terça-feira, 11 de outubro de 2011

Grupos anticorrupção perdem força na internet

Os manifestantes têm como principais exigências o fim das votações secretas no Congresso, a validação da Lei da Ficha Limpa e a transformação da corrupção em crime hediondo.

Grupos anticorrupção perdem força na internet
Os grupos que se organizaram nos últimos meses pela internet para realizar atos anticorrupção planejam um novo ato, para a próxima quarta-feira, em 11 Estados.

No entanto, os protestos devem ser menores que os vistos no feriado de 7 de setembro. As informações são do jornal “Folha de S. Paulo”, em matéria publicada nesta segunda-feira.

Os manifestantes têm como principais exigências o fim das votações secretas no Congresso, a validação da Lei da Ficha Limpa e a transformação da corrupção em crime hediondo.

Na preparação dos atos de 7 de setembro, os organizadores se mobilizaram pelas redes sociais, sobretudo o Facebook, e receberam adesão de 130 mil pessoas. Agora, o número caiu para cerca de 40 mil.

Nas ruas, as manifestações tiveram adesão ainda menor que na internet. Dos protestos ocorridos em todo o país, apenas o de Brasília reuniu um grande número de pessoas - 12 mil, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.

Em São Paulo, 1.200 pessoas foram à avenida Paulista. No Rio de Janeiro, o ato foi ainda menor: cerca de 50 manifestantes.

Fonte: band.com.br

Além de PSD, mais dois novos partidos miram eleições 2012

PSD, que tem 52 deputados, levou seis meses para coletar assinaturas. Em contraste com PSD, PPL e PEN levaram 2 anos ou mais para ter apoios.

Além de PSD, mais dois novos partidos miram eleições 2012
A criação do Partido Social Democrático (PSD), do prefeito paulistano Gilberto Kassab, não foi a única novidade no quadro partidário deste ano pré-eleitoral. Mas sua formalização, em tempo recorde, destoa da realidade de outros dois novos partidos.

Uma das explicações para a rapidez da criação do PSD é a articulação política da nova legenda, que já conta com pelo menos dois senadores, 52 deputados federais - a terceira bancada da Câmara - e um assento no governo federal com a adesão do chefe do Conselho Público Olímpico, Henrique Meirelles.

A 29ª legenda brasileira, o Partido Pátria Livre (PPL), obteve registro na última terça-feira (4) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas levou quase dois anos para coletar as mais de 520 mil assinaturas admitidas pela Corte.

"Foram, no total, cerca de 1,25 milhão de assinaturas coletadas em todo o Brasil desde julho de 2009 a junho de 2011", disse o presidente do PPL-SP e secretário nacional de organização e comunicação, Miguel Manso.

O tempo contrasta com o poder de fogo do PSD, lançado em março deste ano e que, desde então, em pouco mais de seis meses, conseguiu levantar 538.263 assinaturas, das quais 514,9 mil consideradas válidas, em meio a acusações de fraudes como troca de assinaturas por cestas básicas, duplicidade de assinaturas e a inclusão de eleitores mortos na lista de apoiadores. A defesa do PSD sempre negou as irregularidades.

Enquanto o PSD já conta com grande representação no Congresso, o PPL diz avançar em cidades pequenas e médias, com apoio nos bastidores dos governos e em empresas estatais.

Com representação em 23 estados, a legenda destaca a filiação de José Luís Lago, ex-candidato a deputado federal pelo PPS e irmão de Jackson Lago, ex-governador maranhense, morto em abril deste ano.

Esgotado na última sexta (7) o prazo para as filiações dos interessados em concorrer nas eleições de 2012, o próximo passo, segundo Manso, é crescer para as eleições de 2014 com filiações, até o próximo mês, de deputados e prefeitos que não pretendem concorrer no próximo ano.

"Aí sim teremos outro crescimento grande, já que esses companheiros não têm a data fatal para a candidatura do ano que vem. Então, podem avaliar a adesão com mais tempo", disse. Ele não soube informar quantos filiados foram admitidos pelo partido até sexta.

Quase lá

Na quarta-feira (5), o TSE abriu prazo de dez dias para que o Partido Ecológico Nacional (PEN) apresente as assinaturas necessárias à comprovação do apoio nacional mínimo de eleitores para a oficialização da legenda.

Com 373.159 assinaturas aceitas, faltam 118.484 para o PEN ser admitido como o 30º partido brasileiro - são necessárias aproximadamente 500 mil assinaturas em todo o país, cerca de 0,5% do total de eleitores que participaram das eleições para deputado federal em 2010.

"Não é fácil ter mais de meio milhão de assinaturas certificadas. São mais de quatro anos trabalhando sem parar com foco principalmente nas assinaturas", lamentou o presidente nacional do partido, Adilson Barroso.

Para ele, a rejeição de parte das assinaturas foi um "equívoco". Ele atribuiu o impasse a uma suposta falta de tempo da ministra do TSE e relatora do pedido, Nancy Andrighi, em conferir as assinaturas de apoio com a devida atenção.

Foram descartadas, segundo o tribunal, 207.248 assinaturas, em relação às quais o TSE verificou irregularidades como duplicidade, ausência da autenticação de assinaturas ou a apresentação de meros requerimentos de apoio.

Governo ou oposição

Na ocasião do lançamento do PSD, no início do ano, Kassab chegou a afirmar que o partido não seria "nem de esquerda nem de direita" e que poderá votar no Congresso a favor de projetos do governo que sejam "de interesse do país".

A tônica dos demais partidos é a mesma: não querem ser chamados de governistas - no máximo de siglas identificadas ou mesmo "alinhadas" com a gestão da presidente Dilma Rousseff.

No PPL, "governismo" é "palavrão", diz Manso, ainda que o partido tenha integrado informalmente a campanha de Dilma e do ex-candidato ao governo de São Paulo Aloizio Mercadante, hoje ministro.

"Governismo é uma coisa chata, é aderir apenas porque é governo. Se vamos admitir que nos chamem de governistas? Nunca."

