sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Aldo Rebelo: denúncias não vão manchar a imagem do Brasil

Em entrevista à emissora pública de notícias alemã Deutsche Welle, o ministro do Esporte afirma que as obras em todos os estádios da Copa estão dentro do cronograma – exceto Porto Alegre – e que o governo pauta sua relação com a Fifa pela cooperação e não pela disputa.


Leia abaixo a íntegra da entrevista publicada no site da agência alemã:


O alagoano Aldo Rebelo (PCdoB-SP) assumiu, há menos de um mês, um Ministério do Esporte em crise, em meio a denúncias de corrupção que derrubaram o seu antecessor e correligionário Orlando Silva. Desde então comanda um das pastas de maior visibilidade internacional por conta da organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.


Nessa entrevista à DW Brasil, Rebelo assegurou que a relação com Fifa não é baseada na disputa, mas na cooperação; afirmou que as obras em todos os estádios – exceto Porto Alegre – estão dentro do cronograma; e disse não acreditar que as recentes denúncias de corrupção manchem a imagem do Brasil no exterior.


DW Brasil: Na semana passada, depois de muita discussão com o governo, a Fifa decidiu "aceitar" a legislação brasileira que garante ingressos mais baratos para idosos. Esse trabalho de preparação para a Copa entre Brasil e Fifa acontece num clima tenso?


Aldo Rebelo: Não há propriamente tensão na relação entre o governo e a Fifa. O que há, e que é normal e natural, são diferenças de opiniões e interpretações sobre aspectos do acordo ou dos compromissos que foram firmados pelo governo brasileiro.Ou seja, a Fifa acolheu a candidatura do Brasil, e assim como todos os outros organizadores de Copas do Mundo – como a Alemanha, a África do Sul, os Estados Unidos – o Brasil firmou esses compromissos e tratou de preencher os vazios legais com projetos de lei.Um já foi aprovado, o que foi batizado aqui de Lei de Incentivo para a Copa, facilitando a construção de estádios e infraestrutura. Outra parte agora é a Lei Geral da Copa, onde se detalha mais esses compromissos. Houve e há diferenças em termos de interpretação, mas nada que não pode ser resolvido.O que eu tenho dito aqui é que não vamos pautar a nossa relação com a Fifa pela disputa, mas pela cooperação. E onde houver divergências nós iremos procurar resolver acolhendo aquilo que for possível. Aquilo que não for possível... paciência.


A venda de bebidas alcoólicas nos estádios deve ser liberada?


E os gastos do governo em obras para a Copa serão divulgados com transparência?Sobre a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, não existe uma legislação nacional que trate desse assunto. Há uma decisão da própria CBF [Confederação Brasileira de Futebol] que restringe ou proíbe a bebida nos jogos organizados pela CBF. Há leis municipais tratando disso. Portanto não cabia ao governo propor uma lei especificamente para a Copa do Mundo.

A lei está no Congresso e os deputados julgarão se é pertinente para o Mundial de Futebol liberar a venda de bebidas.Quanto aos gastos, há muitos investimentos, uma parte é feita pelo governo: ou seja, infraestrutura, mobilidade urbana. Outra parte é privada, principalmente nos estádios. E uma outra parte ainda são empréstimos por meio do governo federal, do BNDES, com retorno previsto.


Mas as cifras investidas pelo governo serão de acesso público?


Sim. Há um plano geral já cadastrado com previsão de recursos. São investimentos destinados à construção de estádios, em aeroportos, em vias públicas, em portos, segurança pública. Eu me lembro, por exemplo, da cifra de 1,8 bilhão de reais só para a segurança na Copa – são investimentos na Polícia Federal, nas Forças Armadas. Evidentemente esses equipamentos serão aproveitados depois, no dia a dia do país.

Nessa fase de preparação do Brasil, dois assuntos principais são acompanhados também aqui na Europa com atenção: se as obras de infraestrutura ficarão prontas a tempo e se a Copa vai custar mais caro do que o previsto.Os prazos estão definidos e uma parte dessas obras tem uma relação com a Copa, mas são destinadas à melhoria da mobilidade nas metrópoles para a população brasileira.

