quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Bancários farão grande manifestação na sexta (14)

O Comando Nacional dos Bancários orienta que todos os sindicatos do país fortalecerem e ampliem a greve da categoria, que já dura 15 dias. Na reunião desta terça-feira (11),  em São Paulo, ficou estabelecido que na sexta-feira acontecerão atos políticos em todo país. Além disso, serão solicitados encontros com a presidente Dilma Roussef e o presidente Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), Murilo Portugal.


A paralisação, tida como a maior dos últimos 20 anos pelos bancários, já fechou mais de 9 mil agências e diversos centros administrativos fechados de bancos públicos e privados em todo o país.

O Comando Nacional, da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), solicitará as audiência com Dilma e Portugal para cobrar empenho do governo federal na construção de uma solução para a greve. A O objetivo da entidade é retomar as negociações, forçando a apresentação de uma proposta melhor.
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“Vamos levar à presidente Dilma um relatório com dados que demonstram que é perfeitamente possível aos bancos aumentar salários, contratar mais bancários e melhorar as condições de trabalho e de atendimento aos clientes”, afirma Juvandia Moreira, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região.

"Os bancos públicos federais fazem parte da Fenaban e podem assumir um papel fundamental para construir uma proposta decente, que atenda às reivindicações dos bancários", ressalta Carlos Cordeiro, residente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional.

Segundo Cordeiro, os bancos brasileiros são os que mais lucram na América Latina, mas pagam um piso salarial menor do que o recebido por argentinos e uruguaios, por exemplo. Já para seus altos executivos pagam bônus muito maiores. Os dados são de uma pesquisa do Dieese e da Contraf-CUT. O salário de ingresso nos bancos no Brasil em agosto de 2010 era equivalente a US$ 735. O dos uruguaios de US$ 1.039 e dos argentinos US$ 1.432.

A entidade sindical também enviará cartas aos presidentes dos seis maiores bancos do país e que participam da mesa de negociações da Fenaban (Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, HSBC, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal), e dos banco do Nordeste, do Brasil (BNB) e da Amazônia, cobrando a responsabilidade de cada instituição na retomada do diálogo.

da redação Vermelho, com infornações da Contraf e Sindicato dos Bancários de São Paulo

Carteiros acatam decisão da Justiça e retornam na quinta

“Foi um movimento que nós trabalhadores nos orgulhamos. Agora, acataremos a Justiça de cabeça erguida, com o sentimento de missão cumprida. Por outro lado, a empresa não conseguiu impor todas as suas vontades”, ponderou Divisa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Empresas dos Correios de São Paulo.



No início da noite de hoje (11), o Tribunal Superior do Trabalho (TST) julgou a greve dos servidores das empresas dos Correios, que cruzaram os braços há 28 dias, como não abusiva e determinou que a empresa conceda aumento salarial real de R$ 80 a partir deste mês e a reposição da inflação de 6,87%.

No entanto, os ministros do TST determinaram que os trabalhadores compensam os 21 dias de paralisação, aos sábados e domingos, e que outros sete dias sejam descontados dos pagamentos dos trabalhadores.

A decisão decreta o fim da greve e determina o retorno imediato ao trabalho, na quinta-feira 913), já que quarta (12) é feriado.

José Rivaldo, secretário-geral da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios, Telégrafos e Similares), reforçou a posição dos funcionários, que respeitarão a decisão.

O valor do aumento real estipulado pelo TST é o mesmo acordado na terça-feira (4) entre representantes do sindicato e da ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), durante sessão no TST. As partes haviam concordado que seis dias de greve seriam descontados dos vencimentos e que os carteiros deveriam trabalhar durante fins de semana e feriados para entregar as cartas acumuladas. Mas, os trabalhadores rejeitaram, em assembléias, a proposta de acordo.

