sexta-feira, 29 de julho de 2011

Fetag Bahia encerra Grito da Terra em ato com o governador Wagner

Mais de cinco mil trabalhadores rurais de todo o estado participaram das atividades do Grito da Terra Bahia 2011, que foi encerrado na tarde desta quarta-feira (27/7) com um ato político, que contou com a participação do governador Jaques Wagner, secretários de Estado, parlamentares e outras lideranças políticas. Organizado pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia (Fetag-BA), o Grito da Terra garantiu ainda conquistas importantes para o segmento.

Fetag Bahia encerra Grito da Terra em ato com o governador Wagner
As atividades começaram na terça-feira, quando aconteceram as primeiras rodadas de negociação com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). No mesmo dia, os trabalhadores participaram ainda de uma sessão especial na Assembleia Legislativa da Bahia, convocado pelo deputado Jean Fabrício Falcão (PCdoB), na qual entregaram a pauta de reivindicações ao presidente da Casa, deputado Marcelo Nilo.

Nesta quarta-feira, os trabalhadores rurais visitaram a Secretaria da Agricultura (Seagri), onde realizaram um ato político com a participação de parlamentares como o deputado federal e presidente do PCdoB na Bahia, Daniel Almeida, e o deputado estadual Jean Fabrício Falcão. O Vermelho Bahia acompanhou a manifestação, que pode ser conferida em vídeo.
 
Na parte da tarde, os agricultores fizeram ainda uma grande caminhada no Centro Administrativo da Bahia (CAB) indo até o prédio da Governadoria, onde foram recebidos pelo governador Jaques Wagner. O governador afirmou que a Bahia é o estado com o maior número de famílias vivendo da agricultura familiar. “Daí, a minha preocupação com essa área, que sustenta três milhões de pessoas querendo continuar vivendo na zona rural, mas precisam de condições dignas para isso”. Wagner enumerou as prioridades para a classe, citando a habitação rural, os programas Água para Todos e Luz para Todos, as estradas vicinais, o apoio à comercialização, e a extensão rural, para que os trabalhadores tenham acesso ao financiamento.

“Eu acho que deste jeito a gente transformará a agricultura familiar, conferindo competitividade e produtividade igualada a outras formas de produção. Para atender parte destas reivindicações, nós acabamos de lançar o Plano Safra 2011/2012, em parceria com o governo federal, a presidenta Dilma lançou o programa Brasil Sem Miséria, que tem como foco exatamente a questão da agricultura familiar e da segurança alimentar. Essa, hoje, é uma luta no mundo”, enfatizou Jaques Wagner
Vitórias e avanços
Segundo o presidente da Fetag Bahia, Cláudio Bastos, a atividade superou as expectativas, com a participação de mais de cinco mil pessoas mobilizadas em todo o estado, mais de 350 sindicatos de trabalhadores rurais presentes, diversas cooperativas e associações de agricultores.

“Tivemos também alguns avanços importantes na nossa pauta de reivindicações. Fomos recebidos pelo governador Jaques Wagner que anunciou a entrega de 15 mil títulos de terra ainda este ano, prometeu dobrar ainda o número de famílias atendidas pelo Programa Garantia Safra, que dá auxílio ao agricultor na perda da safra, além de ampliar a assistência técnica para os agricultores e revitalizar a Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA)”, acrescentou Bastos.

O presidente da Fetag Bahia informou ainda que os trabalhadores aprovaram uma agenda de discussão com o governo da Bahia, que contempla pontos como o Programa Água para Todos, que é projeto estratégico para atender as famílias do semi-árido, além de programas estruturantes da agricultura familiar que é construção de agroindústrias, de frigoríficos nos territórios do estado para garantir o abate de animais, compra de tratores para ajudar na mecanização agrícola, compra de sementes para ajudar a agricultura familiar produzir. “Estes são apenas alguns pontos da pauta que aberta que acertamos com o governador”, ressaltou Bastos.

De Salvador,
Eliane Costa - Vermelho

Feira de Santana: no trânsito manda quem pode, obedece quem tem juizo

Por Genaldo de Melo

Tenho dito reiteradas vezes a alguns amigos que existem algumas maluquices e muita falta de respeito no trânsito, com as pessoas que andam pelas ruas centrais de Feira de Santana. E alguns não concordam com minha opinião, mas entendo. Eles transitam de carro e não andam a pé como a maioria dos feirenses.
Peço desculpa para estes amigos, pois respeito a opinião deles, mesmo não concordando, mas continuo dizendo que o trânsito de Feira de Santana tem problemas sérios que precisam serem sanados. Parece que ele é feito apenas para os motoristas, e não para todos.
Depois de ouvi várias reclamações da gente do povo sobre a falta de educação de alguns motoristas, bem como do próprio sistema de sinalização eletrônica do trânsito, que somente favorece a quem está dentro de um carro, vi pessoalmente esta semana um dos fatos mais absurdos no cruzamento da Rua Rio Branco com a Avenida Sampaio. Quando o sinal vermelho fecha, o outro rapidamente esverdeia-se, e não dá tempo nenhum para que as pessoas possam atravessar as ruas.
Por isso que acho que isso está errado, pois o trânsito de uma cidade não deve ser feito apenas para o usufruto de motoristas. E o povo que trafega nas ruas da cidade? E as pessoas da terceira Idade? E os portadores/as de deficiências? Vi foi duas senhoras quase serem atropeladas, depois de ficarem em torno dez minutos tentando atravessar a rua.
Todo mundo sabe de quem é a culpa por essa falta de organização. Mas a Câmara de Vereadores que deveria respeitar a opinião das ruas e levantar um debate sério sobre esse assunto, fica calada. Afinal de contas são as pessoas que andam nas ruas de Feira de Santana, investidas na qualidade de pedestres, que são os cidadãos, que votam em outubro do próximo ano, e naturalmente merecem um pouco de respeito.
Porque não se imita pelo menos outras metrópoles que educam o povo e os motoristas para naturalmente diminuir os índices de acidentes? Por que Feira de Santana deve ter um trânsito desse modo, tão desorganizado? Uma hora amigos o povo reveste-se da revolta e vinga politicamente.

Obama e a grande chantagem da dívida

A direita nos Estados Unidos já conseguiu entronizar como verdade absoluta a ideia falaciosa de que a maioria da população quer apertar o cinto dos gastos excessivos de um governo gastador. Obama contribuiu para esse triunfo e entregou sua presidência aos conservadores numa bandeja de prata. Na verdade, a Casa Branca capitulou faz tempo.

Por Alejandro Nadal, no La Jornada


Sabia que o estímulo fiscal aprovado no início da administração era insuficiente e sua duração demasiadamente curta. Ao negar-se a lançar um novo pacote fiscal, Obama colocou a corda no pescoço.

A coerção é a arma política preferida em Washington. Frente à necessidade legal de elevar o teto do endividamento do governo federal, o Partido Republicano e todas as forças da direita conservadora têm ameaçado o chefe do Executivo: ou se encara realmente o problema do déficit com fortes cortes no gasto público, ou será negada a autorização para elevar o teto de endividamento.

A direita nos Estados Unidos já conseguiu entronizar como verdade absoluta a ideia falaciosa de que a maioria da população quer apertar o cinto dos gastos excessivos de um governo gastador. Obama contribuiu para esse triunfo e entregou sua presidência aos conservadores numa bandeja de prata.

Na verdade, a Casa Branca capitulou faz tempo. Sabia que o estímulo fiscal aprovado no início da administração era insuficiente e sua duração demasiadamente curta. Ao negar-se a lançar um novo pacote fiscal, Obama colocou a corda no pescoço. Quando o efeito do primeiro estímulo se esgotou, Obama foi alvo das críticas pelo fracasso de seu plano.

Prontamente, por um passe de mágica, a crise começou a ser percebida como estando relacionada mais com o mau manejo da economia sob Obama do que com os 20 anos de desregulação e abusos no setor financeiro. A discussão passou da necessidade de enquadrar o setor financeiro para a urgência de cortar o déficit.

A realidade é que é absurdo querer resolver o problema do déficit fiscal no meio de uma recessão. Há, na atualidade, um altíssimo nível de desemprego nos Estados Unidos (ao redor de 20 milhões de pessoas em situação de desemprego total ou parcial) e os salários encontram-se deprimidos.

O que, em um certo momento, permitiu aos consumidores manter sua demanda foi o valor de suas casas, mas agora o preço desses ativos segue caindo. A demanda agregada desabou e as empresas não estão contratando mais trabalhadores, o que conduz a um círculo vicioso que só pode ser rompido com um estímulo fiscal. Isso permitiria incrementar a arrecadação e reduzir o déficit.

O Congresso e Obama escolheram outro caminho: a única coisa que se fala em Washington é sobre a necessidade de reduzir o gasto para abater o déficit.

Na verdade, um governo pode reduzir o déficit de duas maneiras: pode aumentar suas receitas fiscais ou pode reduzir o gasto público.

As pesquisas revelam que a maioria dos estadunidenses está a favor do aumento de impostos para os setores mais ricos, que se beneficiaram do modelo neoliberal durante décadas. Mas a classe política em Washington (quer dizer, os partidos Democrata e Republicano) já aceitou que incrementar a arrecadação não é o caminho para reduzir o déficit.

Aqui fica demonstrado quem detém o poder real na democracia estadunidense. Em troca, os políticos em Washington preferem reduzir o gasto público, o que necessariamente provocará uma maior contração da economia desse país. Os conservadores não parecem muito preocupados com isso porque o desgaste político será de Barack Obama.