Na cúpula do PPL, composta por dissidentes do PMDB egressos do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), grupo que participou da luta armada na época da ditadura militar, há críticas principalmente à política econômica de Dilma.

A palavra de ordem, segundo Manso, é "terminar o processo de independência e soberania da nação".

"Não seria correto que a nossa moeda, o valor dela e se vai haver inflação, que isso seja definido também por quem produz e trabalha?", indagou Manso ao defender a substituição do Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) pelo Conselho Monetário Nacional (vinculado ao Ministério da Fazenda) como instância definidora da política monetária do país.

"Quando a gente fala que o partido é oposição do governo, é o que o povo quer ouvir. Mas, se é PT ou PSDB e está governando bem, nós vamos apoiar. Não estamos nascendo para complicar", disse Barroso sobre se o PEN nascerá apoiando o governo.

O mote principal da legenda, de acordo com ele, é o desenvolvimento sustentável, mas com um viés que classificou como "mais familiar" que o do Partido Verde (PV), de espectro ideológico parecido. "Não defendemos a liberação das drogas, do aborto e de outras coisas ruins", afirmou.

A pequenez do PEN, no entanto, não é motivo para que a sigla desista de grandes planos. A prioridade da legenda, além de encorpar e pôr em prática suas bandeiras, é conseguir a adesão de 10 a 14 deputados federais e convidar a ex-senadora e ex-presidenciável Marina Silva para integrar sua cúpula.

"Acredito que o PEN deve ficar um partido médio. Assim que o partido ficar pronto, vou sentar com ela [Marina] e oferecer a ela a presidência nacional do partido. Sabemos que ela está precisando disso e uma bancada dessas não é de se jogar fora", disse.

Fonte: G1

Investimento público em educação ficará entre 7% e 10% do PIB, diz ministro

A fatia do Orçamento destinada ao setor será definida no Plano Nacional de Educação válido até 2020, que tramita na Câmara dos Deputados.

Rio de Janeiro – O investimento público em educação deverá ficar entre 7% e 10% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos dez anos, disse hoje (10) o ministro da Educação, Fernando Haddad. A fatia do Orçamento destinada ao setor será definida no Plano Nacional de Educação válido até 2020, que tramita na Câmara dos Deputados.

“Estou aguardando uma manifestação do Congresso [Nacional], que deve dar a última palavra nas próximas semanas. Não vai ser menos do que 7% e não vai ser maior do que 10%.

E eu entendo que [com essa definição] o Brasil dará um grande passo”, declarou Haddad, ao participar, no Rio de Janeiro, de um seminário sobre os desafios da educação básica no país, promovido pela Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O ministro destacou que, atualmente, o Brasil investe o percentual equivalente à media dos países que integram a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne as nações mais industrializadas da economia de mercado, como a França, o Japão e a Alemanha. Ele defendeu, no entanto, que esses investimentos aumentem para reduzir a “dívida educacional” brasileira.

“A média da OCDE é 5%, mas o PIB deles é maior que o nosso e a dívida educacional é menor que a nossa. Temos que fazer um esforço um pouquinho maior que a média mundial para honrar a dívida que acumulamos desde a proclamação da República”, acrescentou.

Fonte: Agência Brasil

Ocupar Wall Street é avanço da luta popular nos EUA

Os protestos populares contra a crise econômica, a ganância da especulação financeira e o servilismo dos governos ante o grande capital e os banqueiros desembarcaram em Nova York (EUA) em 17 de setembro, ganhando visibilidade depois da “ajuda” da polícia local que, em 1º de outubro, prendeu 700 manifestantes, acendendo o pavio nacional da indignação.

Desde então, o movimento Ocupem Wall Street espalhou-se pelos EUA e fortaleceu a reação popular anticapitalista que se espalha pelo mundo.

É cedo ainda para se saber a extensão e profundidade do movimento e qual o rumo político que pode tomar. Mas uma verdade fica patente e é reconhecida inclusive pelos adversários direitistas da luta popular, políticos republicanos defensores dos magnatas de Wall Street: esta verdade é o sentimento anticapitalista que aflora naquelas manifestações. No dia 1º de outubro, o cartaz de uma manifestante foi uma clara indicação nesse sentido: “Capitalismo é crime organizado”, dizia sem rodeios. Outros cartazes diziam: “façam postos de trabalho e não cortes”, “cobrem imposto de Wall Street”, e outras reivindicações do mesmo teor.

As bandeiras de luta dos manifestantes, que ganharam a adesão e o apoio de vários sindicatos e entidades do movimento social, conclamam à união popular contra a crise e as ações do governo que protegem os especuladores financeiros e os banqueiros.

Proposto por uma organização chamada Occupy Wall Street (Ocupem Wall Street), que se define como um movimento de resistência, sem lideranças, que representa os “99% que não vão mais tolerar a ganância e a corrupção dos 1%”, o manifesto que sintetiza os objetivos do protesto pede a permanência, crescimento e organização do movimento; que os trabalhadores façam greves, ocupem seus locais de trabalho e os organizem democraticamente; que os desempregados se apresentem como voluntários para ensinar os demais sobre suas habilidades; a realização de assembleias populares nas praças e cidades; a ocupação de prédios, terrenos e propriedades abandonados pelos especuladores para serem locais de organização popular.

Ele revela o propósito do movimento: organizar os trabalhadores para a luta contra a ganância capitalista. O número de sindicatos que aderem é crescente. Só em Nova York foram quinze, entre eles o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes (TWU – Transport Workers Union) e o Sindicato dos Professores (United Federation of Teachers). Na semana passada, a poderosa e controversa AFL-CIO (a principal central sindical dos EUA) manifestou sua simpatia e apoio. É um leque que abarca metalúrgicos, metroviários, enfermeiras, aposentados, desempregados, etc. E entidades do movimento social como a Coalizão dos Sem Teto, que reúne aqueles que foram expulsos de suas casas por não poder pagar as prestações, em virtude da crise econômica.

