segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quem é a oposição mesmo?

Schopenhauer no seu modo de insultar dizia que “quem quiser me superar poderá fazê-lo na largura, mas não na profundidade”, num tempo em que ao seu modo de pensar criara adversários que nos dias de hoje poderia perder seu posto. Isso é profundo quando se trata de analisar 08 anos e mais de 100 dias de um mesmo projeto em andamento de Brasil. Parece que a oposição perdeu o rumo das coisas e somente tem mecanismos para superar o que está colocado na ordem do dia da política na largura e dificilmente poderá cabalar a profundidade.

Na última semana ficou comprovado o adágio popular de que somente se estabelece quem tem competência na política no Brasil. O Governo do Lula criou condições e premissas tão profundas, que a oposição a Dilma não consegue reunir as armas necessárias ao bom combate. Aécio Neves no auge da sua competência comprovada conseguiu aproximar todos os holofotes para sua pessoa, num discurso que poderia representar os interesses políticos da oposição, mas não conseguiu ainda arregimentar soldados e oficiais para o campo dessa batalha que deve permear os meandros da política no próximo período.

Enquanto a tropa de choque de Dilma alinhada na retaguarda, nos francos e na vanguarda, avança montanha acima e montanha abaixo, destroçando fortalezas construídas ao longo dos anos pelas velhas raposas que deram certo no passado muito recente, os soldados da oposição parecem que estão gordos e lentos e não conseguem passar além da ciumeira e das intrigas internas dos partidos. Enquanto as brigas por direções partidárias e as defecções e perdas que estão a acontecer para o novo partido de Kassab, atingem em cheio o projeto que poderia ser coordenado por Aécio, a frase de Schopenhauer parece que carregada de veneno faz mais sentido.

O que é de fato uma oposição política? Em algumas situações históricas ela serve de colírio para os olhos da própria democracia. E em outras apenas para atrapalhar o que pode está dando certo num determinado período da história. Sem oposição um Governo poderá não enxergar seus erros, bem como o povo não ver os fatos como realmente eles são. Mas oposição feita por apenas um indivíduo pode ser chamada de oposição?

Genaldo de Melo

Líbia: uma guerra com nome e sobrenome

Um médico que cura só os amigos e não os inimigos é um participante na guerra ou um cúmplice. Uma organização que protege os civis só de um lado e não os do outro não é humanitária, mas sim beligerante. De modo que não há nada de histórico na Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU. Histórica teria sido uma resolução para proteger os civis em todas as guerras, incluindo uma zona de exclusão aérea sobre Gaza, Bahrein, Paquistão e Afeganistão. O que está ocorrendo agora na Líbia é uma intervenção na qual se apoia uma parte contra a outra. Isso tem um só nome: guerra.
Washington (IPS) – Fiquei profundamente impressionado quando era um menino de 11 anos ao ver que meu pai, que era médico, operava dia e noite para salvar as vidas de soldados alemães que tinham ocupado meu país, a Noruega. Eles tinham ficado gravemente feridos por um torpedo que alcançou seu navio quando tentavam desembarcar. Meu pai dizia que o dever supremo de um médico é o de salvar vidas, sem fazer distinção alguma.

Um médico que cura só os amigos e não os inimigos é um participante na guerra ou um cúmplice. Uma organização que protege os civis só de um lado e não os do outro não é humanitária, mas sim beligerante. De modo que não há nada de histórico na Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU. Histórica teria sido uma resolução para proteger os civis em todas as guerras, incluindo uma zona de exclusão aérea sobre Gaza, Bahrein, Paquistão e Afeganistão. Mas no mesmo no dia em que se aprovou a resolução 1973, em 17 de março de 2011, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) foi tema de manchetes de primeira página ao matar civis no Afeganistão, o que, pelo visto, é uma rotina diária.

O que está ocorrendo agora na Líbia é uma intervenção na qual se apoia uma parte contra a outra. Isso tem um só nome: guerra.