Ao invés de apresentar opções com liderança, Obama preferiu acomodar-se às prioridades dos conservadores. Em vez de enfrentar com outras opções o problema das finanças públicas, escolheu submeter-se. A verdade é que não é necessário incrementar o endividamento porque existem muitas alternativas. Além de aumentar a arrecadação, um corte no gasto militar é uma opção evidente, mas o orçamento do Pentágono aumentou todos os anos sob a administração Obama.

O mais importante teria sido uma verdadeira reforma no sistema de saúde. Hoje em dia esse sistema está integrado pela seguridade social e pelos programas Medicare e Medicaid.

O gasto nestes setores é o fator mais importante no crescimento do déficit. Mas o custo do sistema de saúde deve-se ao controle dos monopólios na indústria farmacêutica e nas seguradoras. Os dados da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) revelam que o gasto no sistema social de saúde nos EUA é superior ao de países como Alemanha ou Suíça.

Mas, em termos de qualidade, o serviço nos estabelecimentos estadunidenses está muito abaixo do desses países. A realidade é que o complexo farmacêutico-securitário é tão ou mais poderoso do que o complexo militar-industrial quando consideramos seu impacto nas contas públicas.

A proposta em Washington para reduzir o gasto no sistema de saúde pública não passa por controlar os oligopólios. A redução será feita cortando o número de pessoas cobertas por esses serviços e piorando a qualidade dos mesmos.

A chantagem funcionou. Diz-se (em ambos os partidos) que, se não se aceitar o plano dos conservadores, sobreviria uma hecatombe. Isso teria que ser analisado com cuidado. No momento, a classe política em Washington abraçou essa argumentação porque o que interessa a ela é desmantelar os últimos vestígios do estado de bem-estar nos Estados Unidos.

Fonte: Carta Maior

Paulo Paim conclama trabalhadores a pressionarem o Congresso

Há grandes chances de acabarmos com o fator previdenciário ainda neste governo, mas tem que haver uma grande mobilização por parte dos trabalhadores em cima do Congresso”. Com essa afirmação, o senador Paulo Paim (PT/RS) abriu a sua fala no Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, na noite de quarta-feira (27). 

 
Clayton Stumpf
  Senador Paulo Paim, no Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul.

Paim, que cumpriu agenda em Caxias do Sul, visitando o Sindicato dos Aposentados e Pensionistas, Prefeitura, Câmara de Vereadores e Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC), defendeu o fim imediato do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho.

Instituído após a Reforma da Previdência, no governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) como forma de reduzir as aposentadorias pagas e, consequentemente, poupar recursos da Previdência, o mecanismo tem sido alvo de críticas das centrais sindicais e dos trabalhadores desde sua criação. Paim, que bate no fator há 12 anos, afirmou ter conversado com o ministro da Previdência, Garibaldi Alves, para negociar o fim do fator e diz que o governo tem sinalizado positivamente. “A Dilma (presidente Dilma Rousseff) só precisa ver a mobilização acontecer.”

Aos metalúrgicos, Paim falou de uma mobilização que a categoria já está acostumada. “É preciso pressionar para abrir a mesa de negociação, exatamente como acontece na discussão do dissídio”. No ano passado, Paim conseguiu aprovar a derrubada do fator por unanimidade no Senado, mas a proposta foi vetada pelo ex-presidente Lula. O próprio Garibaldi, na ocasião, votou a favor da proposta.

Assis Melo

Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, o deputado federal Assis Melo (PCdoB/RS), não haverá avanços se o fator não for extinto imediatamente. “É preciso primeiro acabar com ele e depois discutir outras alternativas, pois se formos negociar perdendo, vamos continuar perdendo. Ou seja, não dá para iniciar uma negociação, partindo de uma situação ruim”. Assis defende que os trabalhadores se unam e participem das mobilizações que serão realizadas no segundo semestre para que os parlamentares se sintam na obrigação de derrubar o fator. “Não basta colocar o projeto na pauta se não tivermos a maioria, por isso precisamos de muita luta, pois o mercado continua dando as ordens, então temos que fazer mais pressão”.

Paim, que, junto com Inácio Arruda (PCdoB-CE), é autor do projeto de lei da redução da jornada, apresentado ainda em 1995, também defendeu em Caxias do Sul a mobilização dos trabalhadores como forma de pressionar a aprovação da proposta. “Está instalado um debate pela redução da folha de pagamento. Então se querem, vamos discutir, mas a redução da jornada também tem que entrar. O que não dá é para aceitar o tudo ou nada”.

Substituição do fator

No Congresso, tramitam diversos projetos que afetam as aposentadorias. As propostas vão desde o fim do fator previdenciário até a mudança dos seus cálculos e a limitação do período de aplicação. O fator previdenciário prejudica quem começou a trabalhar mais cedo, que geralmente recebe uma remuneração mais baixa. Desde a reforma de 1998, não existe mais a idade mínima para a aposentadoria integral, que leva em conta 30 anos de contribuição para mulheres e 35, para homens. Apenas a proporcional tem o critério da idade mínima de 53 anos.

Do Veremelho, Colaborou Claiton Stumpf

O novo despertar no Peru

A tomada de posse do novo presidente peruano, Ollanta Humala, nesta quinta-feira (28), no mais elevado posto da República vizinha é acontecimento de grande relevância para o avanço das lutas democráticas e anti-imperialistas da atualidade, que em cada momento e lugar se revestem de formas e ritmos peculiares.

É fato auspicioso que merece o mais entusiástico apoio das forças progressistas dos países irmãos. Sem sombra de dúvidas, a instalação do novo governo corresponde a um despertar nacional, abre novo ciclo político no país andino e cria condições para superar o período de neoliberalismo, conservadorismo, repressão política e corrupção desbragada que caracterizaram os governos peruanos no último quarto de século.

Como se fosse o tema principal, adquiriu relevância o debate se Ollanta Humala seguirá o modelo “lulista” ou o “chavista”, sem que um e outro sejam definidos com precisão.

O novo presidente peruano tem certamente afinidades políticas com os mencionados líderes, mas não faz sentido apostar que as escolhas políticas que fará a partir de agora serão condicionadas por alinhamentos de qualquer natureza.

Importa mais observar os sinais emitidos no ato de posse e principalmente a mensagem que pronunciou para inferir sobre o rumo que o novo governo adotará.

O destaque principal corresponde à luta pela maior presença do Estado na economia, a inclusão social e o combate ao mal endêmico da corrupção. Ademais, na mensagem inaugural Humala anunciou uma política exterior independente e integracionista, com prioridade para a região andina e a América do Sul.

Os gestos simbólicos do novo presidente foram também reveladores dos seus propósitos. No momento da posse, por uma questão de rito e protocolo, Humala fez o juramento sob a égide da Constituição neoliberal vigente. Mas rompendo a fórmula tradicional, ele jurou também pelo “espírito”, os “princípios” e “valores” da carta magna nacionalista de 1979, justamente aquela que os golpistas e os neoliberais revogaram e substituíram pela atual, em 1993. Foi sob o manto da Constituição neoliberal que os governos privatizaram a economia e praticamente alijaram o Estado nacional da gestão da vida econômica.

Lugar destacado na mensagem presidencial coube ao juramento de acabar com a exclusão social. O novo presidente prometeu com solenidade apagar "o lacerante rosto da exclusão e a pobreza do país". É algo que cala fundo na consciência do povo em se tratando de um país em que a desigualdade social é gritante e a pobreza é um flagelo.

“Soldado da democracia”, Ollanta Humala firmou ainda o compromisso de realizar profundas transformações, através de um governo “para todos”, em que pontificarão conceitos como reforma, democracia, liberdade, inclusão, redistribuição, crescimento, paz com justiça, segurança, soberania, transparência e acordo.

Há, portanto, fundadas razões para a esperança. O povo peruano, com o novo governo, tem amplas possibilidades para construir um caminho próprio, um modelo nacional de desenvolvimento, democracia, inclusão social e soberania nacional. Parafraseando o pensador socialista José Carlos Mariátegui, um modelo que não será decalque nem cópia de modelos externos, mas criação heroica do próprio povo.

Também a América Latina tem muito a ganhar, pois a incorporação do Peru à grande coalizão de nações soberanas fará avançar o processo de integração e criará uma nova correlação de forças a favor da ampliação da luta anti-imperialista.

Editorial Vermelho

Brasil é o 10º maior doador de alimentos para a África

O governo brasileiro anunciou que enviará ao Chifre da África, como é chamada a região no extremo leste do continente, o equivalente a R$ 34,5 milhões em alimentos. O valor da doação brasileira é a 10º maior da lista de 30 países. A área está atravessando uma das piores secas de sua história, e em duas regiões do sul da Somália, foi declarada a fome.O transporte será feito com ajuda dos governos dos Estados Unidos e da Espanha. Segundo o Brasil, serão enviadas 38 mil toneladas para a Somália e 15 mil para a Etiópia e o Quênia.

O coordenador-geral de Ações Internacionais de Combate à Fome do Itamaray, Milton Rondó Filho, falou à Rádio ONU sobre a situação precária da Somália.

“A situação é de fome, no sul da Somália. O número de refugiados que atravessa a fronteira da Somália em direção ao Quênia e à Etiópia é muito grande. É fundamental que a comunidade internacional se una. Como dizia o Josué de Castro, que foi o presidente do Comitê Brasileiro da FAO nos anos 50, a fome não é um fenômeno natural, mas sim político. Se um bilhão de pessoas passam fome no mundo, isso não é um fenômeno natural. Nós temos condições de erradicar a fome no mundo hoje”, afirmou.

