sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A luta do povo não é “chapa branca”, mas pelas mudanças

A Marcha dos Estudantes, realizada em Brasília, que ontem (dia 31) encerrou o “Agosto Verde Amarelo” da UNE, é mais uma resposta aos pessimistas que não conseguem enxergar o crescimento da mobilização social no Brasil.

Ou aos que, de má fé, tentam desqualificar as manifestações populares atribuindo a elas um rótulo de “chapa branca” que as diferenciaria de outros movimentos, como os dos jovens chilenos, árabes ou europeus, que saem às ruas contra seus governos, exigindo democracia e lutando contra atentados aos direitos sociais ameaçados por políticas conservadoras.

Existem inclusive aqueles que, a partir de comparações desse tipo, recusam um caráter “de esquerda”, socialista e avançado às organizações populares (como a UNE, o MST e as centrais sindicais) e aos partidos (entre eles o PCdoB) que, participando e apoiando o governo de Dilma Rousseff, se juntam a estas manifestações populares.

São interpretações erradas que merecem reflexão. Em primeiro lugar, o Brasil vive uma efervescência popular crescente. Há mobilizações de amplos setores do povo em torno de um leque de reivindicações democráticas e populares.

Os trabalhadores e as centrais sindicais, como a CTB, ocupam as ruas contra a ortodoxia econômica e os altos juros, em defesa do crescimento econômico, do trabalho, emprego e valorização da renda, e se juntam aos estudantes na exigência de 10% do PIB e 50% do fundo social do pré-sal para a educação. Há uma acesa mobilização em torno da Conferência do Trabalho Decente, preparatória da Conferência Nacional do Emprego e Trabalho Decente, por mais e melhores empregos e também erradicação do trabalho escravo e infantil. Além, claro, da reivindicação da jornada de 40 horas semanais sem redução nos salários e da regulamentação das convenções 151 e 158 da OIT.

A luta pela reforma agrária é permanente e se traduz em ações que se multiplicam pelo país. É a bandeira do MST e da Marcha das Margaridas, das trabalhadoras e trabalhadores rurais; povos indígenas e quilombolas exigem a regularização fundiária e o reconhecimento e demarcação de suas terras.

Os estudantes, com a UNE à frente, anseiam mais verbas para a educação, contra os juros altos e pela educação pública e gratuita e pela regulamentação do ensino privado.

As mulheres vão à luta pela igualdade e contra a violência, sendo a Marcha das Vagabundas um exemplo da ousadia e irreverência contra a responsabilização da mulher em casos de agressão sexual.

Os professores exigem, pelo país afora, o cumprimento do piso salarial do magistério instituído pela Lei 11.738, e os policiais e bombeiros não abrem mão do piso salarial nacional para a categoria e lutam pela aprovação da PEC 300.

As ações dos sem teto se multiplicam e colocam na agenda o pleito pela reforma urbana e a defesa do Direito à Moradia e à Cidade.

Cresce também a indignação contra a homofobia e as agressões motivadas por ela, exigindo sua criminalização.

Há manifestações em defesa da banda larga e da democratização da internet rápida; o movimento pela democratização dos meios de comunicação se reforça e amplia.

Só por má fé ou miopia política alguém pode rotular este amplo e múltiplo movimento popular como “chapa branca”, corporativo ou ligado a interesses obscuros.

A lista apresentada acima é parcial, sendo apenas um exemplo da luta que os brasileiros retomam depois da década de retrocesso, desmobilização e criminalização do movimento social que foi o retrógrado período neoliberal comandado pelos tucanos e por Fernando Henrique Cardoso.

Há um florescimento da luta popular e ela é movida não só pelo apoio ao governo, como dizem seus detratores. Mas por uma agenda: o programa que levou o povo brasileiro a derrotar os tucanos e a elite conservadora e neoliberal nas eleições presidenciais de 2002, 2006 e 2010. E que, ao contrário do que ocorreu sob o predomínio conservador e neoliberal, encontra ressonância, apoio e boa vontade no Palácio do Planalto, num governo que não trata os movimentos sociais como criminosos, mas formas legítimas de pressão popular para alcançar novas conquistas e direitos.