Ou seja, temos que resolver os problemas de deslocamento, de tráfego nas grandes metrópoles. Então já eram obras planejadas independentemente da Copa do Mundo.No caso dos estádios, todos, com exceção de Porto Alegre, estão com o calendário em dia.

Há um pequeno atraso em Porto Alegre por conta de uma divergência entre o clube e a empresa contratada para construir o estádio. No restante, há um esquema especial de acompanhamento, de controle, organizado pela Presidência da República, coordenados pelo Ministério do Esporte.

Na área de gastos, há um acompanhamento especial dos órgãos de controle do poder executivo, do legislativo, que é o Tribunal de Contas da União, e do Ministério Público.

Como são obras localizadas, são 12 cidades-sede, as obras estão sendo acompanhadas rigorosamente tanto do ponto de vista dos prazos de execução como do controle de gastos.


O senhor acabou de assumir um ministério que tem uma grande importância estratégica para o Brasil neste momento. E trata-se de um ministério que foi bombardeado por acusações de corrupção. Como o senhor está retrabalhando as contratos suspeitos de corrupção com as ONGs


Os contratos com ONGs em que ainda não tinha havido desembolso por parte do poder público foram suspendidos por mim. E minha ideia é não realizá-los com ONGs. Os contratos em execução, em que já foram efetuados pagamentos, serão submetidos a uma avaliação e fiscalização local não só por parte do ministério como também da Controladoria Geral da União.Além disso, as denúncias que foram feitas sobre as atividades das ONGs estão sendo investigadas pelo próprio ministério, pelo Tribunal de Contas e, em alguns casos, pelo Ministério Público e pela Polícia Federal.

Portanto essas apurações serão realizadas e aquelas que apontarem culpados, evidentemente, o poder judiciário tomará providências.Aqui, eu tenho feito um esforço pela continuidade da equipe do ministério porque é preciso preservar a memória, as pessoas que eram responsáveis por certas funções. Também faço um esforço de readequação da equipe, já promovi mudanças importantes nesse sentido na secretaria executiva, na assessoria de relações internacionais, na área de esporte educacional – que é justamente a que está ligada às atividades e contratos dessas ONGs acusadas de corrupção.


Todos esses incidentes três anos antes desse evento esportivo tão esperado podem manchar a imagem do Brasil como organizador da Copa e das Olimpíadas?


Não creio. A não ser que as denúncias não fossem investigadas, e que se procurasse a impunidade para qualquer tipo de culpa, o que não é caso no Brasil. E, ao mesmo tempo, vamos procurar tomar todas as medidas para que novas denúncias não surjam, e que o ministério toque suas atividades e execute o seu trabalho sem estar exposto ao risco de novas denúncias ou novos incidentes.

