segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A base operária comunista realiza encontro em Feira de Santana

Por Genaldo de Melo

No último dia 24 de setembro a base operária do Partido Comunista do Brasil de Feira de Santana realizou seu Ativo Sindical para discutir o desdobramento das deliberações do Encontro Nacional Sindical, analisar a conjuntura política no município, bem como tratar dos assuntos referentes ao processo eleitoral de 2012.
Participaram do encontro representantes de onze sindicatos com base no município. O evento foi coordenado por Rozete Evangelista, assessora da FETAG-BA, e Florisvaldo Campos da Coordenação Regional da CTB-Bahia. No evento compareceram também Aurino Pedreira, Secretário Sindical do Diretório Estadual do PCdoB, e Nivalto Lima, também do Diretório Estadual do Partido.
Aurino avaliou como muito positivo a iniciativa da base operária na retomada da organização partidária em Feira de Santana, já que o município tornou-se sede da região metropolitana, e além disso é segundo maior colégio eleitoral da Bahia.

A nova fase do PCdoB de Água Fria

Por Genaldo de Melo
O Diretório Municipal do PCdoB de Água Fria, coordenado politicamente pela Vereadora Renilda Santos, deu uma grande demonstração de força e capacidade de mobilização naquele município. No último dia 23 de setembro realizou sua Conferência Municipal, com a participação de cerca de 150 militantes, para debater as resoluções e diretrizes políticas para o próximo período, bem como escolher a nova direção partidária que ficará responsável pelo encaminhamento das ações que serão realizadas a partir de então.
Segundo Renilda Santos, que representa o Partido na Câmara de Vereadores, pela primeira vez a agremiação consegue colocar todos os seus militantes, bem como simpatizantes, para discutir temas relacionados com a construção de um projeto para o município. Os participantes do evento foram unânimes em seus discursos quanto a necessidade de manter o mandato que tem na Câmara de Vereadores e procurar ampliar o número de cadeiras, bem como colocar para a sociedade de Água Fria a proposta do Partido, para que a sociedade possa avaliar as ideias que possam construir um novo município, mais justo e mais humano.
No evento teve militantes de quase todas as comunidades rurais do município, bem como diversas pessoas que vivem na zona urbana. Presente ao evento também compareceu Genaldo de Melo, do Diretório Municipal do PCdoB de Feira de Santana, que avaliou como positivo essa nova fase da agremiação em Água Fria, desejando sucesso para nova direção partidária coordenada pela presidente Renilda.

A Comissão da Verdade e os argumentos cínicos da direita

Editorial do vermelho

Na avaliação de Nilmário Miranda, ex-secretário nacional dos Direitos Humanos no governo Luíz Inácio Lula da Silva, a aprovação da Comissão da Verdade pela Câmara dos Deputados (dia 21) foi o quarto momento da redemocratização desde a Lei de Anistia (1979), a criação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos (1995) e da Comissão da Anistia (2001).

É um longo período, que pode ser contado em décadas desde 1979, no qual se repete a lentidão dos passos progressistas e democráticos no Brasil, travados pelo freio representado pelo medo conservador da verdade, medo que impõe negociações e delongas.

Na questão da apuração dos assassinatos políticos, tortura e atentados aos direitos humanos cometidos durante a ditadura militar (1964-1985), estes interesses estão vivos, atuantes e têm representação no Congresso Nacional, como se pode ver mais uma vez na tramitação e demora para a aprovação da Comissão da Verdade, embora ela exista e funcione em cerca de 40 países que fizeram o trânsito de regimes ditatoriais para a democracia.

A resistência contra a apuração e revelação dos responsáveis por aquele passado tenebroso é diretamente proporcional à força política ainda mantida por setores da classe dominante envolvidos com a repressão política. O passado destes setores é a fonte do medo à verdade. Eles foram a face civil da ditadura e estiveram envolvidos no mínimo com o financiamento do aparato repressivo e, evidentemente, usam todo seu poder para impedir que a verdade da tortura e assassinato políticos seja exposta para a nação.

