segunda-feira, 27 de junho de 2011

O POVO PRECISA DE RESPEITO EM FEIRA DE SANTANA

Não tenho absolutamente nada contra os vereadores/as de Feira de Santana. Aliás, particularmente nem os conheço. Apenas registro aqui as vozes das ruas, o sentimento popular, a pedido. O povo do município vem aos poucos descobrindo que em relação aos atuais edis, de fato comprou gato por lebre.
Os membros da Casa da Cidadania não têm de fato representado os interesses da população, e ao mesmo tempo não tem cumprido o papel delegado pela mesma para serem legisladores/as. Nesse caso pouquíssimos escapam da degola da opinião das ruas, do Tomba ao Novo Horizonte, do Norte ao Sul da cidade. Da Zona Rural nem se fala, porque os últimos atos dos edis nessa área, foram exatamente entre agosto e outubro de 2008, quando foram atrás dos votos.
Coisas ridículas estão a acontecer na cidade, enquanto os vereadores estão a representar uma peça em que quase todos eles são soldados do grande jogo de xadrez jogado pelos responsáveis pelo Governo Municipal, bem como por aqueles que estão interessados em assumir essa posição a partir de janeiro de 2013.
Na Câmara de Vereadores, a bancada do amém vem nos últimos tempos, fazendo o jogo do gato e do rato. Cada um a cada dia inventa um inimigo entre eles mesmos. Ou seja, enquanto o povo come o pão que o diabo amassa todos os dias, eles inventam brigas e conflitos para aparecer na mídia local como combativos, ou para roubar um pouco de espaço junto ao Governo Municipal.
Nenhuma proposta que melhore as condições da vida do povo, ou mesmo que viabilize o município, nenhum projeto que a gente possa orgulhar-se dos nobres representantes do povo feirense. Nada mesmo você ver dos mancebos do poder. Nem mesmo a obrigação de fiscalizar e denunciar desmandos administrativos eles estão fazendo segundo vozes das ruas.
Segundo lideranças comunitárias, os problemas que deveria ser da competência legislativa são muitos. Nunca se viu um sistema de transporte tão desorganizado e humilhante, num processo de atendimento a população através de topiqueiros, que sem preparo e capacidade de respeitar o povo, trata o mesmo como se fosse animal, e ainda no ato de uma reclamação, em alto e bom som gritam que procurem um vereador prá resolver o caso.
As escolas do município, os postos de saúde, bem como os aparelhos de prestação de serviços públicos, são verdadeiros feudos de alguns membros da Casa da Cidadania, da casa do amém. Os Centros de Abastecimento, aonde se vende o alimento de cada dia, são verdadeiros chiqueiros, sem limpeza, sem lâmpadas, sem higiene. Aonde estão os nobres vereadores/as, que não veem isso.
A Câmara de Vereadores de hoje em Feira de Santana tem se comportado, como um teatro de ventríloquos, com exceção de alguns poucos, e assim mesmo é necessário olhar mais de perto esses outros, pois as vozes das ruas andam desconfiando de todos.
Como a eleição ainda é o ano que vem muita gente vai comer o pão que o diabo amassa mesmo até lá. Mas é bom eles abrirem os olhos, o povo não é mais comandado por coronéis, bem como não basta ser inteligente, é preciso ter um pouco de caráter e respeito à opinião de quem escolhe os membros da casa que sempre deveria ser do povo, o próprio povo. Pois este pode também aprender saber usar da crueldade em outubro de 2012.

Genaldo de Melo

Designado por Dilma, Lula chefiará missão na África esta semana

 

Indicado por decreto da presidenta Dilma Rousseff, ex-presidente Lula vai chefiar a partir desta terça-feira (28/06) missão especial brasileira que acompanhará Assembléia Geral da União Africana. No encontro, que acontece na Guiné Equatorial até sexta-feira, africanos vão discutir a participação da juventude no desenvolvimento sustentável.

BRASILIA – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai chefiar a partir desta terça-feira (28/06) uma missão especial do governo brasileiro junto à XVII Assembléia Geral da União Africana. O encontro, que acontece na Guiné Equatorial até sexta-feira (01/07), reunirá delegações de todo o continente africano para discutir a participação da juventude no desenvolvimento sustentável.

A missão comandada pelo ex-presidente terá a presença de três diplomatas. As embaixadoras do Brasil no país anfitrião da assembléia, Eliana da Costa e Silva Puglia, e na Etiópia, Isabel Cristina de Azevedo Heyvaert, e mais um sub-secretário político do ministério das Relações Exteriores, Paulo Cordeiro de Andrade e Pinto.

A composição da comissão foi definida pela presidenta Dilma Rousseff, em decreto publicado nesta segunda-feira (27/06) no Diário Oficial da União.

Fora da Presidência, Lula pretende ter algum tipo de atuação junto à África. No último dia 16, por exemplo, ele participou de um jantar, em Brasília, com os embaixadores de todos os países africanos no Brasil.


Os arquivos da ditadura que os militares brasileiros querem ocultar


Documentos da ditadura militar brasileira, obtidos pelo jornal Página/12, trazem detalhes inéditos dos arquivos que a presidenta Dilma Rousseff quer tornar públicos. Militares resistem à divulgação desses arquivos. Matéria publicada neste domingo no jornal argentino traz informações sobre atuação de Azeredo da Silveira, chanceler do general Geisel, que antes de assumir o Itamaraty comandou a embaixada na Argentina, onde teria sido um "pioneiro do terrorismo de Estado regionalizado". Da leitura de centenas de papéis em poder do Página/12 fica claro que os contatos eram frequentes, e grande a afinidade dos militares brasileiros com os golpistas de 1976 na Argentina. A reportagem é de Dario Pignotti.

“O ex-presidente argentino Juan Perón esteve na mira dos serviços de Inteligência brasileiros. Isso é quase um fato. Participei de reuniões com ele, se pressentia que nos vigiavam. Se abrirem os arquivos da ditadura, como quer a presidenta Dilma, surgirão mais provas disso”.

A afirmação é de João Vicente Goulart, filho do ex-presidente João Melchior Goulart, Jango, amigo do general argentino por mais de duas décadas. Transcorridos 47 anos da derrubada Jango e 38 de seus últimos encontros com Perón, provavelmente espionados por agentes brasileiros, “é hora de terminar com esse longo silêncio, ainda vivemos de costas para a história dos anos 70 devido às pressões de grupos ligados ao terrorismo de Estado”, lamenta João Vicente.

Dilma Rousseff parece compartilhar essa preocupação e, na semana passada, instruiu seus ministros, em particular a titular de Direitos Humanos, Maria do Rosário, para que convençam o Congresso a aprovar imediatamente o projeto sobre a Comissão da Verdade, contra o qual se insubordinaram os chefes das forças armadas em dezembro de 2009.

“Certo dia estava em um hotel de Madri, com papai, atendi o telefone e alguém me disse: “Quero falar com Janguito, diga que sou o general Juan Perón. Eu não podia acreditar, mas era verdade. Perón estava do outro lado da linha para convidar Jango para uma conversa na residência da Porta de Ferro. Creio que era o início de 1973”, relatou Goulart ao Página/12.

“Em uma ocasião, falou-se da possibilidade de haver um acordo. Meu pai (fazendeiro) venderia carnes no marco de um plano trienal que iria ser implementado pelo governo peronista, mas que fracassou por influências do bruxo”, apelido pelo qual era conhecido José López Rega. “Ocorreram mais reuniões com Perón, outra foi em Buenos Aires. Lembro que algumas pessoas nos diziam que os serviços de Inteligência estavam rondando por ali”.

Algo parecido ocorria com o ditador Ernesto Geisel, que se referia ao argentino como a “Múmia” e o excluiu de sua cerimônia de posse, no início de 1974, da qual participaram o chileno Augusto Pinochet, o boliviano Hugo Banzer e o uruguaio Juan María Bordaberry. Geisel iniciou um período de mudanças na política externa, conhecido como “pragmatismo responsável”, caracterizado pela abertura de relações com países do Terceiro Mundo e menor alinhamento com os Estados Unidos. Este giro não implicava o fim da estratégia de contenção do comunismo. Outra marca de sua política externa foi a intensa, e por vezes contraditória, relação com o secretário de Estado, Henry Kissinger. Nenhum chanceler teve mais sintonia com Kissinger do que Francisco Azeredo da Silveira, que esteve no cargo durante o quinquênio de Geisel.

Antes disso, Azeredo comandou a embaixada na Argentina, “onde foi um pioneiro do terrorismo de Estado regionalizado; em 1970 foi o responsável pelo sequestro em Buenos Aires e transporte ilegal ao Brasil do coronel Jefferson Cardin, um militar nacionalista e brizolista que foi meu companheiro na prisão do Rio de Janeiro”, diz Jarbas Silva Marques, prisioneiro político entre 1967 e 1977. “Jefferson Cardin me disse na prisão do Rio que Azeredo da Silveira, sendo chanceler, sabia tudo sobre a Argentina e certamente sabia dessa possível espionagem sobre Perón e mandava a embaixada colaborar com os golpistas”.

“Essa é uma história pesada, estamos falando do chefe da diplomacia brasileira entre 1974 e 1979. De uma política de Estado. Até hoje há gente querendo esconder essa história debaixo do tapete, há muita pressão. Vemos o presidente do Senado, José Sarney, fazendo lobby a favor dos militares para impedir que Dilma abra os arquivos, disse Silva Marques ao Página/12.

É impossível fazer uma reconstrução acabada de todos os movimentos da diplomacia brasileira e seus pactos com os golpistas argentinos, devido à falta de documentação suficiente. Da leitura de centenas de papéis em poder do Página/12 fica claro que os contatos eram frequentes, e grande a afinidade com aqueles que perpetrariam o golpe de 1976. A guerra suja já lançada então contra a “subversão” era aprovada.

O telegrama “secreto” enviado pela embaixada brasileira no dia 3 de setembro de 1975 dá conta de uma “longa conversa” com os “comandantes Jorge Videla e Eduardo Massera”, que expressaram seu interesse em “estimular por todos os meios a aproximação das Forças Armadas” de ambos os países. Em outra mensagem “confidencial”, de 19 de fevereiro de 1975, fala-se sem eufemismos da coordenação repressiva. A nota relata um encontro oficial de diplomatas brasileiros com o ministro da Defesa argentino, Adolfo Savino, quando se tratou com “total franqueza da necessidade de um profundo entendimento de nossos países frente aos inimigos comuns da subversão”.

Durante sua conversa com o Página/12, o filho de João Goulart e Jarbas Silva Marques lamentaram o “atraso” histórico do Brasil frente a Argentina, o Chile e o Uruguai, onde “houve um ajuste de contas com a história e a verdade”, mas manifestaram esperança de que essa situação possa ser revertida. Eles, assim como vários organismos de direitos humanos, confiam no compromisso com a verdade assumido por Dilma Rousseff, vítima de prisão e torturas durante o regime militar, assim como na pressão internacional. Citam o exemplo da decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos que condenou o Estado brasileiro por não julgar os crimes da ditadura.