A crise econômica nos EUA, que eclodiu em 2007 e se aprofundou em 2009, vai ganhando os contornos da terceira maior crise do capitalismo desde o século 19. Ela é o resultado de décadas de desregulamentação dos mercados financeiros, que tirou todos os freios à especulação, de cortes de impostos dos ricos, de precarização das relações de trabalho e redução dos direitos sociais.

O resultado dramático é visível nos números do empobrecimento crescente, que é a contrapartida do enriquecimento inédito e escandaloso de uma minoria – os 1% ao qual se refere o manifesto do Ocupem Wall Street.

Os dados oficiais são inequívocos. O desemprego bate nos 10% dos trabalhadores e a miséria atinge 46 milhões, que sobrevivem abaixo da linha da pobreza. Tudo isso transparece em cenas de desalento, perdas de moradias, multiplicação de moradores de rua e de pessoas que muitas vezes não têm nada para comer.

No lado oposto, o dos privilegiados, a soma da riqueza dos 400 maiores milionários equivale à de mais da metade da população, 180 milhões de estadunidenses. Isto é, cada um daqueles felizardos tem a riqueza somada de 450 mil pessoas “comuns”. E, mesmo na crise, seu patrimônio tem crescido.

Embora ainda não usem a palavra “socialismo”, os manifestantes estadunidenses vão deixando claro seu descrédito em relação sistema capitalista dominante e em sua capacidade (esgotada há muito tempo) de propor soluções para os problemas da humanidade. Nesse sentido, eles apontam para o futuro – eles são, de fato, a modernidade que muita gente atribui, por outras e equívocas razões, aos EUA.

Bancários: “Teremos uma greve bastante longa”

O Comando Nacional dos Bancários deve endurecer a greve a partir desta terça-feira (11), quando está marcada uma assembleia, às 10h, com dirigentes de todo o país, em São Paulo. A ideia é ampliar ainda mais a paralisação. A reação vem depois das notícias, divulgadas na grande mídia, de que a presidente Dilma Rousseff orientou sua equipe a adotar posição firme contra a greve dos bancários, descontando os dias da paralisação.


Greve bancários CTB Cartaz indica paralisação dos bancários em fachada de banco, em São Paulo / CTB
A motivação do governo seria a necessidade de ajuste fiscal e o receio de uma escalada inflacionária. Para o presidente da Federação dos Bancários da Bahia e Sergipe, Emanoel Souza de Jesus, o posicionamento do governo só fortalecerá a paralisação.

“Se o governo Dilma pretende derrotar a greve dos bancários com ameaça de descontar as faltas, teremos uma greve bastante longa, pois o que estamos defendendo é a garantia de que o crescimento do país se dê com distribuição de renda. Daí ser impossível concluir essa greve sem que haja uma proposta de aumento real decente aos bancários”, declarou Emanoel ao Vermelho.

Hoje, 9.090 agências de 26 Estados e do Distrito Federal ficaram fechadas, o correspondente a 45% do total do país, segundo a Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro).

Segundo o Sindicato de São Paulo, Osasco e Região, 25 mil trabalhadores deixaram de comparecer em seus postos de trabalho e 812 agências não abriram as portas em sua base de atuação.

Os bancários estão em greve desde o dia 27 de setembro, após rejeitarem a proposta das instituições financeiras, de reajuste salarial de apenas 8%, o que significa reposição real da inflação de 0,56%, percentual bem aquém dos 12,8% reivindicados pelos trabalhadores. Os bancos negaram ainda as demais reivindicações da categoria como valorização dos pisos, aumento da participação nos lucros e resultados, medidas de combate ao assédio moral, mais segurança e melhores condições de trabalho.

A Fenaban, por sua vez, tem afirmado que cabe aos trabalhadores apresentarem contraposta para a continuidade das negociações.

Sergipe

Em Sergipe, o Sindicato dos Bancários fechou o prédio do Centro de Processamento de Dados (CPD) do Banco do Estado de Sergipe (Banese), no Distrito Industrial de Aracaju (DIA). O objetivo é pressionar para que o banco melhore sua proposta, já que a oferecida e apreciada na assembleia realizada na terça-feira (4), foi rejeitada por unanimidade.

“Hoje é um dia histórico para nós sindicalistas. Pela primeira vez numa greve o CPD do Banese foi fechado completamente. No prédio trabalham mais de 300 funcionários, o que equivale a mais de dez agências do banco, e das maiores”, comemorou José Souza, presidente do Sindicato dos Bancários de Sergipe, onde a paralisação começou com 60% de adesão e já se encontra com quase 80%.

Deborah Moreira, da Redação do Vermelho

Como lidar com o desejo infinito?

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital
 
O desejo não é um impulso qualquer. É um motor que põe em marcha toda a vida psíquica. Ele goza da função de um princípio, traduzido pelo filósofo Ernst Bloch por princípio esperança. Por sua natureza, não conhece limites como já foi visto por Aristóteles e por Freud. A psiqué não deseja apenas isto o aquilo. Ela deseja a totalidade. Não deseja a plenitude do homem, procura o super-homem, aquilo que ultrapassa infinitamente o humano como afirmava Nietzsche. O desejo se apresenta infinito e confere o caráter de infinito ao prejo humano.

O desejo torna dramática e, por vezes, trágica a existência. Mas também, quando realizado, uma felicidade sem igual. Estamos sempre buscando o objeto adequado ao nosso desejo infinito. E não o encontramos no campo da experiência cotidiana. Aqui somente encontramos finitos.

Produz grave desilusão quando o ser humano identifica uma realidade finita como sendo o objeto infinito buscado. Pode ser a pessoa amada, uma profissão sempre ansiada, a casa dos sonhos. Chega o momento que, geralmente, não tarda muito, em perceber uma insatisfação de base e sentir o desejo por algo maior.

