Um aspecto da política norte-americana que não recebe suficiente atenção é o fato de uma porcentagem significativa dos autodenominados republicanos - cerca de metade - ser totalmente idiota. E os candidatos que querem ser eleitos por eles precisam ser condescendentes com eles, sendo idiotas também - ver " Bachmann, Michele" - ou fingindo sê-lo. Ninguém na grande mídia tem liberdade para dizer isso em voz alta. De fato, a simples atitude de apontar isso rende à pessoa o rótulo de "elitista liberal" que vê com preconceito os orgulhosos e patrióticos conservadores.
Bem, que assim seja. Um quarto dos republicanos consultados acredita que a Associação das Organizações Comunitárias pela Reforma Já (Acorn, na sigla em inglês) certamente planeja roubar as eleições de 2012, enquanto outros 32% acham que isso é uma possibilidade. Estes números são, sem dúvida, mais baixos do que os 52% que, em 2009, acusaram a Acorn de ter roubado as eleições para Obama, mas deveriam parecer um tanto surpreendentes para uma pessoa com faculdades mentais normais, dado que a organização não existe mais. De modo similar, uma pesquisa recente entre os republicanos indicou que 48% acreditam que Barack Obama nasceu nos Estados Unidos. De novo, o índice é quase o dobro dos 28% registrados em fevereiro, mas ainda é bastante baixo, dado que o Havaí divulgou a certidão de nascimento detalhada do presidente para satisfazer justamente esse grupo de ruidosos idiotas.
Estes exemplos são bastante óbvios, mas não é exagero insistir que esta assombrosa combinação de ignorância obstinada e estupidez teimosa pode ser encontrada praticamente em qualquer lugar onde a política republicana é discutida. Considerem a confusão causada pelos comentários derrisórios de Newt Gingrich sobre a proposta de orçamento de Paul Ryan, feitos há não muito tempo no programa Meet the Press da NBC. Em primeiro lugar, há o problema em si de Gingrich estar presente no programa. Ele foi - não me canso de observar - seu convidado mais frequente em 2009, com cinco aparições, muito embora não tivesse cargo oficial no governo e fosse o único ex-presidente da Câmara convidado a participar (Nancy Pelosi, a presidente na época, não apareceu naquele ano). Além disso, há o fator complicador de que, embora Gingrich seja retratado na grande mídia como um genuíno intelectual e potencial candidato à presidência dos Estados Unidos, ambas as noções são tão malucas quanto o próprio Gingrich. De que outro modo explicar um homem maduro que diz acreditar que as visões políticas de Obama só podem ser entendidas "se você entender o comportamento queniano, anticolonialista"? E quanto à sua insistência de que o governo Obama lidera uma "máquina secular-socialista" que representa uma ameaça tão grande para os EUA quanto a Alemanha nazista ou a União Soviética? Isto não basta para render a ele uma camisa de força?
O engraçado é que o apuro de Gingrich surgiu do fato de ele ter dito acidentalmente algo sensato. Falando do plano de Ryan de destruir o Medicare em apoio a mais uma série de reduções de impostos para os ricos, Gingrich explicou: "Não acho que a engenharia social de direita seja mais desejável do que a engenharia social de esquerda. Não acho que impor mudanças radicais a partir da direita ou da esquerda seja muito bom para o funcionamento de uma sociedade livre."
O fato de Gingrich, um autêntico maluco, ter soado temporariamente são deixou os conservadores histéricos. A equipe editorial do Wall Street Journal escreveu que Gingrich "optou por deixar seus ex-aliados na Câmara republicana à beira de um abismo de constrangimento". A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, denunciou seus comentários como "absolutamente infelizes". Juan Williams, da Fox News, reclamou que Gingrich estava "urinando dentro do círculo familiar". E um porta-voz do ultradireitista Clube para o Crescimento afirmou ser "mais do que bizarro o presidente Gingrich chamar o orçamento de Ryan de radical", acrescentando: "Radicais são os comentários de Newt Gingrich. Talvez ele esteja no partido errado."
