quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Diário de Marrocos (II): a primavera não chegou ao Marrocos

Por Emir Sader


Dia 25 de novembro o Marrocos teve eleições gerais e, pelo resultado, ninguém diria que a região vive um processo de mobilizações democráticas sem precedentes. Que aqui do lado mesmo, na Tunisia – o país mais laico da região – começou o que se convencionou chamar de primavera árabe e que em seguida derrubou a mais importante ditadura da região, a egípcia.


Se dando conta dos novos ventos, o rei do Marrocos convocou eleições, no marco da democracia constitucional (sic) existente. Ganhou um partido de oposição, de islamismo moderado – como ele se caracteriza -, mas votaram menos de um quarto dos que poderiam votar e o partido vencedor teve um terço desse total. Isto é, venceu com cerca de 8% dos votos do corpo eleitoral, sem contar os que não fazem parte dele. Assim funciona uma monarquia constitucional, que enquanto é aliada estreita das potências ocidentais, não é denunciada na mídia monopolista mundial. Se as mobilizações ja existentes no Marrocos chegarem um dia a derrubar a monarquia, este passará a ser chamada de ditador e a ser somado à lista dos tiranos repudiados pelos próprios aliados dele na Europa e nos EUA.


O líder do partido vencedor é chamado, pela principal revista sobre a África – Jeune Afrique – de “o islâmico da Sua Majestade”. Mesmo sendo de um partido opositor, o governo que ele vai formar, por solicitação do monarca, não sairá dos marcos do regime atual. Abdelilah Benkirame dirige um partido agora chamado de Partido da Justica e do Desenvolvimento (PJD), que fez sua campanha centrado nos temas da justiça social, da luta contra a corrupção e do bom governo, mesmo se com referências ao Profeta e ao Corão. Ele abandonou posições contrárias aos direitos das mulheres, em discussão no Congresso, dizendo que os problemas dos costumes são de responsabilidade do rei.


O próprio rei estava mais interessado em outro dado, que não o eleitoral: o montante dos investimentos de fundos do Qatar, do Kwait e de Abu Dabi no país. 2 milhões de euros serão investidos no Marrocos, o que significa uma tentativa, por parte dos países mais ricos e mais conservadores da região, de que o Marrocos não seja afetado pelos ventos democráticos que sacodem os países vizinhos.


Mesmo vindo da oposição, o novo partido majoritário reconhece a monarquia e a natureza islâmica da sociedade e do Estado marroquinos, dizendo que quer islamizar a modernidade. É uma alternância que convém à monarquia, porque pode parecer que o país comporta a vitória da oposição. Mas uma oposição em que tudo mudará, para que nada realmente mude no Marrocos.

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