Para o ministro Maurício Godinho, relator do julgamento da greve, o movimento não é abusivo e respeita princípios que não prejudicam a ECT. O ministro propôs, inicialmente, que as ausências não fossem descontadas na folha de pagamento, e compensadas em esquema de plantão.

Já o presidente do TST, ministro João Oreste Dalazen, defendeu o desconto de todos os dias parados. Ele defendeu a jurisprudência de que a legislação determina que a empresa não tem obrigação de pagar pelos dias em que os serviços não foram prestados, pois a greve implica em uma quebra de contrato entre empresa e trabalhadores.

Vermelho, com agências

Manuela d´Ávila: Meia-entrada e uma verdade inteira

A aprovação do Estatuto da Juventude na Câmara e, particularmente, do artigo que versa sobre meia-entrada tem gerado algumas críticas que, por estarem baseadas em meias verdades, geram uma percepção errada da lei e das suas consequências. Para esclarecer a questão da meia-entrada, é preciso tratar da verdade inteira sobre o projeto.

Por Manuela d´Ávila*


Em primeiro lugar, a lei estabelece meia-entrada tão somente para os jovens estudantes até 29 anos, e não para todos os jovens, como muitos editoriais de imprensa fazem parecer ser. Cerca de 88% dos jovens que frequentam a escola em algum nível pertencem às classes C, D e E.

Em segundo lugar, o projeto simplesmente regulamenta uma lei que já existe nos 11 Estados que são os maiores centros de consumo cultural do Brasil e, mais do que isso, sem limite de idade. Ou seja, esse direito já existe e a economia brasileira já o subsidia. O estatuto simplesmente regulamenta nacionalmente a lei, estabelecendo, inclusive, um limite de idade.

Na prática, a lei não implica nenhuma “conta a mais” para o consumidor, mas o inverso. A cultura é um direito básico e um bem que tem de ser acessível a todos, a eles também.

Esclarecido que não há “nenhuma conta extra a pagar”, o mais importante é o mérito do projeto. Os países mais avançados, não por acaso, são os que mantêm mais tempo os seus jovens na escola e nas universidades. Fazer isso no Brasil e praticar a educação integral significa não só manter o estudante dentro do espaço físico das escolas, mas, também, construir – num país ainda pobre – um conjunto de incentivos e facilitadores para que o estudante conclua todo o ciclo de estudos.

Por isso, existem a meia-passagem estudantil e as bolsas de Ensino Médio, de graduação e pós-graduação (vejam o exitoso programa Universidade para Todos – ProUni). Por isso, também, o Bolsa-Família é vinculado à permanência das crianças na escola.

O acesso à cultura – inclusive aos espetáculos de excelência que têm preços inacessíveis para quem estuda – é um desses incentivos. Ver ao vivo João Gilberto ou Fernanda Montenegro não pode ser um privilégio de elite. Eles são patrimônio da cultura brasileira e devem, por isso, ser acessíveis a todos.

Como garantimos isso? Através de subsídio do Estado (evitando que espetáculos financiados através de incentivo fiscal tenham preços inacessíveis) ou do sistema de cotas (estipulando um limite de meias-entradas nos espetáculos). Estas saídas estamos construindo para tirar a conta do consumidor direto de cultura!

Outro aspecto importante: o estatuto – que regulamenta inúmeros direitos importantes para a juventude – não é obra de uma única deputada. Foi aprovado pela unanimidade do Congresso, produzindo, inclusive, consensos entre a bancada evangélica e os defensores dos direitos homoafetivos. Uma lei que nasce de um processo assim não pode ser caricaturizada como produto da pressão de “claques estudantis”.

Pelo contrário, ela é exemplo de diálogo no melhor espírito republicano, sem envolver barganhas, cargos ou emendas. Tanto que o projeto foi consensual justamente por ter sido aquele com maior participação popular da história da Câmara.