O que define o caráter da luta do povo não é a adesão a um governo ou oposição a ele, mas a defesa de um programa de mudanças. O povo sai à rua justamente para, no quadro mutante que o país vive, exigir do governo federal coerência e compromisso com o programa de mudanças vitorioso na última eleição presidencial. É neste sentido que o movimento popular apoia o governo e quer mais, quer avançar.

A má fé tucana e conservadora mal esconde que só vê sentido num movimento popular de oposição ao governo, ressentia por não encontrar, nas ruas, eco para suas campanhas retrógradas, antipatrióticas e elitistas, contrárias às mudanças que o povo deseja e pelas quais luta.

Uma reflexão final e necessária impõe o reconhecimento de que, além das reivindicações específicas e próprias de cada segmento do movimento popular, há uma agenda comum, um núcleo compartilhado, de reivindicações que a permeiam: a exigência de mudanças na política econômica, de valorização do trabalho, do emprego e da renda, de ampliação e fortalecimento da democracia e dos direitos sociais, de mais verbas e ação pública em temas como a educação pública e gratuita para todos, as reformas agrária e urbana, moradia, saneamento, transportes públicos, defesa e fortalecimento do Sistema Único de Saúde, democratização dos meios de comunicação, defesa das riquezas nacionais (como o pré-sal) as reformas agrária e urbana.

É um programa comum aos vários segmentos do movimento social e que vai se consolidando. Ele precisa, agora, se desdobrar em um novo passo: a ação comum, unificada, do movimento social, das entidades do movimento popular e as centrais sindicais. Passo fundamental para o avanço do movimento e também para aumentar sua repercussão junto ao governo federal.

Fatos em foco

Hamilton Octavio de Souza - Brasil e Fato

Genocídio paulista
No primeiro semestre de 2011, a Polícia Militar do Estado de São Paulo matou 334 pessoas, das quais 241 ocorrências foram registradas como sendo “resistência seguida de morte”, que é a forma de “justificar” a violência policial, mesmo quando as vítimas são sumariamente executadas. Pior do que o quadro desse verdadeiro genocídio é o discurso cada vez mais fascistóide das autoridades diante do aumento da violência.

Revertério líbio
O belicismo e o terrorismo de Estado criam suas próprias contradições: a OTAN fez de tudo para derrubar o ditador líbio Muamar Kadafi. Depois se descobriu que entre os grupos rebeldes que detonaram o governo Kadafi existem alguns ligados diretamente com a organização Al Qaeda, que é considerada a grande inimiga dos governos ocidentais. E agora, o que vão fazer com os novos donos da Líbia?

Petróleo social
Depois de participarem de uma grande manifestação pública em Brasília, dia 24 de agosto, os militantes da campanha “O petróleo tem que ser nosso” lotaram a audiência realizada na Câmara dos Deputados. O movimento defende a Petrobras 100% estatal e o fim dos leilões que privatizam a exploração e o lucro do petróleo do pré-sal. Seu objetivo é estimular o debate na sociedade e conquistar o apoio do Congresso Nacional.

Luta popular
Empenhada na mobilização do Grito dos Excluídos – dia 7 de setembro –, o movimento Assembleia Popular está focado nas seguintes lutas: redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais; 10% do PIB para a Educação; contra o uso de agrotóxicos; defesa da reforma agrária; contra a reforma do Código Florestal; política de incentivo para a agricultura camponesa; defesa dos direitos humanos contra os megaprojetos e megaeventos.