DEM admite ter vergonha de se expor como partido de direita

Embalado pela crise que derrubou o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e pela desarticulação do PSDB, maior partido de oposição, o DEM resolveu fazer um novo “reposicionamento de imagem” para melhorar sua aceitação junto ao eleitorado. A medida já abriu internamente a discussão sobre o uso de expressões como “direita”.

Ao passar por uma refundação de fachada em 2007, o partido abandonou a sigla PFL numa péssima jogada de marketing da direção partidária. Nas urnas, os resultados não vieram — os “demos”, com exceção da vitória de Gilberto Kassab para a Prefeitura de São Paulo em 2008, naugrafaram.

Agora, depois de medir os ânimos do eleitorado em pesquisa qualitativa e quantitativa, o DEM vai lançar nova linha de comunicação no segundo semestre. A sondagem será decisiva para se chegar à nova “roupagem” do partido. Não está descartado o resgate do antigo PFL e o abandono da sigla DEM, manchada após o escândalo envolvendo o ex-governador José Roberto Arruda (DF), no episódio conhecido por “mensalão do DEM”.

“A questão do conteúdo a gente já tem avançado. A consistência do que acreditamos já está acertada. Agora, o que falta é a definição da embalagem”, afirmou o líder do partido na Câmara, ACM Neto (BA).

Parte do ideário do DEM — que se diz defensor do liberalismo econômico e da livre iniciativa — foi moldada após pesquisa de 2007, do Instituto GPP. De acordo com o levantamento, a maioria dos brasileiros é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização das drogas e do aborto. A pesquisa ouviu 2 mil entrevistados.

Entre as palavras mais positivas consideradas pelo eleitor, estão “religião”, “trabalho” e “moral”. “Temos de mostrar nossas bandeiras. Se não, fica difícil sair da mesmice”, afirma o presidente do DEM paulistano, Alexandre de Moraes.

Mas, se há consenso sobre o programa do partido, há dúvidas a respeito do formato. Para uma vertente, o rótulo da direita ficou associado ao período da ditadura e a partidos que não gostam de pobres. Portanto, seria uma armadilha usá-lo. Para outra, existe no país um eleitor “órfão”, que é contra o governo e que quer um posicionamento claro de oposição.

“Há um congestionamento de partidos, como se todo mundo jogasse pendurado na esquerda. Virou moda dizer ‘sou de esquerda’. Mas não é isso que o brasileiro pensa”, diz o ex-deputado José Carlos Aleluia.

“O partido tem que ocupar esse espaço que abriga a direita”, agrega o parlamentar — que, no entanto, disse que o DEM deve evitar a adjetivação. “Mas não coloco objeção a companheiros que queiram colocar.”

“Não me incomodo em ser chamado de direita, de modo algum. Não tenho preocupação nenhuma. Pode chamar de direita, conservador, neoliberal. Não ligo. Sou mesmo”, disse o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO).

Já ACM Neto avalia que, no Brasil, não são claras as definições sobre conservadorismo. “Eu, a priori, refuto. Não me considero conservador. Não adoto esse discurso. Essa roupagem não me cabe”, afirmou. “O Democratas é um partido fundamentalmente de centro, com gente mais à esquerda e mais à direita”, ilude-se o presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN).
Sangria
O começo do ano foi um dos momentos mais complicados para o partido, que já foi PDS e, antes, Arena, base de sustentação ao regime militar. O DEM enfrentou uma sangria em seus quadros com as articulações em torno da fundação do PSD pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

“O DEM esteve nas cordas, mas conseguiu sair”, afirmou Demóstenes. Para a cúpula, os últimos dois meses foram determinantes para tirar a legenda da UTI. Em primeiro lugar, o fim das disputas internas, com a deserção de quadros como Kassab e o ex-senador Jorge Bornhausen (SC).

Depois, a ação mais coordenada no Congresso, tanto no caso Palocci — que era o principal fiador da criação do PSD no Planalto — como em plenário, com a derrubada de duas medidas provisórias de interesse do governo.

Na busca pelo tal “eleitor órfão”, a cúpula do partido tem conversado com cientistas políticos e com o marqueteiro baiano José Fernandes — que deve colaborar na criação das inserções na TV a partir de julho, quando começam as convenções do partido. Com a nova roupagem, o partido quer falar com o eleitorado de baixa renda, que deu uma série de vitórias recentes ao PT e à esquerda.

“Temos de falar com a classe média, mas não abandonar os pobres, conforme o discurso de muitos por aí”, declarou Demóstenes, numa crítica ao artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — que, entre outros pontos, mencionava a necessidade de o PSDB focar na classe média.

“Não voltaremos sem linha competente de diálogo com os mais pobres. Não pode ser excludente”, avaliou ACM Neto. Agripino acha que o eleitor buscará novas propostas. “O mundo evolui e tem humores e por isso o importante é persistir numa ideia.”
Exemplo espanhol
O DEM tem se baseado na experiência recente do conservador PP (Partido Popular), da Espanha, que perdeu as eleições em 2004, mas agora tem a chance de voltar ao poder após vitória no pleito municipal de maio. O ex-primeiro-ministro espanhol José Maria Aznar é referência entre a cúpula dos “demos” — eles se encontraram em jantar há dez dias em Brasília.

Na corrida pelo eleitor, o DEM admite que pode acabar avançando na base política do principal aliado, o PSDB. “O eleitor, em determinado momento, se encanta por algum partido. Já se encantou pelo PSDB e, agora, pelo PT. Está na hora do DEM mostrar o seu charme”, concluiu Demóstenes.

Da Redação, com informações do O Estado de S. Paulo

Atilio Boron: não é a Grécia. É o capitalismo, estúpido!

As mídias, as consultorias, os economistas, os bancos de investimentos, os presidentes dos bancos centrais, os ministros de fazenda, os governantes não fazem outra coisa que falar da "crise grega".

Por Atilio Boron, no Rebelión

Ante tal vozerio mal intencionado, é oportuno parafrasear um exemplo da campanha de Bill Clinton para dizer e insistir que a crise é do capitalismo, não da Grécia. Que este país é um dos elos mais débeis da cadeia imperialista e que é por causa dele que ali ocorre a eclosão das contradições que o está corroendo irremissivelmente.

O alarma dos capitalistas, sem dúvidas justificado, é que a queda da Grécia pode arrastar outros países omo Espanha, Irlanda, Portugal e comprometer seriamente a estabilidade econômica e política das principais potências da União Europeia.

Segundo informa a imprensa financeira internacional, representativa dos interesses da "comunidade de negócios" (leia-se: os gigantescos oligopólios que controlam a economia mundial) a resistência popular às brutais medidas de austeridade propostas pelo ex-presidente da Internacional Socialista e atual primeiro ministro grego, Georgios Andreas Papandreu, ameaçam arrojar pela amurada todos os esforços até agora realizados para amenizar a crise.

A aflição se espalha no patronato frente às dificuldades com que tropeça Atenas para impor as brutais políticas exigidas por seus supostos salvadores. Com toda razão e justiça os trabalhadores não querem ser responsabilizados por uma crise provocada pelos jogadores das finanças, e a ameaça de uma explosão social, que poderia reverberar por toda a Europa, tem paralisadas as lideranças governamentais grega e europeia.

A injeção de fundos outorgada pelo Banco Central Europeu, o FMI e os principais países da zona do euro não tem feito senão agravar a crise e fomentar os movimentos especulativos do capital financeiro. O resultado mais visível tem sido acrescentar a exposição dos bancos europeus ao que já aparece como um inevitável default grego.

As conhecidas receitas do FMI, do BM e do Banco Central Europeu: redução de salários e aposentadorias, demissões massivas de funcionários públicos, arrematação de empresas estatais e desregulamentação dos mercados para atrair investimentos tem surtidos os mesmos efeitos sofridos por vários países da América Latina, notavelmente a Argentina. Pareceria que o curso dos acontecimentos na Grécia se encaminha para uma estrondosa queda como a que os argentinos conheceram em dezembro de 2001.

Deixando de lado algumas óbvias diferenças há demasiadas semelhanças que abonam este prognóstico. O projeto econômico é o mesmo, o neoliberalismo e suas políticas de choque; os atores principais são os mesmos: o FMI e os cães guardiães do imperialismo em escala global; os ganhadores são os mesmos: o capital concentrado e especialmente a banca e as finanças; os perdedores são também os mesmos: os assalariados, os trabalhadores e os setores populares; e a resistência social a essas políticas tem a mesma força que soube ter na Argentina. É difícil imaginar um soft landing, uma aterrisagem suave, desta crise, O previsível e mais provável é precisamente o contrário, tal como ocorreu no país sul-americano.

Claro que a diferença da crise argentina, a grega está destinada a ter um impacto global incomparavelmente maior. Por isso o mundo dos negócios contempla com horror o possível "contágio" da crise e seus devastadores efeitos entre os países do capitalismo metropolitano. Estima-se que a dívida pública grega alcança os 486 bilhões de dólares e que representa uns 165% do PIB desse país. Mas tal coisa ocorre numa região, a "eurozona" onde o endividamento já ascende os 120% do PIB dos países do euro, com casos como o da Alemanha com uns 143%, França 188% e Grã Bretanha com 398%.

Não deve ser esquecido, além disso, que a dívida pública dos Estados Unidos já alcança 100% de seu PIB. Em uma palavra: o coração do capitalismo global está gravemente enfermo. Por contraposição à dívida pública chinesa em relação ao seu gigantesco PIB é de apenas 7%, a da Coreia do Sul 25% e a do Vietnã 34%. Há um momento em que a economia, que sempre é política, se transforma em matemática e os números cantam. E a melodia que entoam dizem que aqueles países estão na borda de um abismo e que sua situação é insustentável.

A dívida grega — exitosamente dissimulada em sua gestação e desenvolvida graças ao conchavo criminoso de interesses entre o governo conservador grego de Kostas Karamanlis e o banco de investimento favorito da Casa Branca, Goldman Sachs — foi financiada por muitos bancos, principalmente na Alemanha e, em menor medida, França. Agora são credores de papéis de uma dívida que a qualificadora de riscos Standard & Poor's (S&P) qualificou com a pior nota do mundo: CCC, isto é, tem crédito sobre um devedor insolvente e que não tem condições de pagar.

Em igual ou pior posição se encontra o ultraneoliberal Banco Central Europeu, razão pela qual um default grego teria consequências cataclísmicas para este verdadeiro ministro das finanças da União Europeia, situado à margem de qualquer controle democrático. As perdas que originaria a bancarrota grega não só comprometeria aos bancos expostos mas também aos dos países com problemas, como Espanha, Irlanda, Itália e Portugal, que teriam que suportar juros mais elevados que os atuais para equilibrar suas deterioradas finanças. Não é preciso muito esforço para imaginar o que sucederia se os gregos suspendessem unilateralmente os pagamentos, cujo primeiro impacto se daria na linha de flutuação da nave europeia, a Alemanha.