*Manuela D'Ávila é deputada federal pelo PCdoB do Rio Grande do Sul e relatora do estatuto de Juventude
(Artigo publicado no jornal Zero Hora de 11/10/2011)

Deputados querem leis para a Copa do Brasil, não a Copa da Fifa

Os deputados que farão parte da comissão especial que vai analisar a Lei Geral da Copa foram unânimes em reconhecer as dificuldades que terão diante das polêmicas criadas entre as exigências da Fifa e a legislação brasileira. Na instalação da comissão, na tarde desta terça-feira (11), a maioria defendeu a participação nos debates de todos os setores envolvidos, incluindo a população brasileira, para que a legislação aprovada garanta a realização da “Copa do Brasil, não a Copa da Fifa”.


O deputado Renan Filho (PMDB-AL), eleito presidente da Comissão Especial, disse, em respostas as falas dos colegas parlamentares, que “não vamos digerir prato feito, não é tradição da Casa. Vamos iluminar os pontos obscuros (do projeto de lei encaminhado pelo Executivo), respeitando a soberania nacional e permitindo à Fifa que realize um grande evento, projetando o Brasil para o exterior. Essa é a intenção dessa comissão”.

E usando a terminologia própria do futebol, afirmou que “o futebol tem suas regras, o Brasil tem suas leis e o apito está com o Congresso”, convocando a primeira reunião para a próxima terça-feira (18) para definir o roteiro de trabalho da comissão. A decisão do presidente de estabelecer cronograma de trabalho também atende as reivindicações dos membros da comissão, que cobraram plano para racionalizar as atividades da comissão.

A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) admitiu que o maior problema a ser enfrentado é a meia entrada, e propôs, a exemplo dos demais oradores, tranquilidade para chegar a bom termo. Ela lembrou que o Brasil já possui legislação para grandes problemas levantados pela Fifa, citando o caso do combate a pirataria.

E defende , também fazendo coro com os demais membros da comissão, a elaboração de um cronograma de trabalho, incorporando a lógica pactuada de ouvir todos os setores envolvidos. Ela também cobrou presteza e agilidade para a avaliação do projeto, para evitar tumultos e garantir até o final de dezembro a aprovação da matéria, que deve ser então encaminhada para o Senado.

O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP), também membro da comissão, sugeriu que a comissão inicie os trabalhos pela discussão dos temas polêmicos,, que são a meia entrada e tratamento diferenciado para os idosos, lembrando a necessidade de conjugá-los com outros interesses, como o de estudante e idosos dos outros países.

Melhor Copa do Mundo

O relator da comissão, deputado Vicente Cândido (PT-SP), disse que o propósito do colegiado é “fazer um grande debate à altura do evento que será realizado no Brasil”. Com um discurso mais otimista, ele garantiu que “faremos a melhor Copa do Mundo porque somos o país do futebol”, anunciando que fará o relatório “com fidelidade à média da comissão, analisando todas as posições - governo, oposição e sociedade”.

O deputado Alceu Moreira (PMDB-RS) falou que na comissão não tem lugar para mocinho e bandido. “Alguém quer transformar a Copa do Mundo em grande negócio e o povo brasileiro quer o maior evento do mundo. Temos que respeitar tudo isso. Não podemos fazer de maneira voluntariosa”, afirmou, criticando a Fifa ao lembrar que “não há lei mundial que garanta o que quer a Fifa”.

Ele sugeriu que a comissão especial procure ouvir a Justiça brasileira para ajudar a transpor o abismo entre o negócio da Copa do Mundo para uns e o evento da Copa do Mundo para todos. E enfatizou, a exemplo do que fez os outros parlamentares, que o Brasil tem ordenamento jurídico próprio e é preciso analisar, “com calma e cautela”, o projeto de lei.

Primeiras sugestões

Os membros da comissão especial decidiram que a primeira reunião será para definição do plano de trabalho que deve ser conjugado com o que já vem sendo feito pela Comissão de Turismo e Desporto. E que caberá à presidência da comissão especial apresentar um cronograma, dentro dos parâmetros estabelecidos, para votação.

