quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O jornalismo da obediência

Por Genaldo de Melo

“Não basta ser inteligente, é preciso ter caráter”

B. Grácian

Sempre compreendi o ato de fazer jornalismo como a forma mais coerente e normal de apresentar os fatos da sociedade como realmente eles são. O contrário disso, não pode ser considerado em hipótese alguma jornalismo. No mínimo o ato de formar opinião com mentiras é um ato criminoso, que deveria ser investigado e punido de conformidade com a lei. Bem que, no máximo pode até ser considerado como o ato puro e simples de fazer política em nome de pequenos grupos de interesses conservadores da sociedade, no sentido mais estrito da palavra. Porque também não considero que haja jornalista que seja totalmente independente, pois todos eles trabalham para tablóides que são naturalmente também comerciais ou políticos.

O que estou fazendo nesse exato momento em que escrevo este texto, tenho certeza absoluta que não é crime, não é política, mas é sim um pouco de jornalismo crítico em relação ao próprio jornalismo feito por indivíduos que são empregados e assalariados  normais, como qualquer outro trabalhador brasileiro que recebe naturalmente ordens, e portanto são delegados para tanto. É denúncia mesmo contra o mau jornalismo, aquele de araque e de interesses de uma pequena minoria conservadora desse país!

Na prática o discurso oficial de alguns meios de comunicação hoje no Brasil, principalmente aquele feito nos finais de semana, é que quando se faz qualquer tipo de denúncia com premissas falsas e mentirosas, isso é jornalismo. Quando se discute a democratização dos meios de comunicação, bem como o mínimo de regulação, isso é autoritarismo de Estado. Ora, mentir pode em nome da política para os poucos, mas fazer valer a verdade é coisa de ditadores. Pelo amor de Deus...!

O mau jornalismo do denuncismo pelo denuncismo deveria avaliar melhor seu papel e sua responsabilidade como agente de informação e comunicação social dos fatos sociais. O ente mais atingido hoje não é o Governo, mas sim o Estado que sempre paralisa para que algum de seus membros tenha que dá explicações, que muitas vezes não se revestem da verdade. E em muitos dos casos não se tem nem mesmo tempo para explicações, porque já surge outra denúncia. Ou seja, é mais importante ocupar as mentes com denúncias sensacionalistas do que com a informação propriamente dita daquilo que de fato interessa ao povo brasileiro.

Vejam o que está acontecendo com um dos tablóides que já foi um mais lidos da Argentina, o “Clarín”. Está indo para a bancarrota e para o descrédito da sociedade argentina pelo simples fato de somente fazer política contra a Cristina. Foi mais de 350 capas sensacionalistas contra um Governo, que sempre teve aprovação da maioria do povo, um fato normal em qualquer democracia. Perdeu a oportunidade nos últimos anos de no mínimo demonstrar também o lado positivo do Governo Argentino, para demonizar em todos os momentos o papel do Governo. Justamente por praticar tanto tempo o mau jornalismo, talvez o povo daquele país deu uma resposta à altura. O povo deu uma resposta de grande valor simbólico, elegeu Cristina de um modo esmagador nas últimas eleições presidenciais. Tenha pena gente...!

Agora ficamos do lado de cá nós como se fôssemos fracos, obedientes à informações das sete grandes famílias brasileiras que coordenam o setor midiático, os grandes sábios formadores de opinião no Brasil. Até quando?

Occupy Wall Street: quatro etapas e um desafio

 Por Immanuel Wallerestein - OPera Mundi

O movimento Occupy Wall Street – por enquanto, é um movimento – é o acontecimento político mais importante nos Estados Unidos desde as rebeliões de 1968, das quais é descendente ou continuação direta.

Por que começou nos Estados Unidos em dado momento – e não três dias, três meses, três anos antes ou depois –, jamais saberemos ao certo. As condições estavam dadas: crescimento agudo do desastre econômico, não só para os realmente acometidos pela pobreza mas também para um segmento cada vez mais vasto dos trabalhadores pobres; incríveis exageros (exploração, ganância) do 1% mais rico da população americana (“Wall Street”); o exemplo de iradas rebeliões ao redor do mundo (a “Primavera Árabe”, os indignados espanhóis, os estudantes chilenos, os sindicatos de Wisconsin e mais uma longa lista). Não importa tanto qual fagulha acendeu a fogueira. Ela foi acesa.