Os problemas da crise grega (e europeia) são de origem estrutural. Não se devem a erros ou a percalços inesperados senão que expressam a classe de resultados previsíveis e esperados quando a especulação e o parasitismo rentista assume o posto de comando do processo de acumulação de capital.

Por isso no fragor da Grande Depressão dos anos 30 John Maynard Keynes recomendava, em sua célebre Teoria Geral da Ocupação, o Interesse e o Dinheiro, praticar a eutanásia do rentista como condição indispensável para garantir o crescimento econômico e reduzir as flutuações cíclicas endêmicas no capitalismo. Seu conselho não foi considerado e hoje são aqueles setores os que se apropriaram da hegemonia capitalista, com as consequências pro todos conhecidas.

Comentando sobre esta crise, Istvan Meszaros dizia há poucos dias que "uma crise estrutural requer soluções estruturais", algo que quem está administrando a crise rechaça terminantemente. Pretendem curar um enfermo em gravíssimo estado com aspirinas. É o capitalismo que está em crise e para sair dela torna-se imprescindível sair do capitalismo, superar o quanto antes um sistema perverso que conduz a humanidade ao holocausto em meio a enormes sofrimentos e uma depredação meio-ambiental sem precedentes.

Por isso a mal chamada "crise grega" não é assim; é, em lugar disso, o sintoma mais agudo da crise geral do capitalismo, essa que os meios de comunicação da burguesia e do imperialismo asseguram há três anos que já está em vias de superação, apesar das coisas estarem cada vez pior. O povo grego, com sua firme resistência, demonstra estar disposto a acabar com um sistema que já é inviável não no longo mas no médio prazo. Há que acompanhá-lo em sua luta e organizar a solidariedade internacional para tratar de evitar a feroz repressão de que é objeto, método predileto do capital para solucionar os problemas que cria sua exorbitante voracidade.

Talvez a Grécia — que há mais de 2.500 anos inventou a filosofia, a democracia, o teatro, a tragédia e tantas outras coisas — possa voltar-se sobre seus foros e inventar a revolução anticapitalista do século 21. A humanidade lhe estaria profundamente agradecida.

O capitalismo precisa de férias


O crescimento mede ao menos uma coisa: a saúde do capitalismo. Desse ponto de vista, o futuro parece sombrio. Nos Estados Unidos, o esgotamento dos efeitos da política monetária da administração Obama e a evolução da dívida pública marcam os limites de uma política de alavancagem que não toca nas alucinantes desigualdades na distribuição de renda. O sobressalto japonês reduziu-se a nada, pelas consequências da catástrofe nuclear. Quanto à Europa, ela bate no muro com alegria. O artigo é de Michel Husson.

Os velhos países capitalistas não vão bem. É o que mostram as últimas previsões da ONU [1]: “Uma desaceleração do crescimento mundial é esperada em 2011 e em 2012”. Para os países desenvolvidos, o informe prevê um crescimento de 1,9% em 2011 e depois de 2,3% em 2012. A União Europeia (1,5 e 1,9%) e o Japão (1,1% e 1,4%) fariam ainda bem menos e os Estados Unidos (2,2 e 2,8%) um pouco melhor. O crescimento mundial será puxado pelos países em desenvolvimento, com 6% em 2011 e 6,1 em 2012. “A retomada do crescimento mundial foi freada pelas economias desenvolvidas”, diz o informe. Pode-se mesmo se perguntar se haveria uma retomada nos países desenvolvidos sem o dinamismo dos países emergentes.

O crescimento mede ao menos uma coisa: a saúde do capitalismo. Desse ponto de vista, o futuro parece sombrio. Nos Estados Unidos, o esgotamento dos efeitos da política monetária de Quantitative Easing [2] e a evolução da dívida pública marcam os limites de uma política de alavancagem que não toca nas alucinantes desigualdades na distribuição de renda. O sobressalto japonês reduziu-se a nada, pelas consequências da catástrofe nuclear. Quanto à Europa, ela bate no muro com alegria.

O informe da ONU assinala com razão que “a austeridade orçamentária corre o risco de desacelerar mais do que a retomada do crescimento, [que] o aumento da instabilidade nas taxas de câmbio permanece um risco tanto como um reequilíbrio coordenado da econômica mundial”. Vistas de perto, as proposições avançadas são de uma vacuidade quase cômica: seria preciso “coordenar os programas de relançamentos; a política orçamentária deve ser revista, a fim de se reforçar seu impacto sobre o emprego”. A ONU chama de suas metas “uma política monetária mais eficaz, um acesso mais previsível para financiar o desenvolvimento, objetivos mais concretos e executivos para a coordenação das políticas internacionais”.

Num contexto como esse, o projeto de “desglobalização” carece ao menos de simetria. Sua proposição central é a de um protecionismo (europeu no melhor dos casos, ou limitado "ao hexágono" [A forma geográfica da França lembra um hexágono, razão pela qual o país é chamado de "L'hexagone"]
em relação às importações provenientes dos países emergentes que não respeitam as normas sociais e ambientais. Mas nem [Arnaud] Montebourg, nem [Emmanuel] Todd, nem [Jacques] Sapir [3] falam de exportações. Ora, são os países emergentes hoje puxam e financiam a retomada do crescimento econômico: “as transferências financeiras líquidas dos países pobres para os países ricos ainda estão em crescimento”, sublinha a ONU. Querer reduzir unilateralmente as importações não pode conduzir a uma configuração estável.

A desmundialização assim concebida deve ser distinguida do altermundialismo em vários aspectos recentemente sintetizados por Jean-Marie Harribey [4]. Em primeiro lugar, a mundialização não é a única fonte de degradação social. A ONU prevê assim “a presistência do desemprego nos países desenvolvidos”. Com a crise, as taxas de desemprego passaram de 6 para 9% e deve permanecer superior a 8% em 2012. Essa retomada [da economia] sem emprego [jobless recovery] que está no horizonte dos velhos países capitalistas não resulta da mundialização que os mercados visam a explorar, mas de uma vontade convicta de restabelecer as taxas de lucro e a sacrossanta competitividade.

O tema da desmundialização remete a um encadeamento que não funciona mais: competividade, logo crescimento, logo emprego. Mas se tudo o crescimento serve a uma pequena parte dos ricos, para quê procurar um crescimento mais elevado? O que está em jogo de verdade é uma outra maneira de distribuir a riqueza, mas também aí é a mundialização que força os acionistas a se esbaldarem, quando todos os outros devem apertar os cintos? Esse projeto visa no fundo a retomar o capitalismo aos “Gloriosos Anos Trinta”, por meio de um protecionismo que permita uma reindustrialização fundada sobre um crescimento produtivista. Significa dar as costas à alternativa real: a grande bifurcação em direção a um outro modelo, que combine a satisfação das necessidades sociais com a luta contra o aquecimento global.

[1] Situation et perspectives de l’économie mondiale. [Situação e perspectivas da economia mundial]. As citações provêm todas do resumo em francês desse informe.

[2]. Política monetária de reputação heterodoxa, recentemente adotada pelo Banco Central estadunidense, que consiste na compra de ativos no mercado de títulos da dívida dos EUA. O resultado pode levar a uma liquidez aparente e provisório, visto que conta com a temerária criação monetária ex-nihilo, ou a partir do nada. N.de.T.

[3] Intelectuais e deputado pelo PS (Arnaud Montebourg) franceses com reputação de protecionistas ou defensores do protecionismo europeu.

[4] « Démondialisation ou altermondialisme ? », [Desmundialização ou Altermundismo?]7 juin 2011.

Fonte: Michel Husson-CM (economista, membro do Conselho Científico da ATTAC/França.)

A geopolítica angloamericana

O que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo?”. Há, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?

“Venho hoje reafirmar uma das mais antigas, uma das mais fortes alianças que o mundo já viu. Há muito é dito que os Estados Unidos e a Grã Bretanha compartilham uma relação especial.”
Presidente Barack Obama: “Discurso no Parlamento Britânico”, em 25 de maio de 2011.

Existe uma idéia generalizada de que a Geopolítica é uma “ciência alemã”, quando na verdade ela não é nem uma ciência, nem muito menos alemã. Ao contrário da Geografia Política, que é uma disciplina que estuda as relações entre o espaço e a organização dos estados, a Geopolítica é um conhecimento estratégico e normativo que avalia e redesenha a própria geografia, a partir de algum projeto de poder específico, defensivo ou expansivo. O “Oriente Médio”, por exemplo, não é um fenômeno geográfico, é uma região criada e definida pela política externa inglesa do século XIX, assim como o “Grande Médio Oriente”, é um sub produto geográfico da “guerra global ao terrorismo”, do governo Bush, do início do século XXI.

Por outro lado, a associação incorreta, da Geopolítica com a história da Alemanha, se deve a importância que as idéias de Friederich Ratzel (1844-1904) e Karl Haushofer (1869-1946) tiveram – direta ou indiretamente – no desenho estratégico dos desastrosos projetos expansionistas da Alemanha de Guilherme II (1888-1918) e de Adolf Hiltler (1933-1945). Apesar disto, as teorias destes dois geógrafos transcenderam sua origem alemã, e idéias costumam reaparecer nas discussões geopolíticas de países que compartilham o mesmo sentimento de cerco militar e inferioridade na hierarquia internacional. Mas a despeito disto, foi na Inglaterra e nos Estados Unidos que se formularam as teorias e estratégias geopolíticas mais bem sucedidas da história moderna.

Sir Walter Raleigh (1554-1618), conselheiro da Rainha Elizabeth I, definiu no fim do século XVI, o princípio geopolítico que orientou toda a estratégia naval da Inglaterra, até o século XIX. Segundo Raleigh, “quem tem o mar, tem o comércio do mundo, tem a riqueza do mundo; e quem tem a riqueza do mundo, tem o próprio mundo”. Muito mais tarde, quando a Marinha Britânica já controlava quase todos os mares do mundo, o geógrafo inglês, Halford Mackinder (1861-1947), formulou um novo princípio e uma nova teoria geopolítica, que marcaram a política externa inglesa do século XX. Segundo Mackinder, “quem controla o “coração do mundo” comanda a “ilha do mundo”, e quem controla a ilha do mundo comanda o mundo”.

A “ilha do mundo” seria o continente eurasiano, e o seu “coração” estaria situado - mais ou menos - entre o Mar Báltico e o Mar Negro, e entre Berlim e Moscou. Por isto, para Mackinder, a maior ameaça ao poder da Inglaterra, seria que a Alemanha ou a Rússia conseguissem monopolizar o poder dentro do continente eurasiano. Uma idéia-força que moveu a Inglaterra nas duas Guerras Mundiais, e que levou Winston Churchill a propor – em 1946 - a criação da “Cortina de Ferro” que deu origem a Guerra Fria.