O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) adiantou algumas sugestões como analisar os contratos firmados entre a Fifa e os outros países que sediaram os jogos da Copa do Mundo, como África do Sul e Alemanha – os dois últimos.

“Como sabemos, o Estado brasileiro, ao se credenciar para ser sede da Copa do Mundo, apresentou carta-documento na qual se compromete com uma série de exigências. Esse procedimento é padrão e portanto, assim aconteceu nas copas pretéritas, e nesse sentido julgamos válido que a comissão avalie os eixos jurídicos dos contratos entre Alemanha e África do Sul”, explicou.

O parlamentar sugeriu ainda a convocação – como pontapé inicial – daqueles com quem precisamos dialogar, como o ministro dos esportes, Orlando Silva; o presidente CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira; e presidente ou secretário geral da Fifa.

O deputado Jonas Donizete (PSB-SP) também adiantou como sugestão de trabalho para a comissão especial a abertura de um canal de comunicação com os cidadãos, por meio da internet. E, como presidente da Comissão de Turismo e desporto, anunciou o trabalho que vem sendo feito por aquela comissão, que já fez 11 fóruns nas cidades-sedes dos jogos, faltando apenas São Paulo, que está marcado para o próximo dia 7 de novembro.

De Brasília
Márcia Xavier

Os desequilíbrios do milagre chinês

Com a crise global de 2008, as crescentes pressões para uma valorização de sua moeda e os conflitos sociais com uma classe trabalhadora cansada de sacrifícios, o governo chinês vem impulsionando uma mudança do atual modelo de crescimento baseado nas exportações para outro que aproveite o infinito potencial de seu consumo doméstico. Em 30 anos de crescimento acelerado, o país deu um salto qualitativo em termos de desenvolvimento, mas pagou um alto preço em termos sociais. O artigo é de Marcelo Justo.

O 8 é o número mágico chinês, fonte de superstições de todo tipo: nem sequer a política econômica escapa de seu magnetismo. Durante muito tempo, Pequim fixou nesse número a taxa de crescimento necessária para manter a harmonia social (“hexie”), um dos termos mais escutados nos debates televisivos deste país.

Nas últimas duas décadas o governo superou esta cifra com folga. A China substituiu a Alemanha como primeiro exportador mundial e é hoje líder de setores de alta tecnologia como telecomunicações, painéis solares e redes elétricas. Mas as coisas estão mudando. Com a crise global de 2008, as crescentes pressões para uma valorização de sua moeda e os conflitos sociais com uma classe trabalhadora cansada de sacrifícios, o governo vem impulsionando uma mudança do atual modelo de crescimento baseado nas exportações para outro que aproveite melhor o infinito potencial de seu consumo doméstico.

A mudança está consagrada no 12° plano quinquenal da China apresentado em março e que está centrado em uma série de medidas econômicas e sociais para estimular o consumo doméstico entre 2011 e 2015. Entre os anúncios, encontra-se a construção de 36 milhões de casas a preços populares, a criação de 45 milhões de postos de trabalho em zonas urbanas e a manutenção de uma taxa de desemprego abaixo de 5%. Em setembro entrou em vigor uma reforma tributária que elevou pela segunda vez em três anos o limite a partir do qual se paga impostos. Este limite passou de 2000 yuanes para 3.500 yuanes mensais (548 dólares), uma mudança que permitirá que 80% da população não pague impostos.

A porcentagem é reveladora da enorme brecha que separa a China e um país desenvolvido: a imensa maioria da população vive com uma renda mensal inferior a essa cifra. Segundo um estudo comparativo do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2010 o salário médio chinês era cerca de 16% do estadunidense. A mudança de direção para uma economia mais baseada no consumo doméstico é uma das tentativas de solucionar esse problema.

