Emilson Piau integra aquele seleto grupo de intelectuais de idéias claras
Emilson Piau integra aquele seleto grupo de intelectuais de idéias claras, das quais se pode até discordar, mas jamais desprezar. Administrador por formação, político por vocação, ele tem uma visão da administração pública em todos os níveis. Foi secretário municipal nos governos de Guilherme Menezes e de José Raimundo Fontes e hoje é o diretor de Administração e Finanças da Secretaria de Relações Institucionais do Governo Wagner, que tem como titular Paulo César Lisboa.
Em sua pequena, mas confortável sala com vista para a Baía de Todos os Santos, decorada com as fotos da presidente Dilma e do governador Jaques Wagner, Emilson Piau recebeu na manhã desta quarta-feira o Blog do Fábio Sena para uma entrevista na qual ele mostrou estar bastante antenado com os debates políticos em Vitória da Conquista. Apontou caminhos para o prefeito Guilherme Menezes, que para ele deve ser o condutor do processo eleitoral em 2012, e cobrou da oposição que apresente um projeto para Vitória da Conquista.
BLOG DO FÁBIO SENA: Emilson, vamos começar com um tema que interessa mais imediatamente aos nossos leitores: a sucessão municipal. No campo governista, se assiste a muita especulação e lançamentos de candidaturas. Como você tem assistido a tudo isso?
EMILSON PIAU: Bom, Fábio, a primeira coisa a dizer é que esses são os dramas do crescimento. Nós vivemos hoje numa sociedade que exige de nós relações interpessoais cada vez mais fortes. A única forma de, coletivamente, sobrevivermos, é nos unirmos em torno dos propósitos que são o bem comum. E esse é o grande desafio posto para os partidos que compuseram aquela frente ampla, em 1996, mas que vem desde o início da década de 1990. Numa inteligência estratégica, reunimos as forças que àquela época eram do campo democrático popular. Estavam sentados à mesma mesa – e eu participei disso – Wilton Cunha, Geraldo Reis, Elias Dourado, Hildebrando Oliveira, Clóvis Assis, o próprio Raul Ferraz, que estava envolvido nesse processo de discussão por causa do PMDB; nós conseguimos construir uma coalizão que nos levou à vitória, que não era inesperada, nem foi por acaso. Foi uma vitória dentro de um campo social-democrata de gestão. Só pra resgatar a memória: nós estávamos no Hotel Livramento Palace em uma reunião e a discussão era quem seria o vice de Guilherme, se seria Raul Ferraz ou Clóvis Assis. Ou seja, PSDB e PMDB precisavam resolver quem seria o vice mais adequado para nos levar à vitória. Nesse período, o PSDB era um partido que vinha da frente das Diretas Já!, com Lula e Fernando Henrique nos palanques. Eu entendo que Vitória da Conquista não pode perder esse olhar do projeto. Se você transformar esse olhar do projeto no olhar da persona, você vai perder o que nos fez chegar onde chegamos. Então hoje é legítimo que Fabrício, que Elve Pontes, que outros nomes de nosso campo se coloquem. É legítimo que lideranças como Waldenor e Zé Raimundo, Alice Portugal, Marcelino Galo se coloquem, porque todo mundo cresceu. O que nossa experiência com Wagner mostra? Que nossa maior chance de vitória está quando olhamos unidos para o projeto. Então, a união PT, PSB, PCdoB e PV mais os partidos que estão na frente democrática como o PDT, PP, o PSD, que está sendo criado agora, é, sem dúvida, imbatível em Vitória da Conquista. Esse grupo tem as melhores condições, os melhores quadros para levar Conquista pra frente. O que eu vejo é que Vitória da Conquista, no nosso campo, precisa reequilibrar as forças na coalizão governativa, que vai oxigenar o processo pra que a gente continue avançando. Eu entendo que há liderança inconteste de Guilherme nesse processo; o fato de Guilherme ser a figura humana que é, com as características pessoais de hombridade, de seriedade, dinamismo, firmeza de propósito, o qualificam pra continuar à frente do próximo processo eleitoral. Agora, é natural que as outras forças também queiram seus espaços; então, nessa discussão, o PCdoB quer qualificar mais a sua presença dentro do governo, quer contribuir mais; todos querem contribuir mais. Então, veja que briga boa: nós não estamos lutando porque o governo é ruim e está levando a cidade à destruição. Mas a briga é assim: ‘eu quero mais espaço porque eu posso fazer mais’. O recado é esse e é um bom debate. Essa busca por mais espaço é natural. Aqueles meninos de 1997, liderados por Guilherme, são homens que estão dizendo: ‘nós estamos prontos’. É como se você tivesse numa olimpíada e os atletas estão todos em ponto de bala, no auge da sua forma física, em posição de largada aguardando o tiro.