A crise na Eurozona

- O continente está a destruir os fracos para proteger os fortes. Mas será suficiente?
por James K. Galbraith [*]
James K. Galbraith. A crise na eurozona é uma crise bancária pretendendo ser uma série de crises de dívida nacional e complicada por idéias econômicas reacionárias, uma arquitetura financeira defeituosa e um ambiente político tóxico, especialmente na Alemanha, na França, na Itália e na Grécia.
Tal como a nossa, a crise bancária européia é o produto da excessiva concessão de empréstimos a tomadores fracos, incluindo o crédito para habitação na Espanha, o comercial imobiliário na Irlanda e o sector público (parcialmente para infraestrutura) na Grécia. Os bancos europeus alavancaram-se para comprar hipotecas tóxicas americanas e quando estas entraram em colapso eles começaram a despejar seus fracos títulos soberanos para comprar outros fortes, conduzindo para cima os rendimentos e finalmente forçando toda a periferia européia para dentro da crise. A Grécia foi simplesmente o primeiro dominó na linha.
Em tais crises, a primeira defesa dos bancos é mostrar surpresa – "ninguém podia ter sabido! – e culpar seus clientes por imprudência e trapaça. Isto é verdade mas obscurece o fato de que os banqueiros pressionaram os empréstimos muito arduamente enquanto as taxas eram gordas. A defesa funciona melhor na Europa do que nos EUA porque fronteiras nacionais separam credores de devedores, obrigando os líderes políticos na Alemanha e França aos seus banqueiros e promovendo uma narrativa de racismo nacional (“ gregos preguiçosos", "italianos irresponsáveis") cujo equivalente na América pós direitos civis foi em grande parte suprimido.
Subjacente ao poder do banqueiro na Europa Credora está uma sensibilidade calvinista que transformou excedentes num símbolo de virtude e déficits numa marca de vício, enquanto fetichizava a desregulamentação, privatização e ajustamento conduzido pelo mercado. Os europeus do Norte esqueceram que integração econômica sempre concentra a indústria (e mesmo a agricultura) nas regiões mais ricas.
Quando este processo se desdobra os alemães colhem as rendas e instruem os recém endividados clientes a cortarem salários, liquidarem ativos e abandonarem suas pensões, escolas, universidades e cuidados de saúde – muitos dos quais eram de segunda classe. Recentemente as instruções tornaram-se ordens, entregues pelo FMI e pelo BCE, demonstrando aos novos peões da dívida europeus que eles já não vivem em estados democráticos.
A vantagem estado-unidense
A arquitetura da eurozona torna as coisas piores sob dois aspectos. Se bem que a UE tenha pago alguma compensação às suas regiões mais pobres, estes fundos estruturais nunca foram adequados e agora estão bloqueados por incumpríveis exigências de co-pagmento. E falta à zona canais de redistribuição inter-regional para famílias que os EUA desenvolveram com a Segurança Social, Medicare, Medicaid, folhas de pagamento do governo federal e contratação de militares dentre outras coisas. Nem tão pouco os aposentados alemães assentam na Grécia ou em Portugal em grandes números como fazem os nova-iorquinos na Florida ou os de Michigan no Texas.
Em segundo lugar, o BCE recusa-se a resolver a crise de repente, o que poderia fazer através da compra de títulos de países fracos e refinanciá-los. O argumento contra isto é chamado "risco moral" ("moral hazard"), reforçado por velhos temores de inflação, mas a questão real é que fazer isso admitiria perda de controle por parte dos credores sobre o banco central. Ações paralelas àquelas tomadas pelo Federal Reserva – nacionalizar todo o mercado de papel comercial, por exemplo – afastaria o BCE, muito embora ele compre títulos soberanos quando tem de fazê-lo. Assim, ao contrário, a zona avançou na criação de um gigantesco CDO tóxico chamado European Financial Stability Fund (EFSF), o qual pode a breve trecho ser transformado num ainda mais gigantesco CDS tóxico (como a AIG, eles chamavam a isto "seguro"). Isto pode adiar o pânico no máximo por uns poucos momentos.
Soluções técnicas existem. A mais desenvolvida delas é a "Modest Proposal" de Yanis Varoufakis e Stuart Holland, amplamente apoiada pelos líderes políticos mais velhos na Europa. Ela seria 1) converter os primeiros 60 por cento do PIB da dívida de todo país da eurozona num título europeu comum, emitido pelo BCE; 2) recapitalizar e europeizar o sistema bancário, rompendo o colete de força que amarra bancos nacionais a políticos nacionais; e 3) financiar um programa de projetos de investimento como o New Deal através do Banco Europeu de Investimentos.