Falar de milagre chinês a essa altura é falar de uma obviedade: os números saltam à vista. Mas se é verdade que nestes 30 anos de crescimento aceleradíssimo, o país deu um salto qualitativo em termos de desenvolvimento, ao mesmo tempo é igualmente certo que se pagou um alto preço em termos sociais. O coeficiente de desigualdade Gini passou de 0,28 em 1978 para 0,45 em 2000, a migração interna é de aproximadamente 200 milhões de pessoas, a externa (ilegal) inundou o mundo com desempregados de extração majoritariamente rural ou urbana pobre.

A autora de “Chinese whispers”, cujo novo estudo sobre a migração externa será publicado em 2012, Hsiao Hong Pai, explicou à Carta Maior o lado obscuro deste milagre. “A política de portas abertas de Deng Xiao Ping gerou um profundo problema de deslocamento social devido a dezenas de milhões que perderam seu trabalho por causa da reestruturação econômica. A imprensa ocidental só fala de passagem deste lado obscuro como se fosse uma espécie de dano colateral inevitável”, assinalou.

A revolução exportadora se baseou em uma política de salários baixíssimos e em um desequilíbrio entre esse setor e seu correlato de consumo doméstico. Na década de 90, o consumo doméstico constituía cerca de 48% do PIB: hoje é de aproximadamente 36%. O desmantelamento do sistema de proteção social nos últimos 15 anos – especialmente nas áreas da saúde, educação e pensões – é uma das razões deste contínuo retrocesso em uma economia que cresce a passos gigantescos. “As pessoas se viram obrigadas a poupar para fazer frente a gastos previsíveis, como a educação dos filhos, ou não, como uma operação ou uma doença, precisando enfrentar, além disso, um mais que precário sistema de seguridade”, disse à Carta Maior o economista chinês Shujie Yao.

Esses desequilíbrios foram objeto de um intenso debate no interior do Partido Comunista. A nomeação do atual presidente Hu Jiantao e do primeiro ministro Wen Jiabao, em 2002, marcou um giro à esquerda após o longo reinado de Jian Zemin que, no final de seu mandato, permitiu o ingresso de empresários e milionários no partido, flexibilizando como nunca antes a identidade política de uma organização que é a coluna vertebral do Estado.

Como costuma acontecer na China, as mudanças foram precedidas por uma crítica aberta à política prévia que preparou o terreno para uma paulatina reforma da reforma. Em 2008, o governo modificou a lei trabalhista para promover a contratação enquanto que, em algumas províncias, como Guangdong, abriu-se uma porta para que os trabalhadores negociem diretamente as condições de emprego. Em 1982, o giro pró-capitalista de Deng Xiao Oing havia suprimido o direito constitucional à greve consagrado durante a era de Mao Tse Tung.

Quo vadis?
Um crescimento com mais peso no consumo doméstico requer melhores salários e condições de trabalho, o que abre um potencial conflito com multinacionais e empresas privadas. Nos últimos anos, o outrora “paraíso das multinacionais”, presenciou uma onda de conflitos em grandes empresas como a japonesa Honda e a taiwanesa Foxcon que terminaram com importantes aumentos salariais e concessões por parte das empresas.

A esse novo protagonismo reivindicativo trabalhista – ao mesmo tempo estimulado e vigiado pelas autoridades – o governo está somando o indubitável poder de fogo que lhe proporciona seu impressionante volume de poupança. Está em curso uma reforma do sistema nacional de saúde que pretende outorgar serviços médicos básicos para toda a população ao final deste ano e assegurar uma cobertura universal (de todas as enfermidades) em 2020. Em agosto, o governo anunciou um programa similar para o setor previdenciário que cobriria em 2015 o conjunto da população.