Do lado norte-americano, o formulador geopolítico mais importante da primeira metade do século XX, foi o Almirante Alfred Mahan (1840-1914), amigo e conselheiro do Presidente Theodor Roosevelt, desde antes da invenção da Guerra Hispano-Americano, no final do século XIX. A tese geopolítica fundamental de Mahan, sobre a “importância do poder naval na história”, não tem nenhuma originalidade. Repete Walter Raleigh, e reproduz a história da Marinha Britânica. E o mesmo acontece com as idéias de Nicholas Spykman (1893-1943), o geopolítico que mais influenciou a estratégia internacional dos EUA na segunda metade do século XX.

Spykman desenvolve e muda um pouco a teoria de Mackinder, mas chega quase às mesmas conclusões e propostas estratégicas. Para conquistar e manter o poder mundial, depois da Segunda Guerra, Spykman recomenda que os EUA ocupem o “anel” que cerca a Rússia, do Báltico até a China, aliando-se com a Grã Bretanha e a França, na Europa, e com a China, na Ásia . No cômputo final, o que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo”. Ou seja, uma pergunta ofensiva e global, ao contrário dos países que se propõem apenas a conquista e o controle de “espaços vitais” regionais. Além disto, a Inglaterra e os EUA ganharam, e no início do século XXI, mantém sua aliança de ferro com o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia: derrotaram e cercaram a Rússia; mantém seu protetorado atômico sobre a Alemanha e o Japão; expandiram sua parceria e seu cerco preventivo da China; estão refazendo seu controle da África; e mantém a América Latina sob a supervisão da sua IVº Frota Naval. E acabam de reafirmar sua decisão de manter sua liderança geopolítica mundial.

Existe, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?

* José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

A rebeldia dos jovens que nos faz tanta falta

Entre tantas frases estimulantes e provocadoras que as rebeliões populares no mundo árabe e agora na Europa, essencialmente protagonizada por jovens, fizeram ecoar pelo mundo afora, a que mais nos incomoda – com toda razão – é aquela que diz: “E quando os jovens saíram às ruas, todos os partidos pareceram velhos.”

Aí nos demos conta – se ainda não tínhamos nos dado – da imensa ausência da juventude na vida política brasileira. O fenômeno é ainda mais contrastante, porque temos governos com enorme apoio popular, que indiscutivelmente tornaram o Brasil um país melhor, menos injusto, elevaram nossa auto estima, resgataram o papel da política e do Estado.

Mas e os jovens nisso tudo? Onde estão? O que pensam do governo Lula e da sua indiscutível liderança? Por que se situaram muito mais com a Marina no primeiro turno do que com a Dilma (mesmo se tivessem votado, em grande medida, nesta no segundo turno, em parte por medo do retrocesso que significava o Serra)?

A idade considerada de juventude é caracterizada pela disponibilidade para os sonhos, as utopias, a rejeição do velho mundo, dos clichês, dos comportamentos vinculados à corrupção, da defesa mesquinha dos pequenos interesses privados. No Brasil tivemos a geração da resistência à ditadura e aquela da transição democrática, seguida pela que resistiu ao neoliberalismo dos anos 90 e que encontrou nos ideais do Fórum Social Mundial de construção do “outro mundo possível” seu espaço privilegiado.

Desde então dois movimentos concorreram para seu esgotamento: o FSM foi se esvaziando, controlado pelas ONGs, que se negaram à construção de alternativas, enquanto governos latino-americanos se puseram concretamente na construção de alternativas ao neoliberalismo; e os partidos de esquerda - incluídos os protagonistas destas novas alternativas na América Latina -, envelheceram, desgastaram suas imagens no tradicional jogo parlamentar e governamental, não souberam renovar-se e hoje estão totalmente distanciados da juventude.

Quando alguém desses partidos tradicionais – mesmo os de esquerda – falam de “politicas para a juventude”, mencionam escolas técnicas, possibilidades de emprego e outras medidas de caráter econômico-social, de cunho objetivo, sem se dar conta que jovem é subjetividade, é sonho, é desafio de assaltar o céu, de construir sociedades de liberdade, de luta pela emancipação de todos.

O governo brasileiro não aquilata os danos que causam a sua imagem diante dos jovens, episódios como a tolerância com a promiscuidade entre interesses privados e públicos de Palocci, ou ter e manter uma ministra da Cultura que, literalmente, odeia a internet, e corta assim qualquer possibilidade de diálogo com a juventude – além de todos os retrocessos nas políticas culturais, que tinham aberto canais concretos de trabalho com a juventude. Não aquilata como a falta de discurso e de diálogo com os jovens distancia o governo das novas gerações. (Com quantos grupos de pessoas da sociedade a Dilma já se reuniu e não se conhece grandes encontros com jovens, por exemplo?)

Perdendo conexão com os jovens, os partidos envelhecem, perdem importância, se burocratizam, buscam a população apenas nos processos eleitorais, perdem dinamismo, criatividade e capacidade de mobilização. E o governo se limita a medidas de caráter econômico e social – que beneficiam também aos jovens, mas nãos os tocam na sua especificidade de jovens. Até pouco tempo, as rádios comunitárias – uma das formas locais de expressão dos jovens das comunidades – não somente não eram incentivadas e apoiadas, como eram – e em parte ainda são – reprimidas.

A presença dos jovens na vida publica está em outro lugar, a que nem os partidos nem o governo chegam: as redes alternativas da internet, que convocaram as marchas da liberdade, da luta pelo direito das “pessoas diferenciadas” em Higienópolis, em São Paulo, nas mobilizações contra as distintas expressões da homofobia, e em tantas outras manifestações, que passam longe dos canais tradicionais dos partidos e do governo.

Mesmo um governo popular como o do Lula não conseguiu convocar idealmente a juventude para a construção do “outro mundo possível”. Um dos seus méritos foi o realismo, o pragmatismo com que conseguiu partir da herança recebida e avançar na construção de alternativas de politica social, de politica externa, de politicas sociais e outras. Os jovens, consultados, provavelmente estarão a favor dessas politicas.

Mas as mentes e os corações dos jovens estão prioritariamente em outros lugares: nas questões ecológicas (em que, mais além de ter razão ou não, o governo tem sistematicamente perdido o debate de idéias na opinião pública), nas liberdades de exercício da diversidade sexual, nas marchas da liberdade, na liberdade de expressão na internet, na descriminalização das drogas leves, nos temas culturais, entre outros temas, que estão longe das prioridades governamentais e partidárias.

Este governo e os partidos populares ainda tem uma oportunidade de retomar diálogos com os jovens, mas para isso tem assumir como prioritários temas como os ecológicos, os culturais, os das redes alternativas, os da libertação nos comportamentos – sexuais, de drogas, entre outros. Tem que se livrar dos estilos não transparentes de comportamento, não podem conciliar nem um minuto com atitudes que violam a ética publica, tem que falar aos jovens, mas acima de tudo ouvi-los, deixá-los falar. Com a consciência de que eles são o futuro do Brasil. Construiremos esse futuro com eles ou será um futuro triste, cinzento, sem a alegria e os sonhos da juventude brasileira. (Emir Sader - Carta Maior)

FETAG-BA convoca Plenárias Regionais de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais

A Secretaria Geral da FETAG-BA divulgou edital convocando 5 (cinco) Plenárias Regionais no estado, como etapas da 3ª PNTTR - Plenária Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, convocada pela Contag, para a cidade de Luziânia, estado de Goiás, de 25 a 27 de outubro de 2011.

A 3º Plenária tem o seguinte temário: I - analisar as modificações ocorridas na conjuntura nacional e na situação de trabalho e de vida da categoria a partir do 10º Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – 10º CNTTR, realizado em Brasília – DF no período de 10 a 14 de março de 2009, II - avaliar o cumprimento das resoluções do 10º CNTTR, III - fixar os encaminhamentos a serem dados para assegurar a efetivação das deliberações do 10º CNTTR até o 11º Congresso, e IV - avaliar e deliberar sobre o plano de ação para a CONTAG até o 11º CNTTR.

Na Bahia serão realizadas 05 Plenárias Regionais: 01- Vitória da Conquista - 05 e 06 de agosto, Delegacia Sindical, Rua Pernambuco, 550 Bairro Brasil, Regionais: Sudoeste, Guanambi, Jequié e Paramirim. 02- Seabra - 19 e 20 de agosto, Centro de Formação, Rua Central, 400 B, União, Regionais: Chapada, Oeste e Irecê. 03- Capim Grosso - 26 e 27 de agosto, Auditório do STTR de Capim Grosso, Rua Lício, 25 B. Jardim Araújo, Regionais: Vale do Jacuipe, Juazeiro e Jacobina. 04- Itabuna - 02 e 03 de setembro, Associação Fraternal de Itabuna – AFI, Av. Amélia Amado, 792, Centro, Regionais: Sul, Extremo Sul e Baixo Sul. 05- Feira de Santana - 09 e 10 de Setembro, Auditório da Pousada Central, Rua Marechal Deodoro, 464, Centro, Regionais: Feira de Santana, Recôncavo e Litoral Norte, Recôncavo Sul, Ribeira do Pombal e Sisal.
 
Fonte: FETAG-BA

Agenda dos Trabalhadores: todos em Brasília no dia 06 de Julho

As centrais sindicais CTB, CGTB, Força, NCST e UGT convocam toda a sua militância (estaduais, sindicatos e federações filiadas) para o grande ato que acontece em Brasília, no dia 06 de julho - Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Agenda dos Trabalhadores.

Além da redução da jornada de 44 para 40h sem redução de salários, a agenda inclui ainda a regulamentação da terceirização, o fim do fator previdenciário, a atualização dos índices de produtividade do campo, a reforma agrária, ratificação de convenções da OIT, entre outros.

Para o presidente da CTB, Wagner Gomes, é prioritário que as seções estaduais se organizem para participar dessa grande mobilização a favor das reivindicações da classe trabalhadora, que exige também a garantia de reajustes reais para os salários e eleva a crítica contra essa políticia equivocada de juros altos. "Não vamos aceitar esse argumento de que salário gera inflação", afirmou o presidente da CTB.

Os sindicalistas afirmam que as mobilizações serão uma resposta ao discurso da área econômica do governo. "A campanha salarial do segundo semestre será muito importante para mobilizar as categorias e acabar com essa equação retrógrada de que o ganho real vai prejudicar a sociedade. Isso é coisa de quem não tem percepção política e social".

