terça-feira, 23 de agosto de 2011

Wagner: partidos têm legitimidade para lançar candidaturas

A mais de um ano das eleições municipais, a disputa pela prefeitura de Salvador continua como centros das discussões políticas na Bahia. O debate sobre tema foi retomado nesta segunda-feira (22/8) com a entrevista do governador Jaques Wagner, publicada no site Bahianotícias, em que ele reafirma o desejo de unir a base aliada em torno de um único nome, mas reconhece a legitimidade das candidaturas apresentadas até o momento, como a do PCdoB, já que eleição tem dois turnos.


“Defendo que em abril do ano que vem a gente construa a maior unidade possível dentro da base. Não só na capital como nas 417 cidades da Bahia. Quanto mais estivermos juntos agora, mais vamos trabalhar para estar juntos em 2014, onde se tem um embate de Governo do Estado e da Presidência. Agora eu não vou amarrar pé e mãos das forças políticas que estão na base. Os partidos têm legitimidade de apresentar. Como pesa a palavra do governador, eu não vou antecipar minha palavra porque é a hora das energias partidárias serem colocadas nas ruas e cada um poder ter o direito de se colocar”, declarou Jaques Wagner aos jornalistas Uziel Bueno e Evilásio Júnior.

O governador afirmou ainda que não tem a intenção de impor uma candidatura. “Não vou impor uma candidatura única, a não ser que a conjuntura de 2012 faça-se necessária. Eu não sei como a oposição vem de lá para cá. O lado de lá ainda não tem se vai ser uma candidatura só, se são duas, se três. A depender de com que tática vierem de lá, a gente também tem que montar a nossa de cá. Agora é claro que não vou querer entrar em uma eleição com 6 candidaturas. Entramos com três na última vez, mas como o governador atualmente não é o mandão, eu vou colocar minhas idéias. Como aqui tem dois turnos, todo mundo quer colocar-se para se juntar no segundo. O jogo da política é de muita paciência. A gente daqui até março tem como ir apurando isso e restringindo o número de candidatos, se possível concentrando em um só”, concluiu.

Candidatura do PCdoB

Primeiro partido da base aliada a apresentar pré-candidatura a prefeito de Salvador, o PCdoB mantém a disposição de levar o nome da deputada federal Alice Portugal para disputa das eleições de 2012, levando em conta exatamente o critério de dois turnos do pleito. “A nossa democracia está amadurecendo e, portanto é importante que as forças políticas se apresentem à sociedade. Salvador é uma cidade que precisa constituir-se com uma gestão que esteja à altura de sua dimensão histórica, econômica e social. Por isso, é muito democrático dar o direito ao povo da cidade de escolher entre as diversas forças políticas”, declarou Alice para o Portal Vermelho.

A parlamentar ressaltou ainda que respeita o desejo do governador de unificar toda a sua base aliada. “Eu respeito o desejo do governador de nos ter todos juntos desde o primeiro turno, mas acho que nós vamos ter que caminhar neste período e observar a vontade da cidade. Nós temos que construir uma análise do que seria melhor para a cidade, por isso nós do PCdoB nos julgamos legitimamente com direito de lançarmos um nome que vá para as ruas e a cidade diga quem ela prefere”, disse.

Alice lembrou ainda que a pré-candidatura do PCdoB não alterou em nada a relação do partido com o governo. “Depois do lançamento da nossa pré-candidatura nós já tivemos diversos contatos com o governador, todos da maior qualidade, com o mais alto nível de receptividade. O lançamento da nossa pré-candidatura não abalou em nada nossa relação com o governador, nem com o governo”, garantiu.

