segunda-feira, 18 de julho de 2011

Em Congresso da UNE, estudantes soltam a voz

Terminou neste domingo (17) em Goiânia, o 52º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Um evento altamente representativo, em cuja preparação, ao longo do primeiro semestre letivo, milhões de estudantes foram de alguma forma mobilizados em reuniões e assembleias nas quais debateram os principais problemas que afligem a Universidade e a educação de uma maneira geral no Brasil. Cerca de 1 milhão de estudantes escolheram em eleições diretas os delegados que se reuniram em Goiânia desde a última quarta-feira (13).

O estudante Daniel Iliescu, que liderou a chapa Transformar o Sonho em Realidade — encabeçada pela União da Juventude Socialista — foi eleito com uma consagradora maioria de 75% dos delegados votantes, fruto de uma ampla coalizão que englobou as mais representativas correntes do movimento estudantil universitário.

O novo líder declarou que “a União Nacional dos Estudantes é um dos símbolos mais fortes da democracia no Brasil”. Efetivamente, a UNE se consagrou como um dos intérpretes mais credenciados dos anseios de liberdade não só da juventude mas do próprio movimento democrático e popular como um todo. Há décadas a UNE aceitou e enfrentou o desafio de lutar pelas bandeiras mais caras ao povo brasileiro: democracia, soberania nacional, paz mundial, reformas estruturais e sobretudo pela educação universal, pública e gratuita. Das fileiras da UNE saíram militantes e quadros das principais organizações da esquerda brasileira. Nas ruas e nos combates da luta armada sobressaíram inúmeros líderes estudantis, heróis do povo brasileiro, como Honestino Guimarães e Helenira Resende.

A UNE cumpriu papel importante também na consolidação da democracia no País, no período da Nova República e da eleição e realização da Assembleia Constituinte. E foi uma organização social importante no respaldo ao governo do presidente Lula, o que foi reconhecido pelo ex-mandatário no congresso encerrado ontem.

Hoje, a UNE está diante de novos desafios. Nas palavras do presidente eleito da entidade, o principal destes “é o desafio de ajudar o Brasil a percorrer os caminhos e as lutas para tornar-se uma nação mais justa e desenvolvida; o movimento estudantil brasileiro está muito amadurecido e se prepara para vôos maiores; queremos muito ajudar o país a dar passos largos e ousados, em especial, na área da Educação.

Iliescu sintetiza as principais lutas da entidade no atual momento: “A UNE defende um projeto de desenvolvimento democrático e autossustentável, soberano e solidário, com distribuição de renda, valorização do trabalho e da produção para um povo e uma juventude mais feliz. Entendemos que nosso papel é pressionar os governos e dialogar com a sociedade para que o país avance”.

O 52º Congresso da UNE aprovou resoluções que podem impactar positivamente o desenvolvimento nacional. Como bandeiras prioritárias os estudantes reunidos em Goiânia decidiram lutar pelo investimento na educação de 10% do PIB e pela atribuição de 50% do Fundo Social do pré-sal à educação. Os estudantes decidiram intensificar a luta para erradicar o analfabetismo e ampliar o acesso e a qualidade do ensino superior.

Fiel às suas tradições de politização das lutas, a UNE decidiu apoiar a criação da Comissão da Verdade, ressaltou a importância do Plano Nacional de Educação (PNE) e se manifestou a favor da realização de reformas estruturais democráticas no país.

Chama a atenção positivamente a resolução política do 52º Congresso, que destaca as mudanças progressistas que o País vive desde a eleição do ex-presidente Lula e no governo da presidente Dilma, mas é crítico a “medidas que contrastam com as necessidades do povo brasileiro”, destacadamente a “política econômica conservadora”, assim como aos “entraves e políticas que só jogam contra os interesses do país e do povo”.

Mais do que nunca o Brasil necessita do concurso da UNE, como das demais organizações do movimento social. Para além das lutas estritamente educacionais, que de per si têm dimensão estratégica para o desenvolvimento do país e a emancipação social do povo, o momento requer a realização de um grande debate e mobilização nacionais.

Na ordem do dia está colocada objetivamente a discussão sobre o Projeto Nacional, em que o pensamento avançado da sociedade, no qual figura com méritos o dos estudantes e do conjunto da comunidade universitária, é chamado a formular propostas à altura das necessidades da nação e do povo brasileiro.

O momento em que se ouviu a sonora voz dos estudantes brasileiros corresponde ao de uma retomada das lutas da juventude em todo o mundo. É o que se observa na “Primavera” árabe, em manifestações na Europa e no Chile, onde os estudantes se encontram nas ruas há três meses, combatendo por seus direitos, democracia e justiça social, interpretando simultaneamente os sentimentos da esmagadora maioria da sociedade. (Editorial Vermelho)

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