A crise no Chifre da África levou o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur) a revisar, nesta quinta (28), em mais de US$ 8,6 milhões o apelo humanitário anunciado no início deste mês. A quantia total demandada agora é de cerca de US$ 145 milhões, ou mais de R$ 232 milhões.

Até agora, o Acnur distribuiu pacotes de ajuda de emergência para mais de 100 mil pessoas no centro-sul da Somália, onde a seca é mais severa. Mais suprimentos estão sendo distribuídos para um adicional de 114 mil pessoas afectadas pela seca.

Fonte: Rádio ONU em Nova York.

O ponto a que chegamos: o mundo nas mãos do TEA PARTY

Os republicanos querem manter Obama sob rédea curta e aprovar uma elevação do endividamento público dos EUA suficiente para mais seis meses à base de pão e água. Depois, negociam mais meia cuia de água. Assim por diante, até Obama chegar às eleições de 2012 como um cachorro velho, mudo e sem dente. Um cão arrastado pelo rabo. Mas a extrema direita do partido, meia centena de membros do Tea Party, acha pouco e entornou o caldo da votação do pacote conservador na Câmara, deixando as finanças do mundo de cabelos em pé. O Tea Party quer recolher Obama/'a gastança' na carrocinha e é já. Um clamor uníssino de vozes  cortou a narrativa dominante do Financial Times ao Globo, qualificando os indômitos seguidores de Sarah Palin de demenciais. É preciso cautela. O  Tea Paty pode ser tudo, mas não é um hospício encastoado na alavanca republicana que embalou Bush, concluiu a desregulação das finanças até o colapso de 2008, dizimou o Iraque, retalhou o Afeganistão e agora incendeia a Líbia, entre outras miudezas do ramo. O neonazista norueguês que encravou balas dum-dum nas vísceras de um pedaço da juventude progressista do seu país tampouco é um demente, como querem rapidamente resolver o caso certos veículos e personagens do conservadorismo urbi et orbi. Tea Patty e Andres Behring Breivik  são um produto refinado da história. De anos --décadas--  de ódios e pregação conservadora contra o Estado, contra a justiça fiscal; contra o pluralismo religioso; contra os valores que orientam a convivência compartilhada. Sobretudo, o princípio da igualdade e da solidariedade que norteia a destinação dos fundos públicos à universalização do amparo aos doentes, à velhice, aos desempregados, aos famintos, aos loosers brancos ou negros, nacionais ou imigrantes. Breivik e o Tea Party assimilaram o cânone.  Se agora escapam ao criador, louve-se a competência da madrassa  neoliberal. Na crise, ambos apenas confirmam a esférica densidade da formação que receberam e investem contra a desordem. Com fé no mercado e o dedo no gatilho.
(Carta Maior; 6º feira, 29/07/ 2011)
 

Murdoch e o espírito do capitalismo

Para romper o véu ideológico que encobre as empresas de comunicação, as comparo com os donos dos velhos armazéns de secos e molhados, sempre de olho na possibilidade de comprar os estabelecimentos dos concorrentes, sonhando com a formação de grandes redes de lojas.

A falta de leitura dos clássicos nos cursos de comunicação – O Capital, entre eles – obriga-me, muitas vezes, a recorrer a comparações singelas para explicar em palestras para estudantes a formação dos monopólios na mídia.

Preciso, antes de tudo, dessacralizar as empresas de comunicação. Por ingenuidade ou má fé, elas são vistas ou apresentadas apenas como instituições sociais, obscurecendo a natureza capitalista de suas estruturas básicas.

Para romper esse véu ideológico, as comparo com os donos dos velhos armazéns de secos e molhados, sempre de olho na possibilidade de comprar os estabelecimentos dos concorrentes, sonhando com a formação de grandes redes de lojas.

Essa mesma lógica, da acumulação capitalista, tão bem descrita por Marx na sua principal obra, preside a formação dos conglomerados de comunicação. De um jornal isolado, empresários mais audazes e bem relacionados, formam redes que, de locais passam a regionais, nacionais e, hoje, são globais. Exemplo a News Corporation, de Rupert Murdoch.

Alguns países impõem limites internos ao processo de concentração. No entanto, as rápidas e recentes transformações tecnológicas têm facilitado a superação desses obstáculos por empresas globalizadas.

Sons e imagens, emitidos de qualquer parte do planeta, circulam quase sem nenhuma possibilidade de restrições. O que, em princípio, pode parecer um avanço na liberdade de informação e opinião, com o processo de acumulação capitalista, torna-se um retrocesso, na medida em que reduz globalmente os criadores e emissores desses produtos.

Se como no caso dos supermercados os monopólios liquidam com a concorrência nas duas pontas, impondo preços aos produtores e aos consumidores, no caso da mídia as conseqüências são ainda mais graves.

Os bens por ela oferecidos não se esgotam, como qualquer mercadoria, no ato do consumo. Ao venderem valores, hábitos e idéias seus produtos permanecem nos corações e mentes do público por muito tempo depois de consumidos, às vezes por toda a vida.

Se a concentração dá ao dono da rede de supermercados um poder brutal para o enriquecimento econômico, ao empresário da comunicação esse poder é somado e combinado com o que lhe dá a possibilidade de impor a sua visão de mundo ao mundo e nele interferir diretamente. É ainda muito mais brutal.

Exemplo dessa imposição é o da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Mais de 200 editores das empresas de comunicação de Murdoch, espalhadas pelo mundo, foram obrigados a publicar matérias inverídicas justificando o ataque.

Poder político global combinado com uma acumulação de capital tão grande faz com que seus possuidores se sintam senhores do mundo. Não apenas para autorizar bisbilhotagens telefônicas mas para romper com qualquer obstáculo às suas pretensões de seguir ampliando os poderes conquistados.

A crise gerada pela revelação do uso de escutas ilegais pelos jornais de Murdoch permitiu a descoberta de outras práticas, usadas para ampliar ainda mais o seu império. O sonho do magnata australiano de possuir uma rede de televisão no Reino Unido estava prestes a se concretizar.

Num país onde as regras para a concessão de canais abertos são rigorosas e passam por um amplo debate público a empreitada de Murdoch não era fácil. Mas ele encontrou um atalho.

Depois de apoiar o Partido Conservador nas últimas eleições gerais (na anterior havia apoiado o Trabalhista, de Blair), Murdoch se achou no direito de lançar uma nova cartada.

Seus executivos iniciaram contatos diretos com o primeiro ministro David Cameron buscando autorização do governo para comprar por oito bilhões de libras (aproximadamente 20 bilhões de reais) a maior rede de TV por satélite do pais, a BSkyB, com cerca de 10 milhões de assinantes.

O negócio, ao que tudo indica, está suspenso. O que não quer dizer que esteja acabado. A lógica da acumulação é inexorável.

Se há 20 bilhões de reais para serem investidos eles serão, de uma forma ou de outra. Resta saber se Murdoch insistirá no sonho inglês ou buscará ocupação para o seu dinheiro em outras plagas.

As escutas telefônicas realizadas pelos jornais da News Corporation são, sem dúvida, um crime grave. Mas o pensamento único globalizado, produto da acumulação do capital, é um crime ainda mais grave, praticado contra a humanidade.

De positivo, a partir dessas revelações, temos a esperança de que a conversa fiada sobre liberdade de imprensa no capitalismo seja, pelo menos, um pouco mais relativizada.

Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Brasil sobe para 5º em ranking de investimentos estrangeiros, diz ONU

O Brasil pulou do 15° lugar, em 2009, para 5° no ranking dos países que mais receberam investimentos estrangeiros diretos (IED) em 2010, afirma um relatório da Unctad (agência da ONU para o comércio e o desenvolvimento) divulgado nesta terça-feira.

Brasil sobe para 5º em ranking de investimentos estrangeiros, diz ONU
Os IED no Brasil aumentaram 84,6% em 2010 na comparação com o ano anterior, totalizando US$ 48,4 bilhões, de acordo com o estudo Investimento no Mundo 2011 da Unctad.

Em 2009, em razão da crise econômica internacional, o Brasil havia sofrido uma diminuição de 42% no volume de IED, uma queda acima da média mundial naquele ano.

Em 2010, os Estados Unidos lideram novamente o ranking do estudo da Unctad, com ingresso de US$ 228 bilhões em investimentos diretos estrangeiros, o que representou um aumento de 49%.

A China e Hong Kong são classificados de maneira distinta e ocupam, respectivamente, o segundo e o terceiro lugares, com IED de US$ 106 bilhões e US$ 69 bilhões. Em quarto, ficou a Bélgica, com US$ 62 bilhões em investimentos.

O salto do IED no Brasil em 2010 foi impulsionado pela entrada de mais de US$ 15 bilhões em dezembro, dos quais US$ 7,1 bilhões se referem à venda de 40% da unidade brasileira da companhia espanhola Repsol ao grupo petrolífero chinês Sinopec.

O IED representa investimentos voltados para a produção, como a criação de fábricas e diversas operações empresariais internacionais, como fusões e aquisições, compra de participações acionárias, empréstimos para filiais e reinvestimento dos lucros.

De acordo com o relatório, os investimentos estrangeiros diretos na América Latina e no Caribe em 2010 se concentraram em operações realizadas por multinacionais asiáticas dos setores de petróleo e gás, principalmente chinesas e indianas.

O estudo da Unctad foi divulgado em um momento de valorização do real em relação ao dólar, situação favorecida pela entrada de recursos estrangeiros. Nessa segunda-feira, o dólar comercial caiu para R$ 1,543, menor valor desde janeiro de 1999.

América do Sul

A América do Sul foi a região do mundo que registrou a maior alta do IED em 2010. O aumento do ingresso de investimentos foi de 56%, totalizando recursos de US$ 86 bilhões. O Brasil representou sozinho 56% desse volume, afirma a Unctad.

