parte do Plano de Ação Estratégico da entidade formulado para o ano de 2011, com a finalidade de organizar os trabalhadores/as rurais para que possam produzir e comercializar seus produtos de forma organizada e conjunta, para aumentar a renda, bem como aumentar a qualidade de vida dos mesmos.

O curso pretende sensibilizar os produtores/as de cachaça para a necessidade de montar uma cooperativa que possa servir de instrumento, para que os mesmos possam escoar sua produção nos mercados consumidores da boa cachaça produzida no município de forma orgânica e artesanal.

Segundo Ademildes Borges, presidente do Sindicato a iniciativa “é pioneira, e poderá ajudar aos produtores de cachaça a organizar seu processo produtivo, bem como melhorar o nível de vida através do aumento da renda”.

Participaram da atividade apenas envolvidos com a produção da cachaça orgânica. O evento foi coordenado por Ademildes Borges, presidente da Entidade e foi assessorado por Genaldo de Melo, da FETAG-BA.

Por Genaldo de Melo

Marina deixa PV e anuncia Movimento Verde de Cidadania

Um ato público na tarde desta quinta-feira (7) marcou a saída do PV da ex-presidenciável Marina Silva e de seus principais colaboradores na campanha de 2010, após desentendimentos com líderes da legenda. Batizado de “Encontro por uma nova Política”, o evento ocorreu no auditório do Espaço Crisantempo, na Vila Madalena, em São Paulo.

“Muitos sairão do PV comigo, e alguns ficarão criticamente. Mas não é o momento para ficarmos tristes”, disse Marina. “É o momento de ficarmos tristes e alegres. Para ficarmos tristes, basta ver os casos que estão pipocando por aí. Para ficarmos alegres, basta ver o Brasil de fora da política, que está se formando, uma nova argamassa.”

Segundo a ex-presidenciável, o “foco” de seu movimento é “transformar esses brasileiros e brasileiras que estão sendo condenados pelos partidos a serem meros espectadores. Vamos discutir democracia, educação e desenvolvimento sem as amarras do poder – e não se trata de negar as instituições do Estado e o sistema representativo. Mas não podemos fechar os olhos para seus desvios. Que saiam de suas velhas práticas e acordem para o presente”.

Marina negou que sua movimentação mire as eleições presidenciais de 2014. “Quando me perguntam, eu digo: ‘Não sei’. Não ficarei na cadeira cativa de candidata”, afirmou. “Não podemos ficar na armadilha do ‘novidadismo’. Temos de metabolizar as coisas e transformar o que precisa ser transformado”, acrescentou. “Não é hora de ser pragmático. É hora de ser ‘sonhático’.”

No ato, o ex-deputado Fernando Gabeira (RJ) e o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) criticaram os rumos do PV e defenderam a criação de um novo partido, em data ainda não definida, e a criação de um movimento suprapartidário. Sirkis anunciou sua saída da legenda e Gabeira demonstrou apoio à causa de Marina.
A crise
Nós últimos meses, o grupo de Marina vinha travando uma guerra interna com os aliados do presidente do PV, deputado federal José Luiz Penna, pela democratização interna da sigla. Desgastada após tentar, sem sucesso, mudar a direção nacional do partido, Marina se desfiliou contrariando a opinião de aliados próximos, como o próprio Sirkis – que ainda considerava ser possível alterar a estrutura partidária.

Embora Marina tenha saído das urnas com quase 20 milhões de votos e ajudado a eleger 14 deputados federais, poucos deles devem acompanhar a ex-presidenciável. O principal motivo é o calendário eleitoral de 2012. Pelo fato de terem sido eleitos pelo PV em 2010, eles não se sentem seguros para deixar o partido sem ameaças de perda de mandato.

Além de Marina e Sirkis, também se desfiliaram o empresário Guilherme Leal, o ex-candidato ao Senado por São Paulo Ricardo Young e o ex-presidente do diretório do PV paulista Maurício Brusadin. Ao perder também visibilidade e capilaridade política, o PV fica com a imagem arranhada por não ter sido capaz de coordenar uma crise interna nem aceitar mudanças propostas pelo grupo Transição Democrática.

Marina também perde. Sai do partido para criar o Movimento Verde de Cidadania, nome provisório da entidade civil que será base para uma possível legenda a ser criada após as eleições de 2012 – uma espécie de pré-partido. Ainda que permaneça discutindo temas ambientais, a ex-senadora fica sem nenhuma garantia de que conseguirá manter seu capital político até a disputa presidencial de 2014.

