Editorial do Brasil de Fato
Em 17 de setembro, menos de uma semana após os espetáculos em memória dos dez anos do 11 de Setembro – denominado pelas elites como o maior atentado terrorista da história –, um grupo de quase mil pessoas se aglomeravam nos arredores da famosa Wall Street, centro financeiro dos EUA. Ali montaram acampamento, declararam área ocupada e rebatizaram a praça como Praça da Liberdade. Os dias foram passando e nada de refluir; pelo contrário, o movimento vem aumentando e se espalha para outras cidades e países.
Não se trata de protestos contra o terrorismo, ou reformas de Washington, ou obra dos republicanos ou democratas. A mensagem central é “a crise não é nossa e por ela não pagaremos”. Mais uma vez as ruas demonstram que os prognósticos publicados de que a crise havia passado já estão superados.
Aqui no Brasil, a grande mídia burguesa anuncia protestos contra a corrupção, estimulados via redes sociais. Chegam a divulgar as convocatórias, com direito a enumerar as adesões e locais onde estavam planejadas. As pautas sempre vêm acompanhadas de um ar de esperança e bradando o combate ao que seria o mal maior do nosso país: a corrupção generalizada. Protestos livres, espontâneos, apartidários e distantes de sindicatos, movimentos organizados. É o povo falando! Na pauta, ataques explícitos aos setores populares, especialmente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
No caso dos protestos dos Estados Unidos, o descaramento vai perdendo a vergonha. Tratam o movimento Ocupe Wall Street pelo lado folclórico, ridicularizando as mensagens e a presença de diversas personalidades da luta. Tal caricatura convive com pautas descontextualizadas. Já nos protestos fabricados por aqui, o tom é de exaltação, e publica-se entrevistas longas para retratar com detalhes as pretensões de tantos despretensiosos. Sonham em empolgar a sociedade pra recuperar as marchas em defesa da família, Deus e propriedade de tempos atrás. E, claro, silêncio sobre as greves e paralisações dos trabalhadores pelo Brasil afora.
É claro que as elites, representadas nos grandes meios de comunicação, estão fazendo o seu papel de sempre. É verdade que com algum grau de dificuldade a mais graças às redes de comunicação populares que se espalham aos milhares pelo país e aos milhões pelo mundo. A luta de classes é um transtorno para quem vive de criar-distorcer e mentir sobre realidades e esconder as lutas.
Novos tempos
As reações aos protestos em todo o mundo não são de espanto. A crise econômica e financeira é mãe desses atos que se avolumam e tornam-se rotina na Grécia, assim como por muito tempo nas ruas da Espanha, Portugal e em vários centros onde a crise se aprofunda. Análises e mais análises tentam encontrar pontos em comum entre tais protestos, para além do caráter de resistência a crise. Alguns chegam a preconizar novas formas de organização, exaltando redes sociais em detrimento dos “velhos” instrumentos como sindicatos e partidos. Aqui, o tom é igualmente de exaltação às multidões e massas supostamente mais amplas do que classes empurrando a história para frente.
Certamente as ferramentas de comunicação modernas ajudam nas mobilizações. Estiveram presentes na Primavera Árabe, Grécia, Portugal, Londres e Wall Street. Mas não substituem ou suplantam as organizações. São complementares. Essa ansiedade em anunciar novas formas, novos métodos, novas forças, novas bandeiras, é uma velha forma de ler realidades que se repetem no mundo como agora: depois de décadas de neoliberalismo implacável e suas políticas antipopulares, sob controle de governos que combinam muito bem repressão com instrumentos de convencimento, tais forças se levantam e ameaçam explodir.
Que Wall Street se espalhe
Nesta edição, trazemos, nas páginas 3, 14 e 15, análises e reportagens sobre Wall Street. Não temos dúvidas de que são mobilizações importantes, pelo seu simbolismo e por representar a luta como caminho, o grito ante o silêncio e a ocupação como forma de luta. Torcemos para que esse movimento ganhe força, avance sobre as ruas, convoque os milhares de desempregados e trabalhadores e caminhe para minar a força do imperialismo, os falcões do Pentágono e as grandes corporações que controlam o mercado mundial. Cada ocupação nova é um libelo em defesa de uma outra sociedade. Um sinal de que os povos, mesmo submetidos a duras formas de controle e contenção, como o povo estadunidense, não ficam em letargia indefinidamente. Os pobres se levantam!
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