A calmaria na manhã desta 2º feira era do tipo que antecede as tempestades. O anúncio de que o Banco Central europeu compraria títulos da dívida pública espanhola e italiana reverteu a espiral de juros que os investidores vinham impondo a Roma e Madrid. Ao final da manhã, porém, recomeçou o vento forte e quente. Era Angela Merkel acionando o lança chamas conservador: a dama de ferro avisou que não haveria recursos adicionais para acudir economias incendiadas pela crise mundial. A reticência da dama-de-ferro a uma ofensiva estatal contra a crise atiçou as labaredas da incerteza que alimentam fugas e ataques de capitais. Mais que isso deu aos mercados financeiros nova evidência de que o dinheiro é Rei. Manda e desmanda porque a Política resignou-se ao papel de vassala que lhe coube no enredo do neoliberalismo. Países e lideranças apequenaram-se ao longo de décadas de submissão à agenda dos mercados. Agora revelam seu despreparo, tropeçam, emitem sinais contraditórios. Obama fala em confiança nos EUA: em seguida Wall Street desaba mais de 5%. A única certeza é a falta de qualquer certeza, exceto uma: a economia capitalista não volta ao trilho do crescimento sem uma ação estatal coordenada e contundente. Onde estão os recursos para isso? Estão com bancos e grandes corporações socorridos com trilhões em dinheiro público no colapso de 2008. A agonia desse desencontro pode demorar anos em lenta espiral declinante. Faltam os atores principais para botar o guizo no gato gordo rentista: líderes e partidos progressistas. Quem aplica em ações e depende de lucros para obter dividendos se acautela e dispara ordens de vendas. Poucos se dispõem a aceitar o convite para a compra. As bolsas despencaram em todo o mundo nesta 2º feira. Caiu a ficha: a crise dos mercados desregulados requer ação política forte para devolver as manadas ao piquete. Se ninguém se apresenta para botar sela e bridão no dinheiro chucro ele continuará a distribuir coices urbi et orbi.
(Carta Maior; 3º feira, 09/08/ 2011)
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