É verdade, o presidente Barack Obama é mais multilateral que George W. Bush. Mas o problema não é quanto são os que decidem, mas sim o que decidem. Também é verdade que a resolução do Conselho de Segurança excluiu a previsão feita por Fidel Castro em 21 de fevereiro de que a OTAN iria ocupar a Líbia.

A maioria e a não aplicação do veto foram claras. Mas o trio anglo-estadunidense-francês representa menos de 500 milhões de pessoas, enquanto que os cinco países que se abstiveram – Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha – constituem quase a metade da humanidade.

Quem ganhar o apoio dos países islâmicos dirigirá o mundo e a OTAN agora está em guerra com quatro deles. O fato de os Estados Unidos colocarem-se em um segundo plano é facilmente explicável. O país está na bancarrota e quer compartilhar os custos econômicos, militares e, sobretudo, políticos. Há objeções no Congresso estadunidense sobre o tema e alguns temem que possa se converter em um atoleiro pior que o do Afeganistão.

Certamente, ninguém deveria ficar simplesmente olhando um regime reprimir seu próprio povo, como fez Kadafi. Todo outro tipo de medida deveria ter sido usada, incluindo a derrubada de aviões por meio de mísseis transportados por navios de guerra. Mas como alguém disse ironicamente na Rádio Nacional Pública dos Estados Unidos “presidente Obama lançou mais mísseis de cruzeiro que todos os outros ganhadores do Prêmio Nobel da Paz juntos” e esses projéteis atingiram todo tipo de alvos existentes, quer estivessem voando, circulando em veículos terrestres ou caminhando.

Um precedente é a ação da OTAN contra a Sérvia, na qual foram usados “todos os meios necessários”, mas sem um mandato do Conselho de Segurança da ONU. Como na Líbia, na Sérvia e no Kosovo o Ocidente fez sua propaganda habitual. O inimigo é reduzido a uma pessoa a odiar, ou seja, a receita usada por Orwell em seu livro “1984”. Milosevic, Hussein, Osama bin Laden e agora Kadafi. Esse trabalho preparatório foi feito também contra Fidel Castro e Hugo Chávez, até agora sem ações posteriores. É um paradoxo que o Ocidente, que produziu a ideia de um contrato social que o povo pode reconsiderar – Rousseau contra Hobbes – concentre-se tanto em uma só pessoa e tão pouco no povo.

Mas as metas na Sérvia eram claras: bombardear as empresas estatais, não as privatizadas, abrir caminho às corporações transnacionais para o controle dos recursos naturais, conseguir instalar essa enorme base militar chamada Camp Bondsteel e apoiar um chamado exército de libertação (UCK) que ostentava antecedentes recorde em matéria horrores. As armas usadas contra a Sérvia incluíram bombas de fragmentação e urânio empobrecido, que é radioativo e causa câncer nesta e nas futuras gerações.

Não sabemos se isso se aplica na guerra contra a Líbia. Não está claro quem são os rebeldes, ainda que não haja dúvida de que se opõem, com razão, fortemente à ditadura de Kadafi. Mas o que é que eles querem mesmo? Supostamente permitirão os investimentos estrangeiros diretos no petróleo e a instalação de uma ou duas bases militares, tanto por gratidão quanto para solidificar a vitória. E os Estados Unidos teriam então, finalmente, o que têm buscado há longo tempo: uma base da OTAN na África.

Na Líbia, talvez haja milhões de pessoas que não gostam de Kadafi, mas há também aqueles que, em troca, gostam muito de algumas de suas realizações. O Ocidente corre o risco de se converter em vítima de sua própria doutrina de “um país, uma pessoa” e cometer mais um duradouro e trágico crime contra a humanidade.
Johan Galtung (professor de Estudos sobre a Paz, e reitor de Transcend, uma organização que promove a paz, o desenvolvimento e o meio ambiente)

Dilma, 100 dias: oposição admite estar perdida com o novo governo

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) conclamou semana passada, da tribuna do Senado, toda a oposição a se unir para promover um “choque de realidade” no país. A tarefa se revela ambiciosa diante do estado em que se encontram os principais partidos oposicionistas, PSDB e DEM.