Como sair deste impasse, provocado pelo desejo infinito? Borboletear de um objeto a outro, sem nunca encontrar repouso? Temos que nos colocar seriamente na busca do verdadeiro objeto de nosso desejo. Entrando in medias res, vou logo respondendo: este é o Ser e não o ente; é o Todo e não a parte; é Infinito e não o finito. Depois de muito peregrinar, o ser humano é levado a fazer a experiência do cor inquietum (coração inquieto) de Santo Agostinho: Tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova.Tarde de te amei. Meu coração inquieto não descansará enquanto não repousar em Ti. Só o Infinito Ser se adequa ao desejo infinito do ser humano e lhe permite descansar.

O desejo envolve energias vulcânicas poderosas. Como lidar com elas? Antes de tudo, se trata de acolher, sem moralizar, esta condição desejante. As paixões puxam o ser humano para todos os lados. Algumas o atiram para a generosidade e outras para o egocentrismo. Integrar, sem recalcar tais energias, exige cuidado e não poucas renúncias.

A psiqué é convocada a construir uma síntese pessoal que é a busca do equilíbrio de todas as energias interiores. Nem fazer-se vítima da obsessão por uma determinada pulsão, como por exemplo, a sexualidade, nem recalcá-la como se fosse possível emasculhar-lhe o vigor. O que importa é integrá-la como expressão de afeto, de amor e de estética e mantê-la sob vigilância pois temos a ver com uma energia vital não totalmente controlável pela razão mas por vias simbólicas de sublimação e por outros propósitos humanísticos. Cada um deve aprender a renunciar no sentido de uma ascese que liberta de dependências e cria a liberdade interior, um dom dos mais apreciáveis.

Outra forma de lidar com o desejo infinito é pela precaução que nos previne de ciladas da própria vulnerabilidade humana. Não somos onipotentes, nem deuses, inatingíveis ao fracasso. Podemos mostrar-nos fracos e, por vezes, covardes. Mas podemos precaver-nos contra situações que nos poderão fazer cair e perder o Centro.

Talvez uma chave inspiradora nos seja nos oferecida por C. G. Jung com sua proposta de construir, ao largo da vida, um processo de individuação. Este possui uma dimensão holística: assume com destemor e humildade todas as pulsões, imagens, arquétipos, luzes e sombras. Ouve o rugir das feras que o habitam; mas, também o canto do sabiá que o encanta. Como criar uma unidade interior cujo efeito seja o equilíbrio dos desejos, a vivência da liberdade e da alegria de viver?

C. G. Jung sugere que cada um procure criar um Centro forte, um Self unificador que tenha a função que o sol possui no sistema solar. Ele sateliza ao seu redor todos os planetas. Algo semelhante deve ocorrer com a psiqué: alimentar um Centro pessoal que tudo integre, com reflexão e com interiorização. E não em último lugar, com o cultivo do Sagrado e do Espiritual. A religião, como instituição, não raro cerceia a vida espiritual por excesso de doutrinas e de normas morais demasiado rígidas. Mas religião como espiritualidade desempenha uma função fundamental no processo de individuação. Cabe a ela ligar e re-ligar a pessoa com seu Centro, com todas as coisas, com o universo, com a Fonte originária de todo o ser, dando-lhe um sentimento de pertença.

A falta da integração da energia do desejo se manifesta pela dilaceração das relações sociais, pela violência assassina praticada em escolas ou nas matanças de pessoas negras, pobres e homoafetivos.

Lidar com as forças do desejo implica, pois, uma preocupação pela sanidade social. Não se poderá passar ao lado da educação humanística, ética e cidadã que eduque o desejo. O grande obstáculo reside na lógica mesma do sistema imperante que exaspera o desejo de ter, descuidando dos valores civilizatórios, da gentileza, do bom trato e do respeito a cada pessoa. Ao contrário, os meios de comunicação de massa exaltam o desejo individual e a violência para resolver os conflitos humanos.

A globalização como fenômeno humano, nos obrigará a moderar os desejos pessoais em favor dos coletivos e assim tornar mais equilibrada e amigável a coexistência humana. Como desejamos tempos favoráveis!

A nova luta pela independência

O quadro internacional, se é preocupante por um lado, com a rearticulação dos velhos imperialistas, é, da mesma forma, oportunidade para a consolidação institucional da União Sulamericana, como passo necessário à aliança mais vasta, que compreenda todos os países do continente ao sul da fronteira com os Estados Unidos.

Acossada por uma crise econômica gravíssima, a Europa busca reforçar a aliança histórica com os Estados Unidos, a fim de consolidar e ampliar a sua presença na América Latina e na África – mas isso parece improvável.

Todos os movimentos, diplomáticos e militares, nestes últimos meses, dão nitidez a essa percepção, expressa ainda de maneira discreta por alguns analistas internacionais. Trata-se, conforme a velha imagem, do abraço dos afogados.

Ainda agora, Zapatero, que assumiu o governo com grandes esperanças da esquerda, depois da desoladora atuação da direita, com Aznar, leva a Espanha a integrar o famoso escudo antimísseis dos Estados Unidos, permitindo aos ianques que, para isso, utilizem sua base naval em Rota, na Andaluzia. Essa base, construída em 1953, quando Washington estreitou relações com Franco, seu aliado na guerra fria, ocupa uma área estratégica no Atlântico, fora das águas do Mediterrâneo.

O passo humilhante de Zapatero não revela apenas submissão ideológica, mas erro político, mesmo dentro da consciência burguesa de nação. Como apontou, em seu editorial de hoje, sexta-feira, El País, trata-se de uma provocação à Rússia, que deve ser convencida a influir para que o Irã renuncie a seu projeto nuclear bélico. É claro que os russos, que não nasceram ontem, e conhecem a Europa Ocidental desde Ivã, o Terrível, sabem muito bem a que alvo apontam os foguetes norte-americanos. O fortalecimento de seus laços com o Irã e sua estratégia, a prazo maior, de restabelecer sua influência na Eurásia, com a esperada saída dos ianques do Iraque e do Afeganistão, orienta-lhe a postura. Seu veto à ameaça contra a Síria, ao lado da China, no Conselho de Segurança, é mais do que uma cortesia a Assad.