A maior parte dos acordos fechados no segundo semestre de 2010  foram feitos com uma taxa de inflação acumulada entre 4,5% e 5%. Assim, um reajuste de 7% nos salários cobria a elevação nos preços e ainda embutia um ganho real de 2% nos salários. Este ano, a coisa mudou: os acordos terão de ser próximos a 9% para repetir os ganhos de 2010.

Bandeira prioritária das centrais, a luta pela redução da jornada sem redução de salários, vai mobilizar os sindicalistas que pretendem passar o restante do mês de junho e o início de julho em conversas com deputados e senadores para tentar incluir o projeto que reduz a jornada na pauta de votações do Congresso no segundo semestre.

No último dia 13/06, em uma coletiva de imprensa os presidentes das centrais lançaram um calendário de mobilizações que inclui o ato do dia 06 de julho, em Brasília e região centro-oeste. No dia 03 de agosto, fechando o caléndário, está prevista uma grande passeata na avenida Paulista, com cerca de 100 mil pessoas. (Portal CTB)

Reforma Urbana é associada ao desenvolvimento social das cidades

A necessidade e uma reforma urbana para o desenvolvimento social das cidades foi o foco principal do debate realizado pela Fundação Maurício na noite desta segunda-feira (20/6), no Centro de Cultura da Câmara de Vereadores de Salvador. O terceiro momento do ciclo de debates sobre cidades que a Fundação está promovendo, reuniu a ex-secretária Municipal de Habitação Ângela Gordilho e o presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil na Bahia, Daniel Colina.

Reforma Urbana
“Os dois especialistas trouxeram elementos cruciais para o debate sobre as reformas que Salvador precisa. Nós precisamos ter clareza de que e impossível fazer um projeto de governo sem planejamento, mas planejamento com participação popular. O planejamento é a saída para ter controle do governo e o governo precisa encontrar suas saídas mesmo diante das adversidades”, afirmou a deputada federal Alice Portugal, pré-candidata do PCdoB prefeita de Salvador.

Primeira a falar, a professora da Faculdade da Arquitetura da Universidade Federal da Bahia Ângela Gordilho mostrou a diferença de objetivos entre os investimentos voltados para preparar as cidades brasileiras para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as determinações do Estatuto da Cidade. “Se o Estatuto da Cidade prevê, sobretudo o direito à cidade, o desenvolvimento social e a cidadania, os projetos da Copa prevêem, sobretudo o desenvolvimento econômico. Então, nós temos que juntar estas duas coisas, se é que é possível, pois os interesses são completamente diferentes. O que nós debatemos na mesa foi exatamente a possibilidade de uma contrapartida, porque se nós vamos ter tantos investimentos, após décadas sem investimentos na cidade, pois desde a década de 80 até início dos anos 2000, nós praticamente não tivemos investimentos na cidade. Agora nós tantos investimentos, que uma parte dele sirva ao desenvolvimento social, porque senão, nós vamos ter cidades segmentadas, partidas e cada vez mais excluídas”, explicou a professora.
Realidade de Salvador
Para ela, é preciso transformar áreas urbanas em cidades. “Cidades com lei, com conteúdo ambiental, cultural e social que uma cidade tem que ter. Nós estamos perdendo isso para construir ambientes urbanizados, nós não podemos apenas construir equipamentos com infra-estrutura de mercado. Nós temos que construir cidades. Salvador foi e ainda é, em algumas de suas localidades, uma cidade. No entanto, ela está perdendo esta condição para se transformar em uma grande área urbana. Então para que isso não aconteça, nós temos que valorizar estes conteúdos que a cidade tem de possibilidades sociais, culturais e ambientais. Nós precisamos de um projeto que valorize isso. Nós não podemos ter um projeto de cidade que só priorize a construção de empreendimentos urbanos para o mercado, temos que conciliar isso com o conteúdo urbano social no sentido mais amplo”, acrescentou Ângela, que foi a responsável pela construção do Plano de Habitação de Salvador e se colocou à disposição do PCdoB para ajudar na construção do programa de governo na futura candidatura de Alice Portugal à prefeitura da cidade.

Em uma exposição mais voltada para a realidade de Salvador, o arquiteto Daniel Colina trouxe uma visão de como as determinações do Estatuto da Cidade vêm sendo descumpridas, principalmente na questão da participação popular nos processos de decisão sobre a cidade. Colina citou como exemplo, os debates sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) e os projetos feitos para a Copa de 2014, mostrando como estes processos foram feitos, com pouca ou nenhuma participação social, através das entidades. Para ele, é preciso uma maior fiscalização social sobre estas intervenções.
Contribuições importantes
“Acho que nós tivemos dois espaços de denúncias muito importantes aqui. Duas vertentes que não estavam falando do mesmo ponto, mas acabaram se complementando. Este processo de diagnóstico é importante, pois nós partimos do princípio de que o diagnóstico correto vai nos ajudar lá na frente a buscarmos soluções mais eficientes. Você consegue chegar na origem do problema. Esta relação capital privado, espaço público, negação da cidadania é um diagnóstico que foi montado aqui e cabe a nós pensarmos que tipo intervenção temos para nos confrontarmos a esta realidade. Acho que este debate trouxe tudo isso de positivo”, avaliou Ricardo Moreno, da Fundação Maurício Grabois.

Segundo Moreno, o debate que começou mais teórico vai começar a afunilar para as questões mais práticas. “O próximo passo agora é discutir educação, saúde, mobilidade urbana. Esta questão da Copa foi uma coisa que surgiu em todos os debates, estamos até pensando em antecipar um debate sobre o tema, mas ainda vamos parar para programar tudo isso na próxima semana”, declarou.

O presidente do PCdoB em Salvador, Geraldo Galindo, também considerou o debate bastante proveitoso. “Hoje nós cumprimos mais uma etapa. Trouxemos aqui duas pessoas muito preparadas tecnicamente, uma delas, a professora Ângela Gordilho, se propôs a nos auxiliar na construção de um programa. Ela deixou claro para a gente que tem vários projetos que foram elaborados enquanto era secretária de Habitação que estão engavetados. O Daniel Colina nos trouxe a opinião de que os conselhos precisam ser fortalecidos e democratizados e reforçou a ideia de que a população precisa participar dos processos decisórios sobre o destino da cidade. Em síntese, foi mais um debate exitoso e nós já estamos preparando o próximo”, concluiu Galindo.

De Salvador,
Eliane Costa - Vermelho

Alice Portugal: abordar mobilidade urbana melhora Salvador

Depois de muita expectativa, o governo da Bahia anunciou nesta terça-feira (21/6), que o sistema de transporte público pensado para resolver o problema de mobilidade urbana de Salvador será metropolitano e multimodal. Haverá veículos sobre trilhos, no corredor central estruturante, passando pela avenida Paralela até a Rótula do Abacaxi, e ônibus, modelo convencional ou Bus Rapid Transit (BRT), nas vias alimentadoras. O projeto prevê ainda integração com o atual metrô e a construção de ciclovias.

A adoção de um sistema multimodal foi destacada pela deputada federal Alice Portugal,(PCdoB) que fez um pronunciamento sobre o tema na Câmara dos Deputados. “Salvador de fato será uma cidade melhor com a adoção de medidas relacionadas à mobilidade urbana, não somente em função da Copa. A Copa só acelera estas decisões, que são decisão necessárias de ser encaminhadas para uma cidade do porte de Salvador. Planejar não é uma opção. Planejar é uma necessidade. Considero muito importante a decisão do governo de criar um intermodal, com transporte sobre trilhos na Paralela, cuja empresa operadora será a mesma do metrô atual e da ligação sobre trilhos de Lauro de Freitas até a Rótula do Abacaxi e também 215 quilômetros de ciclovias, o que é um diferencial no projeto”, declarou.

“Outra coisa que me chamou a atenção e me fez parabenizar o governador na tarde de hoje, é que está aberta a temporada de debates, junto aos municípios. Audiências públicas vão acontecer, para que os municípios possam se pronunciar, o que antever um planejamento metropolitano, inicialmente com Salvador e Lauro de Freitas, mas logo a seguir, pelo que disse o secretário de Planejamento, pode envolver também Simões Filho, Candeias e outras cidades da região metropolitana. Então, eu julgo que foi um momento muito importante para a cidade e acredito que isto abre caminhos para a definitiva modernização, que eu espero que se dê em bases sustentáveis e com características de inclusão social. Que seja acessível a toda a população da cidade”, concluiu Alice.
O projeto
O sistema de transporte público metropolitano vai ligar o município de Lauro de Freitas, onde está localizado o aeroporto Internacional Luís Eduardo Magalhães e a capital baiana. A próxima etapa do projeto é a elaboração do Termo de Referência que dará base ao edital de licitação. Durante o início da fase licitatória serão realizadas audiências públicas a fim de apresentar à população de Salvador e Lauro de Freitas o novo sistema de transporte público. A previsão é que o processo licitatório seja concluído em dezembro e a obra no início de 2014.

Para a escolha do modal, foi avaliada a consistência de viabilidade técnica, ambiental e financeira. Sete projetos concorreram por meio do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) da Mobilidade Urbana, realizado pelo Governo do Estado. O secretário do Planejamento, Zézeu Ribeiro, explicou que o modal vai se interligar ao metrô de Salvador. De acordo com ele, o corredor estruturante, com 22 quilômetros, será interligado à linha 1 do metrô em construção. Para isso, a linha 01 do metrô deverá ser complementada até Pirajá, ampliando sua extensão de seis para 13 quilômetros. “No total, a capital contará com 35 quilômetros de transporte sobre trilho, dando mais dinamismo ao tráfego”, complementou.

O projeto está orçado em cerca de R$ 3 bilhões e deverá contar com investimentos de R$ 570,3 milhões, já disponíveis pelo Ministério das Cidades através do PAC Copa, e mais R$ 2,4 bilhões, do PAC da Mobilidade Urbana.
Legado da Copa
Para o governador Jaques Wagner, além de melhorar o trânsito durante a Copa 2014, o novo sistema de transporte é um legado, solucionando o tráfego de Salvador e Lauro de Freitas. Wagner afirma também que este é um momento para viabilizar a conclusão da linha 1 do metrô, que chegará até Pirajá.

De acordo com o governador, haverá apenas uma licitação para o sistema intermodal. Ou seja, não haverá licitação separada para a construção do corredor estruturante (transporte sobre trilho), e outra paras as vias transversais (BRT ou ônibus comum). “Este novo modal de transporte que vai vir do aeroporto, passando pelo Iguatemi até a Rótula do Abacaxi terá uma licitação única. Portanto, não vou pegar o novo modal de transporte, entregar para um e depois dar uma outra parte a outra empresa. Uma única empresa será responsável por toda obra”, enfatizou. Com os modais interligados, um dos benefícios para a população é o bilhete integrado, que deverá ter o valor de uma única passagem.
Solução adequada
“Essa solução nos pareceu adequada ao problema de mobilidade, porque é metropolitana. Porque Salvador hoje como uma cidade conurbada com Lauro de Freitas, Simões Filho, Camaçari e outros municípios, não pode adotar uma solução exclusiva para a capital. Precisa que a questão da mobilidade tenha este caráter metropolitano. Segundo, a tecnologia veicular precisa ser uma solução que apresente uma condição de sustentabilidade maior. Significa dizer que a ideia de adoção de trilhos nos traz de fato a expectativa de uma solução mais duradora para o transporte de massa em Salvador, porque é uma solução com maior durabilidade, com maior sustentabilidade e menor impacto ambiental”, avaliou o secretário Estadual para Assuntos da Copa, Ney Campello.