Mais do que superar crises internas e o distanciamento entre eles, tucanos e “demos” avaliam que precisam renovar não só o discurso, mas a forma de agir. O diagnóstico é que o estilo discreto e cauteloso da presidente Dilma Rousseff desarmou a oposição. Após três meses de gestão, líderes de PSDB e DEM concluíram que a fórmula usada pela oposição no governo Lula não surtirá efeito com a sua sucessora.

Com o ex-presidente, as duas legendas se acostumaram a fazer uma oposição mais reativa do que ativa, surfando basicamente nos discursos polêmicos de Lula. Ele tinha uma agenda de eventos intensa, aparecendo em público quase diariamente, o que propiciava aos oposicionistas pautas suficientes para fazer o enfrentamento com o governo.

Com Dilma, a fonte secou. As poucas aparições públicas e os discursos comedidos e sem improviso, que estão virando a marca da presidente, reduziram a voz da oposição. Tida como um trator quando ministra, Dilma não mudou a essência de seu estilo. Mas a dura campanha presidencial e a vitória nas urnas, com a formação de uma base aliada ainda maior que a de Lula, lhe deram uma combinação de traquejo e segurança política.

Poucos nomes no meio político, sobretudo na oposição, imaginavam que Dilma seria capaz de demonstrar tal desenvoltura — pelo menos tão cedo. “Ela adotou discrição, o que dificulta o trabalho da oposição e funciona como uma blindagem para a presidente. O Lula dava mais ganchos para a oposição”, reconhece o líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias (PR).

“Lula era 24 horas por dia no palanque. Já a Dilma tem um perfil menos eleitoreiro, o que faz com que esse embate da oposição com o governo tenha que mudar de características”, reforça o líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA).

O presidente do PSDB, deputado federal Sérgio Guerra (PE), também avalia que a atuação de Dilma — “mais discreta, reservada, que não se vulgariza, e não apela para a demagogia” — tem atrapalhado a atuação da oposição. Segundo Guerra, PSDB e DEM não estão esfacelados, mas diminuídos. “Agora temos que lidar com uma presidente que fala pouco. O Lula adubava nosso discurso.”

A ordem é fiscalizar
A preocupação da oposição é encontrar uma nova fórmula para recuperar espaço. Por ora, o entendimento, unânime, é que o caminho para sobreviver será fazer um trabalho sério de fiscalização do governo. Na tribuna do Senado, quarta-feira passada, esse foi um dos chamamentos de Aécio.

“Em relação ao governo, temos como obrigações básicas: fiscalizar com rigor, apontar o descumprimento de compromissos com a população, denunciar desvios, erros e omissões e cobrar ações que sejam realmente importantes para o país”, discursou o mineiro.

É nesse contexto que o DEM prevê lançar na próxima terça-feira, na liderança do partido na Câmara, um “promessômetro” da gestão Dilma. O painel mostrará as promessas feitas na campanha eleitoral e em que pé está a sua execução.

A iniciativa é inspirada no “impostômetro” de São Paulo, que mede a carga tributária e, alimenta os discursos da oposição. “A fiscalização mais rigorosa das ações do governo é o caminho para não deixar que esse estilo da Dilma amarre a oposição”, resume Álvaro Dias.

O passo adiante
Para o deputado federal Rui Falcão (PT-SP), a mudança no governo Dilma é tênue, mas existe. Segue uma linha de continuidade com alterações de rota, do mesmo modo que o segundo mandato de Lula não foi igual ao primeiro.