BLOG DO FÁBIO SENA: Há quem diga que não há oposição em Vitória da Conquista e que, se há, esta não tem projeto. Você tem avaliado também esse aspecto da política local?
EMILSON PIAU: Eu acho que esse debate em Conquista hoje está desqualificado porque a discussão da política do desenvolvimento da cidade não está aparecendo. A sociedade exige um novo patamar de projeto e essa discussão está interditada em Conquista. Qual é o projeto que a oposição oferece pra Conquista? Não basta dizer que é capaz de fazer melhor do que ele, ou eu sou melhor do que ele. Essa é uma discussão que a sociedade não quer mais. A oposição não pôs na mesa seu projeto. É um projeto de continuidade do que Guilherme tá fazendo porque Guilherme não saberá fazer tão bem quanto eles fariam no lugar de Guilherme? Porque o nosso projeto é baseado nas questões sociais, na melhoria da saúde, na melhoria da educação, na melhoria da infra-estrutura urbana, tem um programa de governo focado nesses eixos: inclusão social, democracia, participação e desenvolvimento econômico. Qual é o outro projeto. O que que essa oposição oferece? Na minha visão, até agora, nada. O discurso da oposição é que vai fazer uma nova licitação do transporte coletivo? Qual o discurso da oposição? A oposição botou na cabeça que derrotar Guilherme é algo que vai transformar o mundo. E derrotar Guilherme não é projeto. Nós não estamos mais em Vitória da Conquista na fase de disputa por poder. A cidade quer saber qual o seu projeto. E esse debate está interditado porque a oposição não apresentou seu projeto. Nós já provamos que sabemos fazer política de saúde, de educação, de desenvolvimento social, e o que o governo Guilherme está propondo é a continuidade desse projeto, em consonância com o governo Wagner e com o Governo Dilma. A oposição está trazendo o que mesmo? Quem são os quadros?
Qual é o outro projeto. O que que essa oposição oferece? Na minha visão, até agora, nada
BLOG DO FÁBIO SENA: Já que você falou em projeto, Emilson, na sua avaliação, nesses últimos 14 anos, o que esse projeto político liderado pelo PT trouxe de ganhos para a cidade?
EMILSON PIAU: Esse projeto deu uma nova cara para a cidade de Vitória da Conquista. Eu costumo dizer aos meus amigos que quem tem mais de dez anos que esteve em Vitória da Conquista, chegando lá desconhece a cidade. Uma pessoa que saiu em 1996, para trabalhar em outras cidades, vai desconhecer completamente. É evidente que não é fruto da Administração Municipal somente, há outros vetores que favorecem essa dinâmica, mas, sem dúvida nenhuma, a forma como nosso grupo vem gerenciando a cidade trouxe as condições para esse salto de qualidade, e é evidente que nessa onda de crescimento do Brasil, a partir do Governo Lula, Vitória da Conquista se torna uma cidade mais forte ainda como fórum de desenvolvimento no território.
BLOG DO FÁBIO SENA: Mas há quem defenda que Vitória da Conquista cresce e se desenvolve independentemente de governos. Você acredita nisso?