Na primeira etapa – os dias iniciais –, o movimento resumia-se a um punhado de pessoas audaciosas, e na maioria jovens, procurando se manifestar. A imprensa ignorou-as completamente. Até que alguns chefes de polícia imbecis acharam que um pouco de brutalidade acabaria com as manifestações. Acabaram capturados por filmagens e as filmagens infestaram o YouTube.

O que nos leva à segunda etapa – a publicidade. A imprensa não pode mais ignorar totalmente as manifestações. Então, tentou ser condescendente. O que esses tolos e ignorantes jovens (e uma e outra mulher mais velha) sabiam de economia? Será que tinham algum programa positivo? Eram “disciplinados”? Fomos informados de que logo as manifestações iriam minguar. O que não era esperado pela imprensa e pelos poderes correntes (parece que eles nunca aprendem) é que o tema do protesto ressoaria de maneira ampla e rapidamente se popularizaria.

De cidade em cidade, “ocupações” similares foram iniciadas. Cinquentões desempregados começaram a aderir. Celebridades fizeram o mesmo. O mesmo para sindicatos, inclusive ninguém menos que o presidente da AFL-CIO (Federação Americana do Trabalho e Congresso de Organizações Industriais). A imprensa de fora dos Estados Unidos começava a cobrir os eventos. Questionados sobre o que queriam, os manifestantes respondiam: “justiça”. Esta começava a parecer uma resposta significativa para mais e mais pessoas.

Vem então a terceira etapa – a legitimidade. Acadêmicos de certa reputação passaram a sugerir que o ataque a “Wall Street” possuía alguma justificação. Repentinamente, a principal voz da respeitabilidade centrista, o New York Times, rodou em 8 de outubro um editorial dizendo que os protestantes tinham realmente “uma mensagem clara e preceitos políticos específicos”, e que o movimento era “mais que uma revolta de juventude.” O Times prosseguia: “Desigualdade extrema é a marca de uma economia disfuncional, dominada por um setor financeiro guiado em grande parte por especulação, trapaça e amparo governamental, tanto quanto por investimentos produtivos.” Linguagem pesada para o Times. Em seguida, o comitê de campanha democrata no Congresso passou a circular uma petição solicitando aos adeptos do partido que declarassem: “Estou com os protestos do Occupy Wall Street”.

O movimento tornara-se respeitável. E com a respeitabilidade veio o perigo – quarta etapa. Um grande movimento de protesto, ao se popularizar, costuma enfrentar duas grandes ameaças. Uma é a organização de significativa contramanifestação de direita nas ruas. Com efeito, Eric Cantor, o linha-dura (e muito astuto) líder republicano no Congresso, já foi convocado. Tais contramanifestações podem ser bastante ferozes. O Occupy Wall Street precisa estar preparado para isso e cogitar a maneira como pretende dominar ou neutralizar a eventual contra-ofensiva.

Mas a segunda e maior ameaça vem do sucesso genuíno do movimento. Conforme ganha mais apoio, ele amplia a diversidade de opiniões entre os manifestantes ativos. O problema aqui, como sempre, é como evitar ao mesmo tempo Cila e Caribdis¹. Impedir que Occupy Wall Street torne-se um culto para poucos, que seria levado à derrota por ter bases muito limitadas; ou que, no esforço para atrair mais gente, o movimento perca coerência. Não há fórmula simples para manter-se afastado de ambos os extremos. É difícil. 

Quanto ao futuro, pode ser que o movimento tenha força em momentos específicos. De duas coisas ele pode ser capaz. Forçar uma revisão rápida das medidas reais do governo para minimizar a dor aguda que pessoas estão obviamente sentindo. E transformar, a longo prazo, a visão de largos segmentos da população norte-americana sobre as realidades da crise estrutural do capitalismo e as grandes transformações geopolíticas que estão ocorrendo, por vivermos hoje em um mundo multipolar.

Mesmo que o Occupy Wall Street venha a se esgotar por exaustão ou repressão, ele já terá sido bem-sucedido e deixará um legado duradouro, assim como ocorreu com as revoltas de 1968. Os Estados Unidos terão mudado, e em sentido positivo. Como diz o ditado, “Roma não foi feita em um dia”. Construir uma ordem mundial nova e melhor; e um país novo e melhor, são tarefas que requerem esforço contínuo de várias gerações. Mas um outro mundo é de fato possível (embora não inevitável). E nós podemos fazer a diferença. Occupy Wall Street está fazendo a diferença – uma grande diferença.

1. Referência à mitologia grega. Cila e Caribdis são monstros poderosos e vorazes, que habitam rochedos opostos, às margens de um estreito. A distância entre eles é inferior ao alcance de uma seta. Por isso, os navegantes precisam de grande destreza para não se aproximar nem de um, nem de outro lado. Referência, na vida social, às situações em que duas posições extremas, e opostos, são igualmente desastrosas.