Depois da expansão do Bolsa Família como “vetor” de distribuição de renda e de aquecimento do mercado interno, o passo agora é o da erradicação da pobreza extrema, anunciada por Dilma em seu discurso de posse; de um programa de “água para todos” (saneamento básico) ao estilo do Luz para Todos, e da redução das desigualdades de gênero, com políticas públicas voltadas para as mulheres, após a primazia do combate às desigualdades regionais e sociais na era Lula.(Vermelho)

PT vive inquietação com saída temporária de Dutra

Há oito anos e 100 dias no poder, o PT passa por um drama complexo. Do ponto de vista político, o horizonte é calmo, com a popularidade da presidente Dilma Rousseff alta para o início de governo. O clima interno do partido, no entanto, não é tranquilo. De licença desde 22 de março, quando teve uma crise de hipertensão, José Eduardo Dutra (SE), presidente do partido, solicitou mais um período de afastamento - até a Semana Santa.
Como o assunto é tratado com muito cuidado dentro do PT e entre os amigos próximos de Dutra, as especulações são muitas.
Amigos, como o governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PC do B), e o deputado Márcio Macêdo (PT-SE), que têm mantido contato com Dutra, afirmam que ele teve um estresse fortíssimo por causa da sobrecarga de trabalho. E que eles mesmos o aconselharam "a dar um tempo" até se recuperar. "Eu sugeri que ele desligasse o telefone, porque um político gasta parte de sua vida e de suas energias ao telefone", contou Déda.
O fato é que, com a ausência de Dutra, três movimentos estão em curso nos bastidores do PT. "A maioria tem confiança de que Dutra voltará ao comando do partido", afirmou o deputado André Vargas (PR), secretário de Comunicação. O grupo Mensagem ao Partido, que conta com o governador do RS, Tarso Genro, procura levar o secretário-geral, Elói Pietá, para o cargo de Dutra.(AE)

Água na fervura da disputa por cargos no segundo escalão do governo

Na tentativa de amansar o ímpeto da base aliada por vagas no segundo escalão, Dilma optou por adiar a definição dos titulares de estatais.

Logo nos primeiros dias de governo, a anunciada disputa por cargos entre PT e PMDB teve o ápice com a sucessão na Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Quase 100 dias depois do embate entre o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), a fundação continua em compasso de espera, sem definição e sob o comando incerto de Faustino Barbosa Filho.

Pelo menos outras oito estatais desperdiçaram os últimos 100 dias submersas pela falta de definição do Palácio do Planalto quanto aos cargos de direção. Em alguns casos, estiveram quase à deriva.

O Banco da Amazônia (Basa) e o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) permanecem sob gestão praticamente interina. Há oito anos no BNB, Roberto Smith tenta seguir à frente da instituição, mas deve ser substituído por Miguel Cícero Lima, indicação do PT do Ceará. No Basa, a diretoria atual segue em banho-maria — embora uma troca geral já tenha sido acenada pelo Ministério da Fazenda.

Da mesma forma, companhias energéticas como a Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), a Eletrosul Centrais Elétricas e a Eletronorte continuam com as diretorias antigas, mesmo com indicativos fortes de mudanças.

Em 100 dias, nomes foram especulados para as três centrais, mas em nenhuma houve dança das cadeiras. Mesmo com o apagão em vários estados no início do ano, a Chesf continua presidida por Dilton Oliveira, indicação do PSB, feita pelo governador pernambucano, Eduardo Campos.

O cargo era cobiçado pelo secretário de Recursos Hídricos do estado, João Bosco Almeida, mas a troca não-efetivada. No restante da diretoria, compartilhada por PT e PMDB, não houve alteração.

Na Eletrosul, a tendência é de que Eurides Mescolotto permaneça no posto. A Presidência da companhia chegou a “pular de mãos” — o atual secretário executivo da Secretaria de Relações Institucionais, Cláudio Vignatti, chegou a ser cotado. Com a acomodação dos principais nomes petistas de Santa Catarina na Esplanada, a disputa pela posição esfriou, mas segue em aberto.

Na Eletronorte, a Presidência era vista como prêmio de consolação para José Antônio Muniz Lopes, que perdeu o comando da Eletrobrás. Indicado por José Sarney (PMDB-AP), no entanto, ele permaneceu na diretoria de transmissão da estatal, dando sobrevida, ao menos temporária, a Josias Mattos de Araújo.