O quadro internacional, se é preocupante por um lado, com a rearticulação dos velhos imperialistas, é, da mesma forma, oportunidade para a consolidação institucional da União Sulamericana, como passo necessário a aliança mais vasta, que compreenda todos os países do continente ao sul da fronteira com os Estados Unidos. Enfim, é hora da definitiva independência de nossos povos, 200 anos depois da enganosa autonomia patrocinada pela Inglaterra e aprovada pelos europeus no Congresso de Viena.

O momento favorece, também, o retorno à esquerda, depois do desastrado recuo da União Soviética, com a traiçoeira capitulação de Gorbatchev. No mundo inteiro, e também no Brasil, houve o esmorecimento dos partidos de esquerda, com a deserção de conhecidos quadros intelectuais, e a permanência de diminutos núcleos de testemunho e resistência ideológica.

Na Europa, a social-democracia foi fazendo seu giro à direita, que atingiu também os partidos comunistas. O primeiro passo desses antigos partidos comunistas foi o abandono da denominação, como se o adjetivo, de origem tão generosa, se tornasse palavrão imoral. Enfim, parecia triunfante, ad-aeternum, o pensamento único, restaurador do fundamentalismo mercantil do século 17.

Passados trinta anos do reaganismo e vinte anos da Queda do Muro, o mundo desperta e, com ele, se restaura a silhueta de Marx. Teremos que voltar à consciência crítica e à filosofia da práxis, a fim de dar idéias ao movimento de massas que acaba de chegar aos Estados Unidos, e se acelere o processo histórico que, sendo necessário, passa a ser possível.

O Brasil, descontado o otimismo exagerado de alguns, terá de exercer resistência clara ao novo colonialismo, na consolidação da aliança continental, a partir dos mecanismos existentes, como o Mercosul, a Unasul, e o sistema de consultas militares entre os vizinhos. Devemos controlar, sem inibições, a atividade dos capitais estrangeiros. É conto da carochinha supor que o Banco Santander – que teve ontem sua nota rebaixada em diversas praças do mundo – esteja interessado no desenvolvimento autônomo do Brasil e em sua ação decisiva nas questões mundiais. O que os espanhóis pretendem é retornar ao domínio da América Latina, aproveitando-se da debilidade dos Estados Unidos. No âmago de sua arrogância, seus dirigentes acreditam que podem voltar aos séculos 16 e 17, ao tempo de Carlos V e de Filipe II, antes do desastre da Invencível Armada.

Convém recordar que a impetuosa invasão econômica da América Latina, com a compra de empresas nacionais, a partir das privatizações determinadas pelo Consenso de Washington e, no Brasil, pela submissão de Fernando Henrique, tem sido financiada com recursos da União Européia – que deveriam ter tido outro destino.

A nossa oportunidade é agora.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.

Um olhar de perto sobre os ativistas de Ocupa Wall Street

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar. “Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams. O artigo é de Rebecca Ellis, direto de Nova York.

O momento foi perfeito. O primeiro ministro grego George Papandreou cancelou sua visita à Assembleia Geral das Nações Unidas para assegurar um outro empréstimo para o seu país quebrado. Desde o dia 17 de setembro, os manifestantes estão ocupando o Parque Zuccotti, próximo ao coração do mercado financeiro de Nova York, em Wall Street, para protestar contra a dominação das corporações sobre a política.

Muitos dos manifestantes são jovens, estudantes de graduação subjugados pelo endividamento e inseguros quanto ao seu futuro. Os organizadores do protesto, inspirados pelos eventos em Madri e na Praça Tahrir, chamaram milhares para descerem a Wall Street e protestarem contra a economia, impregnada da política capitalista que fracassou em entregar o que prometeu.

“Os bancos foram resgatados e nós fomos vendidos!”, cantavam os manifestantes, enchendo a Brodway em direção ao parque, passando por vários expectadores nas calçadas, alguns parecidos com turistas, outros, simples observadores curiosos.

A mensagem dos manifestantes ressoaram claramente sobre um pequeno grupo de turistas de Madri, parados ao lado do protesto, mesmo sem entender inglês. Jesus Garcia, um homem de meia idade com óculos e uma câmera no pescoço, estava acompanhado de duas mulheres. Ele disse em espanhol que tinha entendido imediatamente a mensagem o protesto como um reflexo do que tinha visto nas manifestações dos indignados, de 15 de março, na Plaza del Sol, na capital espanhola.

“É como a luta deles [em Madri] contra a pobreza e os empreendimentos bancários, que causaram esta crise, em primeiro lugar. Eu concordo com os manifestantes”, disse Garcia.

Um bombeiro que ajudou a resgatar vítimas dos ataques ao World Trade Center no 11 de setembro de 2001 falou no sábado (24/09) no protesto. De acordo com outros manifestantes, um pequeno número de ex-banqueiros mostraram seu apoio ao movimento. Isso atraiu poucos observadores e muitos simpatizaram com as demandas dos manifestantes, inclusive os trabalhadores locais, ferreiros e outros empregados. Outros transeuntes, de terno completo, disseram que não estavam a par do que se passava e não podiam comentar.

Alguns pedestres aborrecidos às vezes disparavam comentários contra os manifestantes. Um homem vestido de calça caqui e um parca amarelado disse, aos berros de tocadores de tambor que estavam cantando: “Arrumem um emprego!”.

Muitos manifestantes naquele dia indicaram que gostariam de um emprego.

Spenser Williams, graduado e mestre em História Natural na Universidade Prescott no Arizona trabalha numa loja de bicicletas no Maine, enquanto paga seu crédito educativo. Ele veio a Nova York para protestar.

“Estou de saco cheio do quanto a ganância e o lucro de curto prazo interferem na política”, disse Williams.

Um homem corpulento na casa dos seus 50 anos estava segurando um incenso de Nam Champa, que, disse ele, “uma garota bonita me deu”. Richard Nash tinha cabelo curto e vestia um boné de baseball. Ele estava enfiado numa jaqueta vermelha e parado na esquina do parque, do lado de fora, observando o que acontecia, com seu companheiro de trabalho, Nick Kaye. Ambos são corretores de seguros que trabalham no Edifício Liberty Plaza. Nash não acredita que o capitalismo desenfreado ou o socialismo puro sejam a resposta. No entanto, estava convencido que o protesto era importante.