Tradução: Paulo Cezar de Mello
Artigo publicado originalmente no Outras Palavras

Das guerras do ópio às guerras do petróleo

Por Domenico Losurdo

O domínio imperialista na seqüência das guerras do ópio. "A morte de Kadafi é uma viragem histórica", proclamam em coro os dirigentes da OTAN e do Ocidente, sem se incomodarem sequer em guardar distâncias em relação ao bárbaro assassinato do líder líbio e das mentiras desavergonhadas que proferiram os chefes dos "rebeldes". Sim, efetivamente trata-se de uma viragem. Mas para entender o significado da guerra contra a Líbia no âmbito do colonialismo é preciso partir de longe...

Quando em 1840 os navios de guerra ingleses surgem diante das costas e das cidades chinesas, os agressores dispõem de um poder de fogo de milhares de canhões e podem semear destruição e morte em grande escala sem temer a artilharia inimiga, cujo alcance é muito reduzido. É o triunfo da política das canhoneiras: o grande país asiático e sua civilização milenar são obrigados a render-se e começa o que a historiografia chinesa denomina acertadamente como "o século das humilhações", que termina em 1949 com a chegada ao poder do Partido Comunista e de Mao Zedong.

Nos nossos dias, a chamada Revolution in Military Affairs (RMA) criou em muitos países do Terceiro Mundo uma situação parecida com a que a China enfrentou no seu tempo. Durante a guerra contra a Líbia de Kadafi, a OTAN pôde consumar tranquilamente milhares de bombardeamentos e não só não sofreu baixas como sequer correu o risco de sofrê-las. Neste sentido a força militar da OTAN, mais do que um exército tradicional, parece-se a um pelotão de execução. Assim, a execução final de Kadafi, mais do que um fato causal ou acidental, revela o sentido profundo da operação em conjunto.

É algo palpável: a renovada desproporção tecnológica e militar reaviva as ambições e as tentações colonialistas de um Ocidente que, a julgar pela exaltada autoconsciência e falsa consciência que continua a ostentar, nega-se a saldar contas com a sua história. E não se trata só de aviões, navios de guerra e satélites. Ainda é mais clara a vantagem com que Washington e seus aliados podem contar em capacidade de bombardeamento mediático. Também nisto a "intervenção humanitária" contra a Líbia é um exemplo de manual: a guerra civil (desencadeada, entre outras coisas, graças ao trabalho prolongado de agentes e unidades militares ocidentais e no decorrer da qual os chamados "rebeldes" podiam dispor desde o princípio até de aviões) apresentou-se como uma matança perpetrada pelo poder contra uma população civil indefesa. Em contrapartida, os bombardeamentos da OTAN que até o fim assolaram a Sirte assediada, faminta, sem água nem medicamentos, foram apresentados como operações humanitárias a favor da população civil da Líbia!

Hoje em dia este trabalho de manipulação, além de contar com os meios de informação tradicionais de informação e desinformação, vale-se de uma revolução tecnológica que completa a Revolution in Military Affairs. Como expliquei em intervenções e artigos anteriores, são autores e órgãos de imprensa ocidentais próximos ao Departamento de Estado os que celebram que o arsenal dos EUA se enriqueceu com novos e formidáveis instrumentos de guerra. São jornais ocidentais e de comprovada fé ocidental que contam, sem nenhum sentido crítico, que no decorrer das "guerras internet" a manipulação e a mentira, assim como a instigação à violência de minorias étnicas e religiosas, também mediante a manipulação e a mentira, estão na ordem do dia. É o que está a acontecer na Síria contra um grupo dirigente mais acossado do que nunca por haver resistido às pressões e intimidações ocidentais e se ter negado a capitular diante de Israel e a trair a resistência palestina.

Mas voltemos à primeira guerra do ópio, que termina em 1842 com o Tratado de Nanquim. É o primeiro dos "tratados desiguais", ou seja, imposto com as canhoneiras. No ano seguinte chega à vez dos Estados Unidos. Também envia canhoneiras para arrancar o mesmo resultado que a Grã-Bretanha e inclusive algo mais. O tratado de Wahghia (nas proximidades de Macau) de 1843 sanciona o privilégio da extraterritorialidade para os cidadãos estado-unidenses residentes na China: mesmo que cometam delitos comuns, subtraem-se à jurisdição chinesa. O privilégio da extraterritorialidade, evidentemente, não é recíproco, não vale para os cidadãos chineses residentes nos Estados Unidos. Uma coisa são os povos colonizados e outra muito diferente a raça dos senhores. Nos anos e décadas posteriores, o privilégio da extraterritorialidade amplia-se aos chineses que "dissidem" da religião e da cultura do seu país e convertem-se ao cristianismo (com o que teoricamente passam a ser cidadãos honorários da república norte-americana e do Ocidente em geral).