Há também aqueles que tergiversam e querem uma apuração “imparcial” que envolva também militantes da resistência democrática que pegaram em armas contra a tirania. O deputado da direita Jair Bolsonaro tentou evitar a obrigatoriedade de militares atenderem às convocações para depor. Foi derrotado pelo plenário na votação da Comissão da Verdade. O ex-ministro Jarbas Passarinho, importante quadro da direita militar desde a década de1950 e expoente da ditadura militar, quer incluir a apuração da atividade dos guerrilheiros no Araguaia, opinião hipócrita, primeiro porque a própria ditadura escondeu os corpos dos guerrilheiros presos e assassinados por agentes da repressão que, mais de 40 anos após aqueles acontecimentos, insistem em ocultar e manter em segredo a barbárie da repressão e o fim dado aos restos mortais daqueles heróis. E depois porque o alvo de Passarinho é o Partido Comunista do Brasil. Qual o significado de sua opinião? Não havendo guerrilheiros para julgar pois foram assassinados e seus corpos escondidos, ele quer colocar em julgamento o PCdoB, que dirigiu a resistência democrática e patriótica no Araguaia. Passarinho esconde, por traz do biombo da “imparcialidade”, um sólido sentimento revanchista, anticomunista e antidemocrático.

Alegações conservadoras como estas repercutem na Câmara dos Deputados. A deputada comunista Jandira Feghali (PCdoB-RJ) qualificou-as, corretamente, como cínicas. “Tivemos, lamentavelmente, que ouvir argumentos cínicos daqueles que pretendem tratar da mesma forma os atos criminosos cometidos durante o período da ditadura militar" e a resistência contra a ditadura, acusou a parlamentar.

A Comissão da Verdade terá sete membros nomeados pela presidente Dilma Rousseff, mais outros 14 servidores do governo federal. Seu objetivo, expresso na lei que a criou, será, entre outros, esclarecer as graves violações de direitos humanos ocorridas em seu período de investigação, que vai de 1946 a 1988 mas cujo foco é a ditadura, de 1964 a 1985; esclarecer de maneira circunstanciada os casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria; identificar e tornar públicos as estruturas, os locais, as instituições envolvidas naqueles crimes, incluindo suas eventuais ramificações nos diversos aparelhos estatais e na sociedade; recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos e assegurar sua não repetição, promovendo a efetiva reconciliação nacional.

Suas limitações são previsíveis. A principal delas será o impedimento de julgar ou criminalizar os torturadores e assassinos políticos da ditadura, protegidos pela Lei de Anistia e pela interpretação vigente que acatou a proteção aos chamados “crimes conexos" que figura naquela lei. Mesmo assim, sua constituição – que agora depende de aprovação pelo Senado – é um grande passo democrático. A Comissão da Verdade vai identificar os responsáveis por aqueles crimes, expondo-os ao conhecimento do país. Se efetivamente isto ocorrer, corresponderá na prática a um julgamento e uma condenação morais da ação criminosa daqueles agentes da repressão política.

Outro avanço é representado pela determinação de propor ações contra a tortura que ainda ocorre em delegacias brasileiras, uma herança perversa que se mantém justamente pela impunidade que protege aqueles que cometem violências contra presos que estão sob custódia do Estado.

Além disso, há uma promessa implícita na aprovação da Comissão da Verdade, expressa pela esperança manifestada por Nilmário Miranda de que ela não encerre o processo nem seja a última página da transição, mas um passo no rumo do estabelecimento da Justiça – e fortalecimento da democracia, pode-se agregar. Esperança com partilhada por outro ex-secretário nacional dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, para quem a revelação daqueles casos escabrosos poderá levar o Judiciário a uma nova jurisprudência, permitindo a punição dos torturadores e assassinos políticos. Este será um novo passo e, dada a resistência conservadora cúmplice daqueles crimes, uma nova luta.

Quem tem medo da Comissão da Verdade?