Anticapitalismo
Em artigo veiculado dia 24 de agosto, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos relaciona vários pontos para a urgente reconstrução das esquerdas e “evitar a barbárie”. No seu terceiro ponto ele diz: “O capitalismo é amoral e não entende o conceito de dignidade humana; a defesa desta é uma luta contra o capitalismo e nunca com o capitalismo (no capitalismo, mesmo as esmolas só existem como relações públicas)”. Claríssimo!

Certidão negativa
O Tribunal Superior do Trabalho aprovou a criação do Banco Nacional de Devedores Trabalhistas, previsto na Lei 12.440/11, que tem por função expedir a Certidão Negativa de Débito Trabalhista, documento obrigatório para toda empresa participar de licitações e contratar com a administração pública. Quem tem dívida trabalhista transitada em julgado está fora do jogo. Resta saber se o Judiciário vai fiscalizar o cumprimento da nova lei!

Sem limite
Com o sugestivo nome de “Operação Mar de Lama”, a Polícia Federal já identificou 55 pessoas envolvidas em fraudes nos contratos de fornecimento da merenda escolar, em Pernambuco, com quase R$ 2 milhões desviados dos cofres públicos. A PF adianta que a mesma quadrilha que rouba o dinheiro da merenda em Pernambuco opera também em outros estados, inclusive em municípios de São Paulo. Até onde vai o “mar de lama”?

Grandes fortunas
Em seminário organizado pelo Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal, o diretor técnico do Dieese Clemente Ganz Lúcio deixou claro que a desoneração da folha de pagamento – proposta pelo governo para favorecer as empresas – vai fragilizar o financiamento da Previdência Social, com efeitos danosos na economia. Para ele, é preciso cobrar mais impostos de quem ganha mais. Tudo tão óbvio!

Crime bárbaro
Em nota sobre o assassinato de Valdemar Oliveira Barbosa, militante do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Marabá, dia 25 de agosto, em plena luz do dia (às 10 horas), num bairro de Marabá, a Comissão Pastoral da Terra protestou contra a impunidade de vários crimes seguidos, nos quais “o comportamento da polícia civil do Pará tem sido de investigar as vítimas e não os responsáveis pelas mortes”. Até quando?

Se for crime, puna!

Editorial do jornal Brasil de Fato

Há poucos meses ficou provado que o tabloide News of the World, de propriedade do australiano Rupert Murdoch, um magnata das comunicações, há anos promovia escutas telefônicas ilegais de pessoas influentes na política britânica. Por causa da prática criminosa o seu proprietário teve que fechar o tabloide, prestar esclarecimentos no parlamento e viu alguns diretores e jornalistas da empresa serem presos. O pedido de desculpas do magnata e todo seu poderio econômico e político foram insuficientes para evitar sua condenação na opinião pública. O escândalo, com repercussão mundial, fez com que a população continuasse exigindo a punição dos responsáveis pelo crime e que o país promova um reexame amplo do papel e da regulamentação da mídia no Reino Unido.

Nessa semana, aqui no Brasil, a revista Veja, da Editora Abril, está nas bancas com uma matéria de capa acusando o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, como sendo o poderoso chefão, dentro do PT e que conspira no governo Dilma. O conteúdo da reportagem não vai além do estilo panfletário e completamente dissociado da verdade, como costumeiramente a Veja trata todas as organizações que divergem da concepção político-ideológico da família Civita, proprietária da revista. A reportagem não tem um fiapo de informação, é só opinião, como afirma o jornalista Paulo Henrique Amorim. Não merece credibilidade uma vez que, como é sabido, a Veja mente.

Mas a forma como a reportagem foi construída merece sim a atenção da opinião pública brasileira. Como está registrado em Boletim de Ocorrência (BO) numa delegacia de polícia da Capital Federal, o repórter da revista tentou invadir o quarto do hotel onde Dirceu se hospeda.

Talvez agora a Veja saiba a diferença entre as ações de invadir e de ocupar. Tudo indica, ainda em investigações preliminares, que para ilustrar o que chama de reportagem, o jornalista instalou ilegalmente uma câmera para obter imagens dos hospedes e freqüentadores do hotel. Não há limites ao escárnio com que a semanal dos Civita trata o Estado de Direito. O sentimento de completa impunidade lhe permite praticar um jornalismo que confabula com a ilegalidade.