Da Redação do Vermelho, com agências

Reforma agrária: uma “história de oportunidades perdidas

Há mais de 70 anos, a questão fundiária vem sendo debatida por diferentes governos no Brasil. Neste contexto, a reforma agrária se consagra como artifício fundamental para reduzir a desigualdade e avançar na redistribuição de terra. Críticos do descaso do Estado com o tema, especialistas apontam a ausência de políticas públicas para o desenvolvimento do campo. Para eles, a reforma é alvo de uma “síndrome de ausência do compromisso” e, de tempos em tempos, é excluída da agenda política nacional.
Por Fabíola Perez -Vermelho

“A reforma agrária no Brasil é uma história de oportunidades perdidas”. É com essa frase que o professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP) José Juliano de Carvalho Filho avalia a questão fundiária no país. Para ele, que também é membro da Associação Brasileira da Reforma Agrária (Abra), o compromisso político com o tema desapareceu e hoje a reforma agrária já não está entre as perspectivas do governo.

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Segundo o especialista, promover a reforma significa distribuir riquezas, terras improdutivas e, sobretudo, saber exatamente a quem as mudanças serão destinadas. “Todo o modelo econômico do país precisa ser repensado e isso exige muita conscientização popular. Trata-se de uma nova maneira de enxergar o país e de pensar o seu desenvolvimento”, explica Carvalho.

Crítico da ausência de políticas públicas para sanar o problema, o professor afirma que a reforma agrária “nunca deixou de ser uma pequena política” aos olhos do poder público. A grande política, explica, está nos ministérios da Fazenda, da Agricultura – daí a história de frustrações contínuas.

Do lado do governo, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, tem afirmado que a distribuição de renda e a reforma estão no centro do modelo de desenvolvimento adotado pela atual gestão. Em recente entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, o ministro rebateu as críticas dos movimentos sociais e negou que a situação esteja parada. “A reforma agrária no Brasil está sendo feita dentro das regras da lei e do pressuposto da responsabilidade fiscal, com o orçamento”, explica.

Diferentemente de seus antecessores, Florence – que ocupa o ministério há seis meses – não anunciou a ampliação da reforma com grandes metas de novos assentamentos e vem insistindo na chamada inclusão produtiva. De acordo com o ministro, dos 28 milhões dos brasileiros que o governo anuncia que saíram da pobreza, 4,8 milhões estão na área rural, e 60% desse contingente teve um incremento da renda de trabalho – segundo Florence, graças ao apoio dado à agricultura familiar. “Há uma nova dinâmica de mercado, uma nova dinâmica na produção de alimentos”, acredita.

No entanto, pesquisas ainda apontam o Brasil como o país com a décima maior concentração de renda do mundo, sobretudo no que se refere à estrutura fundiária. “Foi durante o regime militar que se iniciou o processo de modernização da agricultura brasileira – o país alcançou um desenvolvimento capitalista. Nos anos 1970, a modernização adotou um caráter conservador”, comenta o professor. Segundo ele, hoje a situação surge de uma maneira ainda pior. “Agora, é o capital transnacional que comanda sem barreiras todo o processo”, pontua o especialista.

Carvalho explica que as consequências desse processo impactam principalmente nas condições de trabalho no campo. De acordo com ele, alguns estudos comprovam casos de morte de trabalhadores devido à exaustão física. A esperança de obtenção de empregos cai por chão com a exigência da mão de obra especializada. “As máquinas usadas ao longo do processo já detêm a tecnologia necessária”, enfatiza.

Para realizar a reforma agrária e reverter o cenário de desigualdade social no país, o especialista aposta na conscientização popular. “O caminho para conseguirmos promover a reforma passa pela conscientização pública, que é muito difícil de ser conquistada, considerando que todos os meios de comunicação adotam uma postura totalmente conservadora e contrária ao debate”, acredita Carvalho. “O grande problema no Brasil é que não se admite que o pobre seja livre – se ele for, será reprimido. Isso já ocorreu em vários períodos da história brasileira”.