De Salvador,
Eliane Costa

Charge: Real interesse da OTAN na Líbia

Precisamos de profetas

Marcelo Barros
Monge beneditino e escritor
Adital
 
Quem passa por um edifício em construção, pode ver placas dizendo: "Precisamos de pedreiros”. Lojas de comércio alternam: "Precisamos de vendedores”. Infelizmente não podemos colocar nas portas das Igrejas: "Precisamos de profetas e profetizas”. Entretanto, é bom espalhar por aí que isso é uma necessidade urgente e que se apresentem os/as candidatos/as. Não estranhem o fato de que, diferentemente de outros ofícios, a missão de profeta quase nunca é bem aceita e reconhecida. Muitas vezes, gera até incompreensões e rejeições injustas. No tempo em que viveu no sertão do Nordeste, o padre Alfredo Kunz dizia: "Aqui, os urubus é que fazem o serviço de limpeza pública, já que as prefeituras não assumem. Todo mundo sabe disso. Entretanto, eu já vi gente criando todo tipo de pássaros, mas nunca vi ninguém criar urubu. Os urubus são necessários, mas ninguém os quer perto. Urubus me lembram os profetas de Deus, necessários, mas frequentemente rejeitados”.

Não é difícil celebrar a memória de profetas mortos. O evangelho denuncia que os fariseus e mestres da lei matam os profetas e depois erguem para eles belos túmulos, contanto que continuem mortos (Mt 23). Atualmente, em certos ambientes eclesiásticos, quando alguém fala em profetas como Mons. Oscar Romero, arcebispo de El Salvador, assassinado por militares da ditadura salvadorenha e, aqui no Brasil, Dom Hélder Câmara, ex-arcebispo de Olinda e Recife, há quem os elogie, mas conclua com certo cinismo: "o tempo deles era outro. Hoje não pode mais ser assim”. E assim, estes religiosos dos tempos novos se recolhem em seu mundinho de paramentos, ritos paroquiais e segredos de cúria.

Para quem a espiritualidade significa caminho de amor e solidariedade universal, o mês de agosto recorda a memória de vários mártires da justiça do reino divino. No dia 10 de agosto de 1974, frei Tito Alencar, terrivelmente torturado em seu corpo e sua alma, procurava a paz na morte. No 12 de agosto de 1983, na Paraíba, era assassinada Margarida Alves, presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Além de vários homens e mulheres que deram a vida pela causa do reino, em agosto, partiram deste mundo três bispos católicos que marcaram muito a caminhada da Igreja no Brasil como profetas da paz e da justiça: Dom Antônio Fragoso, bispo emérito de Crateús, no Ceará e um dos primeiros bispos ligados à Teologia da Libertação; Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, MG, e ex-presidente da CNBB que, em 2006, partiu no dia 27 de agosto, mesma data em que, sete anos antes, no Recife, nos tinha deixado Dom Hélder Câmara.

A missão de uma pessoa religiosa é ser testemunha da presença divina no mundo e atuar para que a sociedade se transforme de acordo com o projeto divino de paz e justiça para todos. Por isso, é bom recordarmos a profecia de pastores como Hélder Câmara, Antônio Fragoso e Luciano Mendes de Almeida. Todos os três, cada qual em sua área de atuação e do seu modo, conduziram a Igreja do Brasil pelo caminho da profecia.

Na memória destes três profetas da Igreja, nos damos conta da herança profética que recebemos e, junto com cristãos, pessoas de outras confissões e todos os homens e mulheres que acreditam no amor e na justiça, renovamos nosso compromisso de serviço aos irmãos e luta pacífica para transformarmos este mundo.

Em 1994, Dom Helder mandava esta mensagem ao movimento italiano Mani Tesi (Mãos Estendidas): "Não estamos sós. Por isso, não aceito nunca a resignação nem o desespero. Um dia, a fome será vencida e haverá paz para todos. A última palavra neste mundo não pode ser a morte, mas a vida! Nunca pode ser o ódio, mas o amor! Precisamos fazer com que não haja mais desespero e sim esperança. Nunca mais vençam as mãos enrijecidas contra o outro e sim o que o movimento de vocês valoriza: Mãos estendidas! Unidas na solidariedade e no amor para com todos”.

[Autor de 40 livros, dos quais o mais recente é "Para onde vai Nuestra América” (Espiritualidade socialista para o século XXI). São Paulo, Ed. Nhanduti, 2011. Email: irmarcelobarros@uol.com.br].