EMILSON PIAU: Eu acho que houve um deslocamento na década de 80 no processo de crescimento das cidades no Brasil como uma redescoberta das cidades médias por conta do “inchaço” nas grandes metrópoles. E Vitória da Conquista, diferentemente de Feira de Santana, é uma cidade que tem uma maior sinergia com aquela mesorregião e com o norte de Minas. Se você olhar dados do Ministério do Planejamento, mais do que Feira de Santana, que é uma cidade que tem quase 800 mil habitantes mas que sofre com a atratividade de Salvador, Vitória da Conquista exerce uma atratividade naquela região, então, na verdade, não é uma geração espontânea, porque você tem os investimentos em políticas públicas que funcionam como vetor e atração de crescimento. No Brasil, uma questão importante é que o maior comprador é o governo, seja ele municipal, estadual ou federal; é o maior comprador de insumos, é o maior contratante, é o maior consumidor de materiais de informática, de escritório, de lápis; então, o próprio funcionamento da máquina pública, a dinamização… por exemplo, a Prefeitura de Vitória da Conquista arrecada em torno de R$ 30 milhões; hoje deve estar arrecadando em torno de R$ 300 milhões a mais; esse recurso gira duas ou três vezes do ponto de vista econômico dentro da própria cidade, porque o salário reveste dentro do pagamento das contas das pessoas, que reveste no pagamento dos trabalhadores das empresas, e depois na compra de um bem. Só para você ter uma referência, quando se compra um produto da agricultura familiar, esse dinheiro gira cinco ou seis vezes dentro da própria comunidade; quando você compra uma camisa de São Paulo ou outro lugar, o terceiro giro desse dinheiro já vai acontecer em São Paulo; então, pelo menos dois giros dos recursos da Prefeitura são feitos dentro da própria cidade, e isso por si só gera aquecimento; você soma a esse aspecto o crescimento da chamada “nova classe média”, sem entrar na controvérsia se existe ou não essa nova classe média, mas essa inclusão de 30 milhões de pessoas no mercado consumidor pela base faz com que Vitória da Conquista, que é uma cidade com uma forte vocação para serviços, melhore o seu perfil. O Mangabeira Unger diz que o surgimento dessa nova classe média gera um novo mercado, que são pessoas que estão batalhando, ganhando seu dinheiro, pagando sua própria faculdade, pagando seu próprio curso de especialização, abrindo seus pequenos negócios. Uma pesquisa publicada recentemente mostra que esse crescimento dessa nova classe média, esse novo perfil empreendedor está fortalecendo a abertura de lan houses, de salão de cabeleireiros, de pequenos negócios em forma de franquia por pessoas com faixa de renda até R$60 mil; se você olhar Vitória da Conquista hoje, tem um monte de franquias abertas, de iogurtes, de lanche, de cafeteria, de livraria, que não tava ma cidade antes. Essa dinâmica tem que ser agregada ao seguinte fato: houve a moralização na gestão publica, houve ordenamento no gasto, concursos públicos realizados, transparência nas ações, houve um processo de empoderamento social através do estímulo do Orçamento Participativo, das discussões com a comunidade, da participação das pessoas, criação de vagas nas escolas, ampliação do número de leitos hospitalares, reestruturação dos hospitais, dos postos de saúde, criação das equipes de saúde da família, construção de escolas… tudo isso gera um ambiente favorável ao desenvolvimento dos negócios; aí você soma a isso também a melhoria da infra-estrutura básica: saneamento, pavimentação, iluminação, reforma de praças, transporte público, fatores que contribuem para a atratividade da cidade de Vitória da Conquista como vetor de desenvolvimento; então não é geração espontânea: é uma visão empreendedora dos conquistenses, uma disponibilidade de ousar e buscar novos negócios, por outro lado, a colocação de vetores que favorecem isso: universidades, faculdades particulares… você cria um ambiente onde a potencialidade do sujeito, que em certos momentos poderia estar interditada pela falta de condições, quando você coloca as condições, o indivíduo que já tem em si a vocação empreendedora se lança e a cidade cresce. É um processo onde o poder público funciona como alavancador e o empreendedor vai puxando, então há um movimento de peso e contra-peso e todo mundo cresce.