Por Emir sader

No mesmo dia que a presidenta Dilma Rousseff reiterava, com toda dignidade, a posição soberana da política externa brasileira, e mencionava sua condição de mulher vitima de tortura, poucas horas depois a Câmara aprovava a criação da Comissao da Verdade. Todos que participaram e acompanharam o processo que levou a essa decisão histórica sabem o significado da decisão.

Artistas e intelectuais mostraram, uma vez mais, sua sensibilidade diante das grandes causas nacionais, assinando um manifesto de apoio ‘a Comissao. Chico, Caetano, Gil, Niemeyer, Marilena Chaui, Leornardo Boff, Frei Betto, Eduardo Galeano, Noam Chomsky, e centenas de outros nomes expressivos (ver o manifesto, a lista dos aderentes e o espaço para novas adesões em
www.aquaria.com.br/verdade)– grande parte deles que havia estado no ato histórico do Teatro Casa Grande – souberam captar a importância do passo que rompe a inércia diante da investigação dos crimes cometidos durante a ditadura contra os direitos humanos e abre espaço para a apuração da verdade e a elaboração da versão oficial do Estado democrático brasileiro sobre o que ocorreu naquele período tão negativo da história do Brasil.

Por outro lado, diante desse amplo consenso nacional, vozes foram sendo ouvidas, na extrema direita – de que Bolsonaro é a expressão mais caricatural – e na ultra esquerda, condenando a Comissão. Uma coisa são criticas – muitas delas justas -, outra é a posição de que, como talvez não possa apurar tudo e como não tem poder de punição, a Comissão seria um “retrocesso”, uma “farsa” uma “pá de cal na possibilidade de revisar a história brasileira”.

Unem-se posições saudosistas da ditadura militar a exacerbações verbais demagógicas e, no meio, a posição de quem tem medo das apurações da Comissão. As primeiras são a cantilena conhecida da guerra fria, do “revanchismo” das vítimas em relação a seus torturadores, da tentativa de colocar no mesmo plano a violência do terrorismo de Estado e o dos resistentes.

Na segunda, estão os maximalistas, segundo os quais, se não tem condições de apurar tudo e punir os responsáveis pelas violações dos direitos humanos, não só não vale a pena, como a Comissão teria um papel negativo, teria que ser combatida e denunciada sua criação. Se somam a essa posição os que tem o rabo preso com a ditadura e tratam de relativizar o trabalho que a Comissão possa fazer, seja com o argumento do relativismo (sic) da verdade, seja alegando que instâncias não governamentais teriam melhores condições de apurar os fatos. (Quando emprestaram carros à repressão, o fizeram diretamente ao Estado e a seus órgãos mais comprometidos com as políticas de terror da ditadura.)

Nunca a pergunta coube com tanta forca: Quem tem medo da Comissão da Verdade? A Comissão pode convocar todas as pessoas que considere que possam esclarecer tudo o que aconteceu durante a ditadura militar. Tem o poder de acesso a todo tipo de documento, não importando o grau de sigilo deles. Todo os que julguem que possam esclarecer os fatos tem direito a ser ouvido pela Comissão. Alguem tem dúvida de que a Comissão terá uma composição claramente favorável à democracia e contra a ditadura?

Alguns tem a prepotência de decretar que é uma comissão falida. São os mesmos que haviam decretado que o governo Lula tinha “traído” o povo brasileiro e este teve que desmentir esse prognóstico aziago – entre cético e cínico – de forma clara e reiterada. Acreditam que decidem com palavras o que é e será a história, sem deixar margens de ação para os seres humanos, para as forças sociais, políticas, culturais.

Alguns acreditam no fim da história, em que nada leva a nada, que os seres humanos sao incapazes de mudar seus destinos. Fosse assim, ainda estaríamos na ditadura, ainda seríamos o país mais desigual do mundo, os monopólios dos meios de comunicação ainda estariam elegendo e reelegendo seus representantes para dirigir o Brasil em seu nome e na defesa do seus interesses.

Outros têm medo da história. Que se descubra sua participação durante a ditadura, de que pregaram o golpe, apoiaram a ditadura, acobertaram seus crimes, muitos enriqueceram. Tentam enfraquecer a Comissao, duvidar da sua capacidade de investigação, introduzir a desconfiança sobre seus resultados.