Propostas variantes incluem o apelo de Kunibert Raffer a um regime de insolvência soberana modelado no estatuto de bancarrota municipal dos EUA, a proposta de Thomas Palley de um novo "governo banqueiro" e a proposta de Jan Toporowski de um imposto sobre balanços dos bancos para retirar excesso de dívida pública.
Estas são as melhores idéias e nenhuma delas acontecerá. As classes políticas da Europa nestes dias existem numa morsa forjada por banqueiros desesperados e eleitores raivosos, não menos na Alemanha e França do que na Grécia ou Itália. O discurso é impermeável a idéias novas e a sobrevivência política depende de chutar latas estrada abaixo de modo a que o fato de isto ser uma crise bancária não tenha de ser enfrentado. O destino dos fracos é na melhor das hipóteses secundário. Portanto, toda reunião de ministros das Finanças e primeiros-ministros proporciona meias medidas traidoras e evasões legais.
O exemplo mais recente foi à lógica em trança (pretzel-logic) que declarou um haircut de 50 por cento sobre a dívida grega ser "voluntário" de modo a que não disparasse cláusulas de incumprimento sobre os CDS a que alguns bancos americanos, em particular, possam estar expostos. Quando Timothy Geithner no mês passado advertiu os europeus de "catástrofe" potencial alguém pode razoavelmente inferir que ele tinha este risco em mente – e não é o efeito menor sobre o nosso já desastroso quadro de empregos. Mas naturalmente se o haircut pode ser declarado voluntário, então os CDS não valem o espaço de armazenagem que ocupam nos computadores dos banqueiros e mais uma escora no mercado cada vez mais fracos de dívidas soberanas cai para o chão.
A fragilidade política também explica a fúria em França e na Alemanha quando George Papandreu [o homem mais calmo da Europa, a propósito, que nasceu e foi criado no Minnesota] quis cortar o nó dos seus ministros rebeldes, da oposição irresponsável e do público irado submetendo o último pacote de austeridade à votação. Deus ajude os banqueiros! O movimento foi de imediato fatal para Papandreu e a Grécia agora será entregue a uma junta de representantes de credores se puderem encontrar gente disposta a aceitar o emprego. Não haverá ninguém que queira continuar a viver na Grécia depois disso.
A Grécia e a Irlanda estão a ser destruídos. Portugal e Espanha estão no limbo e a crise muda-se para a Itália – realmente demasiado grande para cair – a qual está a ser colocada numa concordata ditada pelo FMI no momento em que escrevo. Enquanto isso a França luta para adiar a (inevitável) degradação da sua classificação AAA através do corte de todo programa social e de investimento.
Se houvesse uma saída fácil do euro, a Grécia já teria ido. Mas a Grécia não é a Argentina com soja e petróleo para o mercado chinês, e legalmente a saída do euro significa deixar a União Européia. É uma opção que só a Alemanha pode fazer. Para os outros, a opção é entre o cancro e o ataque de coração, salvo uma transformação na Europa do Norte que nem mesmo vitórias socialistas na próxima ronda de eleições francesas e alemãs trariam.
Assim, o caldeirão ferve. A Europa devedora está a deslizar mais uma vez rumo à ruptura social, pânico financeiro e finalmente emigração, como caminho de saída para alguns. Mas – e aqui há outra diferença com os Estados Unidos – o povo não esqueceu totalmente como defender-se. Marchas, manifestações, greves e greves gerais estão a aumentar. Estamos no ponto em que as estruturas políticas não apresentam esperança e o bastão de comando prepara-se para passar, muito em breve, para as mãos da resistência. Ela pode não ser capaz de muito – mas veremos.
Ver também:
Sair do euro – e depois? , Rudo de Ruijter
MEE, o novo ditador europeu, Rudo de Ruijter
MEE, um golpe de estado em 17 países, Rudo de Ruijter
Sobre o Acordo de Bruxelas: Alquimia invertida na Europa a todo vapor, Yanis Varoufakis
"Deixem os bancos pagarem as suas próprias contas”, Mike Whitney
[*] O autor organizou uma conferência sobre a "Crise na Eurozona" na Universidade do Texas – Austin em 3-4/Novembro/2011. Os documentos e apresentações podem ser encontrados em http://tinyurl.com/3kut4k5, bem como um vídeo de toda a conferência.
O original encontra-se em
http://www.salon.com/2011/11/10/the_crisis_in_the_eurozone/singleton/
Este artigo encontra-se em
http://resistir.info

