Em todo país verdadeiramente democrático os partidos de oposição ao governo ocupam um lugar significativo. São eles que, de certa maneira, contribuem para o equilíbrio político, evitando que os que governam se empolguem demasiadamente com o poder e se esqueçam de cumprir correta e honestamente a missão que lhes foi confiada pelos eleitores. Os avanços democráticos, conseguidos na segunda metade do século passado por países, sobretudo da Europa Ocidental, estão relacionados com o trabalho de uma oposição séria e competente.
Também na história do Brasil a atuação da oposição foi significativa para que o nosso país avançasse na conquista da democracia. Com uma história marcada por várias intervenções de regimes autoritários e ditatoriais, apoiados pelos militares, o Brasil dependeu sempre da ação enérgica de partidos de esquerda que estavam na oposição e, às vezes, na ilegalidade, para a retomada do processo democrático. O pouco de ar democrático que respiramos no momento atual não foi presente de ninguém, mas fruto de muita luta do povo brasileiro e de partidos de esquerda que chegaram mesmo ao martírio de seus membros para defender a liberdade e a justiça.
Porém, recentemente, sentimos a falta em nosso país de uma autêntica oposição. O que se tem visto e assistido é um festival de barulho, de escândalo por causa de "escândalos”, de discursos lacunares, sem efetivamente nenhuma proposta séria para o país. E isso se deve à falta de credibilidade dos partidos que estão na oposição.
O PSDB, por exemplo, já nasceu de forma duvidosa. De fato, como relata muito bem Frei Betto no seu livro A mosca azul (Rocco, 2006), o PSDB surge da traição de um pacto firmado entre vários militantes que, ao voltarem do exílio, se unem a outros que aqui estavam para formar um grande partido de esquerda e, assim, enfrentarem o regime militar que ainda governava o país. Portanto, este partido já nasceu traindo.
A partir da década de 1990, quando assume a Presidência da República, o PSDB, no dizer de Sá Motta (Introdução à história dos Partidos Políticos brasileiros, Belo Horizonte: UFMG, 2008) foi se voltando cada vez mais para a direita, incorporando posturas neoliberais. Hoje, ao pregarem a moralidade e a ética na política, os integrantes do PSDB se esquecem das inúmeras denúncias de corrupção que infestaram os oitos anos do governo Fernando Henrique Cardoso, algumas delas até hoje não suficientemente esclarecidas. Para se comprovar a verdade do que estou falando, basta dar uma olhada nas matérias de capa das grandes revistas de circulação nacional daquele período. Por causa disso e de outras coisas o PSDB é atualmente um partido sem credibilidade para fazer oposição séria.
Outro partido de oposição, os Democratas (DEM), em si, já é uma afronta a democracia e a liberdade. A sua história real tira-lhe toda credibilidade. De fato, o DEM é filho do PFL, neto do PDS, bisneto da ARENA e tataraneto da UDN. A constante troca de nome revela a intenção desse partido de esconder a sua verdadeira identidade. Sá Motta, no texto antes mencionado, defende a tese de que, ao mudar de nome, esse partido tenta "cortar os vínculos” com o seu passado ou, pelo menos, "reciclar-se”, dando a impressão de que se trata de um partido verdadeiramente democrático.
Os demais partidos, inclusive alguns que já foram de esquerda, muitos deles verdadeiramente "nanicos”, são como bandeiras açoitadas pelo vento: andam conforme a conveniência e o oportunismo. Suas identidades são bastante fragilizadas e suas propostas praticamente insignificantes.
Quanto aos partidos que atualmente se consideram de esquerda, pode-se dizer que também eles estão em crise. Mantêm um discurso excelente, mas que só teria sentido se estivéssemos no período da guerra fria ou da ditadura militar. Recusam-se a aceitar as mudanças e os avanços reais, obtidos nos últimos anos a partir das lutas do povo e da audácia de muitos homens e mulheres. Estes partidos precisam acordar e refazer seus programas, caso queiram contribuir significativamente para a democracia. Eles têm um papel significativo para o futuro da nossa democracia, mas caíram no sectarismo. Tal atitude, como já notava Paulo Freire em 1968, é castradora e se nutre de fanatismo: "Não são raros os revolucionários que se tornam reacionários pela sectarização em que se deixam cair, ao responder à sectarização direitista” (Pedagogia do Oprimido, 2010, p. 26). Por isso, se continuarem como estão, correm o risco de morrer por inanição e de perder uma oportunidade única na história do país.
Na atual situação os partidos que se declaram de oposição não trazem uma contribuição efetiva para a democracia do país. De fato, a verdadeira oposição não se faz "farejando” escândalos ou declarando a fragilidade do atual governo brasileiro, liderando por uma mulher. É claro que a corrupção deve ser combatida sem trégua, mas isso não é tudo para uma oposição séria. Oposição de verdade se faz apontando e aprovando soluções viáveis para o país e contribuindo para o bem-estar concreto da nação.
Mas isso a maioria dos partidos de oposição brasileiros não quer fazer, porque eles não fazem política, mas
fisiologismo. Querem a todo custo chegar ao executivo não para servir ao povo, mas para beneficiar-se das vantagens do poder. Se, de fato, quisessem servir ao povo, certos partidos de oposição teriam transformado o Brasil nos anos em que estiveram no poder. Basta lembrar, por exemplo, que o DEM, desde o tempo em que era Arena, ficou quase 40 anos participando diretamente do poder executivo. E o que herdamos dele? Um país devastado e prostrado. Basta analisar os dados anteriores ao ano de 2003.
Como diz Sá Motta, "democracia política não rima com miséria e desigualdades gigantes de renda”. Por isso os partidos de oposição, se quiserem fazer política com seriedade, deverão admitir que estão em séria decomposição. A partir disso, deverão rever suas metodologias, abandonar a crítica estéril e o sectarismo, admitir e assumir os erros do passado, e tomar outro rumo. O povo brasileiro, por várias razões positivas, está progredindo na consciência crítica e não aceita mais a simples e pura conversa fiada. E se os partidos de oposição continuarem no sectarismo, em posições fechadas e irracionais, evitando o diálogo franco e honesto com o povo, não só deixarão de contribuir com o avanço do Brasil, mas poderão em breve chegar à morte definitiva. (José Lisboa Moreira de Oliveira - Adital)
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