“Os manifestantes estão expondo um substrato da realidade”, observou Nash.

Ele reiterou a percepção de incerteza imbuída com uma intuição de que as coisas possam estar mudando. “Eu acredito que estamos na ponta de um iceberg”.

Nash não tinha certeza de para onde o protesto estava indo, mas simpatizava com a garotada da universidade estava na praça expressando suas preocupações, porque muitos, acrescentou, já estão atolados em dívidas e no desemprego.

“Nós deveríamos simplesmente ter empregos decentes para as pessoas decentes...porque tem de haver futuro...”.

Animado pela proposta “taxação Buffet” de Obama, a qual propõe mais impostos sobre os ricos, a discussão rapidamente chegou na dívida nacional. Nash e seu colega Kaye propuseram o ideal americano de todos pagarem a sua parte justa.

“Todo mundo tem de ter sua parte no jogo”, ele disse, referindo-se à necessidade para todos os americanos de contribuírem. Ele acredita que os estadunidenses deveriam ser taxados à proporção de sua renda e local de moradia, porque Nova York é mais cara para viver do que o Alabama. Kaye afirmou que deveria haver um plano de taxação para todo mundo, enquanto ambos concordaram com a máxima: “eliminar as facilidades para os ricos.”

Dois homens estavam deixando um jantar indiano no Nassau/Cedar, um na casa dos trinta anos e o outro, mais velho. Ambos trabalhavam como investidores ao sul de Wall Street. O banqueiro mais jovem, com sua gravata ainda apertada depois de ter feito o que chamou de refeição apimentada, explicou que o problema é maior do que Wall Street e mais complexo do que as manchetes de jornal descrevem.

“Muitos processos se passam nos bastidores”, disse ele. Seu colega mais velho brincou que “Obama deveria taxar os pobres”.

A segurança era rígida. A legião modelo de banqueiros não estava disposta a aproveitar o dia de verão almoçando em seu lugar habitual do mercado de ações porque o caminho estava bloqueado.

Poonan e Frank, dois manifestantes no começo dos cinquenta, atravessaram as barricadas a pé para espalhar a mensagem e recrutar mais manifestantes. A respeito da solução tributária proposta por Obama, Poonan comentou: “Em vez de vender planos, o que nós de fato precisamos é de uma ajuda honesta. Simplesmente dar dinheiro ao povo, não às corporações”.

Frank, ex-marxista oriundo de um programa de doutorado no College City, disse que a economia dos EUA está sofrendo porque “parou a industrialização e agora está produzindo dívida”. Frank reconheceu que momentos de tumulto, no entanto, trazem à tona períodos de mudança.

“Este é um momento divisor de águas. Os próximos 10 anos devem se mostrar muito interessantes”, acrescentou Frank.

Tradução: Katarina Peixoto

O medo (e a humanidade) do Papa


Por Emir Sader

No momento em que foi vítima do atentado de um búlgaro, em uma concentração na praça São Pedro, no Vaticano, o Papa Joao Paulo I conseguiu dizer: Por que eu?

Não teria se dado conta que era porque foi eleito o representante de Deus na Terra? Também não teria se dado conta do papel político central que assumiu na política mundial? Tampouco se poderia entender por que ele se lamentaria de abandonar este Vale de Lágrimas, ainda mais ele, que teria garantido o Reino dos Céus pela vida eterna?

Foi um momento de rara humanidade do Papa. Ele, a quem eu havia visto, prepotente, na Nicaragua sandinista, tentando dar lições de democracia a um regime popular, desde um Estado teocrático. Ele, que havia retirado a mão, no aeroporto, quando Miguel D’ Escotto – sacerdote e ministro de Relações Exteiores do governo nicaraguense - se ajoelhou, humildemente, para beijar sua mão. Ele, que reiterou várias advertências ao povo nicaraguense que o interrompia no seu discurso na Praça Augusto Cesar Sandino, no centro de Managua, quando se davam conta que ele se atrevia a criticar a FSLN, e acabou se retirando da Praça, sem terminar seu discurso – a que ele havia acorrido com uma elegante bata branca e um imponente bengala.

Esse mesmo Papa teve medo da morte no atentado, a que sobreviveu, e pode seguir representando a seu Deus neste Vale de Lágrimas.



O filme de Nanni Moretti – que entrará logo em cartaz no Brasil, - se chama Habemus Papam: o psicanalista do Papa. Um cardeal – um Michel Picolli envelhecido, mas sempre extraordinário – é eleito Papa, mas não quer, tem medo, entra em crise, chora, se isola no seu quarto, enquanto um cardeal avisa aos aglomerados na Praca – turistas e uma parte de fieis – que o novo Papa já foi eleito – conforme a fumaça branca -, mas que estava orando no seu quarto, pedindo força a Deus para assumir sua representação na Terra.

Chamam um psicanalista – representado pelo próprio Nanni Moretti – para conversar com o Papa, mas com a recomendação expressa de não tocar em temas como a infância do Papa, sua mãe, seus sonhos, além da presença de todos os cardeais em volta, o que leva ao fracasso do apelo a Freud.

O Papa acaba fugindo e sai, com roupas civis, pelas ruas de Roma, convivendo com as pessoas como se fosse um mortal qualquer. Providencia-se um funcionário do Vaticano para ocupar seu quarto e fazer aparecer às vezes sua mão para a multidão reunida na Praça, outras vezes apenas agitando a cortina, acendendo e apagando a luz. Esse funcionário fica comendo e dormindo no quarto do Papa, os cardeais acreditando que é o Papa que esta ali, inclusive quando o serviço do Estado do Vaticano coloca um CD e toca Mercedes Sosa cantando Todo cambia, que os cardeais acompanham, radiantes, crendo que era um sintoma do estado de ânimo festivo do novo Papa.

