segunda-feira, 25 de julho de 2011

O jornalismo industrial-militar de Murdoch

 

Blair telefonou para Murdoch repetidas vezes antes de comprometer as tropas britânicas na guerra do Iraque, em 2003, a qual foi fortemente apoiada pelos jornais de Murdoch em todo o mundo. Isso aumenta esse escândalo milhões de vezes. Temos um chefe de estado democraticamente eleito articulando com seu benfeitor secreto para trazer a guerra ao planeta. Este é o jornalismo industrial-militar, é o conluio na guerra para fazer dinheiro. Esse escândalo não é sobre Murdoch, mas sobre todos os que praticam o jornalismo. É hora de nos perguntarmos: de quem, afinal, somos aliados? O artigo é de Robert Koehler.

De repente ficou claro para todo mundo. Grampear o celular de uma adolescente desaparecida? Deletar chamadas, interferir na busca desesperada por seu paradeiro?

Fazer grampo de telefones das vítimas de terrorismo, de soldados mortos? Que tipo de cultura de sala de redação poderia valorizar fofocas sobre a intimidade das pessoas, obtidas de modo tão indefensável e lamentável? Que tipo de organização chamaria a isto de “notícias”? Mesmo aqueles dentre nós que há muito se enojam com a marca Murdoch tiveram seu momento de choque diante desta notícia, deixando o cinismo de lado e cedendo. Parece que alguma coisa se mostrou aberta e exposta, à medida que os detalhes vinham à tona: não apenas a falta de ética, mas uma destituição ética absoluta em seu desprezo por nossas vidas. E esse desrespeito é o fundamento de um império midiático. Murdoch não é somente um traficante sórdido. É uma das pessoas mais ricas e poderosas no planeta – e tem uma agenda política que lhe importa mais, eu imagino, do que um bilhão qualquer em dinheiro, aqui ou ali.

A silenciosa virulência de sua influência nos acontecimentos públicos, mais do que manchetes sensacionalistas e escândalos e o comércio da calúnia que inflige sobre nós é minha verdadeira preocupação.

Tão grande como Murdoch é nos EUA, com sua rede de propaganda de direita Fox News, ele é na Grã Bretanha, onde é mais poderoso que a família real. “Ele é frequentemente referido como o membro permanente do país no Gabinete [do Primeiro Ministro]”, escreveu Beth Fouhy recentemente para a Associated Press. Desde a época de Margareth Tatcher ele tem sido o poderoso chefão dos primeiro ministros britânicos, capaz de lhes oferecer coisas que estes não puderam recusar. Quando o escândalo dos grampos foi jogado no ventilador, David Cameron, o atual primeiro ministro, vem lutando para desligar sua imagem da de Murdoch.

Mas não há escapatória para o fato de que o ex-porta voz de Cameron, Andy Coulson, foi editor de jornalismo do jornal News of the World antes de se juntar à equipe do primeiro ministro e uma das 10 pessoas presas no caso. Eu não sei se o império de Murdoch, a News Corp, emergirá do escândalo intacta e virulenta como nunca ou se terá de ser renomeada para News Corpse [cadáver] (pode-se apenas torcer para que isso ocorra). Mas a explosão de suas operações é um momento chocante o suficiente para nos ensinar, uma chance para se repensar o papel dos jornalistas e o sentido das notícias.

Como ponto de partida, eu situo lado a lado os dois extremos da exagerada influência de Murdoch em nossas vidas, nossos políticos e nossas ideias a respeito de nós mesmos. O que deu origem ao escândalo foi a revelação, pelo repórter do Guardian, Nick Davies, de que funcionários do News of the World tinham grampeado o telefone de Milly Dowler, uma menina de 13 anos que foi sequestrada próximo de Londres, na volta para casa da escola, em 2002. Meses depois, seu corpo foi descoberto; ela teria sido assassinada. Antes dessa descoberta, quando só havia o temor insuportável e a esperança louca dos familiares e amigos de Milly, os subordinados de Murdoch minaram a tragédia, valorizando seu aspecto sexual, futricando as pitadas de “interesse humano” para ostentar em seu jornal.

Este é o jornalismo completamente devotado à compaixão humana – jornalismo, eu diria, do lado errado da raça humana. A coisa tem interesse zero em contribuir para uma sociedade informada ou para criar coesão social. É junk food tóxica, um tipo bizarro de “reality” show de abastecimento dos expectadores entediados e isolados, com nenhum outro propósito que mantê-los consumindo o produto. Isso tornou Murdoch rico além da conta. Eis aqui o outro extremo: da história de Fouhy, da AP, descrevendo a influência de Murdoch na política britânica: “Murdoch teria mudado sua relação de apoio a Tony Blair, o Primeiro Ministro de 1997 a 2007. Blair telefonou para Murdoch repetidas vezes antes de comprometer as tropas britânicas na guerra do Iraque, em 2003, a qual foi fortemente apoiada pelos jornais de Murdoch em todo o mundo”. Para mim, isso aumenta esse escândalo milhões de vezes. Aqui está um chefe de estado democraticamente eleito articulando com seu benfeitor secreto para trazer a guerra ao planeta.

Este é o jornalismo industrial-militar, é o conluio na guerra para fazer dinheiro, manipulando políticos de acordo com o seu interesse no fortalecimento de seu sucesso financeiro, ao espalhar a sordidez. O vazio ético de Murdoch não é limitado por seu império midiático trash. Ele é um player na paz e na guerra. Esse é um jornalismo fora de controle – o oposto exato da ideia de minha profissão. Em vez de manter uma relação adversária frente ao poder e representar os interesses daqueles de fora da sua esfera, mantém uma relação adversária com a humanidade. No Mundo de Murdoch, somos todos abstrações, quer tenhamos um nome (Milly Dowler) ou meramente uma marca de identificação massiva (os iraquianos). O jornalismo pode se dirigir ao poder, tornar-se seu cachorrinho e até, como as revelações da News Corpse tem demonstrado, tornar-se o próprio poder, um ditador por trás das cenas ou dos acontecimentos, manipulando o mundo segundo os seus próprios interesses.

Mas os verdadeiros jornalistas espalham o poder ao dizerem a verdade, como Davies e o The Guardian tomaram a frente nas revelações sobre o News of the World. Esse escândalo, finalmente, não é sobre Murdoch, mas sobre todos os que praticam o ofício do jornalismo. Chegou o momento de nos perguntarmos: de quem, afinal, somos aliados?
(*) Robert Koehler é um jornalista e escritor, de Chicago.

Tradução: Katarina Peixoto

Mais desindustrialização: Brasil tem pior índice entre 13 países

O fenômeno da desindustrialização avança no Brasil — e já se torna uma ameaça para status obtido pelo país no governo Lula (2003-2010). Graças à absurda sobrevalorização do real, a indústria brasileira tem apresentado o pior desempenho entre os grandes mercados emergentes.

Os bens fabricados no Brasil estão ficando mais caros em relação ao que é produzido fora — o que torna o setor industrial do país menos competitivo em relação a seus pares. O chamado Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) — um indicador baseado em entrevistas feitas com executivos — apontou uma tendência de contração do setor no país em junho.

O PMI tenta prever o comportamento da indústria com base em informações como nível de estoques, ritmo de novas encomendas e contratações. Entre as 13 nações emergentes para o qual o índice é calculado, o Brasil foi o único a registrar queda no mês passado, embora outros países tenham exibido tendência de desaceleração. Na média dos últimos 12 meses, o Brasil também teve expansão mais fraca que a de outras nações.

Para Fabio Akira, economista-chefe do JP Morgan no Brasil, a fraqueza da indústria medida pelo PMI reflete, principalmente, o desempenho dos setores exportadores, mais afetados pelo câmbio valorizado. "Isso contribui para uma redução da produção industrial", diz Constantin Jancso, economista do HSBC. O HSBC, em parceria com a consultoria Markit, calcula o Índice de Gerentes de Compras para um grupo de mercados emergentes (conhecido pela sigla EMI, em inglês).

Dados de produção industrial confirmam a debilidade relativa do Brasil. Entre os dez emergentes que estão no G20 (grupo que reúne importantes economias), a produção industrial brasileira em maio só teve desempenho melhor que a da África do Sul (veja mapa). Registrou expansão em relação ao mesmo mês de 2010 de 2,7%, ante 13,3% da China, 5,6% da Índia, 4,1% da Rússia e 6,3% da Argentina.

Segundo o economista Claudio Frischtak, da InterB Consultoria, o real forte prejudica a indústria — mas aumenta o poder aquisitivo da população. Produtos importados estão mais baratos. Porém, no longo prazo, o câmbio valorizado — resultado em parte de juros altos que atraem capitais de fora — limita o crescimento.

Em agosto, o governo deve lançar medidas de estímulo à exportação de produtos manufaturados. Segundo especialistas, incentivos pontuais ajudam setores específicos — mas não atacam a perda de competitividade do setor.