Fatos em foco

Em Brasília, ato unificado dos servidores federais em defesa de reajustes de salários e contra projetos de lei que retiram direitos e conquistas das diversas categorias profissionais

Hamilton Octavio de Souza - Brasil de Fato

Perspectivas
Oito entre dez economistas sérios acreditam agora que os Estados Unidos devem entrar em recessão no prazo de um ano. Uma boa pista disso saiu no estudo da agência Bloomberg, na última semana, segundo o qual os 50 maiores bancos do mundo – inclusive os estadunidenses – planejam demitir 110 mil trabalhadores até o final deste ano. Aqui no Brasil o discurso dominante é de que o país será pouco afetado pela crise do capitalismo.

Lucro máximo
Com ou sem crise, os bancos privados que operam no Brasil continuam a obter lucros muito acima de quaisquer outras atividades econômicas. O atual modelo favorece acintosamente o capital financeiro. No primeiro semestre deste ano, até o Banco do Brasil, que é estatal e deveria servir de referência para uma sociedade mais equilibrada, teve aumento de lucro de 23% em relação ao mesmo período do ano passado. Novo recorde!

Assalto legal
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem denunciado, há anos, os abusivos preços da energia elétrica no Brasil, que está entre os mais caros do mundo. Agora a poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) resolveu botar a boca no trombone e lançar a campanha “Energia a preço justo”. Quem sabe o governo e a Aneel decidem defender a sociedade contra o assalto praticado pelas concessionárias de energia!

Incomodados
Os poderosos, no Brasil, duradouros ou eventuais, reproduzem sempre a mesma postura diante da ação policial: quando as polícias militares torturam e matam os pobres, aos montes pelo país afora, não esboçam a menor reação; mas quando a polícia federal algema algum meliante dos quadros da estrutura dominante, reclamam do abuso e ameaçam com a apuração da responsabilidade. O tratamento discriminador é muito acintoso!

Luta federal
Acontece dia 24 de agosto, em Brasília, o ato unificado dos servidores federais em defesa de reajustes de salários e contra projetos de lei – em tramitação no Congresso Nacional – que retiram direitos e conquistas das diversas categorias profissionais. A pauta de reivindicações de sindicatos e federações foi entregue ao Ministério do Planejamento em abril, mas até agora o governo não deu nenhuma resposta. O ato vai agitar a Esplanada dos Ministérios!

Desmatamento
De acordo com o Centro de Monitoramento de Agrocombustíveis da ONG Repórter Brasil, “diretor de Proteção Ambiental do Ibama Luciano Evaristo esclareceu que doze das treze frentes de desmatamento fiscalizadas pelo órgão no Mato Grosso, no primeiro semestre de 2011, seriam destinadas à produção de grãos, e apenas uma à pecuária”. Ou seja, os reis da soja continuam desmatando a todo vapor!

Impunidade
No dia 12 de agosto completaram-se 28 anos do brutal assassinato de Margarida Maria Alves, presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba, praticado por um pistoleiro a mando dos usineiros da região. Dos cinco acusados pelo crime, dois foram julgados e absolvidos, um já faleceu, e dois continuam foragidos até hoje. Ninguém foi punido. Afinal, o que mudou no Brasil?

Exemplo chileno
Iniciadas e lideradas pelos estudantes, as manifestações de protesto no Chile questionam principalmente o processo de privatização da educação, que seguiu a cartilha neoliberal e é muito parecido com o que aconteceu no Brasil. Lá, os estudantes do ensino médio ocuparam 700 colégios no país, sendo 200 em Santiago. A reivindicação número um: investimento na Educação, ensino público e gratuito para todos. As marchas continuam!

Repressão inglesa
O escritor Tari Ali, em artigo veiculado pelo site esquerda.net, afirma que o governo inglês quer que os juízes punam severamente os jovens que participaram dos protestos em Londres e outras cidades britânicas, recentemente. Mas, diz ele, “nunca questionaram seriamente o fato de não haver acusações às mais de mil mortes de cidadãos sob a custódia policial, desde 1990”. Os pobres da Inglaterra também perderam a paciência!

Mídia prega ruptura entre Dilma e Lula

Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

Às vezes é preciso relembrar mesmo o passado recente para avaliar a conjuntura política brasileira.

Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, a guerrilheira?

Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, o poste de Lula?


Vocês ainda se lembram de Dilma Rousseff, a mentirosa que encontrou Lina Vieira?

É só consultar as edições dos jornais de 2010 para ler os copiosos textos e análises definitivas sobre a incapacidade política de Lula e de sua “criatura”.

Bem, Dilma Rousseff venceu a eleição.

Sem corar de vergonha, os analistas que produziram os textos supra-citados passaram a pregar o rompimento entre Lula e Dilma.

As teorias são crescentemente sofisticadas.

Uma delas sugere que, ao combater a corrupção, Dilma estaria carimbando negativamente o governo anterior.

É uma teoria estúpida, já que Dilma foi um quadro importante do governo anterior.

Mas os jornais não só insistem na teoria, como “repercutem” as próprias besteiras que escrevem.

É a ficção 2.0, turbinada. Mentira sobre mentira, com a esperança de que a repetição tenha algum impacto na realidade.

A realidade é que, gostem ou não, Lula continua o principal personagem da política brasileira. Não só elegeu a sucessora, como pode voltar ao poder pelo voto, em 2018 (o único risco para Dilma em 2014 é a crise econômica atropelar o Brasil).

Peço a quem tiver tempo que consulte os arquivos e aponte, nos comentários, os copiosos exemplos de textos que falavam sobre o fracasso de Lula e de Dilma, a — na linguagem deles — “criatura” que até recentemente diziam ser um zero à esquerda.

“Estadão” crava a espada em Dilma

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador:

A foto está na página A-7, na edição impressa do Estadão. Dilma surge levemente arqueada, e a espada de um cadete parece trespassar o corpo da presidenta. Abaixo da foto, o título “Honras Militares” – e um texto anódino, sobre a participação de Dilma numa cerimônia militar.


Faço a descrição minuciosa da foto porque a princípio só contava com uma reprodução de má qualidade (tive que fotografar a página do jornal com uma máquina amadora). Mas um amigo acaba de me mandar a imagem por email – e essa está um pouco mais nítida. Estranhamente, não encontro a foto no site do Estadão. Talvez apareça naquela versão digital para assinantes…

O editor deve ter achado genial mostrar a presidenta como se estivese sendo golpeada pelas costas. É a chamada metáfora de imagem. Mas, expliquem-me: qual a metáfora nesse caso? O que a foto tinha a ver com a solenidade de que fala o jornal? Há, no meio militar, quem queira golpear Dilma pelas costas? O jornal sabe e não vai dizer?

Ou, quem sabe, a turma do “Estadão” tenha achado graça em “brincar” com a imagem. No mínimo, um tremendo mau gosto com uma mulher que já passou por tortura na mão de militares, e hoje é a presidenta de todos os brasileiros.

Sintomático que a foto não apareça ao lado da mesma notícia na edição digital. Alguém deve ter pensado melhor e concluído: não vai pegar bem.

Por isso tudo, sou levado a pensar que Freud talvez explique a escolha da foto: a mão militar, na imagem, cumpre a função de eliminar a presidenta. E, com isso, talvez agrade a certa parcela dos leitores do jornal. Passeando pelo site do Estadão, é comum ver a presidenta chamada de “terrorista”. Exemplo, aqui:

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Walter BenedetteComentado em: Dilma participa de solenidade em escola de oficiais

20 de Agosto de 2011 | 20h52

A Dilminha tá fazendo certinho, adulando um pouco os milicos, ai eles se derretem todos e se dobram ficando de quatro para a ex-terrorista.


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Volto eu. Para essa gente, terroristas não foram os que mataram, torturaram e impediram o país de viver em regime democrático. Não. Para eles, “terroristas” são os que lutaram contra a ditadura.

A foto da página A-7 cumpre o papel de agradar essa gente.

Fidel em seus 85

Fidel, lúcido como sempre e mais sábio do que nunca. O passar dos anos, acompanhado por uma notável capacidade para refletir sobre as vicissitudes de sua vida e do mundo, o enriqueceram extraordinariamente.