Também nos nossos dias o duplo critério da legalidade e da jurisdição é um elemento essencial do colonialismo: os "dissidentes", ou seja, os que se convertem à religião dos direitos humanos tal como é proclamada de Washington a Bruxelas, os Quisling potenciais ao serviço dos agressores, são galardoados com o prêmio Nobel e outros prêmios parecidos depois de o Ocidente ter desencadeado uma campanha desaforada para subtrair os premiados à jurisdição do seu país de residência, campanha reforçada com embargos e ameaça de embargo e de "intervenção humanitária".

O duplo critério da legalidade e da jurisdição alcança suas cotas mais altas com a intervenção do Tribunal Penal Internacional (TPI). Os cidadãos estado-unidenses e os soldados e mercenários de faixas e estrelas espalhados por todo o mundo ficam e devem ficar fora da sua jurisdição. Recentemente a imprensa internacional revelou que os Estados Unidos estão dispostos a vetar a admissão da Palestina na ONU, entre outras coisas, para impedir que a Palestina possa denunciar Israel perante o TPI: seja como for, na prática quando não na teoria, deve ficar claro para todo o mundo que só os povos colonizados podem ser processados e condenados. A seqüência temporal é em si mesma eloqüente. 1999: apesar de não haver obtido autorização da ONU, a NATO começa a bombardear a Jugoslávia; pouco depois, sem perda de tempo, o TPI tratar de incriminar não os agressores e responsáveis da ruptura da ordem jurídica internacional estabelecida após a II Guerra Mundial e sim Milosevic. 2011: violentando o mandato da ONU, longe de se preocupar com o destino dos civis, a OTAN recorre a todos os meios para impor a mudança de regime e ganhar o controle da Líbia. Seguindo uma pauta já ensaiada, o TPI trata de incriminar Kadafi. O chamado Tribunal Penal Internacional é uma espécie de apêndice judicial do pelotão de execução da OTAN. Poder-se-ia dizer inclusive que os magistrados de Haia são como padres que, sem perder tempo a consolar a vítima, esmeram-se diretamente em legitimar e consagrar o verdugo.

Uma última observação. Com a guerra contra a Líbia, perfilou-se numa nova divisão do trabalho no âmbito do imperialismo. As grandes potências coloniais tradicionais, como a Inglaterra e a França, valendo-se do decisivo apoio político e militar de Washington, centram-se no Médio Oriente e na África, ao passo que os Estados Unidos deslocam cada vez mais seu dispositivo militar para a Ásia. E assim voltamos à China. Depois de haver deixado para trás o século de humilhações que começou com as guerras do ópio, os dirigentes comunistas sabem que seria insensato e criminoso faltar pela segunda vez ao encontro com a revolução tecnológica e militar: enquanto liberta centenas de milhões de chineses da miséria e da fome a que os havia condenado o colonialismo, o poderoso desenvolvimento econômico do grande país asiático é também uma medida de defesa contra a agressividade permanente do imperialismo. Aqueles que, inclusive na "esquerda", se põem a reboque de Washington e Bruxelas na tarefa de difamação sistemática dos dirigentes chineses demonstram que não se preocupam nem com a melhoria das condições de vida das massas populares nem com a causa da paz e da democracia nas relações internacionais.

O original em italiano e as versões em francês e castelhano encontram-se em http://www.domenicolosurdo.blogspot.com/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info

Henrique Fontana: financiamento público é ponto mais importante

A reunião da Comissão Especial da Reforma Política terminou por volta das 17h30, desta quarta-feira (26), sem a votação do relatório do deputado Henrique Fontana (PT-RS), que propôs modificações para que texto seja aprovado. Para ele, o mais importante é manter o financiamento público de campanhas. O presidente da comissão, deputado Almeida Lima (PMDB-SE), decidiu abrir novo prazo para emendas até o dia 8 de novembro, com previsão para começar a votação no dia seguinte, 9 de novembro.



Fontana apresentou mudanças em relação ao anteprojeto, emendado anteriormente, para substituir o modelo que ele havia proposto, que estabelecia um sistema proporcional misto, onde o eleitor votaria duas vezes nas eleições – uma elegendo um nome e a segunda elegendo um partido.