Da Redação do Vermelho, com informações da Folha de S.Paulo

'Direita quer mais poder', diz cientista político após troca de gabinete no Chile

"A direita chilena quer mais poder", disse ao Opera Mundi um dos principais analistas políticos do Chile, Francisco Javier Díaz, logo após a mudança de gabinete anunciada pelo governo de Sebastián Piñera. Nesta segunda-feira (18/07), o presidente formalizou a troca de oito ministro: porta-voz; Economia; Planejamento; Educação; Justiça; Obras Públicas, Mineração e Energia. 
Divulgação

Díaz: "Este é um governo marcado pela busca de maior apoio"

Para o pesquisador do centro de estudos Cieplan (Corporacao de Estudos para a América Latina), a sede de poder, junto com uma desaprovação popular recorde obtida pelo presidente nas últimas pesquisas, que obrigou o governo a mudar 13 de seus 20 ministros em menos de um ano de gestão numa reforma de gabinete que, segundo ele, deixou três resultados:

1. Abriu espaço para o setor mais pinochetista, conservador, católico da direita chilena, representado pela UDI (União Democrática Independente).

2. Manteve seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, num sinal claro de que o governo não dará o braço a torcer, mesmo que a cidadania continue colocando 100 mil manifestantes nas ruas contra o que quer que seja.

3. Aponta o sucessor de Piñera na eleição presidencial de 2013: o ex-ministro da Mineração Laurence Golborne, o herói do salvamento dos 33 mineiros do Deserto de Atacama.

O fato de Javier Díaz ter sido assessor político da ex-presidente chilena Michelle Bachelet, não o impediu de fazer uma leitura lúcida dos últimos movimentos feitos pelo governo Piñera. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Esta mudança de gabinete é uma resposta à pressão da direita ou da oposição?
A reforma deve ser vista como uma resposta a dois flancos que estavam abertos neste governo. O primeiro deles é justamente a pressão da direita. Era preciso incorporar a UDI. Isso foi feito por Piñera ao nomear os senadores Pablo Longueira para a Economia e Andrés Chadwick para porta-voz (dois pinochetistas históricos). O outro flanco foi coberto ao confirmar no cargo o seu chefe de gabinete, Rodrigo Hinzpeter, apesar de toda pressão que havia no sentido contrário. A manutenção de Hinzpeter foi um claro sinal à sociedade chilena de que o governo manterá o mesmo rumo, não importa quantos estejam nas ruas protestando.

As mudanças de gabinete são comuns no Chile ao aproximar-se da metade do mandato?
Não. Essa foi uma mudança provocada por uma crise. O presidente Piñera tinha em novembro 60% de aprovação, depois que tirou os 33 mineiros de uma mina no Deserto do Atacama. Hoje, só 30% o apoiam. Em um ano, foram mudados 13 dos seus 20 ministros. Essa é a maior mudança de ministros da história recente do Chile, desde a redemocratização.

Logo depois do anúncio das mudanças, os membros do governo começaram a falar para os políticos de oposição, pedindo que deixem o governo governar. É um governo tao acuado? Como deve ser lido esse discurso num momento em que o governo deveria estar se reafirmando?
Efetivamente, este é um governo marcado pela busca de maior apoio no Parlamento. Piñera não tem maioria no Senado e, na Câmara, precisa sempre de um apoio precário de deputados independentes para fechar sua equação. Ao fazer esses discursos, ele tenta passar a conta política da crise para a oposição.

Qual a influência das eleições locais de 2012 neste cenário de mudança de gabinete?
Em 2012 teremos eleições locais e parlamentares. Em 2013, nova eleição presidencial (o mandato de presidente no Chile é um dos mais curtos da região. São apenas quatro anos, sem direito a reeleição). Uma das principais coisas desta mudança foi o fato de o presidente ter passado o ministro de Minas Laurence Golborne para o Ministério de Obras Públicas.

Golborne foi o herói do resgate dos 33 mineiros no Deserto do Atacama. Até entrar no governo, ele não era uma figura conhecida. Havia dúvida até mesmo sobre se Piñera o respaldaria. Mas ele se saiu bem e começou a aparecer como um possível sucessor, mais forte que candidatos tradicionais, como o próprio Joaquín Lavin (atual ministro da Educacao, transferido para Planejamento). No Ministério de Obras Públicas, Golborne terá puras boas notícias para dar até que cheguem as eleições presidenciais. Vai passar dois anos inaugurando obras.

Noruega, Murdoch e o ódio racista

Por Altamiro Borges

Dois assuntos foram destaque na semana passada: os sangrentos atentados na “pacífica” Noruega, que resultaram em 92 mortes confirmadas até agora; e as novas revelações sobre as iniciativas criminosas do império midiático de Rupert Murdoch. Ambos têm algo em comum: a perigosa atuação da extrema-direita que dissemina o ódio racial, o preconceito e a violência.

No caso da Noruega, já está confirmado que o autor dos disparos que mataram 85 jovens na Ilha de Utoeya, onde se realizava um acampamento com 600 jovens do Partido Trabalhista, foi o ultradireitista Anders Behring Breivik, um fazendeiro de 32 anos. Já o atentado à bomba em Oslo, que atingiu a sede do governo e causou sete mortes, ainda demandará investigações mais rigorosas.

Ódio aos imigrantes e aos marxistas

Segundo o advogado Geir Lippestad, famoso por defender grupos neonazistas, seu cliente já confessou a autoria da chacina: “Ele disse acreditar que as ações foram atrocidades, mas que eram necessárias”. A polícia encontrou um manifesto de 1.500 páginas em que Anders ataca a imigração muçulmana, prega o ódio aos “marxistas” e ao “multiculturalismo”, e ensina a fazer bombas.

O racista também confessou que planejava os atentados desde outubro de 2009. A mídia tenta vender a idéia de que a chacina foi algo individual, coisa de maluco. Mas a polícia investiga as ligações com grupos nazistas da Noruega e de outros países. A bomba utilizada em Oslo é parecida com a usada no atentado de direita em Oklahoma City (EUA), em 1995, que matou 168 pessoas.

Crise e ascensão dos neonazistas

Para o primeiro-ministro trabalhista Jens Stoltenberg, não está descartada a ação de grupos estrangeiros. “Espero que possamos manter a Noruega aberta e democrática”, afirmou o premiê, que estava na sede do governo na hora das explosões e que iria ao evento da juventude em Utoeya. Ele classificou os ataques como "a maior tragédia nacional desde a Segunda Guerra Mundial”.

Aproveitando-se da crise econômica que afeta a Europa, a direita norueguesa intensificou a propaganda racista. O ódio aos imigrantes é a sua principal bandeira. Atualmente, a extrema-direita é a segunda maior força política da Noruega, tendo obtido 23% dos votos nas eleições parlamentares de setembro de 2009. Esta ascensão abala a imagem de um país “pacífico” – apesar de manter tropas no Afeganistão –, rico exportador de petróleo e com um dos melhores índices de qualidade de vida do planeta.

Onda racista e violenta na Europa

Essa mesma onda racista cresce em toda a Europa. Em artigo neste sábado, o New York Times reconhece que “o ódio no discurso político encoraja indivíduos violentos... Os ataques em Oslo despertaram nova atenção em relação aos extremistas de direita não apenas na Noruega, mas em toda a Europa”. Com base no discurso do ódio, eles têm crescido na região e espalhado o medo.

Na Suécia, o partido direitista Democratas (lembra os demos brasileiros) ingressou pela primeira vez no parlamento após receber 5,7% votos nas eleições de setembro. Na Dinamarca, a extrema-direita tem 25 das 179 cadeiras do parlamento. Na Holanda, o partido neonazista de Geert Wilder obteve 15,5% doso votos nas eleições de 2010. Na Finlândia, o True Finns conquistou 19% dos votos em abril. A direita também é forte na Itália do midiático Berlusconi, na França de Sarkozy e na Alemanha de Angela Merkel.

Mídia dissemina o ódio

Esse crescimento tem razões objetivas – crise, desemprego, falta de perspectiva da juventude -, mas também subjetivas. Vários analistas não vacilam em criticar a mídia burguesa por disseminar o ódio. O império midiático de Murdoch, com seus tablóides sensacionalistas e também com seus veículos “sérios”, é um dos principais propagandistas do preconceito contra os imigrantes e um ativo cabo eleitoral dos partidos da extrema-direita.

Mantendo intimas relações com os sionistas de Israel, este australiano – que ganhou cidadania estadunidense em 1985 das mãos do direitista Ronald Reagan – sempre reforçou em sua mídia o ódio aos povos de origem palestina. Como aponta Gordon Duff, do jornal Veterans Today, Murdoch é hoje um dos sionistas mais influentes do mundo – “mais do que o próprio premiê de Israel”.

A quem serve o poder de Murdoch

“Murdoch tem poder para eleger e derrubar líderes nacionais, escolher políticas, aprovar leis. De onde vem tanto poder? Sabe-se hoje que ele vem da espionagem, de gravações clandestinas, de invasões de telefones e e-mails, subornos de autoridades e muita propaganda. Sim, mas a serviço de que agenda?”. Para ele, este império midiático serve aos interesses da extrema-direita.

“Quem Murdoch odeia acima de todos os demais ódios? Os muçulmanos, claro. Todos os muçulmanos são ‘do mal’. De todas as coisas que Murdoch toca, em todas as cenas que exibem, em todas as notícias que distorcem, o item que nunca falta, o que nunca essa gangue de degoladores deixa de reafirmar é, sempre, o ódio aos muçulmanos. Com isso, satisfazem os amigos em Israel”.

