segunda-feira, 6 de junho de 2011

Eleições limpas no FMI

 
Cem das organizações ativistas mais importantes do planeta (incluindo a Oxfam, Action Aid ou o Bretton Woods Project) remeteram ao Conselho do FMI uma carta solicitando que o processo de eleição da nova direção geral da instituição seja aberto e democrático e que esteja baseado nos méritos do/a candidato/a e não no ‘músculo financeiro' de seus padrinhos. Dito de outro modo, justamente o contrário do que propuseram em bloco os países europeus, com a candidatura de Christine Lagarde.

O FMI –juntamente com outras instituições financeiras internacionais, como o Banco Mundial- conserva uma democracia de tipo colonialista, na qual um grupo de brancos ocidentais e endinheirados decide a sorte da maioria a golpe de ações. O conjunto de países europeus (representados de forma individual) conserva 32% das ações dessa instituição, seguido pelos Estados Unidos, com 16,7%. Graças a esse poder, ambas potências repartiram entre si, durante mais de meio século, as direções do FMI e do Banco Mundial, do mesmo modo que as gangues repartem entre si os territórios que dominarão.

É difícil exagerar a influência extraordinária que têm exercido a partir desses cargos sobre o destino de milhões de pessoas em dezenas de países empobrecidos, impondo medidas draconianas, como o recorte em saúde ou em educação, de forma que em nenhuma hipótese seria aceito em seus próprios países.

O problema é que, desde 1944, o mundo mudou um pouco e a Europa parece ser a única que ainda não percebeu isso. Várias das grandes potências emergentes (Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) têm exigido um "baralho novo" e uma mudança nas regras. Da mesma forma que as ONGs, querem um processo democrático e transparente, que poderia ser solucionado, por exemplo, exigindo uma Supla maioria de ações e países membros (dos 187 que o compõem), bem como audiências públicas que incluam a participação de outras organizações internacionais e não governamentais.

Porém, não basta melhorar o procedimento. Isso que denominamos vagamente "os méritos" do/a candidato/a esconde interpretações muito diferentes. Para a Europa e para os Estados Unidos, o FMI deve continuar sendo o "cão de guarda" da ortodoxia econômica, imposta desde fora, quando seja necessário. Apesar de sua fama de dirigente progressista, Strauss Kahn não foi uma exceção a essa regra. Como recorda P. Chowla no blog IMFboss.org, três de cada quatro acordos promovidos pelo FMI como resposta à crise e à recessão econômica continham políticas "pró-cíclicas" (isto é, lavagens fiscais, como as aplicadas na Grécia). Os movimentos dessa instituição nas grandes reformas pendentes, como a fiscalidade internacional ou a transparência e o controle do sistema financeiro têm sido bastante menos que impressionantes.

Nos alegramos com o cosmopolitismo da candidata europeia; porém, esperamos que o novo/a diretor/a geral do FMI seja eleito/a por outros méritos, incluindo a independência política e a legitimidade moral. Muito particularmente, por sua capacidade de compreender que até agora essa instituição financeira tem sido uma parte muito mais importante do problema do que da solução.

Os detalhes do novo procedimento proposto pelas 100 ONGs estão disponíveis no documento

Fonte: Gonzalo Fanjul - Adital
Heading for the Right Choice: A professional approach to selecting the IMF boss.

Nenhum comentário:

Postar um comentário