No total, o IED para América Latina e Caribe foi de US$ 159 bilhões em 2010, aumento de 13% em relação ao ano anterior.

"A América Latina e o Caribe registraram uma repentina aceleração das fusões-aquisições internacionais, que passaram de valores negativos, em razão dos desinvestimentos, em 2009, para US$ 29 bilhões em 2010, um recorde na região desde 2000", diz o estudo.

"Essa evolução testemunha a retomada do interesse das companhias estrangeiras pela aquisição de empresas na América Latina após uma década de morosidade", afirma a Unctad.

As multinacionais da América Latina, estimuladas pelo forte crescimento econômico em seus países, também multiplicaram investimentos no exterior, sobretudo nos países desenvolvidos, diz o estudo.

"Os fluxos de capitais que saíram da América Latina e do Caribe aumentaram 67%, atingindo US$ 76 bilhões em 2010, a mais forte progressão regional no mundo", diz o relatório.

A alta significativa é devida ao aumento dos investimentos de multinacionais brasileiras e mexicanas, as principais investidoras da região.

No caso do Brasil, a saída dos recursos foi de US$ 12 bilhões no ano passado, em razão dos investimentos no exterior de empresas como Vale, Braskem, Petrobras, Camargo Correa, Votorantim e Gerdau.

Os dados preliminares de 2011 indicam que as entradas de IED na América Latina continuam aumentando, enquanto as saídas, ou seja, os investimentos realizados por empresas da região no exterior, estão diminuindo, diz o relatório.

Emergentes

O estudo da Unctad também revela que os países emergentes foram em 2010 os "novos pesos pesados" do IED mundial.

Os países em desenvolvimento e em transição absorveram pela primeira vez mais da metade dos fluxos mundiais de investimentos estrangeiros diretos (entradas de recursos), que totalizaram US$ 1,24 trilhão em 2010.

Esse montante cresceu 5% em 2010, mas ainda permanece 37% inferior ao recorde registrado em 2007, diz a Unctad.

A agência da ONU prevê novo crescimento do IED em 2011, que deverá atingir entre U$ 1,4 trilhão e US$ 1,6 trilhão neste ano.

Fonte: VoteBrasil

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Feira de Santana: no trânsito manda quem pode, obedece quem tem juizo

Tenho dito reiteradas vezes a alguns amigos que existem algumas maluquices e muita falta de respeito no trânsito, com as pessoas que andam pelas ruas centrais de Feira de Santana. E alguns não concordam com minha opinião, mas entendo. Eles transitam de carro e não andam a pé como a maioria dos feirenses.
Peço desculpa para estes amigos, pois respeito a opinião deles, mesmo não concordando, mas continuo dizendo que o trânsito de Feira de Santana tem problemas sérios que precisam serem sanados. Parece que ele é feito apenas para os motoristas, e não para todos.
Depois de ouvi várias reclamações da gente do povo sobre a falta de educação de alguns motoristas, bem como do próprio sistema de sinalização eletrônica do trânsito, que somente favorece a quem está dentro de um carro, vi pessoalmente esta semana um dos fatos mais absurdos no cruzamento da Avenida Rio Branco com a Avenida Sampaio. Quando o sinal vermelho fecha, o outro rapidamente esverdeia-se, e não dá tempo nenhum para que as pessoas possam atravessar as ruas.
Por isso que acho que isso está errado, pois o trânsito de uma cidade não deve ser feito apenas para o usufruto de motoristas. E o povo que trafega nas ruas da cidade? E as pessoas da terceira Idade? E os portadores/as de deficiências? Vi foi duas senhoras quase serem atropeladas, depois de ficarem em torno dez minutos tentando atravessar a rua.
Todo mundo sabe de quem é a culpa por essa falta de organização. Mas a Câmara de Vereadores que deveria respeitar a opinião das ruas e levantar um debate sério sobre esse assunto, fica calada. Afinal de contas são as pessoas que andam nas ruas de Feira de Santana, investidas na qualidade de pedestres, que são os cidadãos, que votam em outubro do próximo ano, e naturalmente merecem um pouco de respeito.
Porque não se imita pelo menos outras metrópoles que educam o povo e os motoristas para naturalmente diminuir os índices de acidentes? Por que Feira de Santana deve ter um trânsito desse modo, tão desorganizado? Uma hora amigos o povo reveste-se da revolta e vinga politicamente.

Genaldo de Melo

Fatos em foco

O governo continua hesitante na regulação do etanol, especialmente para garantir o fornecimento do combustível durante o ano todo

Hamilton Octavio de Souza

Sem etanol
O governo continua hesitante na regulação do etanol, especialmente para garantir o fornecimento do combustível durante o ano todo. Os usineiros não querem arcar com os custos de armazenamento na entressafra. Se não houver acordo, o produto deverá faltar no mercado nos mês esde dezembro, janeiro e fevereiro. De novo os preços vão subir e o ônus recairá – mais uma vez – sobre os consumidores. Por que não prevalece o interesse da maioria?

Promessas
Na campanha eleitoral de 2010, os setores da esquerda que apoiaram a candidata Dilma Rousseff contaram com alguns avanços políticos prometidos pelo PT, entre os quais o fim do fator previdenciário para cálculo da aposentadoria, a constituição da Comissão da Verdade, a regulação da comunicação social conforme propostas da Confecom, a reforma política para aprofundar a democracia. Está tudo no banho-maria.

Comparação – 1
O programa Bolsa Família atende hoje 12,9 milhões de famílias em todo o Brasil, com valores que variam de R$ 32 a R$ 242 por família, um gasto total de R$ 1,4 bilhão por mês. De janeiro a junho deste ano, o Tesouro Nacional pagou R$ 98 bilhões de juros da dívida pública para um seleto grupo de capitalistas que lucra com os títulos públicos. O que é transferido para essa minoria rica é 11 vezes superior ao maior programa social do governo. Pode?

Comparação – 2
O orçamento da União para 2011, aprovado pelo Congresso Nacional em 22 de dezembro de 2010, fixou o total de despesas em R$ 2 trilhões, sendo quase R$ 1,4 trilhão para custeio e investimento, e pouco mais de R$ 600 bilhões para a rolagem da dívida. Em janeiro, a dívida pública estava em 40,1% do PIB, equivalente a R$ 1,4 trilhão. No final de junho, a dívida pública havia saltado para R$ 1,8 trilhão – graças à contínua elevação da taxa de juros.

Ética suprema
O ministro José Antonio Dias Toffoli, do STF, considerou assunto “particular” o fato de ter ficado hospedado na Itália por conta de advogado que é defensor de réus em dois processos em tramitação no STF, os quais devem ser relatados pelo próprio ministro. Se não se declarar eticamente impedido de participar desses julgamentos, terá condições de atuar com independência diante do amigo que patrocinou a viagem “particular”?

Risco ecológico
Estudos encomendados pela ONU indicam que as altas temperaturas no verão do hemisfério Norte e o aumento dos incêndios estão relacionados com o ressecamento de várias regiões do planeta, o que deve agravar a crise de escassez de água. A previsão desses estudos é que a demanda mundial por água cresça em dois terços até 2025, e as cidades que não se prepararem para assegurar o abastecimento podem se tornar fantasmas.

Envenenamento
O Comitê do Rio de Janeiro da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida lançou dia 25, no Teatro Casa Grande, o documentário “O veneno está na mesa”, dirigido pelo cineasta carioca Silvio Tendler. O filme mostra que todos nós estamos expostos ao emprego de agrotóxicos na produção de alimentos, e que o atual modelo de agricultura beneficia a indústria do veneno em detrimento da saúde da população.

Injustiça togada
De acordo com a Comissão Pastoral da Terra de Marabá, no Pará, após a conclusão das investigações e a identificação dos assassinos do casal de agricultores José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo Silva, o juiz Murilo Lemos Simão, de Marabá, negou dois pedidos de prisão encaminhados pela polícia, com aval do Ministério Público, facilitando assim a fuga dos acusados. Esse é o papel da Justiça?

Questão fiscal
Grupos empresariais e a grande mídia neoliberal costumam atacar o sistema público de previdência como sendo um setor deficitário que onera os cofres públicos. Mas não esclarecem que a maior parte do chamado déficit da previdência, no Brasil, decorre da renúncia fiscal no recolhimento das empresas rurais de exportação, das empresas de informática e das pequenas e médias empresas. Basta acabar com as isenções e privilégios!

Jobim e os idiotas que perderam a modéstia

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço:

Na Folha de hoje:
O ministro da Defesa, Nelson Jobim, fez uma revelação sobre sua preferência na disputa presidencial do ano passado: “Eu votei no Serra”.
Na avaliação dele, se o tucano José Serra tivesse derrotado a petista Dilma Rousseff, o governo “seria a mesma coisa” no manejo das recentes crises políticas, como a do combate à corrupção no Ministério dos Transportes(…).
A escolha eleitoral de Jobim sempre foi conhecida ou pelo menos intuída nos bastidores em Brasília. Dilma também sabia, diz ele.

Azedou a relação? “Azeda quando você esconde. Eu não costumo fazer dissimulações, então não tenho dificuldades”, disse.

Passada a eleição, entretanto, o assunto foi esquecido nas conversas entre o ministro e a presidente. “Não se toca no assunto.”

Há menos de um mês, ele se envolveu em polêmica ao afirmar, durante cerimônia pelos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que “os idiotas perderam a modéstia”.

No governo, a interpretação foi de uma crítica à administração Dilma. Ele repetiu não ter sido cobrado pela presidente: “Não, não. Ela até riu”.