Compromisso histórico

A luta pela reforma agrária no Brasil também é marcada pela força e pressão dos movimentos sociais que, ao longo de diferentes momentos históricos, ajudaram os camponeses a reivindicar direitos pela terra junto ao governo. Porém, essa batalha só ganhou um viés político, de fato, com as Ligas Camponesas, fundadas em 1945, em Pernambuco, sob a coordenação do Partido Comunista do Brasil.

Nos anos seguintes, o país protagonizou uma evolução considerável nas lutas reivindicatórias. É a partir de 1961, no 1º Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, que as Ligas assumem abertamente a luta pela reforma agrária e, com isso, algumas lideranças passam a ser alvo frequente de repressão. Às vésperas do golpe militar de 1964, lideranças políticas acusaram as Ligas Camponesas e as medidas reformistas tomadas pelo presidente João Goulart de serem o estopim para a “revolução”.

Após esse período de ruptura, em decorrência da extinção das Ligas e do início da ditadura, a luta pela reforma agrária volta a ganhar força em 1979, impulsionada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag). E, finalmente, na década de 1980, surge o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com o apoio das Comissões Pastorais da Terra (CPTs) – movimento de luta camponesa com a colaboração da Igreja Católica –, dos partidos de esquerda e da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Com o Plano Nacional de Reforma Agrária, em 1984, o movimento ganha projeção nacional, fortalecendo a ocupação de terras previstas para serem desapropriadas e pressionando o governo para assentar famílias instaladas em acampamentos. “É interessante notar como a reforma agrária é recolocada na agenda pública. Ela não é abordada essencialmente por intelectuais ou por políticos – é trazida pelos movimentos que, por meio de batalhas e massacres, tentam estabelecer um diálogo com os governantes”, ressalta Carvalho.

Hoje, analisa o especialista, ao olhar para o modelo de desenvolvimento adotado no Brasil desde o início do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), percebe-se que o país voltou ao modelo primário exportador.

“Os produtos de baixo valor estão crescendo na pauta da exportação. O balanço comercial favorece cada vez mais a exportação de commodities, e o governo fica refém das forças mais retrógradas no Congresso”, explica Carvalho. “Esse modelo, que não prioriza a reforma agrária, não vai nos levar a ser potência”.

O PASTO DE ENGORDA RENTISTA

A inflação de junho, medida pelo IPCA, teve uma variação de 0,15% sobre maio. Bem menor que a alta de 0,4% observada em maio em relação a abril. Mas a taxa acumulada em 12 meses subiu para 6,71%, porque o bimestre maio/junho do ano passado, que agora sai do cálculo, registrou uma variação de apenas 0,43% contra 0,55% agora. O mesmo efeito estatístico deve repetir-se em julho, porque o IPCA do mês em 2010 foi de apenas 0,01%. Em resumo, a inflação pode estar com ímpeto declinante, como de fato ocorreu agora em junho, mas subir em 12 meses pelo efeito estatístico e colidir assim com o teto da meta doo Banco Central, de 6,5% para este ano. Por conta disso,os 'mercados', alvoroçados, já pressionam por mais duas altas na taxa de juro sideral do país, hoje em 12,25%,  e que desse modo poderá fechar 2011 em 12,75% (um juro real da ordem de 6%). Como no resto do mundo a taxa real é zero, ou menos que isso, compreende-se a avalanche de capitais especulativos que vem engordar no pasto viçoso da ortodoxia nativa.  Tornar-se a grande fazenda de engorda rentista do planeta custa caro ao país: o dólar barato decorrente desse afluxo de capitais transfere demanda e empregos para o exterior via importações. Nesta 5º feira, o dólar foi cotado a R$ 1,558, um dos níveis mais baixos desde 1999.
(Carta Maior; 6º feira, 08/07/ 2011)

Os eixos da política externa brasileira

A nova politica externa brasileira começou com a inviabilização da Alca e o privilégio dos processos de integração regional, que deu início a um movimento de reinserção internacional do Brasil. No novo desenho do mundo depois do fim da bipolaridade da guerra fria, a América Latina tornou-se uma vitima particular do globalização, em que se uniram os países do centro do capitalismo, concentrando ainda mais o poder e a riqueza no mundo. As crises financeiras e a ação do FMI e do Banco Mundial serviram para quebrar o ciclo expansivo que os países do continente tinham tido desde a década de 30 até o término da década de 70 do século passado. O endividamento foi instrumento da consolidação da submissão e do bloqueio das possibilidades de continuidade do desenvolvimento econômico e, principalmente, de politicas redistributivas.