Mas a Comissão é uma conquista da democracia, dos que lutam pela apuração das violações dos direitos humanos durante a ditadura. A aprovação da Comissão cria um novo espaço de luta, de disputa para que as investigações consigam incluir a todas as violações e as conivências com elas, apurando os fatos e as responsabilidades, pessoas e institucionais.

Quem não deve, não deve temer nada do trabalho da Comissão. Deve apoiar seus trabalhos, contribuir para esclarecer tudo o que aconteceu no período ditatorial e a elaborar a versão que a democracia brasileira tem da ditadura.

Abbas lança"primavera palestina" e diz que o caminho é longo

Mahmud Abbas teve um retorno triunfal a Ramallah neste domingo. "Daremos nosso espírito e nosso sangue por Abu Mazen" (nome de guerra de Abbas), gritaram milhares de pessoas. Aos 76 anos, Mahmud Abbas ingressa lentamente no paraíso da memória histórica e vai ocupando um lugar ao lado de quem, até agora, o cobria com sua sombra: Yasser Arafat. Em seu discurso, o presidente palestino advertiu que, a partir de agora, começa um "caminho muito longo".

Ainda que tardiamente, a glória bateu à porta de Mahmud Abbas. O experiente burocrata da OLP, o homem sem carisma nem magnetismo algum, carente de popularidade, acusado há dois anos por seu povo de ter se convertido em um “presidente de aeroporto e de cúpulas vazias”, forçou as portas da história com o discurso que pronunciou sexta-feira nas Nações Unidas, no qual pediu a adesão da Palestina como Estado.

A prova, tangível e surpreendente, foi seu retorno triunfal a Ramallah e os gritos de milhares de pessoas que escutaram domingo seu breve discurso: “Daremos nosso espírito e nosso sangue por Abu Mazen” (nome de guerra de Mahmud Abbas). Antes, a multidão gritava “daremos nosso espírito e nosso sangue pela Palestina”.

Aos 76 anos, Mahmud Abbas ingressa lentamente no paraíso da memória histórica e vai ocupando um lugar ao lado de quem, até agora, o cobria com sua sombra: Yasser Arafat. Em todos os escritórios dos integrantes da Autoridade Palestina há dois retratos: à direita o de Mahmud Abbas, à esquerda, o de Arafat. Ontem, no restaurante de um agradável hotel de Ramallah, um membro da Autoridade Palestina comentava que Abbas era o presidente e Arafat era a lenda: “a partir desse momento, Abu Mazen deu o passo que vai do líder ao símbolo”.

O responsável palestino avança tranquilo. Assim que entrou na Muqataa (sede da presidência palestina), Abbas se recolheu por alguns instantes diante da tumba de Arafat. Logo depois, diante de milhares de palestinos que o aclamavam na Muqataa, Abbas deu por iniciada a “primavera palestina” e reiterou que não haveria novas negociações com Israel “sem legitimidade internacional e sem o fim da extensão das colônias”. Abbas preencheu um vazio com seu discurso na ONU e aquela já célebre trilogia: “basta, basta, basta!”. Com ela, restaurou sua opaca legitimidade interior e também deu uma demonstração para dentro e para fora.

Internamente, Abbas barrou as críticas sobre sua falta de legitimidade popular como líder e se içou à altura de um interlocutor respaldado por seu povo na perspectiva da reconciliação palestina, ou seja, a aproximação entre as facções e a posterior formação de um governo de união nacional que integre os fundamentalistas do Hamas que controlam a faixa de Gaza.

A mesma mensagem é válida para Israel e para a comunidade internacional. Ambos olham agora para um homem até então sem prestígio interno, desgastado pelos fracassos, respaldado por sua sociedade. A estratégia palestina deu certos resultados. A linha política da OLP consistiu em apostar por entregar à comunidade internacional a missão de resolver o aspecto mais substancial de um problema que, segundo a Autoridade Palestina, iniciou na própria ONU.

