segunda-feira, 13 de junho de 2011

A METRÓPOLE ENTREGUE À MEDIOCRIDADE

Às vésperas de um ano eleitoral, o caixa da prefeitura demotucana de São Paulo está recheado. Cerca de R$ 7 bi não investidos nas urgências da população foram reservados pelo alcaide Gilberto Kassab para maquiar a nulidade de uma gestão, que manteve assim  a sintonia com a de seu patrono, José Serra. A arquiteta Raquel Rolnik, em seu blog, dá a medida dos valores estocados. O superávit municipal equivale ao orçamento anual de uma cidade como Belo Horizonte (R$7,5 bi). Aproxima-se do investimentos total previsto para São Paulo em 2011 (R$ 8,5 bi). Ou seja, Kassab tem dois anos de inversões nas mãos, em parte, graças a aumentos de até 60% do IPTU e ao reajuste superlativo das passagens de ônibus , que saltaram de R$ 2,30 em janeiro de 2010 para R$ 3,00 --30% mais para uma inflação inferior a 10%. Se os cofres estão firmes, a cidade aderna. Não é preciso ser oposicionista, basta ser transeunte para constata-lo. Com a cobertura complacente da mídia sem a qual Kassab jamais teria sido eleito, São Paulo vive um ciclo de decadência irretocável. Ruas sujas, abrigos de ônibus caindo aos pedaços, inundações sem planos equivalentes à gravidade do problema, flacidez administrativa, saúde sem investimento, o trânsito deixado à própria sorte e o sentimento mais ou menos disseminado de que a cidade virou uma cápsula de concreto, fumaça e mediocridade onde o interesse público foi asfixiado. De novo, é Raquel Rolnik quem resume  o colapso reafirmado diariamente nas artérias necrosadas da metrópole: "a cada mês, o paulistano passa dois dias e seis horas no carro ou no transporte público. Os paulistanos perdem, em média, 27 dias por ano no congestionamento". Só a aposta numa cumplicidade  orgânica da mídia explica a desenvoltura do prefeito --agora convertido ao 'verde'-- que regurgita  acenos publicitários prometendo fazer nos próximos 12 meses tudo o que ele e seu padrinho não cogitaram em seis anos: hospitais, parques, escolas, rede de trólebus, mais ônibus, ciclovias etc. São Paulo é a quarta maior mancha urbana do planeta. Conecta 19 milhões de pessoas (quase um Portugal e uma Suíças juntos) e 39 municípios. O político em cujas mãos o PSDB depositou o destino desse emaranhado tem a seguinte opinião sobre planejamento: "Poderíamos não atender [as metas], porque meta é meta. Meta não é compromisso"(Folha 10-06). A esquerda de São Paulo não pode ter o escárnio como referência se quiser construir uma opção relevante em 2012. Restaurar o planejamento e  a mobilização, claro. Mas, sobretudo, é preciso inovar. E fazer da campanha a prefiguração da cidade que se quer restituir aos cidadãos. Depois do Orçamento Participativo criado pelo PT em Porto Alegre, em 1988, qual foi o novo grande avanço trazido pela esquerda à gestão municipal? 
(Carta Maior; 2º feira,13/06/ 2011)
 

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