O espaço conquistado para os processos de integração regional passou a ser uma condição indispensável para a implantação de um modelo econômico-social que retomou a expansão econômica estreitamente vinculada à expansão do mercado interno de consumo popular. Se rearticulavam assim as politicas externa e interna, a política internacional e o modelo econômico-social – formula fundamental dos governos posneoliberais latino-americanos.

Além das consequências no plano interno, que passaram a mudar positivamente a fisionomia do continente, a nova inserção internacional se desdobrou na prioridade de aliança com o Sul do mundo – com países da Ásia e da África. No conjunto, esses dois movimentos de reorientação das prioridades brasileiras trouxeram no seu bojo outra novidade importante: a contribuição à construção de um mundo multipolar.

A vitória do bloco ocidental na guerra fria propiciou o mundo voltar à hegemonia de uma única potencia, a um mundo unipolar, sob hegemonia da maior potencia imperial da historia – os EUA. As duas décadas transcorridas desde então viram um mundo de guerra e não de paz. As maiores violações dos direitos humanos foram produzidos pela hegemonia imperial norteamericana: no Iraque, no Afeganistão, em Guantanamo. Diante das situações de conflito, os EUA buscaram resolvê-las através da militarização do conflito.

A política externa brasileira foi ganhando uma configuração mais clara, que assumiu, tacitamente, que o objetivo central da democratização das relações internacionais é a criação de um mundo multipolar, superando a unipolaridade dirigida pelos EUA atualmente vigente. Para isso, é indispensável buscar soluções politicas, pacíficas, de negociações, em que todas as partes envolvidas sejam ouvidas e atendidas. Que se supere o marco atual, em que os EUA são o principal agente dos conflitos – mediante sua militarização – e, ao mesmo tempo, pretendem agir como intermediários para a paz – de que o caso da Palestina é paradigmático.

Foi essa orientação que permitiu a projeção internacional da política exterior brasileira, mais além das nossas fronteiras e mesmo da América Latina. Aqui, buscamos protagonizar soluções políticas aos conflitos e construir espaços nossos nessa direção – como a Unasul e o Conselho Sulamericano de Defesa -, em que, pela primeira vez, a região constrói um espaço de discussão e soluções dos seus conflitos sem a presença dos EUA – marcante na OEA. Vários conflitos – como aqueles entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela, os conflitos internos à Bolívia, entre eles – encontraram seu formato adequado para soluções vitoriosas e consensuais.

Gestos como o de Lula dormindo na Palestina, além de reconhecer oficialmente o Estado palestino, foram seguidos pelo mesmo reconhecimento por parte de grande quantidade de governos, preparando as condições para que a Assembleia Geral da ONU reconheça a Palestina como um membro pleno e a Palestina assuma a formalização do seu Estado.

As tentativas de negociação do Brasil, junto com a Turquia, para buscar uma solução negociada para os conflitos entre os EUA e o Irã, revelaram como esses caminhos são possíveis, que a entrada nas negociações dos conflitos internacionais de outros governos é fundamental para desbloquear as situações que parecem estar em círculos viciosos.

Não por acaso Lula passou a ser considerado o estadista mais importante no mundo contemporâneo e Celso Amorim foi considerado o melhor Ministro de Relações Internacionais do mundo.

A definição dos direitos humanos como centro da nossa política internacional tem sua lógica, articula prioridades internas com as externas, se soma a um amplo movimento mundial a favor dos direitos humanos. Porém, coloca alguns problemas que precisam ser tematizados.

No discurso, a posição intransigente dos direitos humanos, não importando o país que afete esses direitos, é equilibrada. Porém, ela não se insere em um mundo vazio, mas o faz em um mundo já constituído, com relações de poder definidas, extremamente assimétricas. A decisão de enviar um relator sobre a situação dos direitos humanos no Irã, por exemplo, - que foi apoiada pelo Brasil -, não encontra correspondência em uma decisão similar em relação, entre outros casos gravíssimos de violação dos direitos humanos, como Guantánamo e a Palestina.

Dessa forma, a definição dos direitos humanos como centro da nossa politica externa ou é acompanhada de iniciativas em relação a casos como os mencionados e outros, ou se torna unilateral, caindo nos dois pesos e duas medidas, que tanto tem marcado a politica internacional, especialmente quando se trata de casos que envolvem os EUA. (Emir Sader)