O Estado de Israel foi criado por uma resolução da ONU, por conseguinte, é a ONU que deve fazer a mediação em busca de uma solução para o desastre que ela mesma desatou. Em 1947, a Inglaterra entregou às Nações Unidas o mandato que detinha sobre a Palestina e, em novembro do mesmo ano, a ONU adotou a resolução 181 mediante a qual dividiu a Palestina entre um Estado judeu e outro árabe. A Autoridade alega que até hoje essa resolução não foi cumprida porque somente um dos dois Estados tem existência legal.

Em seu improvisado discurso de domingo, Abbas advertiu que, a partir de agora, começa um “caminho muito longo”. Interrompido por aclamações diversas vezes, Abbas disse: “fomos a ONU levando suas esperanças, seus sonhos, suas ambições, seus sofrimentos, sua visão e o desejo de vocês por um Estado Palestino independente”. A multidão respondeu a ele: “o povo quer um Estado Palestino”.

O discurso do medo adotado pelo governo israelense, que precedeu a intervenção na ONU, e alguns abusos ridículos cometidos depois pelas autoridades de Tel Aviv, aumentaram a sensação de orgulho e de dignidade dos palestinos. Abbas conseguiu mudar sua imagem de homem que sempre aceita os acenos de promessas feitas pelo Ocidente. Para os palestinos, não só seu discurso foi histórico, como, sobretudo, o fato de Abbas ter enfrentado os Estados Unidos e ter dito não á primeira potência mundial. Até o último momento, Washington tentou persuadir Mahmud Abbas de não apresentar o pedido de adesão ante o Conselho de Segurança. Abbas recusou.

O presidente palestino parece inclusive disposto a ir mais longe. Abbas quer mudar alguns termos do acordo de Oslo, concretamente o capítulo assinado em Paris e mediante o qual se transferiu a Israel o controle total das importações e exportações palestinas. Essa cláusula, diz Abbas, não faz mais do que asfixiar à já precária economia palestina.

A reivindicação perante a ONU de uma adesão da Palestina como Estado com base nas fronteiras de 1967 e com Jerusalém como capital, assim como as palavras de Abbas na Muqataa não resolve nada por agora. São sementes lançadas em uma terra simbólica. O primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, respondeu aos palestinos incitando-as às negociações sem condições prévias. “Se querem a paz, ponham todas as condições de lado”, disse Netanyahu. Mas o limite de toda negociação é o descrédito do processo de paz e, principalmente, o de seus atores exteriores: Estados Unidos em primeiro lugar e o Quarteto para o Oriente Médio (Estados Unidos, União Europeia, Nações Unidas e Rússia). Os líderes palestinos têm uma opinião desastrosa sobre o quarteto e, em especial, de seu atual chefe, o ex-primeiro ministro britânico Tony Blair. Para os negociadores de Ramallah, a presença de Blair nessa instância é pouco menos que um insulto.

A responsabilidade histórica da Inglaterra na instabilidade do Oriente Médio e o fato de Blair ter sido o sócio mais fiel dos EUA no desencadeamento da segunda guerra do Iraque não fazem dele um interlocutor saudável. Há alguns dias, o Quarteto propôs a palestinos e israelenses que voltassem à mesa de negociações com a meta de chegar a um acordo até 2012. No entanto, a proposta levantada pelo Quarteto não menciona de maneira explícita o congelamento da colonização na Cisjordânia. Mahmud Abbas não voltará ao diálogo enquanto prosseguir a colonização.

O primeiro ministro israelense não tem razão alguma para detê-la após o escandaloso e explícito apoio que recebeu do presidente norteamericano Barack Obama. Em apenas dois anos, o patético Prêmio Nobel da Paz passou do discurso sobre a “intolerável situação dos palestinos” (discurso no Cairo) para o discurso anti-árabe e acusador que pronunciou nas Nações Unidas.

