As bolsas de valores viveram mais um dia de cão na segunda-feira, 18, com baixas generalizadas na Ásia, Europa, EUA e Brasil. O Ibovespa, que acumula perdas superiores a 14% ao longo do ano, caiu 1,08%, estacionando em críticos 58.837 pontos. O mau humor nos mercados de capitais reflete a preocupação dos investidores com a crise da dívida na Europa e, em especial, nos Estados Unidos, onde o impasse sobre uma nova elevação do teto da dívida pública pode desembocar numa moratória.
O Congresso estadunidense tem até 2 de agosto para acatar ou não o pleito da Casa Branca de aumentar o limite de endividamento, hoje em US$ 14,29 trilhões. Embora não possa ser descartado, o calote ainda não parece a perspectiva mais provável. Mas, seja lá qual for o desfecho do imbróglio, a confusão entre Obama e os republicanos serviu para evidenciar as fragilidades dos fundamentos que sustentam atual ordem econômica internacional, ancorada no padrão dólar e na hegemonia (econômica, política e militar) dos EUA.
O pensamento dominante, inclusive em muitos círculos de esquerda, alimentou durante muito tempo o falso consenso de que o mundo não devia se preocupar com a dívida crescente do império. Afinal, Tio Sam tem o privilégio de imprimir a moeda universal e isto também garante, segundo alguns economistas, o poder de determinar o ritmo e a direção do fluxo de capitais por este vasto mundo.
O recurso à impressão de dólares foi amplamente utilizado, sem prévia consulta a outras nações. Mas tudo que se conseguiu, até agora, foi o acirramento da chamada guerra cambial e o recrudescimento da inflação das commodities. Investimentos produtivos e empregos continuam em baixa nos Estados Unidos e o capital continuou fluindo em outras direções, opostas ao desejo do banco central, por um motivo simples e secular: a maximização dos lucros. A circulação do dinheiro, conforme já alertava Karl Marx, não deve ser confundida com a circulação do capital. Embora não pareça, são duas coisas distintas.
Alega-se ainda que a relação entre dívida e PIB nos EUA, hoje em torno de 100% (ou seja, a maior economia do mundo deve o equivalente a um ano de toda sua produção interna), não é lá essas coisas. O governo japonês, por exemplo, deve mais que 200% do valor anual da produção e não se fala em crise da dívida nipônica. Citava-se também a Itália, que já está apertando os cintos. A verdade é que este tipo de comparação não faz muito sentido.
A quantidade, conforme sugere a dialética, também produz qualidade. Sozinhos, os EUA devem mais que 17 nações europeias que compartilham a moeda comum (euro), os PIBs somados das 160 menores economias do planeta ou cerca de sete vezes o PIB do Brasil, dono da oitava maior economia do planeta. E isto não é tudo.
Diferentemente do que se verifica no Japão, a dívida pública americana é em larga medida (cerca de 70%) uma dívida externa, o que reflete a carência de poupança interna e o crescente parasitismo do American way of life (o outrora invejado estilo de vida americano). É por esta e outras que a hipótese de um calote da Casa Branca pode provocar um novo terremoto na economia mundial, de escala maior do que a crise propagada a partir de 2008.
A China, maior credor, fez questão de externar oficialmente sua preocupação com a hipótese de inadimplência na semana passada. O país acumula uma montanha de títulos emitidos pela Casa Branca, num valor estimado em US$ 1,1 trilhão. É seguido pelo Japão, com US$ 907 bilhões, e Reino Unido (US$ 333 bilhões). O Brasil é o quarto maior credor, com 63% de suas reservas (US$ 207 bilhões), aplicadas em papéis do governo estadunidense. Um risco, não?
A dívida pública, no caso impropriamente denominada de dívida interna, não é o único nem o maior problema. O endividamento total dos EUA, público e privado, é quase quatro vezes maior e não devemos esquecer que foi o pano de fundo da Grande Recessão iniciada em dezembro de 2007 e ainda não debelada. Equivalia em 2009, segundo dados do FMI, a cerca de US$ 49 trilhões, ou 4/5 do PIB mundial. Reflete, em boa medida, o passivo externo do império.
O problema é bem maior do que as aparências indicam. A montanha de débitos não é mais do que o reflexo dos desequilíbrios insustentáveis subjacentes à atual ordem econômica internacional. A dívida imperial é melhor compreendida quando associada às formas de acumulação e reprodução do capital em escala global, a reprodução imperialista do capital, característica desses nossos tempos.
O impasse no Parlamento teve o mérito de colocar o problema sob os holofotes da grande mídia. A ameaça de calote expõe ao mundo a incapacidade do governo estadunidense andar com as próprias pernas ou viver com os próprios meios. Em outras palavras, denuncia um parasitismo sem par. Um corte profundo nas despesas militares poderia ser uma solução, mas isto não é cogitado no país imperialista, que se julga dono do mundo e em conjunto entorno mantém mais de 800 bases militares. O principal alvo dos cortes no gasto público que está sendo consesuado entre os dois poderes em litígio é a classe trabalhadora.
A crise provoca pânico generalizado e é apresentada como um sério risco para a economia mundial. Todos receiam seus efeitos e querem exorcizá-la. Mas os povos não têm muito o que temer. Trata-se de uma crise do capitalismo em sua atual etapa e tempo, a crise da ordem imperialista hegemonizada pelos EUA.