Jornalismo com sangue nas mãos

Essa onda preconceituosa, disseminada pelo império de Murdoch, mas também por outros conglomerados midiáticos, é que tem encorajado assassinos racistas como Anders Behring Breivik. Somada à carga explosiva da crise econômica, o ódio anti-islâmico provoca cenas como o da Ilha de Utoeya.

Entre outras resoluções previstas para serem votadas naquele acampamento da juventude, estava uma em defesa da paz, outra que solicitava ao governo trabalhista da Noruega o reconhecimento do Estado Palestino e outra que pedia o boicote ao governo sionista de Israel até a demolição do muro que separa os povos da região e o fim de suas agressões terroristas.

O “jornalismo” de Murdoch sempre foi contra estas bandeiras. O ódio racista ensangüentou a ilha e impediu a votação daquelas resoluções pacifistas. No dia dos atentados, alguns dos seus veículos ainda chegaram a divulgar que o ataque era “obra de grupos radicais islâmicos” – o que foi repetido por alguns jornais colonizados do Brasil. Murdoch está fragilizado, mas não está inativo!

O fascismo “templário” e “caçador de marxistas"

As razões dos atentados terroristas que vitimaram mais de 90 pessoas na Noruega na última sexta-feira (22) ainda não estão totalmente esclarecidas, mas nos escritos e declarações do autor confesso do crime revelados no domingo (24), há claros indicadores de uma perigosa ameaça às liberdades democráticas e à segurança da humanidade: o surgimento de um novo tipo de fascismo, cujas origens estão no seio da própria sociedade capitalista ocidental.

Logo após o desastroso episódio, chegou-se a insinuar que os atentados teriam sido cometidos pela Al-Qaeda ou, no caso de uma iniciativa isolada, por um “terrorista-fundamentalista islâmico”.

O massacre foi circundado de simbolismo. Primeiramente, foram detonados explosivos no bairro em que está a sede do governo de centro-esquerda norueguês, em Oslo. Em seguida, foi perpetrado um massacre em um acampamento de verão da juventude trabalhista.

O documento de 1500 páginas, de autoria do terrorista, intitulado “Manifesto pela Independência Europeia – 2083”, traz elementos que não devem ser substimados sobre o seu perfil político-ideológico: “Serei etiquetado como o maior monstro nazista desde a Segunda Guerra Mundial”. O bandido também qualifica-se como “caçador de marxistas”.

Apresenta-se ainda como “comendador dos cavaleiros justiceiros”, diz que é um “fundamentalista cristão”, faz referências à Ordem dos Templários, critica a “islamização” da Europa, o “avanço do multiculturalismo” e defende a necessidade de emprender uma “Cruzada Moderna”. Assume-se como integrante de um “Movimento de Resistência Nacional”.

Nas suas notas há também uma cruel ironia. Ao referir-se à facilidade com que adquiriu os materiais usados na preparação dos artefatos explosivos, disse: “tudo isso é fácil de comprar, a menos que alguém se chame Abdulá Rachid Mohamed…”.

O documento proclama o objetivo realizar “uma guerra preventiva contra os regimes culturalmente marxistas/multiculturais da Europa” para “rechaçar, vencer ou debilitar a invasão/colonização islâmica em curso, a fim de ter uma vantagem estratégica em uma guerra inevitável antes que a ameaça se materialize”. E um vaticínio: “O tempo do diálogo já passou (...) A hora da resistência armada soou”.

O sinal de alarme soa mais forte quando se sabe que além do ideário neofascista do autor dos atentados, vieram à tona também informações de que, nos últimos dias, muitos internautas europeus assumiram-se como pertencentes à mesma facção de extrema-direita. O terrorista de Oslo não é apenas membro do grupo extremista da Noruega, mas também faz parte de várias organizações de extrema-direita pan-europeias.

A direitização e fascistização da Europa não é fato novo e invade também a área política-institucional.

Na própria Noruega, como espécie de reação à vigência do governo de centro-esquerda, é crescente o apoio a ideias nacionalistas e xenófobas. O chamado Partido Progressista, de extrema-direita, se tornou a segunda força política do país, ao conquistar 23% dos votos nas eleições gerais.

De maneira intermitente, eleições nacionais nos países da Europa mostram o desenvolvimento das forças de extrema-direita, tendência que se observou também nas últimas eleições ao Parlamento Europeu.

Na Holanda, o chamado Partido da Liberdade do líder direitista Geert Wilders obteve 17% dos votos, que lhe valeram a eleição de quatro eurodeputados. Na Áustria, o Partido da Liberdade foi o quarto mais votado a nível nacional, ao conseguir 13,8% dos votos. No Reino Unido, o Partido nacionalista xenófobo British National Party conquistou o seu primeiro assento no Parlamento europeu, após uma votação que lhe rendeu perto de 8% dos sufrágios. Mais a Leste, na Hungria, o partido nacionalista e populista elegeu três deputados. Na Romênia, os ultranacionalistas liderados por Vadim Tudor, do Partido da Grande Romênia, obtiveram 7,2% dos votos e elegeram dois deputados na Europa. Destaca-se ainda o avanço da extrema-direita na Finlândia, com a formação do partido autodenominado “Verdadeiros Finlandeses”, que alcançou perto de 10% dos votos e 13 eurodeputados. O crescimento dos pequenos partidos mais radicais de direita verificou-se também na Espanha, Bulgária ou Grécia.

As tendências neofascistas no continente europeu radicam na crise econômica. Incapazes de encontrar soluções eficazes para os inarredáveis problemas do capitalismo, os setores mais retrógrados da burguesia atribuem ao aumento de imigrantes o agravamento da crise, fenômeno que pretendem combater com falsas soluções xenófobas que necessariamente resvalam para a adoção de medidas antidemocráticas e, in extremis, o terrorismo, como agora na Noruega.

Tudo isso demonstra a medida em que o fanatismo reacionário infectou o pensamento dominante.

Os governos conservadores e direitistas e a própria propaganda midiática em geral têm profundas responsabilidades pelo surgimento deste fenómeno. Esses governos direitistas atribuem a responsabilidade da recessão econômica e da instabilidade social aos imigrantes e começaram a adotar atitudes mais rígidas contra eles, inclusive muçulmanos. Mais e mais europeus estão passando a considerar que os imigrantes estão invadindo sua cultura e roubando seus empregos.

Na França, o governo conservador de Nicolas Sarkozy realiza campanhas para defender a “identidade da França”, numa demonstração de intolerância com as demais culturas nacionais e com o multiculturalismo característico da República francesa.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente George W. Bush dizia que “se comunicava com Deus” e desencadeou as guerras preventivas que impuseram o terrorismo de Estado global ao mundo.

Estes fatos não são isolados e devem chamar a atenção das forças democráticas, progressistas e de esquerda em todo o mundo. O que está em gestação é um fenômeno grave – um generalizado ataque às liberdades, direitos e conquistas democráticas, que só será combatido eficazmente com a ampliação e o aprofundamento da luta popular. (Vermelho)

Miguel Urbano Rodrigues: Pentágono e CIA em íntima colaboração

O general David Petraeus despediu-se em Kabul das tropas de ocupação dos EUA com um discurso cauteloso. Vai assumir a direção da CIA.

Por Miguel Urbano Rodrigues*, em odiario.info

A cerimônia quase coincidiu com a despedida, nos EUA, do diretor CIA, Leo Panetta, transferido para secretário da Defesa.

Os media estadunidenses derramaram elogios sobre ambos.

Petraeus é apresentado como um estrategista muito dotado, um soldado-intelectual, quase um pensador. Estudou em Princeton, é mestre em Relações Internacionais, lecionou em academias militares e escreveu ensaios e livros de que muitos falam e poucos leram. Em artigos apologéticos chamam-lhe “o pacificador do Iraque”, não obstante a resistência à ocupação americana aumentar a cada mês naquele país.

Leo Panetta foi nomeado para dirigir o Pentágono como prêmio pelo papel que desempenhou como cérebro e coordenador da operação concebida pela CIA para assassinar Bin Laden numa cidade do Paquistão.

Quando Petraeus assumiu o comando no Afeganistão após o afastamento do general Stanley Mc Chrystal — demitido por criticar Obama — fixou dois objetivos principais: ganhar a guerra e criar um exército afegão capaz de "garantir a segurança” no país. Nem um nem outro foram atingidos.

Transcorridos dois anos, as áreas sob controlo da Resistência aumentaram e os atentados terroristas são mais frequentes.

Respondendo a Petraeus, o seu substituto, general John Allen, pronunciou um discurso que caiu mal em Washington. Aconselhou civis e militares a não alimentarem ilusões. Esclareceu que “o terrorismo no país é uma realidade” e o horizonte se apresenta carregado de ameaças e desafios.

Quanto ao exército afegão, a esperança de Petraeus também não se confirmou. A realidade desmentiu as previsões. Até The New York Times reconhece que os soldados fogem ao combate, as deserções aumentam e a infiltração dos talibãs alastra, atingindo os comandos. O assassínio recente em Kandahar do irmão de Hamid Karzai por um homem da sua confiança comprovou essa evidência.

Nos comentários à ida de Petraeus para a CIA e de Panetta para secretario da Defesa, os media de referência estadunidenses chamam a atenção para o fato de a decisão do Presidente Obama tornar transparente a intima colaboração hoje existente entre a CIA e o Pentágono.