A mídia em geral, em colusão com a prática criminosa da revista, não dedicou uma linha para informar a opinião pública do fato ocorrido. Uma abismal diferença de quando houve a quebra do sigilo da declaração de imposto de renda de um político tucano. Essa é a liberdade de imprensa defendida pelos proprietários dos meios de comunicação. Liberdade para filtrar os acontecimentos, amplificando ou escondendo os fatos, de acordo com seus interesses próprios.

A ficha corrida da Veja é tão extensa quanto de longa data. Um grupo empresarial que cresceu sob a sombra protetora da ditadura militar, tanto aqui quanto na Argentina. Que não hesita em atacar a honra das pessoas, da forma mais vil, para atingir seus objetivos, como fez com o delegado da Policia Federal Paulo Lacerda, responsabilizado, nas páginas da revista, por ter grampeado os celulares do então presidente do STF Gilmar Mendes, e alguns parlamentares. Em momento algum apareceu o áudio dessa gravação ou qualquer outra prova de que havia ocorrido o grampo. Lacerda perdeu seu cargo na Policia Federal, a revista e seus capangas– usando palavras de um inflamado discurso do Ministro do STF Barbosa – da mentira montada permanecem completamente impunes.

O próprio presidente Lula foi vítima do exercício da mentira nas páginas da publicação do Grupo Abril. Hora o acusaram de ter vínculos econômicos com as Farcs, grupo revolucionário da Colômbia, hora de ter contas secretas em paraísos fiscais. Novamente, nada foi provado e repetiu-se a impunidade.

Até quando a população brasileira vai ser desrespeitada por essa forma de fazer jornalismo da família Civita? Quantas vezes ainda veremos essa revista abrir sua caixa de maldades, durante um processo eleitoral, às sextas-feiras, para abastecer o Jornal Nacional da Rede Globo e tentar influir determinantemente no resultado eleitoral, sem que as autoridades tomem quaisquer providências? A palavra está com quem tem o dever de apurar e, se comprovado, punir as práticas criminosas, inclusive as da mídia.

Bom seria se, seguindo o exemplo vindo do Reino Unido, o país aproveitasse para reexaminar o papel e regulamentação da mídia, visando fortalecer nossa democracia. Daquele país, em artigo de Martin Wolf publicado no Financial Times, vêm indicativos da necessidade de rever as leis de privacidade e difamação; regulamentação da imprensa; concentração da propriedade por veículos e sobre diferentes mídias; papel da mídia pública; financiamento público da mídia em geral e da produção de notícias em particular. Já seria um começo a ser seguido pelo nosso país. Se a distância ou a língua britânica servem de empecilho junto às autoridades, por que não seguir o exemplo da vizinha Argentina com sua Ley de Medios? Com a palavra o Ministro das Comunicações. Mas antes, com palavra o Ministro da Justiça, no caso da tentativa de invasão de um quarto de hotel na Capital Federal.

Informação e guerra: novo totalitarismo

Por Leonardo Severo:

“É como viver sob um exército de ocupação que se apoderou dos meios de comunicação” - Kurt Vonnegut, escritor estadunidense.

Terminei de ler “A ocupação – Informação e guerra, um novo totalitarismo mundial”, do jornalista e professor universitário argentino Osvaldo Tcherkaski. Publicado em 2003, o livro parece ter sido escrito nestes dias em que, sob a alegação da “ajuda humanitária”, a OTAN transforma a Líbia num inferno para impor seus mercenários como governo, saquear o petróleo do país norte-africano e minorar a violência da crise em que se vêem mergulhados os EUA e a Europa.

