segunda-feira, 25 de julho de 2011

O fascismo “templário” e “caçador de marxistas"

As razões dos atentados terroristas que vitimaram mais de 90 pessoas na Noruega na última sexta-feira (22) ainda não estão totalmente esclarecidas, mas nos escritos e declarações do autor confesso do crime revelados no domingo (24), há claros indicadores de uma perigosa ameaça às liberdades democráticas e à segurança da humanidade: o surgimento de um novo tipo de fascismo, cujas origens estão no seio da própria sociedade capitalista ocidental.

Logo após o desastroso episódio, chegou-se a insinuar que os atentados teriam sido cometidos pela Al-Qaeda ou, no caso de uma iniciativa isolada, por um “terrorista-fundamentalista islâmico”.

O massacre foi circundado de simbolismo. Primeiramente, foram detonados explosivos no bairro em que está a sede do governo de centro-esquerda norueguês, em Oslo. Em seguida, foi perpetrado um massacre em um acampamento de verão da juventude trabalhista.

O documento de 1500 páginas, de autoria do terrorista, intitulado “Manifesto pela Independência Europeia – 2083”, traz elementos que não devem ser substimados sobre o seu perfil político-ideológico: “Serei etiquetado como o maior monstro nazista desde a Segunda Guerra Mundial”. O bandido também qualifica-se como “caçador de marxistas”.

Apresenta-se ainda como “comendador dos cavaleiros justiceiros”, diz que é um “fundamentalista cristão”, faz referências à Ordem dos Templários, critica a “islamização” da Europa, o “avanço do multiculturalismo” e defende a necessidade de emprender uma “Cruzada Moderna”. Assume-se como integrante de um “Movimento de Resistência Nacional”.

Nas suas notas há também uma cruel ironia. Ao referir-se à facilidade com que adquiriu os materiais usados na preparação dos artefatos explosivos, disse: “tudo isso é fácil de comprar, a menos que alguém se chame Abdulá Rachid Mohamed…”.

O documento proclama o objetivo realizar “uma guerra preventiva contra os regimes culturalmente marxistas/multiculturais da Europa” para “rechaçar, vencer ou debilitar a invasão/colonização islâmica em curso, a fim de ter uma vantagem estratégica em uma guerra inevitável antes que a ameaça se materialize”. E um vaticínio: “O tempo do diálogo já passou (...) A hora da resistência armada soou”.

O sinal de alarme soa mais forte quando se sabe que além do ideário neofascista do autor dos atentados, vieram à tona também informações de que, nos últimos dias, muitos internautas europeus assumiram-se como pertencentes à mesma facção de extrema-direita. O terrorista de Oslo não é apenas membro do grupo extremista da Noruega, mas também faz parte de várias organizações de extrema-direita pan-europeias.

A direitização e fascistização da Europa não é fato novo e invade também a área política-institucional.

Na própria Noruega, como espécie de reação à vigência do governo de centro-esquerda, é crescente o apoio a ideias nacionalistas e xenófobas. O chamado Partido Progressista, de extrema-direita, se tornou a segunda força política do país, ao conquistar 23% dos votos nas eleições gerais.

De maneira intermitente, eleições nacionais nos países da Europa mostram o desenvolvimento das forças de extrema-direita, tendência que se observou também nas últimas eleições ao Parlamento Europeu.

Na Holanda, o chamado Partido da Liberdade do líder direitista Geert Wilders obteve 17% dos votos, que lhe valeram a eleição de quatro eurodeputados. Na Áustria, o Partido da Liberdade foi o quarto mais votado a nível nacional, ao conseguir 13,8% dos votos. No Reino Unido, o Partido nacionalista xenófobo British National Party conquistou o seu primeiro assento no Parlamento europeu, após uma votação que lhe rendeu perto de 8% dos sufrágios. Mais a Leste, na Hungria, o partido nacionalista e populista elegeu três deputados. Na Romênia, os ultranacionalistas liderados por Vadim Tudor, do Partido da Grande Romênia, obtiveram 7,2% dos votos e elegeram dois deputados na Europa. Destaca-se ainda o avanço da extrema-direita na Finlândia, com a formação do partido autodenominado “Verdadeiros Finlandeses”, que alcançou perto de 10% dos votos e 13 eurodeputados. O crescimento dos pequenos partidos mais radicais de direita verificou-se também na Espanha, Bulgária ou Grécia.

As tendências neofascistas no continente europeu radicam na crise econômica. Incapazes de encontrar soluções eficazes para os inarredáveis problemas do capitalismo, os setores mais retrógrados da burguesia atribuem ao aumento de imigrantes o agravamento da crise, fenômeno que pretendem combater com falsas soluções xenófobas que necessariamente resvalam para a adoção de medidas antidemocráticas e, in extremis, o terrorismo, como agora na Noruega.

Tudo isso demonstra a medida em que o fanatismo reacionário infectou o pensamento dominante.

Os governos conservadores e direitistas e a própria propaganda midiática em geral têm profundas responsabilidades pelo surgimento deste fenómeno. Esses governos direitistas atribuem a responsabilidade da recessão econômica e da instabilidade social aos imigrantes e começaram a adotar atitudes mais rígidas contra eles, inclusive muçulmanos. Mais e mais europeus estão passando a considerar que os imigrantes estão invadindo sua cultura e roubando seus empregos.

Na França, o governo conservador de Nicolas Sarkozy realiza campanhas para defender a “identidade da França”, numa demonstração de intolerância com as demais culturas nacionais e com o multiculturalismo característico da República francesa.

Nos Estados Unidos, o ex-presidente George W. Bush dizia que “se comunicava com Deus” e desencadeou as guerras preventivas que impuseram o terrorismo de Estado global ao mundo.

Estes fatos não são isolados e devem chamar a atenção das forças democráticas, progressistas e de esquerda em todo o mundo. O que está em gestação é um fenômeno grave – um generalizado ataque às liberdades, direitos e conquistas democráticas, que só será combatido eficazmente com a ampliação e o aprofundamento da luta popular. (Vermelho)

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