Por Letícia Verdi (Caros Amigos)
“Enquanto persistir o modelo de desenvolvimento dominante, focado no agronegócio, não haverá desenvolvimento sustentável, justiça, autonomia, igualdade e liberdade neste país”. Com essa convicção, as Margaridas floriram Brasília nos dias 16 e 17 de agosto. Elas são dezenas de milhares de trabalhadoras do campo e da floresta, organizadas em sindicatos, que pela quarta vez, desde 2000, marcharam em Brasília para reivindicar políticas públicas por melhores condições de vida na área rural. A estimativa da organização era reunir 100 mil mulheres. O número que saiu na imprensa foi 70 mil, a polícia militar contou 45 mil. Seja qual for a contagem real, trata-se da maior mobilização de mulheres do Brasil e da América Latina.
Desde a base, nas federações e sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais, até a cabeça do movimento, em Brasília, o esforço coletivo garantiu a ida dessas mulheres à capital federal. O que as move é real: as demandas das Margaridas são baseadas na experiência. Elas sabem do que estão falando, viram e vêem as terras sendo tomadas pela soja e pelo gado, as matas derrubadas, rios poluídos, meninas caindo na prostituição, mulheres sendo vítimas de violências, crianças ficando doentes e sem acesso a serviços de saúde.
“O modelo atual de desenvolvimento expande as monoculturas, destrói a biodiversidade e o meio ambiente, compromete a agricultura familiar, reproduz a violência, gera empobrecimento e miséria no país”. A frase está na carta-aberta da Marcha das Margaridas à sociedade. Mas o objetivo principal das Margaridas é sensibilizar o Governo para a implementação de políticas públicas específicas para as mulheres rurais. No dia 13 de julho, em comitiva, elas foram ao Palácio do Planalto entregar uma pauta de reivindicações com 158 pontos, distribuídos em sete eixos - biodiversidade e democratização dos recursos naturais; terra, água e agroecologia; soberania e segurança alimentar e nutricional; autonomia econômica, trabalho e renda; educação não sexista, sexualidade e violência; saúde e direitos reprodutivos; democracia, poder e participação política.
As Margaridas são articuladas, organizadas, conscientes. Conseguiram um espaço de diálogo com o governo, que resultou na ida da presidenta Dilma Rousseff à Cidade das Margaridas (montada no Parque da Cidade, em Brasília), e a atenção da mídia durante os dias de mobilização. Coisa surpreendente foi a simpatia que conquistaram junto à população da cidade. Apesar do transtorno gerado no trânsito em horário de pico, os cidadãos da capital federal demonstraram apoio e compreensão com a causa das mulheres do campo e da floresta – tão distantes e tão próximas naqueles dias.
No encerramento da Marcha, dia 17, a presidenta Dilma entregou à Coordenadora Nacional da Marcha e Secretária de Mulheres da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), Carmen Foro, um caderno de respostas. Em sua fala, anunciou medidas importantes: mutirões de três barcos para tirar documentos das ribeirinhas; 16 unidades fluviais de saúde; escritura conjunta do casal para imóveis rurais obtidos por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário; funcionamento, até 2012, de 10 unidades móveis de atendimento às mulheres em situação de violência na área rural; ações para a redução da mortalidade materna e infantil para as mulheres rurais; campanha contra o câncer de colo de útero e de mama para as mulheres do campo e da floresta; realização do Mapa da Saúde para aspopulações rurais; trinta por cento da merenda escolar a ser adquirido da agricultura familiar; acesso ao Crédito de Apoio à Mulher, no valor de R$ 3mil, em uma parcela.
Apesar de ser um dos pontos estruturantes da pauta das Margaridas, reforma agrária não foi sequer citada nas palavras de Dilma. “Compreendemos que isso é um processo, não poderíamos entender que tudo seria resolvido apenas nessa Marcha. Abrimos um caminho de negociação com o governo”, ponderou Carmen Foro, afirmando que a resposta da presidenta não corresponde ao tamanho da mobilização.
Na carta-aberta, o movimento deixou claro: “A Marcha das Margaridas 2011 reafirma a necessária realização de uma Reforma Agrária ampla e massiva como condição primeira para vencer a miséria, transformar efetivamente a realidade econômica e social e construir um país justo, soberano, democrático e sustentável. Essa necessidade é imperiosa para as mulheres, que representam, segundo o IBGE, 47,9% da população do campo e da floresta, dentre as quais predomina a pobreza e a permanência em acampamentos espalhados por todo o país”.
Mesmo assim, motivo não falta para comemorar. “A Marcha em si já é vitoriosa por ter mobilizado tantas mulheres”, lembrou Carmen.