Com a “militarização da política e da economia”, a mídia entra em “sincronia com as mentiras do poder”, “colocando o cinismo como virtude”, adverte o autor, na ânsia de manter inalterada a “globalização financeira, a forma mais destrutiva e bárbara do capital”. Lógica que transforma em doutrina estratégica a ação militar “prioritária e preventiva” das grandes potências, já julgada e condenada pelo tribunal da história: “crime de guerra”, como apontaram os juízos de Nuremberg sobre o comportamento nazi-fascista.

Por isso, precisam praticar o “linchamento intelectual” dos que se opõem ao “sistema de extermínio à escala mundial”, aos seus desígnios de “banalização da violência, como espetáculo ou videojogo”.
Pelos filtros e manipulações as agências noticiosas “falam a língua das bombas” e trabalham com “freqüência tóxica” “inoculando informação” – “alugada ou vendida” - em função dos interesses do capital, tentando comercializar “o modelo exemplar do FMI, campeão das privatizações e da alienação das empresas nacionais como porta de entrada ao primeiro mundo”.

Como aponta Osvaldo Tcherkaski, tais meios foram conduzidos e reduzidos à mera arma de propaganda e alienação às ordens dos “serviços de inteligência, os maiores provedores de ficção”.

Tentando “naturalizar o horror”, a mídia internacional substituiu a confiança nela anteriormente depositada por uma “produção criminosa”, com notícias que nascem natimortas, de única direção e sentido: o respaldo às ações do governo dos EUA em sua tentativa de “sair da crise pela via da guerra permanente”.

É claro que da mesma forma como hoje demonizam Muamar Kadafi e inventaram “sangrentos confrontos” que só existiram nas “notícias” veiculadas pela rede Al-Jazeera - ligada ao governo do Catar - como bem denunciou o representante brasileiro em Trípoli, para justificar a intervenção, trabalharam com afinco em tom monocórdico para colar no presidente iraquiano Saddam Hussein a fabricação de “armas químicas” e nos palestinos a alcunha de “terroristas” por quererem libertar a sua pátria da colonização israelense.

Com o mundo em perigo, nada mais justo, portanto, que os xerifes do planeta entrassem em ação, como fizeram nas cidades líbias de Sirte e Trípoli, onde despejaram toneladas de bombas sobre escolas, creches e hospitais em nome da democracia e dos bons costumes.

Tal “modo de informar”, esclarece o autor, tem por objetivo “ajudarnos a esquecer, a relegar o mais rapidamente possível no passado as experiências históricas recentes”. Ao mesmo tempo, buscam dissimular a gravidade, a perversão e a irracionalidade da crise do sistema capitalista com apontamentos sobre “indícios de uma recuperação”, que nunca vem, convertendo “fatos em interrogação”.

Tamanha manipulação em função dos interesses belicistas do complexo militar-industrial, “com a venda da guerra” - como na agressão contra o Iraque -, adverte Osvaldo Tcherkask, pôs “em crise o caráter de bem social da informação”, com os meios de comunicação reduzidos a “ocultar, manipular ou inventar”. O livro escancara como um ex-diretor da CIA, James Woolsey, explicou na primeira página do The Washington Post, seis meses antes da invasão do Iraque, “o clima pré-carnavalesco”, “o entusiasmo que gerava nas companhias norte-americanas a decisão da ir à guerra”.

Qualquer semelhança com a alegria gerada pela reunião organizada pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, com os países do chamado Grupo de Contato – os que patrocinaram o bombardeio e o assalto da Líbia - que vai discutir por estes dias a pilhagem do país africano, não é mera coincidência.
Nos meses que antecederam a guerra do Iraque, recorda o autor, empresas como a norte-americana Kellog Brow & Root – subsidária da Halliburton Co – presidida pelo vice de Bush, Dick Cheney, entre 1995 e o ano 2000, ajudaram o Pentágono a preparar o assalto, desenhando o mapa da invasão para resguardar os campos petrolíferos. Entre os interessados, a secretária de Estado de Bush, Condoleeza Rice, diretora executiva da petroleira Chevron.