O presente dos palestinos é entusiasta e cheio de uma honra recuperada, mas o horizonte é perigoso. Mas meses acumulados de frustração e de pressões podem destapar, de um lado e outro do muro da Cisjordânia e em Gaza, a tentação do extremismo e a barbárie da violência. A sombra de Arafat volta a pairar sobre o processo. O falecido líder palestino fez concessões, mas também conseguiu muitas coisas desde os anos 90. A nuvem negra do terrorismo acabou as engolindo.

O mesmo ocorreu em Israel com o assassinato do primeiro ministro Yitzhak Rabin por um extremista judeu (1995). Apesar das voltas e contradições, o terrorismo e o atentado contra Yitzhak Rabin frearam a dinâmica mais frutífera do processo de paz. Mahmud Abbas se move entre a glória nascente e essas sombras que o espreitam.

Tradução: Katarina Peixoto

Precisamos de muita e muita coragem

Perguntei à anciã da tribo Maori qual era para ela a virtude mais importante. Para minha surpresa ela disse:”é a coragem”

Por Leonardo Boff - Brasil de Fato
Em 14 de setembro último, celebrou 90 anos de idade uma das figuras religiosas brasileiras mais importantes do século XX: o Cardeal Paulo Evaristo Arns. Voltando da Sorbonne, foi meu professor quando ainda andava de calça curta em Agudos-SP e depois, em Petrópolis-RJ, já frade, como professor de Liturgia e da teologia dos Padres da Igreja antiga. Obrigava-nos a lê-los nas linguas originais em grego e latim, o que me infundiu um amor entranhado pelos clássicos do pensamento cristão. Depois foi eleito bispo auxiliar de São Paulo. Para protegê-lo porque defendia os direitos humanos e denunciava, sob risco de vida, as torturas a prisioneiros políticos nas masmorras dos órgãos de repressão, o Papa Paulo VI o fez Cardeal.

Embora profético mas manso como um São Francisco, sempre manteve a dimensão de esperança mesmo no meio da noite de chumbo da ditadura militar. Todos os que o encontravam podiam, infalivelmente, ouvir como eu ouvi, esta palavra forte e firme: “coragem, em frente, de esperança em esperança”.

Coragem, eis uma virtude urgente para os dias de hoje. Gosto de buscar na sabedoria dos povos originários o sentido mais profundo dos valores humanos. Assim que na reunião da Carta da Terra em Haia em 29 de junho de 2010, onde atuava ativamente sempre junto com Mercedes Sosa enquanto esta ainda vivia, perguntei à Pauline Tangiora, anciã da tribo Maori da Nova Zelândia qual era para ela a virtude mais importante. Para minha surpresa ela disse:”é a coragem”. Eu lhe perguntei: “por que, exatamente, a coragem?” Respondeu:

”Nós precisamos de coragem para nos levantar em favor do direito, onde reina a injustiça. Sem a coragem você não pode galgar nenhuma montanha; sem coragem nunca poderá chegar ao fundo de sua alma. Para enfrentar o sofrimento você precisa de coragem; só com coragem você pode estender a mão ao caído e levantá-lo. Precisamos de coragem para gerar filhos e filhas para este mundo. Para encontrar a coragem necessária precisamos nos ligar ao Criador. É Ele que suscita em nós coragem em favor da justiça”.

Pois é essa coragem que o Cardeal Arns sempre infundiu em todos os que, bravamente, se opunham aos que nos seqüestraram a democracia, prendiam, torturavam e assassinavam em nome do Estado de Segurança Nacional (na verdade, da segurança do Capital).

Eu acrescentaria: hoje precisamos de coragem para denunciar as ilusões do sistema neoliberal, cujas teses foram rigorosamente refutadas pelos fatos; coragem para reconhecer que não vamos ao encontro do aquecimento global mas que já estamos dentro dele; coragem para mostrar os nexos causais entre os inegáveis eventos extremos, conseqüências deste aquecimento; coragem para revelar que Gaia está buscando o equilíbrio perdido que pode implicar a eliminação de milhares de espécies e, se não cuidarmos, de nossa própria; coragem para acusar a irresponsabilidade dos tomadores de decisões que continuam ainda com o sonho vão e perigoso de continuar a crescer e a crescer, extraindo da Terra, bens e serviços que ela já não pode mais repor e por isso se debilita dia a dia; coragem para reconhecer que a recusa de mudar de paradigma de relação para com a Terra e de modo de produção pode nos levar, irrefreavelmente, a um caminho sem retorno e destarte comprometer perigosamente nossa civilização; coragem para fazer a opção pelos pobres contra sua pobreza e em favor da vida e da justiça, como o fazem a Igreja da libertação e Dom Paulo Evaristo Arns.