No Afeganistão e no Paquistão a maioria dos bombardeios são agora realizados pelos drones, os aviões sem piloto. A guerra está a assumir um caráter cada vez mais eletrônico. É a CIA a partir dos EUA quem define quase sempre os alvos a atingir. As operações são montadas em computadores, a milhares de quilômetros de distância das aldeias atacadas. O balanço dos “erros” é pesado: centenas de camponeses, mulheres e crianças têm sido abatidos nesses bombardeios criminosos.

Os governos afegãos e paquistanês, refletindo a pressão popular, sentem a necessidade de denunciar essas chacinas. Porta-vozes do Exercito e da Força Aérea, rotineiramente, lamentam e anunciam a abertura de inquéritos rigorosos. Mas não há notícia de qualquer punição.

O general David Petraeus declarou que pretende aperfeiçoar o sistema. Como? Numa entrevista à Newsweek informou que vai reforçar a contratação de agentes e informadores da CIA em países da Ásia Central.

Entretanto, Obama aproveita todas as oportunidades para afirmar que os EUA vão honrar o compromisso de retirar as suas tropas do Afeganistão até final do próximo ano, transferindo as “suas responsabilidades” para as forças armadas daquele país. Não diz, porem, que os soldados norte-americanos estão a ser substituídos em ritmo acelerado por mercenários recrutados entre a escória social estadunidense e latino-americana.

A nomeação do general Petraeus para diretor da CIA e a de Leo Panetta para secretário da Defesa confirmam o óbvio.

A estratégia das guerras imperiais dos EUA implica uma colaboração cada vez mais profunda entre a CIA e o Pentágono. Com a total aprovação do presidente Barack Obama, Prêmio Nobel da Paz.


* Miguel Urbano Rodrigues é escritor português

As aparências enganam, sim; que o diga o império midiático

Há muito de insidioso sob a égide da liberdade. A escritora francesa, madame Roland, que perdeu a cabeça a reclamar dos crimes cometidos em nome da liberdade, talvez alertasse para o que é cada vez mais comum; que a imprensa sempre invoque os seus direitos para atentar justamente contra a liberdade.

As reações dos ingleses ao escândalo do tablóide News of the World - uma espécie de arquétipo dos jornais do magnata Rupert Murdoch - proprietário do maior conglomerado midíatico do mundo (o News Corp) - parecem se alinhar ao que seria proverbial na Inglaterra: a recusa aos embustes "muito evidentes". Mas há uma providencial distância, mesmo na Inglaterra, entre a verdade e a sua versão. Albert Finney, grande ator inglês, recusou o título de "sir" que a realeza britânica concede a certos cidadãos pela "relevância" de seu trabalho. Explicou que, como filho de operário, um título de "sir" não alteraria em nada seu status social - mas aumentaria o que ele considerava o pior defeito dos ingleses - o esnobismo. Achava que se se somasse a outros nomes de artistas, cantores, e atores seria apenas mais um a magnificar um laurel sem sentido algum. Ninguém se preocupou muito em julgá-lo um mal-criado que devia favores à rainha. Mas parece ter respondido à altura a um mundo de aparências que não é apanágio só da Inglaterra - mas de todos os países, incluindo-se aí, de forma especial, o Brasil.

Granham Green, escritor inglês, tinha franco desprezo por algumas instituições britânicas, a começar pelo seu aparelho de informação. No seu "Nosso Homem em Havana", as referências à CIA e a sua pretensão de ser onisciente mereceram uma dos melhores romances em forma de sátira que se escreveram em língua inglesa. Mas Graham Green nunca disfarçou seu desprezo também pelo serviço secreto inglês a que ele próprio pertenceu durante a Segunda Guerra. A pergunta que se impõe talvez seja reveladora: até quando certo tipo de imprensa e os serviços secretos são atividades paralelas? No fundo, é uma questão a que o próprio grupo de Murdoch respondeu - ambos se nutrem das histórias que ninguém deixa de contar por pertencerem ao âmbito do privado. Para Murdoch e seu grupo, os métodos da imprensa investigativa e dos serviços ditos "de inteligência", sempre se justificaram no que lhes seria comum - que são os seus fins. O fato de uma revista conseguir descobrir a corrupção de um ministro, pode não ser necessariamente obtido por "meios ilegais" - ou seja por outros métodos que não os das escutas telefônicas clandestinas, ou pela compra de informações - mas as diferenças podem também ser muito tênues. O fundamental, dirá a opinião pública, é que os crimes sejam descobertos. E denunciados - o que, realmente, é muito bom para a sociedade.

Não foi bem isso, porém,o que aconteceu na Inglaterra. Lá os grampos ilegais teriam sido usados à larga, o que provocou a reação dos anunciantes do tablóide. Mesmo assim, o que se questiona é a pergunta que se impões: quando da renúncia do presidente Nixon, dos EUA, foram por métodos rigorosamente legais que os dois jornalistas do "Washigton Post" descobriram as mentiras do então primeiro mandatário do país? Não se trata, aliás, de uma questão tão contemporânea quanto se imagina. Nas descobertas da imprensa, haveria um rito sherloquiano, difícil de ser contestado: Conan Doyle, na construção de seu personagem, Sherlock Holmes faz questão de ressaltar o processo intelectual do detetive. A sua mente brilhante descobrirá o autor dos crimes, não por escutas ao pé da porta, mas por processos que teriam um viés até científico. Num tempo em que a ciência podia responder a tudo sobre a natureza, o mundo e o caráter das pessoas, Holmes manterá a fleuma e a elegância. Nunca lhe ocorre valer-se de intuições ou de preconceitos: é um cientista - máxime, um proto-repórter investigativo - ou seja, serão sempre esses tipos que apreciamos ver na televisão, nos jornais ou nos rádios. E que relemos no dia seguinte, nos diários, a desfilarem como exemplos de inteligência pela suprema façanha não só para descobrir crimes, mas pela honestidade que perpassa seus feitos e revelações.

Vistos genericamente, de fato, policiais dessa estirpe são também repórteres brilhantes. Sem métodos violentos ou desonestos, eles chegam à solução dos crimes apenas pelo raciocínio. Digamos que nada disso seja sequer parecido com as ações do grupo do magnata australiano, nascido em Israel mas de cidadania também americana. Conjetura-se, porém, que o sucesso de Murdoch e seus asseclas são, apesar de tudo, perfeitamente adequados ao mundo em que vivemos. Com outras palavras e para dizer o mesmo: Murdoch não faria sucesso a ponto de se tornar o maior magnata das comunicações, não fosse a satisfação com que o Tea Party - a extrema direita do Partido Republicano norte-americano - o lê. E o divulga como o supra sumo da sagacidade e das boas idéias. Diga-se o que se disser, o grupo de Murdoch é um consenso indiscutível nas hostes conservadoras do mundo.

São, a propósito, conhecidas as ações que se contrapõem aos consensos. Era consensual na França do século XIX, que o capitão Alfred Dreyfus tinha traído seu país e que merecia a cadeia sub-humana a que fora relegado na Guiana Francesa. Se ao fim do processo não houvesse um escritor e romancista, Émile Zola, a execrar publicamente a decisão dos militares e da Igreja católica que os apoiava, muito provavelmente não teria ocorrido nada: Dreyfus continuaria na cadeia até a morte. É um exemplo clássico que parece embaralhar a defesa de Murdoch: não é por uma mera coincidência que seu conglomerado midíaco criou consensos. Assim como era consensual na França de Zola, que Dreyfus era um traidor ("até por ser judeu", conclamava a maior parte do clero católico), não são menos unívocas as teses de Murdoch que seus jornais e suas redes de TV escolham suas vítimas, sempre em nome da iniciativa privada. E que mesmo que por outros métodos - um mero "discurso do método" digamos - haja sempre razões para absolver as culpas do sistema, justamente para impô-lo de novo e sempre agressivamente como inculpável. A ninguém é dado dizer nas páginas do sr. Ruppert Murdoch, que os mercados sejam os responsáveis pela crise do capitalismo neste começo de século. Pelo contrário, a apropriação das riquezas dos países se deu sempre em conformidade com as razões eternas do capital - que são eternas, por serem do capital.

Há mais de um aspecto interessante nesse processo todo. E parece se alçar para além da questão das culpas. Fala-se do que se opõe, mais uma vez, a liberdade de imprensa à liberdade dos oligopólios. Para os defensores da Inquisição, como Torquemada ou mesmo São Domingos, o Verbo Divino sempre "se faria carne". Por outra, sempre estaria certo por se expressar pela boca de seus representantes (leia-se portadores da infalibilidade dos interlocutores de Deus). Ainda que sob torturas, a confissão dos acusados se faria eternamente em conformidade com a vontade Divina. Troque-se Deus pela liberdade do mercado, e as desculpas que o sr. Murdoch, seu filho e seus asseclas deram no parlamento inglês, será considerada apenas um pequeno deslize - um acidente de trabalho digamos; no mais, não cabe discutir se o oligopólios de empresas jornalísticas podem tudo em nome da liberdade; ou se o grande processo inquisitorial deverá continuar com a imprensa graúda, donatária do direito da última palavra, ainda que o seja para justificar os engôdos gigantescos, monstruosos. Que não necessitarão de justificativas para se imporem: Roma locuta, causa finita ("Roma disse; o processo deve terminar") repetiam os padres, para justificarem o fim das apelações; ou antes, para manterem incólume a estrutura da justiça inquisitorial. Qualquer semelhança....