“Enquanto persistir o modelo de desenvolvimento dominante, focado no agronegócio, não haverá desenvolvimento sustentável, justiça, autonomia, igualdade e liberdade neste país”. Com essa convicção, as Margaridas floriram Brasília nos dias 16 e 17 de agosto. Elas são dezenas de milhares de trabalhadoras do campo e da floresta, organizadas em sindicatos, que pela quarta vez, desde 2000, marcharam em Brasília para reivindicar políticas públicas por melhores condições de vida na área rural. A estimativa da organização era reunir 100 mil mulheres. O número que saiu na imprensa foi 70 mil, a polícia militar contou 45 mil. Seja qual for a contagem real, trata-se da maior mobilização de mulheres do Brasil e da América Latina.
Desde a base, nas federações e sindicatos de trabalhadoras e trabalhadores rurais, até a cabeça do movimento, em Brasília, o esforço coletivo garantiu a ida dessas mulheres à capital federal. O que as move é real: as demandas das Margaridas são baseadas na experiência. Elas sabem do que estão falando, viram e vêem as terras sendo tomadas pela soja e pelo gado, as matas derrubadas, rios poluídos, meninas caindo na prostituição, mulheres sendo vítimas de violências, crianças ficando doentes e sem acesso a serviços de saúde.
“O modelo atual de desenvolvimento expande as monoculturas, destrói a biodiversidade e o meio ambiente, compromete a agricultura familiar, reproduz a violência, gera empobrecimento e miséria no país”. A frase está na carta-aberta da Marcha das Margaridas à sociedade. Mas o objetivo principal das Margaridas é sensibilizar o Governo para a implementação de políticas públicas específicas para as mulheres rurais. No dia 13 de julho, em comitiva, elas foram ao Palácio do Planalto entregar uma pauta de reivindicações com 158 pontos, distribuídos em sete eixos - biodiversidade e democratização dos recursos naturais; terra, água e agroecologia; soberania e segurança alimentar e nutricional; autonomia econômica, trabalho e renda; educação não sexista, sexualidade e violência; saúde e direitos reprodutivos; democracia, poder e participação política.
As Margaridas são articuladas, organizadas, conscientes. Conseguiram um espaço de diálogo com o governo, que resultou na ida da presidenta Dilma Rousseff à Cidade das Margaridas (montada no Parque da Cidade, em Brasília), e a atenção da mídia durante os dias de mobilização. Coisa surpreendente foi a simpatia que conquistaram junto à população da cidade. Apesar do transtorno gerado no trânsito em horário de pico, os cidadãos da capital federal demonstraram apoio e compreensão com a causa das mulheres do campo e da floresta – tão distantes e tão próximas naqueles dias.
No encerramento da Marcha, dia 17, a presidenta Dilma entregou à Coordenadora Nacional da Marcha e Secretária de Mulheres da Confederação Nacional de Trabalhadores na Agricultura (Contag), Carmen Foro, um caderno de respostas. Em sua fala, anunciou medidas importantes: mutirões de três barcos para tirar documentos das ribeirinhas; 16 unidades fluviais de saúde; escritura conjunta do casal para imóveis rurais obtidos por meio do Programa Nacional de Crédito Fundiário; funcionamento, até 2012, de 10 unidades móveis de atendimento às mulheres em situação de violência na área rural; ações para a redução da mortalidade materna e infantil para as mulheres rurais; campanha contra o câncer de colo de útero e de mama para as mulheres do campo e da floresta; realização do Mapa da Saúde para aspopulações rurais; trinta por cento da merenda escolar a ser adquirido da agricultura familiar; acesso ao Crédito de Apoio à Mulher, no valor de R$ 3mil, em uma parcela.
Apesar de ser um dos pontos estruturantes da pauta das Margaridas, reforma agrária não foi sequer citada nas palavras de Dilma. “Compreendemos que isso é um processo, não poderíamos entender que tudo seria resolvido apenas nessa Marcha. Abrimos um caminho de negociação com o governo”, ponderou Carmen Foro, afirmando que a resposta da presidenta não corresponde ao tamanho da mobilização.
Na carta-aberta, o movimento deixou claro: “A Marcha das Margaridas 2011 reafirma a necessária realização de uma Reforma Agrária ampla e massiva como condição primeira para vencer a miséria, transformar efetivamente a realidade econômica e social e construir um país justo, soberano, democrático e sustentável. Essa necessidade é imperiosa para as mulheres, que representam, segundo o IBGE, 47,9% da população do campo e da floresta, dentre as quais predomina a pobreza e a permanência em acampamentos espalhados por todo o país”.
Mesmo assim, motivo não falta para comemorar. “A Marcha em si já é vitoriosa por ter mobilizado tantas mulheres”, lembrou Carmen.
Por que Margaridas?
A Marcha das Margaridas tem esse nome em homenagem à dirigente sindical Margarida Alves (1943-1983), grande símbolo da luta das mulheres por terra, trabalho, igualdade, justiça e dignidade. Rompeu com padrões tradicionais de gênero ao ocupar por 12 anos a presidência do sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba. Sua trajetória sindical foi marcada pela luta contra a exploração, pelos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, contra o analfabetismo e pela reforma agrária. Margarida Alves foi brutalmente assassinada com um tiro no rosto pelos usineiros da Paraíba em 12 de agosto de 1983.
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