Mas, por falta de consenso entre os parlamentares sobre a proposta, o relator modificou esse trecho, propondo que o eleitor escolha entre votar especificamente em um nome ou em uma das listas apresentadas pela legendas, ou seja, em um partido.

“Na prática, o sistema permanecerá o mesmo. Hoje, o eleitor pode escolher entre votar em um nome de candidato ou na legenda, e assim continuará sendo com o novo texto”, explicou ao Vermelho Henrique Fontana, relator do projeto da reforma política.

O relator tomou essa decisão para que a tão desejada reforma saia do papel, priorizando o financiamento público exclusivo de campanha. “Abri mão dessa questão (voto proporcional misto) pelo fato que julgo ser mais importante do que isso, que é o financiamento público exclusivo de campanha,para barateá-las e acabar com o financiamento privado, que é um forte gerador de corrupção”, argumentou o deputado petista.

O modelo de votação é conhecido como "lista flexível" ou "sistema belga", e foi adotado, segundo o deputado, em países como Bélgica, Áustria, Suécia e Dinamarca.

Com relação ao fato de ter passado o prazo para que a reforma valesse para as próximas eleições de 2012, que foi dia 7 deste mês, Fontana disse que não está preocupado com isso. “Desde o início venho defendendo uma reforma mais pensada e fortemente debatida, para 2014”, concluiu.

Qual a importância da lista pré-ordenada?


O financiamento público põe fim ao processo de corrupção entre políticos e empresas privadas, que acabam financiando determinados candidatos visando interesses da iniciativa privada, em detrimento do público.

Mas, para que dê certo, é preciso modificar a lista partidária. A bancada do PCdoB defende que é preciso mudar a lista aberta para a pré-ordenada, com alternância de gênero. Atualmente, o sistema eleitoral elege os mais votados pelo eleitor, deixando de fora alguns nomes importantes da instituição. Já a pré-ordenada proporciona organizar a ordem que os candidatos do partido serão eleitos, independentemente do número de votos recebido. Com isso, os recursos serão divididos igualmente entre os que estão na relação pré-estabelecida.

O sistema de lista aberta pré-ordenada é adotado em países europeus e tem como principal objetivo fortalecer as instituições políticas possibilitando uma redução de custos das campanhas eleitorais, evitando também que candidatos da mesma legenda disputem entre si, além de estimular maior vivência partidária dos filiados e facilitar a atuação de fiscalização da Justiça Eleitoral, estimulando uma maior identidade ideológica das legendas, superando o personalismo da atividade política, que gera outros problemas como clientelismo e coronelismo.

Opinião contrária

O diretor da organização não governamental (ONG) Transparência Brasil, Claudio Abramo, é contra o financiamento público. Abramo não acredita que seja uma solução para o combate à corrupção. Para ele, com a proibição do financiamento privado aumentará as chances de engordar o chamado caixa dois – dinheiro recebido para campanha não declarado aos órgãos de fiscalização competentes.

“Na prática será a proibição do financiamento privado transparente. E isso não vai impedir que seja mantido o financiamento de grupos privados a determinados políticos. Hoje, pelo menos conseguimos acompanhar uma grande parte da verba que entra nas campanhas”, afirmou Abramo, que também é contrário a lista partidária pré-ordenada, que, segundo ele, ajudaria a manter antigos parlamentares a se reelegerem.

No entanto, uma das propostas para aperfeiçoar a elaboração da lista pré-ordenada é que ela possa ser definida em convenções partidárias, com a presença de uma porcentagem mínima de filiados, além da fiscalização da Justiça Eleitoral. Outra proposta é exigir que o candidato tenha um período mínimo de filiação.

Deborah Moreira, da redação do Vermelho

Ministro do Esporte, Orlando Silva, entrega o cargo

“Essa vai ser uma conversa rápida que estão me esperando em casa para cantar os Parabéns”, disse o ministro do Esporte, Orlando Silva, ao anunciar a sua saída do ministério, após reunião com a Presidente Dilma, nesta quarta-feira (26), no Palácio do Planalto. O aniversário a que ele se referia era o da mãe dele. Após o ministro, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo disse que caberá à Presidente da República nomear o sucessor. “O que posso adiantar é que a Presidenta vai resolver isso logo”.


Ele disse que ao examinarem a crise dos últimos dias, decidiu que “nosso Partido não pode ser instrumento de nenhum tipo de ataque ao governo, por isso o resultado da reunião é que a melhor solução é me afastar do governo”, afirmou. A Presidente apoiou a decisão.