Talvez não seja irônico, porém, que o processo que envolve um oligopólio midíatico, ocorra no país tido como o berço da imprensa livre. Não é uma novidade que graças à imprensa, principalmente do sr. Murdoch, o assassínio do brasileiro Jean Charles de Meneses pela Scotland Yard tenha passado como um mero acidente. Lembra-se, em tempo, que foi também por obra e graça da imprensa britânica que o escritor Oscar Wilde acabou condenado à prisão por ser flagrado em seu homossexualismo. Daquela época em diante, falou-se mal das leis homofóbicas - que, oportunamente e já há anos, foram abolidas não só na Inglaterra. Mas quase não se comenta o que os jornais afirmavam na época; e o quanto os jornalistas - os donos dos jornais, melhor dizendo - deveriam ser culpabilizados por não terem afrontado a legislação e os costumes de seu próprio país. E em nome da liberdade.

As coisas, de fato, surpreendem: o sr. Tony Blair disse em alto e bom som que tinha "provas" da existência das armas de destruição em massa em poder do governo iraquiano. Nunca se comprovou de que estava certo; aliás, o que se provou é que ele estava errado - mas a imprensa do sr. Murdoch se encarregou não só de não cobrá-la. Imposto o dito pelo não dito e, claro, a despeito de milhares de mortes depois (inclusive inglesas), eis que o ex-primeiro ministro continua desfilando sua inegável simpatia, sem que ninguém lhe cobre a "destruição em massa" - essa devidamente patrocinada pelas tropas britânicas e seus aliados. E que sempre encontraram na mídia do sr. Murdoch a pá-de-cal oportuna para que nada fosse cobrado de ninguém.

Em bom latim, talvez o católico Graham Greene lembrasse as palavras da Bíblia: Sic transit gloria mundi - assim passa a glória do mundo. Mas alguém duvida de que o teatro vai continuar; e que o conglomerado do grande capo australiano persistirá dando as cartas, não só na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas também no mundo, já que as tenazes do New Corp se estenderiam também à América Latina?

Há muito de insidioso sob a égide da liberdade. A escritora francesa, madame Roland, que perdeu a cabeça a reclamar dos crimes cometidos em nome da liberdade, talvez alertasse para o que é cada vez mais comum; que a imprensa sempre invoque os seus direitos para atentar justamente contra a liberdade. É isso mesmo, mas alguém desconfia de que não vá continuar assim? São poucos os indícios de que à versão, haverá, um dia, o "triunfo da verdade". O direito à liberdade de imprensa parece se estreitar sempre na consideração feita, anos atrás, pelo dono de um grande jornal brasileiro: se os jornalistas quisessem escrever livremente - eles que fundassem os seus próprios jornais. Digamos, como na velha fórmula do padeiro da esquina que, quem não tem capital, não se estabeleça. Já, quem tem, que exerça a sua liberdade - principalmente no direito de mentir.

O mais são pancadinhas na cabeça dos embusteiros muito evidentes - não mais que meros cascudos públicos para que tudo continue como está. Nada mais, em suma, do que as aparências detectadas por Albert Finney.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Diario da Nova China (2) - Beijing no domingo: primeiras impressões

Por Emir Sader

As primeiras impressões na chegada à China – nesta segunda vinda – já são significativas. A primeira dela, o smog que cobre o céu de Beijing, produto da contaminação. O concentrado esforço chinês para dar o salto econômico espetacular após mais de três décadas, apelou para os recursos energéticos de que dispunha, o que trouxe grandes problemas ambientais, hoje uma das preocupações prioritárias do governo chinês.

Por outro lado, as dimensões do aeroporto e o rápido atendimento refletem o esforço chinês para dar conta da chegada de gigantescos continentes de turistas que vem conhecer esta experiência única no mundo. Já seria única por suas próprias dimensões e ritmo, mais ainda porque contrasta fortemente com a recessão profunda e prolongada que se vive na Europa, no EUA e no Japão. Enquanto se é gentilmente atendido pelo funcionário que controla documentação, se pode avaliar o seu desempenho em um aparelhinho que ele não vê.

Chegando a Beijing, depois de trânsito denso, mesmo para um domingo, os espaços enormes das ruas e avenidas, a limpeza destas e a majestosidade dos edifícios, com a sua diversidade de estilos, se impõem. A indústria da construção chinesa é dos fenômenos mais impressionantes. Onde não edifícios, há construções, que trabalham 24 horas por dia. De cada quatro guindastes que se erguem no mundo, três são na China,

Nos domingos os parques são ocupados por idosos que dançam, fazem esporte, correm ou simplesmente conversam e fazem piquenique. Poucas bicicletas sobrevivem de décadas atrás, assim como é raríssimo, senão impossível, ver algum trajando as roupas tradicionais, do estilo de Mao.

Em suma, a China é outra, muito diferente da de três décadas, sobretudo diferente daquela da revolução cultural. A predominância da população rural diminui aceleradamente, havendo cálculos até de que, contando os imigrantes ilegais para os centros urbanos, estes já contenham a maioria da população.

Há um vertiginoso processo de ascensão social, que permite com que 300 milhões de pessoas tenham saída da miséria em três décadas, mas que, ao mesmo tempo, se tenha gerado, uma elite muito rica. O turismo na capital tem um enorme contingente de gente do campo, que provavelmente pela primeira vez, vem conhecer Beijing. (Uma guia que nos foi esperar no aeroporto, bem jovem, veio há apenas 6 meses da Mongólia interior buscar trabalho. Estuda castelhano, que fala ainda de maneira tosca, para buscar emprego, quando então vai encarar o problema da sua legalização, já que evidentemente ela se deslocou sem autorização para a capital.)

Um fenômeno novo, destas dimensões, e que tenta enfrentar problemas que evidentemente outras tentativas, no socialismo, não deram certo, tem primeiro que ser visto, para depois ser analisado. Sigo relatando impressões, para depois discutirmos seu significado.

Paul Krugman: "Podemos estar perto de reviver a crise de 1930"

 

Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, o que está ocorrendo agora é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que alimentou a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o "impulso" que a economia precisava. O artigo é de Paul Krugman.

Esta é uma época interessante, e digo isso no pior sentido da palavra. Agora mesmo estamos vivendo, não uma, mas duas crises iminentes, cada uma delas capaz de provocar um desastre mundial. Nos EUA, os fanáticos de direita do Congresso podem bloquear um necessário aumento do teto da dívida, o que possivelmente provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais. Enquanto isso, se o plano que os chefes de Estado europeus acabam de pactuar não conseguir acalmar os mercados, poderemos ter um efeito dominó por todo o sul da Europa, o que também provocaria estragos nos mercados financeiros mundiais.

Somente podemos esperar que os políticos em Washington e Bruxelas consigam driblar essas ameaças. Mas há um problema: ainda que consigamos evitar uma catástrofe imediata, os acordos que vêm sendo firmados dos dois lados do Atlântico vão piorar a crise econômica com quase toda certeza.

De fato, os responsáveis políticos parecem decididos a perpetuar o que está sendo chamado de Depressão Menor, o prolongado período de desemprego elevado que começou com a Grande Recessão de 2007-2009 e que continua até o dia de hoje, mais de dois anos depois de que a recessão, supostamente, chegou ao fim.

Falemos um momento sobre por que nossas economias estão (ainda) tão deprimidas. A grande bolha imobiliária da década passada, que foi um fenômeno tanto estadunidense quanto europeu, esteve acompanhada por um enorme aumento da dívida familiar. Quando a bolha estourou, a construção de residências desabou, assim como o gasto dos consumidores na medida em que as famílias sobrecarregadas de dívidas faziam cortes.

Ainda assim, tudo poderia ter ido bem se outros importantes atores econômicos tivessem aumentado seu gasto e preenchido o buraco deixado pela crise imobiliária e pelo retrocesso no consumo. Mas ninguém fez isso. As empresas que dispõem de capital não viram motivos para investi-lo em um momento no qual a demanda dos consumidores estava em queda.

Os governos tampouco fizeram muito para ajudar. Alguns deles – os dos países mais débeis da Europa e os governos estaduais e locais dos EUA – viram-se obrigados a cortar drasticamente os gastos diante da queda da receita. E os comedidos esforços dos governos mais fortes – incluindo aí o plano de estímulo de Obama – apenas conseguiram, no melhor dos casos, compensar essa austeridade forçada.

De modo que temos hoje economias deprimidas. O que propõem fazer a respeito os responsáveis políticos? Menos que nada. A desaparição do desemprego da retórica política da elite e sua substituição pelo pânico do déficit tem verdadeiramente chamado a atenção. Não é uma resposta à opinião pública. Em uma sondagem recente da CBS News/The New York Times, 53% dos cidadãos mencionava a economia e o emprego como os problemas mais importantes que enfrentamos, enquanto que somente 7% mencionava o déficit. Tampouco é uma resposta à pressão do mercado. As taxas de juro da dívida dos EUA seguem perto de seus mínimos históricos.

Mas as conversações em Washington e Bruxelas só tratam de corte de gastos públicos (e talvez de alta de impostos, ou seja, revisões). Isso é claramente certo no caso das diversas propostas que estão sendo cogitadas para resolver a crise do teto da dívida nos EUA. Mas é basicamente igual ao que ocorre na Europa.