Nem alarmismo nem complacência com o Irã

Por Leonam dos Santos Guimarães - Opera Mundi


Com base no último relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), pode-se afirmar com elevado grau de certeza de que o Irã não tem hoje uma arma nuclear e que não terá uma nem amanhã nem na próxima semana nem no mês que vem nem daqui a um ano. Afirmar o contrário, com base na superposição de hipóteses irrealistas baseadas nos piores casos possíveis, seria irresponsável.

Por outro lado, também seria irresponsável ser complacente com o programa nuclear do Irã, porque em todos os aspectos-chave do que é preciso para ser capaz de ter uma arma nuclear, o país fez progressos significativos. Não se pode afirmar com confiança que Irã não terá uma arma nuclear daqui a dois anos. Se eles quiserem seguir esse caminho e se tudo correr bem, talvez eles possam.

Persuadir o Irã a abandonar inteiramente o enriquecimento pode ser o objetivo para alguns, mas não é exeqüível, dado o forte apoio que existe em todo o espectro político do país. O enriquecimento é visto como um direito e tornou-se parte indissociável do conceito de soberania nacional do Irã.

O Irã já tem capacidade nuclear, mas ter armas nucleares não é uma conseqüência necessária dessa constatação. Suécia, Alemanha e Japão também a têm e nunca cruzaram, ou são suspeitos de terem a intenção de cruzar, a linha entre “ter capacidade nuclear” e “ter armas nucleares”. No Brasil, cruzar essa linha é proibido pela Constituição. Mas Israel, Índia, Paquistão e Coréia do Norte fizeram isso.

Uma combinação ponderada de quatro elementos de resposta política disponíveis à comunidade internacional pode fazer com que o Irã não cruze essa linha:

1 – Contenção: sanções, controles de exportação, sabotagem industrial e outras medidas podem restringir a capacidade do Irã de expandir o programa nuclear de forma acelerada;

2 – Dissuasão: o Irã pode ser dissuadido de cruzar a linha se os responsáveis políticos de alto nível do país souberem, e eles certamente sabem, que isso implicaria necessariamente numa ação militar preventiva;

3 – Inspeções intrusivas: a AIEA é apenas capaz de monitorar instalações declaradas. Inspeções mais intrusivas proporcionariam uma maior confiança de que o Irã não está engajado em atividades secretas relacionadas ao enriquecimento de urânio e ao desenvolvimento de armas nucleares.

4 – Diplomacia: qualquer solução pacífica exigirá negociações e incentivos positivos. Contenção e dissuasão por si só não vão convencer o Irã a ignorar seu orgulho nacional e ceder à pressão. Alternativas positivas devem ser apresentadas. A principal finalidade desses dois primeiros elementos consiste em persuadir o Irã a sentar-se à mesa de negociação e isso, claramente, não está funcionando. Como saber se eles estão prontos para negociações reais, sem lhes falar diretamente? São necessários contatos discretos para sondar intenções e possibilidades de compromisso.

O chefe da agência de energia atômica do Irã chegou a dizer que o Irã estaria disposto a colocar suas instalações sob controle da AIEA por cinco anos, mas não é de todo claro o que ele queria dizer com isso. É necessário descobrir.

Em suma, se o Irã pode, tecnicamente, “cruzar a linha” em menos de dois anos, esse tempo deve ser usado com sabedoria. É preciso buscar novos caminhos diplomáticos para tentar descobrir como e quando o Irã estaria pronto para negociação de algum tipo de compromisso. E isso antes que a contenção e dissuasão se demonstrem definitivamente ineficazes, como até agora têm sido, e o mundo seja empurrado para um conflito de conseqüências imprevisíveis.


*Leonam dos Santos Guimarães é doutor em engenharia naval e nuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria em Energia Nuclear do Diretor Geral da Agência Internacional de Energia Atômica.