Para Campello, a adoção do BRT em algumas áreas também se faz necessária. “A morfologia de Salvador e suas características topográficas demandam uma capilaridade, porque os corredores estruturantes estão distantes de onde mora a população. De modo que se você usar o ônibus e o próprio BRT, você facilita a deslocação das pessoas das áreas em que residem para os chamados corredores centrais. Isto para a cidade é importante e ao mesmo tempo importante para a Copa. Agora precisamos aguardar o detalhamento para confirmar a decisão e para saber quais são os modais de fato e quando nós teremos a conclusão”, acrescentou o secretário.

De Salvador,
Eliane Costa com agências

Reforma agrária: indispensável a novo Projeto Nacional

De todas as reformas estruturais democráticas indispensáveis para preparar o país para um salto civilizacional e abrir caminho à construção de uma nova sociedade, uma das mais importantes e urgentes é a reforma agrária. Esta é a convicção das forças consequentes da esquerda brasileira e do movimento popular organizado.
O Partido Comunista do Brasil diz em seu Programa Socialista vigente que a reforma agrária, “emparedada por poderosos interesses de grandes proprietários rurais, precisa ser realizada”. Propõe “a mobilização social dirigida contra o latifúndio improdutivo e os monopólios estrangeiros agropastoris, neutralizando os proprietários capitalistas produtivos, atraindo os proprietários médios e pequenos e baseando-se no campesinato, no proletariado rural e na maioria do povo”. E acrescenta uma série de medidas de caráter econômico e social com a finalidade de “assegurar a função social da propriedade da terra”.

Por seu turno, o Partido dos Trabalhadores defende, também em documento programático, “a centralidade da reforma agrária no projeto de desenvolvimento do Brasil, como condição fundamental para a geração de trabalho, distribuição de renda, democratização da sociedade, promoção da justiça no campo, ocupação equilibrada do território e para o uso sustentável dos recursos naturais”.

Também se encontram referências à necessidade de promover a reforma agrária no país em documentos de outras siglas partidárias da esquerda, como o PSB e o PDT. Aliás, ambos os partidos foram constituídos por lideranças históricas, como Miguel Arraes e Leonel Brizola, cujas biografias estão associadas à luta pelas “reformas de base”, dentre as quais uma das mais destacadas era a reforma agrária.

No movimento sindical, popular, estudantil e demais segmentos sociais, é arraigada a convicção de que é imperioso lutar pela reforma agrária. Na vanguarda dessa luta estão as organizações mais diretamente ligadas aos interesses dos trabalhadores rurais, o MST e a Contag, cujos documentos programáticos propõem medidas abrangentes e profundas para resolver o problema agrário e mudar completamente o modelo de agricultura em vigor no país.

Em todos há consenso sobre a necessidade de democratizar a posse da terra, de assegurar o princípio da função social da propriedade, fortalecer a agricultura familiar e a dos assentados da reforma agrária, defender a segurança alimentar do povo brasileiro, a soberania territorial, a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade ambiental.

Na constelação de forças políticas e sociais brasileiras, somente os partidos conservadores e lideranças retrógradas a serviço do latifúndio deblateram contra a reforma agrária e a justa luta dos trabalhadores rurais. Na vanguarda dessa luta inglória, de cariz antipopular e antinacional, despontam as organizações patronais, federações e confederações de grandes produtores agropecuários e exportadores. Essas entidades são poderosas e têm enorme influência política no governo e no Congresso Nacional.

É um tema sobre o qual é necessário combater todo diversionismo e tergiversação. A estrutura da propriedade fundiária e o modelo de desenvolvimento agrícola do Brasil estão entre os mais atrasados e desiguais do mundo. Segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra),o País tem 5,3 milhões de imóveis rurais. As maiores propriedades (que são 2,5% do total e têm em média 2,5 mil hectares) concentram mais da metade da área total, 56,5%. As pequenas, com tamanho médio de 29 hectares, correspondem a 90,3% do total de imóveis e têm apenas 24% da área total de imóveis rurais do país.

Embora eloquentes sobre o grau de concentração da propriedade fundiária no país, esses números não revelam tudo. A revista Retrato do Brasil, que traz em sua edição de junho ensaio sobre o tema, afirma: “O Incra não fornece maiores detalhes sobre as grandes propriedades. Não se sabe, portanto, quantos dos 132 mil imóveis rurais considerados grandes, com área média de 2,5 mil hectares, têm, por exemplo, mais de 15 mil hectares, que é a média das propriedades grandes no estado do Amazonas. Nem quantas têm mais de 200 mil, mais de 500 mil, de 1 milhão”.

Há um consenso na esquerda brasileira e no movimento social quanto ao diagnóstico do problema: o modelo agrário historicamente implantado no Brasil baseia-se na grande propriedade monocultora, que dilapida os recursos naturais e submete a força de trabalho a condições desumanas, degradantes e ao trabalho escravo. Esta estrutura fundiária gera relações sociais, econômicas e políticas injustas, desiguais e autoritárias. Mais: ameaça a segurança alimentar do povo brasileiro, esvazia o campo, empurrando para as grandes cidades milhões de camponeses sem terra, agravando a miséria social dos grandes aglomerados urbanos do país. Condena o país à condição aviltante de produtor de umas poucas commodities agrícolas para alimentar os mercados internacionais.

Nas últimas décadas, o Brasil viveu a experiência da modernização conservadora da agricultura. Esse processo continua a desenvolver-se intensamente, por meio de fartos subsídios públicos para estimular a mecanização e o uso  intensivo de agrotóxicos e outras tecnologias. Tal modernização levou a uma ainda maior concentração fundiária e da pobreza no campo. E entrelaçou os interesses dos latifundiários com os do capital financeiro e das transnacionais da agricultura.

Por óbvio, as medidas políticas, econômicas e sociais que resultarão na reforma agrária contemporânea diferem das que eram propostas no período em que predominava o latifúndio improdutivo e a população rural era majoritária em relação à urbana. Mas isto não é argumento para justificar a concentração da propriedade da terra e o atual modelo de desenvolvimento da agricultura.

A inteligência coletiva da esquerda brasileira e do movimento popular deve ser acionada para formular uma proposta viável de reforma agrária que corresponda aos interesses democráticos, nacionais e populares, sem a qual não será viável um projeto nacional de desenvolvimento soberano e progressista. (Editorial Vermelho)

Dilma: Brasil se orgulha de ser potência na produção de alimentos

O financiamento para a produção de alimentos e a eleição José Graziano da Silva para o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) dominaram o programa “Café com a Presidenta” desta segunda-feira (27/6). Na entrevista semanal, transmitida em rede de rádio para todo o país, a presidente Dilma Rousseff destacou o fato de que “o Brasil se orgulha de ser uma grande potência produtora de alimentos”.

“Somos os maiores produtores exportadores do mundo de suco de laranja, de carne, de açúcar, de café. E vamos manter essa posição e avançar um pouco mais”, destacou Dilma. “Mas o importante é colocar isso tudo à disposição das pessoas. Acima de tudo, estamos garantindo alimentação de qualidade para os brasileiros e para quem compra nossos produtos no exterior.”
Dilma iniciou a entrevista explicando que o governo destinará R$ 107 bilhões para o financiamento da safra 2011-2012, que se inicia no próximo mês. Segundo a presidente, o recurso permitirá aos produtores “investir, comprar sementes, preparar a terra, comprar novas máquinas e financiar a comercialização da produção do próximo ano”.

De acordo com Dilma, é importante que os agricultores tenham condições de aumentar a produção e ter mais renda. “Os benefícios voltam para o povo brasileiro em forma de alimento, de mais emprego e de lucro para o próprio país, com as exportações”.

“A safra que está se encerrando já é recorde, com uma produção de quase 162 milhões de toneladas”, informou Dilma. “Com esse plano, esperamos alcançar um novo recorde de produção no próximo ano. Em termos de alimentos, o Brasil se orgulha de ser uma grande potência produtora.”

Para Dilma, se por um lado o governo libera crédito para o grande produtor rural, por outro há um plano que visa atender a agricultores de pequeno e médio portes. Esses produtores precisam receber tratamento diferenciado por parte do governo federal.

“Estamos aprimorando as ações para o médio produtor, que vai ter mais crédito e melhores condições de financiamento pelo Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor. Vão ser mais de R$ 8 bilhões. E também ampliamos o limite da renda para que um agricultor possa participar. Assim, mais produtores vão poder pegar empréstimos com juros mais baixos.”

Uma das novidades no Plano Safra 2011-2012 será a ampliação do crédito para os pecuaristas. “O Brasil é um grande produtor exportador de carne”, lembrou Dilma. Esse setor cresceu nos últimos anos, mas poderia ter crescido muito mais e melhor. O governo deve abrir linhas de crédito e dar financiamento de até R$ 750 mil para que o pecuarista compre vacas e touros para melhorar seu rebanho.

“Vai ter também crédito para a recuperação de pastagens. Com isso, vamos diminuir o desmatamento. Tem muita terra boa que pode ser recuperada e produzir mais carne para nós e para o mundo”, declarou a presidente em seu programa de rádio. Segundo ela, o governo prepara o lançamento, na próxima sexta-feira (1º), em Francisco Beltrão (PR), do Plano Safra da Agricultura Familiar.

Ela concluiu a entrevista comentando a eleição de Graziano da Silva para diretor-geral da FAO. A vitória do brasileiro, segundo Dilma, “significa o reconhecimento por parte das Nações Unidas da contribuição que o Brasil tem dado para as ações de combate à fome.”

“Agora, começam as discussões em torno da necessidade de produção de alimentos para as gerações futuras”, disse a presidente. “Graziano terá todo o apoio do governo brasileiro para levar essas soluções à FAO, mostrando que é possível compatibilizar o combate à fome, a melhoria de renda dos agricultores e uma produção de alimentos que só cresce em quantidade e produtividade.”