Por Atílio Borón*, em seu blog


Seu olhar, que sempre teve o privilégio de internar-se no horizonte histórico-universal, tornou-se mais agudo: Fidel vê onde os demais não veem; e o que vê são as essências e não as aparências. Tinha razão García Márquez, quando disse que ele é "incapaz de conceber qualquer ideia que não seja descomunal”.

Retirado de todos os seus cargos à frente da revolução cubana, continua sendo, sem a menor dúvida, "o Comandante”. Não somente do glorioso "Movimento 26 de Julho” ou das Forças Armadas Revolucionárias Cubanas, mas de um exército mundial de mulheres e homens que lutam por sua vida, por sua dignidade e pela sobrevivência do gênero humano, hoje ameaçada por um arsenal nuclear de incalculáveis proporções, uma pequeníssima parte do qual sobraria para arrasar toda forma de vida no planeta Terra. Sobrevivência também comprometida pela fúria predatória de um sistema – o capitalista –, que converte tudo o que toca em mercadoria, em um simples objeto, cuja excludente finalidade é produzir lucro.

A favor dessa visão de águia que, em seu momento, Lênin reconhecera em Rosa Luxemburgo, pode denunciar, quase solitário, a crise ecológica que hoje nos abruma, bem como os perigos da demente corrida armamentista desencadeada pelo imperialismo estadunidense.

Alguns, certamente, recordarão sua intervenção na I Cúpula da Terra, no Rio de Janeiro, em 1992, quando o Comandante alertou sobre o risco ecológico no qual o planeta se encontrava. Enquanto o presidente dos Estados Unidos, George Bush, negava-se a assinar os protocolos do Rio, Fidel denunciava que "uma importante espécie biológica está em risco de desaparecer devido à rápida e progressiva liquidação de suas condições naturais de vida: o ser humano”.

E prosseguia sua análise, dizendo que o consumismo desenfreado e o desperdício irracional que a economia capitalista propicia são os responsáveis fundamentais por essa situação: "com somente 20% da população mundial... (os capitalismos metropolitanos) consomem as duas terças partes da energia produzida no mundo. Envenenaram o ar; debilitaram e perfuraram a camada de ozônio; saturaram a atmosfera de gases que alteram as condições climáticas com efeitos catastróficos que já começamos a padecer. Os bosques desaparecem; os desertos se estendem; milhões de toneladas de terra fértil vão parar, anualmente, no mar. Inúmeras espécies se extinguem. A pressão populacional e a pobreza conduzem a esforços desesperados para sobreviver, mesmo à custa da natureza. Não é possível culpar os países do Terceiro Mundo por essa situação; colônias ontem, nações exploradas e saqueadas hoje por uma ordem econômica mundial injusta”.

Com certeza, suas palavras não foram escutadas pela quase totalidade dos chefes de Estado lá convocados – quem, agora, recorda agora seus nomes? – e que continuaram bailando desprevenidos no deck do Titanic.

Sábio como poucos, Fidel se perguntava nesse mesmo discurso: "Quando as supostas ameaças do Comunismo desapareceram e já não restam pretextos para guerras frias, corridas armamentistas e gastos militares, o que impede dedicar, imediatamente, esses recursos para promover o desenvolvimento do Terceiro Mundo e combater a ameaça de destruição ecológica do planeta?”. Ele sabia perfeitamente bem a resposta, tal como a expusera em milhares de ocasiões: o impedimento radica na própria essência do capitalismo como sistema e no imperialismo como sua forma atual.

Lúcido e valoroso combatente desse flagelo, na prática, porém também no plano das ideias, Fidel denunciou seus horrores desde antes do assalto ao Moncada e em seu extraordinário alegado em defesa própria.

Testemunha e, ao mesmo tempo, excepcional protagonista da lenta, porém inexorável decadência do imperialismo estadunidense, suas iniciativas práticas bem como suas didáticas reflexões oferecem aos povos um riquíssimo arsenal de ideias e informações, recolhidas com a minuciosidade própria de um Darwin, sabedor de que para mudar a complexa realidade de nosso tempo, de nada valem esquemas preconcebidos ou rotundas simplificações.