Na quinta-feira, os “chefes de Estado e de Governo da zona euro e as instituições da UE” – esta expressão, por si só, dá uma ideia da confusão que se tornou o sistema de governo europeu – publicaram sua grande declaração. Não era tranquilizadora. Para começar, é difícil acreditar que a complexa engenharia financeira que a declaração propõe possa realmente resolver a crise grega, para não falar da crise europeia em geral.

Mas mesmo que pudesse, o que ocorreria depois? A declaração pede drásticas reduções do déficit “em todos os países salvo naqueles com um programa” que deve entrar em vigor “antes de 2013 o mais tardar”. Dado que esses países “com um programa” se veem obrigados a observar uma estrita austeridade fiscal, isso equivale a um plano para que toda a Europa reduza drasticamente o gasto ao mesmo tempo. E não há nada nos dados europeus que indique que o setor privado esteja disposto a carregar o piano em menos de dois anos.

Para aqueles que conhecem a história da década de 1930, isso é muito familiar. Se alguma das atuais negociações sobre a dívida fracassar, poderemos estar perto de reviver 1931, a bancarrota bancária mundial que tornou grande a Grande Depressão. Mas se as negociações tiverem êxito, estaremos prontos para repetir o grande erro de 1937: a volta prematura à contração fiscal que terminou com a recuperação econômica e garantiu que a depressão se prolongasse até que a II Guerra Mundial finalmente proporcionasse o impulso que a economia precisava.

Mencionei que o Banco Central Europeu – ainda que, felizmente, não a Federal Reserve – parece decidido a piorar ainda mais as coisas aumentando as taxas de juros?

Há uma antiga expressão, atribuída a diferentes pessoas, que sempre me vem à mente quando observo a política pública: “Você não sabe, meu filho, com que pouca sabedoria se governa o mundo”. Agora, essa falta de sabedoria se apresenta plenamente, quando as elites políticas de ambos os lados do Atlântico arruínam a resposta ao trauma econômico fechando os olhos para as lições da história. E a Depressão Menor continua.

(*) Paul Krugman é professor de Economía em Princeton e Prêmio Nobel 2008.

Tradução: Katarina Peixoto

Fonte:
Sinpermiso

Inferno na Noruega é obra da direita

Por Flavio Aguiar, na Rede Brasil Atual:

Ainda não se sabe direito o que aconteceu (redijo esse post às 10h45 do sábado, 23, hora de Berlim, 05h45 em Brasília), mas já se sabe que foi à direita.

Primeiro, pelas 15h30 da tarde de sexta-feira, 22, uma bomba poderosíssima explodiu no centro de Oslo, matando 7 pessoas e ferindo gravemente dezenas.


Uma hora e meia/duas horas depois, um homem disfarçado de policial adentrou numa ilha (Utoya) perto da capital norueguesa. A ilha estava repleta de jovens: era um acampamento da juventude do Partido Trabalhista da Noruega, no governo. Neste sábado pela manhã o primeiro ministro noruguês deveria se dirigir a eles.

O suposto policial alegou estar averiguando a segurança da ilha, depois do atentado no centro da cidade. Chamou os jovens para perto de si. Quando vários atenderam o seu chamado, ele tirou pelo menos três armas da mochila e começou a atirar. Alguns dos jovens conseguiram chamar a polícia pelos celulares. Muitos correram para dentro d'água e começaram a nadar. Depois de fazer uma carnificina em terra, o "policial" foi para as margens e começou a atirar naqueles que estavam dentro d'água. Há uma foto na internet dele atirando, nesse momento, já cercado por cadáveres em terra. É horripilante.

Nesta manhã de sábado já foram encontrados 84 cadáveres na ilha, elevando o total de mortos para 91.

O suposto policial foi preso na ilha, e sua identidade (a polícia o trata como suspeito) revelada como sendo Anders Behring Breivik, de 32 anos. É caracterizado como "cristão-conservador", manifestou opiniões de extrema-direita, aqui na Europa ditas "nacionalistas", contra o "ïnternacionalismo multi-cultural". Até o momento não há indícios sobre outros participantes no atentado, embora seja difícil (mas não impossível) que ele tenha atuado sozinho. Nos últimos tempos trabalhava como chacareiro e dessa forma tinha acesso à compra de uma série de produtos químicos para fabricação de fertilizantes, que também poderiam ser usados para fabricar explosivos.

Não dá para dissociar os ataques do clima pesado que a direita vem semeando na Europa inteira, contra imigrantes, multi-culturalismo, Islã, islamismo, árabes, africanos e até latino-americanos, de rebarba. Essa pregação parte de e pode gerar desde políticos espertos e oportunistas, como Geert Wilders, da Holanda, pregadores burocráticos como Thylo Sarrazin, na Alemanha, partidos anti-europeus como o dos Verdadeiros Finlandeses (no governo), na Finlândia, líderes repressivos como Victor Orban (primeiro ministro e no ano que passou presidente da União Européia), da Hungria, e... fanáticos amalucados como Anders Behring. É de arrepiar.

O clima está pesado e temeroso na Europa inteira.

Ao mesmo tempo, devo assinalar esse fato singular. Ainda na sexta-feira, quando tudo era nebuloso no atentado (falava-se em apenas 4 mortos na ilha de Utoya), prestigioso periódico brasileiro publicou uma lista de possíveis grupos suspeitos pelo atentado: todos os nomes eram islâmicos.

Qual é o jogo político de Obama?

Por Heloisa Villela, de Nova York, no blog Viomundo:

É o fundo do fundo do poço.

Impossível entender qual é o jogo político que o Presidente Barack Obama está tentando jogar. Ele, que nas horas vagas, faz questão de jogar basquete, será que tem uma estratégia na discussão com os republicanos? Se tem, ainda não deu para entender qual é.


Pois na última sexta-feira terminou o prazo que o presidente deu à oposição para um acordo em torno do nível de endividamento do país. O teto de endividamento tem que subir, caso contrário algo não será pago. Os juros dos títulos do tesouro, as aposentadorias, os salários dos militares mobilizados para a chamada Guerra contra o terrorismo. Enfim, calote em algum lugar.

Aos 45 do segundo tempo os republicanos desistiram da proposta de acordo apresentada por Obama. O Presidente da Câmara, John Boehner, em uma demonstração clara de desprezo e desrepeito ao Presidente da República, não respondeu ao telefonema de Obama na quinta-feira e somente falou com o Presidente na sexta, depois de dar uma entrevista à imprensa pra dizer que a proposta do governo não era séria.

E Obama? Foi, também, dar explicações à opinião pública. Difícil é explicar como ele ofereceu tudo que ofereceu e ainda teve a proposta recusada. Uma verdadeira bofetada. Então vejamos: cortes dramáticos na rede de serviços sociais (tudo que os democratas odeiam e os republicanos amam). US$ 3,5 trilhões em cortes de gastos nos próximos dez anos. Um aumento de impostos muito mais modesto do que no plano conjunto de senadores republicanos e democratas. E nada do fim das benesses em isenções fiscais para as empresas de petróleo e gás, que Obama tanto insistiu em incluir nas negociações.

Ou seja: tudo que os republicanos queriam. Nada do que os democratas almejavam. Risco político sério de comprometer o apoio de boa parte do eleitorado. Obama conseguiu fazer o plano mais à direita que os republicanos poderiam sonhar em ver um democrata propor. Mas se Obama decidiu ocupar o espaço da direita e não o centro-direita como fez Bill Clinton, qual é o movimento óbvio dos republicanos?

Ficar ainda mais à direita, para se diferenciar do Presidente. E por isso mesmo, foi graças à intransigência dos radicais do Tea Party (a turma da Sara Palin), que os programas de assistência social se livraram dos cortes que Obama ofereceu, gentilmente, à oposição.

É o velho ditado, quando mais voce se abaixa… E Obama só tem feito reverência. Não chama para o confronto. Não impõe limites. A impressão que ele passa é de que quer estar acima do bem e do mal, ser o fiel da balança. O sujeito cool, que nunca levanta a voz. Mas cada vez menos a classe média, os pobres e as minorias têm dificuldade de ver, nele, um líder.

Amy Winehouse e a sociedade do consumo

Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:

Ainda que soe chocante tal afirmação, seria inexato dizer que o anúncio da morte de Amy Winehouse surpreendeu as pessoas – as inúmeras e frequentes recaídas, as rehabs mil, e o estado físico e psicológico da cantora sugeriam que esse seria um fim provável, ainda que talvez não se esperasse que ocorresse tão cedo.


Mas o fato choca, é claro, pelo que diz sobre os tempos atuais, sobre a interrogação que nos lança a respeito do que nos transformamos enquanto sociedade, sobre a banalidade da vida em uma era em que o consumo de tudo – bens materiais, drogas, fama, embelezamento artificial – tem de ser intenso e insaciável, mesmo que o preço a pagar seja a própria vida.

Comparações

Nas redes sociais, neste momento, chovem comparações entre a cantora e a tríade de jovens mártires da contracultura formada por Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix – os “meus heróis morreram de overdose” a que se refere Cazuza, outro que cedo nos deixou.