Da Redação Vermelho, com informações do Blog do Planalto

Bahia: Wagner define 2º e 3º escalão

Passados os festejos juninos, o governador Jaques Wagner (PT) se desdobra numa maratona de conversas com os partidos da base aliada ao longo da semana. Na pauta, a distribuição dos cerca de 400 cargos restantes do segundo e terceiro escalão da máquina pública pelo interior. Conforme a Tribuna antecipou nas últimas semanas, da mesma forma que a presidente Dilma Rousseff (PT) iniciou a divisão de cargos federais, Wagner dá mostras de que vai começar a contemplar os aliados. As conversas vêm acontecendo em separado e já contemplaram PP, PCdoB e PSL.
O que se sabe até então, é que as coisas vão fluindo com tranquilidade e a euforia mesmo tem ficado a cargos dos deputados da base. Hoje é a vez de o PDT sentar-se à mesa com o chefe do Executivo estadual. Às 11, na Governadoria, Wagner se reúne com o presidente estadual da legenda, Alexandre Brust, e com os quatro deputados, entre eles o presidente da Assembleia Legislativa (AL-BA), Marcelo Nillo. A expectativa é de encontro calmo. “A negociação está caminhando, o pessoal está se entendendo bem.  Os critérios adotados pelo governo para a divisão de cargos vêm correspondendo às expectativas dos deputados. A coisa já está meio definida e não deve ter nenhuma surpresa”, afirmou Brust em conversa com a Tribuna.
Tal qual com os outros partidos, oficialmente, a reunião é para avaliar a gestão do governador, mas as articulações político-partidárias devem dar um tempero especial ao encontro.  “Primeiramente, vamos sentar para fazer um balanço do primeiro semestre do governo de Wagner, mas, evidentemente, surgem assuntos de toda sorte e essa questão deve ser abordada”, completou o dirigente pedetista baiano. (Romulo Faro - TB)

Petistas e Tucanos ajudam na criação do PSD

O Concebido como projeto político paulista e pessoal do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, o novo PSD nasce como um ajuntamento de sublegendas de caciques tradicionais da política nos Estados. É a partir da força local de lideranças como o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e de governadores do PMDB, do PT, do PSDB, do PSB, do PMN e do DEM, que Kassab e seus operadores constroem a sigla nacional. Líderes do DEM e do PSDB apostam que o PSD terá dificuldades para sair do papel e torcem pelo fracasso da operação. No registro da nova legenda no cartório eleitoral dois meses atrás, 33 deputados de 12 siglas diferentes anunciaram a adesão e assinaram o documento. Anúncios à parte, no entanto, até hoje nenhum político deixou sua legenda para ingressar no PSD. Nem Kassab, que agora a direção do DEM quer expulsar. 
Apesar da demora, quem está com um pé no PSD diz que não tem dúvida quanto à conveniência da troca. O que vale aí é a máxima segundo a qual quem tem prazo, não tem pressa. O prazo legal em questão é o que estabelece no mínimo um ano de filiação para os candidatos às eleições municipais de 2012. Ao menos em tese, as filiações ao PSD poderão se arrastar até a primeira semana de outubro, com o cuidado de deixar claro perante a Justiça Eleitoral que essas pessoas participaram da construção do novo partido. A lista de padrinhos e patrocinadores do novo partido inclui os governadores da Bahia, Jaques Wagner (PT); do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB); de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB); de Santa Catarina, Raimundo Colombo (DEM); do Amazonas, Omar Aziz (PMN), e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). (TB)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O problema dos idiotas republicanos

Um aspecto da política norte-americana que não recebe suficiente atenção é o fato de uma porcentagem significativa dos autodenominados republicanos - cerca de metade - ser totalmente idiota. E os candidatos que querem ser eleitos por eles precisam ser condescendentes com eles, sendo idiotas também - ver " Bachmann, Michele" - ou fingindo sê-lo. Ninguém na grande mídia tem liberdade para dizer isso em voz alta. De fato, a simples atitude de apontar isso rende à pessoa o rótulo de "elitista liberal" que vê com preconceito os orgulhosos e patrióticos conservadores.

Bem, que assim seja. Um quarto dos republicanos consultados acredita que a Associação das Organizações Comunitárias pela Reforma Já (Acorn, na sigla em inglês) certamente planeja roubar as eleições de 2012, enquanto outros 32% acham que isso é uma possibilidade. Estes números são, sem dúvida, mais baixos do que os 52% que, em 2009, acusaram a Acorn de ter roubado as eleições para Obama, mas deveriam parecer um tanto surpreendentes para uma pessoa com faculdades mentais normais, dado que a organização não existe mais. De modo similar, uma pesquisa recente entre os republicanos indicou que 48% acreditam que Barack Obama nasceu nos Estados Unidos. De novo, o índice é quase o dobro dos 28% registrados em fevereiro, mas ainda é bastante baixo, dado que o Havaí divulgou a certidão de nascimento detalhada do presidente para satisfazer justamente esse grupo de ruidosos idiotas.

Estes exemplos são bastante óbvios, mas não é exagero insistir que esta assombrosa combinação de ignorância obstinada e estupidez teimosa pode ser encontrada praticamente em qualquer lugar onde a política republicana é discutida. Considerem a confusão causada pelos comentários derrisórios de Newt Gingrich sobre a proposta de orçamento de Paul Ryan, feitos há não muito tempo no programa Meet the Press da NBC. Em primeiro lugar, há o problema em si de Gingrich estar presente no programa. Ele foi - não me canso de observar - seu convidado mais frequente em 2009, com cinco aparições, muito embora não tivesse cargo oficial no governo e fosse o único ex-presidente da Câmara convidado a participar (Nancy Pelosi, a presidente na época, não apareceu naquele ano). Além disso, há o fator complicador de que, embora Gingrich seja retratado na grande mídia como um genuíno intelectual e potencial candidato à presidência dos Estados Unidos, ambas as noções são tão malucas quanto o próprio Gingrich. De que outro modo explicar um homem maduro que diz acreditar que as visões políticas de Obama só podem ser entendidas "se você entender o comportamento queniano, anticolonialista"? E quanto à sua insistência de que o governo Obama lidera uma "máquina secular-socialista" que representa uma ameaça tão grande para os EUA quanto a Alemanha nazista ou a União Soviética? Isto não basta para render a ele uma camisa de força?

O engraçado é que o apuro de Gingrich surgiu do fato de ele ter dito acidentalmente algo sensato. Falando do plano de Ryan de destruir o Medicare em apoio a mais uma série de reduções de impostos para os ricos, Gingrich explicou: "Não acho que a engenharia social de direita seja mais desejável do que a engenharia social de esquerda. Não acho que impor mudanças radicais a partir da direita ou da esquerda seja muito bom para o funcionamento de uma sociedade livre."

O fato de Gingrich, um autêntico maluco, ter soado temporariamente são deixou os conservadores histéricos. A equipe editorial do Wall Street Journal escreveu que Gingrich "optou por deixar seus ex-aliados na Câmara republicana à beira de um abismo de constrangimento". A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, denunciou seus comentários como "absolutamente infelizes". Juan Williams, da Fox News, reclamou que Gingrich estava "urinando dentro do círculo familiar". E um porta-voz do ultradireitista Clube para o Crescimento afirmou ser "mais do que bizarro o presidente Gingrich chamar o orçamento de Ryan de radical", acrescentando: "Radicais são os comentários de Newt Gingrich. Talvez ele esteja no partido errado."

Em resposta aos ataques da direita, assim como às  notícias de que ele havia afundado sua ridícula e egocêntrica ideia de se candidatar à presidência, Gingrich rapidamente se desculpou e insistiu que: a) ele não quis dizer isso; b) ele foi "injustiçado"; c) se ele fosse citado corretamente e no contexto, isso deveria ser considerado "uma falsidade. Porque eu disse publicamente que aquelas palavras eram inexatas e desafortunadas e estou preparado para enfrentar isso." Enfrentando ou não, isso não fez diferença para Sarah Palin, que atacou Gingrich por ceder ao que chamou de pressão "da grande mídia esquerdista". Perceberam? O Journal, o Clube para o Crescimento e a Fox News são a ideia de "esquerda" de Palin.

Na verdade, poucos jornalistas da "grande mídia" se importaram com as questões em si, tão excitados estavam com as supostas implicações da controvérsia para a falsa e eticamente debilitada campanha presidencial do candidato, que flertou com a ideia a vida toda. Isso pode ou não ter relação com o fato de que, em perfeito contraste com o público mais amplo, grande parte da elite de comentaristas continua encantada com o plano regressivo de Ryan. Ruth Marcus, do Washington Post (posando como a "liberal" no Meet the Press), Jacob Weisberg, da Slate, Joe Scarborough, da MSNBC, e os gurus David Brooks e Joe Nocera, do New York Times, uniram-se ao coro da "grande mídia", cantando os elogios a Ryan e atacando os democratas por recusar-se a abraçar seu plano de destruir o Medicare para cortar mais ainda os impostos dos multimilionários.

Ecoando uma coluna anterior de Weisberg, Nocera escreve que ficou "desolado" ao "ler sobre a alegre reação dos democratas à vitória [na eleição especial] em Nova York", em repúdio ao orçamento de Ryan. Por acaso o novo colunista do Times espera que os democratas chorem quando vencerem? Talvez, mas este não é seu argumento. "Mesmo que a solução de Ryan seja equivocada", escreve Nocera, "ele está certo na avaliação de que o Medicare enfrenta problemas." Agora tentem usar esta lógica em casa. Que tal assim: "Mesmo que Osama bin Laden estivesse errado ao querer destruir os Estados Unidos, ele estava certo na avaliação de que permitimos sexo demais na televisão."   

Portanto, os republicanos realmente são escravos de mentirosos e lunáticos que servem de cortina de fumaça para uma guerra da classe conservadora contra os pobres e a classe média, mas o verdadeiro problema são esses malditos democratas que comemoram suas vitórias, e defendem seus eleitores. Vantagem, idiotas... (
Eric Alterman - Opera mindi)

Uma nova classe média sem religião? Entrevista especial com Jorge Cláudio Ribeiro

IHU - Unisinos
Instituto Humanitas Unisinos
Adital
 
Na tentativa de conceituar o que seria a chamada "nova classe média”, o professor Jorge Cláudio Ribeiro, da PUC-SP, percebe que este novo extrato social está se restringindo a fatores ainda referentes à situação anterior. Tem mais renda, mas continua "espiritualmente” o mesmo, podendo fazer mais do que já fazia antes. "O mundo dessas pessoas ainda é pequeno, restrito às preocupações mais imediatas. Por isso, ela é politicamente conservadora, porque não pretende muitas rupturas. É religiosamente também conservadora, no sentido de que ainda mantém os laços religiosos provindos, na sua maioria, de igrejas evangélicas”.
Na entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, Jorge Cláudio Ribeiro entende que a Igreja Católica está se sentindo pressionada pela perda de seus fiéis. Sua hipótese é de que as pessoas que recentemente ascenderam para a classe média manterão uma referência religiosa, mas se tornarão pessoas sem religião, "entrando naquele rol dos que são crentes, mas não dentro do catequicismo religioso que aprenderam”.
Graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Medianeira, e em Jornalismo pela Universidade de São Paulo, Jorge Cláudio Noel Ribeiro Júnior é mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutor em Ciências Sociais pela mesma instituição. Fez pós-doutorado em Sociologia das Religiões na École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, na Unicamp e na Columbia University de Nova York.
É professor livre-docente em Ciências da Religião e professor titular na PUC-SP, onde leciona desde 1976. É autor de vários livros, dentre eles, Sempre Alerta: condições e contradições do trabalho jornalístico (São Paulo: Brasiliense/Olho D’Água, 1994); e Religiosidade Jovem (São Paulo: Loyola e Olho d'Água, 2009).
Recentemente, concluiu no Itesp os créditos de graduação em Teologia iniciados na PUC-Rio. No momento desenvolve mestrado em Teologia no Itesp.
Confira a entrevista.