Em resposta aos ataques da direita, assim como às notícias de que ele havia afundado sua ridícula e egocêntrica ideia de se candidatar à presidência, Gingrich rapidamente se desculpou e insistiu que: a) ele não quis dizer isso; b) ele foi "injustiçado"; c) se ele fosse citado corretamente e no contexto, isso deveria ser considerado "uma falsidade. Porque eu disse publicamente que aquelas palavras eram inexatas e desafortunadas e estou preparado para enfrentar isso." Enfrentando ou não, isso não fez diferença para Sarah Palin, que atacou Gingrich por ceder ao que chamou de pressão "da grande mídia esquerdista". Perceberam? O Journal, o Clube para o Crescimento e a Fox News são a ideia de "esquerda" de Palin.
Na verdade, poucos jornalistas da "grande mídia" se importaram com as questões em si, tão excitados estavam com as supostas implicações da controvérsia para a falsa e eticamente debilitada campanha presidencial do candidato, que flertou com a ideia a vida toda. Isso pode ou não ter relação com o fato de que, em perfeito contraste com o público mais amplo, grande parte da elite de comentaristas continua encantada com o plano regressivo de Ryan. Ruth Marcus, do Washington Post (posando como a "liberal" no Meet the Press), Jacob Weisberg, da Slate, Joe Scarborough, da MSNBC, e os gurus David Brooks e Joe Nocera, do New York Times, uniram-se ao coro da "grande mídia", cantando os elogios a Ryan e atacando os democratas por recusar-se a abraçar seu plano de destruir o Medicare para cortar mais ainda os impostos dos multimilionários.
Ecoando uma coluna anterior de Weisberg, Nocera escreve que ficou "desolado" ao "ler sobre a alegre reação dos democratas à vitória [na eleição especial] em Nova York", em repúdio ao orçamento de Ryan. Por acaso o novo colunista do Times espera que os democratas chorem quando vencerem? Talvez, mas este não é seu argumento. "Mesmo que a solução de Ryan seja equivocada", escreve Nocera, "ele está certo na avaliação de que o Medicare enfrenta problemas." Agora tentem usar esta lógica em casa. Que tal assim: "Mesmo que Osama bin Laden estivesse errado ao querer destruir os Estados Unidos, ele estava certo na avaliação de que permitimos sexo demais na televisão."
Portanto, os republicanos realmente são escravos de mentirosos e lunáticos que servem de cortina de fumaça para uma guerra da classe conservadora contra os pobres e a classe média, mas o verdadeiro problema são esses malditos democratas que comemoram suas vitórias, e defendem seus eleitores. Vantagem, idiotas... (Eric Alterman - Opera mindi)
Bem, que assim seja. Um quarto dos republicanos consultados acredita que a Associação das Organizações Comunitárias pela Reforma Já (Acorn, na sigla em inglês) certamente planeja roubar as eleições de 2012, enquanto outros 32% acham que isso é uma possibilidade. Estes números são, sem dúvida, mais baixos do que os 52% que, em 2009, acusaram a Acorn de ter roubado as eleições para Obama, mas deveriam parecer um tanto surpreendentes para uma pessoa com faculdades mentais normais, dado que a organização não existe mais. De modo similar, uma pesquisa recente entre os republicanos indicou que 48% acreditam que Barack Obama nasceu nos Estados Unidos. De novo, o índice é quase o dobro dos 28% registrados em fevereiro, mas ainda é bastante baixo, dado que o Havaí divulgou a certidão de nascimento detalhada do presidente para satisfazer justamente esse grupo de ruidosos idiotas.
Estes exemplos são bastante óbvios, mas não é exagero insistir que esta assombrosa combinação de ignorância obstinada e estupidez teimosa pode ser encontrada praticamente em qualquer lugar onde a política republicana é discutida. Considerem a confusão causada pelos comentários derrisórios de Newt Gingrich sobre a proposta de orçamento de Paul Ryan, feitos há não muito tempo no programa Meet the Press da NBC. Em primeiro lugar, há o problema em si de Gingrich estar presente no programa. Ele foi - não me canso de observar - seu convidado mais frequente em 2009, com cinco aparições, muito embora não tivesse cargo oficial no governo e fosse o único ex-presidente da Câmara convidado a participar (Nancy Pelosi, a presidente na época, não apareceu naquele ano). Além disso, há o fator complicador de que, embora Gingrich seja retratado na grande mídia como um genuíno intelectual e potencial candidato à presidência dos Estados Unidos, ambas as noções são tão malucas quanto o próprio Gingrich. De que outro modo explicar um homem maduro que diz acreditar que as visões políticas de Obama só podem ser entendidas "se você entender o comportamento queniano, anticolonialista"? E quanto à sua insistência de que o governo Obama lidera uma "máquina secular-socialista" que representa uma ameaça tão grande para os EUA quanto a Alemanha nazista ou a União Soviética? Isto não basta para render a ele uma camisa de força?