BLOG DO FÁBIO SENA: São quase 15 anos de um mesmo projeto político em Vitória da Conquista. Você enxerga esse projeto como um todo ou ele apresenta nuances, fases, etapas diferentes…
EMILSON PIAU: Eu tenho trabalhado atualmente com o conceito de bom problema. Nós vivemos, em muitos aspectos de nossa vida, na problematização das coisas; então, os problemas são, em tese, resultados indesejados, coisas que aconteceram no passado que você considera que não foram corretamente executadas, ou que não deram certo. Mas eu tenho buscado trabalhar com o conceito de bom problema, ou seja, são conseqüências de sua ação, como se fossem efeitos colaterais de sua ação e você tem que resolvê-las no sentido de avançar ainda mais. Quando nós assumimos o governo em 1997, estávamos com os salários atrasados, problemas em várias áreas, Prefeitura inadimplente, dois veículos apenas. Então o primeiro governo do prefeito Guilherme foi de arrumação da casa, foi um governo de organização das estruturas internas. É como se você tivesse um movimento para dentro, no sentido de fazer os grandes concursos públicos, a licitação do transporte coletivo, a regularização das contas dos funcionários, a resolução de pendências judiciais que vinham se arrastando; no segundo governo, você já tem um patamar de desenvolvimento que lhe permite ousar em algumas direções, embora me lembrando que, desse período anterior, vem a municipalização da saúde, as grandes brigas que foram travadas pra você organizar a relação com os prestadores, hospitais particulares, rede pública, conveniada; era um processo onde o próprio SUS estava se estruturando também como modelo; a segunda gestão foi aquela onde, estruturadas as condições de funcionamento, melhoradas as condições internas, realizado o concurso público, resolvida uma grande quantidade de questões, Vitória da Conquista estava forte pra crescer. E aí foi a hora de elaborar projetos. Vários projetos foram gestados – coisas que inclusive estão sendo executadas agora – na segunda gestão. A terceira gestão, que foi a de José Raimundo, ela foi para os eixos estruturantes do crescimento da cidade, a questão da Avenida Integração, da licitação para o saneamento básico, a ampliação de diversas ruas, pavimentação, reestruturação de hospitais… e nessa fase agora o prefeito Guilherme herdou um bom problema, porque, de todo modo, de 1997 até 2008, foram re-arrumadas várias coisas dentro da cidade, reorganizados vários processos, e o que sobrou? Sobraram os grandes desafios do salto de qualidade de cidade pequena para cidade média; então o que falta hoje? Falta o aeroporto, uma estação rodoviária, melhorar o transporte coletivo além do que já foi melhorado; antes, as pessoas brigavam pra conseguir ter acesso ao ônibus; tinha 60 ônibus velhos que, quando a gente começou fazer vistoria, o tanque de um desses ônibus caiu no chão; hoje você tem duas empresas operando, pesquisas do sobe e desce, fluxo, você sabe quais são as linhas deficitárias, você tem hoje um acúmulo de informações sobre o sistema que permite fazer nova licitação com outro patamar, então as gestões de Vitória da Conquista foram criando degraus sustentáveis, estáveis e seguros para os próximos passos; Guilherme, ele mesmo jogou um bom problema da primeira para a segunda gestão; passa o governo de Zé Raimundo, que herda de Guilherme excelentes problemas. Se você pensar bem, Vitória da Conquista foi pioneira em programas que o próprio governo federal abraçou; o programa de agentes comunitários de saúde Vitória da Conquista já tinha antes de se tornar uma política pública; o Conquista Criança foi uma experiência exitosa que o Banco de Desenvolvimento, o BNDES, foi à cidade, e foi a primeira vez no Brasil em que uma estrutura governamental foi o eixo de articulação para uma rede de atenção a criança e adolescente, que envolveu creche, pastorais, movimentos sociais, puxados pelo governo, quando o comum é a sociedade puxar o governo; o Conquista Criança era uma política inédita no Brasil e hoje você tem SUAS, CRAS e um monte de coisas que não havia. Imagine que a primeira atitude do governo foi comprar uma área para assentamento urbano, com algo em torno de 6 a 8 mil lotes, na região de crescimento da cidade. Que área é essa hoje? É a área onde está o shopping, a área que é o vetor de desenvolvimento da cidade; um assentamento urbano promovido pela Prefeitura, que é o Vila América, está a 700 metros do shopping, numa cidade média, isso antes de existir o Minha Casa Minha Vida. Ou seja, o nosso programa de habitação popular, ele é pioneiro em relação ao Minha Casa Minha Vida. Então, o governo de Vitória da Conquista vem gerando para ele mesmo excelentes problemas. Hoje, os setores médios e endinheirados da cidade, estão clamando por desafios mais além: eles clamam por emprego de melhor qualidade, por universidades públicas e privadas de melhor nível, com cursos de tecnologia, com cursos de ponta, clamam por um aeroporto. Vitória da Conquista tem excelentes supermercados, hotéis, uma rede de lazer e entretenimento boa. Mas faltam esses desafios. Então você precisa ter escolas politécnicas, institutos federais de educação, centros de tecnologia… já tem isso e as pessoas querem mais. Então, se você olhar, essa administração é extremamente vitoriosa porque hoje você não vê ninguém discutindo se a Prefeitura está ou não envolvida naquela tramóia; se a gestão municipal está ou não envolvida neste ou naquele esquema; a discussão na cidade é ‘nós queremos mais, esse governo pode mais’. O desafio que o governo Guilherme tem hoje é se projetar com esse olhar do futuro e ser hoje, como foi em 1997, o farol para os empresários, os comerciantes, apontando o rumo desse novo crescimento.
Fonte:www.blogdofabiosena.com.br
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