A única solução viável, que mais dia menos dia vai acabar se impondo, é a transição para uma nova ordem mundial. A hegemonia do dólar e dos EUA está em franca decomposição, mas ainda veremos e amargaremos muitas crises e conflitos antes que se conclua o doloroso trabalho da parteira da história. A classe trabalhadora e seus representantes devem perceber no arrastar da crise uma oportunidade para apresentar a sua alternativa: o socialismo. A outra, que já se insinua com mais força na história, é a barbárie.
O Congresso estadunidense tem até 2 de agosto para acatar ou não o pleito da Casa Branca de aumentar o limite de endividamento, hoje em US$ 14,29 trilhões. Embora não possa ser descartado, o calote ainda não parece a perspectiva mais provável. Mas, seja lá qual for o desfecho do imbróglio, a confusão entre Obama e os republicanos serviu para evidenciar as fragilidades dos fundamentos que sustentam atual ordem econômica internacional, ancorada no padrão dólar e na hegemonia (econômica, política e militar) dos EUA.
O pensamento dominante, inclusive em muitos círculos de esquerda, alimentou durante muito tempo o falso consenso de que o mundo não devia se preocupar com a dívida crescente do império. Afinal, Tio Sam tem o privilégio de imprimir a moeda universal e isto também garante, segundo alguns economistas, o poder de determinar o ritmo e a direção do fluxo de capitais por este vasto mundo.
O recurso à impressão de dólares foi amplamente utilizado, sem prévia consulta a outras nações. Mas tudo que se conseguiu, até agora, foi o acirramento da chamada guerra cambial e o recrudescimento da inflação das commodities. Investimentos produtivos e empregos continuam em baixa nos Estados Unidos e o capital continuou fluindo em outras direções, opostas ao desejo do banco central, por um motivo simples e secular: a maximização dos lucros. A circulação do dinheiro, conforme já alertava Karl Marx, não deve ser confundida com a circulação do capital. Embora não pareça, são duas coisas distintas.
Alega-se ainda que a relação entre dívida e PIB nos EUA, hoje em torno de 100% (ou seja, a maior economia do mundo deve o equivalente a um ano de toda sua produção interna), não é lá essas coisas. O governo japonês, por exemplo, deve mais que 200% do valor anual da produção e não se fala em crise da dívida nipônica. Citava-se também a Itália, que já está apertando os cintos. A verdade é que este tipo de comparação não faz muito sentido.
A quantidade, conforme sugere a dialética, também produz qualidade. Sozinhos, os EUA devem mais que 17 nações europeias que compartilham a moeda comum (euro), os PIBs somados das 160 menores economias do planeta ou cerca de sete vezes o PIB do Brasil, dono da oitava maior economia do planeta. E isto não é tudo.
Diferentemente do que se verifica no Japão, a dívida pública americana é em larga medida (cerca de 70%) uma dívida externa, o que reflete a carência de poupança interna e o crescente parasitismo do American way of life (o outrora invejado estilo de vida americano). É por esta e outras que a hipótese de um calote da Casa Branca pode provocar um novo terremoto na economia mundial, de escala maior do que a crise propagada a partir de 2008.
A China, maior credor, fez questão de externar oficialmente sua preocupação com a hipótese de inadimplência na semana passada. O país acumula uma montanha de títulos emitidos pela Casa Branca, num valor estimado em US$ 1,1 trilhão. É seguido pelo Japão, com US$ 907 bilhões, e Reino Unido (US$ 333 bilhões). O Brasil é o quarto maior credor, com 63% de suas reservas (US$ 207 bilhões), aplicadas em papéis do governo estadunidense. Um risco, não?
A dívida pública, no caso impropriamente denominada de dívida interna, não é o único nem o maior problema. O endividamento total dos EUA, público e privado, é quase quatro vezes maior e não devemos esquecer que foi o pano de fundo da Grande Recessão iniciada em dezembro de 2007 e ainda não debelada. Equivalia em 2009, segundo dados do FMI, a cerca de US$ 49 trilhões, ou 4/5 do PIB mundial. Reflete, em boa medida, o passivo externo do império.
O problema é bem maior do que as aparências indicam. A montanha de débitos não é mais do que o reflexo dos desequilíbrios insustentáveis subjacentes à atual ordem econômica internacional. A dívida imperial é melhor compreendida quando associada às formas de acumulação e reprodução do capital em escala global, a reprodução imperialista do capital, característica desses nossos tempos.
O impasse no Parlamento teve o mérito de colocar o problema sob os holofotes da grande mídia. A ameaça de calote expõe ao mundo a incapacidade do governo estadunidense andar com as próprias pernas ou viver com os próprios meios. Em outras palavras, denuncia um parasitismo sem par. Um corte profundo nas despesas militares poderia ser uma solução, mas isto não é cogitado no país imperialista, que se julga dono do mundo e em conjunto entorno mantém mais de 800 bases militares. O principal alvo dos cortes no gasto público que está sendo consesuado entre os dois poderes em litígio é a classe trabalhadora.
A crise provoca pânico generalizado e é apresentada como um sério risco para a economia mundial. Todos receiam seus efeitos e querem exorcizá-la. Mas os povos não têm muito o que temer. Trata-se de uma crise do capitalismo em sua atual etapa e tempo, a crise da ordem imperialista hegemonizada pelos EUA.
A única solução viável, que mais dia menos dia vai acabar se impondo, é a transição para uma nova ordem mundial. A hegemonia do dólar e dos EUA está em franca decomposição, mas ainda veremos e amargaremos muitas crises e conflitos antes que se conclua o doloroso trabalho da parteira da história. A classe trabalhadora e seus representantes devem perceber no arrastar da crise uma oportunidade para apresentar a sua alternativa: o socialismo. A outra, que já se insinua com mais força na história, é a barbárie.
Editorial do Vermelho
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