E pediu aos jornalistas que continuem acompanhando os fatos para que, em breve espaço de tempo, “possam dedicar as mesmas páginas apresentadas até aqui para mostrar a verdade que está comigo”.

Orlando disse que, afastado do Ministério, poderá defender “com mais ênfase, a minha honra” e que continuará defendendo “o meu governo e o sucesso e o trabalho do Ministério do Esporte”. E também enfatizou a luta em defesa do seu Partido, “que tem uma história tão bonita, que tem mártires e identidade com a luta dos trabalhadores”.

“Hoje completa 12 dias que sofri ataque baixo, vil, baseado em mentiras, que produziu crise política”, avaliou Orlando, justificando a sua saída: “Eu tenho compromisso com governo da Presidente Dilma, o nosso partido participa desse governo, e temos orgulho da orientação política do governo. Somos entusiastas da condução firme da presidenta Dilma na grave crise internacional”, afirmou.

As mesmas palavras foram ditas pelo presidente do Partido. Renato Rabelo lembrou que “o PCdoB mantém grande intimidade e identidade com a Presidenta Dilma e os rumos desse governo. O partido não está no governo porque caiu de paraquedas, mas por que tem aliança desde o Presidente Lula e com o PT desde 1989, participou de todas as eleições presidenciais e evidentemente contribuímos para a vitória de Lula em 2002, 2006 e para Presidente Dilma em 2010”.

Rabelo defendeu, como fez desde o início, o ministro Orlando Silva, “porque é um ministro honesto, competente, sincero, jovem com grande capacidade. Nada foi provado do que o acusam. Toda acusação foi montada em cima de pessoas desqualificadas”, destacando que “se o país e os partidos verdadeiramente democráticos fossem considerar essa montagem como coisa séria, seria retrocesso para o nosso país”.

Para Renato Rabelo, “o ministro foi bombardeado por calúnia, montagem sórdida”, o que causa muita indignação ao PCdoB, mas que não se intimida. “Não nos intimidamos diante dessas tentativas e manobras para desmoralizarem o Partido, que tem história, fisionomia e ideologia. Não nos intimidamos. Aliás nunca nos intimidamos”, concluiu.

O PCdoB distribuiu nota com a imprensa em que afirma que os comunistas seguem "de cabeça erguida". Leia a íntegra do seu pronunciamento.

Dando seguimento à escalada de tentativas de desestabilização do governo da presidente Dilma Rousseff, desde o último dia 15 o campo político reacionário do país e veículos do monopólio de comunicação desencadearam uma criminosa campanha difamatória contra o ministro Orlando Silva e o Partido Comunista do Brasil.

O PCdoB, neste momento, vem reafirmar a convicção na inocência e integridade de Orlando Silva no exercício da titularidade do Ministério do Esporte. Esta convicção é baseada na ausência absoluta de provas, na fonte desqualificada que o acusa, e na sinceridade e na segurança com que ele sustenta que não há fatos que o incriminem.

Ressaltamos que desde a primeira hora Orlando defendeu com altivez sua honra e dignidade. Demonstrando segurança de que tudo deriva de uma campanha difamatória, de pronto ele solicitou a investigação provocada pelo Procurador-Geral da República junto ao Supremo Tribunal Federal. Além disso, pediu à Polícia Federal e a outros órgãos de controle do Estado uma apuração rigorosa das falsas acusações que lhe foram lançadas. Também abriu mão de seus sigilos telefônico, fiscal, bancário e de correspondência.

É importante assinalar que a gestão de Orlando Silva à frente do Ministério do Esporte elevou esta pasta a outra dimensão. Prova disso é a conquista da realização no Brasil da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Destacam-se, também, as políticas aplicadas e o sucesso que alcançaram tanto em termos de difusão massiva de práticas desportivas, quanto aos recordes alcançados pelo Brasil em competições e o aumento do número de nossos atletas com nível de desempenho internacional, como fica evidente com o desempenho da delegação brasileira nos Jogos Pan-Americanos, no México.

O Partido Comunista do Brasil uma vez mais rechaça os ataques contra sua legenda, igualmente caluniosos e sem provas. Nosso Partido tem 90 anos de história de luta e de heroísmo em defesa do Brasil e da democracia. Nossa legenda tem um perfil ideológico claro e um Programa Socialista que defende o fortalecimento da Nação e uma vida digna para o nosso povo. A verdadeira “caçada” movida contra ele pelo campo político reacionário do país e veículos do monopólio midiático vem do seu fortalecimento crescente na condição de um Partido contemporâneo e revolucionário.