O engraçado é que o apuro de Gingrich surgiu do fato de ele ter dito acidentalmente algo sensato. Falando do plano de Ryan de destruir o Medicare em apoio a mais uma série de reduções de impostos para os ricos, Gingrich explicou: "Não acho que a engenharia social de direita seja mais desejável do que a engenharia social de esquerda. Não acho que impor mudanças radicais a partir da direita ou da esquerda seja muito bom para o funcionamento de uma sociedade livre."
O fato de Gingrich, um autêntico maluco, ter soado temporariamente são deixou os conservadores histéricos. A equipe editorial do Wall Street Journal escreveu que Gingrich "optou por deixar seus ex-aliados na Câmara republicana à beira de um abismo de constrangimento". A governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, denunciou seus comentários como "absolutamente infelizes". Juan Williams, da Fox News, reclamou que Gingrich estava "urinando dentro do círculo familiar". E um porta-voz do ultradireitista Clube para o Crescimento afirmou ser "mais do que bizarro o presidente Gingrich chamar o orçamento de Ryan de radical", acrescentando: "Radicais são os comentários de Newt Gingrich. Talvez ele esteja no partido errado."
Em resposta aos ataques da direita, assim como às notícias de que ele havia afundado sua ridícula e egocêntrica ideia de se candidatar à presidência, Gingrich rapidamente se desculpou e insistiu que: a) ele não quis dizer isso; b) ele foi "injustiçado"; c) se ele fosse citado corretamente e no contexto, isso deveria ser considerado "uma falsidade. Porque eu disse publicamente que aquelas palavras eram inexatas e desafortunadas e estou preparado para enfrentar isso." Enfrentando ou não, isso não fez diferença para Sarah Palin, que atacou Gingrich por ceder ao que chamou de pressão "da grande mídia esquerdista". Perceberam? O Journal, o Clube para o Crescimento e a Fox News são a ideia de "esquerda" de Palin.
Na verdade, poucos jornalistas da "grande mídia" se importaram com as questões em si, tão excitados estavam com as supostas implicações da controvérsia para a falsa e eticamente debilitada campanha presidencial do candidato, que flertou com a ideia a vida toda. Isso pode ou não ter relação com o fato de que, em perfeito contraste com o público mais amplo, grande parte da elite de comentaristas continua encantada com o plano regressivo de Ryan. Ruth Marcus, do Washington Post (posando como a "liberal" no Meet the Press), Jacob Weisberg, da Slate, Joe Scarborough, da MSNBC, e os gurus David Brooks e Joe Nocera, do New York Times, uniram-se ao coro da "grande mídia", cantando os elogios a Ryan e atacando os democratas por recusar-se a abraçar seu plano de destruir o Medicare para cortar mais ainda os impostos dos multimilionários.
Ecoando uma coluna anterior de Weisberg, Nocera escreve que ficou "desolado" ao "ler sobre a alegre reação dos democratas à vitória [na eleição especial] em Nova York", em repúdio ao orçamento de Ryan. Por acaso o novo colunista do Times espera que os democratas chorem quando vencerem? Talvez, mas este não é seu argumento. "Mesmo que a solução de Ryan seja equivocada", escreve Nocera, "ele está certo na avaliação de que o Medicare enfrenta problemas." Agora tentem usar esta lógica em casa. Que tal assim: "Mesmo que Osama bin Laden estivesse errado ao querer destruir os Estados Unidos, ele estava certo na avaliação de que permitimos sexo demais na televisão."
Portanto, os republicanos realmente são escravos de mentirosos e lunáticos que servem de cortina de fumaça para uma guerra da classe conservadora contra os pobres e a classe média, mas o verdadeiro problema são esses malditos democratas que comemoram suas vitórias, e defendem seus eleitores. Vantagem, idiotas... (Eric Alterman - Opera mindi)
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