Precisamos de coragem para sustentar que a civilização ocidental está em declínio fatal, sem capacidade de oferecer uma alternativa para o processo de mundialização; coragem para reconhecer a ilusão das estratégias do Vaticano para resgatar a visibilidade perdida da Igreja e as falácias das igrejas mediáticas que rebaixam a mensagem de Jesus a um sedativo barato para alienar as consciências da realidade dos pobres, num processo vergonhoso de infantilização dos fiéis; coragem para sentar na cadeira de Galeleo Galilei para defender a libertação e a dignidade dos pobres; coragem para anunciar que uma humanidade que chegou a perceber Deus no universo, portadora de consciência e de responsabilidade, pode ainda resgatar a vitalidade da Mãe Terra e salvar o nosso ensaio civilizatório; coragem para afirmar que, tirando e somando tudo, a vida tem mais futuro que a morte e que um pequeno raio de luz é mais potente que todos as trevas de uma noite escura.

Para anunciar e denunciar tudo isso, como fazia o Cardeal Arns e a indígena maori Pauline Tangiori, precisamos de coragem e de muita coragem.

Daslu caloteira pode ser despejada

Por Altamiro Borges

O Shopping Cidade Jardim, endereço da elite paulistana, entrou na semana passada na Justiça com pedido de despejo da butique Daslu – famosa por vender roupas de grife, por promover contrabando e por ter empregado a filha do governador Geraldo Alckmin. Segundo a gerenciadora do shopping, JHSF, a loja deve R$ 471,8 mil de aluguel e encargos somente de agosto passado.

Conforme informa o repórter Toni Sciarretta, da Folha, o processo na Justiça “diz respeito à ‘velha’ Daslu, comandada pela empresária Eliana Tranchesi, e que reúne a parte ruim do negócio, incluindo a dívida com a Receita Federal de mais de R$ 500 milhões”. Em outras palavras, a empresária caloteira dividiu os seus negócios para poder fraudar pagamentos e manter os seus lucros.

Nova loja no Rio de Janeiro

Segundo a matéria, em julho, “a Justiça de Falência acatou o pedido da Daslu de recuperação judicial, mecanismo que substituiu a antiga concordata e protege a empresa dos credores”. A empresa Laep, então, “comprou a parte ‘boa’ da Daslu, para alugar um espaço 50% maior. Na prática, a Daslu de Tranchesi é despejada do térreo e ressurge renovada nos dois andares superiores do mesmo shopping”.

Além disso, a empresária devedora acaba de anunciar que abrirá nova loja em novembro. “Enquanto a parte endividada da Daslu é ameaçada de despejo do Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, a marca se prepara para abrir uma loja de dois andares no shopping mais luxuoso do Rio de Janeiro” – o São Conrado Fashion Mall, na zona sul carioca –, informa outra reportagem.

Que tal uma “marcha” contra a Daslu?

“O valor do investimento não é revelado pela Laep, empresa que adquiriu a marca da empresária Eliana Tranchesi em fevereiro. A parte ‘ruim’ do negócio, que inclui dívida de mais de R$ 500 milhões com a Receita, continua sob comando de Tranchesi. No Rio, a loja deverá ter uma equipe de 30 funcionários”.

Como se observa, os empresários têm várias mecanismos para sonegar impostos e fraudar pagamentos. Na relação promíscua entre corruptores e corruptos, eles também conseguem benesses e favores dos órgãos públicos. Seria o caso da Juventude do PSDB, tão ativa nas “marchas contra a corrupção”, convocar um protesto contra a Daslu. Poderia até convidar a filha de Geraldo Alckmin!