Como o Concílio não terminou, porque o Papa ainda não aceitou a sua nomeação, nem os cardeais, nem o psicanalista podem sair. Então este organiza um alegre campeonato de vôlei entre os cardeais representados no Concílio, como passatempo e forma de descarregar as tensões. O Vaticano como Estado está em jogo. O novo Papa está nomeado, não pode ser substituído por outro, nem se sabe o que fazer com ele, se não assumir o cargo.

Toda a trama funcional da nomeação de um cardeal como representante de Deus na Terra fica pendendo por um fio, enquanto o nomeado passeia alegremente por Roma, vai ao teatro, come em restaurante, conversa com as pessoas do povo, feliz, no seu verdadeiro mundo, enquanto está em suspenso o cargo de Deus na Terra e o povo continua esperando seu discurso. Não conto o final, mas basta isso para revelar a humanidade de uma pessoa comum, que tem medo, que chora, que entra em crise, que escapa das responsabilidades que lhe querem impor, para fazer do filme uma grande película.

O mesmo exercício de humanização que tinha feito Saramago no seu Evangelho segundo Jesus Cristo e num de seus últimos livros – Caim. Aqui Caim conversa com Deus sobre o papel que lhe atribuiu na Terra, suas responsabilidades e o questionamento de Deus ao impor-lhe o conflito com o irmão e a imagem negativa nesse conflito. Outras circunstâncias, como a de Abrãao, a quem Deus pede que ofereça a vida do seu filho como sacrifício, são reavaliadas por Caim, que se pergunta que Deus todo bondoso é esse, que impõe a um pai o pior dos sacrifícios?

O filme de Moretti foi execrado pelo Vaticano, que se sentiu nu diante da parábola – talvez não tao irreal, dado que se propala que um dos Papas anteriores a Joao Paulo II, que teve papado curto, teria morrido em circunstâncias estranhas, associadas a suas visões inconoclastas, entre elas a de que Deus seria mulher ou homem e mulher, com todas as consequências para o tema de gênero que traria para o Vaticano e a Igreja Catolica. Em suma, a parábola pode ajudar a entender mecanismos desse estranho Estado teocrático que é o Vaticano. E diverte muito. Sem dúvida, um filme à altura das grandes comédias do cinema italiano.

Freire dá abrigo a Serra no PPS

Por Altamiro Borges

O portal IG publicou ontem entrevista exclusiva com Roberto Freire, presidente nacional do PPS. Sem abordar a grave crise da sua legenda, que já perdeu quatro deputados federais e vários prefeitos para o recém-criado PSD de Kassab, o ex-senador finge otimismo e afirma que “está aberto à candidatura de Marina Silva em 2014 e até à filiação de José Serra”. Leia alguns trechos da divertida entrevista:

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O PPS anda filiando muitos aliados da candidata do PV à Presidência da República em 2010, Marina Silva. Isso não é meio incomum?

(...) Desde que a Marina Silva saiu do PV, seu grupo partiu para a criação de um movimento apartidário. Mas, para concorrer às próximas eleições eles precisam estar filiados a alguma legenda. Tivemos um bom convívio desde que o PPS e o PV estiveram juntos num mesmo bloco parlamentar na Câmara e temos várias posições em comum. Não há conflitos.

Então conversamos no sentido de abrir o PPS, que é um partido democrático, para que os marineiros possam se candidatar pela legenda, onde quiserem, no Brasil inteiro. Depois, tanto eles como nós decidiremos o que fazer. Podemos inclusive ficar definitivamente juntos.

Está dando certo?

Creio que sim. Em São Paulo, por exemplo, o apoio dos marineiros tende a fortalecer bastante nossa candidata à Prefeitura, a Soninha. E o Ricardo Young, que foi candidato ao Senado pelo PV, deve obter uma grande votação para vereador.

E quanto à candidatura presidencial da Marina Silva pelo PPS? Ela é hipótese do partido?

É uma decisão da Marina se ela quer ou não se filiar ao partido. Creio que antes ela vai trabalhar o movimento que criou ao sair do PV. Mas nós estamos de braços abertos à sua filiação. O apoio à candidatura de Marina Silva à Presidência já é admitido mesmo ela estando fora da legenda. É claro que com os marineiros aqui esse diálogo aumenta e, se houver a filiação, a hipótese se torna ainda mais forte.

Mas e o José Serra? Ele foi candidato a presidente em 2010 com forte apoio do PPS e do senhor. Vocês o estão abandonando?

De forma alguma. O problema é o PSDB, que está tratando o Serra muito mal, assim como a seus filiados mais à esquerda. Já estamos, inclusive, conversando com alguns serristas.

Vai ter filiação de serristas ao PPS também?

Olha, é bem possível. Mas eu prefiro deixar esse assunto para quando estiver resolvido. Aí faremos um anúncio público.

E o Serra?

Pois é, se o PSDB continuar tratando-o tão mal, nada impede que ele também venha para o PPS. Estaremos de braços abertos.

Tratando mal? Como?

Ora, desde que acabaram as eleições de 2010. Vide o episódio da Convenção Nacional do partido. Colocaram o Serra num cargo decorativo, de presidente do Conselho Político.

O senhor acha que o PSDB já optou pela candidatura de Aécio Neves à Presidência, em 2014.

Acho. Não quero me meter nas questões internas de outro partido. Mas acho até que eles estão querendo fechar a discussão, impedir que outras candidaturas, como a do Serra, se coloquem. Neste caso, começam a empurrar as pessoas para fora da legenda.

Pode ser o caso do Serra?

Pode. Não para agora, naturalmente, porque esse é um assunto para as eleições de 2014. Mas outros nomes podem vir agora e o próprio Serra, mas adiante, seria muito bem-vindo. Trata-se de uma figura de grande expressão política no país e por quem o PPS tem o maior carinho. Estaremos, naturalmente, de braços abertos.

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Fim de carreira deprimente

Roberto Freire sempre foi um tucano infiltrado no PPS – para desgosto dos militantes do velho partidão que apostaram nesta sigla como alternativa eleitoral de esquerda. No reinado de FHC, ele defendeu todas suas políticas neoliberais. Já no governo Lula, ele pregou o seu impeachment. Nas três últimas eleições, Freire integrou os comandos de campanha de Serra, Alckmin e Serra, novamente.