Por sua parte, o sistema bancário estatal chinês está tentando direcionar o crédito do financiamento das grandes empresas estatais para as pequenas e médias empresas, uma medida fundamental para a ativação do mercado doméstico. Ao final de abril deste ano, os empréstimos do setor totalizaram quase 10 bilhões de yuanes (cerca de 1,5 trilhões de dólares), um aumento de mais de 7% em relação ao ano anterior. Outro possível motor do consumo é o crédito individual. Com mais de 2 bilhões de cartões de crédito em uso, o potencial é evidente, mas no momento, mostrando as dificuldades de uma mudança de paradigma, os usuários se mostram cautelosos.

Uma recente investigação conjunta de uma universidade australiana e outra chinesa mostra que a nova classe média segue mantendo atitudes “confucianas” em relação ao dinheiro. “Há muito temor de gastar demais e se perder o controle financeiro de suas próprias vidas”, assinalou ao China Daily o especialista Frauke Mattison Thompson.

Uma China mais voltada ao consumo doméstico e com maior poder aquisitivo é um dos estímulos de que necessita a economia global que vem caminhando na ponta dos pés pela borda da depressão global desde 2008. A estratégia tem dois problemas. Em uma economia gigantesca, as margens de erro crescem inevitavelmente, mas, além disso, e de maneira fundamental, está o fator tempo. O processo requer pelo menos de 3 a 5 anos para mostrar resultados tangíveis. Do jeito que vão as coisas, não há garantias de que a China ou o mundo tenham esse período de graça.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

O lado mais fraco

Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro

João Brant - BF

Se eu fosse tentar resumir em dois princípios tudo o que gostaria para a área da comunicação, seriam os seguintes:

1) Todo brasileiro deve ter garantido o direito à comunicação, de forma que os meios de comunicação reflitam a diversidade e a pluralidade de ideias do conjunto da sociedade.

2) Toda forma de opressão, pública ou privada, deve ser combatida. O lado mais fraco deve ser sempre protegido.

Na primeira frase, está expresso o princípio geral, da liberdade. Fundamental, mas insuficiente. Na segunda, está o reconhecimento de que a comunicação pode ser arena de um exercício desigual de poder de um lado mais forte sobre outro mais fraco. E de que o combate a essas opressões deve ser base de qualquer país que se queira justo e democrático.

Isso vale para governantes corruptos que perseguem jornalistas que os investigam; grande revista que persegue movimento social; agência reguladora que persegue rádio comunitária; milionário que processa blogueiro; grande canal de TV que invisibiliza os negros ou que naturaliza a violência contra as mulheres. Como se vê, às vezes os meios de comunicação são os oprimidos; às vezes eles são os próprios opressores. No primeiro caso, eles devem ser protegidos; no segundo, devem ser enfrentados.

Naturalizar práticas opressoras em nome da liberdade de expressão é um grande erro. A liberdade não deve nunca ser previamente impedida, mas ela não exime a responsabilidade de quem se comunica. E quando a comunicação é usada como forma de opressão e violação de direitos, é o lado mais fraco que deve ser protegido. Em outras palavras, quando a liberdade de expressão colide com outros direitos humanos, deve haver o cotejamento para se entender qual deles está sendo “sufocado”.

É em nome basicamente desses dois princípios que uma série de organizações defende um novo marco regulatório para as comunicações. Até 7 de outubro está aberta uma consulta pública sobre o tema em ww.comunicacaodemocratica.org.br. Se essas questões também te movem, acesse e participe. 

Camaradas, o mundo é redondo!

Alipio Freire - Brasil de Fato

Em qualquer ação política, se não avaliamos corretamente a correlação de forças estabelecida em torno do assunto alvo dessa ação, fracassamos. Exceto se não temos qualquer objetivo além de marcar posição – o que é sempre legítimo, ainda que não necessariamente adequado. Sobretudo, devemos levar em conta que, desde o final do século 14 que, se navegamos em linha reta para a esquerda, acabamos sempre atracando a nossa nau na direita. 