Jobim deu entrevista ontem ao programa “Poder e Política”, uma parceria da Folha e do UOL, em Brasília.


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O ex-presidente do BC, Henrique Meirelles, de quem sempre se discordou fortemente das idéias, era do PSDB, votou em Serra em 2002. Quando aceitou participar do governo, porém jamais ficou de gabolices frívolas, afirmando que não tinha votado em Lula.

O contrrário do que faz o ministro Nélson Jobim.

Jobim tornou-se um símbolo nacional. É inexcedível em matéria de vaidade, de arrogância, de grosseria. Não se constrange de constranger. Não sabe se manter discreto, não sabe ser respeitoso, não sabe nada senão jactar-se de sua própria “grandeza”.

O ministro Nélson Jobim perdeu, realmente, a modéstia.

Deveria perder o cargo, também.

Os efeitos do jornalismo de esgoto

Por Luis Nassif, em seu blog:

Um dos pontos centrais das políticas de direitos humanos é o chamado direito à privacidade. Desde que não afete a vida de terceiros nem desrespeite as leis, toda pessoa tem o direito à sua privacidade.

O caso Murdoch expôs uma das características mais repelentes do jornalismo-espetáculo e do jornalismo "partido político": a exposição da vida de pessoas, os ataques pessoais, os chamados assassinatos de reputação como ferramentas não apenas para aumento de audiência, mas como arma política.


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Ocorreu nas eleições de Barack Obama. Comentaristas da Fox News, acumpliciados com redes anônimas de internautas, espalhavam que Obama não teria nascido nos Estados Unidos, que seria muçulmano, uma liderança infiltrada na política norte-americana visando destruir o país.

Esse mesmo modelo foi utilizado na campanha eleitoral do ano passado. Em qualquer escola de São Paulo, crianças eram contaminadas pela versão de que a candidata Dilma Rousseff "assassinou pessoas", que seria a favor do aborto. Ao mesmo tempo, havia ataques destemperados contra nordestinos. Na outra ponta, o preconceito contra qualquer pessoa que pertencesse à classe média para cima.

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A intolerância global foi particularmente feroz contra muçulmanos e árabes em geral, especialmente após o episódio terrorista que derrubou as Torres Gêmeas. Proliferaram sites e analistas preconizando o fim da civilização ocidental, com a invasão da Europa pelos muçulmanos.

Na França, proibiu-se o uso da burka. Diferenças culturais foram apontadas como desvios morais. Em um mundo cada vez mais globalizado, e enfrentando o fantasma da crise econômica, essa pregação espalhou-se como um rastilho, especialmente pelos países europeus. Da mesma maneira que a intolerância que se seguiu ao crack de 1929 da Bolsa de Nova York.

Por aqui, a pregação limitou-se ao chamado Foro de São Paulo - que, segundo alguns alucinados, visaria tomada do poder na América Latina pelos esquerdistas.

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O massacre de Oslo foi conseqüência direta de um clima de intolerância que teve em Murdoch o ponto central de disseminação, o exemplo no qual se espelharam grupos de mídia pelo mundo afora. Esse movimento foi facilitado pela ampliação da Internet, com o caos inicial que marca a entrada de novas mídias - especialmente uma descentralizada e onde é possível a prática dos ataques anônimos.

Nesse ambiente, houve o oportunismo de muitos comentaristas de mídia, explorando a intolerância que se manifestava na classe média - acossada, de um lado, pela tributação pesada, de outro, pela ascensão das novas massas consumidoras.

Abriu-se espaço para um modismo repelente, o "politicamente incorreto", que tornou de bom tom zombar das minorias, dos defeitos físicos, da feiura.

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O episódio Murdoch-Oslo deve servir de reflexão não apenas na Inglaterra, mas sobre a comunicação de massa em geral, sobre o respeito às diferenças, sobre os direitos individuais, sobre a responsabilidade na hora de se atacar pessoas ou grupos.

El Pais chamou a esse jornalismo de Murdoch de "cloaca". Por aqui, tornou-se comum a expressão "jornalismo de esgoto" para definir esse estilo.

A perversidade do racismo

No momento em que o IBGE divulgou sua pesquisa sobre a identidade dos brasileiros, duas outras notícias colocaram em evidência a perversidade com que na sociedade capitalista é encarada a distinção étnica e cultural entre os povos. Na Itália, a eleição da brasileira Silvia Novais como Miss Itália Nel Mondo provocou uma enxurrada de manifestações racistas na internet, postadas por direitistas partidários da supremacia branca e europeia adeptos de Adolf Hitler, que não suportam negros, árabes, judeus, imigrantes e outros seres humanos que não têm as suas origens étnicas, seus preconceitos e seus interesses.

Esta intolerância encharcou de sangue o solo de Oslo, capital da Noruega, onde um criminoso assassinou com um atentado a bomba e a tiros 76 pessoas, na maioria jovens, que estavam em um evento do Partido Trabalhista, de esquerda, que comanda o governo do país.

As referências ao Brasil, nestes dois episódios, são diretas e interligadas. As ofensas contra Silvia Novais estão ligadas à cor escura de sua pele. E o assassino de Oslo, no prolixo e insano manifesto de mais de 1.500 páginas que postou na internet para justificar seus crimes, citou explicitamente o Brasil como um exemplo dos “malefícios” da mestiçagem, causadora de corrupção, improdutividade e do choque cultural.

É preciso refletir sobre isso. A pesquisa divulgada pelo IBGE, que cumpre compromissos firmados pelo Brasil na 3º Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada na África do Sul, em 2001, tem o enorme mérito de desmentir mais uma vez as alegações racistas da direita, europeia ou não, de dar números oficiais à denúncia do racismo no Brasil, e também de ressaltar a importância e o avanço da convivência, num mesmo espaço nacional, de diferenças que compõem o amplo mosaico representado pela unidade do povo brasileiro.

Quase dois terços dos brasileiros (63,7%), diz a pesquisa, reconhecem a existência de racismo no Brasil e indicam onde ele se manifesta de maneira mais intensa e perversa: no trabalho (71%), na relação com a polícia ou a justiça (68,3%), no convívio social (65%), na escola (59,3%) e nas repartições públicas (51,3%).

É uma chaga que se perpetua; é o ovo da serpente do racismo que recusa a convivência com aparências diferenciadas e pode matar, como já ocorreu no passado, e repetiu-se em Oslo na sexta-feira. Somos os habitantes de um país encarado pelos supremacistas eurocêntricos como racialmente inferior que, nas condições atuais do mundo, faz parte do conjunto de nações que ameaçam o predomínio do “Ocidente” – isto é, de países como Estados Unidos ou daqueles que formam a União Europeia.

Talvez o maior mérito da pesquisa seja constatar que crescentemente os brasileiros assumem positivamente a miscigenação; metade dos entrevistados se autodefinem como “não brancos” (48,4%), ao lado de outra metade que se declara “branca” (incluindo minorias que se descreveram como alemãs, italianas ou “claras”). Isto é, metade da população encara-se como mestiça, usando o critério tradicional brasileiro de classificação, que é a cor da pele.

Exames de origem, baseados na análise genética, como aqueles feitos pela equipe do pesquisador Sérgio Penna, indicam uma mestiçagem maior e mais disseminada, revelando que, no Brasil, apenas um terço daqueles que se declaram “brancos” são realmente de origem europeia exclusiva. E também que os brasileiros de pele escura, mestiços, trazem no DNA também os sinais de antepassados europeus. Isto é, no Brasil misturamos todas as origens, dando origem a um povo com características peculiares, nem superior nem superior aos demais povos, com suas próprias manifestações culturais múltiplas e também miscigenadas, marcas da origem diversificada de nossos formadores.

Nas relações internas, como nas que o povo brasileiro estabelece com o exterior, é necessário observar que o racismo está associado à dominação de classe e ao imperialismo neocolonialista. A superação da intolerância racista e o estabelecimento de relações fraternas no seio do povo e entre povos são objetivos associados à luta pela conquista de uma nova sociedade e um novo padrão civilizacional.

Editorial Vermelho

Estados unidos: devagar, quase parando

Enquanto o impasse em torno da dívida pública se arrasta, amplificando o nervosismo dos mercados de capitais, revelam-se nos Estados Unidos novos sinais de debilidade da economia, que caminha a passos de tartaruga, devagar, quase parando. A indústria está estagnada ou em recessão em muitas regiões do país.


O Federal Reserve (FED), banco central dos EUA, informou hoje, 27, que a economia americana cresceu a um ritmo mais vagaroso na maioria das regiões do país desde o início de junho, uma vez que os consumidores reduziram as compras e a produção industrial foi mais débil.
Desacelerando
"A atividade econômica continuou a crescer", disse o banco no Livro Bege. "No entanto, o ritmo foi moderado em muitas áreas." O crescimento se desacelerou em oito das 12 regiões dos Estados Unidos, em comparação à última pesquisa.

O relatório enfatiza a mensagem ao Congresso do presidente do FED, Ben Bernanke, no início deste mês. Ele disse que manter o estímulo monetário recorde era necessário para dinamizar a economia. Bernanke deixou a porta aberta para ações adicionais, incluindo a compra de mais títulos governamentais, se a recuperação fosse colocada em xeque.
Desemprego oficial de 9,2%
Com o desemprego em 9,2%, "a economia ainda precisa muito de apoio", disse ele a parlamentares no discurso semestral sobre política monetária. Pesquisas independentes, com metodologia diferente, abarcando o desemprego oculto pelo desalento, indicam taxas maiores.