Porém, entendemos que esse ataque não é somente contra a liderança de Orlando Silva e o nosso Partido. O objetivo das forças conservadoras e da grande mídia é golpear o governo da presidente Dilma Rousseff quando ela lidera com êxito o enfrentamento dos efeitos da crise capitalista mundial sobre o Brasil.

O Partido e o companheiro Orlando Silva estão de cabeça erguida e altiva diante desta campanha infame. O tempo e as investigações irão demonstrar que tudo não passa de calúnia. A verdade – estamos convictos – vai prevalecer sobre a mentira. O PCdoB, com a unidade de seu coletivo militante e apoio do povo e dos aliados, reafirma seu compromisso com a luta pelo êxito do governo Dilma na sua missão de conduzir o Brasil à nova etapa de seu desenvolvimento com distribuição de renda e valorização do trabalho.

Brasília, 26 de outubro de 2011.

Renato Rabelo
Presidente do Partido Comunista do Brasil-PCdoB

Queda do ministro serve de alerta

Por Altamiro Borges

O lamentável episódio da queda do ministro Orlando Silva deveria servir de alerta às forças democráticas da sociedade brasileira – que lutaram contra as torturas e assassinatos na ditadura militar e que, hoje, precisam encarar como estratégica a luta contra a ditadura midiática, em defesa da verdadeira liberdade de expressão e da efetiva ampliação da democracia no Brasil.

A mídia hegemônica hoje tem um poder tão descomunal que ela “investiga”, sempre de forma seletiva (blindando seus capachos); tortura (seviciando, inclusive, as famílias das vítimas); usa testemunhas “bandidas” (como um policial preso por corrupção, enriquecimento ilícito e suspeito de assassinato); julga (sem dar espaço aos “acusados”); condena (como nos tribunais nazistas); e fuzila!


Um pragmatismo covarde e suicida

Ninguém está imune ao poder ditatorial da mídia, controlada por sete famílias – Marinho (Globo), Macedo (Record), Saad (Band), Abravanel (SBT), Civita (Abril), Frias (Folha) e Mesquita (Estadão). Como o império Murdoch, hoje investigado por seus subornos e escutas ilegais, a mídia nativa é criminosa, mafiosa, sádica e abjeta. Ela manipula informações e deforma comportamentos.

Não dá mais para aceitar passivamente seu poder altamente concentrado, que, como disse o governador Tarso Genro – pena que não tenha agido com esta visão quando ministro da Justiça –, ruma para um “fascismo pós-moderno”. Essa ditadura amedronta e acovarda políticos sem vértebra, pauta a agenda política, difunde os dogmas do “deus-mercado” e criminaliza as lutas sociais.

Três desafios diante da ditadura midiática

Esta ditadura é cruel, sem qualquer escrúpulo ou compaixão. Ela utiliza seus jagunços bem pagos, sob o invólucro de “colunista” e “comentaristas”, para fazer o trabalho sujo. Muitos são agentes do “deus-mercado”, lucram com seus negócios rentistas; outros são adeptos da “massa cheirosa”, das elites arrogantes e burras. Eles fingem ser “neutros”, mas são adoradores da direita fascistóide.

Enquanto não se enfrentar esta ditadura midiática, não haverá avanços na democracia brasileira, na luta dos trabalhadores ou na superação das barbáries capitalistas. Neste enfrentamento, três desafios estão colocados:

1- Não ter qualquer ilusão com a mídia hegemônica; chega de babaquice e servilismo diante da chamada “grande imprensa”;

2- Investir em instrumentos próprios de comunicação. A luta de idéias não é “gasto”, é investimento estratégico;

3- Lutar pela regulação da mídia e por políticas públicas na comunicação, que coíbam o poder fascista do império midiático.

Chega de covardia diante dos fascistas midiáticos

O criminoso episódio da tentativa de invasão do apartamento do ex-ministro José Dirceu num hotel em Brasília parece que serviu de sinal de alerta ao PT. Em seu encontro nacional, o partido aprovou a urgência de um novo marco regulatório da comunicação. Um seminário está previsto para final de novembro. Já no caso da queda Orlando Silva, o clima é de total indignação e revolta.

Que estes trágicos casos sirvam para mostrar que, de fato, a luta pela democratização da comunicação é uma questão estratégica. Não dá mais para se acovardar diante da ditadura da mídia. O governo Dilma precisa ficar esperto. Hoje são ministros depostos; amanhã será o sangramento e a derrota da própria presidenta e do seu projeto, moderado, de mudanças no Brasil.