Apelo aos Senadores

Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Adital
Nestes próximos dias os Senadores terão a responsabilidade de votar o novo Código Florestal, que deverá em seguida retornar à Câmara dos Deputados, para finalmente chegar às mãos da Presidente Dilma, para o seu veto ou sanção.
Depois da Constituinte de 1988, talvez esta seja a lei mais importante a passar pelo Parlamento. Na verdade, são muitas suas implicações práticas, na tarefa comum de cuidar do meio ambiente, e na incumbência de regular nosso convívio com a natureza.
Não é de estranhar que ela tenha suscitado tantas discussões, e provocado posicionamentos radicalizados.
A votação cabe agora ao Senado. Manifestamos nossa confiança na sabedoria, no equilibro e bom senso dos Senadores.
Este o nosso apelo!
No que se refere à Floresta Amazônica, é mais do que evidente o tratamento especial que ela merece no contexto deste Código Florestal. Dada sua importância e preciosidade para o mundo inteiro, a Floresta Amazônica merece não só um destaque especial neste Código, mas ela precisa de eficaz presença do Estado para urgir a efetivação de todos os dispositivos legais que já foram estabelecidos, e que devem se completar com as disposições deste Código, de tal modo que fique garantida a manutenção de mais de 75% de toda a Floresta Amazônica.
Apelamos aos Senadores para que sinalizem bem claramente esta urgência da ação fiscalizadora do Estado, para que não se frustrem os objetivos de toda a proteção legal já estabelecida para a Amazônia. Lá, o grande problema não é a falta de lei, mas a falta de quem a aplique.
Igualmente, a discussão deste Código fez emergir, com clareza, a salutar disposição de reconhecer as "áreas consolidadas”, como realidades portadoras de acúmulo histórico positivo, que se traduz agora em situações a serem respeitadas, e reguladas sabiamente, para conciliar os objetivos do meio ambiente com os interesses de ordem social. Que os Senadores legislem com sabedoria a respeito destas áreas consolidadas, para garantir ao mesmo tempo direitos adquiridos e precauções ecológicas.
Dada a diversidade de biomas existentes em nosso país continental, se apresenta igualmente aos Senadores a responsabilidade de levar em conta estas diferenças regionais, para não aprovar uma lei que ignore esta diversidade, e acabe se tornando inadequada e perversa. Que sejam valorizados, para a formulação desta lei, dispositivos que já expressam tradicionalmente situações diversificadas, como é a medida diferenciada dos módulos fiscais.
Mas o apelo maior, e mais insistente, se refere à indispensável proteção que merecem os pequenos agricultores, tal o peso que acaba caindo sobre eles, se não forem aprovados dispositivos legais para sua proteção.
A este respeito, uma primeira advertência se faz necessária: os pequenos agricultores não estão todos incluídos na definição fluida de "agricultura familiar”. Pois há muitos pequenos agricultores que por motivos diversos não estão incluídos nesta categoria oficial de "agricultura familiar”.
Seria muito longo elencar aqui as razões em favor dos pequenos agricultores. O certo é que eles merecem, no contexto do Código Florestal, um capítulo especial, que lhes assegure a proteção, e os incentive a serem os melhores parceiros no cuidado com o meio ambiente, e ao mesmo tempo continuem sendo os maiores produtores de alimentos colocados à mesa dos brasileiros. Os pequenos agricultores são um verdadeiro patrimônio imaterial do país. Por tudo isso eles merecem uma proteção especial.
Este o apelo aos Senadores, na votação desta importante lei que interessa a todos.

A era da concentração

Quem considera exagero classificar a nova safra de governantes do euro como prepostos das finanças contra a democracia; ou desdenha do emblema adotado pelos indignados norte-americanos ("nós, os 99% ") talvez mude de opinião diante da estatística revelada agora pela consultoria Wealthx, de Cingapura (http://www.wealthx.com/home/).

A empresa sabe do que fala. A especialidade da WealthX é prestar serviços aos super-endinheirados do planeta, razão pela qual mapeou o calibre da clientela e concluiu: 185.759 endinheirados dos quatro continentes detém uma fortuna calculada em US$ 25 trilhões, nada menos que 40% do PIB mundial. O seleto clube comporta acentuada divisão interna de camarotes: o nível A é ocupado por 1. 235 mega-ricos que controlam uma dinheirama quase igual a dois PIBs brasileiros: US$ 4, 2 trilhões. Mas a 'desigualdade' entre as classes endinheiradas não é nada perto do abismo que o dinheiro escavou entre elas e os mais pobres.

O padrão sempre foi esse escandaloso, mas nas últimas três décadas a supremacia das finanças desreguladas conseguiu dar envergadura inédita à palavra desigualdade. Nos EUA, por exemplo, os 20% que estão no alto da pirâmide social detém 9,7 vezes mais riqueza do que os 20% mais pobres. E o abismo é ainda mais fundo do que a borda sugere. Um milhão de norte-americanos ultra endinheirados possuem fortunas que oscilam entre US$ 10 milhões a até US$ 100 milhões, sendo que nata dessa elite , 29 mil pessoas, acumula US$ 100 milhões per capita.

Historiadores e estatísticos de distintas cepas ideológicas convergem numa mesma direção: a humanidade nunca viveu sob a pressão de uma assimetria tão profunda. Há esforços contracíclicos e o Brasil da era Lula é um destaque: o censo do IBGE de 2010 mostra que a concentração de renda no país --graças a uma década de políticas sociais abrangentes, com ganho real contundente de 53% para o salário mínimo nos últimos oito anos-- reduziu o índice Gini de desigualdade em 11,5%. Mas os 10% mais ricos ainda ficam com desconcertantes 44,5% da renda total, enquanto 50% mais pobres dividem 17,7% do bolo.