O impasse no Parlamento em torno do teto da dívida pública e a imposição de cortes nas despesas públicas para reduzir o déficit amarram as mãos do governo, que a esta altura já não tem muitos recursos para estimular a economia. Por isto, não parece improvável que o banco central volte a usar o recurso das emissões, o que tende a ampliar a queda do dólar nos mercados cambiais.
Indústria vai de mal a pior
A pesquisa do FED, sempre divulgada duas semanas antes da reunião do Comitê de Política Monetária, baseia-se em informações coletadas em 12 bancos regionais do Fed. O relatório de hoje cobre junho e a primeira quinzena de julho. Muitas regiões informaram que a produção industrial se desacelerou ou se manteve estável. O consumo, que responde por 70% da economia, cresceu modestamente. A venda de veículos se desacelerou.

Horas antes da divulgação do relatório, o Departamento de Comércio informou que as encomendas de bens duráveis caíram 2,1% em junho, o que não era esperado. Isso sugere que as empresas estavam perdendo a confiança ao final do segundo trimestre.
Vermelho, com agências

Um estrondo na Noruega: quando o diabo bate à porta [1]

Os governos europeus, e os EUA fecham os olhos à contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi.

Quando em 1933, através de mil intrigas e manipulações politicas, Franz Von Papen [2] , velho político do Partido do Centro Católico, aliado a industriais e banqueiros alemães, convenceu o velho Marechal Von Hindenburg, presidente da Alemanha e empedernido militarista e oligarca, a nomear Adolf Hitler chefe do governo alemão encerrava-se um ciclo na história alemã. Era o “Kampfszeit”, os tempos de luta dos nazistas pelo poder. Desde 1920 o partido nazista alemão – DNSAP – promovera atentados, tentativas de golpe de Estado, arruaças de rua e homicídios políticos. Contudo, a elite política alemã – homens “respeitáveis” como Von Papen e Hjalmar Schacht [3] , o chamado “mago das finanças” – acreditavam que poderiam controlar o nazismo visando atingir seus próprios objetivos: a derrubada da democracia e a instauração de um regime reacionário estável e duradouro. Os nazistas, por mais desagradáveis que fossem, seriam apenas uma ferramenta para atingir seus fins. O resultado foi a maior catástrofe da história alemã e a maior tragédia bélica da história da humanidade.

A DIREITA TRADICIONAL EM FACE DOS FASCISMOS
Ao longo da história dos fascismos históricos (isso mesmo, fascismos, no plural: conjunto de movimentos antidemocráticos, ultranacionalistas e racistas surgidos desde os anos de 1920, incluindo aí o nazismo, o franquismo, o salazarismo e, claro, o fascismo italiano. Este, por ser o primeiro a fazer sua estreia no cenário europeu, acabará por denominar o conjunto dos movimentos de extrema direita) podemos reconhecer um padrão de relacionamento entre os partidos de Direita [4] tradicionais e constitucionais e as organizações fascistas.

Os grandes partidos da Direita constitucional hoje – como no exemplo clássico dos católicos, dos conservadores e dos liberais em 1933 - assumem uma postura comum: negação de identificação direta e unilateral com os movimentos fascistas. Contudo, mantém uma relação ambígua e “compreensiva” da agenda extremista de cunho fascista. Assumem vários dos temas da agenda fascista – xenofobia, anti-multiculturalismo, anti-Estado Social, luta contra os impostos que incidem sobre ricos e empresas, identificação entre criminalidade e estrangeiros e entre desemprego e imigrantes. Da mesma forma, apoiam uma crítica violenta, cheia de ódio, aos quadros intelectuais e políticos da Esquerda, apontados como traidores da civilização e da raça branca. Por fim, permitem nos seus quadros de base e associações um amplo “intercâmbio” de pessoal com a (sub)cultura politica fascista, em especial no cyberspace e nas suas associações juvenis.

Embora partidos estabelecidos, constitucionais, como os Republicanos, nos EUA; o Likud, em Israel; a CSU/CDU, na Alemanha; o Partido Progressista, na Noruega; a Liga Norte na Itália entre outros, mantenham-se na esfera constitucional, aproveitam-se da pregação de ódio das entidades fascistas para enfraquecer e encurralar os partidos trabalhistas e socialistas, caracterizados como fracos e antinacionais, no limite traidores, como no caso do assassinato de Yitzhak Rabin em 1995 por extremista de direita (no bojo de uma violenta campanha do direitista Likud contra o ex-premiê israelense). Da mesma forma, a violenta campanha do “Tea Party” nos EUA, endossada pelo Partido Republicano, não é estranha a matança de janeiro de 2011 de seis pessoas numa reunião em Tucson do Partido Democrata local. Notem bem: embora a imprensa internacional queira sempre caracterizar tais ataques como produto da “loucura” de um desiquilibrado isolado, os ataques são sempre dirigidos a um alvo político que se opõe à Direita local: contra o líder trabalhista em Israel, contra os democratas em Tucson ou os trabalhistas na Noruega. Até a loucura possui um sentido.

OS FASCISTAS EM FACE DA DIRIETA TRADICIONAL
As entidades fascistas, por sua vez, aproveitam-se do oportunismo dos grandes partidos da Direita constitucional, para ampliar seu “auditório” e para por em debate suas ideias generalistas e equivocadas sobre, por exemplo, desemprego versus imigração ou criminalidade versus estrangeiros.

A crise econômica, desde 2008, teve um papel relevante no acirramento das tensões internas e no debate sobre a distribuição social do ônus das medidas de “salvação” . A maioria dos países avançados – EUA, RU, Espanha, Itália – e os chamados “novos” países capitalistas do leste europeu optaram, após uma paralisia inicial, em “investir” grandes somas de dinheiro público em bancos, seguradoras e montadoras de automóveis para debelar a crise. Assumiam, assim, a responsabilidade do passivo gerado pela má gestão dos negócios, pela especulação e pelas consequências da “bolha imobiliária” ( o chamado “subprime” ). Seguiu-se, então, um abandono seletivo do fundamentalismo liberal: intervenções salvadores em empresas irresponsáveis e o abandono de inúmeros programas sociais ( como educação e saúde na Inglaterra ) e corte nas políticas de crescimento e de emprego ( como na Espanha, Portugal e Grécia ).

Para a grande parte da população, na maioria das vezes sem quaisquer iniciação ou militância política, os estados surgiam como arrecadadores vorazes, injustos e perdulários dos impostos públicos. Haveria uma maior sensibilidade para salvar as grandes empresas e os empregos milionários de gerentes irresponsáveis do que com a garantia do emprego dos trabalhadores contribuintes. Assim, não é de estranhar que uma parcela importante das populações nos países avançados - em especial pequenos empresários, fazendeiros, lojistas e funcionários das empresas privadas ( todos eles contribuintes diretos e indiretos ) se rebelassem contra o Estado “devorador e insensível”. Estes mesmos segmentos sociais voltam sua frustração diretamente contra estrangeiros, muitos deles concorrentes no pequeno comércio ou em empregos menos remunerados, abrindo caminho para a xenofobia e o ódio racial, estopim do processo de fascistização. Campanhas anti-impostos e pelo Estado mínimo – cortando programas das classes trabalhadoras, vistas como privilegiadas nas suas relações com o Estado e ações afirmativas voltadas para minorias – são abraçadas com fervor, em especial pelo” Tea Party”, a Liga Norte, Front National ( França) e o Partido Progressista ( Noruega ).

A LUTA CONTRA O ESTADO SOCIAL
Os partidos da Direita constitucional, no mais das vezes profundamente imbricados com o mundo dos negócios, acabam por ver na crise uma oportunidade para desinvestimentos, cortes de programas sociais e de ajuda humanitária, configurando forte convergência com as associações fascistas. Tais medidas, para além de serem um programa de aprofundamento da recessão – como na Grécia, Espanha e Portugal – implicam em legitimar a plataforma fascista, gerando ainda mais desemprego e mal-estar social.

Os partidos da esquerda constitucional, por sua vez, emparedados entre a crise e as acusações de fraqueza perante a “invasão de estrangeiros” e de ações de antinacionais, vacilam e abrem mão de plataformas progressistas e reformistas, aceitando vergonhosamente ( como em Portugal, Grécia, França ) a distribuição socialmente injusta do ônus da crise econômica gerada pelo fundamentalismo neoliberal. As preocupações com a inflação e o equilíbrio fiscal sobrepõem-se às políticas de emprego e de crescimento econômico. Neste contexto, os partidos de esquerda ficam incapazes de apresentar alternativas nas áreas sociais, mantendo-se exclusivamente no âmbito do debate sobre quem seria o melhor gerente da crise. Da mesma forma, a Esquerda falhou miseravelmente em assumir um papel de condutor, esclarecedor, das razões da crise e dos interesses da sociedade.

No momento em que o neoliberalismo entrava em crise, a Esquerda assumiu a sua gerência. A população revoltada – os “Indignados” - em Atenas, Madrid ou Lisboa, em especial os jovens, não enxergam alternativas viáveis nos grandes partidos socialistas. Numa linguagem gramsciniana, a Esquerda estabelecida renunciou ao seu papel de “Príncipe moderno”.

Foi desta forma, que os pequenos grupos fascistas - imbuídos de raiva, frustração e inveja – emergiram com respostas tão fáceis e diretas quanto incorretas. Apontar para os imigrantes, para os estrangeiros ou para uma conspiração judia mundial era fácil. E, além disso, de grande capacidade de aderência popular.