Superar a choradeira e a defensiva

A esquerda política e social precisa rapidamente definir um plano de ação unitário de enfrentamento à ditadura midiática. As centrais sindicais e os movimentos populares, tão criminalizados em suas lutas, precisam sair da defensiva e da choradeira. Os partidos progressistas também precisam superar seu pragmatismo acovardado. A conjuntura exige respostas altivas e corajosas!

É urgente pressionar o governo Dilma Rousseff, pautado e refém da mídia, a mudar de atitude. Do contrário, não sobrará que defenda a continuidade deste projeto, moderado, de mudanças no Brasil. A direita retornará ao poder, alavancada pela mídia! Aécio Neves, o chefe de censura em Minas Gerais, será presidente! E ACM Neto, o herói da degola de Orlando Silva, será o chefe da Casa Civil!

Deputados voltam a discutir proposta retrógrada de reforma sindical

congresso_nacional_ctb_pec_369Está na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara, nesta quarta-feira (26), a PEC 369/2005, do Poder Executivo, sobre a reforma sindical no país. O relator, deputado Moreira Mendes (PPS-RO), apresentou em tempo recorde (pouco mais de 30 dias) um parecer pela admissibilidade da matéria, que já havia sido rechaçada há seis anos no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho (FNT).

O projeto tem a pretensão de promover uma ampla reforma na legislação sindical, que altera os artigos 8º, 11 e 37 da Constituição Federal. Joílson Cardoso, secretário de Política Sindical e Relações Institucionais da CTB, define como “famigerada” a referida Proposta de Emenda à Constituição, pelo seu teor anticlassista e pelos riscos que ela pode representar ao sindicalismo combativo no país.

Entre os principais objetivos daqueles que apóiam a PEC 369 está o fim da unicidade sindical e da contribuição sindical no país. Além disso, seu texto também abriria brechas para uma reforma trabalhista que significaria a perda de direitos históricos conquistados pelos trabalhadores.

“Trata-se de uma proposta que abre uma fenda de reforma trabalhista no país, ao colocar uma supremacia do negociado sobre o legislado – algo que não aceitamos”, destaca Joílson Cardoso, que estará em Brasília nesta quarta-feira (26), ao lado do presidente da CTB, Wagner Gomes, para discutir o conteúdo da PEC 369 e suas implicações.

Risco de retrocesso

As principais discussões em torno da PEC 369 ocorreram no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho (FNT), lançado pelo governo Lula em maio de 2003 e constituído por 21 representantes de trabalhadores, 21 de grandes empresários, 21 do governo e nove representantes de micro e pequenas empresas. Na época, seu conteúdo foi contestado principalmente pelos sindicalistas pertencentes à Corrente Sindical Classista e ao Sindicalismo Socialista Brasileiro (hoje partes integrantes da CTB).

João Batista Lemos, secretário adjunto de Relações Internacionais e um dos principais lideres da CSC na época em que a PEC 369 foi discutida no FNT, qualifica a proposta como um retrocesso. Ele ressalta que existe a necessidade de atualizar a legislação brasileira às novas características do mundo do trabalho, mas não a partir de artifícios que permitam, por exemplo, o pluralismo sindical.

“A proposta contida nessa PEC, pela qual os sindicatos representariam apenas os trabalhadores associados às organizações, quebraria um dos pilares de nossa legislação sindical, que é a universalização da representação”, argumenta Batista, que também ataca a possibilidade de existir concorrência entre organizações sindicais distintas de uma mesma categoria, em um mesmo município.

Joílson Cardoso recorda que a PEC 369 não é consenso nem mesmo no interior de outras centrais sindicais. Se aprovada, o dirigente prevê “a quebra da unidade e a mudança radical do sistema organizativo sindical brasileiro, modelo que não deve a nenhum outro do mundo”.

Além disso, o Cardoso entende que o fim da unicidade cairia como uma bomba no movimento sindical de trabalhadores rurais do Brasil, pela possibilidade do pluralismo sindical. “No campo, com certeza o latifúndio iria criar seus sindicatos”, pondera.

Para Batista, o atual momento de correlação de forças na sociedade brasileira e mundial, com a ofensiva do capital financeiro, exige um novo projeto nacional de desenvolvimento que tenha como alicerce a valorização do trabalho. “Para isso, precisamos de sindicatos fortes para garantir novos avanços e assegurar os direitos já conquistados”, sustenta o dirigente.

Fernando Damasceno – Portal CTB