A esquerda triunfou na Líbia

Por Carlos Martínez, no sítio espanhol Rebelión:

É possível que a Otan seja aliada de uma revolução? A esquerda pode compartilhar lutas e objetivos junto com os fundamentalistas islâmicos implicados nos atentados de 11-M de Madri?

É um ato revolucionário e espontâneo cortar as cabeças dos inimigos rendidos ou executá-los sem julgamento prévio? Onde estão as fotos ou vídeos de ataques militares às manifestações da Líbia? Por que há dos cidadãos de Bahrain?

Desde quando a Otan tem o objetivo de proteger à população civil? É a primeira vez ou já utilizou esta desculpa anteriormente? Os bombardeios aéreos são uma proteção? Por acaso os ataques aéreos não são um modo de intervenção covarde e impune?

É possível bombardear, destruir e assassinar parte de sua população civil pelo fato de um país ser governado por um ditador? Por um acaso o povo espanhol pediu que a OTAN bombardeasse o país durante a ditadura genocida de Francisco Franco? Defenderíamos essa guerra se vivêssemos em Tripoli?

A monarquia e a imposição da lei islâmica são revolucionárias? Por que muitos rebeldes utilizam símbolos nazistas? Onde estão as bandeiras e os sinais revolucionários que vimos na Tunísia e no Egito?

Os governos de Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia e Nicarágua poderiam ter se equivocado ao mesmo tempo, quando pediram uma saída negociada e pacífica?

Por que não se optou pela mediação proposta pela União Africana? Qual país africano apoiou a intervenção da Otan na Líbia? Por que então dizem que somente Hugo Chávez apoiou Kadafi?

É possível afirmar que a intervenção da Otan estava protegida pela ONU? Não é correto que o Conselho de Segurança concordou com a intervenção para “impor uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e dar assistência e proteção à população civil desse país? Não foi a Otan a força armada que desequilibrou a guerra civil na Líbia?

A esquerda na Europa está em condição de ensinar à esquerda que tomou o poder na América Latina? Esta esquerda se distanciará definitivamente da esquerda revolucionária da América Latina? É possível ser ecologista e pacifista e apoiar os ataques da Otan a alvos civis?

É lógico que uma revolução comece repartindo os recursos naturais entre as multinacionais estrangeiras?

É lógico que meios de comunicação como a Fox, CNN, Intereconomia, El Mundo, La Razón, ABC, o grupo Prisa e Vocento retransmitam e apóiem uma revolução com tanta unanimidade somente pela defesa de interesses comuns?

Kadafi causou mais mortes que Sadam Hussein? Não foi Sadam por acaso um representante do império na guerra contra o Irã? Por que a resistência armada de curdos e xiitas no Iraque não é qualificada de “revolta popular”?

Só há valentes em um dos lados? Por um acaso são covardes o que continuam lutando contra a intervenção na Líbia?

Pode uma revolução ser modelo para o presidente dos Estados Unidos?

Por que pessoas da esquerda que renegam (merecidamente) a transição espanhola, qualificam de revolução o que está ocorrendo na Líbia? Há alguma possibilidade de que na Líbia o povo tome o poder e se constitua um governo revolucionário? A nova Líbia será mais igualitária?

Em resumo, para derrotar Kadafi, justifica-se a morte de milhares de civis inocentes, tanto horror e sofrimento?

Em caso de dúvidas – e se forem sérias – deveria ter prevalecido o princípio “Não à guerra”.

Sinceramente, oxalá à nova Líbia seja um país mais justo que a ditadura anterior de Kadafi. No entanto, a experiência do Iraque e Afeganistão demonstrou o contrário. Serão as mulheres, como quase sempre, as principais e as mais prejudicadas por um sistema mais machista e reacionário, como ocorreu onde os EUA intervieram para implantar a democracia.

Espero também, no pior dos casos, que a esquerda que apoiou tão veemente a guerra da Líbia tenha a capacidade de fazer autocrítica assim que esteja consolidado o novo regime no país norte africano.

* Tradução de Sandra Luiz Alves.