“Imexível”

Somente agora, 100 dias depois de a presidente Dilma Rousseff subir a rampa do Planalto e assinar a nomeação dos ministros, a situação das estatais ganha contornos. As principais pendências estão nos setores financeiro e energético. Tida inicialmente como “imexível”, a Caixa assistiu à troca de Maria Fernanda Coelho por Jorge Hereda.

Pelo menos uma vice, a de gestão de pessoas, permanece vaga. No Banco do Brasil, Ademir Bendini permaneceu na Presidência, mas alguns subordinados foram substituídos para dar lugar a indicações políticas, como o ex-senador Osmar Dias (PDT-PR), agora titular da Vice-Presidência de agronegócio.

Fonte: Ivan Iunes / Tiago Pariz -VB

Em seu primeiro desafio pós-eleitoral, PSDB aprofunda racha em São Paulo

Tucanos elegem secretário de Alckmin para comandar diretório paulistano do partido, mas vereadores, que em 2008 apoiaram Kassab, novamente impõem resistência ao grupo do governador; resultado aumenta divisão no campo contrário ao PT

Menos de seis meses após uma eleição presidencial marcada pela divisão do partido, o PSDB, principal sigla de oposição ao governo federal, deu neste domingo, 10, novas mostras de que não consegue se unir em torno de um projeto. Na capital de São Paulo, os tucanos fracassaram na tentativa de eleger uma chapa de consenso para comandar sua instância municipal e, assim, iniciaram divididos a caminhada pela sucessão do prefeito Gilberto Kassab.
O secretário estadual Julio Semeghini (Gestão Pública), com apoio do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, foi eleito para comandar o Diretório Municipal do PSDB, porém sem o apoio da bancada de vereadores da capital, considerada fundamental para o eventual sucesso de uma candidatura tucana a prefeito por conta de sua inserção nas áreas mais populosas da cidade.
A bancada não aceitou os termos do acordo proposto pelo grupo de secretários ligados a Alckmin para a composição da Executiva e decidiu abandonar o processo de votação, realizado ontem na Câmara Municipal de São Paulo. Os vereadores queriam ficar com a secretaria-geral do PSDB paulistano, cargo logo abaixo da presidência na hierarquia partidária e com alto poder deliberativo. Não conseguiram.
"Acho que o resultado final foi muito ruim porque os vereadores são a base do partido", afirmou Floriano Pesaro, um dos tucanos mais influentes da Câmara por conta de sua ligação com o ex-governador de São Paulo José Serra e com o atual, Alckmin. (Julia Duailibi-AE)

Marina ameaça ficar fora de palanques do PV

A ex-senadora Marina Silva (PV-AC) não está disposta a subir em palanques em 2012, para ajudar a eleger vereadores e prefeitos verdes, se o seu partido não realizar neste ano um processo interno de abertura democrática. Terceira colocada na eleição presidencial, com 19,6 milhões de votos, ela acha que não seria coerente retomar o discurso da campanha presidencial, que enfatizava uma nova forma de fazer política, comprometida com a ética e a sustentabilidade, se dentro de casa ela não encontra isso.
"Quero falar para a sociedade sobre coisas que estamos praticando. Não posso falar de uma nova fórmula política se dentro do PV temos uma velha fórmula, se a discussão é cerceada, se as pessoas não podem sequer se manifestar", disse ela no sábado à tarde, em São Paulo, ao participar de um encontro da militância verde, organizado pelo movimento Transição Democrática.
Ontem, no Rio, ele se encontrou com Fernando Gabeira e outros dirigentes estaduais do partido para discutir a questão da nova fórmula de fazer política. Segundo suas explicações, foi possível falar dessa fórmula na campanha presidencial porque havia recebido a promessa, da direção do partido, de que seriam realizadas mudanças em toda sua estrutura, com a realização de debates, convenções e eleições internas, tão logo findasse a corrida presidencial. "Na época era inteiramente coerente", disse. "Agora não é mais".(AE)