Após 30 anos de 'mimos' neoliberais em escala planetária seria ingenuidade imaginar que a democracia e o poder sobreviveriam indiferentes a esse padrão de ordenação da riqueza financeira. O golpe branco dos mercados na Itália e na Grécia; o bloqueio a Obama nos EUA e a ascensão da direita em Portugal e na Espanha, entre outros, demonstram que essa turma não está para brincadeira.

O neoliberalismo está em crise, mas eles não largarão um osso de US$ 25 trilhões voluntariamente. Se preciso, os fatos estão a demonstrar, implodirão de vez a unidade formal entre o poder político e o comando econômico, instalando diretamente seus centuriões no lugar da soberania do Estado. Mário Draghi, o novo presidente do Banco Central Europeu; Mario Monti, premiê italiano, assim como Papademos, da Grécia, são todos ex-funcionários do Goldman Sachs --não por acaso um banco de investimento que opera também no ramo de administração de fortunas. Não se trata apenas de coincidência, tampouco de teoria conspirativa. É o poder nos dias que correm.

Fonte: Carta Maior

Os "indignados" e a direita na Espanha

Por Altamiro Borges, em seu Blog
No próximo domingo, 20, ocorre a eleição que definirá o próximo premiê da conflagrada Espanha. Todas as pesquisas apontam a vitória do ultraconservador Mariano Rajoy, do Partido Popular. Na média, ele surge com 46% das intenções de voto, contra 29% que dizem votar no “socialista” Alfredo Pérez Rubalcaba, candidato do decepcionante atual primeiro-ministro, José Luis Zapatero.Esse provável resultado não se deve ao mérito de Rajoy ou do PP. O candidato, que já disputou e perdeu duas eleições, não tem carisma. É um tecnocrata insosso, cria do fascista José Maria Aznar. Já seu partido expressa as idéias mais retrógradas da Espanha e prega medidas econômicas de cunho fortemente neoliberais, tão desgastadas pela atual crise que varre o velho continente.
Zapatero paga pela submissão
É o próprio colapso econômico do país que explica o sucesso de Rajoy. A Espanha vive uma das piores crises da sua história, sendo um dos elos fracos da devastada Europa. O desemprego bate recorde e vitima 22,6% da força de trabalho, superando os 40% entre os jovens. O cenário é de quebradeira na indústria e na agricultura, de retração no consumo e de aumento da miséria. Diante da crise, provocada pelas mega-corporações, o governo social-democrata de Zapatero se submeteu às ordens da ditadura do capital financeiro. Nos últimos dois anos, ele impôs várias medidas impopulares, com cortes de salários, demissão de servidores públicos e privatização de estatais. Zapatero é visto como culpado pela crise e o direitista aparece com o slogan de “mudança”.
Um grave retrocesso
Como afirma o cientista político Antonio Elorza, “se não fosse o afundamento de Zapatero, Rajoy nunca seria premiê. Ele é um homem medíocre, pouco imaginativo. Mas joga com o fato de ser a mudança”. Já o economista Alberto Urrutia avalia que, “para a classe empresarial, ele é a única saída para a Espanha não ter que pedir ajuda à União Européia”. Na área econômica, Mariano Rajoy propõe radicalizar a “austeridade fiscal” e promover um nova rodada de privatizações. Já no campo político, o retrocesso é evidente. O ultraconservador já anunciou que pretende rever as políticas de igualdade implantadas por José Luis Zapatero, como a lei que permite o casamento gay e a que flexibiliza a proibição do aborto.
Ausência de alternativas
A situação do povo espanhol é contraditória e dramática. A chamada “revolução dos indignados”, iniciada em 15 de maio com a ocupação da Praça Portal do Sol, em Madri, continua mobilizando milhares de pessoas e revela o grau de revolta do povo contra a regressão imposta no país. Essa onda de protesto, porém, não conseguiu ainda forjar alternativas. Muitos dos seus participantes, inclusive, pregam a negação da política e dos partidos e defendem o voto nulo nas eleições deste domingo. O risco é a Espanha ser comandada novamente pelo direitista PP, exatamente quando se aprofunda a crise. Poderia haver uma combinação de caos econômico e governo ainda mais autoritário, ditatorial.