Nesta entrevista ao IG, Roberto Freire apenas confirma que vários verdes também são tucanos enrustidos – o que já era evidente na campanha eleitoral de 2010 – e que a crise no PSDB é mais grave do que alguns imaginam. Serrista, mais do que tucano, Freire sente as dores do seu amigo – “tratado mal” pelo seu partido. E cede abrigo na “sua” legenda.

O problema é que o PPS afunda no seu pragmatismo eleitoral. Está quase morto! Serra aceitará o convite? Abandonará o PSDB para ingressar no partido de Freire? Seria um deprimente fim de carreira!

Até tu, Miriam Leitão!

Por Mário Augusto Jakobskind, no sítio Direto da Redação:

Há vários indicadores de que a crise econômica que assola a Europa e os Estados Unidos é mesmo grave e pode levar ao início de uma nova etapa no modo de produção capitalista. Este diagnóstico já foi admitido até pela insuspeita Miriam Leitão em sua coluna de O Globo.


Com o título “O fim ou tudo de novo”, a colunista, defensora ferrenha de políticas econômicas que na prática resultaram no impasse atual do sistema, admite em um trecho da sua coluna de 6 de outubro que “depois de uma crise que se desdobra em ondas de aflições desde 2008 está na hora de as autoridades mundiais pensarem no fim do capitalismo como nós o conhecemos”.

Pois bem, em vez de ter intitulado como intitulou o artigo, Miriam Leitão poderia ter dito “Marx tinha razão” ou algo do gênero, mas aí seria demais para quem durante tanto tempo defendeu exatamente políticas econômicas com ênfase para o enfraquecimento do Estado e a hegemonia do Estado mínimo.

Em termos políticos, a crise estrutural do sistema tem levado, como de outras vezes, governos a socorrerem o setor financeiro e isso sempre em detrimento dos trabalhadores assalariados. Os gregos, mobilizados nas ruas em protesto contra a opção de arrocho posta em prática pelo governo socialista (epa!), que o digam.

Enquanto isso ocorria na Grécia, na Itália, país europeu que verdadeiramente está à deriva, o presidente do Conselho de Ministros, Silvio Berlusconi, além de não dar conta da situação levando os italianos ao desespero, é metido a fazer piadas, sempre de mau gosto, diga-se de passagem.

A última que relatam as agências internacionais assinala que ele sugeriu a mudança do nome do seu partido Força Itália para “Força Gnocca”, que no idioma italiano se refere tanto as mulheres bonitas e chamativas como ao órgão sexual feminino. Já imaginaram algum político brasileiro propondo a criação de um partido com o palavreado similar ao utilizado por Berlusconi? Se fosse parlamentar estaria no mínimo respondendo à Comissão de Ética. Mas com o “honorable” Berlusconi, que depõe contra a Itália, fica tudo por isso mesmo.

Na última sexta-feira na Itália, milhares de estudantes saíram as ruas para protestar contra os cortes orçamentários para o ensino decididos pelo governo Berlusconi. Para se ter uma ideia, nos últimos três anos, Berlusconi, que não quer deixar o poder de jeito nenhum, cortou 8 bilhões de euros do orçamento para a educação púbica. Pode-se imaginar as consequências disso.

Em Bruxelas, a polícia belga deteve neste sábado (8) 500 manifestantes de várias nacionalidades que preparavam um acampamento e já tendo em vista a realização de um grande ato no próximo sábado (15) por uma “mudança global”.

No mesmo dia, o FMI considerava que o governo grego está tímido na implementação da política econômica de arrocho aos trabalhadores e exigia mais. O organismo internacional não está nada satisfeito com a reação dos trabalhadores e quer uma linha de ação ainda mais dura.

Em outras partes do planeta, nos EUA, por exemplo, como relatou o Eliakim neste DR, os protestos se intensificam em Wall Street, agora com a participação de sindicalistas e veteranos de guerra, o que verdadeiramente seria inimaginável alguns anos atrás.

Na América Latina, e em outras partes do mundo, foram realizadas ações em 75 países em um movimento denominado Jornada Mundial de Trabalho Decente, em defesa dos trabalhadores que estão sendo ameaçados em função de políticas econômicas de favorecimento dos banqueiros, responsáveis pela crise atual.

É sempre salutar quando os trabalhadores em todo mundo se unem em defesa dos seus interesses, sobretudo nos momentos, como o de agora, que as conquistas obtidas depois de muita luta e mobilização estão mais do que ameaçadas. E fica cada vez mais claro que a única resposta de quem está ameaçado em perder conquistas adquiridas é a mobilização. E isso seja na Grécia, nos EUA, na França, no Brasil, no Chile etc.

A propósito do Chile, o presidente Sebastián Piñera, cuja rejeição aumenta a cada dia, quer enfrentar as mobilizações dos mais amplos setores com repressão, algo que os chilenos conheceram durante os anos de chumbo do general Augusto Pinochet. Piñera quer uma legislação mais rigorosa para impedir que os estudantes continuem lutando em favor do ensino público e a não continuidade da mercantilização do setor.

Ao contrário do que já existe em outros países, entre os quais a Venezuela, no Chile não há possibilidade de o povo abreviar o mandato do presidente ou de outros políticos através de um referendo convocado por um determinado percentual de eleitores pedindo a realização da consulta nesse sentido.

As previsões não são nada otimistas no país andino. Piñera não abre mão de aceitar o fortalecimento da escola pública com, pelo menos, a redução dos lucros do setor privado na área do ensino. Muito menos que o ensino volte a ser gratuito, como acontecia no governo de Salvador Allende. Uma das bases de apoio de Piñera são os empresários do setor de ensino, que tudo podem e muito mais.

Em suma: assim caminha a humanidade. Não é à toa que daqui para frente as reações ao arrocho e socorro aos bancos vão se intensificar. Quem viver verá.