segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Conter a manada requer ação estatal


Risco de convulsão nos mercados nesta 2º feira obrigou o Banco Central europeu a despertar de seu longo cochilo ortodoxo em pleno domingo. Líderes pressionaram e conseguiram. O BCE  anunciou a disposição de comprar  títulos da dívida pública italiana e espanhola. A mensagem aos detentores desses papéis e ao mercado em geral é: a) eles tem liquidez; b) há um comprador de última instância, disposto a honrar o valor de face de cada título. O BCE assumiu a fórceps --e não se sabe se com fôlego para tanto- funções de um fundo garantidor das duas maiores dívidas públicas da zona do euro: Itália e Espanha precisam de US$ 375 bilhões até dezembro para rolar seus débitos. Tenta-se assim consertar uma falha  de origem da União Europeia: os governos tem soberania para fazer dívida e emitir títulos, mas não dispõem da mesma prerrogativa na emissão de moeda que possa assegurar a solvência desses papéis. Na semana passada, o comportamento pró-cíclico do BCE ---leia-se, ortodoxo e submisso aos mercados--  quase quebrou a 3º e a 4º maiores economias da zona do euro. Numa conjuntura de extrema insegurança, em meio ao desastre fiscal nos EUA, o BCE deixou aos mercados a tarefa de decidir a sorte e a soberania da Espanha e da Itália.  Berlusconi e Zapatero tiveram que pagar taxas recordes de juros para financiar seu passivo. O premiê italiano ofereceu aos mercados um upgrade no pacote de arrocho lançado em julho. Vai antecipar medidas que visam escalpelar pobres, aposentados, crianças, estudantes e casais em início de vida. Fará isso subtraindo-lhes isenções fiscais e congelando benefícios, ademais de privatizar estatais e ‘afrouxar' garantias trabalhistas. Zapatero viu o desastre econômico  invadir  seu futuro político: pesquisas eleitorais já mostram  vantagem da direita na sucessão espanhola, em novembro  . A intervenção do BCE é positiva. Mesmo num condomíni0 predominantemente conservador como a UE, cresce a percepção de que não há saída para a crise sem forte intervenção estatal nos mercados. Resta saber se ainda há tempo e fôlego fiscal -- os Estados foram exauridos para salvar os mercados em 2008-- para reverter o quadro, após anos de condução ortodoxa de uma crise produzida justamente pelo alicerce da ortodoxia: o capital financeiro desregulado.
(Carta Maior; 2º feira, 08/08/ 2011

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