Ainda que as drogas tenham desempenhenhado um papel fundamental em todas essas mortes (incluindo a de Amy, mesmo que a causa mortis venha a ser outra), não parece uma comparação procedente: as mortes dos três músicos dos anos 60 derivam de um mergulho tão desmedido quanto apaixonado num novo modo de vida, anticapitalista, comunitário, em que a primazia do econômico e do racional desse lugar ao cósmico, ao energético, ao intuitivo. E é justamente como meio de intensificação de manifestação destas forças (hoje novamente subvalorizadas) que as drogas - como “expansoras da consciência”, segundo o mote do “papa do LSD”, Timothy Leary -, tiveram então um papel central.

The dream is over

A tragédia maior da morte da tríade de músicos deriva, portanto, justamente da desmistificação não só do poder social das drogas, mas, em um nível muito mais profundo, da evidência da inviabilidade do projeto contracultural de transformação do mundo que Janis, Jimi e Morrison representavam.

“O sonho acabou”, decretaria John Lennon algum tempo depois, relegando os anos 60 – que o crítico neomarxista Fredric Jameson definiu como um período marcado por “uma imensa e inflacionada emissão de crédito superestrutural” - a objeto de culto de jovens de todas as idades, saudosos do que não viveram.

Porém, ainda que os neocons torçam o nariz e que os mais sensíveis se espantem com a comercialização de camisetas de grife com a face de Che Guevara estampada, o legado dos anos 60 permanece como força ideológica e política, como eventos tão díspares como a campanha presidencial de Obama e as novas relações trabalhistas adotadas por algumas das mais avançadas e bem-sucedidas empresas do mundo o demonstram.

Sob a marca do efêmero

O triste fim de Amy Winehouse, cantora de talento evidentíssimo, voz e técnica vocal únicas e excepcional presença de palco, pertence a outro âmbito, o do niilismo e da falta atual de perspectivas, no marco da passagem de “de uma sociedade da satisfação administrada para uma sociedade da insatisfação administrada”, na qual, ante a satisfação de um desejo, a recompensa do ego é tão fugaz que, mal consumado, outra demanda é imediatamente colocada, e assim sucessivamente – como diagnostica Vladimir Safatle, em sua releitura de Lacan. Amy, vida e morte, é só a parte visível de um amplo e preocupante fenômeno, cuja principal vítima é a juventude.

Deriva dessa toada a talvez mais chocante constatação ante a morte da cantora: faz só oito anos que, discretamente, o álbum Frank foi lançado, e três que o sensacional Back in Black chegou às lojas, transformando-a definitivamente em um fenômeno midiático, arrebatando legiões de fãs e fazendo com que seu visual fosse copiado por adolescentes de todo o planeta.

Talvez seja por isso que, embora Amy Winehouse nos deixe aos 27 anos de idade, a impressão é a de que morre uma adolescente. O que traz toda a sensação de desperdício e de necessidade de reflexão social que uma tal perda acarreta.

Segundo o IBGE, 14,4% dos jovens procuram trabalho e não acham

Enquanto o país comemora a queda do desemprego para 6,2%, uma análise dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a desocupação entre quem tem de 18 e 24 anos voltou a crescer

Segundo o IBGE, 14,4% dos jovens procuram trabalho e não acham
A jovem Eliza Regina Alves Matias, 18 anos, não consegue segurar as lágrimas ao conversar sobre sua situação profissional e financeira. Com a oitava série do ensino fundamental incompleta e um bebê de um ano e meio no colo, ela praticamente bate ponto na agência do trabalhador e às portas dos lojistas há um ano.

Mas, sem experiência profissional, não tem muitas perspectivas. “O maior problema é não ter estudo. Fico triste porque, na minha infância, faltou tudo, desde roupa até comida. E não quero que meu filho passe por isso”, diz.

Eliza engrossa as estatísticas de um mercado de trabalho que impõe aos jovens barreiras quase intransponíveis. Enquanto o país comemora a queda do desemprego para 6,2%, uma análise dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que a desocupação entre quem tem de 18 e 24 anos voltou a crescer.

A taxa média registrada nas seis principais regiões metropolitanas do país (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belo Horizonte e Porto Alegre), que tinha caído de 15% para 13,5% entre abril e maio, saltou para 14,4% em junho, mais que o dobro da média nacional.

Em Salvador, a realidade é ainda mais dura: o desemprego entre os jovens nessa faixa etária chega a 21,5%. O único desejo de Eliza é ter a oportunidade do primeiro emprego. “Quero estudar e me qualificar. Mas, para isso, preciso de dinheiro”, diz.

O economista José Márcio Camargo, da Opus Investimentos, observa que, para quem está entrando no mercado de trabalho, não importa o lugar do mundo: as vagas são escassas. A Espanha tem taxa de desemprego média de 20,9%. Entre os jovens com menos de 25 anos, esse índice salta para 44,4%.

Em Portugal, é de 28,1%. Na Itália, chega a 28,9%. “Existem várias razões para isso. Uma delas é que o jovem é pouco conhecido no mercado. O empregador não tem informações sobre a produtividade dele e prefere contratar quem está na ativa há mais tempo”, explica Camargo.

A lanterneira Fabiane de Souza Vaz, 24 anos, conhece bem os obstáculos. Depois de ficar um ano e meio desempregada, ela topou o desafio de aprender na oficina de um amigo, onde está há três anos. Mas, com um filho para criar e cursando faculdade de administração à noite, prefere ter um trabalho mais leve, que não a deixe tão cansada ao fim do dia. “Já tentei ser atendente, balconista e vendedora. Pedem experiência. Dizem que vão ligar e nada. Saio de 15 em 15 dias atrás de outra função”, afirma.

Walisson de Sousa Brito, 19 anos, se mudou do interior de Tocantins para o Distrito Federal em busca de melhores condições de trabalho. Na capital, não demorou a encontrar emprego. Mas conseguiu uma vaga para ganhar um salário mínimo, como atendente em supermercado. “A minha experiência é como frentista. Deixei currículos e disseram que iam ligar”, diz.

Na avaliação de José Márcio Camargo, o investimento no ensino seria uma forma de ao menos diminuir as disparidades. Segundo o IBGE, a taxa de desocupação na faixa de quem tem entre um e três anos de estudo é de 3,6%. No recorte de quatro a sete anos, passa para 5,3% e, de oito a 10, para 8,2%. Quando o profissional tem mais de 11 anos de estudo, ela volta a cair, para 6%.

Segundo o especialista, como o empresário não espera muita produtividade de quem tem poucos anos de banco de escola, ele não pensa muito antes de contratar. “No meio, está quem tem nível intermediário em instituições pouco conhecidas. Com a ausência de informações, o entrevistador prefere não efetivar. Entre quem tem curso superior, já há mais dados, e a taxa cai”.

Áreas carentes

Tarcísio Abreu, professor da pós-graduação em Gestão de Negócios do Ibmec Brasília, defende o fortalecimento do ensino profissionalizante. Esses gargalos concentrados em áreas estratégicas no país que sediará a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 ameaçam o crescimento econômico. “Precisamos de profissionais qualificados. As áreas de engenharia e agropecuária são carentes. Mas o processo de formação é a longo prazo”, diz.

Falta de experiência

O gerente executivo de Relações do Trabalho da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Emerson Casali, cita o alto custo da contratação como um obstáculo à concessão de emprego aos jovens. “As empresas resistem a contratar pessoas sem experiência, pois há custos adicionais em torná-las aptas ao trabalho. Essa é uma parte do problema.

A outra é que as despesas de contratação são as mesmas para quem tem e quem não tem experiência”, exemplifica. Segundo ele, há ainda a questão do tipo de vaga mais ofertada. “Os jovens têm demonstrado pouco interesse por setores com mercado aquecido, como a construção civil”, avalia.

Fonte: VoteBrasil

Inaceitável o aumento dos juros; imperativo mudar de política

O Banco Central voltou a elevar na última quarta-feira (20) em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros, para 12,5% ao ano. É a quinta elevação sucessiva. Com ela, a autoridade monetária sinaliza que dará continuidade à política de contenção do crescimento econômico, sob o pretexto de diminuir as pressões inflacionárias. O Brasil continua sendo o detentor do nada honroso título de campeão mundial em juros reais ao ano, com nada menos 6,8%, muito distante do segundo colocado, o Uruguai, que figura com 2,4%.

Como é natural, a medida mereceu o repúdio dos trabalhadores e das suas centrais sindicais, assim como de entidades empresariais ligadas à produção e ao comércio.

Ao informar sobre a medida através de comunicado lacônico, o Banco Central substituiu a expressão “ajuste suficientemente prolongado”, para a frase: “(...) decidiu, por unanimidade, neste momento, elevar a taxa Selic para 12,50% ao ano, sem viés”. O enfoque deixou em alguns a impressão de que o ciclo de ajustes para cima da taxa de juros poderá ter sido interrompido e não se repetirá em agosto. Ainda veremos. Em uma semana o Banco Central divulga a ata da sua reunião, em que oferecerá mais detalhes sobre as razões que levaram ao último aumento e sua visão perspectiva. Até lá o “senhor mercado” usará as pressões de sempre para que a autoridade monetária continue capitulando aos seus ditames.

