quinta-feira, 21 de julho de 2011

A China e a moratória branca já decretada pelos Estados Unidos

A novela da dívida pública dos Estados Unidos continua rolando, apesar dos apelos e ultimatos lançados pelo presidente Barack Obama. Hoje (20) a China voltou à cena, através de um comunicado da Administração Estatal do Câmbio Externo, para reiterar o alerta a Washington de que deve proteção aos interesses dos investidores em títulos emitidos pela Casa Branca. O governo chinês é o maior credor dos EUA. Possui US$ 1,16 trilhão em papéis do Tesouro norte-americano

Por Umberto Martins - Vermelho


A razão para a preocupação não provém só do impasse entre o governo democrata e o congresso majoritariamente republicano sobre a ampliação do limite da dívida e o que fazer com o crescente déficit público, cuja conta será paga pelo povo. A crise serviu para evidenciar a insustentabilidade dos desequilíbrios globais emanados da economia estadunidense, comerciais e financeiros, dos quais o endividamento do governo e do conjunto da sociedade talvez seja a principal expressão.

A moratória branca

Na verdade, os Estados Unidos já incorreram numa moratória branca. Reduziram deliberadamente o valor real de sua dívida externa com a política monetária de relaxamento quantitativo, conduzida pelo Federal Reserve (FED), que ao longo dos últimos anos emitiu mais de US$ 2 trilhões para resgatar títulos do Tesouro e a pretexto de combater os efeitos da crise.

O mar de dinheiro derramado pelo FED na economia atravessou as fronteiras dos Estados Unidos e inundou o mercado global, estimulando a chamada guerra cambial, a inflação das commodities e a depreciação do dólar. A desvalorização do valor relativo do dólar, particularmente sensível em relação ao real brasileiro, significa redução do valor real dos ativos estadunidenses em poder de estrangeiros, o que inclui os títulos públicos.

Inflação mundial

Não foi à toa que autoridades de diversos países, inclusive do Brasil, criticaram a política monetária dos Estados Unidos, cujos efeitos se projetam com força no resto do globo em função da posição especial que o dólar ocupa na economia mundial, onde ainda exerce em apreciável medida as funções de moeda universal. Por isto, a inflação de dólares decorrente das emissões promovidas pelo FED se transforma em inflação mundial.

O império fez ouvidos moucos às reclamações que ecoaram no exterior. Recentemente o FED anunciou o fim da política de flexibilização quantitativa, informando que ela representava um risco também para o controle da inflação interna, em alta apesar do desemprego e da estagnação da economia. Mas o presidente da instituição, Ben Bernanke, disse que pode recorrer novamente às emissões se não houver sinais mais convincentes de recuperação da produção e do emprego.

Unilateralismo

O que conta em primeira ou última instância para a definição da política monetária são os interesses nacionais. Embora emitindo a moeda mundial, os EUA não querem saber de compartilhar decisões sobre os rumos da política conduzida pelo seu banco central, o FED. Resta saber até quando as outras nações estão dispostas a fazer o jogo do unilateralismo norte-americano neste campo.

A sobrevivência do padrão dólar depende do sistema internacional de reservas ancorado nos títulos do Tesouro dos EUA ou na dívida pública. Esta é hoje financiada principalmente pelos países com superávit nas contas externas (balanço de pagamentos), caso da China, Japão, Inglaterra e Brasil, os quatro maiores credores. A moratória branca das emissões, que impõe prejuízos reais de bilhões de dólares aos credores, e o fantasma de um calote mais radical, despertado pelo conflito entre Obama e o Congresso, são sinais da agonia da ordem capitalista-imperialista internacional.

Quem paga?

O governo Obama precisa financiar pelo menos 40% das despesas com dinheiro alheio, captado basicamente no mercado externo. O prazo para a dilatação do teto da dívida está se esgotando. Se o impasse continuar a moratória será inevitável.

O presidente quer uma solução ainda nesta semana para o dilema e demonstrou satisfação com uma proposta surgida no Senado, que prevê redução de US$ 3,75 trilhões dos débitos ao longo dos próximos 10 anos e receita adicional de impostos no valor de US$ 1,2 bilhão. Programas sociais ocupam a linha de frente dos cortes. A questão ainda será debatida na Câmara dos Deputados. No final, certamente infeliz, a conta será cobrada (ou imposta) à classe trabalhadora dos EUA.

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