terça-feira, 21 de junho de 2011

Em artigo no Guardian, Lula defende candidatura de José Graziano da Silva para a FAO


O acesso à comida é crucial para os mais pobres do mundo. Tomar a frente nesta questão jamais foi tão urgentemente necessário. As credenciais do Brasil no combate à fome e à pobreza estão bem estabelecidas. O programa Fome Zero, criado em 2003 e coordenado pelo Dr. José Graziano da Silva combina ações emergenciais com medidas estruturais de segurança alimentar. Foi o ponto de partida para todas as outras políticas implementadas nos anos seguintes, como o programa Bolsa Família. O artigo é de Luiz Inácio Lula da Silva, publicado neste domingo no jornal inglês.

A luta contra a fome e a pobreza deve ocupar o topo da agenda dos governos, das instituições multilaterais e das Organizações Não-Governamentais. Em 2050, a população mundial chegará a 9 bilhões de pessoas. Para garantir suas necessidades a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sua sigla em inglês) aponta a necessidade de um robusto crescimento no fornecimento mundial de alimentos. A produção africana terá de aumentar cinco vezes; a latino-americana dobrará.

A FAO estima que 90% dessa demanda será obtida com ganhos em produtividade. Nós também sabemos, no entanto, que o problema da fome é essencialmente um problema de acesso ao alimento. Os desafios globais relativos ao fornecimento de alimento são particularmente complexos e a FAO pode – e deveria – jogar um papel central para combater a fome, para estimular a produção sustentável de alimentos e fortaleça a segurança alimentar global.

A liderança – e a parceria – nesse cenário nunca foi tão urgentemente exigida. Fome e pobreza vão de par, assim, ao nos voltarmos para o fornecimento de alimento podemos abarcar desafios mais amplos na conquista do desenvolvimento global sustentável num tempo em que o sofrimento e a instabilidade são crescentes em muitas regiões. As famílias estão enfrentando pressões relativas à vulnerabilidade do fornecimento de alimentos com pouca esperança ou confiança no futuro próximo. Só neste mês a FAO prevê que a alta e a volatilidade dos preços das commodities agrícolas provavelmente seguirão assim até 2012.

Com efeito, há a expectativa de que a conta da importação internacional de alimentos chegue ao seu mais alto nível neste ano – 1,29 trilhões de dólares -, mas o fardo desse custo não será igualmente distribuído. A ONU avalia que os países menos desenvolvidos gastarão 30% a mais com a importação de alimentos em 2011, aumentado seu gasto em aproximadamente 18% de suas importações, comparado com a média de algo como 7% do resto do mundo. Essa situação não é condizente com a economia global e com a estabilidade social.

As credenciais do Brasil no combate à fome e à pobreza estão bem estabelecidas. O programa Fome Zero, criado em 2003 e coordenado pelo Dr. José Graziano da Silva combina ações emergenciais com medidas estruturais de segurança alimentar. Foi o ponto de partida para todas as outras políticas implementadas nos anos seguintes. Programas de transferência de renda como o Bolsa Família – que beneficia mais de um quarto da população – combina segurança alimentar, acesso à educação e medidas de estímulo ao desenvolvimento local, especialmente em áreas rurais.

O fortalecimento da agricultura familiar foi fundamental para o sucesso das políticas sociais no Brasil. O setor é responsável por 70% do consumo de alimentos das famílias e representa 10% do PIB brasileiro. Esses resultados não teriam sido possíveis sem a pesquisa em agricultura, sem a reforma agrária e sem a pacificação do campo, sem a assistência técnica e sem acesso ao crédito e à seguridade, dentre outras coisas. Com isso, 32 milhões de brasileiros (mais de 16% da população) superaram a pobreza.

De modo consistente com isso, o Brasil tem trabalhado internacionalmente por uma ordem global mais igualitária e equilibrada. Nossa perspectiva está baseada na construção de parcerias igualitárias com países em desenvolvimento em todo o mundo.

Pôr a luta contra a fome a pobreza no topo das prioridades internacionais é um compromisso estabelecido pelo meu país. Foi precisamente por essa razão que, como presidente do Brasil, no ano passado eu apresentei Graziano da Silva como candidato para ser diretor geral da FAO.

Nenhum país pode alcançar o desenvolvimento sustentável sem a melhoria das condições de vida de seu povo, e a experiência brasileira mostra que a superação da fome requer ações coordenadas, vontade política e a participação de toda a sociedade. Com a candidatura brasileira de Graziano da Silva para a FAO o Brasil reafirma seu compromisso com a agenda universal do combate à pobreza e à fome.

Tradução: Katarina Peixoto


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