Quando o economista Tombini, de “sólida formação acadêmica” e saído dos quadros “técnicos” da diretoria do Banco Central, foi alçado à condição de presidente da instituição, em substituição a Henrique Meirelles, cuja gestão ao longo dos oito anos do mandato do ex-presidente Lula, correspondeu aos interesses da banca monopolista nacional e internacional, o ministro da fazenda Guido Mantega, comemorou. Na ocasião, declarou que o novo presidente do BC não devia “vassalagem” a esses interesses. É notório que a gestão de Meirelles foi um dos aspectos mais vulneráveis do governo do presidente Lula, aos olhos do movimento democrático, popular e patriótico, que por diversas vezes repudiou a política monetária do Banco Central e denunciou o “rabo preso”, como diz a gíria popular, dessa autoridade com a banca internacional, de cujos quadros (o Banco Boston) saíra seu ex-presidente.

A insistência em uma política sabidamente lesiva aos interesses nacionais e dos trabalhadores, vinculada aos apetites vorazes do mercado financeiro, está a revelar que não basta “solidez acadêmica” e “visão técnica” para se distinguir do ex-banqueiro. O fato é que o Banco Central adquiriu uma autonomia de fato e fechou questão em torno dos dogmas da ortodoxia neoliberal e financista, incompatíveis com uma política de desenvolvimento nacional e progresso social.

Independentemente das especulações quanto ao curto prazo – se em agosto a Selic aumenta ou não outra vez –, muitos estragos já foram feitos.

O aumento da taxa básica de juros é um dos aspectos de um tripé perverso que compromete o desenvolvimento nacional. Os outros dois são o arrocho fiscal e o câmbio sobrevalorizado.

A permanência da política macroeconômica é inaceitável, pois compromete a realização das mudanças ansiadas pelos trabalhadores e o povo brasileiro. Mudar essa política, reorientando suas prioridades para estimular o crescimento econômico e o desenvolvimento nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho, é o grande desafio que deve mobilizar as energias do povo brasileiro, através de suas lideranças políticas e organizações sociais, e a vontade política do governo.
Editorial Vermelho

Massacre na Noruega supera chacinas nos EUA e no Brasil

O massacre a tiros de 85 pessoas confessado pelo norueguês Andres Behring Breivik - que também é acusado de ser o responsável pelo carro-bomba que deixou outras sete vítimas em Oslo, capital da Noruega - deixou mais mortos do que a soma de três grandes chacinas: no Realengo (Rio de Janeiro), com 12 vítimas; em Columbine (EUA), com 13; e em Virginia Tech (EUA), com 32 mortos. 

No total, 57 pessoas foram assassinadas nesses tiroteios, 28 a menos do que no massacre na ilha Utoeya que, até agora, soma 85 mortos. A chacina da Noruega ocorreu na última sexta-feira (22), em um acampamento de verão da juventude do Partido Trabalhista do país.

Os atentados noruegueses são a "maior tragédia da história recente do país", afirma Deisy Lima Ventura, professora de relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo).

“Não há precedente para uma tragédia dessa magnitude na Noruega. Os países nórdicos não são imunes a atentados, como já houve em Estocolmo, na Suécia [um homem detonou explosivos em um ato terrorista frustrado, em dezembro de 2010], mas nada foi tão grande como agora”.

Comparação com massacres

A especialista chama a atenção para diferenças entre os massacres realizados por indivíduos de forma isolada, em escolas ou locais públicos (como Realengo e Virgínia Tech), e a chacina ocorrida na Noruega.

“Há características próximas, como a de serem atentados motivados por pessoas que aparentemente não se encaixam na vida em sociedade. Mas o massacre norueguês tem um fator político que não existiu na chacina de Realengo”, exemplificou.

O atentado teve a intenção de eliminar o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, afirma Deisy Ventura. Ela recorda que Stoltenberg era aguardado pelos jovens do Partido Trabalhista um dia após o atentado.

Além da chacina causada por Breivik - ele chegou disfarçado de policial ao acampamento da juventude e disparou contra as vítimas com um fuzil -, a explosão de um carro-bomba em Oslo, no mesmo dia, diante do edifício-sede do governo do país, deixou outras sete pessoas mortas.

“O primeiro-ministro estava no prédio no momento das explosões. Acredito que em breve saberemos se ele [Andres Breivik] agiu sozinho ou com ajuda de alguém, mas seja como for, há um fator político claro nos atentados”

Até agora, a polícia norueguesa conta 92 mortos. Ao menos quatro outras vítimas podem ser identificadas - o número de corpos deve aumentar nos próximos dias.

Avanço da extrema-direita

Em um país que é referência de democracia, com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo (0,983 em uma escala que vai de 0 a 1) e com tradição de pacifismo, o massacre faz soar o sinal de alerta com relação às atividades da extrema-direita, afirma a especialista.

Os partidos e grupos de centro-direita na Europa estão sendo "contaminados" com posições extremistas nos últimos anos, ressalta Deisy, que fez doutorado em em direito internacional pela Panthéon-Sorbonne, em Paris.“Existe uma irradiação destas ideias extremistas e xenófobas entre políticos e grupos que não são historicamente radicais”.

Políticos franceses de direita recentemente desqualificaram a candidata à presidência pelo Partido Verde, Eva Joly, por ela ser uma estrangeira naturalizada no país. Ela não teria a "cultura tradicional da França" e por isso está sofrendo preconceito, aponta a professora da USP.

Fonte: R7

Face à crise: quatro princípios e quatro virtudes

Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.

A frase de Einstein goza de plena atualidade: “o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que vai superá-la”. É tarde demais para fazer só reformas. Estas não mudam o pensamento. Precisamos partir de outro, fundado em princípios e valores que possam sustentar um novo ensaio civilizatório. Ou então temos que aceitar um caminho que nos leva a um precipício. Os dinossauros já o percorreram.

Meu sentimento do mundo me diz que quatro princípios e quatro virtudes serão capazes de garantir um futuro bom para a Terra e à vida. Aqui apenas os enuncio sem poder aprofundá-los, coisa que fiz em várias publicações nos últimos anos.

O primeiro é o cuidado. É uma relação de não agressão e de amor à Terra e a qualquer outro ser. O cuidado se opõe à dominação que caracterizou o velho paradigma. O cuidado regenera as feridas passadas e evita as futuras. Ele retarda a força irrefreável da entropia e permite que tudo possa viver e perdurar mais. Para os orientais o equivalente ao cuidado é a compaixão; por ela nunca se deixa o outro que sofre abandonado, mas se caminha, se solidariza e se alegra com ele.

O segundo é o respeito. Cada ser possui um valor intrínseco, independetemente de seu uso humano. Expressa alguma potencialidade do universo, tem algo a nos revelar e merece exisitir e viver. O respeito reconhece e acolhe o outro como outro e se propõe a conviver pacificamente com ele. Ético é respeitar ilimitadamene tudo o que existe e vive.

O terceiro é a responsabilidade universal. Por ela, o ser humano e a sociedade se dão conta das consequências benéficas ou funestas de suas ações. Ambos precisam cuidar da qualidade das relações com os outros e com a natureza para que não seja hostil mas amigável à vida. Com os meios de destruição já construidos, a humanidade pode, por falta de responsabilidade, se autoeliminar e danificar a biosfera.

O quarto princípio é a cooperação incondicional. A lei universal da evolução não é a competição com a vitória do mais forte mas a interdependência de todos com todos. Todos cooperam entre si para coevoluir e para assegurar a biodiversidade. Foi pela cooperação de uns com os outros que nossos ancestrais se tornaram humanos. O mercado globalizado se rege pela mais rígida competição, sem espaço para a cooperação. Por isso, campeiam o individualismo e o egoismo que subjazem à crise atual e que impediram até agora qualquer consenso possível face às mudanças climáticas.

Os quatro princípios devem vir acolitados por quatro virtudes, imprescindíveis para a consolidação da nova ordem.

A primeira é a hospitalidade, virtude primacial, segundo Kant, para a república mundial. Todos tem o direito de serem acolhidos o que correspode ao dever de acolher os outros. Esta virtude será fundamental face ao fluxo dos povos e aos milhões de refugiados climáticos que surgirão nos próximos anos. Não deve haver, como há, extra-comunitários.

A segunda é a convivência com os diferentes. A globalização do experimento homem não anula as diferenças culturais com as quais devemos aprender a conviver, a trocar, a nos complementar e a nos enriquecer com os intercâmbios mútuos.

A terceira é a tolerância. Nem todos os valores e costumes culturais são convergentes e de fácil aceitação. Dai impõe-se a tolerância ativa de reconhecer o direito do outro de existir como diferente e garantir-lhe sua plena expressão.

A quarta é a comensalidade. Todos os seres humanos devem ter acesso solidário e suficiente aos meios de vida e à seguridade alimentar. Devem poder sentir-se membros da mesma família que comem e bebem juntos. Mais que a nutrição necessária, trata-se de um rito de confraternização.

Todos os esforços serão em vão se a Rio+20 de 2012 se limitar à discussão apenas de medidas práticas para mitigar o aquecimento global, sem discutir outros princípios e valores que podem gerar um consenso mínimo entre todos e assim conferir sustentabilidade à nossa civilização. Caso contrário, a crise continuará sua corrosão até se transformar num tragédia. Temos meios e ciência para isso. Só nos faltam vontade e amor à vida, à nossa, e a de nossos filhos e netos. Que o Espírito que preside à história, não nos falte.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.