A MARÉ NEONAZI
Desemprego= a imigração; crise econômica= a estrangeiros; recessão= a dirigismo estatal; carestia= a euro. Tudo simples, direto e sem questionamentos muito complicados. Foi neste contexto que se desenvolveu uma ampla (sub)cultura política fasciscizante: ocupou o cyberspace ( são 12 sítios eletrônicos na Noruega fazendo propaganda nazista! ), as rádios e os temas televisivos cotidianos. Bandas de rock, de tipo “Black Metal”, desenvolveram signos, canções e atitudes neonazi na Alemanha, Inglaterra, Suécia e Noruega. Alusões ao satanismo e ao ocultismo proliferaram, com o uso de runas e de ícones nazistas, como a suástica e a runa “SS” em pretensos cultos que vandalizam cemitérios e antigas igrejas. Em outros casos emergiu um forte neopaganismo, como nos grupos “Viking” sueco e “Vigrid” norueguês, ambos intimamente associado ao grupo de supremacia branca norte-americano “National Alliance”. Na própria Noruega emergiu uma “Sociedade Aasatru” ( denominação da mitologia nórdica), de culto pagão e adoração a runas nazistas. Tais organizações negam a existência histórica do genocídio dos judeus na Segunda Guerra Mundial, falando odiosamente de um “Holocash” – uma impostura judia para arrancar dinheiro dos países germânicos. Ao lado disso, uma velha mentira, como o livro “Protocolos dos Sábios de Sião” foi reeditado e vendido publicamente na Noruega. Em outros casos, como é o caso do atirador Anders Behring Breivik, desenvolveu-se um forte e intolerante fundamentalismo cristão, profundamente anti-muçulmano e anti-socialista. Estes são elementos comuns da cena fascista contemporânea.

Uma temática especial mereceu a atenção dos novos fascistas: a revisão positivada dos fascismos históricos, recuperando uma memória construída sobre os imaginados “bons tempos” dos anos de 1930 e da própria ocupação nazista durante a guerra. Ao lado do revisionismo histórico, desenvolveu-se também o negacionismo, a recusa em aceitar o genocídio de judeus, ciganos, doentes mentais, testemunhas de Jeová e gays pelos nazistas. Isso já havia acontecido entre 1991 e 1996, numa primeira vaga revisionista/negacionista. Agora ressurge uma segunda vaga visando passar a Segunda Guerra Mundial à limpo. Na França, Itália, Alemanha, Espanha, Noruega e Suécia vários grupos buscam negar a realidade histórica do holocausto e reabilitar os velhos fascistas nacionais, como é o objetivo do pretenso “Norwegian Occupation History Institute”.

Ao mesmo tempo políticos, intelectuais e celebridades – como Jorg Haider[5] , Gian Franco Fini [6], o estilista John Galliano e o cineasta Lars von Trier – fazem declarações desculpando e “entendendo” personagens como Mussolini e Hitler, numa clara banalização da maior tragédia da história contemporânea.

Os governos europeus, e os EUA, por sua vez, fecham os olhos frente a contínua fascistização das instituições do estado liberal, em especial da polícia e das autoridades aeroportuárias. A promiscuidade da grande imprensa, como o império Murdoch ( na Inglaterra, EUA e Austrália ) com as lideranças conservadoras, como o Tea Party nos EUA e a polícia, oculta o montante da maré neonazi. A polícia, sob instigação da “luta antiterrorista” mata inocentes e brutaliza oponentes antifascistas, como na Inglaterra, França e Espanha. Nos estádios de futebol multiplicam-se as manifestações abertamente racistas contra atletas negros e árabes, tudo isso em face da leniência das autoridades e das instituições ditas culturais e esportivas.
É a multiplicação dos microfascismos no interior do próprio estado liberal.
Mais uma vez a sociedade e o estado comportam-se como Franz von Papen e seus seguidores católicos, conservadores e liberais. Negam-se a ver a ameaça nazista que bate à porta. Com estrondo.

NOTAS
[1] Devo a inspiração desse título ao livro “Lucifer ante portas”, de Rudolf Dihls (Interverlag, Zurique, 1950), “Oberführer” da Gestapo entre 1933 e 1934, quando então se afasta do nazismo.

[2] Franz von Papen ( 1879-1969 ) político reacionário alemão, membro do primeiro gabinete de Hitler e político que viabilizou o governo de Hitler junto aos empresários e militares alemães.

[3] Hjalmar Schacht ( 1877-1970) político, banqueiro e empresário alemão responsável pela adminsitração financeira no gabinete Hitler.

[4] Embora se fale muito no fim das oposições “direita versus esquerda” continuo achando válida, e mesmo imprescindivel, a díade. Utilizo aqui as noções de “esquerda” e de “direita” conforme proposta de Norberto Bobbio no livro “Direita e esquerda: razões de uma diferença” ( São Paulo, Edusp, 1999 ).

[5] Jorg Haider ( 1950-2008), lider do abertamente fascista partido FPÖ ( Partido Austríaco da Liberdade ).

[6] Gianfranco Fini ( 1952) lider do partido dito pós-fascista italiano Aliança Nacional e depois ministro de Berlusconi no Partido Povo da Liberdade.

(*) Professor de Relações Internacionais/UFRJ.

Diario da Nova China (4) Ler em Beijing

Quem vier à China e não se surpreender, está preocupantemente perdendo a capacidade de ver a realidade, se problematizar com ela e aprender dela. Do bom, do ruim e do difícil de assimilar e compreender. Quem não sair da China com a mente mais aberta e se perguntando mais sobre o mundo contemporâneo, está perdendo a capacidade de captar a realidade no que ela tem de mais representativo, significativo – suas contradições, como motores que a movem.

Trato de ver, com o menos grau de preconceito possível, a China, e transmitir a vocês algumas dessas observações. Pretendo, no final, fazer um twitcam e escrever algo mais abrangente. Estou mandando este Diário e algumas mensagens pelo Facebook e pelo Twitter, contornando os bloqueios existentes aqui - que existem também com o Google -, o que faz com que não possa ler os comentários de vocês nesses instrumentos – no blog, sim -, nem as solicitações de ingresso no Facebook, o que eu só poderei processar no meu regresso.

Hoje quero contar o que se pode ler – em inglês, é claro, não tenho condições de relatar o que se pode ler em mandarim – por aqui. As livrarias em línguas estrangeiras são similares às do ocidente, com tudo o que tem ali, inclusive as coisas muito ruins: as listas de best-seller são iguais às daí.

Existe um Time Out, como nas grandes cidades europeias e dos EUA, com os programas culturais de Beijing, mas com uma edição mensal e não semanal. Toda a programação cultural da cidade está ali: cinemas, teatros, exposições, etc. Inclusive tudo o que acontece no espetacular e surpreendente bairro chamado 9 7 8, porque antes ali havia ali um complexo industrial ligado à segurança chinesa, de que ainda sobram pedaços. Mas o espaço se transformou num belíssimo lugar de ateliês de arte a mais avançada do mundo contemporâneo, de exposições e galerias, de bares com música – muita musica brasileira, especialmente bossa nova, a única presença brasileira que deu pra presenciar por enquanto por aqui, além dos nadadores no campeonato mundial de natação que se realiza em Shanghai -, de lojinhas com produtos muito sofisticados e criativos. Um espaço que não fica nada a dever a espaços similares de Nova York ou Londres, é até bem melhor em vários aspectos, apontando não apenas para a possibilidade de espaços criativos de arte – inclusive com criticas politicas aos processos de mercantilização por que passa a China -, como ensejam um potencial criativo que revela que o país se tornará um país de vanguarda artística no século XXI. Um jornal de noticias culturais, as também politicas, Beijing Today, é distribuído gratuitamente no bairro.

Mas e melhor e mais representativa leitura é a do China Daily (
www.chinadaily.com.cn), um resumo da imprensa chinesa, em uma ótica claramente progressista, nestes dias especialmente centrada na apuração rigorosa das responsabilidades sobre o acidente de trem rápido que levou à morte de 48 pessoas, na luta permanente contra a corrupção e a contaminação e na defesa dos direitos sociais dos trabalhadores.

No numero de 27 de julho,ontem, por exemplo, havia matérias significativas (que podem ser consultadas no endereço que mencionei acima). Os familiares das vitimas do choque de trens reclamavam do governo, mais do que indenização, definir os responsáveis pela tragédia. Dois vice-ministros foram demitidos, mas a apuração segue, incentivada pelo próprio primeiro ministro. Um artigo aproveitava para questionar as prioridades: se um transporte mais rápido ou mais seguro, se uma sociedade melhor equipada tecnologicamente ou com mais direitos para as pessoas.

Outra matéria relatava os casos de corruptos extraditados, grande parte dos quais funcionários do Banco Central ou da Alfandega, que outra transferia dinheiro para uma conta no exterior, depois saia do pais e não retornava ou, funcionários da Alfandega, que ganhava dinheiro para facilitar a importação ilegal de mercadorias. São citados com alarde os casos de extradição, com destaque para o mais recente, que foi reenviado pelo Canadá.

Um artigo cita um livro de um chinês que combateu na guerra da Coréia, foi prisioneiro de guerra, e quando retornou ao pais, sob suspeita de ter colaborado com o inimigo, foi preso. Defende-se seus direitos e se ataca a visão – chamada de ultra-esquerdista – de desconfiança em relação aos que defenderam os interesses nacionais na guerra e foram vitimas do inimigo.

Aborda-se casos de contaminação ambiental, de injustiças sociais – com boa seção de carta de leitores – e se publica editorial sobre a supremacia dos critérios tecnológicos sobre os humanos.

Varias outras matérias de interesse discutem a natureza do sistema politico chinês, o lugar da China no mundo, a crise capitalista e como a China tem contornado esse problema.