Um informe publicado posteriormente pelo norte-americano Instituto de Estudos do Sul, assinalou que “foram gastos bilhões de dólares em peças essenciais das plantas de infraestrutura elétrica do Iraque, de centrais telefônicas e sistemas de esgoto e saneamento, mas estes não foram consertados, ou foram tão mal-ajambrados que sequer chegam a funcionar”. E então os lucros destas empresas dispararam.

Como no país norte-africano, o petróleo foi o motor do genocídio praticado contra mais de um milhão de iraquianos. As razões são apontadas pelo livro A Ocupação: “com 5% da população mundial, os EUA só possuía 3% das reservas mundiais conhecidas de petróleo e consumia 19 milhões de barris por dia, quase um quarto do consumo mundial total, estimado ao redor de 76 milhões de barris diários”.

É claro que para encobrir tamanha infâmia e covardia, a mídia pró-império precisa apelar à falsificação e, para ludibriar incautos – e outros nem tanto – no caso da guerra do Iraque, conta Tchernaski, até mesmo a sala de imprensa foi montada por um desenhista dos estúdios de Walt Disney e da Metro Goldwin Mayer – a um custo de US$ 250 mil (duzentos e cinquenta mil dólares!).

Nos preparativos da operação “Tormenta no Deserto”, da primeira guerra do Iraque, em 1991, ganhou destaque o testemunho de uma jovem “banhada em lágrimas”, que relatou como havia visto as tropas iraquianas entrarem nos hospitais kuwaitianos “para tirar os bebês que se encontravam nas incubadoras e jogá-los nas ruas, onde a soldadesca invasora os triturava sob suas botas”.

“A história aterrorizou os leitores dos grandes diários norte-americanos e estremeceu a milhões de telespectadores, para quem o rosto da inconsolável mulher se transformou num símbolo e prova da crueldade satânica de Saddam Hussein. A jovem de 15 anos era na verdade a filha mais velha do embaixador do Kuwait em Washington e a cena foi inventada e organizada por uma firma de relações públicas contrata pelo governo do kuwait”.

Da mesma forma, esclarece o autor, o jornalista Robert Fisk, do diário britânico The Independent, testemunhou ante a Associação Mundial de Jornais que a fotografia que havia recorrido o mundo com a imagem de iraquianos ao redor da estátua de Saddam “tinha apagadas as cordas com as quais os tanques norte-americanos realizaram a derrubada”.

E a farsa se repete neste final de agosto de 2011. Os mercenários do auto-intitulado Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia, admitiram ter falsificado imagens da detenção do filho do presidente Muamar Kadafi, Seif el Islam, bem como da tomada da capital, Trípoli, para facilitar o “reconhecimento” dos agentes do imperialismo como “representantes legítimos da Líbia”. Conforme explicou Mahmoud Jibril, do CNT, a armação teve o papel chave de acelerar a capitulação diplomática, pois desde a veiculação da dita “informação”, 11 países avalizaram a “legitimidade” do Conselho de entreguistas.

“Eles precisavam mostrar as massas de ‘rebeldes’. Para isso construíram cenários no Catar duas semanas antes. Tínhamos esta informação, sabíamos que haviam construído cenários da Praça Verde em Trípoli. Contrataram atores profissionais. Omar Jali interpretou incrivelmente bem o papel do filho de Kadafi, Seif el Islam. Todo o mundo viu como detinham o filho do coronel”, conta Marat Musin, membro do Comitê de Solidariedade com os povos da Síria e da Líbia. Pondo por terra a versão prontamente reproduzida pelas “agências”, Seif apareceu são e salvo diante dos jornalistas estrangeiros para desmentir a “informação” e conclamar os líbios a resistirem à OTAN.