Não podemos esquecer também, a máxima do início do século 20, segundo a qual, o imediatismo – ou seja, obter pequenas vitórias imediatas sacrificando os nossos objetivos maiores no médio e longo prazos – sempre foi, é e será oportunismo. 

É no processo de avaliação que identificamos o nosso inimigo principal, adversários e nossos amigos/aliados. 

Estamos convencidos de que a presidenta Dilma Rousseff e sua ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário – como o foi e continua a ser o ex-ministro Paulo Vannuchi, não são apenas nossos aliados, mas os mais fortes aliados de que dispomos. 

Se esses dirigentes do governo, que lá estão pela força e representatividade de que desfrutam, não conseguiram avançar uma Comissão da Verdade que inclua também, as questões da Reparação e da Justiça (esta última particularmente cara a todos que lutamos pela consolidação e aprofundamento da democracia em nosso país), que estratégia devemos estabelecer, no sentido de conquistar o que a Comissão, já aprovada pela Câmara e à espera de sua votação no Senado, ainda não incorpora? 

Nosso primeiro passo deve ser o de não nos isolarmos dos nossos amigos e aliados, seja com declarações regadas a bílis, ou gestos e iniciativas de antemão fadadas ao insucesso, como projetos de lei sem qualquer chance de aprovação, ou manifestações de umas poucas dezenas de militantes.

Essas iniciativas, que sempre respeitamos, são em geral objeto de escárnio por parte dos nossos inimigos e seus porta-vozes – a grande mídia comercial. E se não o fazem neste momento, é sinal de que há algum interesse por parte dos nossos algozes de sempre, de que alguns dos nossos companheiros prossigam nesse caminho. 

Por fim, e antes de tudo, não devemos esquecer que, ainda que limitada, essa Comissão da Verdade é uma vitória de todos nós

Estadão procura candidato para 2014

Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:

A única certeza que emerge do enorme destaque dado pelo Estadão do domingo (9) à entrevista do senador Aécio Neves é de que o vetusto jornalão está à procura de candidato para enfrentar o PT nas eleições de 2014. Uma entrevista sem conteúdo firme, sem um mote claro ou, como dizem os jornalistas, sem "lead", jamais seria tratada como manchete sem que houvesse uma motivação claramente política do jornal.

Depois de apoiar Serra, Alckmin e Serra novamente, contra Lula (duas vezes) e contra Dilma, o Estadão parece disposto a preparar o terreno para uma nova disputa com mais antecedência, para correr risco menor. Mas corre o risco, maior, de agir precipitadamente. Afinal, a entrevista do senador mineiro não traz qualquer novidade.

A começar pelo título - Aécio diz que enfrentaria Lula ou Dilma pela Presidência em 2014. Ora bolas, se perguntassem a Serra, a resposta seria idêntica. Ou a Alckmin, Beto Richa ou Marconi Perilo. Ou seja, uma simples afirmação, trivial na política, ganha destaque de manchete. Manchete daria se Aécio dissesse que contra esse ou aquele candidato ele não concorre, não enfrenta.

Não é só isso. A entrevista toda é desprovida de novidades e, principalmente, de afirmação de novas ideias. Aécio fala em parte para seu próprio grupo, para o PSDB, DEM e PPS. Mas, sobretudo, fala para o Estadão. A entrevista, na verdade, serve para Aécio apresentar-se ao Estadão como defensor das teses do jornalão.

Por isso foi premiada com a manchete de domingo e deve ser também objeto de previsível editorial do jornal, elogiando a "clareza de idéias e a firme disposição apresentada de enfrentar a missão, se escolhido pelos partidos de oposição". Ou seja, um editorial de auto elogio do Estadão.

Mais que isso não renderá. Até porque Aécio terá que convencer de fato seu partido, a começar por José Serra, a abrir-lhe o espaço para a candidatura. Terá ainda que formular idéias com mais profundidade do que apresentou nessa entrevista. E deverá tomar cuidado com os bafômetros em seu caminho, até 2014.