Em suma, quem quiser ter uma visão mais real do que se lê na China, deve dar uma olhada no China Daily. ´

Emir Sader

O QUE AINDA FALTA PARA CONTER A ESPECULAÇÃO CAMBIAL?

A  decisão mais contundente do pacote cambial anunciado 4º feira pelo governo ficou um tanto escondida por configurar, ainda, apenas uma possibilidade. A Medida Provisória 539 dá ao Conselho Monetário Nacional a prerrogativa de, a qualquer momento, exigir que os especuladores do mercado futuro de dólar elevem a margem relativa ao valor das apostas. Ou seja, façam depósitos em dinheiro vivo proporcionalmente  maiores que os percentuais vigentes. A roleta do mercado futuro de câmbio gira diariamente mais de US$ 15 bilhões, cerca de dez vezes o volume físico de dólar negociado no país. Exerce assim um poder desproporcional sobre as cotações pelas facilidades intrínsecas à operação. O especulador só precisa depositar 8% do valor da aposta, o que lhe dá enorme poder de 'alavancagem': com menos de US$ 1 milhão, pode reunir contratos de US$ 10 milhões --multiplicando por 10 os ganhos com eventual queda do dólar. Esse cassino atrai capitais especulativos que ganham ainda a diferença de juros, o 'carry trade' que consiste em tomar empréstimo a juro zero lá fora e aplicar aqui a uma taxa real de 6,8%, a maior do planeta. Esse, na verdade, é o grande vilão da taxa de câmbio, que transforma a economia nma esponja, com dólares que enram por todos os poros em busca de rentabilidade sem igual num mudo mergulhado em recessão e inundado de liquidez.O pacote cambial ergue a comporta do dique e dá ao governo, ao Conselho Monetário, o poder de manejar para cima o mecanismo quando for o caso.Mas não ataca o vertedouri inclinado cos juros que desloca massas descomunais de dinheiro especulativo para a economia. É difícil separar o joio do trigo nesse aluvião em que especuladores e tesourarias de bancos e empresas --inclusive nacionais-- muitas vezes se confundem. O conjunto forma uma avalanche que barateia o dólar e impulsiona as importações com dois efeitos contraditórios: arrefece a inflação com o ingresso de mercadoria barata, mas transfere emprego e produção para o exterior.É um corner estratégico para o qual não existe resposta estritamente técnica. No fundo trata-se de escolher a sociedade que se quer construir no Brasil. A desordem cambial reflete um desarranjo mais amplo nos preços básicos da economia --entre os quais a taxa de juros se sobressai como um aspirador que suga recursos ao rentismo, em detrimento de outras prioridades. Reordenar essa equação requer uma negociação política mais ampla. O governo teme que uma redução abrupta do fluxo de dólares, decorrente de um efetivo controle cambial, por exemplo, encareça subitamente as importações, prejudicando o controle da inflação. O risco existe. Mas existe também alternativa: uma repactuação política das bases do crescimento, coisa complexa, mas talvez menos cabuloso do que controlar caso a caso a esponja da especulaçã cambial. Mantida a equação ortodoxa continua o jogo de gato e rato entre o governo e a esperteza dos especuladores.  Com a palavra, sindicatos, partidos e movimentos sociais.
(Carta Maior; 5º feira, 28/07/ 2011)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O jornalismo industrial-militar de Murdoch

 

Blair telefonou para Murdoch repetidas vezes antes de comprometer as tropas britânicas na guerra do Iraque, em 2003, a qual foi fortemente apoiada pelos jornais de Murdoch em todo o mundo. Isso aumenta esse escândalo milhões de vezes. Temos um chefe de estado democraticamente eleito articulando com seu benfeitor secreto para trazer a guerra ao planeta. Este é o jornalismo industrial-militar, é o conluio na guerra para fazer dinheiro. Esse escândalo não é sobre Murdoch, mas sobre todos os que praticam o jornalismo. É hora de nos perguntarmos: de quem, afinal, somos aliados? O artigo é de Robert Koehler.

De repente ficou claro para todo mundo. Grampear o celular de uma adolescente desaparecida? Deletar chamadas, interferir na busca desesperada por seu paradeiro?

Fazer grampo de telefones das vítimas de terrorismo, de soldados mortos? Que tipo de cultura de sala de redação poderia valorizar fofocas sobre a intimidade das pessoas, obtidas de modo tão indefensável e lamentável? Que tipo de organização chamaria a isto de “notícias”? Mesmo aqueles dentre nós que há muito se enojam com a marca Murdoch tiveram seu momento de choque diante desta notícia, deixando o cinismo de lado e cedendo. Parece que alguma coisa se mostrou aberta e exposta, à medida que os detalhes vinham à tona: não apenas a falta de ética, mas uma destituição ética absoluta em seu desprezo por nossas vidas. E esse desrespeito é o fundamento de um império midiático. Murdoch não é somente um traficante sórdido. É uma das pessoas mais ricas e poderosas no planeta – e tem uma agenda política que lhe importa mais, eu imagino, do que um bilhão qualquer em dinheiro, aqui ou ali.

A silenciosa virulência de sua influência nos acontecimentos públicos, mais do que manchetes sensacionalistas e escândalos e o comércio da calúnia que inflige sobre nós é minha verdadeira preocupação.

Tão grande como Murdoch é nos EUA, com sua rede de propaganda de direita Fox News, ele é na Grã Bretanha, onde é mais poderoso que a família real. “Ele é frequentemente referido como o membro permanente do país no Gabinete [do Primeiro Ministro]”, escreveu Beth Fouhy recentemente para a Associated Press. Desde a época de Margareth Tatcher ele tem sido o poderoso chefão dos primeiro ministros britânicos, capaz de lhes oferecer coisas que estes não puderam recusar. Quando o escândalo dos grampos foi jogado no ventilador, David Cameron, o atual primeiro ministro, vem lutando para desligar sua imagem da de Murdoch.

Mas não há escapatória para o fato de que o ex-porta voz de Cameron, Andy Coulson, foi editor de jornalismo do jornal News of the World antes de se juntar à equipe do primeiro ministro e uma das 10 pessoas presas no caso. Eu não sei se o império de Murdoch, a News Corp, emergirá do escândalo intacta e virulenta como nunca ou se terá de ser renomeada para News Corpse [cadáver] (pode-se apenas torcer para que isso ocorra). Mas a explosão de suas operações é um momento chocante o suficiente para nos ensinar, uma chance para se repensar o papel dos jornalistas e o sentido das notícias.

Como ponto de partida, eu situo lado a lado os dois extremos da exagerada influência de Murdoch em nossas vidas, nossos políticos e nossas ideias a respeito de nós mesmos. O que deu origem ao escândalo foi a revelação, pelo repórter do Guardian, Nick Davies, de que funcionários do News of the World tinham grampeado o telefone de Milly Dowler, uma menina de 13 anos que foi sequestrada próximo de Londres, na volta para casa da escola, em 2002. Meses depois, seu corpo foi descoberto; ela teria sido assassinada. Antes dessa descoberta, quando só havia o temor insuportável e a esperança louca dos familiares e amigos de Milly, os subordinados de Murdoch minaram a tragédia, valorizando seu aspecto sexual, futricando as pitadas de “interesse humano” para ostentar em seu jornal.

Este é o jornalismo completamente devotado à compaixão humana – jornalismo, eu diria, do lado errado da raça humana. A coisa tem interesse zero em contribuir para uma sociedade informada ou para criar coesão social. É junk food tóxica, um tipo bizarro de “reality” show de abastecimento dos expectadores entediados e isolados, com nenhum outro propósito que mantê-los consumindo o produto. Isso tornou Murdoch rico além da conta. Eis aqui o outro extremo: da história de Fouhy, da AP, descrevendo a influência de Murdoch na política britânica: “Murdoch teria mudado sua relação de apoio a Tony Blair, o Primeiro Ministro de 1997 a 2007. Blair telefonou para Murdoch repetidas vezes antes de comprometer as tropas britânicas na guerra do Iraque, em 2003, a qual foi fortemente apoiada pelos jornais de Murdoch em todo o mundo”. Para mim, isso aumenta esse escândalo milhões de vezes. Aqui está um chefe de estado democraticamente eleito articulando com seu benfeitor secreto para trazer a guerra ao planeta.

Este é o jornalismo industrial-militar, é o conluio na guerra para fazer dinheiro, manipulando políticos de acordo com o seu interesse no fortalecimento de seu sucesso financeiro, ao espalhar a sordidez. O vazio ético de Murdoch não é limitado por seu império midiático trash. Ele é um player na paz e na guerra. Esse é um jornalismo fora de controle – o oposto exato da ideia de minha profissão. Em vez de manter uma relação adversária frente ao poder e representar os interesses daqueles de fora da sua esfera, mantém uma relação adversária com a humanidade. No Mundo de Murdoch, somos todos abstrações, quer tenhamos um nome (Milly Dowler) ou meramente uma marca de identificação massiva (os iraquianos). O jornalismo pode se dirigir ao poder, tornar-se seu cachorrinho e até, como as revelações da News Corpse tem demonstrado, tornar-se o próprio poder, um ditador por trás das cenas ou dos acontecimentos, manipulando o mundo segundo os seus próprios interesses.

Mas os verdadeiros jornalistas espalham o poder ao dizerem a verdade, como Davies e o The Guardian tomaram a frente nas revelações sobre o News of the World. Esse escândalo, finalmente, não é sobre Murdoch, mas sobre todos os que praticam o ofício do jornalismo. Chegou o momento de nos perguntarmos: de quem, afinal, somos aliados?
(*) Robert Koehler é um jornalista e escritor, de Chicago.

Tradução: Katarina Peixoto