IHU On-Line – Em primeiro lugar, como poderíamos definir o que seria a chamada nova classe média? Quais seus valores?

Jorge Cláudio Ribeiro – O conceito de classe média não se resume ao nível de renda, simplesmente. Nesse sentido, seria "forçar a barra” chamar esse contingente expressivo – são 30 milhões de pessoas – de classe média, usando apenas o critério da renda. E as classes sociais se definem por outros critérios, como a sua forma de ver o mundo, sua cosmovisão, sua atitude perante a vida, suas memórias, sua história. E esses são fatores um pouco mais qualitativos, que não foram pesquisados. Essa chamada "nova classe média” é nova, mas não é média, pelo menos do jeito como conhecíamos a classe média convencional, que desenvolvia e estimulava o esforço pessoal, que tinha um mundo amplo, tinha escolaridade tradicional na família. A nova classe média parece que está se restringindo, por enquanto, a fatores ainda referentes à situação anterior. Ela tem mais renda, mas continua "espiritualmente” a mesma. Pode fazer mais o que já fazia antes. Não houve ainda uma ruptura muito pronunciada. São pessoas que fizeram um esforço pessoal gigantesco, e que valorizam as realidades mais próximas de si.

O mundo dessas pessoas ainda é pequeno, restrito à família, ao bairro, às suas preocupações mais imediatas. Por isso, ela é politicamente conservadora, porque não pretende muitas rupturas. Ela pretende que a sociedade e o Estado lhe deem mais daquilo que já tem, mas não realidades, propostas e possibilidades diferentes. É religiosamente também conservadora, no sentido de que ainda mantém os laços religiosos provindos, na sua maioria, de igrejas evangélicas. Por isso mesmo são conservadoras também. Vejo isso em alguns alunos meus. Muitos são o primeiro universitário da família. Escolhem a faculdade de grife, mas que não seja muito cara, um curso não muito exigente, mas aquele que foi possível entrar. Muitos não se envolvem com o ambiente universitário, mas querem ter o diploma. Ainda não viram muita efetividade em uma escolaridade maior. Interessante é que muitos não têm ainda segurança nessa nova posição. Estão endividados, não têm perspectiva de futuro muito clara, e os laços anteriores, que são sua rede de sustentação, se mantêm. Essa rede é representada pelos hábitos, pela cultura, pela religião e pelos relacionamentos comunitários do seu bairro.

IHU On-Line – Como o senhor entende a proposta de aproximar a Igreja da nova classe média?

Jorge Cláudio Ribeiro – A Igreja Católica está se sentindo pressionada. Ela está reconhecendo uma situação, que não é de agora, ao perceber cotidianamente a perda de seus fiéis. E não é uma perda geral, mas de fiéis "com cara”, pessoas que têm uma convivência e que, aos poucos, vão abandonando sua paróquia, só vão de vez em quando. Isso dá, para a própria Igreja, uma sensação de serviço que não está sendo adequado ou bem feito. Para a hierarquia dá uma sensação de tristeza, de falta de sentido para o que está se fazendo.

As estatísticas religiosas mostram um contínuo declínio que, de certa forma, foge ao controle da Igreja. Ou seja, é fruto de um movimento histórico, cultural que, a meu ver, é muito mais amplo do que uma pastoral mais ou menos bem feita, com mais ou menos padres cantores, mais ou menos beatos, ou santos, ou milagres. Isso já faz parte do repertório habitual de práticas pastorais das igrejas em geral. O que está acontecendo é que uma realidade que já vem de alguns séculos, está se impondo graças à ciência, à economia.

Hoje, não é necessariamente à religião que se apela primeiramente diante de um problema. Apela-se para outras instâncias. A religião perdeu o prestigio que tinha, perdeu a autoridade de ensinamento que antes possuía. E isso resultou na perda de fiéis, mas não o contrário. Provavelmente, não há muito que fazer com respeito à nova classe média que já tinha saído do catolicismo. Muito dificilmente a pessoa que já passou por duas religiões volta para a primeira.

A nova classe média ainda mantém os laços anteriores, mas certamente esse processo de mudança de estado de vida, de situação, de maior confiança nas próprias possibilidades, pode gerar uma nova atitude religiosa. Se isso acontecer, muito provavelmente elas irão para uma terceira religião. Quando a pessoa muda de estado de vida ela "desencana” do tema religião. Uma das coisas que consolida a pessoa na nova classe média é a escolaridade e muito provavelmente a entrada na universidade.

Com o tempo, essa nova classe média vai buscar formas de escolaridade mais sofisticadas. Com isso, vai gerar uma nova postura frente às religiões. Na prática, a pessoa vai ver que o pastor dela fala errado, e fala coisas que entram em choque com o que aprendeu na escola. Então, surgem necessidades novas que a religião nem sequer percebe. Minha hipótese é que essas pessoas manterão uma referência religiosa, aos poucos frequentarão menos a sua religião, e se tornarão pessoas sem religião, entrando naquele rol dos que são crentes, mas não dentro do catequicismo religioso que aprenderam. Eu pessoalmente acho isso bom, mas sou um pouco secularizado. Pode ser que não seja bom, que as pessoas percam suas raízes. Há essa possibilidade de que as pessoas enlouqueçam, entrem nas drogas. Mas acho que não é desse jeito que funciona.

IHU On-Line – Quais os anseios dos jovens de classe média hoje que poderiam ser atendidos pelo âmbito religioso?

Jorge Cláudio Ribeiro – Meus alunos são de uma universidade particular, razoavelmente cara, tradicional, e eles não são nova classe média. Pelo contrário, são tipicamente classe média. E pela minha pesquisa, que se desenvolveu na PUC-SP, o que percebemos é que entre as questões que mais interessam aos jovens na faixa de 17, 18 anos, é, primeiro, a família; segundo, os amigos; terceiro, o ingresso na universidade; em penúltimo lugar a política, e em último lugar as religiões. A questão que eles dão menos importância é que a religião deles é a única verdadeira, o que significa que, para eles, há outras fontes de verdade que não só a religião e não só a religião dele ou dela.
Pode ser que esses meus alunos de classe média consolidada mostrem uma tendência do futuro perfil espiritual e religioso da nova classe média. Mas isso é questionável. Outra coisa interessante é que a maioria das pessoas dessa nova classe média é de mulheres. As mulheres, por uma série de fatores históricos, psicológicos, têm uma abertura maior para os aspectos religiosos. Pode ser que ainda se mantenha, em grande parte, o teor religioso, mas não necessariamente formal, convencional, mas uma forma de religiosidade mais livre, graças às mulheres das novas classes médias que estão surgindo.

IHU On-Line – O senhor acredita que a ascensão social de milhares de brasileiros enfraquecerá as religiões neopentecostais?

Jorge Cláudio Ribeiro – Sim, porque essas religiões deveram seu sucesso a uma pauta de prosperidade, de religião individualizada, ligada ao pequeno grupo. Na medida em que a pessoa, até graças à religião, atinja esse patamar, ela vai querer mais da vida, terá mais exigências de tipo ético, litúrgico, buscará algo mais racional que do simplesmente acreditar no seu líder, seu pastor ou padre. O novo mundo vai se alargar, com acesso a viagens, ao consumo, e isso trará questões para as quais a religião anterior não estava aparelhada.

IHU On-Line – Como conciliar, no mesmo discurso, os preceitos da Igreja e a valorização do consumo?

Jorge Cláudio Ribeiro – Não sei. Não sou bispo! Embora a Igreja Católica tenha um nível de consumo altíssimo, já que a Igreja é muito rica, ela faz outro tipo de consumo. O Vaticano e as congregações religiosas não têm um consumo de tipo individual, ostentatório, mas têm uma riqueza inegável. Ninguém reúne um bilhão de pessoas sem ter que gastar ou investir muito dinheiro para isso. Talvez a Igreja Católica quis estar nesse ambiente de consumo, mas a médio e longo prazo, e não a curto prazo que, no fundo, é algo meio suicida, meio burro, e aqui falo como alguém da classe média antiga.

A acumulação de cultura – e a Igreja Católica tem uma competência antiga na área da educação – poderia abrir para um tipo de ensino que é de boa qualidade, mas voltado para as classes populares ou classes médias, que teriam interesse. A pessoa consome de forma ostentatória porque só vê isso. Se ela, porém, tiver outras oportunidades ou o ensino que não seja convencional, ela poderá mudar de postura. E a Igreja Católica terá o que oferecer para a sociedade. Por outro lado, os jornalistas que tratam da Igreja Católica têm que desencanar um pouco da ideia de que a Igreja está perdendo fiéis. A Igreja tem que prestar um serviço que não está prestando tão bem como em outras épocas.

IHU On-Line – Qual deve ser o papel da comunicação e do jornalismo nesse debate?

Jorge Cláudio Ribeiro – Os jornalistas deveriam se informar mais. Tradicionalmente, o jornalismo, como classe profissional dotada de certa cultura, é cético. A obrigação dele é ser cético, é duvidar, perguntar, não pode se restringir ao papel de "moleque de recados”. O jornalista não transmite simplesmente, ele tem que questionar. Esse ethos cético impacta com o ethos crente das religiões. Então, os jornalistas não gostam muito das religiões. Mas não têm que gostar ou desgostar. Trata-se de uma realidade social, que deve ser levada em conta. Há um alto índice de pessoas que se dizem ateias no curso de jornalismo, mas pelo menos tinham que ter um respeito maior e isso implica conhecimento. Muitas vezes sou entrevistado e o jornalista não tem preparo nenhum nessa área. É preciso buscar as raízes profundas do tema. Os jornalistas precisavam ser como os médicos, ter estudo permanente e o material com que eles trabalham no seu cotidiano nem sempre permite esse aprofundamento, porque num dia ele está fazendo uma coisa e no outro dia está fazendo outra. É saudável que o jornalista não acredite em tudo, não seja uma pessoa crente como profissional – como pessoa ele faz o que quiser. Mas tem que ser uma pessoa duvidadora, com dúvidas bem fundamentadas por estudo e conhecimento.