Retirado de seus cargos oficiais, o infatigável soldado continua lutando sem quartel na crucial "batalha de ideias”, uma frente que, lamentavelmente, a esquerda descuidou durante muito tempo; porém, agora, conta com inúmeros combatentes. E desde lá, ilumina o esperançado caminho que conduz rumo à emancipação humana e social. Como diz a canção popular mexicana, Fidel, "feliz em teu dia, e que vivas muitos anos mais”.


* Atilio Borón é doutor em Ciência Política pela Harvard University e professor titular de Filosofia Política da Universidade de B. Aires, Argentina.

Guerra à Líbia revela a agressividade do imperialismo

Editorial Vermelho

Depois de cinco meses de intensos bombardeios sobre a Líbia, eis que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), pacto militar agressivo a serviço das estratégias de dominação global do imperialismo norte-americano, conseguiu fazer com que as forças da oposição armada vencessem batalhas militares decisivas e ocupassem a capital, deixando o líder do país, Muamar Kadafi, entrincheirado em seu quartel-general. As notícias dão conta de uma encarniçada resistência, mas tudo indica que o país norte-africano caiu nas mãos do chamado Conselho Nacional da Resistência e dos seus patrões da Otan.

À ofensiva militar correspondeu uma propaganda midiática pró-imperialista. Tal como em episódios anteriores em que as grandes potências, principalmente os Estados Unidos, empreenderam guerras contra países soberanos, a mídia preparou o terreno, diabolizando a direção do país, encobrindo cinicamente os verdadeiros objetivos do ataque, que passam anos luz à distância da propalada defesa dos direitos humanos, mas têm tudo a ver com interesses econômicos e geopolíticos das grandes potências imperialistas, especialmente o controle das riquezas naturais, no caso em tela o petróleo. Chama a atenção em particular a posição da mídia brasileira, para a qual o “Brasil ficou do lado errado” e faz pressão para que o nosso país se envolva na aventura belicista imperial.

Não temos dúvidas quanto ao caráter do governo líbio e de sua superação histórica. Muamar Kadafi foi a seu tempo um líder nacionalista e anti-imperialista e, nas condições de profundo atraso econômico-social herdadas do colonialismo, fez louváveis esforços para construir uma nação soberana e dar proteção social a seu povo. Em circunstâncias históricas adversas, a liderança de Kadafi tornou-se caricata, ele próprio fez alianças com o inimigo e seu governo já não reunia condições de defender a independência do país e promover o progresso social.

Embora distantes ideológica e politicamente do governo de Kadafi, condenamos energicamente a agressão de que foi vítima. Às forças de esquerda e revolucionárias não é permitido vacilar quando se trata de tomar posição quanto à ofensiva global do imperialismo para dominar o mundo. É preciso condenar tais planos, em nome da defesa dos interesses dos povos, de seus direitos e da soberania nacional.

A guerra contra a Líbia é reveladora da fragilidade das instituições internacionais e da hipocrisia do discurso sobre o “multilateralismo”, tão caro às potências dominantes quanto falso. Sob esse disfarce, essas potências dão seguimento e concretude aos planos do imperialismo de “democratizar” o mundo árabe e o Oriente Médio. Sob Bush, essa “democratização” deu passos com as guerras ao Iraque e ao Afeganistão, a guerra israelense contra o Líbano e o massacre e tentativa de genocídio contra os palestinos. Agora, sob Obama e os atuais governantes europeus, foi a vez da Líbia. Está claro que a ofensiva prosseguirá contra a Síria e o Irã, países contra os quais também se levanta com desfaçatez a bandeira da democracia e dos “direitos humanos”.

O direito internacional e o verdadeiro multilateralismo têm como pressupostos a independência nacional e a autodeterminação das nações e povos, antíopodas do direito de ingerência, de intervenção e da guerra de agressão.

Tudo isto faz parte de uma brutal ofensiva do imperialismo, o que serve de alerta e desafio às forças de esquerda. Toda e qualquer ilusão quanto à evolução e transformação pacífica do quadro internacional desarma os povos. Cada vez mais é preciso despertar sua consciência anti-imperialista e atuar no sentido de combater os tenebrosos planos de dominação das potências lideradas pelos Estados Unidos.