E volto ao livro de Tcherkaski e uma citação sobre a triste, trágica e célebre prisão de Auschwits, para demonstrar que “quando o público não pode ser mantido devidamente desinformado pela omissão” e “os estragos sociais e humanos não podem ser retirados totalmente de vista, são exibidos como espetáculo”.

“Em seu testemunho sobre este campo de extermínio, Primo Levi reproduz o relato de um prisioneiro que se dá conta de uma partida de futebol entre as SS e membros da esquadra de prisioneiros encarregada de atender o funcionamento das câmaras de gás e os crematórios, que os nazis chamavam Sonderkommando.

Giorgio Agambem recupera esta citação: Ao encontro assistem outros soldados das SS e o restante da esquadra; mostram suas preferências, apostam, aplaudem, animam os jogadores como se, em lugar das portas do inferno, a partida estivesse ocorrendo em um campo de várzea.
E diz que esta partida não acabou nunca, se reatualiza sempre, como se ainda durasse, sem haver sido interrompida”.

Até quando?

O mico de Álvaro Dias no Senado

Do blog Os amigos do presidente Lula:

Foi desastrosa a participação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) na audiência pública do Senado Federal, realizada nesta terça-feira, 31, para ouvir o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, sobre o Plano Nacional de Banda Larga.

Disposto a confrontar Bernardo sobre o uso do avião “King Air” de propriedade da Sanches Tripoloni, empreiteira que executa o Contorno Norte de Maringá (PR), Álvaro Dias perguntou se no dia 10 de fevereiro de 2011 o ministro teria usado a aeronave para ir a Feira Agropecuária de Cascavel.

— Não, senador Álvaro, não estive na Feira de Cascavel neste ano, até me convidaram, lamentei muito não ter condições de ir — disse Bernardo, acrescentando que esteve lá no ano anterior.

— É isso, 2010, tentou emendar Álvaro Dias, mas Bernardo o interrompeu de novo:

— Em 2010, senador, eu estive lá em um avião da FAB, Força Aérea Brasileira, disse o ministro.

Visivelmente desapontado, o tucano afirmou que considera seu “direito fazer ilações, em seu papel de Oposição. O ministro retrucou: reconhece o papel da Oposição, mas não acha correto que se faça ilações para atacar a honra alheia.

"As pessoas tem de se ater aos fatos, falar a verdade”, disse Bernardo. Ele bateu duro naqueles que plantam notas anônimas nos jornais, valendo-se do chamado "off". Álvaro Dias apressou-se a dizer que não era o autor das notas passadas aos jornalistas, mesmo sem ter sido acusado disso.

O que mais surpreendeu os presentes, contudo, foi o fato de o tucano retirar-se antes de ouvir mais uma resposta do ministro à uma questão que ele havia formulado. Em gesto de má educação, o senador levantou-se e deixou a reunião sem sequer se despedir do ministro.

O “mico” sobre o uso do avião foi o segundo momento de constrangimento do senador. Antes, Bernardo havia mostrado cópia da emenda da bancada paranaense solicitando ao Poder Executivo a realização do Contorno da Rodovia de Maringá. O primeiro signatário da emenda, ou seja, o autor da proposta, é o senador Álvaro Dias.

Antes que a emenda, de 2007, fosse do conhecimento público, o senador tentava atribuir interesse na empreitada apenas a Bernardo para fazer ilações sobre sua honra. Bernardo era ministro do Planejamento quando os recursos orçamentários foram liberados e a rodovia foi incluída no PAC. Acontece que isso só ocorreu porque toda a bancada do Paraná pressionou o governo.

Álvaro Dias saiu desmoralizado da audiência. Bernardo o silenciou com a verdade. E a mídia que serviu de mensageira das falsas notícias? Será que os jornalistas que publicaram inverdades em “off” não deveriam perguntar a si mesmos se as baixas vendas de jornais não estarão relacionadas a essa persistente subserviência aos que usam o anonimato para sabotar os fatos? Afinal, das duas, uma: ou se está a serviço dos velhacos ou ao serviço dos leitores.